À PROCURA DO AMOR (Enough said, 2013, Fox Searchlights Pictures, 93min) Direção e roteiro: Nicole Holofcener. Fotografia: Xavier Grobet. Montagem: Robert Frazen. Música: Marcelo Zavros. Figurino: Leah Katznelson. Direção de arte/cenários: Keith Cunningham/Douglas Mowat. Produção executiva: Chrisann Verges. Produção: Stefanie Azpiazu, Anthony Bregman. Elenco: Julia Louis-Dreyfus, James Gandolfini, Catherine Keener, Toni Collette, Ben Falcone, Tracey Fairaway, Tavi Gevinson. Estreia: 07/9/2013 (Festival de Toronto)
No dia 17 de junho de 2013, os fãs de cinema em geral - e da série "Família Soprano" em particular - foram surpreendidos com a notícia da morte precoce, aos 51 anos, do ator James Gandolfini, vítima de um infarto fulminante durante uma viagem à Roma. Sua partida inesperada, além de deixar o público órfão de um ator de grande carisma, o impediu de colher os louros por seus dois últimos trabalhos. "A entrega" - cujas filmagens acabaram um mês antes de sua morte - só estreou em setembro de 2014 no Festival de Toronto, mas um ano antes, no mesmo festival, as plateias tiveram a oportunidade de conhecer um lado menos sombrio e violento do célebre intérprete de Tony Soprano: lançado pela Fox Searchlight Pictures, "À procura do amor" apresentava um Gandolfini doce e capaz de fazer suspirar as mulheres mais românticas. Sim, a produção escrita e dirigida por Nicole Holofcener era uma comédia romântica. Adulta, um tanto mais realista e com personagens mais verossímeis, mas ainda assim uma comédia romântica, com todos os elementos clássicos do gênero. E, para alegria de todos, uma produção deliciosa, daquelas de deixar qualquer um com um sorriso no rosto.
Eva (Julia Louis-Dreyfus) trabalha como massagista a domicílio e está em crise com a iminente viagem de sua filha adolescente, Ellen (Tracey Fairaway), para a faculdade. Separada e pouco otimista em relação a possíveis relacionamentos, ela se vê surpreendida com a inesperada atração que passa a sentir por Albert (James Gandolfini), um homem que, a princípio, não tem nada a ver com o que ela procura em homens. De meia-idade, acima do peso, igualmente separado e prestes a ver a filha sair de casa, Albert acaba a conquistando pelo humor, pela gentileza e pela química que surge entre eles. O romance nascente e promissor, no entanto, sofre um baque quando Eva descobre que seu novo príncipe encantado é o ex-marido de Marianne (Catherine Keener), uma nova cliente, que divide com ela fatos poucos lisonjeiros a seu respeito (sem imaginar do incipiente namoro entre os dois). Influenciada pelas conversas com Marianne - uma poetisa a quem tem em alta conta -, Eva começa a questionar seus sentimentos e as percepções sobre Albert, que nem de longe sonha que a relação está ameaçada por uma visão unilateral (e um tanto injusta de sua pessoa).
Autora de filmes cujo foco são personagens críveis e humanos, como "Amigas com dinheiro" (2006) e "Sentimento de culpa" (2010), Nicole Holofcener faz um gol de placa com "À procura do amor": sem buscar catarses exageradas e fugindo da artificialidade comum a comédias românticas, faz de seu filme uma pérola dirigida a uma fatia do público frequentemente alijada dos maiores sucessos do gênero. Sua escolha por dois atores atípicos como protagonistas - ao lado de sua constante colaboradora, Catherine Keener - é, paradoxalmente, seu maior acerto. Julia Louis-Dreyfus é uma força da natureza, uma atriz que consegue ir do humor ao drama sem maior esforço, dotando sua Eva de nuances e idiossincrasias que a aproximam do espectador até mesmo quando comete erros bobos e desnecessários. Gandolfini, por sua vez, deixa antever uma faceta solar e agradável, raramente percebida em suas atuações anteriores (com a possível exceção do pouco lembrado "A mexicana") e acabou por merecer aplausos unânimes por sua sutileza em dar vida a um personagem a anos-luz de sua mais famosa criação. A química entre os dois é precisa e conduz a trama com um ritmo próprio, que é costurado sem pressa e à base de diálogos inteligentes e perspicazes - além de um elenco coadjuvante onde brilha também a sempre ótima Toni Collette.
Ao driblar os clichês que deixam quase todas as comédias românticas com o mesmo tom de artificialidade, Holofcener imprime a "À procura do amor" uma organicidade rara - mérito de seu roteiro que flui com extrema felicidade tanto em momentos mais leves quanto naqueles que exigem do elenco uma carga maior de dramaticidade (ainda que jamais em exagero). Uma cineasta que encoraja o improviso em seus trabalhos, Nicole extrai de Gandolfini e Louis-Dreyfus desempenhos que soam absolutamente reais - e, por consequência, bem distantes de suas personas até então mais conhecidas. Calorosos, humanos e falíveis, Eva e Albert são o mais próximo que personagens de cinema podem chegar de seu público - e isso se deve primordialmente graças a seus intérpretes, em estado de graça da primeira à última cena. "À procura do amor" é ouro.
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