terça-feira, julho 08, 2008

METAMORFOSE ESPECTACULAR!



Fraude espectacular. Foi uma espécie de «Ó patego olha o balão!» mas em grande escala (ou de alto gabarito, como diz o Dr Sapinho) e não foi no Carnaval nem no 1º de Abril. Há um ano que vinha sendo anunciado.
A Câmara havia contratado o mágico ou ilusionista Luis de Matos para patrocinar o concurso Alcobaça Maravilha de Portugal, por 90.000 euros. Este prometeu regressar para fazer a «maior metamorfose de todos os tempos» se Alcobaça ganhasse o título... em troca de 180.000 euros. Alcobaça ganhou e, no dia 6 de Julho, Luis de Matos veio cumprir... a maior fraude dos mandatos do Dr. Gonçalves Sapinho e dos seus elencos PSD. Para os que não estiveram vamos dizer como foi.
Uma multidão de 16.000 pessoas, segundo o Correio da Manhã - quase metade da população do concelho – enchia o adro do Mosteiro onde tinham instalado gruas, torres de holofotes, aparelhagens de som e video, ecrãs gigantes, enfim, toda a tralha e parafernália dos grandes espectáculos. Música «cósmica», suspense... Uau! Vai ser em grande!
Aparece Luis de Matos. Fala da sua promessa. Mostra nos ecrãs como é que uma larva se transforma em borboleta. Assim vai ele fazer. Os seus ajudantes atam-lhe ao peito uma faixa de pano (uma espécie de colete a que chamou camisa de forças), prendem-lhe os pés a um cabo de aço suspenso da grua (disse ser uma corda), besuntam o cabo com um produto combustível (do género resina de pinheiro...) e fazem subir a grua. A umas dezenas de metros de altura, enquanto o produto arde no cabo de aço, Luis de Matos suspenso de cabeça para baixo desata o colete e larga-o. É a tão esperada «maior metamorfose de todos os tempos». E, accionando um outro cabo, vira-se de cabeça para cima e a grua trá-lo de novo ao chão com o unguento sempre a arder. Três minutos durou a espectacular fraude. Depois dumas vénias da praxe, pisgou-se o artista pela porta do cavalo - neste caso pelo mosteiro adentro - fechou a porta e nunca mais foi visto. Estava consumada a metamorfose dos 180.000 euros numa aldrabice de primeira apanha. 180.000 euros para o galheiro, quer dizer, para o homem atado ao cabo da grua durante três minutos como qualquer pessoa pode fazer. A multidão ainda esperou meia hora para ver «se havia qualquer coisa». Nicles. Patavina. Niet. 16.000 pessoas lorpadas à grande e à Sapinho. Tomem e embrulhem. Assobiaram e vaiaram o artista (que se metera no mosteiro) e os autarcas presentes na primeira fila, enquanto os operadores de som aumentavam os decibéis para abafar os protextos. E, resignadas, foram regressando a penates, raivosas. Muitas até deviam ter tido insónias por terem esperado um ano para cairem nesta grosseira intrujice.
Isto é que é «coltura», senhor Presidente e Senhora Vereadora!
Andam os munícipes a pagar os impostos IMI, IRS, IRC, IVA, Imposto automóvel, Imposto industrial, água caríssima, saneamento, licenças camarárias, multas, créditos bancários, para a Câmara gastar os dinheiros públicos nestas espectaculares fraudes. 180.000 euros davam para instalar uma creche ou um lar de idosos, para não falar de apoios a desempregados, doentes ou a ameaçados de perder a casa por impossibilidade de pagar o crédito. Para isso não há. Desenrasquem-se... Façam magia como o outro!
Cumprida a promessa da grande metamorfose, o Sr presidente Dr Sapinho partiu de férias para o Brasil. Deverá regressar com outros coelhos na sua cartola das metamorfoses mágicas. Ou com um curso acelerado de magia. Cá ficamos à sua espera, para outros números «estruturantes», «de alto gabarito» e, «pertanto», espectaculares.




Post scriptum

Na segunda-feira a seguir a esta vigarice espectacular, reunida a Câmara, o Sr Presidente assumiu toda a responsabilidade deste caso e parece ter ficado arrependido. Mas qual é a novidade desse assumir de responsabilidades? Se foi ele quem assinou ou autorizou o cheque de 180.000 euros para encomendar este embuste, jurídica, financeira e politicamente foi ele o responsável, quer o declare quer não. Quanto ao arrependimento, isso jurídica e financeiramente não tem relevância. Pergunta-se: como é que uma Câmara encomenda um espectáculo por esse preço sem que ninguém o tenha visto ou visionado antes, e sem ter lido uma crítica sobre o seu conteúdo? Irresponsabilidade absoluta. Passa-se assim dinheiro a charlatães? Se vivêssemos num município verdadeiramente europeu (de Espanha até aos Urais) e num Estado de direito, o responsável que assinasse um cheque com essa verba para uma charlatanice, seria obrigado a repor o dinheiro do seu bolso. Não sendo assim, estando nós condenados a ser o que somos pela inércia deste estado de coisas, outros poderão continuar impunemente a fazer como o Sr Dr Sapinho, desde que, a posteriori, «assumam a responsabilidade» e se declarem arrependidos.