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sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

O EXTREMISMO DE BOLSONARO E A IDIOSSINCRASIA GAY (LGBT)




A figura do Messias (aqui, uma polissemia para além do nome do presidente), que se formou sobretudo dentro dos templos evangélicos e, para esse público aí, como a primeira possibilidade de uma liderança que comungasse dos valores extremistas das denominações que lideram o ranking de maiores igrejas do Brasil, traz, em si, um choque, mediante a todo retrocesso que representa, aos valores mais igualitários pautados nos últimos 14 anos, em nossa sociedade.

Embora carregado do símbolo e declaradamente representante deste retrocesso supramencionado, a comunidade LGBT mitigou a imagem dele, classificando-a como uma representação de bravatas. Bolsonaro jamais (no imaginário LGBT) cumpriria a cabo suas ameaças, seus medievalismos, tudo isso era só um marketing para ganhar as eleições.

A idiossincrasia do comportamento gay é algo que deve ser estudado de forma profunda e determinante. Parece-me assemelhar ao comportamento dos indivíduos esquizofrênicos (em que as identidades não se comunicam). Essa ruptura epistemológica vai para além da identidade pós-moderna e eu explico o porquê.

Na pós-modernidade, há o afastamento das grandes narrativas totalizantes, ela é marcada pela substituição de valores axiomáticos por valores menos fechados e/ou categorizantes. Como explicar à comunidade LGBT, que se funda nos valores da pós-modernidade (a multiplicidade, a fragmentação, a desreferencialização e a entropia - que, com a aceitação de todos os estilos e estéticas, pretende a inclusão de todas as culturas), que Bolsonaro, com seu extremismo cristão, é a antítese dessa postura?

Aliás, não apenas antítese (que não teria algum mal fazer a crítica em determinados pontos, sendo até um contrapeso), mas a sentença paradigmática, assinada pela igreja evangélica, encarnada por Bolsonaro, que a cultura LGBT tem que ser dizimada. Não parece sensato, aliás, é totalmente insano, é como se houvesse uma chave que liga o comportamento gay para a pegação, sauna, bares, cinemas, teatros, etc. e desliga o comportamento gay para uma moral austera, religiosa, preconceituosa, em que uma realidade não lembra da outra e nem com ela se comunica, tudo associado em um mesmo indivíduo, grupo de indivíduos.

É diferente, por exemplo, do Clodovil, que era assumidamente gay, mas nunca foi adepto à comunidade gay. Aliás, ele era um gay de valores heterossexuais. Aqui, nessa histrionia LGBT, o gay é gay, adepto da comunidade gay, dos valores gays, mas vota em Bolsonaro que carrega o cheque em branco das denominações evangélicas para a destruição dessa cultura gay, ou seja, o LGBT ora é adepto da inclusão de todas as culturas, ora é adepto da dizimação de sua própria cultura.

Basta olhar, no governo do Messias, o que foi feito em prol da comunidade LGBT? Entretanto, está tudo certo, o Grindr continua com seus usuários! O discurso em que ele se elegeu presidente, per si, era para ser rechaçado no meio gay, mas não foi... não é. Não é só a questão de se mitigar, é a questão de não ver problema onde existe problema.

Vive-se uma identidade de imbecis, consagrando a dissociação do estilo de vida X política, do nicho pessoal X do social. No passado recente, gritamos contra a então presidente Dilma que afirmou em seu governo não haveria lobby gay, para agradar os representantes da bancada evangélica e hoje somos a própria Dilma em afirmamos abaixo o lobby gay. PASME, ELEGEMOS BOLSONARO!

Há uma lacuna estrutural na sociedade e ela é de epistemologia identitária. Ou você é gay ou você será destruído pelos evangélicos. Idiossincrasias à parte, há coisas bem mais sérias a se olhar do que retirar o PT do poder.



domingo, 10 de setembro de 2017

A opinião de Aguinaldo Silva te incomoda? Ela é mais comum do que se possa imaginar.



Não é de hoje que vejo, com pesar, manifestações que agridem valores, que lutamos para construir, na boca de pessoas assumidamente gays, mas que não se incomodam de tê-las, pois foram "criadas" assim.

Para exemplificar bem o que digo, nada melhor que tomar de exemplo Clodovil Hernandes. Gay, assumidamente gay, que se orgulhava de reproduzir falas da sociedade heteronormativa, momento do qual ele se via aceito ou próximo de uma “normalidade”, em última análise, sendo ele o próprio culpado por toda rejeição social contra a sua sexualidade.

Vimos Ney Matogrosso declarar que gay é o caralho, que ele se recusa a pegar essa bandeira, pois sua defesa é mais abrangente, envolve índios, negros etc.

Aguinaldo Silva uma vez disse que em suas novelas não teria o beijo gay, pois o grande público não queria ver, pois estavam reunidos com suas famílias. Assim, a mensagem que essas personalidades passam, tacitamente, reproduz que o gay aceito é aquele que não faz “bichices” em público ou na presença da família.

Pode parecer estranho, quando isso vem de personalidades com grande alcance. Na verdade, o que elas fazem é repetir o ódio que nunca morre, disfarçando em sutilezas, justificando-o em maquiagens que o amenizam, mas o ódio é eterno.

Ódios sempre são alimentados, por isso o racismo ainda hoje existe, por isso que a homofobia sempre vai existir, o ódio é o sentimento mais fiel do mundo. Em um relacionamento em que houve ressentimento de um, o ex será permanente, nunca passará, a velha história de que: “é meu ex, não podemos ser amigos!”.  

Quando os famosos reproduzem a homofobia, o impacto é imediato; acontece, entretanto, que somos submetidos ao rancor homofóbico todos os dias e, às vezes, nem percebemos. A internet deu voz aos idiotas, dizia Umberto Eco... Ontem, por exemplo, observava pelo Facebook homossexuais discutindo, em que gays negros humilhavam os gays “padrõezinhos”, o motivo: eram padrõezinhos, entretanto, as agressões iam muito além disso. Gays estavam humilhando gays por serem gays. Ser padrãozinho era a maquiagem que disfarçava a homofobia internalizada.

Outro dia assistia, pelo You Tube, Academia de Drags, em que uma das provas era “gongar o outro” Travestis humilhavam-se mutuamente, disparando frases que retomavam a cultura heteronormativa, que inseria rancor e depreciação, mas era para ser engraçado. Às vezes, a maquiagem do ódio é a piada.

A opinião de Aguinaldo Silva te incomoda? Mas ela é corriqueira, é mais comum do que se possa imaginar. De fato, o repórter foi direto, acontece que Aguinaldo Silva foi tão sutil quanto Bolsonaro e essa sutileza está dentro das representações LGBT(s), todos os dias, pois o ódio em que fomos criados não morre.