TODAS AS CINZAS >> Soraya Jordão
Nada escapa da erosão do tempo. Mesmo aquilo que, outrora, fez-se grandioso, inesquecível, acaba por encontrar seu destino de cinzas. É triste pensar que o início de todas as coisas tem por função abrir as portas da sua finitude. Mas não é isso que nos ensina a paixão, com seus braços musculosos a nos pegar pela cintura e, depois, sem dó, nos soltar no ar? Ainda assim, não se pode negar: quem a desconhece teve o infortúnio de perder um raro e saboroso encontro. Embora, também, seja honesto afirmar que muitos preferem ignorar sua grandeza com o intuito de evitar contratempos futuros, feito quem não prova a sobremesa para não engordar. De minha parte, abro mão da estabilidade da eternidade e caço coragem para me lançar no sedutor descompromisso do instante. Assim é a vida e o Carnaval: em suas cinzas paira o indestrutível do que foi degustado com as vísceras. Em seu desfecho, o eterno recomeço. Ah, que graça é viver de inícios que terminam para florescer em outros cantos...