AMOR, SUBLIME AMOR (West Side Story, 1961, United Artists, 153min) Direção: Jerome Robbins, Robert Wise. Roteiro: Ernest Lehman, peça teatral de Jerome Robbins e música de Arthur Laurents, inspirada em "Romeu e Julieta", de William Shakespeare. Fotografia: Daniel L. Fapp. Montagem: Thomas Stanford. Música: Leonard Bernstein. Figurino: Irene Sharaff. Direção de arte/cenários: Boris Leven/Victor Gangelin. Produção: Robert Wise. Elenco: Richard Beymer, Natalie Wood, Russ Tamblyn, Rita Moreno, George Shakiris, Simon Oakland, Ned Glass. Estreia: 18/10/61
11 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Jerome Robbins, Robert Wise), Roteiro Adaptado, Ator Coadjuvante (George Chakiris), Atriz Coadjuvante (Rita Moreno), Fotografia em cores, Montagem, Figurino em cores, Direção de Arte/Cenários em cores, Som, Trilha Sonora/Musical
Vencedor de 10 Oscar: Melhor Filme, Diretor (Jerome Robbins, Robert Wise), Ator Coadjuvante (George Chakiris), Atriz Coadjuvante (Rita
Moreno), Fotografia em cores, Montagem, Figurino em cores, Direção de
Arte/Cenários em cores, Som, Trilha Sonora/Musical
Vencedor de 3 Golden Globes: Melhor Filme/Musical, Ator Coadjuvante (George Chakiris), Atriz Coadjuvante (Rita Moreno)
Trinta e seis anos antes que o australiano Baz Luhrmann subvertesse o tom solene da obra mais famosa do dramaturgo William Shakespeare e transferisse "Romeu e Julieta" para uma ensolarada cidade litorânea e substituísse espadas por armas automáticas e o silêncio romântico por tiroteios e música pop, uma outra versão heterodoxa da peça teatral já havia conquistado o mundo. Primeiro na Broadway e depois nas telas de cinema, "Amor, sublime amor" - ou simplesmente "West Side Story" - mostrou a força e contemporaneidade da mais icônica história de amor jamais criada. Ainda que com algumas alterações em relação ao musical original, montado na Broadway, o filme (codirigido por Jerome Robbins e Robert Wise) ganhou o público, a crítica e a Academia de Hollywood, arrebatando impressionantes dez estatueta do Oscar, incluindo melhor filme e diretor (dividido pela primeira vez na história, em um acontecimento que só seria igualado, até hoje, na cerimônia de 2008, quando os irmãos Joel e Ethan Coen foram premiados por "Onde os fracos não tem vez"). O maior sucesso de bilheteria do ano de 1961 e referência absoluta para os filmes musicais que viriam depois dele, "Amor, sublime amor" pode até chatear algumas plateias menos pacientes (são duas horas e meia de cantoria e coreografias), mas, no final das contas, para os fãs do gênero é um clássico indiscutível.
A trajetória de "Amor, sublime amor" rumo às telas de cinema começou em 1957, quando o musical escrito por Arthur Laurents, musicado por Elmer Bernstein e Stephen Sondheim e coreografado por Jerome Robbins, estreou na Broadway. Em sua concepção, a trama giraria em torno de da história de amor de dois jovens cuja relação era ameaçada por diferenças religiosas: com o título de "East Side Story", o roteiro se desenvolvia no turbilhão de um romance entre um rapaz católico e uma jovem judia. Percebendo o aumento da imigração porto-riquenha em Nova York, porém, os criadores da peça resolveram mudar o conflito e torná-lo mais próximo da realidade do momento: surgia assim o impossível romance entre uma porto-riquenha e um descendente de poloneses. Com o título modificado para o eternizado "West Side Story", o espetáculo estreou e foi um sucesso instantâneo, ficando em cartaz por quase dois anos. Como não poderia deixar de ser, seu êxito logo chamou a atenção de Hollywood - mais precisamente do produtor Walter Mirisch, que viu nele o potencial de uma bela carreira também no cinema. Logo de cara, porém, esbarrou em um problema quase intransponível: Jerome Robbins, o autor de todas as energéticas coreografias que encantaram o público no teatro, se recusou a trabalhar no filme, a menos que o dirigisse. Ciente de que Robbins nunca havia dirigido um filme, Mirisch conseguiu chegar a um meio-termo com seu novo contratado, e entregou a ele a direção das sequências de dança, enquanto Robert Wise ficava encarregado das demais cenas. O acordo não durou muito.
Antes mesmo que Robbins fosse afastado do projeto devido ao atraso das filmagens e o estouro do orçamento que seu perfeccionismo havia causado - ele insistia em filmar cada cena de inúmeros ângulos, o que, logicamente, desagradou os produtores -, outra questão tomou conta dos bastidores. Considerados velhos demais para interpretarem jovens rebeldes, praticamente todos os atores da peça original foram descartados para a transição à tela grande, pouco importando se o novo elenco sabia ou não cantar (em Hollywood, onde era quase tradição o uso de dublagem em filmes do gênero, esse era apenas um detalhe quase insignificante, por incrível que pareça). A partir daí, atores e atrizes de todos os tipos foram cogitados e/ou testados para o projeto: no lado feminino, os nomes mais famosos cotados foram os de Suzanne Pleshette e Audrey Hepburn - que pulou fora por conta de uma gravidez. Entre os homens, a lista incluía futuros astros como Anthony Perkins, Richard Chamberlain, Burt Reynolds e Warren Beatty. Beatty era, segundo boatos, o preferido da atriz Natalie Wood, escolhida para o principal papel feminino - uma teoria que não se sustenta, já que os dois jovens atores não tinham exatamente se dado muito bem nas recentes filmagens de "Clamor do sexo" (1961) e só viriam a assumir um romance depois da separação da atriz. Com Beatty e os demais candidatos fora do páreo, a protagonização masculina ficou com Richard Beymer, até então mais conhecido por séries de televisão do que por sua carreira cinematográfica. Nem mesmo Beymer, que trinta anos mais tarde passaria a ser reconhecido como Benjamin Horne, o ambicioso empresário da série cult "Twin Peaks" (em que voltou a contracenar com Russ Tamblyn), tinha certeza se era a melhor escolha da produção - talvez porque a primeira opção do diretor havia sido ninguém menos que Elvis Presley.
Presley, um dos maiores ídolos musicais de todos os tempos, brincava de ator desde "Ama-me com ternura", lançado em 1956, mas seus filmes nunca exigiam dele mais do que cantar e explorar seu carisma. Em "Amor, sublime amor", ele teria a chance de fugir da previsibilidade das produções que serviam apenas de veículo para vender discos e fazer parte de algo que prometia ser um enorme sucesso. Porém, por conta de seu então empresário, o temido "Coronel", que não gostava da ideia de ter sua galinha de ovos de ouro participando de um projeto cujo controle ele não teria, Presley abandonou o barco - e a possibilidade de ter seu nome associado a um clássico dos mais adorados pelo público. A recusa do "Coronel" não tinha nada de escolha artística: a participação de Elvis no filme não lhe daria direitos sobre as canções da trilha sonora - e além disso, das doze canções do roteiro, apenas metade seriam interpretadas por ele. Na visão mercenária de seu empresário, era um mau negócio em termos financeiros, e conforme o tempo provou, quem mais saiu perdendo foi o cantor: o disco com a trilha sonora do filme tornou-se a mais vendida da história e, com o impressionante número de 249 semanas em cartaz em Paris, "Amor, sublime amor" também mantém o recorde de tempo de um único filme nos cinemas franceses. Mas, apesar do sucesso de público e de Oscars, o filme de Robbins e Wise não conquistou completamente a crítica norte-americana.
Se Roger Ebert, um dos mais respeitados críticos de cinema dos EUA, louvou "Amor, sublime amor" e o colocou na lista de seus filmes preferidos, o mesmo não pode ser dito a respeito da temida Pauline Kael, que massacrou o filme em suas colunas: dos diálogos que considerou antiquados às sequências de dança com as quais não se empolgou - passando pelo desempenho de Natalie Wood -, Kael não se deixou seduzir pelo filme como a maioria de seus colegas. Isso não o impediu, no entanto, de tornar-se parte do inconsciente coletivo internacional. Com algumas das canções mais famosas do cancioneiro norte-americano - "Maria", "I feel pretty" e "America" são conhecidas mesmo por quem nunca assistiu ao filme -, "Amor, sublime amor" conta, através de números de dança e música, a trágica história de amor entre Maria (Natalie Wood), uma jovem porto-riquenha cujo irmão é o líder de uma gangue em Nova York, e Tony (Richard Beymer), descendente de poloneses indiretamente ligado à gangue rival. Substituindo lutas por coreografias, diálogos por canções icônicas e alterando em parte o final da peça de Shakespeare, o filme até pode soar um pouco datado - em especial quando se lembra que os musicais mais bem-sucedidos das últimas décadas -, mas é, sem dúvida, um dos mais importantes produtos cinematográficos realizados em Hollywood. Com dez Oscar e três importantes Golden Globes no currículo, também ficou na história como um dos filmes mais premiados pela Academia - e em 2020 será revisitado por Steven Spielberg, em um remake talvez desnecessário., consequência de ser um dos filmes mais adorados pelos fãs do gênero.
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