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A mostrar mensagens com a etiqueta natal

Natal dos bombeiros

À entrada do quartel da Constituição, os bombeiros instalaram um velho jipe decorado com luzes, fitas e pendentes de Natal. O carro é puxado por quatro renas de plástico, de tamanho quase real. Sentado no capô, um vigoroso manequim, daqueles que se vêem nas montras das lojas de moda, vestido de Pai Natal. Com a chuva, as barbas deslizaram pelo queixo e pingaram, como um trapo sujo, até ao pescoço. O vento arrancou o nariz vermelho do Rudolfo.

Uma pequenina luz

O Natal atira-me para um estado de aguda melancolia. Não sei explicar. Ou melhor, sei. Claro que sei. Há demasiadas luzes a cintilar, bonecos de neve nas janelas, Pais Natais a pilhas e duendes a agitar as ancas de plástico, Frank Sinatra e Bing Crosby aos abraços pelas ruas, a árvore de 34 metros de altura por 15 metros de largura na praça, mil paisagens nevadas dos alpes suíços em mil montras de lojas de pronto-a-vestir. E não há uma única luz a cintilar dentro de mim. «Uma pequenina luz bruxuleante. Une toute petite lumière, just a little light, una picolla…» Nada. Gosto de rabanadas, apenas isso.

3. Le commerce

Ao passar pelos cartazes de natal do Continente percebi que a única forma de suportar estas mensagens tão estafadas é convertê-las automaticamente em material pornográfico (imagem exemplo, em anexo). Claro que já não se trata de publicidade, é território da intervenção política ou até da arte contemporânea.
Se tivéssemos músculos no cérebro: os homens que praticam o pensamento seriam capas de revista, modelos ou aberrações de feira; pensar obedeceria a critérios exteriores e visíveis; as palavras perderiam o seu poder; o ginásio voltaria a ser gymnasion . Uma hipótese um bocado grotesca, mas bastante exequível — a anatomia é uma disciplina em franco progresso. Vejam, por exemplo, a imagem do senhor que ilustra o natal dos intelectuais. Que cabeça bem definida!