Os santos criaram um espaço social particular, uma «junção» entre o mundo terreno e o divino. Em larga medida, este espaço social nasceu dos desejos e esforços dos seus devotos, embora mais tarde a Igreja tenha estabelecido um eficaz processo de produção de celebridade, ao qual George Minois designou como «fábrica de santos». Mosteiros, ordens religiosas, aldeias e cidades, todos competiram na criação dos «seus próprios», e as autoridades eclesiásticas tiveram de impor entraves ao processo de canonização para controlar a «inflação de santidade», gerando assim tensão entre os santos populares e os oficiais. Os últimos eram preferidos pelas autoridades eclesiásticas como modelos de virtude e submissão, exemplos de uma vida cristã imaculada. Contudo, o povo preferia personagens excêntricas e profundamente individualistas, com poderes espectaculares e miraculosos, ou figuras consideradas bons membros da comunidade e capazes de curar. Revolucionários e figuras como Robin dos Bosques - messias subversivos que exigiam o fim da propriedade privada e que eram perseguidos pelas autoridades - também figuravam entre as exigências populares de canonização. À medida que a Igreja apertou o controlo à produção de santidades, o tempo desse mesmo processo, da apresentação do pedido à decisão final, aumentou gradualmente, assim como os custos. Mas os ganhos podiam valer bem a pena, sob a forma de publicidade e benefícios associados para uma ordem religiosa, aldeia, cidade ou monarca.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral
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