Oi geeente!
Final de ano é uma época em que todos nós de alguma forma, entramos em um período reflexivo e buscamos a companhia de quem amamos. Buscamos?
Duas pessoas conversaram comigo esta semana, e de alguma forma, me puseram a pensar.
O eterno velório: Uma delas falava sobre perda. Sobre morte. Mas não a morte real de alguém muito querido. E sim a morte em vida. Ela me disse: não consigo esquecer. Tirei a pessoa definitivamente da minha vida. Mas compareço ao velório dela todos os dias. Toda vez que a vejo, é como se tivesse que enterrá-la de novo. E isso dói. Há dois anos, diariamente, essa dor lateja como uma ferida aberta.
A solidão opcional: Outra pessoa me contava que se acostumou tanto a morar sozinha e a estar sozinha em casa, que sente muita dificuldade em ter que se relacionar, em dividir, em conviver. Que a solidão faz tão bem, que ela se basta.
Duas situações extremas, e na minha humilde e nada profissional opinião, duas situações que não podem trazer felicidade, não a longo prazo.
A primeira, ilustra direitinho uma desilusão amorosa. Quando tentamos nos libertar do sentimento, afastando a pessoa amada, sem na verdade conseguirmos curar nosso coração deste sentimento. Sofremos, perdemos o gosto pelas coisas. Nos anulamos e acabamos presos a algo que na verdade, não acabou. Ou atravessamos a longa fase negra, ou aprendemos a perdoar. E eu, sou sempre adepta à segunda alternativa. Se há possibilidade de recuperar a felicidade ao lado de alguém, se há arrependimento verdadeiro, se há intenção sincera de recomeçar, eu recomeço. Recomeço uma, mil, um milhão de vezes. E isso não vale apenas para as relações de envolvimento amoroso. Valem para todas as relações: amizades e família.
Conheço gente que enterra mãe viva, irmão vivo, melhor amigo vivo, pai vivo. Ficam décadas sem se falar, sofrendo e fazendo sofrer. Estão montados no cavalo negro do orgulho. Não sabem dar o braço a torcer. Fingem que não se importam. E muitos só conseguem dar o benefício do perdão diante de uma doença, na real iminência da morte. Eu me pergunto: pra quê?
Já a segunda situação nos remete aos tempos modernos. Estamos mais individualistas e aprendemos a reservar um espaço para desfrutarmos de um tempo conosco. Curtindo nossa companhia. Lendo um bom livro. Viajando sozinhos. Morando sozinhos. Isso é uma escolha saudável, desde que não vivamos sozinhos o tempo todo. John Cacioppo, psicólogo e um dos maiores especialistas em solidão, afirma que é possível ser feliz sozinho. Mas por um espaço de tempo. Durante seis meses, por exemplo, nos permitimos fazer tudo o que sempre sonhamos, sem a interferência de ninguém. Viajar, comprar, dormir até mais tarde, não ter hora pra voltar, nenhuma explicação a dar. Mas depois, inevitávelmente, precisaremos compartilhar e dividir. Ter alguém. Pode ser um amigo, pode ser a família. Pode ser um amor.
O casamento, segundo ele, não reflete a felicidade, nem a sensação de não estarmos sós. “Podemos estar casados, ter uma família grande, estar em meio a uma multidão, e nos sentirmos sós. A solidão é uma condição psicológica caracterizada por uma profunda sensação de vazio”, diz ele.
Aí está o ponto. O buraco negro que por vezes se agiganta e engole solteiros, casados, viúvas, freiras, enfim, a todos nós.
Como preenche-lo? Acredito que abrindo nosso coração, perdoando, amando de verdade.
Precisamos do contato com as pessoas. E também precisamos de um tempo pra nós, somente em nossa agradável companhia. É uma balança. Pender demais para um dos lados é perigoso.
Fecho a coluna de hoje com um pensamento de Cacioppo: “Para manter um bom contato com as outras pessoas, você precisa se distanciar delas de vez em quando. As pessoas não trazem apenas coisas boas. Trazem demandas. Às vezes você precisa dar um passo para trás, a fim de reequilibrar-se. Ficar sozinho não é o mesmo que ser solitário.”
Neste final de ano, não seja mais uma pessoa solitária a cultivar rancores. Perdoe. Procure companhia de gente que combine com você. Amigos e amores, mesmo que não estejam 24 horas ao nosso lado, precisam estar ao alcance das nossas mãos!
“A felicidade só é real quando é compartilhada”
A frase, que marca o fim do filme Na Natureza Selvagem (que me deixou dois dias sem dormir direito), mostra com exatidão o tamanho da importância de pessoas especiais na nossa vida. Não é necessário quantidade, e sim qualidade nas relações. E acima de tudo, é necessário compreensão, perdão, e amor.
Um beijo!