Ferdinand Denis

Esta pesquisa de conclusão de curso analisa algumas relações entre a linguagem pictórica e elementos discursivos comumente visíveis na pintura que se dedicou à representação de fatos históricos, escolhendo como ponto central o caso particular da pintura Primeira missa no Brasil, de Victor Meirelles (1860). Obra baseada num acontecimento narrado pela Carta de Pero Vaz de Caminha, ela tornou-se um dos modelos para a produção de pintura histórica no Brasil e, ao mesmo tempo, participou da construção de uma visão idealizada do país, tomando parte no processo de configuração de certos mitos nacionais. Num primeiro momento deste estudo foram investigadas as relações que essa pintura estabeleceu com a produção artística brasileira dos séculos XIX e XX, considerando os aspectos que participaram na sua produção, disseminação e interlocução com outras obras.
O presente trabalho ateve-se ao diálogo da Primeira missa no Brasil com a pintura histórica e suas convenções representacionais derivadas da tradição humanista, que elegeu as poéticas e retóricas clássicas como parâmetros para a produção pictórica.

Este trabalho se propõe a aproximar dois nomes importantes para a cultura histórica nacional que, pertencendo a àreas distintas, raramente se encontram: são eles o francês Ferdinand Denis, cujo Resumé de L'histoire Literaire du Brésil (1826) é considerado fundador da historiografia literaria brasileira e Von Martius, o naturalista alemão cujo projeto “Como se deve escrever a História do Brasil” (1846) tornou-se oficial após vencer o concurso do IHGB em 1841. A partir de uma analitica baseada na História dos conceitos de Reinhardt Koselleck, analisaremos estes projetos buscando apontar convergências seja na importância e sentido que eles atribuiam à história, seja pelos conceitos que operacionalizaram para construi-la e, finalmente pelo saldo otimista de percepção do futuro nacional que nos legaram. Suas obras aqui abordadas sem dúvida contribuiram na fundamentação de temas essenciais da identidade brasileira como a “miscigenação positiva”, a “Natureza exuberante” e o “País do Futuro”, conceitos que no século XIX representavam importante contribuição ao pensamento nacional e que, posteriormente reificados pela propaganda política, descambaram em sinonimos de ufanismo ingenuo ou manipulação ideológica. A complexidade e arrojo desses temas em seu tempo só se esclarece quando avaliamos o horizonte de expectativas em que se inseriam os projetos aqui avaliados, bem como o entusiamo destes autores quanto à História e sua atuação: só assim podemos perceber que seu otimismo derivava menos de uma apreensão idealizada do espaço de experiencia (o passado brasileiro), que da positividade atribuida então a um horizonte de expectativas construido à partir do conhecimento histórico. Através dele se definiriam rumos precisos para as práticas do futuro e as narrativas do passado e, portanto, as expectativas destes autores residiam menos no parco material documental que tinham sob os olhos que na metodologia teleológica que a historiografia lhes proporcionava, então. Sobretudo há que destacar que estes trabalhos produziram fundamentos para uma narrativa histórica em que se reelaboravam desde a cronologia histórica até os conceitos fundantes: natureza e cultura; barbárie e civilização, em consonancia ao horizonte de expectativas construido em torno da realidade brasileira. E nesse novo horizonte, a experiencia da miscigenação de “raças” e culturas prenunciava um futuro que podia (as)sim, ser positivo.

As mudanças mentais ocorridas no século XVII e a resultante separação entre os antigos e os modernos, nos séculos seguintes (XVIII e XIX) acarretaram transformações semânticas substanciais na relação com a herança clássica. Entre essas mudanças (bem demonstradas pelo culto romântico da originalidade), destacam-se as novas categorias e formas em que a experiência humana foi modelada, cujos modelos teóricos e narrativos propunham um novo gênero: a história nacional. A certeza de superação dos antigos foi também responsável pelo plural de antiguidades nacionais. Surpreendentemente, porém, essas novas narrativas revelar-se-iam em grande dívida para com a tradição clássica: principalmente, na formulação heroica dessas novas antiguidades.

As mudanças mentais ocorridas no século XVII e a resultante separação entre os antigos e os modernos, nos séculos seguintes (XVIII e XIX) acarretaram transformações semânticas substanciais na relação com a herança clássica. Entre essas mudanças (bem demonstradas pelo culto romântico da originalidade), destacam-se as novas categorias e formas em que a experiência humana foi modelada, cujos modelos teóricos e narrativos propunham um novo gênero: a história nacional. A certeza de superação dos antigos foi também responsável pelo plural de antiguidades nacionais. Surpreendentemente, porém, essas novas narrativas revelar-se-iam em grande dívida para com a tradição clássica: principalmente, na formulação heroica dessas novas antiguidades.

O artigo apresenta os resultados do projeto de pesquisa de Ana Beatriz Demarchi Barel como pesquisadora residente junto à Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin – BBM-USP. O projeto teve por finalidade o estudo e a análise de dois textos que integram a obra de Ferdinand Denis, um dos mais importantes atores das relações França-Brasil no século XIX. Trata-se de Lettres Familières et Fragment du Journal Intime de Ferdinand Denis à Bahia (1816-1819). Esse livro, organizado pelo professor León Bourdon e publicado em 1957 pela Coimbra Editora Limitada, consta do acervo da BBM-USP e permanece, até os dias de hoje, pouquíssimo trabalhado, o que define uma lacuna na historiografia literária franco-brasileira. O projeto aprofunda a leitura do material epistolar de Ferdinand Denis, buscando rastrear a rede de contatos evocada em sua correspondência e sua relação com o Brasil.