Uma professora de idiomas explicava que os substantivos em Francês têm género (o qual é muito difícil de compreender para os ingleses) e que, para eles, casa (maison) nesse idioma é feminino, e lápis (crayon) é masculino. Um aluno pergunta “de que género é o computador?”. A professora não soube responder porque não tinha estudado a palavra e não podia encontrar o género no seu dicionário Francês – Inglês. Para “divertir-se”, dividiu a turma em dois grupos (rapazes /raparigas), e pediu-lhes que decidissem se computador devia de ser masculino ou feminino. Ambos grupos eram obrigados a dar quatro razões para a sua escolha. O grupo de rapazes decidiu que computer tinha de ser do género feminino porque: 1º. Ninguém, senão o seu criador, compreende a sua lógica interna. 2º. a linguagem que usam para comunicar-se entre uma e outra computers é incompreensível para qualquer uma que não elas. 3º. Inclusive os mais pequenos erros são armazenados muito tempo para uma possível recordação posterior. 4º. Logo que te comprometas com uma, encontras-te gastando a metade do salário em acessórios para ela. Para as raparigas os computers são visto como masculinos porque: 1º. Para conseguir a sua atenção, primeiro têm de acendê-los (to turn them on) 2º. Têm muita informação (data), mas nenhuma pista (clueless). 3º. supostamente, eles devem ajudar-te a resolver os teus problemas, mas a maior parte do tempo são eles o problema. 4º. Assim que te comprometas com um, dás-te conta que se tivesses esperado um pouquinho mais, tinhas conseguido um modelo melhor e mais evoluído.
Isto ouvi-o numa tertúlia entre amigos e relatei-o a uma colega que ensina géneros, o que foi uma péssima ideia. Enquanto narrava a primeira parte, dando-lhe os argumentos dos rapazes, com alguma ira, disse-me que aquelas opiniões procediam de um machismo intolerável. Pensei que a faria sentir melhor com as respostas das raparigas, mas não, aborreceu-se ainda mais, e assegurou que ambos grupos inventariaram estereótipos que ferem e perpetuam uma noção errónea dos géneros... foi-se embora!
Que fazer no dia seguinte nestas circunstâncias? Enviar uma flor à colega? De modo nenhum, porque este tipo de conduta não é bem vista nos meios académicos e até pode ser classificada de machista. Desdizer a piada ouvida a terceiros ou tratar de explica-la sociologicamente? Limitei-me a escrever este artigo para dizer o seguinte: Coincido com a minha colega em desdenhar os estereótipos, que creio serem intenções patéticas de os enclausurar e fixar, que vão de um extremo ao outro, sobre o que é ser homem ou mulher porque lhes tira espaço, vida e liberdade que cada ser tem para se fazer e refazer. Várias décadas bastaram para que o movimento feminista produzira uma irreversível mudança no mundo e uma esplêndida reiteração da liberdade humana em todas as suas possibilidades. No entanto, as revoluções têm um defeito tiram o sentido de humor, uma rigidez que pode ser traumática, sobretudo para a juventude e em especial para os rapazes. Parece que nesta geração, eles não sabem como ser homens. Há dias, dizia-me uma brilhante académica que na América onde se urdem estas mudanças, a conduta masculina tradicional de enviar rosas, escrever cartas, suspirar e todas as formas de galanteio clássico estão quase proibidas e são consideradas como machismo. Os rapazes devem abster-se do idílio e propor directamente: “I want to have sex with you” e a rapariga para não parecer antiquada nem dominada pelos pais deve de aceitar a proposta.
Neste cenário o amor romântico está morto ou condenado a fantasia sexual de origem patriarcal. Nestas circunstância o sexo é uma actividade física sem mais dignidade e mistério que a natação, o golfe ou o basquetebol. Adiantando o sexo ao amor, o amor nunca chega.
Não creio que a “droga” tão generalizada, possa suplantar esse poço sem fundo porque é muito difícil levar a vida sem amor. Sobre a minha colega espero que não me considere patriarcal nem ultrapassado pelo que digo mas creio seriamente que, para agraciar a vida pela maravilha, deve-se deixar nela um espaço suficiente para o mistério e o romance e para a explicação poética do mundo! António Delgado in Jornal de Leiria, 12 Março de 2009