segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

CONVERSAS COM QUEM GOSTA DE ESCREVER - Fernando Sabino

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POR QUE ESCREVE?

 “Tenho a impressão de que se eu soubesse responder a essa pergunta deixaria de ser escritor. Não haveria condição. Não saberia dizer, não. Está além de minha compreensão. Esta pergunta é tão grave como se perguntassem: “Por que vive? Por que ama? Por que morre?” Talvez eu escreva para atender a essas três presenças que são as únicas que existem na vida de um homem.”

“Para mim, o ato de escrever é muito difícil e penoso, tenho sempre que corrigir e reescrever várias vezes. Basta dizer, como exemplo, que escrevi 1100 páginas para fazer um romance no qual aproveitei pouco mais de 300.”

(Fernando Sabino, escritor mineiro)

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In: Escrever Sem Doer -  Ronald Claver, ed. UFMG, 2006.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

OBRIGADO!


imagem  portal terra.com.br 

 MOACYR SCLIAR
Minha gratidão pela obra literária que nos deixa como melhor legado, pela grandeza e elegância do homem que foi, desprendido de vaidades e mesquinharias e pelo inestimável apoio que me concedeu com poucas mas inesquecíveis palavras no caminho das letras.

23/03/1937
27/02/2011

sábado, 26 de fevereiro de 2011

ARROGÂNCIA

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Quando olhamos as coisas e as pessoas do alto, a tendência é enxergá-las um pouco menores do que elas realmente possam ser.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

NOTÍCIA E POEMA

Leia primeiramente esta notícia e  depois o poeminha

EMPRESA LIBERA FUNCIONÁRIOS PARA TRABALHAR SEM ROUPAS
Esqueça qualquer palestra ou curso de motivação de equipes que você já assistiu. Se você realmente quer motivar um grupo de trabalhadores, basta deixá-los nus. Pelo menos é assim que pensa o dono de uma empresa de marketing e design em Newcastle, Inglaterra.
Parece brincadeira, mas imagine se a empresa em que você trabalha resolvesse pedir para que todos fossem trabalhar sem nenhuma peça de roupa. O escritório decidiu quebrar as tradicionais regras do bem-vestir, orientada pelo psicólogo David Taylor e encorajada pelo chefe. O objetivo é alcançar melhores resultados e impulsionar o espírito de equipe...


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Aí eu fiz um:
POEMA DOS PELADOS


Não sou bravo nem forte, nem filho do norte.
Mas eu vi
Bundas e peitos em fartura
Lelecas , bililius, soltos sem corte
Relaxados  e nada excitados
Apenas desnudos na execução
Meninos, eu vi.

Ninguém assanhado , ninguém “atirado”
Não deu confusão
A chefa, primeira,
tomou dianteira
Mandou todo mundo
ficar peladão.

Gente pelada  para todos os lados
Tirando xerox nas repartições
Pra lá e pra cá
Sem frio ou  calor
Nenhum arrepio
Nas peles desnudas,
meninos eu vi.


Na hora do lanche, da venda ou almoço
Será que pelados , não deu alvoroço?
E se as visitas, clientes, vizinhos
Achando calientes
Resolvem arriscar?
Um olho em produtos
e outro nos frutos
Que os corpos pelados
Permitem mostrar?

Está funcionando a todo vapor
A firma da turma
Que roupa não usa
Mas que tem valor
Cria, vende, lucra
E ninguém recusa

Meninos, meninas
Que coisa maluca
O que escrevi
É coisa bem séria
Não é para rir
Nem é deletéria,
meninos, eu vi.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

AEDO CIBERNÉTICO * EM ALGUM LUGAR DO PASSADO

O amor eterno ainda que em sonho existe. Esse filme nos evoca esta esperança. E a trilha sonora é algo entre primoroso, emocionante e imperdível. Não sei se a música me marcou pelo filme ou o filme me marcou pela música. Sei é que não esqueço ambos.

Universidade de Millfield, maio de 1972. Richard Collier (Christopher Reeve) é um jovem teatrólogo que conhece na noite de estréia da sua primeira peça uma senhora, idosa, que lhe dá um antigo relógio de bolso enquanto, em tom de súplica, lhe diz: "volte para mim". Ela se retira sem dizer mais nada, deixando Richard intrigado enquanto volta para seu quarto no Grand Hotel. Chicago, 1980. Richard não consegue terminar sua nova peça, assim decide viajar sem destino certo e resolve se hospedar no Grand Hotel. Lá resolve visitar o Salão Histórico, que esta está repleto de antiguidades e curiosidades do hotel, e fica encantado com a fotografia de uma bela mulher. Como não havia plaqueta de identificação Richard procura Arthur Biehl (Bill Erwin), um antigo funcionário do hotel, que diz para Richard que o nome dela é Elise McKenna (Jane Seymour), uma atriz famosa que fez uma peça no teatro do hotel em 1912. Collier fica tão obcecado com o rosto de Elise que decide não partir e então vai até uma biblioteca próxima, onde pesquisa sobre McKenna. Para sua surpresa descobre que Elise é a mesma mulher que lhe deu o relógio, que ele carrega até hoje. Richard então procura Laura Roberts (Teresa Wright), que escreveu o artigo sobre Elise. Inicialmente ela não o recebe bem, mas quando ele mostra o relógio Laura fica espantada, pois era um objeto de estimação que ela nunca se separava e sumiu na noite em que ela morreu, ou seja, na noite em que falou com Richard. Ao conversar mais calmamente com Laura, Richard toma consciência que ele e Elise tinham vários fatores em comum, mas parece que para achar a peça que falta deste bastante intrincado quebra-cabeças ele terá de ir a algum lugar do passado, mas para isto precisa se desligar totalmente do presente.

Fonte: http://www.adorocinema.com/filmes/em-algum-lugar-do-passado
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* Na antiguidade, como a escrita era pouco desenvolvida, o AEDO cantava as histórias que iam passando de geração para geração, através da música. Depois, veio o seu assemelhado na idade média que era o trovador. Hoje, juntado tudo isso com a tecnologia, criei o AEDO CIBERNÉTICO.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

DEPOIS DE UM PASSEIO NA FEIRA HORTIFRUTI

Quanto mais a tecnologia avança mais a natureza vai perdendo a credibilidade. É impressionante como há uma dissociação da vida prática com os conceitos de preservação tão defendidos por aí. “É que há distância entre intenção e gesto”, já dizia o Chico Buarque.

Por exemplo, um alimento orgânico se torna a cada dia um produto exótico, uma espécie de “intruso bem vindo”. Aliás, chamar um alimento que vem da terra de orgânico é uma redundância, não é mesmo?  O normal passou a ser a gente consumir aquele monte de frutas, verduras e legumes cheios de agrotóxicos e o orgânico virou uma elite da comida, disponível apenas para quem pode pagar muito mais caro.

Quem tem mais dinheiro vai direto ao panteão sagradado da saúde, que são as  gôndolas onde ficam os produtos chamados orgânicos. É uma espécie de templo onde estão depositados, não os restos mortais, mas o que resta de vital para uma existência saudável.

Outro exemplo: desde quando o frango saiu de seu habitat e passou a frequentar incubadoras, sofreu intervenções hormonais para se reproduzir rápido. Aqueles que não o acompanharam, passaram a ser chamados de frangos caipiras. Até então, todos eram apenas frangos. Podemos dizer que temos hoje o frango urbano, moderníssimo e com um adorável gosto de isopor bem temperado e o frango caipira que, para quem não está acostumado com seu sabor, é um alimento estranho. Na minha própria família tem umas crianças e jovens que acham o sabor muito “forte”, dá dor de barriga. Mutações genéticas que ocorrem com os alimentos e com o organismo humano por tabela.

Mas o exemplo mais interessante foi quando eu juntei uma roda de crianças dos seis aos dez, onze anos e falei acerca do hambúrguer. Eu havia escrito um texto falando sobre a roça e o espanto foi geral quando expliquei o processamento da carne desde o nascimento do bezerro até o pai ou a mãe de uma delas ir ao supermercado e comprar uma caixinha de hambúrger. Foi uma incredulidade geral. Teve criança que chegou a me dizer que nunca mais comeria quando soube que tinha que matar o boi para a fabricação. Outros quase me enxotaram por falar mentira tão deslavada. A menorzinha, brava, me disse: “Tio, hambúrger vem das fábricas lá dos Estados Unidos, não tem nada a ver com boi ou vaca não, viu?”

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

CONVERSAS COM QUEM GOSTA DE ESCREVER - Clarice Lispector

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“Quando eu era criança, durante muito tempo pensei que os livros nascessem como as arvores, como os pássaros. Quando descobri que existiam autores, pensei: também quero fazer um livro.”
(Clarice Lispector, escritora brasileira/ucraniana)
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“Então escrever é o modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando o que não é palavra. Quando essa não-palavra morde a isca, alguma coisa se escreveu. Uma vez que se pescou a entrelinha, podia-se com alívio jogar a palavra fora. Mas aí cessa a analogia: a não-palavra, ao morder a isca, incorporou-a. O que salva então é ler “distraidamente.”
(Clarice Lispector, Para Gostar de Ler)
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In: Escrever Sem Doer -  Ronald Claver, ed. UFMG, 2006.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

VAZIO

Passamos o tempo todo preenchendo os espaços vazios que há em nós. Depois da criação somos soltos no mundo e vamos nos agarrando às coisas, acontecimentos, pessoas e caminhando, tentando transformar as relações com as coisas, acontecimentos e pessoas no reverso da nossa infelicidade; vamos tentando reduzir o sofrimento primordial e misterioso que é viver. Para mim o significado de vida é mistério, sofrimento e busca. O conceito de felicidade talvez esteja no encontro do segredo que ponha fim ao sofrimento e acabe com os mistérios. Seguimos sonhando, construindo e esperando sempre algo, que, se não for palpável, seja mesmo assim, contentamento. Os saltos de qualidade são momentos felizes. Percalços, quedas, desvarios e imprevistos são  obstáculos que fazem movimentar nossa capacidade de superar o que precisamos enquanto estamos justificando para nós  mesmos o quê que é que estamos fazendo aqui nesse mundão de meu Deus. Uma séria doença, por exemplo, é quando não conseguimos tatear nada nesse vazio. Passamos a nos nutrir apenas de esperança (medo) e vontade (medo). Há quem seja muito forte (impassível?) e apalpe a própria audácia. Eu vou dar uma pausa, que espero não ser longa nem mais sofrida. Vou seguir tateando  por aí sem nenhum atrevimento, completamente frágil, enquanto lá no hospital Deus e os homens vão se entendendo.

PS: tenho 8 irmãos que amo muito e um deles, muito importante para mim, será submetido amanhã a uma cirurgia para extirpar um hipernefroma renal.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

CONVERSAS COM QUEM GOSTA DE ESCREVER - Ernest Hemingway

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“Gosto de escrever de pé porque não deixa a barriga crescer e porque um tipo tem mais vitalidade quando está de pé. Já se viu alguém durar mais de dez rounds sentado de papo para o ar? Escrevo as partes descritivas à mão porque é o que me custa mais e está-se mais perto do papel quando se escreve à mão, mas escrevo o diálogo à máquina porque as pessoas falam da mesma maneira que uma máquina trabalha.”

(Hemingway, citado por A.E. Hotchener, em Papa Hemingway)


 “Só há um segredo para vir a ser-se um escritor famoso se se tem talento: conservar a saúde.”
(Hemingway, citado por A.E. Hotchener, em Papa Hemingway)


“A maioria dos escritores descuida-se com a parte mais maçadora mas mais importante do seu trabalho – a revisão: apurar e afiar o material de maneira a ficar como o estoque dum matador.”

(Hemingway, citado por A.E. Hotchener, em Papa Hemingway)
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In: Escrever Sem Doer -  Ronald Claver, ed. UFMG, 2006.

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sábado, 12 de fevereiro de 2011

CRIANÇAS QUE SÃO CRIANÇAS

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Já não se fazem mais crianças como antigamente. Esse antigamente de que falo tem muito pouco tempo e está ligado a uma geração. Aquela que lutou por algum tipo de igualdade e liberdade de pensamento e ação, pelo menos.

Até os primórdios do capitalismo, criança não tinha infância. Na ganância por dinheiro, os proprietários dos meios de produzir as coisas colocavam-nas para trabalhar junto dos pais muito cedo. Muitos pais, por necessidade ou por aprendizado torto continuaram fazendo isso com elas muito tempo depois. O tempo acelerou a vida, o mundo cresceu demais e parece que vai acabar amanhã ou depois, de tanto que estão todos correndo atrás de alguma coisa com aparência de definitiva.

A maioria dos pais agora, na loucura de darem conta de si mesmos adianta o fim daquela que já foi uma longa e prazerosa infância para muitos. Afinal de contas, não ter tempo livre é uma perspectiva de ser reconhecido ou alguma outra forma de destaque. Não basta mais garantir a sobrevivência dignamente, tem-se que fazer o mundo notar a nossa existência. Tudo estava mais visível quando não éramos tanta gente no mundo. Tínhamos tempo a mais depois de cumpridas as obrigações diárias. Agora, a sensação que se tem olhando para os lados, para frente e pra trás é que está quase todo mundo querendo passar na frente do tempo, deixa-lo vir em busca de nosso ego insultado pela indiferença da coletividade. A mídia que já era poderosa ganhou um reforço ainda maior com tecnologias e tecnologias. Ela reforça o tempo inteiro o desejo de estarmos aparecendo para o mundo. E só se sente com certificado de reconhecimento quem nela aparece e tem seus momentos (longos ou curtos) de glória.

Filhos precisando de carinho e atenção para poder exercer seu direito a uma “infância infantil” demandam muito tempo.  No máximo que pais brincam com filhos é de coisas do mundo adulto. Divertido demais ver crianças imitando gente grande. O que era proibido como ver filmes de terror, programas de adultos na tv, conversas constrangedoras de gente grande perto delas virou chacota. Aquilo que era permitido, desejado e saudável, ficou proibido. Por exemplo? Brincar. Brincar de pique-esconde, correr atrás de uma bola de meia na queimada, andar de carrinho de rolimã, brincar de boneca com as meninas da vizinhança, agora só em eventos muito especiais. O negócio é a segurança do lar ou dos condomínios fechados. Quem não tem ou não pode, bota na frente da televisão, porque lá fora é perigoso demais.

Sociabilidade amistosa é um negócio que a criança vai ter que aprender bem depois, talvez quando já estiver adulta ou madura ou velha, ou nem aprender, já que estamos rumo ao extremo do individual. Eu não duvido se criarem daqui a pouco uma maneira de customizar o mundo particular, aquele que está gravitando em torno do umbigo.

Uma pessoa equivale a um consumidor, a um cidadão, a um a mais na disputa por algum reconhecimento e aceitação. Um computador sempre cai bem na hora de distrair a criança e ocupar o seu tempo e não ocupar o dos pais. Por isso eu acho que eles tem feito a infância ir embora tão cedo. Quatro, cinco anos, já estão aprendendo a ler e a escrever, já se vestem como adultos, participam das conversas do mundo adulto, brincam com coisas de adultos (quando brincam), especializaram em muitos casos a mandar nos adultos, junto de tanta lei e tanta proteção que foi estabelecida para a sua guarda.

João e Isabel me surpreendem mais e mais a cada dia que tenho a oportunidade traduzida em alegria de conviver com eles. Tem 10 e 9 anos e são crianças no tempo certo. Uma raridade hoje em dia. Tem ainda imaginação de crianças, gostam de brincadeiras de crianças e podem ficar  deslocados do mundo das crianças justamente porque são crianças.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

TRABALHAR E COMER

Os glutões, nossos ancestrais tinham uma relação voraz com o alimento. Não importava muito qual fosse ele. Saciar a fome era garantia de mais um dia vivo. Portanto não primavam muito pela seleção. É verdade também que não havia muitas opções. Temperos então, o que dizer? Mas também não havia culpa com relação à quantidade  nem com estética corporal. Sendo o suficiente para repor energia estava bom demais. Afinal, depois iriam precisar sair à caça novamente. E era também esse o seu trabalho. Os aperfeiçoamentos que vieram com o tempo foram no sentido de melhorar seus métodos e diminuir os esforços para adquirir seu produto alimentar.
            O trabalho, na medida do desenvolvimento relacional com a natureza foi ganhando gosto  e especialização. Com isso o prazer ia aumentando. O homem descobrindo que com um instrumento novo, conseguia obter com mais facilidade os meios necessários para a sua subsistência.
            Os preguiçosos (que devem ter gerado os invejosos)  passaram a disputar o produto tecnológico que o outro inventou e a disputa ferrenha entre os homens passou a ser não só pela comida, mas também pelos meios mais fáceis de consegui-la.
            Bom, de lá para cá, muita coisa se passou e muita gente conhece essa história de como chegamos à mesa com toda a sofisticação moderna, com as culpas que vieram junto do ato de comer e do tédio provocado pelo trabalho. Desde que o homem deixou de fazer para si, com gosto  e teve que se sujeitar ao outro e ficar apenas com uma parcela de sua produção, trabalhar e comer não tem mais o mesmo charme lá das cavernas.
O que botamos para dentro e o que botamos para fora?
As angústias decorrentes desse processo histórico, antropológico e sociológico resvalam no estômago e nas crises decorrentes da insatisfação com o trabalho. Para dentro, enviamos alimentos que nos causam prazer momentâneo e culpa imediata. Alguns colocam outros  agentes, menos alimentares e mais tóxicos em sinal de rebeldia. Mas é opcional. Para fora, botamos ruminâncias verbais. Alguns colocam balas e outras formas de agressão. Opção ou doença?
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 Inspirado na crônica PATOLOGIA ASSUMIDA, de Milena Romariz (do  Recanto das letras).


quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

FIM DO MUNDO

Os europeus foram os primeiros a desfrutar das maravilhas da civilização.  O império romano teve suas incursões pelo Egito, pela Grécia e se espalhou pelo resto da Europa e depois para o resto do mundo. Aproveitaram o que tinham e o que não tinham direito, através das conquistas e pilhagens de terras dos outros. Riqueza e glória nunca lhes faltaram. Exceto em intervalos de algumas guerras. Acabavam sempre achando gente para ajudar a repor os escombros, afinal, pela posição estratégica no globo, podem ser um aliado em potencial para qualquer demanda bélica ou mesmo humanitária entre os quatro pontos cardeais do globo. Aproveitaram tanto que acho que andam meio enfastiados. Não querem mais saber de reproduzir a população (por outro lado também não querem que ninguém de fora vá pra lá para ficar muito tempo). Se for de país pobre, então, nem pensar! Eles também são os povos que nos dão as primeiras dicas sobre o que vamos fazer depois que chegarmos ao patamar onde estão de evolução humana: voltar às origens, respeitar a natureza, o território alheio, cultivar bons hábitos alimentares, não poluir, etc, etc, etc.

Atualmente andam mais preocupados com o fim do mundo. Podem estar entediados, mas morrer ninguém quer, não é mesmo? O Cofre do Fim do Mundo construído na Noruega tem capacidade de guardar numa profundidade demais de 100 metros, bilhões de sementes de plantas para salvar a agricultura mundial e produzir novos alimentos em caso de catástrofes naturais como derivadas de mudanças climáticas, além de meteoritos, radiação nuclear de guerras ou outras intempéries que destruam a vida no planeta.

 A gente já sabe que é na Noruega, país relativamente pequeno; ótimo, teremos muito tempo para procurar onde fica o “túnel da vida”. Eu, na minha inquietante ignorância fico perguntado aonde a gente conseguirá as chaves das portas da esperança para abrir o lugar caso seja um sobrevivente?

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

PREGUIÇA

“A preguiça é a mãe do progresso. Se não fosse a preguiça, o homem não teria inventado a roda.” (Mário Quintana)

            Existem palavras, expressões e gestos amaldiçoados pela sociedade. A preguiça é uma delas. Com exceção daqueles já acostumados desde muito cedo à indolência, é muito difícil conviver com a preguiça, na mesma intensidade que é com a sensação culposa que ela nos traz. Pessoalmente, acostumei desde muito cedo a ouvir de meu pai ante uma cara feia que fazíamos quando nos mandava executar alguma tarefa: “quem quer faz, quem não quer, manda.” Como não mandava nem na minha fome, aprendi a plantar, capinar a horta, colher e ainda cozinhar antes de comer. Então resolvi pesquisar na internet a frase fenomenal do Quintana e deparei-me com outro monstro sagrado da literatura. Fiquei até com preguiça diante de minha insignificância perto deles. Por isso reproduzo, acima a frase e, abaixo, o texto do Veríssimo. Nunca iria conseguir produzir texto melhor. Nem com todo ânimo do mundo.

 

O que move a Humanidade

 Luis Fernando Verissimo

Existem muitas teorias sobre o que fez o Homem dominar o planeta e construir civilizações - enquanto o joão-de-barro, por exemplo, só consegue construir conjugados - e levar grandes mulheres para a cama - enquanto o máximo que um gorila conseguiu foi segurar a mão da Sigourney Weaver. Dizem que o cavalo é mais bonito do que o Homem e que a barata é mais resistente, mas não há notícia de uma fuga a três vozes composta por um cavalo ou uma liga de aço inventada por uma barata. Tudo se deveria ao fato de uma linhagem particular de macacos ter desenvolvido o dedão opositor, com o qual conseguiu descascar uma banana e segurar um tacape, as condições primordiais para dominar o mundo. A vaidade, outra característica exclusivamente humana (o pavão também é vaidoso, mas não gasta uma fortuna com as penas dos outros para fazer sua cauda), também teria contribuído para que o Homem prevalecesse, pois de nada lhe adiantariam suas façanhas com o polegar, e com as mulheres, se não pudesse contar depois. Daí nasceu a linguagem, e com ela a mentira. E o Homem estava feito.
            Mas eu acho que a verdadeira força motriz do desenvolvimento humano, a razão da superioridade e do sucesso do Homem, foi a preguiça. Com a possível exceção da própria preguiça, nenhum outro animal é tão preguiçoso quanto o Homem. O desenvolvimento do dedão opositor nasceu da preguiça de combinar dentes e garras para comer e ainda ter que limpar os farelos do peito depois. A linguagem é fruto da preguiça de roncar, grunhir, pular e bater no peito para se comunicar com os outros e, mesmo, ninguém agüentava mais mímica. A técnica é fruto da preguiça. O que são o estilingue, a flecha e a lança senão maneiras de não precisar ir lá e esgoelar a caça ou um semelhante com as mãos, arriscando-se a levar a pior e perder a viagem? No que estaria pensando o inventor da roda senão no eventual desenvolvimento da charrete, que, atrelada a um animal menos preguiçoso do que ele, o levaria a toda parte sem que ele precisasse correr ou caminhar? Dizem que a agressividade e o gosto pela guerra determinaram o avanço científico da humanidade e se é verdade que a maioria das invenções modernas nasceu da necessidade militar, também é verdade que o objetivo de cada nova arma era o de diminuir o esforço necessário para matar os outros. O produto supremo da ciência militar, o foguete intercontinental com ogivas nucleares múltiplas, é uma obra-prima da preguiça aplicada: apertando-se um único botão se matam milhões de outros sem sair da poltrona. Uma combinação perfeita do instinto assassino e do comodismo. A apoteose do dedão.

Toda a história das telecomunicações, desde os tambores tribais e seus códigos primitivos até os sinais de TV e a internet, se deve ao desejo humano de enviar a mensagem em vez de ir entregá-la pessoalmente ou mandar um guri resmungão. A fome de riqueza e poder do Homem não passa da vontade de poder mandar outros fazerem o que ele tem preguiça de fazer, seja trazer os seus chinelos ou construir as suas pirâmides. A química moderna é filha da alquimia, que era a tentativa de ter o ouro sem ter que procurá-lo ou trabalhar para merecê-lo. A física e a filosofia são produtos da contemplação, que é um subproduto da indolência e uma alternativa para a sesta. A grande arte também se deve à preguiça. Não por acaso, a que é considerada a maior realização da melhor época da arte ocidental, o teto da Capela Sistina, foi feita pelo Michelangelo deitado. Proust escreveu o Em Busca do Tempo Perdido deitado. Vá lá, recostado. As duas maiores invenções contemporâneas, depois do antibiótico e do microchip, que são a escada rolante e o manobrista, devem sua existência à preguiça. E não vamos nem falar no controle remoto.

(Se você não desistiu na segunda linha e leu até aqui, é porque não tem preguiça. Conheço o seu tipo. É gente como você que causa os problemas do mundo. São vocês que descobrem quando o autor está com preguiça e reaproveita um texto antigo. E isso não é humano!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

CONVERSAS COM QUEM GOSTA DE ESCREVER - Mário Quintana

“Os clássicos escreviam tão bem porque não tinham os clássicos para atrapalhar.”
(Mário Quintana, escritor gaúcho)
In: Escrever Sem Doer -  Ronald Claver, ed. UFMG, 2006.



“O sofrimento dos poetas é muito relativo. Pois se um poeta consegue um dia expressar as suas dores com toda a felicidade – como é que poderá ser infeliz? Camões, o velho Camões que o diga – com suas imortais penas de amor. Suas felizes penas de amor!”
(Mario Quintana, Na volta da Esquina)
In: Escrever Sem Doer -  Ronald Claver, ed. UFMG, 2006.



As Trinta Linhas

“Um dia Álvaro Moreyra, já avô, contou-me que seu pai ainda lhe dizia: “Mas Alvinho, por que tu não escreves coisas de mais fôlego?” E ele, espalmando as mãos, num gesto de desculpa: “Mas eu não tenho fôlego, papai...” Depois dessa história, eu não precisava dizer mais nada. Contudo, não me sai da lembrança um professor do meu tempo de ginásio que, ao dar-nos o tema para a redação de português, dizia: “Não adianta escreverem muito, meninos, porque eu só leio a primeira página; o resto eu rasgo.” E assim nos dava, ao mesmo tempo, a primeira e melhor lição de estilo, obrigando-nos a reter as rédeas de Pégaso e a dizer tudo (que, aliás, não podia ser muito) nas trinta linhas do papel almaço, contando título e assinatura. A ele, pois, ao saudoso Major Leonardo Ribeiro, a minha gratidão e a de meus leitores.”
(Mário Quintana, Prosa e Verso)
In: Escrever Sem Doer -  Ronald Claver, ed. UFMG, 2006.

imagem: lunaeamigos.com.br


“Mas para que interpretarem um poema? Um poema já é interpretação.”
(Mário Quintana, Na volta da Esquina)
In: Escrever Sem Doer -  Ronald Claver, ed. UFMG, 2006.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

SÍNDROME DE SANSÃO *

A culpa que de mim se apossa por ficar à toa
Precisa ser exonerada.
Não fui eu quem lhe forneceu esse status doloso
Nem a nomeei detentora dessa prerrogativa.
Foi um conjunto de valores
onde só presta quem produz para o próprio sistema.
O resultado é distribuído a saber:
Pouco para quem produz muito
e muito para quem detém os meios de produzir.
Não valho nada se produzo com alegria e para minha própria alegria
Trabalhar por prazer é, para esse esquema,
o mesmo que ter prazer sem trabalhar
Mesmo se não pedir nada a ninguém,
mesmo se o que faço me mantém
sou um estorvo, malandro , vagabundo e preguiçoso.

* Síndrome de Sansão – Não  se trata do personagem bíblico, mas do cavalo, no romance “A Revolução dos Bichos”, publicado em 1944, pelo escritor, jornalista, ensaísta e militante político George Orwell.  O lema  de Sansão era “trabalharei mais ainda”. Depois do levante, foi mão de obra, sempre atuante nos canteiros do novo governo. Incansável, simbolizava o proletariado. Após sacrificar a própria saúde pelo ideal do animalismo, foi sacrificado pelos porcos, donos do poder. Ou os donos do poder, os porcos. Tanto faz.
Orwell nasceu  Eric Arthur Blair. E morreu assim também, com apenas 46 anos de idade. Mas a vida curta não impediu que, com o famoso pseudônimo, publicasse, entre outras coisas,  duas obras raras: 1984, que dispensa apresentações, e Animal Farm.
A fonte de onde tirei esta explicação veio de: Um elefante Caiu do Teto


Confúcio: "Escolhe um trabalho de que gostes, e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida."

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

ANAGRAMAS

Se uma vírgula faz muita diferença no significado de um texto, já pensou uma letra trocada de lugar? Uma perda pode virar pedra. Veja bem:

Imagine o extremo de trocar dois pontos cardeais. Basta uma troca das primeiras letras de leste e oeste e olhe aonde mandamos a pessoa? Se o erro for trocar o oriente pelo ocidente, será um acidente de percurso. O contrário vai deixar a pessoa precisando de quem a oriente.

Uma fragrância flagrante é surpresa cheirosa. Já um flagrante fragrante pode ter um terrível mau cheiro moral, dependendo do produto que estava sendo surrupiado ou contrabandeado.

Se você cair e fraturar mas escrever  ou disser que flatulou, vai ser difícil arranjar auxílio. Ficará com a dor (sem odor), porém com a pecha de porco e mal educado.

Uma carta magna cuja função é botar ordem nas coisas todas pode virar uma carta manga (ou na manga). Aí pode ser um simples blefe de jogador, uma estratégia de um competente profissional ou pode virar ofensa nacional se, por exemplo, forem os congressistas aumentando os próprios salários para quase o dobro e estão de saída, quase no último dia de seus mandatos. Os outros que estão chegando recém eleitos, em tese, não tem culpa (mas aceitam de bom grado). Quando a vida é limitante, só virando militante a gente concerta conserta.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O EGITO ESTÁ UM AGITO SÓ.

Os faraós costumavam morrer muito novos (suspeita-se que muito mais por problemas congênitos do que por esforços malsucedidos de guerras). Acho que o único que durou mais de  trinta anos no poder foi Ramses II. O tal do Mubarak já está lá há trinta anos. Ele já está bem próximo de se transformar numa múmia! Será que vai querer também construir uma pirâmide para si?

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

BUSCAS

Somos mesmo produto do meio como se afirma tão facilmente no senso comum, pouco afeito a questionamentos interiores e exteriores? Na verdade, o “sim, senhor”, o “a vida é assim mesmo”, o “sempre foi assim” são expressões corriqueiras que podem nos dar uma pista na direção a favor do resultado da equação:

meio + influências = produto.

Quero concentrar-me aqui no aspecto sociológico da reflexão, que inclui o lado psicológico também, da sociabilidade que estabelecemos a partir do momento que desgarramos para a estrada, a ter a nossa existência garantida por nossos próprios recursos materiais. Não quero falar se me tornei um mecânico, depois um historiador, um cozinheiro e escritor por influência do meio em que vivi anteriormente. O que me fascina observar é o que sou no dia a dia, meus medos, minhas apreensões, minha audácia, minha bondade, meu índice de maldade, minha indiferença, a minha solidariedade, minha capacidade de doar-me, minhas angústias, meus remorsos, minhas dores, minhas alegrias, minhas tantas idiossincrasias, esta palavra que finalmente é a síntese que mais me aproxima de um auto retrato.

Se ajo assim ou assado diante de uma circunstância é por causa do efeito que o uso de meu livre arbítrio gerou para julgar a minha capacidade de resolver as coisas que se apresentam em minha vida. Não, senhoras e senhores, não é a perfeição. Aqui entram as intempestividades, os arroubos, as ações que podem, num primeiro momento, ser consideradas desequilibradas. Mas o meu jeito de ser e levar a vida vai corrigir ou não mais à frente o que fiz. Ou na hora mesmo em que as coisas aconteceram, posto que estamos falando de relações humanas e então haverá sempre uma reação do outro lado.

As tais qualidades de caráter mais significativas tem sim, tudo a ver com um acumulado de essências que transitaram em nós, por nós e para nós em algum momento do passado. Desvios? Há. Tanto os provenientes de nossas escolhas, quanto da falta de capacidade de discernimentos. Há também um mundo de oportunidades não disponíveis e há um mundo de oportunidades desprezadas. Isso faz muitíssima diferença quando se chega a uma certa idade ou a um grau de amadurecimento e a gente para, a fim de fazer umas confabulâncias interiores.

Fico pensando no tanto que “puxei” pelo lado de minha mãe e de meu pai, do tanto que alguns tios me ensinaram e outros que me deram mal exemplo pra caramba! O tanto que as professoras de minha infância foram importantes na minha formação. Meu amigos todos os que passaram por mim e os que permaneceram, bem como os que hoje me chegam. Meus relacionamentos afetivos, o tanto que aprendi com a paternidade e se tenho ensinado. Isso com olhos de agora, de lá da galha alta da árvore, esse fruto “de vez” (aquele que está com potencial para amadurecer) que em algum momento vai ter cumprido o seu ciclo.

O tempo com sua inclemência avassaladora é nosso aliado ou algoz de acordo com o alcance que a nossa vista vai atingindo com esta tal maturidade de que falo e busco tanto. Quero não ter que me preocupar com o processo de envelhecimento de minhas células. Não se o processo me garantir vitalidade física e mental. A física, em forma de boa saúde. E a mental , se se mantiver nesse fino equilíbrio entre a sanidade e a loucura transformadora, já estará bom demais.

Reinventarmos o meio é a maior prova de que amadurecemos. Bem ou mal vamos modificando o produto. Se amadurecemos bem, aprimoramos. Se amadurecemos mal ou não amadurecemos, vamos vivendo feito isso que somos considerados em última instância: mercadoria descartável, peça de reposição neste gigantesco mecanismo humano de quase sete bilhões de  componentes.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

AEDO CIBERNÉTICO * - DUELO MUSICAL

Há tempos (bons tempos), quando as brigas ainda eram líricas, contavam que Paulinho da Viola havia criticado o Benito de Paula por estar matando o “samba” (ele, o Benito, só compunha ao piano). Então o Benito fez essa música em resposta à afronta.

OSSO DURO DE ROER
(BENITO DE PAULA)

Estão querendo tirar meu nome do samba
Tirar meu tempo de bamba
Dizendo até que eu já me despedi
Mas ainda não chegou minha vez de ir embora
Deixa essa gente falar
É inveja que eles sentem
Estão querendo acabar comigo de vez
Eu não ligo, eu não sou freguês
Vou ficar com meu samba osso duro de roer
É que ainda não chegou minha vez de ir embora
Deixa essa gente falar
É inveja que eles sentem
Canto mais um samba
Que é pra todo mundo ver
A minha bandeira do samba
Deus ajuda a defender




Bem, aí, como bom desafiante, o Paulinho deu a resposta e cravou no peito do Benito um
ARGUMENTO

Tá legal
Tá legal, eu aceito o argumento
Mas não me altere o samba tanto assim
Olha que a rapaziada está sentindo a falta
De um cavaco, de um pandeiro ou de um tamborim

Sem preconceito ou mania de passado
Sem querer ficar do lado de quem não quer navegar

Faça como um velho marinheiro
Que durante o nevoeiro
Leva o barco devagar




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* Na antiguidade, como a escrita era pouco desenvolvida, o AEDO cantava as histórias que iam passando de geração para geração, através da música. Depois, veio o seu assemelhado na idade média que era o trovador. Hoje, juntado tudo isso com a tecnologia, criei o AEDO CIBERNÉTICO.
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