Emil Cioran: (…) a música deve deixar-nos loucos, senão não vale nada. Sylvie Jaudeau: Em suma, a música confronta-nos com este paradoxo: a eternidade presentida no tempo. Emil Cioran: É de facto o absoluto apanhado no tempo, mas incapaz de aí permanecer, um contacto ao mesmo tempo supremo e fugitivo. Para que permanecesse, seria necessária uma emoção musical ininterrupta. A fragilidade do êxtase místico é idêntica. Nos dois casos, o mesmo sentimento de incompletude, acompanhado por um lamento dilacerante, uma nostalgia sem fim. Sylvie Jaudeau: Essa nostalgia é precisamente a base da sua visão do mundo. Como é que a define? Emil Cioran: Esse sentimento está ligado em parte às minhas origens romenas. Por lá, impregna toda a poesia popular. É um desgosto indefinível que em romeno se diz dor , próximo do Sehnsucht dos alemães, mas sobretudo da saudade dos portugueses. Sylvie Jaudeau: Você escreveu: “Há três tipos de melancolia: russa, portuguesa e húngara." Emil ...
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral