Desafiado recentemente pela M.M do Arte & Lingua e, ainda hoje, pela Ana das Laliscadas, a não quebrar a corrente que assola o universo bloguistico nacional – arriscando-me a sofrer inenarráveis tragédias -, achei por bem participar no relato de alguns hábitos estranhos que eu tenho (não que eu acredite nisso, que esse hábito estranho não tenho eu). Aqui vai disto:
1 – Tenho o estranho hábito de guardar os bilhetes de cinema dos filmes a que assisto. Sei que muita gente guarda os bilhetes dos concertos, e esses eu também guardo, mas também fico com os dos filmes que vou ver.
Não é coisa de agora, o mais antigo que conservo é do Natal de 1984, do já defunto Cine Plaza – hoje conhecido com Recreios da Amadora, recuperado que foi de um mais ou menos longo período de abandono; ocasionalmente passa, outra vez, filmes.
O filme, esse, é de culto (!?), “Conan, o Bárbaro”, com o Arnold Schwarzenegger em início de carreira. Lembro-me que fui com o meu primo Tó e de ele, após o final do filme, ter ficado a pensar o que havia de fazer comigo… sendo eu uns anos mais novo que ele. Custou 100$ o bilhete.
São, portanto, 21 anos a juntar bilhetes. Muitos dos cinemas já não existem: Éden, Odeon, Condes, Politeama (nessas funções), Roxy, Alvalade, Alfa, Nimas e mais alguns. Todos locais que só cumpriam essa função, ao contrário de hoje em que ou se está no centro comercial ou se está tramado.
Também os próprios bilhetes mudaram muito. Se antes os havia impressos para cada sessão de cada dia, hoje, o bilhete é impresso no momento, com o nome do filme (muitas vezes abreviado) e sem lugar marcado. É um tipo de bilhete que deu cabo da minha colecção, visto a impressão e o papel serem reles e, ao fim de um tempo, já pouco ou nada se notar. Tenho pena.
2 – Tenho o estranho hábito de fazer caretas quando fotografo. Nas fotos em que apareço é certo e sabido que fico sempre com um ar estranho. É coisa de que não gosto, ficar nas fotografias. Mas só recentemente percebi que também quando estou atrás da câmera faço as mais estranhas caretas.
Sempre deve ter sido assim, mas ao ver há pouco tempo algumas fotos que me tiraram enquanto eu fotografava, é que percebi a dimensão da coisa. Lá estou eu, de taxa arreganhada, com um esgar que mais parece de dor.
Agora, dou por mim com mais essa preocupação, não bastava o enquadramento, a exposição, a obturação e afins, tenho que me preocupar em não fazer figuras tristes. É necessária muita concentração, acabo por me distrair e surpreendo-me muitas vezes a fazer as tais caretas.
3 – Tenho o estranho hábito de ler livros. E revistas também – disse isto assim só para provocar, porque estranho mesmo é andar pelas livrarias a folhear os livros e ter o hábito de ler os primeiros parágrafos.
E isto mesmo dos livros que não me interessam nada. Não consigo resistir a saber como é que começa, por exemplo, um livro como o da Alexandra Solnado, “Este Jesus Cristo Que Vos Fala”, em que se relatam as conversas tidas entra a autora e Jesus. Deve ter a ver com aquele famoso sentimento conhecido como síndrome da página em branco, aquele algo inatingível e inexplicável que não nos deixa escrever, nem sequer começar. No fundo, tenho curiosidade em saber como é que os outros resolveram essa questão, a do inicio.
4 – Tenho o estranho hábito de andar a pé. Saio de casa – da cama – com o único propósito de andar! É verdade, vou andar, sem destino, às voltas. E sempre a um passo razoável, não propriamente de passeio.
Como dizem que faz bem à saúde e eu até sou um bocado hiper-tenso, eu lá vou. Aos fins-de-semana, cedo, vou andar para os poucos locais onde isso se pode fazer com alguma tranquilidade em Lisboa. Durante a semana é mais complicado, mas aproveito as horas de almoço para dar uma volta ao quarteirão.
Às sexta, como fico liberto dos compromissos laborais às 15h00, aproveito para andar um pouco pela cidade: vou ver montras para a Av. De Roma, Praça de Londres e Rua Guerra Junqueiro. Gosto de observar as novas tendências da moda – imprescindível deitar um olhar à montra da Fátima Lopes -, gosto de observar com quem me cruzo, de procurar umas fotos.
5 – Tenho o estranho hábito de escrever muito e falar pouco. Por exemplo, se me tivessem pedido oralmente para eu falar de cinco hábitos estranhos, tinha despachado a coisa em menos de um fósforo, mas como é por escrito, acabo sempre por inventar uma série de coisas desnecessárias – até do meu primo Tó eu já aqui falei!
Já li vários blogs onde consta esta coisa dos cinco hábitos e, em todos, as pessoas limitaram-se a algumas linhas, pronto, já está… mas eu não, tenho que me alongar sempre. Alguns de vocês já sabem disso, basta ler alguns dos meus posts anteriores, que são extensos demais para o nível de atenção com que se lê blogs.
O que talvez não saibam é que o que é publicado, muitas vezes, é uma versão condensada de textos mais longos.
6 – Tenho o estranho hábito de ser distraído. Ai esperem, são só cinco, já está, já chega. Sorte a vossa.