A figura do Messias (aqui, uma polissemia
para além do nome do presidente), que se formou sobretudo dentro dos templos
evangélicos e, para esse público aí, como a primeira possibilidade de uma
liderança que comungasse dos valores extremistas das denominações que lideram o
ranking de maiores igrejas do Brasil, traz, em si, um choque, mediante a
todo retrocesso que representa, aos valores mais igualitários pautados nos
últimos 14 anos, em nossa sociedade.
Embora carregado do símbolo e declaradamente
representante deste retrocesso supramencionado, a comunidade LGBT mitigou a
imagem dele, classificando-a como uma representação de bravatas. Bolsonaro jamais
(no imaginário LGBT) cumpriria a cabo suas ameaças, seus medievalismos, tudo
isso era só um marketing para ganhar as eleições.
A idiossincrasia do comportamento gay é algo
que deve ser estudado de forma profunda e determinante. Parece-me assemelhar ao
comportamento dos indivíduos esquizofrênicos (em que as identidades não se
comunicam). Essa ruptura epistemológica vai para além da identidade pós-moderna
e eu explico o porquê.
Na pós-modernidade, há o afastamento das grandes
narrativas totalizantes, ela é marcada pela substituição de valores axiomáticos
por valores menos fechados e/ou categorizantes. Como explicar à comunidade LGBT,
que se funda nos valores da pós-modernidade (a multiplicidade, a fragmentação,
a desreferencialização e a entropia - que, com a aceitação de todos os estilos
e estéticas, pretende a inclusão de todas as culturas), que Bolsonaro, com seu extremismo
cristão, é a antítese dessa postura?
Aliás, não apenas antítese (que não teria
algum mal fazer a crítica em determinados pontos, sendo até um contrapeso), mas
a sentença paradigmática, assinada pela igreja evangélica, encarnada por
Bolsonaro, que a cultura LGBT tem que ser dizimada. Não parece sensato, aliás,
é totalmente insano, é como se houvesse uma chave que liga o comportamento gay
para a pegação, sauna, bares, cinemas, teatros, etc. e desliga o comportamento
gay para uma moral austera, religiosa, preconceituosa, em que uma realidade não
lembra da outra e nem com ela se comunica, tudo associado em um mesmo
indivíduo, grupo de indivíduos.
É diferente, por exemplo, do Clodovil, que era
assumidamente gay, mas nunca foi adepto à comunidade gay. Aliás, ele era um gay
de valores heterossexuais. Aqui, nessa histrionia LGBT, o gay é gay, adepto da
comunidade gay, dos valores gays, mas vota em Bolsonaro que carrega o cheque em
branco das denominações evangélicas para a destruição dessa cultura gay, ou
seja, o LGBT ora é adepto da inclusão de todas as culturas, ora é adepto da
dizimação de sua própria cultura.
Basta olhar, no governo do Messias, o que foi
feito em prol da comunidade LGBT? Entretanto, está tudo certo, o Grindr
continua com seus usuários! O discurso em que ele se elegeu presidente, per
si, era para ser rechaçado no meio gay, mas não foi... não é. Não é só a
questão de se mitigar, é a questão de não ver problema onde existe problema.
Vive-se uma identidade de imbecis, consagrando
a dissociação do estilo de vida X política, do nicho pessoal X do social. No
passado recente, gritamos contra a então presidente Dilma que afirmou em seu governo
não haveria lobby gay, para agradar os representantes da bancada evangélica e hoje somos a própria Dilma em afirmamos abaixo o lobby gay.
PASME, ELEGEMOS BOLSONARO!
Há uma lacuna estrutural na sociedade e ela é
de epistemologia identitária. Ou você é gay ou você será destruído pelos
evangélicos. Idiossincrasias à parte, há coisas bem mais sérias a se olhar do
que retirar o PT do poder.