Contraste entre a vida campestre e a das cidades
Nos campos o vilão sem sustos passa,Inquieto na corte o nobre mora;O que é ser infeliz aquele ignora,Este encontra nas pompas a desgraça.Aquele canta e ri; não se embaraçaCom essas coisas vãs que o mundo adora;Este (oh cega ambição!) mil vezes chora,Porque não acha bem que o satisfaça.Aquele dorme em paz no chão deitado,Este, no ebúrneo leito precioso,Nutre, exaspera velador cuidado.Triste, sai do palácio majestoso.Se hás-de ser cortesão, mas desgraçado,Antes ser camponês e venturoso!Obras escolhidas - Volume IBocageCírculo de Leitores (1985)
Casa situada na cidade das Caldas da Rainha, "nascida" em 1976, numa rua sossegada, estreita e, desde Abril de 2009, com sentido único. Produção: dois frutos de alta qualidade que já vão garantindo o futuro da espécie com quatro novos, deliciosos. O blog é, tem sido ou pretendido ser uma catarse, o diário de adolescente que nunca escrevi, um repositório de estórias, uma visão do quotidiano, uma gaveta da memória.
quarta-feira, 17 de maio de 2023
Palavras bonitas
terça-feira, 15 de setembro de 2020
Bocage
Nasceu a 15 de Setembro de 1765. Chamava-se Manuel Maria Barbosa du Bocage, ficou conhecido como o Elmano Sadino e ainda hoje é recordado por inúmeras anedotas que se lhe atribuem, com ou sem razão. Foi um excelente poeta. Deixou vasta obra, que se lê sempre com muito agrado. Por força da evolução natural dos tempos e dos tempos que já foram, talvez não seja recordada com a atenção que lhe seria devida.
Fica aqui o seu retrato, com a ressalva de que, quando o li pela primeira vez, a moral e os bons costumes da época determinavam que o último verso fosse "Num dia em que se achou mais pachorrento" e não aquilo que o poeta escreveu.
Magro, de olhos azuis, carão moreno,Bem servido de pés, meão na altura,Triste de faxa, o mesmo de figura,Nariz alto no meio e não pequeno;Incapaz de assistir num só terreno,Mais propenso ao furor do que à ternura,Bebendo em níveas mãos por taça escuraDe zelos infernais letal veneno;Devoto incensador de mil deidades,(Digo de moças mil) num só momento;Inimigo de hipócritas e de frades:Eis Bocage, em quem luz algum talento;Saíram dele mesmo estas verdadesNum dia em que se achou cagando ao vento.
terça-feira, 21 de abril de 2020
Liberdade e Poesia
Quem faz que o teu influxo em nós não caia?
Porque (triste de mim)! porque não raia
Já na esfera de Lísia a tua autora?
De santa redenção é vinda a hora
A esta parte do mundo, que desmaia:
Oh! Venha ... Oh! Venha, e trémulo descaia
Despotismo feroz, que nos devora!
Eia! Acode ao mortal, que frio e mudo
Oculta o pátrio amor, torce a vontade,
E em fingir, por temor, empenha estudo:
Movam nossos grilhões tua piedade;
Nosso numen tu és, e glória, e tudo,
Mãe do génio e prazer, oh Liberdade!
Manuel Maria Barbosa Du Bocage