Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens com a etiqueta liberais

Sistema de atracção de capital humano

Leio no jornal que uma das medidas do «Plano de Acção para as Migrações» do governo, que, na prática, impõe critérios discriminatórios na escolha das pessoas que podem entrar legalmente em Portugal, é «instituir um sistema de atracção de capital humano». O despudor com que os burocratas recorrem ao linguajar mais básico do marketing e da publicidade para se referirem a nós, o chamado «capital humano», provoca-me vómitos.

O capital humano

O capital humano levanta-se cedo e cansado. Com o calor, dorme pior. Os autocarros enchem-se de capital humano como sardinhas em lata. O capital humano instala-se nos escritórios, nas lojas, nos shoppings , nas fábricas, nas estufas de tomate. Ao almoço, a maioria do capital humano devora tupperwares . Algum capital humano vai ao restaurante. Ao fim do dia, o capital humano regressa a casa ou aos quartos alugados. Cheira dos sovacos, da boca, dos pés. Faz o jantar, come, prepara os tupperwares para o dia seguinte. Algum capital humano bebe um copo na esplanada e janta fora. Certo capital humano limpa as escadas e as casas de banho dos escritórios, das lojas, dos shoppings e das fábricas. A maioria do capital humano passa a noite a olhar para a televisão e para os telemóveis, e a desejar outra vida qualquer. Depois, deita-se. Levanta-se cedo e cansado. Com o calor, o capital humano dorme pior.

As leis do mercado

Dois ou três bancos faliram nos Estados Unidos e um grande banco na Suiça está prestes a cair. As primeiras páginas dos jornais pintam-se com os títulos do costume: «crise bancária», «risco sistémico», «quedas históricas nas bolsas». Regressam em força os comentadores de economia e o seu olímpico despudor: «toda a gente sabia que ia acontecer», «todos os economistas e comentadores previram isto», «a culpa obviamente é do regulador», «a falta é dos bancos centrais», «a responsabilidade é dos estados». Adivinham-se facilmente os próximos comentários dos mesmos sábios: «O Estado tem de intervir», «o Estado tem de apoiar os bancos», «o Estado tem de pagar». Ah, a beleza do mercado.