Medusão de Microbiologia
Medusão de Microbiologia
Medusão de Microbiologia
INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA
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HISTÓRICO DA MICROBIOLOGIA
NOMENCLATURA BINOMINAL:
Fungos e bactérias seguem como dos seres vivos: Gênero + espécie ou Gênero
+ espécie
Ex.: Escherichia coli ou Escherichia coli
MORFOLOGIA BACTERIANA
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realização dos processos de produ ção energética. É formada por uma bicamada
lipídica com proteínas transmembrana e poros. Os fosfolipídeos das
membranas são formados por cabeças hidrofílicas com caudas hidrofóbicas. As
funções da membrana são:
• Transporte de solutos
• Produção de energia
• Biossíntese de macromeléculas: lipídios de membrana,
peptidoglicanos, polissacarídeos extracelulares (em algumas) e
duplicação de DNA.
3. Ribossomos
4. Citoplasma
É formado por água, macronutrientes, compostos de baixo peso
molecular e íons, sendo o sítio em que ocorrem as reações químicas
Estruturas que nem sempre estão presentes em bactérias:
1. Parede celular:
A maioria das bactérias possui, mas algumas n ão a apresentam. Suas
funções são:
• Manutenção da forma celular
• Suportar a elevada pressão osmótica – proporciona proteção contra
lise osmótica
• Auxiliar na divisão celular
2. Fímbrias e Pili:
o Fímbrias: São estruturas numerosas e mais curtas do que os
flagelos. Possuem função de adesão, podendo ser utilizadas para
aderir a bactéria a receptores da célula hospedeira, por exemplo.
Estão presentes apenas nas bactérias Gram negativas.
3. Flagelos:
Se as bactérias apresentam flagelos, são bactérias móveis. Devido a isso,
estas bactérias formam colônias não tão bem definidas quanto as formadas
pelas não móveis. A locomoção é realizada por meio de movimento rotatório.
Os flagelos são formados por proteínas chamadas de flagelinas, as quais
formam longos filamentos que partem do corpo da bactéria e se estendem
externamente ao meio. São classificados em:
o Monotríquio: flagelo único
o Anfitríquio: nas duas extremidades
o Peritríquio: ao redor de toda célula
o Lofotríquio: tufos (vários saindo em apenas uma extremidade)
4. Endosporos:
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5. Plasmídeo:
Porção de DNA acessório que pode ser transmitido de uma bactéria para
outra. Carregam genes específicos.
6. Grânulos de reserva/Inclusão:
Consistem em grânulos de substâncias armazenadas, sendo estas
principalmente reservas energéticas. Exemplos: grânulos de glicogênio, amido,
lipídeos, polifosfato, óxido de ferro (magn etossomos).
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7. Glicocálice:
É um revestimento feito de açúcares (polissacarídeos) que envolve a parede
celular. Pode ser classificado em:
• Cápsula: quando o glicocálice está bem organizado e firmemente aderido
à parede celular. Normalmente, segue a forma da bactéria. É um fator de
virulência, pois pode impedir a fagocitose.
• Camada viscosa: está pouco organizado e fracamente aderido à parede
celular. Pode ser utilizado na indústria alimentícia como espessante
(goma xantana).
o Pode auxiliar na adesão (ex.: placa bacteriana da cárie) e também
funcionar como reserva energética (usa o açúcar em seu
metabolismo).
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FISIOLOGIA BACTERIANA
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B. Ambientais:
1. Temperatura:
É o fator que mais exerce influência no crescimento bacteriano. Em taxas
mais baixas de temperatura, há uma menor taxa de crescimento bacteriano. Isto
ocorre pois a membrana lipídica fica mais sólida, e, como ela possui a função de
produção de energia nas bactérias, há uma menor taxa de crescimento e menor
transporte de substâncias. Devido a esta menor proliferação, a baixa
temperatura é uma boa estratégia de controle microbiano.
• Psicrófilos: 10-15ºC
• Psicotróficos: 25ºC
• Mesófilos: normalmente as patogênicas estão nesta faixa – 36-37ºC.
Deterioradores de alimentos também estão neste grupo.
• Termófilos: 60-70ºC
• Hipertermófilos: 100ºC. Próximos a vulcões e no fundo do oceano (?)
2. pH
3. Concentração salina
Os microrganismos são divididos em:
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4. Pressão osmótica
5. Atmosfera
É o segundo fator mais importante para o crescimento. Refere-se ao acesso
que o organismo possui ao oxigênio.
FERMENTAÇÃO
Neste processo de obtenção energética, há a degradação parcial do
substrato. Normalmente são degradados carboidratos, mas também podem ser
degradadas proteínas (este último metabolismo é realizado pelas bactérias do
gênero Clostridium). Uma infecção por microrganismos anaeróbicos que fazem
fermentação de proteína apresenta odor de carne podre.
Na fermentação, não há aceptor externo de elétrons. O piruvato é o
aceptor final de elétrons: ele é reduzido (recebe os elétrons), formando os
subprodutos da fermentação.
A síntese do ATP é feita pela fosforilação a nível de substrato (não há
cadeia de transporte de elétrons). Consequentemente, estas bactérias possuem
menor rendimento energético (2 ATP/Mol de glicose fermentada) e seu
crescimento é mais lento. A fermentação pode ocorrer na presença ou na
ausência de O2 (não interfere no processo).
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RESPIRAÇÃO AERÓBIA
A primeira etapa da respiração aeróbia é idêntica à glicólise - até o
momento em que é formado o piruvato. Todavia, na respiração aeróbia ele é
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RESPIRAÇÃO ANAEROBIA
Como o O2 não está presente em todos os ambientes, há processos de
respiração nos quais o O2 não é o aceptor final de elétrons, de modo que são
utilizados os aceptores alternativos de elétrons. Há enzimas especificas que
definem qual será o aceptor final utilizado (NO3-, Fe3+, SO4-2, CO3-2 e CO2).
A primeira etapa da respiração anaeróbia é a mesma da respiração
aeróbica (há a glicólise e o CK com fosforilação a nível de substrato). Na
segunda etapa, os elétrons também vão para a cadeia transportadora, é
gerada a força próton-motora e há a síntese de ATP – o que difere é o aceptor
final de elétrons (que não é o oxigênio).
A menor quantidade de ATP gerada ocorre devido ao fato de o aceptor
final de elétrons não ser o O2 (a quantidade é menor que a da aeróbica porque
o O2 é mais eletronegativo). Devido a isso, os micro-organismos que realizam
respiração anaeróbia se reproduzem mais lentamente que os que realizam
respiração aeróbia, mas mais rapidamente do que os que realizam fermentação.
CRESCIMENTO BACTERIANO
Fissão binária
Neste modo de divisão celular, a célula se divide, originando duas novas
células idênticas (nas quais, por vezes, podem ocorrer mutações). É necessário
que sejam duplicadas todas as estruturas internas e externas. Suas etapas são:
1 – A bactéria duplica o DNA
2 – Há a formação de um septo na membrana plasmática
3 – A bactéria se divide em 2.
Esta divisão ocorre de forma exponencial, de modo que o número inicial
afeta o número final (1,2,4,8,16...). O tempo necessário para que a bactéria se
divida em 2 (duplique a população) é chamado de tempo de geração. Este
tempo é bastante variável de acordo com o microrganismo, mas quanto melhor
estiverem as condições, mais rápida será a multiplicação.
Crescer = aumentar o número de células (se aumentou a população
inicial). É percebido que uma bactéria se duplicou por meio da turvação do meio
de cultura líquido ou por meio da formação de colônias em meio sólido (possuem
cores/formatos/tamanhos diferentes).
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UFC por ml: unidade formadora de colônia por ml (como se conta quantas
bactérias há no meio de cultura sólido). Podem ser contadas também por
densidade optica (se o meio for líquido).
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GENÉTICA BACTERIANA
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PLASMÍDEOS
Além do cromossomo, a bactéria também pode apresentar elementos
genéticos extracromossomais: os plasmídeos. O genoma da célula bacteriana
compreende o cromossomo e os elementos extracromossomais.
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TRANSPOSONS:
Também são elementos genéticos extracromossomais. São
chamados “elementos saltadores”. Estão localizados dentro de uma molécula
de DNA (seja do cromossomo, do plasmídeo ou do genoma viral), podendo saltar
de uma posição e se integrar a outra molécula de DNA. Isto ocorre tanto em
procariotos quanto em eucariotos.
Sua relevância é que a movimentação deste segmento de DNA de um
local para outro gera variabilidade genética, pois altera a sequência do DNA.
Pode favorecer o organismo ou não (pode ser que interrompa uma sequência
importante ou gere uma proteína nova que capacite o microrganismo a viver
melhor).
TRANSCRIÇÃO:
Nos eucariotos, há 3 regiões do DNA, chamadas de promotora, operadora,
região codificadora (onde há introns e exons). Os introns são removidos para
que exista a molécula de RNA funcionando.
• Promotora: sequência de nucleotídeos que é reconhecida pela RNA
polimerase (onde ela se liga para iniciar a síntese do RNA).
• Operadora: onde se ligam indutores para facilitar ou reprimir a transcrição
genica
Nos procariotos: não há introns, apenas exons. Com isso, não é necessário
realizar o processamento do RNA (sendo esta uma forma de fazer mais
rapidamente o processo da transcrição e gastando menos energia). Há nos
procariotos uma região chamada de terminador, sendo o sítio que a RNA
polimerase reconhece para se terminar a transcrição.
Pode haver também nos procariotos os operons: 2 ou mais genes sob
controle do mesmo promotor e do mesmo operador. É o caso das enzimas da
via glicolitica. Em um único RNA, codifica-se 3 produtos diferentes: com isso, há
um menor gasto de energia. Portanto, nos procariotos há genes únicos e genes
sob controle do mesmo promotor e operador.
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TRADUÇÃO:
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• Os aminoácidos essenciais
• Os códons de iniciação (onde se inicia o processo de tradução)
o O códon de iniciação na bactéria é o AUG, que confere uma N-
formilmetionina.
• Os códons de parada.
o Os códons de parada são UAA UAG e UGA - quando o ribossomo
os encontra no RNA mensageiro, se desliga e tem fim o processo
de tradução
Ex.: operon Lac: da lactose. Há 3 genes (LacZ, LacY e LacA), que codificam 3
enzimas necessárias para metabolizar a lactose (que normalmente é utilizada
como fonte energética quando não há glicose no ambiente). O operon Lac só vai
ser expresso na presença da lactose.
TRANSFORMAÇÃO:
Descoberto por Frederick Griffith, que estudava Streptococcus
pneumoniae. Esta bactéria possui cápsula, que possibilita o escape à
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CONJUGAÇÃO
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OBS.: Quando estabelecida esta união entre as membranas das células, pode
acontecer de outros plasmídeos conjugativos, além do F, serem trocados.
TRANSDUÇÃO
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Transdução generalizada
A transdução generalizada associa-se com o ciclo lítico do bacteriófago.
O bacteriófago injeta o seu material genético na célula bacteriana (chamada de
“célula doadora”). O DNA viral fragmenta o DNA bacteriano, fazendo com que
fiquem presentes no citoplasma tanto segmentos de material genético do vírus
quanto da bactéria. Após isso, são formadas partículas contendo somente
material genético do bacteriófago (chamadas de partículas infectivas), e
partículas contendo o material genético da própria bactéria (chamadas de
partículas transdutoras). A formação das partículas transdutoras é um erro que
ocorre no processo de formação de novas partículas virais (visto que era apenas
para o DNA viral ser empacotado para ser transportado para novas células, e
não o bacteriano).
A partícula transdutora, ao infectar uma segunda célula, injeta na célula
não o material genético do bacteriófago, mas sim o material genético da
bactéria previamente infectada. Este material genético inserido pode passar a
fazer parte do material genético da segunda bactéria (entrando no ciclo
lisogênico).
Este processo é chamado de transdução generalizada pois qualquer
fragmento de DNA da célula inicialmente infectada pode ser transferido para
uma segunda célula (por meio da atuação do bacteriófago).
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Transdução especializada
Na transdução especializada, somente os genes que estavam
próximos ao local onde o material genético do fago estava inserido (quando
ele estava em ciclo lisogênico) podem ser transferidos para uma segunda
célula bacteriana.
Inicialmente, o bacteriófago insere o seu material genético no
cromossomo bacteriano, entrando em ciclo lisogênico. Devido a alguma
situação (ex.: alterações ambientais), o material genético do bacteriófago
pode excisar do cromossomo bacteriano: ocorre um processo de clivagem,
de modo que este material genético saia do cromossomo bacteriano em que
estava inserido. Após isso, novas partículas virais são montadas, e são
liberadas quando a célula sofre lise (já que o bacteriófago entrou em ciclo
lítico). Este processo é o que normalmente ocorre.
Todavia, pode ocorrer um evento raro, no qual o bacteriófago, ao excisar
do cromossomo, carrega consigo partes do cromossomo da célula
bacteriana (em rosa no desenho). Somente os genes que estão próximos ao
material genético do bacteriófago podem ir junto durante o processo de
excisão do bacteriófago. Quando o material genético do bacteriófago é
duplicado, os genes da bactéria que vieram junto na excisão acabam sendo
replicados também. Quando as partículas virais são montadas, há no seu
interior material genético tanto da bactéria quanto do vírus. Com isso,
quando o vírus infectar uma nova célula, se adotar o ciclo lisogênico, o material
genético da primeira bactéria passará a integrar o cromossomo da segunda.
Este processo é chamado de transdução especializada pois apenas os
genes que estão adjacentes ao material genético excisado são replicados e
dispersados.
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MICROBIOTA HUMANA
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MICROBIOTA E IDADE
Dentro do útero materno, o feto ainda não apresenta microbiota. Ela
começa a ser estabelecida durante o parto. A colonização inicial do recém-
nascido é proveniente principalmente da microbiota materna (que pode possuir
origem vaginal, fecal ou de superfícies corporais da mãe) e da equipe cirúrgica
presente no parto. A via de parto tem influência na colonização in icial da
microbiota (principalmente intestinal) da criança.
Em seguida, a via de alimentação do bebê também influencia no
desenvolvimento da microbiota. São observadas diferenças na microbiota
intestinal da criança se ela é alimentada somente com leite materno ou com
fórmulas industrializadas.
À medida que a criança vai crescendo e possuindo contato com outras
fontes de alimento e com micro-organismos presentes em superfícies, a sua
microbiota vai aumentando. Quando a criança atinge a idade de 2-3 anos, a
comunidade microbiana atinge um equilíbrio (steady state). Por conta de
inúmeros fatores, existem flutuações nessa microbiota, mas ela tende sempre a
retornar ao seu equilíbrio
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COMPOSIÇÃO DA MICROBIOTA
Além da via de parto, alimentação nas primeiras semanas de vida e idade
(principais fatores que influenciam na microbiota), há também outros fatores que
influenciam na composição da microbiota, como dieta, exercício, região
geográfica, aparecimento de doenças e tratamento com drogas antimicrobianas
CLASSIFICAÇÃO DA MICROBIOTA
A microbiota humana é dividida em dois grupos: microbiota residente e
microbiota transitória.
Microbiota residente/permanente
É composta por micro-organismos encontrados com regularidade em
determinados sítios anatômicos (alguns micro-organismos são encontrados
com mais frequência na pele, outros na cavidade oral, etc.).
Em condições de saúde, estes micro-organismos são compatíveis com o
hospedeiro, não comprometendo a sua saúde.
São capazes de efetivamente colonizar os sítios anatômicos (a
transitória não consegue). Se fixam à pele ou às membranas mucosas,
colonizando estes nichos. Cada um dos sítios anatômicos possui condições
ambientais diversas (diferente temperatura, pH, nível de oxigênio, água,
nutrientes), que selecionam os microrganismos que possuem maior capacidade
de sobreviver nessas condições.
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Microbiota transitória/transiente
É formada por micro-organismos patogênicos ou não patogênicos
provenientes do meio externo. Estes micro-organismos não conseguem
efetivamente colonizar o ambiente. Permanecem por horas, dias ou semanas
no sítio anatômico. Essa menor permanência ocorre devido à competição com
os membros da microbiota residente e devido à sua eliminação por células do
sistema imune.
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MICROBIOTA – PELE
Possui grande contato com o ambiente, e devido a isso apresenta
microbiota transitória variada. Pessoas que vivem juntas ou no mesmo grupo de
amigos/familiares tendem a ter essa microbiota mais semelhante.
Há alguns gêneros e espécies predominantes, como Staphylococcus
epidermidis, Stapjylococcus aureus, Propiobacterium e Corynebacterium.
Os menos frequentes são Streptococcus, Peptostreptococcus e Candida.
Quanto mais úmido o local da nossa pele, maior o número de
microrganismos presentes. São encontradas 10⁶ bacterias/cm² nas axilas e entre
os dedos do pé, e cerca de 10² a 10⁴ bactérias/cm² nas áreas mais secas da
pele.
As condições especificas da pele como pH baixo, ácidos graxos nas
secreções sebáceas e lisozima acabam elimin ando parte da microbiota
transitória. A sudorese e o banho não eliminam ou modificam significativamente
a microbiota residente, mas modificam a transitória.
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MICROBIOTA - OLHOS
É bastante escassa, sendo controlada principalmente pelo fluxo de
lágrimas (pela lisozima contida nas lágrimas). Os micro-organismos
predominantes são difteróides, Staphylococcus epidermides e estreptococos
não hemolíticos.
MICROBIOTA - OUVIDO
No ouvido externo e canal auditivo, a microbiota predominante é
semelhante à da pele. O ouvido médio e interno são sítios normalmente estéreis.
MICROBIOTA ORAL
Há diferentes sítios dentro dessa microbiota, havendo muitos gêneros e
espécies. A microbiota oral possui menor complexidade apenas se comparada
à microbiota intestinal (é a 2ª mais complexa do nosso organismo).
Dentro da cavidade oral, há variações de tensão de oxigênio, de fontes
nutricionais, diferentes pHs e diferentes composições teciduais – variáveis que
acabam por selecionar os micro-organismos. Exemplo disso é que um micro-
organismo que habita a região periodontal é diferente de um que habita a
superfície da língua.
Muitas vezes, esses micro-organismos se acumulam de forma
exacerbada na superfície dos dentes, formando o biofilme dental (placa
bacteriana). O biofilme é formado por uma complexidade de micro-organismos
(e não apenas por uma espécie/gênero de bactéria). Algumas bactérias
começam a formação do biofilme e outros microrganismos vão aderindo a ele.
No início da sua formação, ele é reversível, mas depois que vai ficando mais
complexo (pois vai sendo revestido por uma camada de exopolissacarídeos -
uma matriz extracelular produzida pelos próprios micro-organismos que estão
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formando o biofilme), a remoção vai ficando mais difícil, devendo ser realizada
por um dentista.
MICROBIOTA – TGI
É a que possui maior complexidade. Isso decorre devido ao fato de
existirem diferentes condições ao longo do TGI, as quais realizam seleção sobre
o crescimento microbiano, limitando ou favorecendo este crescimento.
FUNÇÕES DA MICROBIOTA
As principais funções da microbiota são:
1. Funcionar como barreira contra a colonização por micro-organismos
patogênicos provenientes do meio externo: esta é a principal função
da microbiota, independentemente de onde ela esteja localizada. A
microbiota residente é muito mais adaptada às condições do ambiente,
competindo com os micro-organismos exógenos por sítios de ligação e
por nutrientes essenciais. Além disso, a microbiota residente também
produz substâncias antimicrobianas (peróxidos, peptídeos
antimicrobianos ou antibióticos). Com isso, a microbiota forma uma
espécie de barreira física que impede os outros microrganismos de se
ligarem às células do hospedeiro.
a. As células bacterianas possuem alguns ligantes (adesinas) que
reconhecem receptores presentes na membrana da célula do
hospedeiro. São estas ligações entre a bactéria e o tecido que são
mais fortes na microbiota residente, fazendo com que os
organismos mais adaptados permaneçam no ambiente
DESEQUILIBRIO DA MICROBIOTA
O desequilíbrio da microbiota consiste em uma disfunção causada pelo
desequilíbrio quantitativo e qualitativo dos diferentes micro-organismos que
compõem a microbiota. Essa disfunção é chamada de disbiose. A disbiose
proporciona condições para uma maior introdução de patógenos vindos do meio
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Prevenção da disbiose
Dentre os mecanismos importantes na prevenção da disbiose está a dieta
do indivíduo. Quanto mais saudável for a dieta do indivíduo, menor será o
desequilíbrio na microbiota.
Probióticos: micro-organismos vivos que, quando administrados em
quantidades e frequência adequadas, podem exercer efeitos benéficos sobre o
hospedeiro. Ex.: Lactobacillus e Bifidobacterium
Os benefícios dos probióticos são:
• Reestabelecimento da microbiota após antibioticoterapia. Eles causam
uma melhora da barreira epitelial, visto que se aderem à mucosa
intestinal e impedem a adesão dos patógenos, além de competir também
com os patógenos por nutrientes. Além disso, os probióticos produzem
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RELAÇÃO BACTÉRIA-HOSPEDEIRO
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Postulados de Koch
Koch estabeleceu 4 postulados para se associar um micro-organismo
com uma doença. Eles são utilizados até hoje. São eles:
1. Um micro-organismo específico deve sempre ser encontrado em
associação com todos os casos da doença
2. O micro-organismo pode ser isolado do hospedeiro infectado e cultivado
em cultura pura
3. O micro-organismo produzirá a doença quando inoculado em um animal
sadio
4. É possível re-isolar o micro-organismo a partir do animal infectado
experimentalmente, e este micro-organismo será idêntico ao original.
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Bactérias patogênicas:
Vários sítios anatômicos do indivíduo são suscetíveis a infecções e a
doenças.
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Patogenicidade x virulência
• Anticorpos
• Linfócitos especializados
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Fagocitose
Esse processo faz parte da imunidade inata. Alguns micro-organismos
são capazes de evadir ao processo de fagocitose.
Na fagocitose, o fagócito emite seus pseudopos para poder englobar um
micro-organismo. Quando capturado, o micro-organismo fica dentro de uma
vesícula, chamada de fagossomo. O fagossomo se funde com o lisossomo,
formando o fagolisossomo. No interior do fagolisossomo, o micro-organismo
entra em contato com as enzimas digestivas presentes no interior do lisossomo
e com substâncias que auxiliam na morte deste micro-organismo. Ao final do
processo, há a formação de uma vesícula residual, que é eliminada da célula
fagocítica.
Alguns micro-organismos conseguem impedir a fusão do fagossomo ao
lisossomo ou mesmo escapar da vesícula fagocítica (ficando livre no citoplasma
do fagócito, podendo se multiplicar e progressivamente destruí-lo).
Fatores de virulência
Os fatores de virulência são qualquer estrutura, produto ou estratégia que
contribuem para o aumento da habilidade do micro-organismo em causar
doença.
Muitos dos fatores de virulência são estruturais (fazem parte da estrutura
da bactéria) e muitos são produzidos (como enzimas, toxinas, proteínas, genes
que conferem resistência a antibióticos e a metais pesados, etc.). Alguns dos
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Genes de bacteriófagos
Alguns fatores de virulência das bactérias são sintetizados por material
genético proveniente de bacteriófagos, o qual está em ciclo lisogênico (genes
codificados em fago lisogênico). A neurotoxina botulínica, a toxina diftérica e
a toxina colérica são provenientes de material genético de bacteriófagos que
infectam esta bactéria e entram em ciclo lisogênico.
Plasmídeo R:
Um exemplo de plasmídeo relacionado à resistência é o plasmídeo R.
Está relacionado à resistência a antibióticos e a metais pesados. É um
plasmídeo conjugativo (pode ser transferido a outras bactérias pelo mecanismo
de conjugação). Foi descoberto em Shigella, em 1959.
É possível se notar algumas regiões no mapa do plasmídeo: a origem de
replicação (a partir deste ponto, a fita pode ser quebrada e se inicia a
transferência, por conjugação, do plasmídeo para outra célula bacteriana),
material para a síntese do pilus (que também é necessário para o processo de
conjugação) e os genes relacionados a resistência (a mercúrio, sufonamida,
estreptomicina, cloranfenicol e tetraciclina – o plasmídeo R confere resistência a
4 diferentes drogas antimicrobianas e a um metal pesado).
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Ilhas de patogenicidade
Além dos fatores de virulência presentes em bacteriófagos ou plasmídeos,
existem fatores de virulência presentes nas ilhas de patogenicidade. As ilhas de
patogenicidade são regiões dentro do próprio cromossomo bacteriano que
contém grupos de genes de virulência. Podem ter sido organizadas por meio
de transferência de genes a partir de diferentes espécies.
Muitas vezes, esses genes podem ser expressos de forma coordenada
quando presentes nas ilhas de patogenicidade. Estas regiões já foram
identificadas em diferentes micro-organismos (tanto em bactérias Gram positivas
quanto em Gram negativas).
Uma das ilhas de patogenicidade mais conhecidas é a SCC mec, que está
presente em Staphylococcus aureus e confere resistência aos antibióticos β-
lactâmicos (penicilina e seus derivados).
Ao contrário de o que ocorre com os plasmídeos, esses genes estão
presentes no próprio cromossomo da célula bacteriana.
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3. Adesão
A bactéria se liga à sua célula alvo. Essa ligação é mediada por ligantes ou
adesinas presentes na superfície da célula bacteriana. Estes ligantes podem
estar presentes na cápsula, podem ser proteínas de adesão ou fímbrias. Os
ligantes interagem com os receptores presentes na superfície da célula do
hospedeiro, para que assim fique aderido firmemente (é uma ligação bastante
forte).
Em alguns casos, essa ligação é mais fraca (de modo que o micro-organismo
seja removido da superfície da célula por secreções do hospedeiro ou por células
imunológicas).
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4. Colonização e crescimento
Alguns micro-organismos apresentam uma grande especificidade por
tecidos (o que está principalmente relacionado à adesão – ao reconhecimento
dos receptores das células alvo).
A colonização depende muito da disponibilidade de nutrientes no
tecido infectado. As enzimas microbianas agem nessa etapa de colonização e
crescimento, visto que muitas vezes, as células bacterianas precisam sintetizar
enzimas que degradem os possíveis nutrientes.
A tensão de oxigênio e a disponibilidade de ferro livre podem
funcionar como fatores limitantes para o crescimento microbiano. Se o micro-
organismo for estritamente aeróbio, ele não conseguirá se multiplicar bem em
um local que não possua as concentrações adequadas de oxigênio. Se o micro-
organismo for anaeróbio, ele não conseguirá crescer muito bem em locais com
altas concentrações de oxigênio.
Algumas bactérias sintetizam partículas chamadas de sideróforos, as
quais podem auxiliar na captação de ferro (um dos nutrientes que mais limita o
crescimento microbiano quando está em falta). O sideróforo é um agente ligante
de ferro (é um quelante). Consegue captar o ferro (na forma de ferro férrico – Fe
+3) da célula do hospedeiro. Após captar o ferro, o sideróforo passa para a parte
interna da bactéria, libera o ferro e depois pode ser reutilizado. Devido a este
mecanismo descrito, é comum que pacientes com infecções bacterianas
apresentem anemia. Os sideróforos foram identificados principalmente em
bactérias Gram negativas.
flagelo para a bactéria, o qual pode propelir a bactéria para a célula adjacente,
de modo que ela vá invadindo as células ao seu redor e se disseminando. Ao
serem fagocitadas, essas bactérias conseguem escapar do fagossomo pois
possuem enzimas que são capazes de degradá-lo.
Alguns micro-organismos são capazes de atingir outros tecidos (sítios
distantes da infecção original) quando caem na corrente sanguínea. Isso pode
acontecer em bactérias causadoras de cáries ou em outros micro-organismos.
Os micro-organismos causadores de cáries normalmente apresentam tropismos
celulares para coração, articulações, cérebro e pulmão. Isso explica porque é
comum que pacientes com muitas cáries apresentem endocardites ou problemas
de articulações.
Toxicidade
Além da capacidade de invasão, os micro-organismos também podem
sintetizar toxinas. As toxinas são divididas em endotoxinas e exotoxinas.
Exotoxinas:
Os genes relativos à produção das exotoxinas podem estar presentes
tanto no cromossomo bacteriano, quanto possuir origem de bacteriófagos,
quanto estar presente em plasmídeos. Três das principais exotoxinas produzidas
por bactérias são:
• Toxina botulínica: é produzida pelo Clostridium botulinum. Está
relacionada à conversão lisogênica (esse gene estava anteriormente
presente em um bacteriófago)
• Toxina shiga: seu gene está presente no cromossomo da bactéria. Está
relacionada à disenteria e à morte celular da célula alvo.
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Endotoxinas
As endotoxinas fazem parte da membrana externa da parede celular das
bactérias Gram negativas. A membrana externa da bactéria Gram negativa é
formada pela bicamada lipídica e pelos lipopolissacarídeos (LPS). Os LPS são
formados por uma porção lipídica e por uma porção polissacarídea. A porção
lipídica do LPS é chamada de lipídeo A ou de endotoxina. Quando a bactéria
está íntegra, o lipídeo A ancora o LPS na membrana externa. Quando a bactéria
sofre lise, o lipídeo A é liberado para o meio externo, induzindo o aumento da
temperatura corporal do hospedeiro. Induz a produção de citocinas (IL-1 e TNF-
α) que agem no hipotálamo e causam a produção de prostaglandinas, que
aumentam a temperatura corporal do indivíduo.
VIAS DE TRANSMISSÃO
CONTROLE MICROBIANO
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HISTÓRICO
O controle de micro-organismos é realizado desde os primórdios da
humanidade, mesmo que fosse feito apenas de forma empírica. Exemplo disso
é a utilização do sal para a conservação de alimentos.
Para que qualquer procedimento médico seja realizado, é importante que
estes micro-organismos sejam removidos do ambiente em que o paciente está
envolvido. Além disso, também devem ser tomados os cuidados para não se
trazer novos micro-organismos para o local (por meio da higienização dos
aparelhos médicos e da equipe).
Sammelweis
Em 1847, Ignaz Philipp Semmelweis percebeu que havia uma diferença
na taxa de mortalidade das gestantes cujos partos eram realizados por médicos
em relação às gestantes cujos partos eram realizados por parteiras, em uma
mesma clínica. No setor em que os partos eram realizados por médicos, a
incidência de febre puerperal era 3 vezes maior do que no setor no qual os partos
eram realizados por parteiras.
Sammelweis suscitou a hipótese de que a equipe médica poderia carregar
em suas mãos “partículas cadavéricas” – que, atualmente, sabe-se que são
bactérias do gênero Streptococcus. Essa maior incidência de mortes ocorria
porque os médicos que atendiam as pacientes eram também os médicos que
avaliavam o corpo das pacientes no pós-morte. Como não era feita a correta
higienização das mãos, os médicos acabavam por transmitir as bactérias das
pacientes mortas para as pacientes vivas.
Devido a isso, Semmelweis propôs que todos os médicos e estudantes
de medicina deveriam higienizar corretamente as mãos antes de entrar nas
clínicas obstétricas. Na época, suas ideias foram muito combatidas: foi
perseguido pela comunidade médica e não pode mais atuar como médico.
Semmelweiss estava correto, mesmo que tivesse provado apenas de forma
empírica (já que ainda não havia a ideia de se relacionar um micro-organismo
com uma doença). A prática simples da higienização das mãos reduziu a
incidência de febre puerperal de 12% para 1,2%.
Louis Pasteur
Em 1861, Louis Pasteur realizou a demonstração da presença de micro-
organismos no ar e no ambiente por meio do experimento do pescoço de cisne.
83
Koch
Robert Koch foi decisivo ao estabelecer a teoria do germe da doença, visto
que estabeleceu uma metodologia para se comprovar que determinado
micro-organismo estava relacionado ao aparecimento de determinada
doença. Os postulados de Koch já foram explicados na aula anterior.
Lister
Em 1865, Joseph Lister propõe o uso do fenol para antissepsia da área
cirúrgica, da ferida do paciente e das roupas do paciente. Nessa época,
muitas infecções pós-operatórias levavam o paciente a óbito. A utilização do
fenol causou importante redução nos óbitos no pós-operatório. Atualmente, o
fenol não é mais utilizado, visto que é uma substância bastante irritante para a
pele e para membranas mucosas
CONCEITOS BÁSICOS:
• Esterilização: remoção ou destruição de todas as formas microbianas
(incluindo endósporos), por métodos físicos ou químicos.
o Ex.: Uso de vapor sob pressão (autoclave); óxido de etileno (gás
utilizado para se esterilizar muitos dispositivos médicos).
• Desinfecção: destruição somente de células vegetativas (patógenos ou
não) em matéria inanimada, por métodos físicos ou químicos. Não
inativa endósporos.
o Ex.: raios UV, água fervente ou vapor, desinfetantes, etc.
• Antissepsia: inibição ou eliminação de células vegetativas em tecidos
vivos (pele ou mucosa). Não inativa endósporos
o Ex.: agentes químicos (antissépticos)
• Degermação: remoção mecânica de micro-organismos de uma área
limitada da pele
o Ex.: aplicação de álcool na pele antes de uma injeção; aplicação
de álcool iodado antes de procedimento cirúrgico
AGENTES FÍSICOS
1. Filtração:
Outro tipo de filtro que também pode ser utilizado é o filtro HEPA, que é
muito utilizado em ares-condicionados e em capelas de fluxo laminar. Removem
praticamente todos os micro-organismos. Apresentam poros de 0,3 micrômetros
de diâmetro, que são suficientes para reter a maioria dos micro-organismos
indesejados.
Nas capelas de fluxo laminar, todo o ar é filtrado através do filtro HEPA (tanto
o que vai ficar no interior da capela quanto o que vai depois ser eliminado através
da saída de ar). O ar é forçado para que entre somente por uma pequena
abertura que fica próxima ao manipulador (seta vermelha). O ar percorre todo o
percurso (setas roxas) antes de entrar em contato com a parte interna da capela
de fluxo, onde estão sendo manipulados os insumos/micro-organismos. Há uma
tampa de vidro que isola o manipulador do que está sendo manipulado. Todo ar
é filtrado pelo filtro HEPA, e na saída de ar há a presença de outro filtro (para
garantir que o ar eliminado não transmita micro-organismos ao ambiente).
89
2. Altas temperaturas
A temperatura também é altamente utilizada como meio de controle
microbiano, seja por meio de altas temperaturas ou de baixas temperaturas.
O tratamento térmico varia de acordo com o micro-organismo (sendo
necessário se utilizar temperaturas mais elevadas quando se deseja destruir os
endósporos) e com o ambiente utilizado durante o tratamento.
É possível se utilizar calor seco ou calor úmido:
3. Baixas temperaturas
As baixas temperaturas provocam efeito microbiostático: não matam o
micro-organismo, só cessam a sua atividade metabólica. A partir do momento
em que o micro-organismo é retirado desta baixa temperatura, pode retomar a
sua atividade metabólica e a sua multiplicação celular. Podem ser utilizados os
seguintes processos:
4. Radiação
Há tanto a radiação ionizante quanto a radiação não ionizante. O uso de
um tipo ou de outro depende do objetivo e do material em que se deseja controlar
o crescimento microbiano.
• Radiações ionizantes (ex.: raio X e raio gama): o comprimento de
onda é menor, e com isso essa radiação possui maior poder de
penetração. Há a formação de radicais livres (radicais OH).
o É muito utilizada para equipamentos cirúrgicos, descartáveis,
plásticos, tecidos para enxerto e vacinas – compostos que não
podem ser submetidos a altas temperaturas.
92
AGENTES QUÍMICOS
São usados para controlar o crescimento de micro-organismos em
tecidos vivos e em objetos inanimados.
O agente químico ideal teria como características:
2. Álcool
O álcool desnatura proteínas e dissolve lipídeos, sendo devido a isso
muito utilizado como agente antisséptico. A sua ação mais efetiva depende da
retirada prévia da sujidade (matéria orgânica) das mãos. Não são tóxicos.
Possui amplo espectro de ação, sendo efetivo contra bactérias, alguns
fungos e vírus. Não é efetivo contra endósporos bacterianos e nem contra vírus
não envelopados.
O álcool 70% possui maior poder de penetração. As proteínas celulares
acabam sendo mais facilmente desnaturadas na presença de água. O álcool
100% apresenta um efeito muito mais de desidratação do que microbicida.
3. Biguanidas
A clorexidina é uma biguanida. As biguanidas atuam por meio da
alteração da permeabilidade da membrana citoplasmática. É muito utilizada para
antissepsia de pele e mucosas, sendo muito utilizada no ambiente hospitalar.
É efetiva contra bactérias e fungos, mas não é capaz de eliminar
endósporos e micobactérias. A clorexidina é um composto catiônico.
4. Halogênios
6. Quaternários de amônio
O principal exemplo são detergentes catiônicos, que são importantes
agentes de superfície (realizam desinfecção, como a que ocorre em ambiente
hospitalar).
Não deve ser utilizado como antisséptico devido à sua atividade irritante.
Agem inibindo enzimas, desnaturando proteínas e rompendo a membrana
plasmática.
7. Aldeídos
8. Peroxigênios
Oxidam compostos celulares. Apresentam amplo espectro de ação.
9. Esterilizantes gasosos
Antibióticos
Os antibióticos não são substâncias essenciais para o crescimento ou
reprodução do micro-organismo produtor. São produtos do metabolismo
secundário, sendo produzidos no início da fase estacionária do crescimento
bacteriano. São geralmente compostos complexos: passam por sínteses
enzimáticas, e não ribossomais (não são peptídeos).
Exemplos de micro-organismos produtores de antibióticos:
HISTÓRICO
97
Em 1940, a penicilina passou a ser utilizada em larga escala logo após ter
sido purificada e produzida industrialmente. O uso da penicilina revolucionou a
saúde pública e a medicina, e o seu uso contribuiu bastante para que os
soldados de guerra não morressem por diferentes tipos de infecções.
Com o início da era antimicrobiana, surge também um otimismo
exagerado e um consumo indiscriminado dos antibióticos (o que fez com que a
penicilina passasse a ser conhecida como “balas mágicas”), levando ao
surgimento dos primeiros casos de resistência a antimicrobianos.
Atualmente, muitas linhagens de S. aureus e outros micro-organismos são
resistentes à penicilina.
Após a descoberta da penicilina, vários novos antibióticos foram
descobertos. Com isso, houve também o desenvolvimento de novas formas de
resistência pelos micro-organismos.
AÇÃO MICROBIOSTATICA E AÇÃO MICROBICIDA
98
TOXICIDADE SELETIVA
Termo que foi criado por Paul Ehrlich em 1920. Refere-se à
especificidade de ação do agente antimicrobiano: a droga deve ser
prejudicial ao micro-organismo, mas sem causar danos às células do
hospedeiro.
Drogas que atuam sobre receptores, funções microbianas essenciais
ou inexistentes em eucariotos possuem maior toxicidade seletiva. Exemplo
disso é que agentes antimicrobianos que têm como alvo a parede celular
bacteriana possuem elevada toxicidade seletiva.
É importante que a droga tenha elevada toxicidade seletiva. Muitos dos
antifúngicos não são possuem alta toxicidade seletiva, visto que acabam
atuando em funções/receptores presentes no hospedeiro também.
Apresentar alta toxicidade seletiva não é sinônimo de que a droga não vá
alterar a microbiota do hospedeiro.
Não confundir o termo “toxicidade seletiva” com “toxicidade”: a “toxicidade
seletiva” é a especificidade do agente antimicrobiano de agir sobre determinado
micro-organismo/estrutura, enquanto o termo “toxicidade” refere-se à quantidade
de dano que este antimicrobiano causaria à célula do hospedeiro.
99
ESPECTRO DE AÇÃO
Este termo está relacionado à gama de micro-organismos que podem ser
afetados pelo agente microbiano. Os agentes microbianos podem ter estreito ou
amplo espectro de ação (exemplo de amplo espectro de ação: antimicrobianos
que atuam sobre bactérias Gram +, Gram -, aeróbicas, anaeróbicas, etc).
• Beta-lactâmicos
o Penicilinas
100
• Glicopeptideos
• Polipeptídeos
• Antimicobacterianos
o Como as micobactérias possuem parede celular distinta das
bactérias Gram positivas e Gram negativas, estes agentes
antimicrobianos possuem estrito espectro de ação e elevada
toxicidade seletiva.
Todos estes agentes que inibem a síntese da parede celular possuem alta
toxicidade seletiva, visto que a parede celular é uma estrutura que não está
presente nas células eucarióticas.
A parede celular bacteriana é formada por peptideoglicados. O
monômero que constitui os peptideoglicanos é formado por 2 açúcares (ácido N-
acetilmurâmico (NAM) e ácido N-acetilglicosamina (NAG)) unidos por ligação
glicosídica (β 1,4) e por uma cadeia peptídica ligada ao NAM. A repetição destas
estruturas forma as cadeias de peptideoglicanos.
B-lactâmicos
Estes agentes microbianos possuem em sua estrutura um anel beta-
lactâmico. São compostos bactericidas (matam a célula alvo) e apresentam
elevada toxicidade seletiva. O principal mecanismo de ação destes
antimicrobianos é a ligação às PBP (proteínas de ligação à penicilina), enzimas
que catalisam a reação de transpeptidação. Desta forma, os β-lactâmicos
inibem a reação de transpeptidação, bloqueando as ligações cruzadas e,
consequentemente, a síntese do peptideoglicano maduro. Este processo faz
com que a parede celular formada seja frouxa, possibilitando a perda de
conteúdo intracelular pelo micro-organismo e a sua morte celular.
Adicionalmente, os beta-lactâmicos também podem ativar enzimas
autolíticas, que também contribuem com a lise da célula-alvo.
Exemplos de representantes dos β-lactâmicos:
• Penicilinas
Dentre os representantes dos β-lactâmicos, estão as penicililinas. São os
β-lactâmicos mais amplamente utilizados, sendo a droga de escolha para muitas
infecções. Alguns indivíduos apresentam hipersensibilidade frente ao uso da
penicilina, de modo que ela não seja utilizada nestes casos.
Há tanto as penicilinas naturais quanto as semi-sintéticas. As semi-
sintéticas são divididas em:
o Resistentes à ação das β-lactamases (enzimas que degradam o
anel β-lactâmico, estando devido a isso envolvidas nos processos
de resistência bacteriana:). Oxacilina e Meticilina
o Sensíveis às β-lactamases: Ampicilina e Amoxicilina. Apesar de
serem sensíveis às β-lactamases, possuem amplo espectro de
ação
• Cefalosporinas
O mecanismo de ação destes fármacos é análogo ao da penicilina: agem
sobre as PBP e ativam enzimas autoliticas.
São drogas que possuem espectro de ação mais restrito, prin cipalmente
as cefalosporinas de 1ª geração. O fato de ser 1ª, 2ª, 3ª ou 4ª geração refere-se
à união de alguns radicais à estrutura primária das cefalosporinas – o que altera
104
• Monobactâmicos e Carbapenêmicos:
São os antimicrobianos de escolha quando outras classes já tenham
falhado no tratamento de determinada doença. São normalmente de uso restrito,
sendo utilizados dentro do ambiente hospitalar.
São resistentes às β-lactamases e possuem amplo espectro de ação.
o Monobactâmicos: são ativos principalmente contra bacilos Gram
negativos, mas não possuem atividade contra Gram positivos e
anaeróbios
▪ Ex.: Axtreonam
o Carbapenêmicos: possuem o maior espectro de ação dentre os
β-lactâmicos: são ativos contra bactérias Gram negativas, Gram
positivas e anaeróbios
▪ Ex.: Imipenem, Meropenem e Ertapenem
Glicopeptídeos
São drogas bactericidas que atuam principalmente sobre bactérias Gram
positivas (por serem moléculas maiores, os glicopeptídeos possuem maior
dificuldade em atravessar a membrana externa das bactérias Gram negativas).
O mecanismo de ação para inibição da síntese da parede celular é a
ligação da droga ao peptídeo terminal do monômero de peptideoglicano
(aos 2 últimos resíduos de aminoácidos), impedindo assim a reação cruzada
Polipeptídeos
São substâncias bactericidas. A maioria das bactérias Gram negativas
são naturalmente resistentes a estas drogas, de modo que o seu espectro de
ação envolve normalmente as bactérias Gram positivas (assim como os
glicopeptídeos).
O mecanismo de ação dos polipeptídeos é a interferência na reciclagem
do lipídeo 2, impedindo que esta molécula carreie os monômeros de
peptideoglicanos para a face externa da membrana citopasmática
O principal representando dos Polipeptídeos é a Bacitracina (substância
produzida por Bacillus subtilis). Esta droga apresenta pequena absorção
intestinal e é nefrotóxica, o que faz com que não seja utilizada de forma
sistêmica, mas apenas de forma tópica (como em cremes e pomadas a base de
Bacitracina). É utilizada principalmente em infecções de pele causadas por
Staphylococcus e Steptococcus do grupo A.
• Daptomicina
Atua despolarizando a membrana. É utilizada em infecções sistêmicas
(principalmente nas causadas por S. aureus) e em infecções de pele e tecidos
superficiais causadas por bactérias Gram-positivas resistentes aos β-lactâmicos
e à Vancominica.
• Anfotericina B
É um antifúngico que atua sobre os ergosteróis das membranas
fúngicas. Também apresenta menor toxicidade seletiva
• Colistina/Polimixina E
É a droga de escolha quando outras alternativas já falharam (sendo,
devido a isso, uma droga de uso mais restrito). Apresenta amplo espectro de
ação. É utilizada em linhagens resistentes de Pseudomonas, Klebsiella ou de
E.coli.
RESISTÊNCIA A ANTIMICROBIANOS
Foram necessários poucos anos após a descoberta dos antibióticos para
que as bactérias começassem a desenvolver mecanismos de resistência a estes
antimicrobianos (em média, 5 anos após a descoberta de cada novo antibiótico).
ativo, de modo que estes fármacos não conseguem exercer sua ação de
limitar o crescimento/morte celular
Resistência adquirida
Neste tipo de resistência, uma espécie anteriormente sensível passa a
apresentar resistência a determinado antimicrobiano. Este tipo de
resistência pode ser obtida a partir de dois processos:
• Inativação da droga
• Alteração de permeabilidade
• Alteração de sítio alvo
• Bombas de efluxo
• Alteração de vias metabólicas
113
1. Inativação da droga
A inativação da droga ocorre quando alguma enzima produzida pela
bactéria possui capacidade de destruir ou modificar a droga. Com isso, o
antimicrobiano passa a não reconhecer mais o seu sitio alvo e a não se ligar
mais na bactéria.
3. Alteração de permeabilidade
Há alguns antimicrobianos que agem no interior da célula bacteriana,
sendo necessário que sejam captados por um transportador e transportados
para o interior da célula para realizar o seu efeito. Se este transportador for
alterado, o antimicrobiano não consegue ser transmitido para o interior da
bactéria, ficando retido na face externa da membrana. Se o alvo de ação do
fármaco estiver na face interna da membrana, o antimicrobiano não tem contato
com o seu alvo.
4. Bombas de efluxo
As bombas de efluxo transportam ativamente o antimicrobiano que
acabou entrando no interior da célula para fora da célula. Embora o
antimicrobiano tenha conseguido atravessar a membrana por meio de um
transportador, ele é ativamente transportado para fora da bactéria. Este
mecanismo causa gasto de energia (é um transporte ativo).
As bombas de efluxo estão presentes principalmente em bactérias Gram
negativas (mas há em Gram positivas também).
116
BACTÉRIAS MULTI-RESISTENTES
Se uma bactéria apresenta resistên cia a 2 ou mais grupos de
antimicrobianos distintos, ela é classificada como multi-resistente. Dentre
estas bactérias multi-resistentes, algumas não são mais capazes de responder
ao antimicrobianos comercialmente disponíveis, de modo que as doenças
causadas por estes patógenos são dificilmente tratadas, causando elevada taxa
de óbito entre os pacientes contaminados. Estas bactérias alteram a qualidade
de vida do paciente e causam maiores danos e custos hospitalares.
As bactérias multi-resistentes são encontradas tanto em isolados clínicos
quanto em isolados encontrados em alimentos.
118
NEISSERIA
As bactérias do gênero Neisseria apresentam células em forma de cocos
(diplococos), sendo unidas pelas laterais adjacentes achatadas (o que dá a
estas células um aspecto de grão de café ou riniforme). Esse gênero não
apresenta flagelos e não possui a habilidade de formar endósporos.
N. GONORRHOEAE
Foi descoberta em 1879 pelo médico alemão Albert Neisser. Esta espécie
também é denominada “gonococo”.
Fatores de virulência
Este micro-organismo apresenta tanto fatores de virulência estruturais
quanto fatores de virulência secretados.
Proteína 1/Por
Estas proteínas formam canais que se estendem desde a membrana
citoplasmática até à membrana externa, permitindo a entrada e saída de
compostos.
A Proteína 1 também apresenta algumas outras funções, como:
Proteína 2/Opa
Esta proteína confere opacidade à bactéria (a qual é observada na cultura
desta bactéria). Além disso, ela promove fixação às células do hospedeiro e a
adesão dos gonococos no arranjo de diplococos
Proteína 3/RMP
Esta proteína possui como função proteger a proteína 1 e o lipo-
oligossacarídeo (LOS) da ação dos anticorpos do hospedeiro (forma uma
espécie de capa recobrindo estas estruturas, para que elas não sejam
reconhecidas pelos anticorpos durante a resposta imunológica).
Esta proteína é antigenicamente conservada em todos os gonococos (não
apresenta variação antigênica).
123
Lipo-oligossacarídeos
Os lipo-oligossacarídeos são estruturas semelhantes aos LPS presentes
na parede celular de bactérias Gram negativas, mas não possuem o antígeno O
em sua constituição. O LPS é originalmente formado pelo lipídio A (endotoxina
que ancora o LPS à membrana externa), pelo core polissacarídico e pelo
antígeno O (porção mais externa do LPS, responsável por deixar a estrutura
desta molécula mais hidrofílica). O antígeno O não está presente nos LOS,
apenas nos LPS.
β-lactamase:
Enzima que proporciona resistência aos antibióticos β-lactâmicos. Os
genes que codificam esta enzima estão presentes em plasmídeos conjugativos.
Heterogeneidade antigênica
A questão da heterogeneidade antigênica é muito prevalente em N.
gonorrhoeae: 1 a cada 10³ gonococos apresenta alguma mudança antigênica.
Este mecanismo permite evasão ao sistema imune, visto que faz com que os
micro-organismos alterem os antígenos inicialmente presentes em sua estrutura
(e sem causar nenhuma perda de função para a bactéria). Com esta mudança
dos antígenos de superfície, as bactérias não são reconhecidas prontamente
pelo sistema imunológico do hospedeiro.
Exemplo: diante de um primeiro contato com uma linhagem bacteriana
que contenha um antígeno A, será montada uma resposta imunonógica, de
125
Patogênese da Gonorreia
Quando o micro-organismo entra em contato com o hospedeiro, a primeira
coisa que deve acontecer é a adesão da bactéria à célula alvo. No caso da
N.gonorrhoeae, as células alvo são células epiteliais, podendo ser do epitélio
urogenital, conjuntiva dos olhos ou da faringe. Esta adesão é realizada
principalmente por meio do pili e da proteína Opa.
Após a adesão, o micro-organismo patogênico passa a ter que competir
com a microbiota residente do órgão, que está mais adaptada às condições
126
Complicações da Gonorreia
Mulheres podem desenvolver infertilidade (em 20% dos casos), gravidez
ectópica, aborto espontâneo, parto prematuro ou feto com baixo peso, natimorto
ou endometrite pós-parto.
Em homens, a infertilidade é rara, mas caso a doença não seja tratada,
pode acometer epidídimo, próstata e vesículas seminais. É mais difícil de se
observar a presença de complicações em homens, pois como os sintomas são
muito aparentes, estes pacientes acabam buscando ajuda médica mais
rapidamente (evitando a progressão da doença).
Nos RNs, a oftalmia neonatal gonocócica pode evoluir para cegueira.
A gonorreia também pode causar quadros de faringite e proctite. É uma
doença com baixa mortalidade.
Em casos mais raros, pode ocorrer a disseminação de N. gonorhoeae
para outros sítios. Isto ocorre quando esta bactéria cai na corrente sanguínea
(bacteremia), passando a causar:
• Lesões cutâneas
• Artrite supurativa (afetando joelhos, tornozelos e punhos)
• Endocardite (incomum, mas grave)
• Meningites em adultos (também incomum)
129
Prevenção da Gonorreia
O principal método de prevenção é o uso de preservativos (para se
evitar o contato com parceiros contaminados).
Nos RNs, utiliza-se colírio a base de nitrato de prata ou pomada
oftálmica contendo eritromicina ou tetracilina. É rotina a aplicação destes
compostos logos após o nascimento, seja o parto via cesárea ou normal.
Tratamento da Gonorreia
A droga de escolha para o tratamento da gonorreia é a cefalosporina de
terceira geração estável para β-lactamase. Pode ser ministrada também
terapia adicional com azitromicina nas condições em que há infecção
concomitante por clamídia. Há linhagens resistentes às drogas de primeira linha,
e algumas linhagens multi-resistentes já foram encontradas na Europa.
Não há imunidade protetora nem vacina efetiva para a Gonorreia, visto
que a IgA e a IgG anti-gonorreia apresentam pouca capacidade de proteção.
Esta pequena capacidade de proteção ocorre em função das variações
antigênicas desenvolvidas pelas bactérias e em função da secreção da protease
de IgA produzida por estes micro-organismos.
Orientações:
NEISSERIA MENINGITIDIS
Foi descrita pela primeira vez em 1884. É também um diplococo, sendo
denominada “meningococo”.
130
Fatores de virulência
Alguns dos fatores de virulência estruturais presentes na N.
meningitidis são os mesmos da N. gonorrhoeae:
• LOS: proporciona efeitos tóxicos (devido ao lipídeo A)
• Pili
• Proteínas de membrana externa (Por, Opa e RMP)
• Cápsula: este fator de virulência não estava presente na N. gonorrhoeae.
É uma estrutura que proporciona efeito anti-fagocítico e que permite
variação antigênica
Alguns dos fatores de virulência secretados também são os mesmos
da N. gonorrhoeae, como:
• IgA protease
• Proteína de ligação ao ferro
• Não possuem β-lactamases como a N. gonorrhoeae, o que faz com que
a N. meningitidis consiga ser eliminada pela ação dos β-lactâmicos.
BORDETELLA
Bordetella é um gênero de micro-organismos aeróbios. Estes micro-
organismos são cocobacilos e também apresentam cápsula. Há 3 principais
espécies deste que gênero causam doenças no ser humano:
Patogênese da coqueluche
A infecção pro B.pertussis tem início com a inalação de perdigotos
contaminados eliminados por um paciente doente. Em seguida, a B.pertussis
realiza adesão à célula-alvo (células do epitélio respiratório), prolifera-se e altera
o funcionamento da traqueia e dos brônquios. Consequentemente, o
paciente passa a apresentar o sintoma característico de tosse. A alteração da
traqueia e dos brônquios ocorre tanto em função da proliferação da bactéria,
quanto devido à produção de uma série de toxinas, as quais acabam por
danificar localmente a mucosa.
Estágios da coqueluche
O avanço da coqueluche é caracterizado por 3 estágios:
1. Estágio catarral: dura de 1-2 semanas. Há sintomas como os de um
resfriado comum (espirros, coriza, tosse seca, perda de apetite e febre
baixa)
a. A maior parte do contágio ocorre neste estágio, visto que um
grande número de micro-organismos é liberado nos perdigotos
Diagnóstico da coqueluche
O diagnóstico da coqueluche feito a partir da coleta da secreção da
nasofaringe com swab ou a partir de gotículas da tosse do paciente. Pode ser
realizada tanto a cultura quanto o diagnóstico molecular pela PCR.
Tratamento da coqueluche
É feito com antibióticos como eritromicina e azitromicina (sendo estes
os antimicrobianos de escolha no tratamento da coqueluche).
Depois que os indivíduos se recuperam da coqueluche, acabam
desenvolvendo uma imunidade protetora a uma provável segunda infecção. Se
esta segunda infecções ocorrer, ela é normalmente leve (mas se esta reinfecção
ocorrer após vários anos, é possível que esta imunidade seja perdida).
Prevenção da coqueluche
A principal forma de prevenção é via imunização. A vacina para
coqueluche que é normalmente administrada é a tríplice bacteriana, a qual
contém a finalidade de imunizar contra a coqueluche, difteria e tétano.
Normalmente há 3 doses da aplicação desta vacina (aos 2, 4 e 6 meses de vida),
e alguns reforços posteriormente (até os 5 anos de idade).
É uma vacina bastante efetiva. A re-emergência da coqueluche ocorreu
devido à ausência de vacinação em indivíduos com idade abaixo de 5 anos.
139
STAPHYLOCOCCUS
O gênero Staphylococcus engloba 45 espécies e 24 subespécies. O
arranjo característico deste gênero é o arranjo em estafilococos, no qual cada
célula se divide em múltiplos planos e estas células tendem a ficar unidas,
formando “cachos de uvas”.
Teste da coagulase
Os Staphylococcus podem ser divididos em coagulase positivos ou
coagulase negativos, dependendo da capacidade de produção da enzima
coagulase por estes micro-organismos.
Há 4 espécies de Staphylococcus que são patogênicas para os seres
humanos, as quais são diferenciadas por meio do teste da coagulase:
STAPHYLOCOCCUS AUREUS
O S. Aureus é o principal representante patogênico do gênero
Staphylococcus. Esta espécie faz parte da microbiota do trato respiratório
superior e da pele. São micro-organismos hemolíticos (possuem capacidade de
hidrolisar as hemácias) e piogênicos (formam pus). Quando são cultivados em
laboratório, é observada a formação de colônias com um pigmento dourado
(sendo este pigmento um carotenóide).
O fato destes micro-organismos serem coagulase positivos é útil para fins
diagnósticos.
143
Enzimas:
• Catalase
• Coagulase
• Lipase: degrada lipídeos
• Nuclease: degrada DNA
• Hialuronidase: degrada ácido hialurônico, sendo um importante fator na
disseminação deste micro-organismo (visto que o ácido hialurônico está
presente na matriz extracelular entre as células, mantendo-as unidas)
• Fibrinolisina/estafiloquinase: enzimas que degradam coágulos de
fibrina (fazem o contrário da coagulase). O mesmo micro-organismo
capaz de produzir coagulase deve ser capaz de produzir
fibrinolisina/estafiloquinase, para que assim consiga sair do coágulo de
fibrina que foi criado e disseminar-se para outros sítios
• Beta-lactamases: a produção das beta-lactamases é considerado o
principal fator de resistência aos beta-lactâmicos. Estas enzimas clivam o
anel beta-lactâmico destes antimicrobianos
Resistência em S. aureus
O S. aureus é resistente a vários antibióticos:
• S. epidermidis (principal)
• S. saprophyticus
• S. haemolyticus
Staphylococcus epidermidis
O S. epidermidis faz parte da microbiota normal da pele e das mucosas.
As infecções causadas por este micro-organismo normalmente decorrem de
disseminações endógenas (o micro-organismo presente na microbiota do próprio
154
Infecções em cateteres
As infecções em cateteres mediadas por S. epidermidis são muito
frequentes. Elas são conhecidas como infecções “ponta de cateter”. Como a
ponta do cateter normalmente está inserida no interior do vaso sanguíneo do
paciente, o micro-organismo já está presente na corrente sanguínea, de modo
que pode facilmente desencadear uma bacteremia.
Staphylococcus haemolyticus
É o segundo micro-organismo mais importante entre os coagulase
negativos. Também faz parte da microbiota da pele. Possui cápsula, mas o seu
principal fator de virulência também é a formação de biofilme. Algumas
linhagens de S. haemolyticus são capazes de produzir enterotoxinas e
156
Staphylococcus saprophyticus
Está presente na microbiota da pele e na mucosa genitourinária. Possui
uma alta capacidade de adesão às células do epitélio urinário, sendo devido
a isto um importante causador de infecções urinárias, principalmente em
mulheres e idosos.
O principal agente causador de infecções urinarias em mulheres é a E.coli,
e o segundo é o S. saprophyticus.
157
Nesta aula, serão estudados os cocos Gram positivos que são catalase
negativos. Dentre estes micro-organismos, estão as bactérias láticas e dois
importantes gêneros de patógenos humanos: Streptococcus e Enterococcus.
STREPTOCOCCUS
Os micro-organismos deste gênero possuem arranjo em estreptococos:
longas cadeias de cocos unidos. Há cerca de 21 espécies descritas dentro deste
gênero.
Os Streptococcus são classificados como anaeróbios facultativos (o que
proporciona uma maior versatilidade metabólica a estes micro-organismos). As
exigências nutricionais são bastante variáveis dentro deste gênero, de modo que
alguns representantes, principalmente os patogênicos, requerem a
suplementação de alguns fatores de crescimento (como sangue ou soro) para
que sejam cultivados em meios de cultura.
Estes micro-organismos possuem cápsula, que pode ser polissacarídica
ou de ácido hialurônico.
Representantes deste gênero são encontrados tanto no meio-ambiente
quanto na microbiota (em sítios como pele, trato respiratório su perior, trato
genital e TGI – tanto de seres humanos quanto de outros animais).
Alguns membros deste gênero são patógenos, podendo ser tanto
patógenos estritos quanto patógenos oportunistas (os quais fazem parte da
microbiota).
Os Streptococcus podem causar diferentes doenças em diferentes sítios
anatômicos, como:
• Infecções de pele (por S. pyogenes)
• Meningites
• Infecções pulmonares
• Bacteremias
• Doenças relacionadas à estimulação do sistema imunológico (febre
reumática e glomerulonefrite – são consideradas sequelas de infecções
prévias por S. pyogenis).
C. Propriedades bioquímico-fisiológicas
Além da sorologia e do padrão hemolítico, os micro-organismos podem
ser classificados de acordo com as propriedades bioquímico-fisiológicas, como:
• Fermentação de açúcares
• Presença de determinadas enzimas
• Sensibilidade a determinados agentes antimicrobianos
Esta avaliação normalmente é utilizada para os Streptococcus alfa e
gama-hemolíticos (que não são classificados nos Grupos de Lancefield).
S. PYOGENES
São micro-organismos beta-hemolíticos que pertencem ao grupo A de
Lancefield. Sua cápsula é composta por ácido hialurônico (o que funciona
como mais uma estratégia de evasão aos mecanismos do sistema imune: como
há ácido hialurônico normalmente em nossos tecidos, as células da imunidade
não reconhecem a superfície da cápsula deste micro-organismo como estranha).
Os S. pyogenes fazer parte da microbiota do trato respiratório superior
e da microbiota transitória da pele. Como patógenos, estão associados a
160
Fatores secretados:
São enzimas ou toxinas. Dentre as enzimas, estão:
• Hialuronidase: atua como um fator de disseminação, pois degrada o ácido
hialurônico entre as células e permite que o S.pyogenes passe por entre
elas, de modo a alcançar os tecidos mais profundos
• Estreptolisinas: são divididas em estreptolisinas S e O (a O é a mais
importante, visto que uma das formas de diagnóstico de febre reumática é
a detecção da presença de anticorpos anti-estreptolisina O no indivíduo).
As estreptolisinas O, além de causarem a lise de hemácias, causam
também a lise de plaquetas e leucócitos.
161
• Proteases
• Estreptoquinase: enzima que permite a dissolução de coágulos,
liberando os micro-organismos contidos em seu interior e facilitan do a sua
disseminação para outras áreas além do foco inicial de infecção
• DNAses
S. AGALACTIAE
Também é um micro-organismo beta-hemolítico, mas é do grupo B de
Lancefield. Faz parte da microbiota do TGI e do trato genito-urinário. O
principal fator de virulência que esta bactéria possui é a presença de cápsula.
Os S. agalactiae atuam como patógenos em gestantes. Sem ser durante
o período gestacional, o S. agalactiae também pode causar doenças nos
indivíduos, como infecções de pele, trato urinário, pneumonias e bacteremias
(nos casos mais graves). Todavia, a sua principal importância é durante o
período gestacional, visto que 10-30% das gestantes possuem o S. agalactiae
em seu TGI e trato genito-urinário. A avaliação da colonização vaginal e anal
por S. agalactiae é realizada por volta da 36ª semana de gestação.
O S. agalactiae pode estar em equilíbrio com a microbiota da gestante e
não causar nenhuma alteração na paciente. Todavia, este micro-organismo pode
contaminar o bebê no momento em que ele passa pelo canal do parto. A
contaminação do neonato com S. agalactiae pode causar consequências
graves, como meningite, pneumonia ou até mesmo sepse.
Quando a gestante é identificada como infectada por S. agalactiae, é de
rotina que seja administrada durante o momento do parto Ampicilina
intravenosa. Se o parto for cesárea, não há risco de contaminação (não sendo
necessária assim a administração de antimicrobianos).
GRUPO VIRIDANS
Há mais do que uma espécie de Streptococcus nesse grupo, sendo elas:
• S. mutans (principal)
• S. mitis
• S. salivarius
• S. sanguis.
S. PNEUMONIAE
O S. pneumoniae é um importante causador de pneumonias em adultos.
É um micro-organismo alfa-hemolítico e é denominado “pneumococo”.
Apesenta cápsula formada por polissacarídeos (o que permite a classificação
sorológica de cerca de 90 sorotipos de S. pneumoniae). Também são micro-
organismos fastidiosos, requerendo suplementação com sangue e CO2 para
serem cultivados em meio de cultura.
Podem ser membros da microbiota das vias aéreas (5-40% da
população apresentam-nos), sendo que em condições de equilíbrio, não causam
nenhuma alteração. Todavia, este micro-organismo pode se disseminar das
vias aéreas superiores para os pulmões, seios paranasais, ouvidos e meninges,
causando doenças nestes órgãos (pneumonia, bronquite, sinusite, otite,
bacteremia e meningite). O S.pneumoniae está muito associado ao
desenvolvimento de pneumonias e meningites (sendo o segundo agente mais
importante na causa das meningites, ficando atrás apenas de Neisseria
meningitidis). Os casos de meningites causadas por S. pneumoniae possuíram
uma grande redução da sua incidência em função do advento das vacinas.
ENTEROCOCCUS
O gênero Enterococcus é formado por representantes que podem tanto
estar no arranjo de diplococos quanto de estreptococos (em cadeias curtas).
São anaeróbios facultativos amplamente distribuídos no ambiente (estão
presentes no solo, na água, nos alimentos, etc), e fazem parte da microbiota
normal do TIG.
São gama-hemolíticos, e conseguem tolerar condições ambientais
adversas, como a presença de NaCl (6,5%) ou de sais biliares.
No passado, este gênero era classificado como um subtipo do gênero
Streptococcus, sendo denominado “Streptococcus do grupo D (de origem fecal)”
Das 40 espécies descritas deste gênero, há duas mais importantes como
patógenos para o ser humano:
• Enterococcus faecalis (responsável por 85-90% das infecções
causadas por Enterococcus)
• Enterococcus faecium (responsável por 5-10% das infecções causadas
por Enterococcus)
• Trato urinário
• Peritônio
• Tecido cardíaco
• Infecções intra-abdominais: pode estar presente junto a outros micro-
organismos (em infecções polimicrobianas)
• Infecções de feridas: pode estar presente junto a outros micro-organismos
(em infecções polimicrobianas)
• Podem causar, em casos raros, endocardite e meningite
172
MICOBACTÉRIAS
Medusa - 86
TAXONOMIA
Fazem parte da ordem Actinomycetalis, da família Mycobacteriacaeae e
do gênero Mycobacterium. A ordem Actinomycetalis engloba bactérias presentes
no ambiente e bactérias oportunistas.
Muitas das bactérias desta ordem produzem substâncias bioativas,
como antifúngicos (ex.: Anfotericina B produzida pelos Streptomyces),
antibacterianos (ex.: Streptomicina também produzida pelos Streptomyces) e
substâncias anti-tumorais.
Há cerca de 172 espécies e 13 sub-espécies pertencentes ao gênero
Mycobacterium, sendo que a maioria são espécies saprófitas (decompositoras),
de modo que estão presentes no ambiente e não causam doenças nos seres
humanos.
175
IMPORTÂNCIA EM SAÚDE
As micobactérias são os agentes etiológicos da tuberculose humana e
bovina e também da hanseníase.
A tuberculose, além de ser causada pelo M. tuberculosis e pelo M.bovis,
pode ser causada também por outras bactérias, visto que há um número
crescente de micobactérias que estão sendo capazes de causar doenças em
indivíduos imunocomprometidos.
CLASSIFICAÇÃO
A classificação dos micro-organismos do gênero Mycobacterium é
dinâmica, visto que mescla critérios tradicionais com critérios moleculares. Esta
classificação é denominada Classificação de Runyon. Estes critérios levam em
consideração:
• Capacidade de causar doença - os micro-organismos podem ser
classificados em:
o Sempre patogênicos
o Geralmente patogênicos
o Não patogênicos
• Velocidade de crescimento - os micro-organismos podem ser
classificados em:
o Crescimento lento
o Crescimento rápido
• Coloração – as bactérias podem ser classificados em:
o Fotocromogêneas: produzem pigmento apenas na presença de luz
o Escotocromogêneas: produzem pigmento apenas no escuro
o Não cromogêneas: não produzem pigmentos em nenhuma
situação
176
M.TUBERCULOSIS
TUBERCULOSE
Os patógenos estritos que causam a tuberculose são o M. tuberculosis
e o M. bovis (atualmente vem se reduzindo a incidência de infecções por M.
bovis devido ao menor número de gados com tuberculose e ao maior consumo
de leite pasteurizado – visto que a contaminação por este micro-organismo
ocorria principalmente através da ingestão leite não pasteurizado).
Os patógenos oportunistas que causam a tuberculose são
principalmente os do complexo M. avium-intracellulare e M. kansasii. Este
grupo de micro-organismos oportunistas que causam tuberculose vem
crescendo cada vez mais. Estes micro-organismos são normalmente resistentes
aos antimicrobianos utilizados no tratamento da tuberculose causada pelos
patógenos estritos.
Os reservatórios da tuberculose são os humanos e bovinos infectados.
A principal forma de transmissão é por meio da inalação de gotículas
respiratórias (perdigotos) contaminadas: ao espirrar, tossir ou falar, o indivíduo
espalha as gotículas no ar, as quais ficam em suspensão e podem ser inaladas
por outros indivíduos. A tuberculose também pode ser transmitida pela ingestão
de leite e alimentos contaminados por M.bovis.
Os sintomas da tuberculose são tosse, febre, falta de apetite,
emagrecimento, cansaço e suores noturnos.
Diagnóstico da tuberculose
Laboratorial
Pode ser realizada a cultura ou microscopia direta (realizando-se a
coloração de Ziehl-Neelsen).
184
Tratamento da Tuberculose
É um tratamento longo e complexo, durando cerca de 6 meses. Há cerca
de 6 fármacos de escolha, os quais são alternados durante o tratamento. Pode
ser utilizada uma combinação de antibióticos com mecanismos diferentes
(ex.: usa-se um antibiótico que inibe a síntese da parede celular; outro que inibe
a síntese de RNA, etc.). Devido a isso, se a bactéria desenvolver resistência a
algum dos mecanismos, ainda há outros mecanismos atuando para tentar
controlar a infecção
Prevenção e controle
• Vacina BCG: é feita a partir da bactéria viva, mas atenuada
• Investigação e tratamento dos contatos dos indivíduos
contaminados
• Pessoas que tiveram contato com indivíduos contaminados podem
fazer o uso de medicações profiláticas.
186
M. LEPRAE
Características gerais
Possui as mesmas características estruturais que o M.tuberculosis
Também é uma bactéria álcool-ácido resistente.
Não são cultivadas em meios bacteriológicos artificiais, visto que não
se sabe o que é necessário adicionar à cultura para que ela seja capaz de
crescer. Devido a isso, não é possível se realizar o diagnóstico da Hanseníase
baseado em culturas.
É um parasita intracelular que possui predileção pelos nervos. Como
esta bactéria não é cultivada em meios de cultura, não se sabe muito sobre as
suas características fisiológicas, mas acredita-se que ela precisa de
temperaturas um pouco mais baixas para crescer (possuindo um temperatura
ótima de crescimento de cerca de 30ºC), visto que se multiplicam em áreas
mais frias do corpo humano, como olhos, testículos, nervos, etc.
O Brasil é o segundo país com maior número de casos de Hanseníase no
mundo. O isolamento compulsório dos pacientes com hanseníase ocorreu até
1976.
Aspectos da doença
Afeta principalmente áreas levemente mais frias do corpo humano, como
pele, nervos, nariz, faringe, laringe, olhos, orelhas e testículos. São
formadas lesões cutâneas na forma de máculas anestésicas.
O ser humano é a única fonte de transmissão da Hanseníase. Embora
tenham sido encontrados animais naturalmente infectados, eles não são
capazes de transmitir a hanseníase para seres humanos.
Patogenia
Há vários estágios do desenvolvimento da hanseníase, mas podem ser
diferenciados dois principais:
• Forma tuberculoide: ocorre uma evolução benigna, não progressiva da
doença. Esta forma ocorre principalmente em pacientes
imunocompetentes. É marcada pela presença de lesões cutâneas
maculares, pequeno número de BAAR nas lesões, acometimento
187
Diagnóstico da Hanseníase
Laboratoriais
Como não é possível se realizar culturas, realiza-se baciloscopia de
amostras obtidas pela raspagem de mucosas ou da pele do paciente. Para a
observação do M. leprae, realiza-se a coloração de Ziehl-Neelsen. É possível se
observar uma maior presença de BAAR em pacientes com a forma lepromatosa.
Teste de Mitsuda
É um teste semelhante ao da tuberculina. Utiliza-se proteínas isoladas do
Mycobacterium leprae, de modo que é formado um nódulo (pápula) se o
indivíduo já teve contato com este micro-organismo.
Tratamento
O tratamento da Hanseníase é prolongado e são utilizados diferentes
antibacterianos. É uma doença totalmente curável, de forma que se o tratamento
é realizado frente aos sintomas iniciais, ocorre boa recuperação e não
agravamento do quadro.
189
BACTÉRIAS ANAERÓBIAS
Medusa - 86
OBS sobre a tabela acima: a boca é um sítio altamente povoado por bactérias
anaeróbicas; a pneumonia é chamada “de aspiração” pois as bactérias
anaeróbicas são provenientes do trato respiratório superior (esta situação ocorre
principalmente em pacientes acamados e que estão fazendo o uso de ventilação
mecânica);
• Pé diabético: é uma infecção muito comum que ocorre nos pacientes com
diabetes. Os pacientes com diabetes perdem parte da sensibilidade das
extremidades, de modo que facilmente se machucam e não percebem os
193
TÉTANO
O tétano é uma doença rara na atualidade, visto que a grande maioria da
população é vacinada contra esta doença. O Clostridium tetani é um bacilo
Gram-positivo, móvel e que produz esporos (que são formados na porção final
dos bacilos, fazendo com que eles possuam aspecto de raquete de tênis; os
esporos se soltam dos bacilos posteriormente).
Transmissão
A transmissão da doença se dá pela contaminação de ferimentos com
esporos de C. tetani. Apesar de esta bactéria ser sensível à presença do
oxigênio atmosférico (por ser anaeróbica), o esporo consegue sobreviver em
ambientes com tensão normal de oxigênio por anos.
Patogenia
O esporo introduzido no ferimento germina e produz a célula vegetativa,
a qual se multiplica e passa a produzir uma neurotoxina (chamada de
tetanospasmina). Esta toxina cai na corrente sanguínea e passa a disseminar-
se pelo organismo. O C. tetani não se dissemina para outros sítios, ficando
restrito ao local inicial do ferimento, onde normalmente há baixa tensão de
oxigênio.
Ao chegar às placas neuromusculares, a toxina tetânica bloqueia a
transmissão dos impulsos dos interneurônios. Normalmente, o interneurônio
libera glicina sobre o neurônio motor, inibindo a liberação de acetilcolina,
causando a distensão/relaxamento do músculo. Na vigência do tétano, a toxina
tetânica se liga aos interneurônios, impedindo a liberação da glicina e
permitindo assim a liberação de acetilcolina pero neurônio motor, de modo que
o músculo permanece contraído.
201
Sintomatologia
As primeiras manifestações do tétano são as contrações intensas da
musculatura facial, ocasionando um quadro chamado de trismo ou risus
sardonicus. Esta manifestação ocorre primeiro pois os grupos musculares
menores são atingidos por completo mais rapidamente. Também podem ser
notadas dificuldades de deglutição.
• Choro constante
• Inquietação
• Dificuldade em abrir a boca para mamar
• Contração da boca, ficando em formato de bico
• Dificuldade em respirar
• Taquicardia
• Repuxamento do corpo devido à contração dos músculos que pode
ocorrer frente a estímulos, como toque, luz, barulho, etc.
• Mão fechada
• Pode apresentar a posição do opstótono
Tratamento
O tratamento do tétano é normalmente realizado com o soro
antitetânico. Dependendo da extensão da ferida, é importante se realizar o uso
de antibióticos para se eliminar as células vegetativas do C. tetani que estão
produzindo a toxina (mas lembre-se que o uso isolado de antibióticos não cura
o tétano, visto que o que realmente causa a doença e as suas manifestações
clínicas é a circulação das neurotoxinas). Deve-se administrar o soro antitetânico
para que assim seja possível ocorrer a neutralização das toxinas circulantes.
O tratamento, se não realizado de maneira tardia, pode prevenir a morte
do paciente e também prevenir o desenvolvimento de sequelas (como a ligação
da toxina é irreversível, pode ocorrer a paralisia de alguns músculos).
Prevenção
Ocorre principalmente por meio da vacinação. O indivíduo deve tomar
doses de reforço da vacina a cada 10 anos. A vacina anti-tetânica pode ser
aplicada sozinha, mas esta vacina é normalmente disponibilizada junto a outras
vacinas, como é o caso da tríplice bacteriana (BPT), que previne contra o
desenvolvimento da difterina, tétano e coqueluche.
A vacina anti-tetânica deve ser administrada de forma isolada (fora da
tríplice bacteriana) nos casos nos quais o indivíduo chega ao hospital com a
sintomatologia do tétano e não lembra se está em dia com a sua vacinação ou
não. Também é utilizada nas gestantes.
BOTULISMO
É uma doença grave, mas rara. É causada pelo Clostridium botulinum,
bacilo Gram positivo anaeróbio, móvel, com esporo oval central ou subterminal
(localizado próximo ao poro da célula). Esta bactéria também produz uma
neurotoxina, a toxina botulínica.
204
Patogênese
As manifestações clínicas da doença ocorrem devido à ação das
neurotoxinas. Existem vários tipos desta neurotoxina, sendo o A, B, E e F os
mais presentes em doenças em seres humanos. A ação desta neurotoxina leva
a uma paralisia flácida, na qual o músculo permanece constantemente
relaxado.
A toxina botulínica se liga ao neurônio motor, impedindo a liberação da
acetilcolina na fenda sináptica. Como a ligação da acetilcolina à placa motora
promove a contração muscular, a sua não ligação promove um relaxamento,
levando a uma paralisia flácida.
Diagnóstico
O diagnóstico do Botulismo é normalmente um diagnóstico clínico que
se baseia nos sinais e sintomas do paciente. Os músculos da face são os
primeiros a sofrerem a paralisia por completo. Os principais sintomas são queda
das pálpebras, dificuldade de deglutição, visão turva, visão dupla, dificuldade
para falar, boca seca, tontura, sonolência e fraqueza muscular. A doença pode
evoluir e passar a acometer outros nervos do organismo, sendo que a morte
ocorre devido à paralisia dos músculos da respiração.
Não se pode realizar o diagnóstico laboratorial na maioria das vezes, visto
que nos casos clássicos o microrganismo não está infectando o indivíduo (já que
a toxina é ingerida na forma pré-formada)
Tratamento
É feito com a anti-toxina botulínica, que neutraliza a toxina cirulante.
Também deve-se realizar o tratamento de suporte, utilizando medicamentos
específicos (que podem aliviar a sintomatologia do paciente) e proporcionando
o suporte ventilatório se necessário.
Prevenção
A prevenção da doença é muito importante, visto que ainda não existe
vacina contra o botulismo. Os alimentos que são mais frequentemente
contaminados pela neurotoxina do C. botulinum são principalmente os
enlatados. Estes alimentos são embalados a vácuo, de modo que não há
oxigênio dentro da lata – devido a isso, se este alimento estiver contaminado
com esporos de C. botulinum, a bactéria pode passar a produzir a neurotoxina,
que será ingerida pelo indivíduo. Poucos esporos de C. botulinum já são
suficientes para produzir níveis de toxinas capazes de provocar alterações
biológicas intensas. As células vegetativas podem morrer no interior dos
enlatados, mas as toxinas persistem nos alimentos e acabam sendo ingeridas
posteriormente.
Se o alimento for aquecido, a toxina botulínica é destruída (é uma proteína
termolábel).
No botulismo do lactente (botulismo alimentar), o indivíduo ingere o
esporo, e não a toxina. Este tipo de botulismo foi mais frequentemente associado
ao consumo de mel. Devido a isso, crianças com menos do que 1 ano de idade
ou adultos com alguma alteração na microbiota intestinal não devem consumir
mel (visto que nestes casos de menor quantidade da microbiota, as células
vegetativas do C.botulinum podem se multiplicar com maior facilidade no interior
do intestino).
206
BACILOS GRAM-NEGATIVOS
Medusa - 86
BGN FERMENTADORES
As famílias de BGN fermentadores são:
FAMÍLIA ENTEROBACTERIACEAE
Algumas das bactérias pertencentes a este grupo fazem parte da
microbiota residente do intestino de animais e do homem, enquanto outras são
estritamente patogênicas, e outras vivem no ambiente (são ubíquas).
A maioria das espécies de bactérias pertencentes a este grupo é móvel
(apresenta flagelos) e não formam esporos. Todos os microrganismos
pertencentes a esta família são anaeróbios facultativos. São citocromo oxidase-
negativos. Todos fermentam a glicose, produzindo ácido e/ou gás.
Alguns microrganismos desta família fermentam a lactose, sendo esta
uma característica diferencial:
• Gêneros Lac +: Escherichia, Klebsiella e Enterobacter
• Gêneros Lac x: fermentam a lactose, mas fazem isso mais lentamente.
Exemplos de representantes deste grupo são os gêneros Serratia,
Providencia, Citrobacter e Hafnia
• Gêneros Lac -: Proteus, Shigella e Salmonella
Estes microrganismos são cultivados em meios de cultura comuns (não
são exigentes nutricionalmente). Crescem rapidamente e conseguem produzir
praticamente todos os nutrientes necessários ao seu metabolismo. Também
conseguem crescer em meios seletivos e diferenciais (como em ágar
MacConkey)
No Brasil, os gêneros pertencentes a esta família que mais
frequentemente causam infecções nos seres humanos são Escherichia,
Salmonella e Shigella. Devido a isso, se é solicitado um exame de coprocultura
sem suspeita clínica indicada no pedido, realiza-se a procura destes 3 gêneros
de bactérias.
• Adesinas
• Invasinas: alguns BGNs conseguem invadir células
• Enzimas (ex.: hemolisinas)
• Exotoxinas
• Endotoxinas (LPS)
• Cápsula: os antígenos capsulares podem variar dentro de uma mesma
espécie (este fenômeno é chamado de variação de fase antigênica – é
um mecanismo de evasão ao sistema imunológico)
• Resistência aos antimicrobianos.
INFECÇÕES INTESTINAIS
As infecções intestinais são normalmente causadas por vírus, mas
também podem ser causados por bactérias. Os principais patógenos
bacterianos capazes de causar infecções intestinais no Brasil são:
• E. coli
• Salmonella sp.
• Shigella sp.
• Yersinia sp.
• Vibrio parahemolyicus
• Vibrio cholerae
• Campylocabter sp.: é espiralado, e não BGN (todas citadas acima são
BGNs, sendo as 4 primeiras pertencentes à família Enterobacteriaceae e
os 2 ultimos à família Vibrionace).
• Clostridium perfingens: é um BGP
• Bacillus ceres: é aeróbia
Algumas destas bactérias possuem reservatórios animais, enquanto
outras não.
TRANSMISSAO
Normalmente, estas bactérias são transmitidas devido à ingestão de
água ou alimentos contaminados com fezes humanas ou fezes de animais
(visto que estes microrganismos são encontrados na microbiota intestinal tanto
de humanos quanto de animais). São DTAs (doenças transmitidas por água e
alimentos) Eventualmente, as mãos contaminadas ou o contato interpessoal
também podem funcionar como formas de transmissão.
Em alguns dos casos, o individuo pode ingerir a toxina já formada (como
é o caso da E.coli enterotoxigênica).
215
Cultivo/Isolamento
A realização de culturas deve ser feita em meios seletivos e diferenciais
ou em meios altamente seletivos:
Provas bioquímicas
As provas bioquímicas são realizadas após a cultura já ter sido feita. As
principais provas bioquímicas utilizadas para se identificar a família
Enterobacteriaceae são:
• Pesquisa da citocromo-oxidase: as bactérias da família
Enterobacteriaceae são normalmente oxidase negativas
• Prova da fermentação da glicose: é sempre positiva nesta família
• Prova de redução de nitratos a nitritos: é também sempre positiva.
• Utilização de carboidratos
• Reação de vermelho de metila
• Utilização de citrato
• Descarboxilação de aminoácidos como lisina, ornitina e argnina
• Produção de fenilalanina por desaminação
Sorotipagem:
É um método importante no isolamento de E.coli proveniente de amostras
de fezes. É necessário se informar se a E.coli encontrada faz parte da microbiota
222
TRATAMENTO
Infecções intestinais
A maioria dos quadros é autolimitada, dispensando o uso de antibióticos
e quimioterápicos. Nos extremos de idade, fica a critério do médico prescrever
antibióticos (em muitas situações, a prescrição de antibióticos pode até piorar o
quadro da infecção intestinal, visto que estes fármacos agirão também sobre a
microbiota residente).
Nas doenças mais graves (ex.: quadro de Shigellose acompanhado de
disenteria), o tratamento com antibioticoterapia deve ser realizado.
Febre tifoide
No caso da febre tifoide, obrigatoriamente deve-se realizar o tratamento.
Esta doença é causada pela Salmonella tiphymurium, um sorotipo de Salmonella
que infecta o intestino e outros órgãos também.
Drogas utilizadas
Algumas das drogas que podem ser utilizadas no tratamento dos BGN
são ampicilina, cefalosporinas, aminoglicosídeos, tetraciclinas, cloranfenicol,
ácido nalidixico, etc.
Estas bactérias adquirem resistência facilmente. Com isso, é difícil de
se adivinhar se a amostra da bactéria que está causado o quadro do paciente é
resistente ou não a determinado antibiótico. Devido a isso, deve-se realizar o
teste de sensibilidade a antimicrobianos (antibiograma). Muitas vezes, o
médico não pode ficar esperando o tempo necessário para que sejam obtidos os
resultados dos testes, sendo comum a prescrição dos antimicrobianos mesmo
antes da obtenção do resultado do teste. Frente a esta situação, o médico deve
223
TESTES DE SENSIBILIDADE
Os tetes de sensibilidade mais utilizados são:
• Técnica de disco difusão
ESCHERICHIA COLI
A E.coli consiste em uma bactéria móvel (em 95% dos casos), lactose
positiva e produtora de hemolisina (sendo possível observar a hemólise
provocada por esta bactéria em ágar-sangue).
É uma espécie anaeróbia facultativa predominante no intestino grosso.
São bactérias que fermentam a glicose, causando a formação de ácido e gás.
Por estar presente naturalmente no intestino grosso do ser humano, a
E.coli é utilizada como um parâmetro de contaminação da água e de
alimentos. Para se realizar a pesquisa da contaminação de água e alimentos,
realiza-se a pesquisa de um grupo de bactérias chamadas de “coliformes”
(bactérias semelhantes à E.coli: são BGN fermentadores de glicose e lactose).
O grupo dos coliformes é formado pelos gêneros Escherichia, Enterobacter,
Citrobacter e Klebsiella. A presença destes microrganismos em determinadas
quantidades estabelecidas indica a contaminação da água ou do alimento por
fezes animais ou humanas. Esta água contaminada é imprópria para o consumo
e para banhos também.
SOROTIPOS DA E.COLI
Há vários sorotipos de E.coli conhecidos
E. coli enterotoxigênica
As enterotoxinas produzidas pelas ETEC atuam principalmente no
intestino delgado. Estas enterotoxinas aumentam o AMPc intracelular, que
estimula a secreção de eletrólitos e água pelo enterócito, ocasionando quadros
de diarreia.
Há dois tipos de enterotoxinas produzidas pelas ETECs: uma
enterotoxina termolábil e uma enterotoxina termoestável. O gene relativo à
produção destas toxinas também se encontra em plasmídeos.
A enterotoxina produzida pelas ETEC apresenta duas subunidades: A e
B. A subunidade B realiza a adesão da toxina à membrana do enterócito, e a
subunidade A penetra no enterócito e causa a atividade tóxica.
E.coli enterohemorrágica
O sorotipo de E. coli enterohemorrágica que causa as formas mais graves
da doença é o O157:H7. Esta bactéria se localiza principalmente no intestino
grosso.
No início da doença, o paciente apresenta um quadro de diarreia aquosa,
o qual é decorrente de uma lesão do tipo A/E (assim como ocorre na E.coli
enteropatogênica). Após alguns dias do início da infecção, o paciente pode
evoluir para o quadro de colite hemorrágica. Este quadro pode ser
acompanhado de diarreia sanguinolenta, dores abdominais e febre.
Em alguns casos, a infecção pode ser assintomática. Normalmente esta
infecção tende a ser autolimitada em adultos jovens e saudáveis (resolvendo-se
espontaneamente após 5-10 dias).
A infecção pode progredir para um quadro mais grave chamado de
Síndrome urêmica-hemolitica. Esta síndrome decorre da ação da toxina
Shiga/Shiga-like, citotoxina produzida por algumas cepas de E.coli
enterohemorrágica que inibe a síntese proteica e causa a morte das células
eucariotas. Há dois tipos Toxina Shiga: Toxina Shiga 1 e Toxina Shiga 2. A
evolução da doença só ocorre se o paciente for infectado por uma amostra
de E. coli enterohemorrágia produtora de toxina shiga (nem todas
produzem). Cerca de 8% dos pacientes contaminados por E.coli
enterohemorrágicas evoluem para a síndrome urêmica-hemolítica, marcada por
lesão renal e anemia. Esta síndrome ocorre mais frequentemente em crianças
com idade inferior a 5 anos de idade e em idosos.
227
A toxina Shiga também é uma toxina do tipo AB, mas apresenta uma
subunidade A e várias subunidades B. As suas subunidades B reconhecem a
membrana da célula eucariota, permitindo que a subunidade A penetre na célula,
inibindo a síntese proteica e levando à morte celular
E. coli enteroinvasora:
Age principalmente no intestino grosso. A patogênese ocorre devido à
invasão e destruição de células epiteliais do intestino. Ocorre quadro típico de
disenteria, sendo um quadro semelhante ao provocado pela infecção por
bactérias do gênero Shigella.
Os genes que codificam as proteínas que in vadem os enterócitos
encontram-se em plasmidios.
E. coli enteroagregativa:
Este tipo de E.coli age principalmente no intestino delgado. Leva a um
quadro de diarreia persistente, que dura de 15-20 dias.
Para que ocorra o desenvolvimento da doença, ocorre a adesão
agregativa destas bactérias ao epitélio intestinal. Em seguida, ocorre o
encurtamento das microvilosidades (devido a alterações na actina), o que faz
com que o enterócito fique com um formato mais arredondado. Este
encurtamento das microvilosidades leva à diminuição de absorção de água pelos
enterócitos, o que ocasiona um quadro de diarreia aquosa.
229
O que faz com que esta bactéria permaneça durante mais tempo no
intestino (causando um quadro de diarreia persistente) é a capacidade de
produção de uma espécie de biofilme sobre a superfície do intestino.
Os genes relativos à codificação das proteínas envolvidas na patogênese
deste tipo de E.coli também se encontram em plasmídios.
Ocorreu em 2011 na Europa um surto de infecções intestinais causadas
por E.coli, as quais levaram ao desenvolvimento de vários quadros de síndrome
urêmico-hemorrágica. Observou-se que a cepa causadora destes casos possuía
tanto fatores de virulência da E. coli enterohemorrágica (produziam a toxina
Shiga) quanto características da E.coli enteroagregativa (causavam aderência
de perfil enteroagregativo). Este sorotipo era multirresistente (apresentava Beta-
lactamases de espectro estendido).
Infecções urinárias:
80-90% das infecções urinarias adquiridas na comunidade são causadas
pela E. coli. A E.coli também é o agente patogênico causador de infecções
urinárias mais comum em pacientes hospitalizados. Todavia, existe uma
diversidade maior de agentes que causam as infecções urinárias nos pacientes
hospitalizados, sendo que estes agen tes possuem uma maior tendência ao
desenvolvimento de resistências a antimicrobianos.
230
Meningite de recém-nascido
A E.coli é causadora de meninigtes principalmente em prematuros.
Também é um dos agentes causadores de meningites em indivíduos de 1 a 23
meses e em indivíduos a partir de 50 anos de idade.
SALMONELLA
Salmonella entérica
Apresenta 6 subespécies, sendo a subespécie entérica (I) a mais
importante. Esta espécie apresenta 1478 sorotipos, que são obtidos das
combinações de antígenos somáticos, flagelares e capsulares.
Antigamente, acreditava-se que os sorotipos da subespécie Salmonella
entérica entérica eram espécies diferentes (e por isso a sua grafia é semelhante
a de espécies, mas só o primeiro nome é em itálico e a primeira letra do segundo
nome é maiúscula). Os sorotipos de maior importância clínica dentro da
subespécie S. entérica entérica são:
• Salmonella Typhi
• Salmonella Paratyphi
o Salmonella Paratyphi A, B e C são os únicos sorotipos exclusivos
do homem. Todos os outros demais são encontrados em animais
também.
• Salmonella Typhimorium
• Salmonella Enteritidis
• Salmonella Chloraesuis
SALMONELOSES
As doenças causadas pelas bactérias do gênero Salmonella são
chamados de forma geral de Salmoneloses. As principais salmoneloses são as
232
Febres entéricas
São causadas por sorotipos exclusivos do homem. Com a melhoria das
condições de saneamento básico, a incidência destas doenças diminuiu muito.
As amostras de Salmonella eliminadas pelas fezes contaminam alimentos e
água, fazendo com que ocorra a infecção (devido a isso, com a melhoria das
condições de saneamento, esta contaminação vem diminuindo muito).
Os dois principais tipos de febres entéricas são a febre tifóide e a febre
paratifóide. As bactérias causadoras destas doenças atingem o intestino do
indivíduo e depois caem na corrente sanguínea, passando a colonizar outros
órgãos. Esta passagem da bactéria pela corrente sanguínea leva a quadros de
febre, o que leva ao nome geral de febres entéricas.
Febre tifoide
É causada pelo sorotipo Salmonella Typhi. A contaminação ocorre por
VO, sendo a dose infectante de 10⁵-10⁹ células, visto que a Salmonella apresenta
uma resistência intermediária ao suco gástrico.
Após serem ingeridas, as bactérias chegam ao intestino e se multiplicam
no interior dos macrófagos localizados nos folículos linfoides. Em seguida, estas
bactérias invadem o sistema linfático e a corrente sanguínea, passando a
colonizar outros órgãos (como fígado e baço). Em seguida, algumas destas
bactérias presentes na corrente sanguínea voltam para o in testino, fazendo com
que o ciclo de multiplicação ocorra novamente.
233
Febre paratifóide
É semelhante à febre tifoide, mas é um quadro mais brando. É causada
pelos sorotipos Salmonella Paratyphi A, B e C
Gastroenterites
São as salmoneloses mais frequentes. Ocorrem devido à ingestão de
alimentos contaminados, como ovos.
234
Ciclo biológico
A contaminação se dá por meio da ingestão das bactérias juntamente a
um alimento contaminado. Estas bactérias chegam ao intestino delgado e
passam a infectar as células do sistema imune, as quais estão localizadas nos
folículos linfoides. A intensa multiplicação das bactérias nos folículos leva a uma
hiperplasia do tecido e ao rompimento das células que foram infectadas.
Ocorre também a ativação de polimorfonucleados, que conseguem fazer
com que a Salmonella fique restrita ao TGI (diferentemente do que ocorre nas
febres entéricas, visto que as bactérias neste último caso conseguem cair na
corrente sanguínea e se espalhar para outros sítios).
Esta resposta inflamatória ocasionada no intestino aumenta a liberação
de PGS, que estimulam o AMPc intracelular dos enterócitos, fazendo com que
estas células aumentem a secreção de eletrólitos e de água.
Desta forma, conclui-se que o quadro de diarreias causado por estes
sorotipos de Salmonella não é causado pela invasão dos enterócitos, mas sim
pela intensa resposta inflamatória do indivíduo (a qual é ativada frente à
infecção pelas bactérias).
235
Sepse
Não são quadros muito frequentes. São causados pelos sorotipos S.
Cholerasuis e S. Dublin. Já houve casos em que o quadro de sepse foi causado
pelo sorotipo S. Typhimurium.
SHIGELLA
Também é um gênero de patógeno intestinal. Há 4 principais espécies de
Shigella:
• S. dysenteriae: é a espécie mais importante, visto que geralmente é a
espécie que produz a Toxina Shiga
• S. flexneri: é uma das espécies de Shigella mais comuns no Brasil.
• S. boydii
• S. sonnei: é a outra espécie comum no Brasil.
Estas bactérias não possuem flagelos (são imóveis), são Lac- (com
exceção da S. sonnei) e não possuem cápsula.
Normalmente habitam o intestino de seres humanos e de animais. São
altamente contagiosas, de modo que é necessário um pequeno inóculo (cerca
de 200 células) para que a infecção ocorra. Isto ocorre porque a Shigella é
altamente resistente ao suco gástrico, de modo que a maioria das células
consegue passar intacta pelo estômago e ir se localizar no intestino.
A doença causada pela Shigella é denominada de Shigelose ou
disenteria bacilar. A transmissão ocorre por meio da ingestão de água e
alimentos contaminados. O período de incubação é de 1 a 4 dias.
Após ingerir o alimento/água contaminado, a bactéria passa pelo
estômago (onde não é degradada) e chega ao intestino, onde realiza a invasão
e destruição da camada epitelial. Esta invasão leva a uma intensa resposta
inflamatória com atração de polimorfonucleados, o que causa a presença de
pus e sangue nas fezes (caracterizando um quadro de disenteria).
Apesar de realizarem a invasão do epitélio intestinal, estas bactérias
raramente invadem a corrente sanguínea.
Os sintomas observados na Shigellose são inespecíficos, como:
• Cólica abdominal
• Febre
• Diarreia aquosa
• Sangue e pus nas fezes (após alguns dias)
• Prostração (indivíduo fica debilitado e sem ânimo): ocorre quando a
amostra de Shigella que está causando a invasão é produtora da toxina
236
YERSINIA
Este gênero possui 3 espécies patogênicas:
• Y. pestis: causa peste bubônica
• Y. pseudotuberculosis: causa linfadenite mesentérica
• Y. enterocolitica: causa infecção intestinal. É muito mais comum do que
as outras duas citadas acima (estas outras duas já causaram muitas
doenças nos seres humanos, mas atualmente não causam mais).
É uma bactéria comum em países de clima mais frio, visto que é uma
bactéria psicotrófica (crescem melhor em temperaturas entre 22ºC e 29ºC).
Devido a isso, infecções por bactérias do gênero Yersinia são menos comuns no
Brasil.
Estes microrganismos possuem flagelos (são móveis), são Lac -, formam
colônias tipicamente pequenas no ágar SS e no ágar MacConkey. Em casos de
suspeita de infecções por Yersinia, as placas devem ser incubadas por mais
tempo e em temperatura ambiente.
A transmissão ocorre por meio da ingestão de água e alimentos
contaminados (principalmente alimentos de origem suína). Esta bactéria é
normalmente encontrada no solo, na água, e em alguns animais (principalmente
porcos e animais silvestres).
Os sintomas da doença são:
• Diarreia e/ou vômitos
• Febre
• Dores abdominais: é o sintoma mais marcante. As bactérias invadem
principalmente o íleo. Muitas vezes, a doença pode ser confundida com
apendicite.
KLEBSIELLA
PROTEUS
Há 2 espécies principais dentro deste gênero:
• Proteus mirabilis
• Proteus vulgaris
FAMÍLIA VIBRIONACEAE
VIBRIO CHOLERAE
Esta espécie cresce melhor em pH alcalino (em torno de 8-9). Para isolar
este microrganismo em meios de cultura, é ideal que sejam utilizados meios
seletivos para o V. cholerae, como o TCBS (ágar-tiossulfato-citrato-bile-
sacarose). Esta espécie fermenta a sacarose, liberando ácidos no meio de
240
cultura (o que faz com que as colônias de V. cholerae fiquem amarelas no meio
de cultura, enquanto as colônias dos demais microrganismos ficam verdes).
Epidemiologia
A cólera é uma doença de notificação obrigatória no nosso país, de modo
que a vigilância epidemiológica sempre deve ser informada frente a novos casos.
No gráfico abaixo, é possível se observar os países onde a cólera ocorre
normalmente e os países que contam com casos de cólera, mas devido a
importações da doença para território nacional. No Brasil, o último caso
autóctone de aquisição local de cólera foi em 2005.
Sorotipos
Esta espécie apresenta vários sorotipos, sendo o sorotipo O:1 o
encontrado mais frequentemente causando a cólera em seres humanos. Este
sorotipo O:1 apresenta dois biotipos: o biotipo clássico e o biotipo El Tor. O que
diferencia os biotipos são diferenças na produção de algumas enzimas. Devido
a esta diferença de padrão enzimático, o biotipo El Tor consegue sobreviver por
mais tempo no ambiente do que o biotipo clássico. O biotipo El Tor foi o
responsável pela última pandemia de cólera, que ocorreu na década de 1990.
Este biotipo é mais comum na África e na Ásia, mas durante a pandemia ele se
disseminou pelo mundo.
241
Patogênse
O mecanismo de produção da doença ocorre devido à ação da toxina
colérica, que é uma enterotoxina. Esta toxina é termolábel, e o gene que a
codifica encontra-se no cromossomo da bactéria. Ela possui o mesmo
mecanismo de ação que a toxina produzida pela E. coli enterotoxigênica.
É uma toxina muito potente. Leva à perda de água e de eletrólitos de
maneira muito mais intensa do que a provocada pela toxina da E.coli
enterotoxigênica.
É uma toxina do tipo AB, sendo composta por várias subunidades B e 2
subunidades A: A1 (região responsável pela atividade da toxina) e A2. As
subunidades B reconhecem receptores localizados na membrana das células
eucariotas, de modo a fazer com que a toxina consiga se aderir à superfície da
célula. Em seguida, as subunidades A penetram na célula, e a subunidade A1
ativa a adenilato ciclase, que aumenta os níveis de AMPc. As altas
concentrações de AMPc levam a uma perda de água e de eletrólitos, o que causa
um quadro de diarreia muito intenso (visto que esta toxina é muito potente).
Transmissão
A transmissão do V. cholerae ocorre por meio da ingestão de alimentos
ou água contaminados. A ingestão de água contaminada é a principal forma
de transmissão, visto que o indivíduo precisa ingerir uma grande quantidade de
V. cholerae (cerca de 10⁹ células) para que ocorra a transmissão. Isto ocorre
pois estas bactérias são sensíveis ao pH ácido presente no estômago, de modo
que ao passar por este órgão, muitas das bactérias são digeridas pelo suco
gástrico. Se o indivíduo estiver fazendo o uso de antiácidos, a passagem das
bactérias pelo estômago pode ser facilitada.
Sintomas
O indivíduo pode apresentar náuseas, vômitos, diarreia líquida intensa
(o aspecto das fezes é de “água de arroz”), fezes esbranquiçadas e cãibras
(devido à perda de eletrólitos, principalmente potássio).
243
Tratamento
Apesar da gravidade dos sintomas, o médico deve avaliar se deve ser
prescrito o uso de antimicrobianos ou não (depende da gravidade do quadro do
paciente). Deve ser realizada a reposição de água e eletrólitos o mais rápido
o possível.
Prevenção
A melhoria das condições de saneamento básico e o acesso a água
potável são medidas profiláticas que podem ser adotadas.
• Pseudomonas
• Burkholderia
• Stenotrophomonas
Pseudomonas aeruginosa
É a espécie de Pseudomonas que é mais frequentemente encontrada
como patógeno do ser humano.
Causa infecções oportunistas localizadas ou sistêmicas em
diferentes órgãos e tecidos. Em geral, são infecções nasocomiais
(hospitalares) envolvendo pacientes com o sistema imune enfraquecido e/ou em
antibioticoterapia (como estas bactérias são resistentes a muitos dos
antibióticos, a antibioticoterapia pode acabar por eliminar as demais bactérias e
fazer com que apenas a P. aeruginosa permaneça). O uso de dispositivos
médicos (como cateteres e sondas) provocam uma quebra da barreira da pele,
o que possibilita que estes microrganismos possam cair na corrente sanguínea
e causar as infecções mais facilmente. O uso de ventiladores mecânicos pode
predispor o desenvolvimento de pneumonias por aspiração.
Fatores de virulência
• Estruturais
o Fímbrias e adesinas não fimbriadas: promovem adesão às células
e ao muco
o Flagelos: facilitam a disseminação do microrganismo, a obtenção
de alimentos pela bactéria e a capacidade de invasão
o Lipopolissacarideos: funcionam como substâncias que
proporcionam a variação antigênica e apresentam toxicidade.
Também promovem adesão
o Alginato: faz parte da parede celular bacteriana, funcionando como
um agente antifagocítico e que permite a adesão. O alginato e as
adesinas não fimbriadas são muito importantes para que o
microrganismo consiga se aderir aos pulmões dos pacientes com
fibrose cística.
• Extracelulares/secretados
o Exotoxina A: inibe a síntese proteica
o Exoenzimas S e U: são tóxicas para neutrófilos e macrófagos
o Proteases: quebram proteínas e favorecem a disseminação do
microrganismo
o Fosfolipase C: leva à lise das células eucariotas
o Pigmentos fenozínicos: inibem a proliferação da epiderme e de
linfócitos (dificultando assim o processo de cicatrização e
facilitando a evasão aos mecanismos do sistema imune)
o Formação de biofilmes: proporcionam a evasão ao sistema imune
e o escape à ação de antibióticos, além de aumentar a expressão
de fatores de virulência.
o Resistência natural e adquirida aos antimicrobianos
246
Diagnóstico
Deve-se isolar o microrganismo em culturas e em seguida se realizar
provas bioquímicas (as quais podem ser as mesmas utilizadas para a
247
Tratamento
Como as Pseudomonas facilmente adquirem resistência aos
antimicrobianos, é importante se fazer o teste de sensibilidade aos
antimicrobianos. Este teste traz informações que auxiliam na decisão da
prescrição do clínico, que será capaz de prescrever apenas fármacos que
realmente serão capazes de tratar a doença.
• Acinetobacter baumannii
• Stenotrophomonas malthophilia
• Burkoideria cepacia
ACINETOBACTER BAUMANNII
Faz parte da família Moraxellacese. Há várias espécies dentro do gênero
Acinetobacter, mas a mais importante é a A. baumannii
São bacilos Gram-negativos de forma variável (normalmente mais curta),
sendo normalmente visualizados como cocobacilos.
248
BACTÉRIAS ESPIRALADAS
Medusa - 86
• Treponema
• Leptospira
• Borrelia: raramente causa doenças no Brasil.
Espirilos
• Campylobacter
• Helicobacter
250
GÊNERO TREPONEMA
É um gênero de bactérias anaeróbias extremamente sensíveis ao
oxigênio atmosférico (morrem rapidamente frente à tensão de O2 atmosférica).
As principais espécies patogênicas deste gênero são:
• Treponema pallidum: principal espécie deste gênero. É causadora da
sífilis.
• Treponema pertunue: causa bouba. Não é comum no Brasil
• Treponema carateum: causa pinta. Também não é comum no Brasil
Sífilis
É causada pelo Treponema pallidum. O Treponema pallidum é móvel
(devido ao seu corpo flexível), e cada célula apresenta forma helicoidal com 5-
14 espirais. É uma bactéria muito delgada (seu diâmetro é de 0,1-0,2
micrômetros – sendo que 0,2 micrômetros é limite de resolução da MO) e muito
comprida (mede de 6-14 micrômetros). Normalmente não se realiza a Coloração
de Gram para observar estas bactérias (visto que elas são muito delgadas), mas
sim a coloração com a prata (Fontana Tribondeau).
Transmissão
Ocorre pelas seguintes vias:
251
Patogênese
A bactéria não é capaz de penetrar na pele íntegra, de modo que é
necessária a presença de algum machucado/ferida/solução de continuidade
para que a infecção possa ocorrer. A bactéria pode penetrar pela pele
lesionada, mas penetra mais facilmente pelas mucosas.
Estas espiroquetas penetram na descontinuidade da pele/mucosa e
passam a se multiplicar, causando uma lesão chamada de cancro duro. Em
seguida, se a doença não for tratada ou se o sistema imunológico não conseguir
eliminar a infecção, o T. pallidum cai na corrente sanguínea e na corrente
linfática, passando a se espalhar, atingindo vários outros órgãos, como SNC,
coração, ossos e pele.
Estágios da doença
A progressão da sífilis é dividida em 3 estágios:
Como atualmente a sífilis pode ser tratada nas fases iniciais da doença,
dificilmente são desenvolvidas lesões terciárias muito agressivas que levam a
grandes deformações quando cicatrizam.
Sífilis congênita
No caso da sífilis congênita, a criança é infectada devido à infecção
materna: as bactérias ficam circulantes pelo sangue materno e chegam até à
criança através da placenta.
A sífilis congênita pode levar a abortos ou ao desenvolvimento de
sequelas no RN, como:
• Pneumonia
• Feridas pelo corpo
• Cegueira
• Surdez (tanto a surdez quanto a cegueira decorrem de alterações no
SNC)
• Deformações nos dentes e ossos
• Retardamento mental
As mães portadoras da doença podem ter filhos saudáveis se forem
diagnosticadas durante o primeiro trimestre da gestação e forem
imediatamente tratadas. O tratamento é possível de ser realizado durante a
gravidez, visto que o T. pallidum é sensível à penicilina G (antibiótico que pode
ser utilizado durante a gestação).
254
Diagnóstico
Diagnóstico microbiológico
É possível se observar o T.pallidum por meio da MO, mas não é possível
cultivá-lo em meio de cultura.
A visualização do T.pallidum na MO só pode ser realizada durante a fase
primária e na fase secundária da sífilis, visto que apenas nestas fases as
bactérias são encontradas nas lesões.
Não se utiliza a coloração de Gram, mas sim a coloração de Fontana
Tribondeau (corada pela prata – nesta coloração, a espiroqueta é corada de
marrom; isto acontece pois a prata deposita-se sobre a membrana das
espiroquetas e torna-as mais espessas, possibilitando assim que estas bactérias
sejam visualizadas).
Tratamento
É feito com penicilina G ou com outros antimicrobianos (caso o paciente
seja alérgico à penicilina).
Profilaxia
256
GÊNERO LEPTOSPIRA
As bactérias do gênero Leptospira apresentam forma em gancho nas
extremidades. Há duas espécies dentro deste gênero:
Leptospirose
É causada pelo Leptospira interrogans. Esta bactéria é uma bactéria
móvel e helicoidal, e que também é extremamente delgada e longa (mede 0,1 x
6 a 12 micrômetros). Possui tempo de geração longo (6-8h), é aeróbia
(diferentemente do T.pallidum) e pode ser cultivada em meios de cultura. Para
isso, é necessário que a amostra seja incubada a 28-30ºC e seja cultivada em
257
meios semi-sólidos (os quais apresentam uma fase contendo ágar e uma fase
líquida). Uma das extremidades da L. interrogans sempre termina em gancho.
Transmissão e reservatórios
É uma zoonose de distribuição mundial. Os roedores não são os únicos
animais que podem transmitir a doença: ela também pode ser transmitida por
cães, porcos, cavalos e gados.
Esta bactéria possui predileção pelos rins, sendo normalmente eliminada
na urina dos animais citados acima. Esta urina pode contaminar águas, sendo
este o principal veículo de transmissão da doença. Devido a isso, é muito
comum ocorrerem surtos de leptospirose após enchentes. Além desta
transmissão indireta, pode ocorrer também a transmissão direta por meio da
mordida de roedores.
Patogênese
As leptospiras penetram no organismo através de lesões cutâneas ou
através das mucosas. Após isso, estas bactérias caem na corrente sanguínea e
passam a se proliferar, passando a colonizar vários órgãos (como rins, fígado,
SNC, etc).
A forma mais grave da doença é denominada de síndrome de Weil,
sendo causada pelo sorotipo Icterohaemorrhagiae. Nesta síndrome, o paciente
apresenta icterícia, disfunção renal, hemorragia e acometimento pulmonar.
258
Sintomatologia
Os sintomas podem ser confundidos com várias outras doenças, como
dengue ou gripe. Os principais sintomas são:
• Febre
• Dor de cabeça
• Dor no corpo
• Dor nas panturrilhas
• Pele amarelada (devido à icterícia)
• Tosse
• Olhos avermelhados
• Diarreia
• Cansaço
Diagnóstico
O diagnóstico pode ser realizado por meio de métodos sorológicos ou
bacteriológicos:
259
Tratamento
É realizado por meio da administração de penicilina G (sendo esta a
droga de primeira escolha) ou das tetraciclinas.
GÊNERO CAMPYLOBACTER
As bactérias deste gênero ficam palidamente coradas de rosa pela
coloração de Gram – devido a isso, é utilizada uma fucsina mais concentrada ao
se realizar esta coloração (carbolfucsina). As bactérias são observadas no
formato de asa de gaivota/S/C. Todavia, se as bactérias do gênero
Campylobacter forem cultivadas durante muito tempo no laboratório, elas
tendem a apresentar formas cocoides.
Campylobacter jejuni
Esta espécie é principal causadora de gastroenterites de origem
bacteriana nos EUA. No Brasil, as gastroenterites são mais comumente
causadas pelas bactérias da família Enterobacteriaceae, como Shigella,
Escherichia e Salmonella.
No Brasil, o C. jejuni é encontrado em 10-35% das crianças (sejam elas
sadias ou apresentando quadros de diarreia).
A transmissão se dá pela ingestão de água e alimentos contaminados ou
pelo contato com animais infectados. O C. jejuni é resistente ao pH ácido
estomacal, e devido a isso a dose infecciosa é baixa (inferior a 500
microrganismos).
Os alimentos em que normalmente o C. jejuni é encontrado são leite cru
ou inadequadamente pasteurizado, aves mal cozidas e água não tratada. A
contaminação destes alimentos está relacionada à ocorrência de surtos.
Patogenia
Após ser ingerido e passar a se localizar nos intestinos (tanto no intestino
delgado quanto no intestino grosso), o C. jejuni pode passar a realizar dois
processos:
• Invasão epitelial: leva a um quadro de diarreia sanguinolenta
• Produção de enterotoxinas: leva a um quadro de diarreia aquosa.
Uma mesma amostra de C. jejuni pode (ou não) produzir os dois tipos de
lesão citados acima. O que define qual tipo de lesão ocorrerá são os fatores de
virulência que estão presentes na amostra.
261
Diagnóstico
Cultura
Estes microrganismos são fastidiosos, sendo cultivados apenas em
meios de cultura contendo sangue e antimicrobianos (utilizados para evitar o
crescimento dos microrganismos da microbiota residente contidos na amostra).
O meio utilizado pode ser o meio de Skirrow, que contém vancomicina,
cefalotina, trimetoprim e anti-fúngicos. É um meio de cultura caro.
Tratamento
Na maior parte dos casos, a infecção é autolimitada. Nos extremos de
idade, pode haver necessidade de tratamento, que é realizado principalmente
pela eritromicina. Antes de se prescrever a eritromicina, é conveniente se
determinar a sensibilidade da amostra, visto que este tipo de bactéria adquire
resistência a antimicrobianos facilmente.
GÊNERO HELICOBACTER
A primeira espécie deste gênero a ter sido descrita foi o H. pylori, que foi
inicialmente classificado como um Campylobacter. Posteriormente, observou-se
262
Helicobacter pylori
Antes da descoberta do H. pylori (em 1980), havia o consenso de que o
estômago era um ambiente estéril, e que as doenças gástricas eram causadas
apenas por estresse.
Todavia, passou a ser observada a presença de bactérias nos pacientes
com gastrites e úlceras. Posteriormente, foi provado que estas bactérias
realmente estavam envolvidas na patogênese das doenças gástricas.
A prevalência de H. pylori no mundo todo é de cerca de 50%. No Brasil, a
prevalência é de 60-80%, variando entre as regiões. É uma bactéria que é
encontrada infectando principalmente indivíduos mais pobres.
A maior parte das pessoas que apresentam esta bactéria no estômago
apresentam apenas um quadro de gastrite crônica.
Transmissão e sintomatologia
Acredita-se que a bactéria seja adquirida na infância, geralmente por
contaminação fecal-oral ou oral-oral.
No início da infecção, a bactéria pode causar um quadro de gastrite
aguda, o qual pode passar despercebido. Após isso, a bactéria pode ser
eliminada ou persistir no organismo. Se ela persistir, pode ser desenvolvido um
quadro de gastrite crônica, o qual pode permanecer por anos ou décadas.
Uma pequena porcentagem dos pacientes que apresentam a infecção por
H. pylori evoluem para o desenvolvimento de úlceras pépticas (que ocorrem
tanto no estômago quanto no duodeno). Uma parcela menor ainda pode evoluir
para gastrite atrófica, a qual pode evoluir para carcinomas gástricos distais
(o H. pylori é essencial para o desenvolvimento do carcinoma gástrico). Pode
ocorrer também o desenvolvimento de linfoma MALT.
263
Características gerais
Quando o H. pylori é corado pelo Gram utilizando a carbolfucisna, esta
bactéria apresenta morfologia idêntica à do Campylobacter, de modo que não é
possível se diferenciar um gênero do outro pela MO. O H. pylori também
apresenta aspecto de asa de gaivota.
Doenças
São várias as doenças causadas pelo H. pylori, como a gastrite, a úlcera
péptica e o carcinoma gástrico. A evolução para estas doenças depende de
características do microrganismo (virulência da amostra que está causando a
265
Diagnóstico
Diagnóstico pela detecção do microrganismo
Há várias metodologias que podem ser utilizadas para se realizar o
diagnóstico da infecção, como:
• Análise histológica: realiza-se uma biópsia da mucosa intestinal e é feita
uma lâmina a partir desta amostra, a qual é corada pela prata e observada
no MO.
Tratamento
O tratamento das úlceras causadas por H.pylori é realizado com 2
antimicrobianos (metronidazol e claritromicina ou amoxicilina) e inibidores
de bomba de prótons (omeprazol). O tratamento deve ser realizado por 7-14
dias. Em casos muito graves e extremos (nos quais há risco de perfuração da
úlcera) pode-se realizar cirurgias.
O omeprazol, sozinho, pode inibir a presença da bactéria. Devido a isso,
quando se vai realizar a biópsia do tecido para se realizar a cultura buscando H.
pylori, o ideal é que o paciente suspenda o uso do omeprazol por 2 semanas
antes da realização do exame.
268
CLAMÍDIAS
Até pouco tempo atrás, havia apenas 1 gênero dentro da família
Clamydiaceae, o gênero Clamydia. Atualmente, existem 2 gêneros dentro desta
família:
• Clamydia
• Clamydophila
Formas celulares
As clamídias são as únicas bactérias que apresentam ciclo de
desenvolvimento bifásico, com 2 formas celulares:
• Corpo/corpúsculo elementar: é uma forma menor (mede de 0,2-0,3
micrômetros) e mais eletrondensa. É a forma infectante extracelular. Esta
forma é capaz de reconhecer o receptor das células hospedeiras e infecta-
las.
• Corpo/corpúsculo reticular: é a forma intracelular. Como esta forma é
apenas intracelular, ela não é infectante (para ser infectante, é necessário
ser extracelular e ser capar de reconhecer o receptor da célula
hospedeira). É uma forma maior (mede de 0,8-1 micrômetro) e mais
eletronlúcida.
Ciclo de desenvolvimento
O corpúsculo elementar reconhece o receptor da célula hospedeira e se
liga a ele. Em seguida, a célula hospedeira fagocita o corpúsculo ligado ao
receptor, formando um vacúolo fagocítico no interior de seu citoplasma. Dentro
deste vacúolo fagocítico, o corpúsculo elementar se transforma em corpúsculo
reticular, o qual passa a se multiplicar. Em seguida, os vários corpúsculos
reticulares que foram formados se transformam em corpúsculos elementares.
Quando a célula hospedeira sofre lise, os corpúsculos elementares são
liberados, sendo capazes de infectar uma nova célula hospedeira.
Quando um corpúsculo reticular se transforma em um corpúsculo
elementar, ele passa por outra forma, chamada de forma intermediária.
270
Conjuntivite de inclusão
É causada pelos sorotipos D-K. Consiste em um processo inflamatório
da conjuntiva de natureza benigna (não ocorre invasão da córnea) e
autolimitada. A transmissão pode ocorrer por meio do contato com secreções
do trato genital ou com águas de piscina (que podem ter tido contato com a
região genital de indivíduos contaminados – os sorotipos de D-K são
encontrados principalmente no trato genital).
Ao se observar por meio de uma microscopia o tecido acometido, são
observadas as inclusões da clamídia (conjunto de corpúsculos elementares e
reticulares observados no interior das células do hospedeiro).
Infecções urogenitais
272
Linfogranuloma venéreo
É causado pelos sorotipos L1, L2 e L3. A transmissão desta doença se dá
pelo contato sexual (é uma IST). Alguns dos portadores desta bactéria são
assintomáticos, sendo estes os principais disseminadores da doença.
O linfogranuloma venéreo pode ser dividido em 2 estágios:
Diagnóstico
Como esta bactéria é um patógeno intracelular obrigatório, o seu cultivo
só é possível se for realizado dentro de células, como no interior do saco
vitelinico de ovos embrionados ou em culturas de células.
Também pode-se fazer a bacterioscopia direta a partir de um raspado
da lesão, no qual é possível se visualizar a presença de inclusões. Uma das
colorações que pode ser utilizada para se visualizar a presença das inclusões é
o iodo. O iodo reage com o glicogênio que se localiza ao redor das bactérias, de
modo que a lâmina fica corada de marrom onde há células infectadas por
clamídia.
274
RIQUÉTSIAS
Também são parasitas intracelulares, de modo que podem ser
encontradas no interior do citoplasma das células. Possuem aspecto de bacilos
ou cocobacilos. São bactérias Gram-negativas. Estas bactérias apresentam
externamente uma camada limosa que as recobre.
Rickettsia rickettsii
A R. rickettsii é responsável por causar a febre maculosa. Esta espécie
está presente principalmente na América. No Brasil, ocorre principalmente na
região sudeste.
A doença é transmitida pela picada do carrapato estrela. É um carrapato
comum de capivaras, cavalos e cães. Este carrapato pica estes animais, se
infecta com a R. rickettsii e passa a ser capaz infectar os humanos quando os
pica também.
Sintomas
É uma doença infecciosa febril aguda multissistêmica, a qual se
manifesta com curso clínico variável. As formas clássicas da febre maculosa
apresentam febre e exantema, mas há também formas atípicas.
O início da doença ocorre em 2-14 dias após a infecção, e o aparecimento
dos sintomas é abrupto. Os sintomas são inicialmente inespecíficos, podendo
ser confundidos com um quadro de dengue. Os sintomas iniciais são:
• Febre
• Cefaleia
• Mialgia intensa
• Mal-estar generalizado
• Náuseas
• Vômitos
• Exantemas (aparecem no 3º-5º dia após o início da doença).
Diagnóstico laboratorial
Como estas bactérias também são intracelulares obrigatórias, a cultura
também é feita em ovo embrionado ou a partir de cultura de células. Além disso,
pode-se realizar também a inoculação da amostra em animais. A cultura das
Riquétsias ocorre somente em laboratórios de referência. Na imagem abaixo, é
possível se observar uma cultura de Riquétsias no interior de um ovo embrionado
(observe que há tanto bactérias dentro do citoplasma quanto bactérias dentro do
núcleo da célula).
277
Outro método diagnóstico que também pode ser utilizado é a análise por
imunofluorescência indireta de amostras obtidas diretamente dos tecidos.
Também pode-se realizar sorologias, sendo este o método diagnóstico
mais comumente utilizado.
MICOPLASMAS
Os Micoplasmas são bactérias que não apresentam parede celular.
Devido a isso, estas bactérias não apresentam um formato definido, ficando
ora arredondadas, ora emitindo filamentos.
Diagnóstico
Os Micoplasmas crescem em meios de cultura específicos, os quais
devem conter lipídios. As colônias aparecem após cerca de 7 dias de cultivo,
278
sendo muito pequenas (deve-se utilizar lupas/objetivas de 10x para que elas
sejam observadas). Estas colônias apresentam o centro mais escurecido.
MICOLOGIA
Medusa - 86
PROBIÓTICOS
Assim como ocorre com as bactérias, os fungos também podem ser
utilizados como probióticos. Um exemplo de fungo que pode ser utilizado como
probiótico é o Saccharomyces boulardii. Este fungo pode ser encontrado na
casca da lichia e no mangostão. Estas leveduras eram utilizadas para se
controlar os sintomas da cólera.
Ao ser ingerido, o S. boulardii exerce tanto um efeito de barreira
(impedindo que outros microrganismos colonizem as membranas dos órgãos)
quanto um efeito antibacteriano (visto que este fungo é capaz de produzir várias
substâncias antibacterianas).
DECOMPOSIÇÃO
Alguns fungos possuem função decompositora. Eles são capazes de
crescer em ambientes com poucos nutrientes (possuem metabolismo muito
versátil). Também conseguem crescer em ambientes ácidos (como em frutas
cítricas), onde normalmente as bactérias não conseguem crescer. Os fungos
crescem mais lentamente do que as bactérias.
Os meios de cultura utilizados para o crescimento dos fungos são pobres
em nutrientes, e muitas vezes devem possuir pH ácido (por volta de 5). O pH
ácido funciona como um fator seletivo, visto que ele impede que as bactérias
cresçam no meio, permitindo que apenas os fungos cresçam e consigam ser
isolados para serem analisados.
SIMBIOSE
As micorrizas são associações simbióticas entre fungos e plantas. Esta
associação está presente em mais de 90% das plantas. Esta associação é
benéfica para a planta pois a presença dos fungos nas raízes das plantas
281
aumenta a área de absorção destas raízes, e é benéfica para os fungos pois eles
conseguem extrair a seiva das plantas, conseguindo obter alimento desta forma.
Trufas: fungos que crescem associados às raízes de algumas árvores,
como carvalhos. São utilizadas na alta gastronomia.
LEVEDURAS
As leveduras são estruturas unicelulares, que podem ser esféricas ou
ovais. As leveduras se multiplicam por brotamento ou fissão binária. Pode
haver a presença de pseudo-hifas: vários brotos que não se separam após o
brotamento, formando uma cadeia de células que se assemelha a hifas.
A região da levedura de onde um broto se desprende é chamada de
“cicatriz do broto”.
284
BOLORES
Os bolores são formados por hifas, que são estruturas multicelulares. As
hifas podem ser asseptadas (cenocíticas) ou septadas. As cenocíticas estão
presentes em infecções causadas por fungos zigomicetos. A maioria dos bolores
apresenta hifas septadas. Não é como se cada septo dividisse uma célula –
podem existir várias células dentro de um mesmo septo, ou mais do que um
septo dentro de uma mesma célula, de modo que não é possível se saber onde
começa e onde termina cada célula
FUNGOS DIMÓRFICOS
São fungos que crescem tanto na forma filamentosa (produzindo hifas
vegetativas e aéreas) quanto na forma de levedura (por brotamento). Os
fungos dimórficos que são patogênicos são encontrados na forma filamentosa
no ambiente e na forma de levedura no organismo do hospedeiro.
286
TÉCNICAS UTILIZADAS:
• Testes imunológicos
o Testes intradérmicos (como o teste da tuberculina utilizado na
tuberculose): é utilizado principalmente em inquéritos
epidemiológicos.
o Pesquisa de anticorpos e antígenos circulantes
um meio rico (ex.: ágar sangue); todavia, se a amostra não for proveniente de
um meio estéril, ela deve ser semeada em um meio pobre em nutrientes/mais
seletivo (visto que as bactérias não conseguirão proliferar neste meio).
A cultura é frequentemente realizada como um complemento obrigatório
ao exame direto.
A profilaxia e a terapia utilizada variam de acordo com a espécie de
fungo que está causando a micose (o que justifica a necessidade da
identificação dos fungos).
PASSOS DO DIAGNÓSTICO:
292
TESTES FISIOLÓGICOS
São testes baseados em analises bioquímicas, analisando fatores
como quais enzimas cada fungo apresenta e como ele metaboliza diferentes
substratos. Após serem realizados, o resultado destes testes é comparado com
dados presentes em tabelas de referência (o que auxilia no diagnóstico da
espécie em questão).
TESTES IMUNOLÓGICOS
Os principais testes imunológicos realizados são provas intradérmicas:
são injetados antígenos fúngicos na derme do paciente, e se ele apresentar
anticorpos contra estes antígenos, ocorre uma reação inflamatória local. Alguns
dos antígenos fúngicos que podem ser utilizados são Tricofitina, Candidina,
Paracoccidioidina, Esporotriquina, etc.
Também pode-se realizar provas sorológicas de aglutinação,
precipitação, fixação do complemento e imunofluorescência. Pode-se realizar a
pesquisa de antígenos pelo ELISA também.
EXAMES RADIOLÓGICOS
São importantes no diagnóstico de micoses profundas. Não é possível
se identificar se o que está causando a alteração no exame de imagem é
algum fungo ou outro parasita, e devido a isso devem ser feitas análises
subsequentes.
IDENTIFICAÇÃO MOLECULAR
293
FÁRMACOS ANTIFÚNGICOS
Existem poucos fármacos antifúngicos disponíveis para o tratamento
destas infecções. Isto ocorre principalmente devido ao fato de os fungos serem
seres eucariotos (assim como o hospedeiro humano), o que torna difícil o
desenvolvimento de fármacos com alta toxicidade seletiva. Todavia, o número
de fármacos antifúngicos vem aumentado, visto que as infecções fúngicas
profundas/sistêmicas se tornaram mais importantes na medicina nos últimos
anos. Isto ocorreu devido ao grande aumento no número de infecções fúngicas
sistêmicas, as quais normalmente ocorrem em indivíduos imunossuprimidos.
Este aumento do número de infecções fúngicas sistêmicas está relacionado ao
aparecimento e ascensão do HIV e ao aumento da realização de transplantes
de órgãos.
o Nistatina
MICOSES SUPERFICIAIS
São muito comuns, acometendo uma grande parcela da população
mundial. Ao se avaliar apenas as dermatomicoses, 20-25% da população
mundial tem, já teve ou vai ter estas infecções.
Estão entre as doenças dermatológicas mais comuns. As micoses de
unhas (onicomicoses) acometem 10% da população mundial, sendo que 50%
dos indivíduos com mais do que 70 anos têm ou terão onicomicoses.
Infecções das mucosas oral e genital (causadas principalmente por
Candida) são muito comuns. 50 a 75% das mulheres em idade fértil já tiveram
pelo menos um episódio de candidíase vulvovaginal. 5 a 8% das mulheres têm,
pelo menos, quatro episódios de candidíase vaginal por ano.
.
MICOSES SUPERFICIAIS PROPRIAMENTE DITAS
Características gerais
São causadas por fungos que parasitam apenas as camadas mais
superficiais do estrato córneo. Induzem apenas alterações estéticas (sem
maiores complicações).
As principais micoses superficiais são:
Pitiriase versicolor
Normalmente é assintomática, mas alguns pacientes relatam prurido
discreto. Há o desenvolvimento de várias manchas pelo corpo (as quais
causam incômodo maior devido a questões estéticas).
É causada por espécies do complexo Malassezia furfur (M. globosa, M.
restricta, etc.)
Tanto a invasão do extrato córneo quanto as respostas do hospedeiro são
mínimos frente a esta infecção.
A Malassezia é um fungo que faz parte da micobiota normal. A Pitirase
versicolor se desenvolve frente ao uso de antimicrobianos (que eliminam as
bactérias que estariam competindo com os fungos por nutrientes) ou devido a
um maior aporte de nutrientes (ex.: peles mais oleosas – estes fungos utilizam
lipídios em seu metabolismo).
Na PItiríase Versicolor há a presença de manchas hipopigmentadas
dispersas sobre a pele (em alguns casos, estas manchas também podem ser
hiperpigmentadas). São levemente descamativas. Podem estar amplamente
distribuídas.
Diagnóstico
O diagnóstico da Pitiríase versicolor normalmente é realizado
clinicamente. Também pode ser feito um raspado das lesões para se confirmar
o diagnóstico (observa-se a presença de um maior número de leveduras e
também a presença de hifas curtas. Ao se observar a pele de um indivíduo
normal, apenas é possível se detectar a presença de leveduras, e em menor
número). O exame direto realizado com KOH é possui uma observação mais
difícil (e devido a isso normalmente é realizada a coloração da lâmina).
301
Tratamento
Podem ser utilizados diferentes tipos de azóis no tratamento da Pitiríase
versicolor (os quais podem levar a efeitos colaterais hepáticos e renais).
Normalmente é utilizado o tratamento tópico, principalmente se a lesão for
restrita a um local. A indicação do uso de medicamentos por VO apenas ocorre
quando a infecção está mais disseminada.
Tinea Nigra
É causada por um fungo demáceo, o qual leva ao desenvolvimento de
manchas enegrecidas sobre a pele do paciente (principalmente sobre a palma
das mãos e sobre a planta do pé).
É causada pelo fugo Hortae werneckii, o qual normalmente está presente
no ambiente ou em material em decomposição (é um fungo de vida livre). Está
presente em restos vegetais, esgotos, solo, etc.
302
Piedra Negra
Nesta infecção, o fungo fica restrito ao cabelo, formando um nódulo
endurecido. É causada pelo fungo Piedraia hortae. Normalmente não ocorre no
Brasil (apenas na Amazónia).
Piedra Branca
É uma infecção causada por uma levedura (espécies Trichosporon) que
cresce no pelo e no cabelo. A infecção por este fungo confunde-se com a
presença de lêndeas. É uma doença assintomática.
Dermatófitos
São os principais causadores de micoses superficiais cutâneas.
Consiste em um grupo de fungos queratinofílicos (colonizam a pele, pelos e
unhas). A infecção é restrita à epiderme nos imunocompetentes – nos
imunodeprimidos, pode haver invasão subcutânea. A maioria dos fungos deste
grupo é incapaz de crescer a 37ºC, possuindo temperatura ótima de crescimento
ao redor de 28ºC. Esta característica de ter o seu crescimento inibido a 37ºC
dificulta as infecções subcutâneas.
As infecções causadas por dermatófitos são chamadas de
dermatofitoses
• Trychophyton
• Microsporum
• Epidermophyton
Os dermatófitos são classificados de acordo com o local em que são
preferencialmente encontrados:
Algumas dermatofitoses
• Tinea corporis: presente no tronco, nas pernas, no braço, etc. São lesões
arredondadas e com as bordas inflamadas.
305
Contágio
O contagio ocorre por meio do contato com outros indivíduos, com o
ambiente ou com animais (depende do tipo de fungo em questão).
O ser humano pode contaminar o ambiente ou outro ser humano da
seguinte forma: ao crescer na pele de um indivíduo, estes fun gos passam a
formar artroconídeos (fragmentos da hifa). Cada artroconídeo tem o potencial
de gerar uma nova hifa. Desta forma, quando a pele descama, escamas
contaminadas caem no ambiente, e quando estas escanas entram em contato
com outro indivíduo, passam a contaminá-lo.
A transmissão das micoses causadas por dermatófitos antropofílicos
pode ocorrer por meio do contato direto entre os indivíduos ou por meio do
contato indireto (por meio de esporos deixados em objetos, como meias,
sapatos, instrumentos de manicure, etc). Estas duas possibilidades de
transmissão fazem com que estas infecções sejam muito comuns.
A transmissão dos dermatófitos zoofilicos ocorre por meio do contato
direto com o animal ou por meio do contato indireto (visto que o indivíduo pode
se contaminar devido ao contato com esporos que o animal liberou no ambiente).
No caso de dermatofitoses zoofílicas, é necessário se tratar o animal também.
A transmissão dos dermatófitos geofílicos ocorre por meio do contato
com o solo próximo a ninhos de aves ou a mamíferos.
306
Diagnóstico
Muitas vezes, o diagnóstico das micoses não é clinicamente óbvio, sendo
necessária a análise microbiológica. Para isso, realiza-se o exame
microscópico direto e culturas.
Por vezes, outras dermatoses (não micóticas) são clinicamente muito
semelhantes às dermatofitoses. 50% das distrofias ungueais são provocadas por
infecções fúngicas, enquanto os outros 50% são causados por traumas,
anormalidades congênitas, psoríase, líquen plano, etc.
Algumas lesões cutâneas não micóticas também podem se assemelhar
às micoses, como o eczema numular (que é semelhante à Tinea corporis).
A observação de hifas com artroconídeos na microscopia direta leva à
suspeita de dermatofitoses.
Muitos fungos emitem uma luz fluorescente quando são expostos a um
aparelho chamado de Lâmpada de Wood. Infecções causadas por Microsporum
sp e a Ptiriase versicolor são exemplos de infecções que fluorescem frente a este
exame. Algumas outras condições (como eritrasma – quadro causado por
bactérias), também podem apresentar fluorescência ao serem estimuladas por
esta lâmpada.
MICOSES SUBCUTÂNEAS
Medusa - 86
1. Esporotricose
Diagnóstico
As amostras que podem ser utilizadas são materiais provenientes de
biópsias ou exsudatos de lesões granulomatosas.
No exame direto com preparação de KOH, a visualização dos fungos é
muito difícil, de forma que raramente observa-se a presença de leveduras.
Abaixo é mostrada uma amostra tratada com KOH:
Tratamento
O itraconazol é um fármaco muito utilizado no tratamento das micoses
subcutâneas. Se chegar a ser desenvolvida uma doença sistêmica, deve-se
utilizar Anfotericina B (esse esquema é utilizado em outras micoses subcutâneas
também).
Pode-se utilizar também solução saturada de iodeto de potássio
(tratamento antigo, o qual não é tolerado por alguns pacientes).
310
Esporotricose em gatos
A esporotricose também pode ser transmitida através de gatos (sendo
uma doença relativamente frequente nos gatos). São transmitidas pelas
lambidas/mordidas/arranhados dos gatos.
Essa forma de transmissão tem se tornado cada vez mais comum. Devido
a ela, a Esporotricose é considerada uma zoonose.
311
2. Cromoblastomicose (Cromomicose)
É a segunda micose subcutânea mais frequente. É causada por fungos
demáceos de vários gêneros distintos. Seus principais agentes são: Fonsecaea
pedrosoi (espécie mais comum), Fonsecaea monophora, e Cladophilaphorra
carrioni.i
Estes fungos estão presentes no ambiente (solo e vegetações).
As lesões estão relacionadas ao tempo de contato com o fungo.
Desenvolvem-se lentamente – são lesões granulomatosas progressivas, que,
com o tempo, podem induzir à hiperplasia do tecido epitelial, caracterizando o
tecido lesionado com um aspecto tumoral. Podem possuir aspecto áspero,
verrucoso ou com aspecto de couve-flor. Podem também se apresentar
violáceas.
Diagnóstico
Diferentemente do que ocorre na Esporotricose, o exame direto é
amplamente utilizado no diagnóstico da Cromoblastomicose. Realiza-se um
raspado da lesão e clareia-se esta amostra com KOH. Todos as diferentes
espécies que podem causar a Cromoblastomicose, apresentam uma estrutura
típica visualizada no exame direto: células escleróticas/ células muriformes/
corpos fumagóides. A visualização destas células escleróticas permite o
diagnóstico de Cromoblastomicose (mesmo sem se saber qual o agente
etiológico que está causando a infecção). As células muriformes são
visualizadas como estruturas castanhas, arredondadas, que podem estar ou não
acompanhadas de hifas (mais comum = não estarem acompanhadas de hifas).
Muitas vezes estas células são vistas realizando divisão binária.
312
Tratamento
O tratamento depende do estágio da doença. Normalmente realiza-se
excisão cirúrgica com margens amplas para garantir que o fungo foi eliminado
do tecido (tratamento de escolha para lesões iniciais). Em lesões inoperáveis,
realiza-se o uso de itraconazol.
A ocorrência de recidiva é comum.
313
3. Micetoma
É uma doença classificada pela OMS como negligenciada. Não é uma
doença exclusivamente fúngica, podendo ser causada por bactérias também. É
uma infecção subcutânea crônica induzida por inoculação traumática de várias
espécies saprofíticas de fungos (eumicetoma) ou actinomicetos (bactérias
filamentosas – actinomicetoma).
O micetoma é caracterizado clinicamente por três fatores: edema local
do tecido infectado com aparecimento de seios de drenagem que liberam
grânulos. Só é possível se saber a etiologia do micetoma (se é causado por
fungos ou bactérias) após o exame microbiológico
Os grânulos consistem em microcolônias do agente etiológico
mergulhadas em material histológico (tissular).
Diagnóstico
Os grânulos podem ser corados com calcofluor white, sendo possível se
observar uma grande quantidade de hifas curtas. Os grânulos também podem
ser corados com HE
Vários agentes etiológicos podem causar os micetomas, mas os mais
comuns são fungos do gênero Madurella.
Deve-se analisar tanto a parte de cima quanto a parte de trás da placa de
cultura.
Tratamento
O tratamento depende do agente etiológico. Em ambos os casos, deve-
se realizar o desbridamento ou excisão cirúrgica. A amputação é
frequentemente necessária.
O tratamento do eumicetoma é difícil, sendo normalmente realizados o
desbridamento ou excisão cirúrgica e a terapia antifúngica prolongada (a
duração média do tratamento é de 12 meses). O itraconazol é o fármaco mais
utilizado.
Esta infecção apresenta altas taxas de recorrência.
4. Lacaziose (Lobomicose)
É uma doença restrita à região amazônica. Também é conhecida como
lobomicose, ou doença de Jorge Lobo.
É causada por Lacazia loboi (este fungo já foi antigamente chamado do
Loboa loboi e de Paracoccidioides loboi).
Infecta humanos e golfinhos. Nunca foi cultivado in vitro (não se sabe
quais as necessidades deste microrganismo para se realizar a cultura).
Afeta indígenas, fazendeiros ou pessoas vivendo na floresta tropical.
315
Diagnóstico
Como não é possível se realizar a cultura, realiza-se o exame direto,
observando-se a presença de leveduras grandes por meio da microscopia
óptica. A coloração realizada é à base de prata ou realiza-se a clarificação com
KOH. Observa-se leveduras grandes e translúcidas, podendo aparecer de forma
concatenada, com brotos ou em aspecto de Mickey Mouse.
Tratamento
É pouco conhecido. É usualmente refratária à terapia antifúngica.
5. Feoifomicose
Diagnóstico
Podem ser observadas leveduras ou hifas demáceas nos tecidos. As hifas
podem estar distorcidas na amostra.
Pode-se realizar o cultivo da amostra para a identificação da espécie.
Também pode ser realizar o microcultivo.
Tratamento
Pode ser utilizado itraconazol ou flucitosina A Anfotericina B pode ser
utilizada em infecções sistêmicas. Em alguns casos, o tratamento pode ser
cirúrgico
317
6. Entomoftoromicose
São micoses raras. Os fungos que causam as entomoftoromicoses
pertencem a uma ordem que faz parte do grupo dos fungos Zigomicetos
(abrange as ordens Entomophtorales e Mucorales). São causadas por fungos
que são parasitas de insetos.
Costumam ser micoses subcutâneas ou mucocutâneas raras.
Dependendo dos gêneros que causam estas infecções, são divididas em:
• Conidiobolomicose
o São causadas por fungos do gênero Conidiobolus (espécie mais
importante: C. coronatus)
o Afetam principalmente a mucosa nasal, causando deformidades
nasais (tanto em humanos quanto em outros animais)
• Basidiobolomicose
o São causadas por fungos do gênero Basidiobolus (espécie mais
comum: B. ranarum)
o Afetam principalmente tecidos subcutâneos e músculos.
MICOSES SISTÊMICAS
Medusa - 86
MICOSES ENDÊMICAS
São limitadas a áreas específicas. Os fungos são termodimórficos:
crescem de forma filamentosa na temperatura ambiente, produzindo conídios.
Os conídios são inalados pelos seres humanos e passam a crescer na forma de
leveduras ou esférulas nos pulmões (onde encontram a temperatura de
aproximadamente 36-37ºC). Desta forma, as micoses endêmicas ocorrem
sempre após a inalação dos conídios, e a infecção começa sempre pelos
pulmões.
A maioria das infecções é assintomática ou apresenta sintomas
brandos (podendo ser confundida com uma virose), e resolvem-se sem
tratamento. 80-90% dos habitantes das áreas endêmicas de Histoplasmose
apresentam anticorpos contra os fungos, mas não desenvolveram a doença.
Apenas um pequeno número de indivíduos desenvolve infecções
pulmonares, as quais podem se disseminar para outros órgãos. Os homens são
mais afetados do que as mulheres.
319
COCCIDIOIDOMICOSE
É causada por Coccidioidis posadasii ou Coccidioides immitis. Estas
espécies são fenotipicamente indistinguíveis, só sendo possível diferenciá-las
por ferramentas moleculares.
Ocorre em regiões semiáridas, como no sudoeste dos EUA, na América
Central e na América do Sul (no Brasil: Nordeste).
A disseminação desta doença pelo organismo é rara, mas quando ocorre
é sempre grave e potencialmente fatal.
Ciclo biológico
Os artroconídios (hifa fragmentada) dos Coccidioidis se disseminam pelo
ambiente, podendo ser inalados pelo indivíduo. O artroconideo dos Coccidioidis
apresenta uma forma característica de barril. Após serem inalados, estes
artroconídeos chegam aos pulmões e se desenvolvem em esférulas cheias de
endósporos (não se transformam em leveduras, mas sim em esférulas!).
A esférula pode ser rompida, de modo que os endósporos são liberados
no tecido e podem dar origem a novas esférulas no órgão.
Diagnóstico
As amostras que podem ser utilizadas são escarro, exsudato de lesões
cutâneas, liquido cerebrospinal, sangue, urina e biópsia tecidual.
Na microscopia, procura-se formas arredondadas de parede grossa
(esférulas) e endósporos. As esférulas são as estruturas características que
definem o diagnóstico de Coccidioidomicose. Pode-se clarificar a amostra com
KOH ou corar com HE.
321
Tratamento
A anfotericina B é sempre uma boa opção para o tratamento de infecções
sistêmicas graves. Todavia, ela possui alta toxicidade renal. Há a opção de se
utilizar a anfotericina lipossomal, mas este é um medicamento muito mais caro.
Pode-se utilizar itraconazol também.
HISTOPLASMOSE
É causada pelo fungo Histoplasma capsulatum. Este fungo cresce como
bolor no solo enriquecido com excretas de galinhas, outras aves e
morcegos. Estão presentes principalmente em cavernas ou em locais em que
há excretas de aves.
Esta micose sistêmica ocorre no mundo todo. É a infecção fúngica
pulmonar mais prevalente nos seres humanos e animais.
322
Ciclo biológico
Morcegos e aves liberam suas escretas sobre o solo. Alguns esporos de
Histoplasma capsulatum podem vir a cair sobre este solo rico em fezes destes
animais, passando a se desenvolver e a desenvolver hifas. Este fungo produz
micro e macronídeos. Os macroconídeos são muito característicos, sendo
chamados de espiculados/mamilonados. Os conídeos são aerolizados, e os
microconídeos são os principais a serem inalados (devido ao seu tamanho).
Em seguida, estes conídeos se desenvolvem nos pulmões na forma de
pequenas leveduras, que são fagocitadas por macrófagos.
Patogênese
Também é um fungo termodimófico. Após a inalação dos conídios, eles
se desenvolvem em leveduras pequenas no interior dos pulmões dos seres
humanos. Estas leveduras são fagocitadas por macrófagos alveolares, e
passam a se multiplicar no interior destas células. Por estarem localizas no
interior de macrófagos, podem ser confundidas com as formas amastigotas de
protozoários ao se realizar a observação microscópica.
Após passarem a se localizar no interior dos macrófagos, as leveduras
podem se disseminar pelo organismo, atingindo tecidos reticuloendoteliais, como
fígado, baço, medula óssea e linfonodos.
Em mais de 95% dos casos, a resposta imunológica faz com que os
macrófagos inibam o crescimento intracelular das leveduras após fagocitá-las.
A grande maioria dos indivíduos infectados pelo Histoplasma capsulatum
é assintomática. Quando há a presença de sintomas, eles são autolimitados,
sendo semelhantes a uma gripe. A Histoplasmose disseminada grave ocorre
323
Diagnóstico
As amostras podem ser obtidas a partir de escarro, urina, raspados de
lesões superficiais, esfregaços sanguíneos, aspirado de medula óssea e células
do creme leucocitário
No exame microscópico, observa-se pequenas leveduras (2-4
micrometros) no interior de macrófagos. Podem ser observadas a partir de
esfregaços de sangue ou de MO.
Apesar de seu nome, é um fungo não capsulado. Há a presença de um
halo ao redor deste fungo, o qual se confunde com uma cápsula.
A cultura pode ser realizada em meios comuns, como o ágar Sabouraud.
O fungo é claro e apresenta aspecto algodonoso.
No microcultivo, observa-se a presença macroconídeos
espiculados/mamilonados.
324
Tratamento
É realizado principalmente por Anfotericina B. Pacientes HIV+ podem
sofrer recidivas.
BLASTOMICOSE
É causada pelo fungo Blastomyces dermatidis. Dentre as micoses
endêmicas, é a menos conhecida. Causa infecções granulomatosas que podem
se disseminar para outros órgãos, mas possuem especial predileção pela pele.
Diagnóstico
Podem ser utilizadas várias amostras, como escarro, pus, exsudatos,
urina e biópsia de lesões.
Ao se realizar a microscopia desta amostra, podem ser observadas
leveduras, que são bem grandes e apresentam uma parede espessa. Podem ser
observadas pela coloração de prata ou HE.
325
Tratamento
Pacientes com lesões confinadas devem fazer uso de Itraconazol (por 6
meses).
Casos graves são tratados com Anfotericina B
Epidemiologia
É uma infecção comum em cães. O B. dermatitidis raramente foi isolado
do ambiente (devido a isso, não se sabe muito sobre o seu habitat, sua
prevalência e sua distribuição)
PARACOCCIDIOIDOMICOSE
É a micose endêmica mais comum no Brasil. É causada principalmente
pelo Paracoccidioides brasiliensis. Limita-se à América Central e do Sul,
sendo a micose sistêmica mais comum destes locais.
Há a existência de teste intradérmico para se detectar a prevalência desta
infecção.
A maioria dos pacientes tem de 30-60 anos, e 90% deles são homens.
O exame direto pode ser corado com azul de algodão. Ao se realizar esta
coloração, é possível se observar um fungo sem capsula e com membrana
celular birrefringente.
O P. brasiliensis possui aspecto muito semelhante ao da Lacazia.
Ao se realizar a cultura deste fungo, é possível se observar uma colônia
filamentosa, branca (visto que é um fungo hialino) e com centro ceribriforme e
rachado. Além disso, esta cultura apresenta também o reverso de coloração
castanha. Alguns autores assemelham a colônia de P. brasiliensis a uma pipoca
estourada (devido à sua parte central ser rachada).
Tratamento
A Anfotericina B deve ser usada em casos mais graves da doença. O
Itraconazol também pode ser utilizado.
Epidemiologia
O fungo está presente principalmente em regiões com alto índice
pluviométrico (ex.: áreas de cultivo de café). O tatu também é um reservatório de
P. brasiliensis.
MICOSES OPORTUNISTAS
Algumas das espécies de fungos responsáveis por causar as micoses
oportunistas fazem parte da micobiota normal do ser humano, e outras são
causadas por fungos ambientais. Estes fungos normalmente não causam
doenças em indivíduos imunocompetentes.
CANDIDÍASE
A candidíase é uma doença causada por leveduras do gênero Candida,
fungos que fazem parte da micobiota normal do ser humano. Apesar de haver
um grande número de espécies de fungos do gênero Candida, apenas um
pequeno número delas causa doenças em seres humanos. A principal espécie
patogênica é a Candida albicans É a micose sistêmica mais comum.
As espécies de Candida vêm apresentando uma resistência crescente
aos azóis (sobretudo ao fluconazol – o antifúngico mais utilizado na prática
clínica (ex.: é utilizado de forma profilática em indivíduos transplantados)). A
presença destes mecanismos de resistência causa a seleção de fungos
resistentes a estes fármacos.
328
• C. albicans
• C. parapsilosis
• C. krusei: é intrinsicamente resistente ao fluconazol
• C. tropicalis
• C. glabrata
• C. dubliniensis
Atualmente, sabe-se que há mais do que 20 espécies patogênicas de
Candida causando infecções em humanos (as quais possuem perfis de
sensibilidade diferentes). Ao longo dos anos, vem ocorrendo uma diminuição dos
casos de candidíases causados por C. albicans e um aumento os casos de
candidíases causadas por espécies de Candida não albicans (ex.: C. krusei, C.
parapsilosis, etc).
Patogênese e patogenia
Tratamento
O aumento dos casos de candidíase relacionados a Candidas não
albicans influencia no tratamento do paciente (visto que cada espécie apresenta
diferentes perfis de sensibilidade).
CRIPTOCOCOSE
A criptococose é uma doença causada princpalmente por 2 espécies de
fungos: Cryptococcus neoformans (mais comum em indivíduos
imunossuprimidos) e C. gattii (mais comum em indivíduos imunocompetentes).
329
Contaminação
Este fungo está presente no intestino de aves. A transmissão ocorre
quando as aves (principalmente pombos) eliminam as leveduras do Cyptococcus
juntamente às suas fezes. No ambiente, este material (fezes) se desidrata e as
leveduras são desidratadas e aerolizadas. Um indivíduo pode inalar esta
levedura dessecada (que apesar de estar desidratada, está viável). Em seguida,
esta levedura passa a se proliferar nos pulmões do indivíduo.
Epidemiologia
É uma doença com alto índice de mortalidade. A maioria dos casos de
óbito ocorre na África (visto que no continente africano está localizada a maior
população positiva para a contaminação pelo HIV)
330
Diagnóstico
Como a levedura é encapsulada, pode-se realizar exame direto com
tinta nanquim. A presença da cápsula faz com que o corante não penetre no
interior da levedura, de modo que todo o fundo da amostra fica preto e as
leveduras ficam claras. Quanto maior a cápsula desenvolvida, mais virulenta a
cepa do Cryptococcus (visto que torna mais difícil a eliminação desta levedura
pelas células do sistema imune).
HIALOIFOMICOSES
O tempo “hialoifomicoses” consiste em um termo genérico utilizado na
falta de um termo mais específico para se descrever uma infecção oportunista
causada por fungos hialinos em um hospedeiro imunocomprometido.
Qualquer fungo hialino pode causar uma hialoifomicose, de modo que a
presença de fibras septadas e hialinas na microscopia identifica uma
hialoifomicose. Se for possível de se identificar a espécie do fungo em questão,
o laudo deve ser liberado com o nome do fungo em específico, e não com este
termo genético.
Um exemplo de agente etiológico das Hialoifomicoses é o Apergillus
fumigatis. Se for possível se identificar a presença deste fungo na amostra, o
laudo deve ser liberado como Aspergilose, e não como Hialoifomicose. A
aspergilose é a mais importante das hialoifomicoses.
Diagnostico
Observa-se no exame direto a presença de fibras septadas e hialinas, as
quais podem apresentar ramificações.
331
Patogenia
Os principais gêneros causadores destas micoses são Rhizopus, Mucor,
Absidia e Cunninghamella.
As formas das zigomicoses são:
• Rino-orbito-cerebral
• Pulmonar
• Gastrointestinal
• Cutânea
• Amplamente disseminada: possuem alta capacidade de invadir os vasos
sanguíneos. Crescem rapidamente e podem provocar tromboses.
• Infecção diversa
332
Transmissão
O contágio das zigomicoses sistêmicas se dá por meio da inalação de
esporangiósporos ou pela inoculação dos fungos em feridas.
Diagnóstico
Nos exames diretos, observa-se a presença de fibras espessas
asseptadas.
Formas
As duas formas que estes fungos apresentam são (estão relacionadas
aos estudos antigos que os classificavam como protozoários):
333
Diagnóstico
O Pneumocystis jiroveci não é cultivável. Devido a isso, o seu
diagnóstico é baseado em técnicas moleculares e no exame direto (a partir de
amostras como lavado brônquio-alveolar, biópsias, escarro, etc)
Pode-se observar a presença de cistos nos exames de microscopia. Na
imagem abaixo, observa-se a presença de cistos em uma biópsia de pulmão
corada pela coloração de Gomori (corada pela prata).
334
Limites de resolução:
• Olho humano: até 200 micrômetros.
• Microscópio de luz: até 100-200 nanômetros. O vírus da varíola (300 nm)
pode ser visualizado na MO.
• Microscópio eletrônico: o tamanho da maioria dos vírus está abaixo de
100 nanômetros, só sendo vistos no ME.
Saber o tamanho dos microrganismos é importante para a realização de
filtros. Para se isolar determinados vírus de uma amostra clínica, pode-se
realizar a filtração desta amostra. Devem ser utilizados poros com diâmetros
capazes de reter as bactérias e permitir a filtração dos vírus, de modo que
apenas os vírus fiquem localizados no filtrado. Em seguida, este filtrado pode ser
semeado sobre uma cultura de células.
por bactérias, e para comprovar a sua hipótese, ele pegou uma folha doente,
retirou o seu estrato e o filtrou por um filtro de Chamberland.
O pesquisador acreditava que se a doença fosse causada por bactérias,
as bactérias ficariam retidas no filtro após a filtração realizada, de modo que não
haveria o desenvolvimento da doença se este filtrado fosse aplicado sobre uma
planta sadia. Todavia, ao se realizar esta ação, houve o desenvolvimento da
doença na planta sadia. A partir de então, Dimitry Ivanovsky começou a imaginar
que havia algo menor do que as bactérias com capacidade de causar doença.
Estas substâncias capazes de causar doença forma nomeadas vírus (que, no
latim, quer dizer “veneno”).
Apesar da ter realizado a criação do termo e de ter sido o primeiro
indivíduo a falar sobre um microrganismo menor do que as bactérias causando
doenças, este pesquisador nunca chegou a ver um vírus.
ESPECTRO DE HOSPEDEIROS
Os vírus são capazes de infectar todos os organismos, como humanos,
animais, plantas, bactérias, fungos e protozoários.
Os vírus não estão incluídos em nenhum dos 5 reinos.
Sufixos:
• Gêneros: “vírus”
• Famílias: “viridae”
• Ordem: “ales”
• Espécies: são nomes descritivos vulgares (não seguem a nomenclatura
cientifica). Exemplos:
o Vírus da imunodeficiência humana (HIV)
o Dengue vírus
• Subespécies: designadas por números. Exemplos:
o Dengue vírus 1
o HIV 2
340
Animais vivos
São utilizados apenas em último caso. A utilização do cultivo de vírus em
animais vivos permite se realizar o estudo de características da resposta imune
frente à presença do vírus.
Há alguns vírus que não crescem nem em cultura de células nem em ovos
embrionados, precisando ser sempre cultivados em animais vivos.
Ovo embrionado
O sistema do ovo embrionado abarca a presença de diferentes tipos de
células, de modo que diferentes tipos de vírus possam ser multiplicados em seu
interior (visto que os vírus apresentam diferentes tropismos). Os vírus
pantrópicos são tipos de vírus que infectam vários tipos diferentes de células. Os
ovos utilizados devem ser livres de patógenos (SPF). Os ovos também podem
ser utilizados para a produção de vacinas (devido a isso, indivíduos alérgicos a
proteínas presentes no ovo não podem ser vacinados com determinadas
vacinas).
341
Cultura de tecidos
A cultura de tecidos é o sistema mais utilizado para o cultivo de vírus
atualmente. Para se identificar a presença de vírus na cultura observa-se o efeito
citopático: observa-se a presença de alterações morfológicas visíveis na
monocamada de células presente na cultura. O aspecto observado na cultura de
células depende do vírus analisado e do tipo de células presentes na cultura (ex.:
alguns vírus lisam as células, outros induzem a formação de sincícios, outros
induzem a formação de vacúolos, etc).
Para se realizar uma cultura de células, insere-se as células a serem
analisadas em um meio de cultura adequado, o qual permita a proliferação
destas células. Após isso, é formado uma espécie de tapete de células no fundo
da placa, o qual é normalmente é composto por uma monocamada de células.
Se a cultura utilizar células normais (que apresentam todos os mecanismos de
controle de proliferação), é formada uma monocamada, visto que estas células
param de se multiplicar quando se encostam em outra (são reguladas pelo
mecanismo de inibição por contato). Todavia, se forem utilizadas células
tumorais (que não apresentam mais o mecanismo de inibição por contato),
ocorrerá um crescimento mais intenso e a formação de mais do que uma camada
de células na placa.
Nas imagens abaixo, observa-se o efeito citopático sobre fibroblastos
(observa-se a alteração na morfologia destas células). A primeira imagem mostra
o aspecto normal dos fibroblastos, e a segunda imagem mostra estas células
infectadas.
Algumas das células que podem ser utilizadas para se fazer a cultura são
células B95a e células VERO (rim de macaco verde africano).
QUANTIFICAÇÃO
Para se realizar a quantificação dos vírus presentes em uma amostra, são
realizadas várias diluições desta amostra, e em segu ida realiza-se uma cultura
em um meio contendo células. Se houver a presença dos vírus na amostra, serão
formadas placas de lise (regiões em que as células sofreram lise devido à
infecção pelos vírus).
342
Cada placa de lise observada é gerada por apenas 1 vírion: este vírion
infecta uma primeira célula, causando a sua lise. Como consequência, são
liberados novos vírions ao seu redor, os quais infectam células adjacentes
(causando a lise destas últimas e levando à formação de uma região com
ausência de células – que é a placa).
Utiliza-se o termo “unidade formadora de placa” para realizar a
quantificação dos vírus (é utilizado de maneira semelhante ao termo “unidade
formadora de colônia” utilizado para quantificar culturas de bactérias).
343
MULTIPLICAÇÃO VIRAL
Medusa - 86
Ciclo lítico
No ciclo lítico o vírus se multiplica, produz partículas virais e causa a
lise das células infectadas, para que assim estas partículas possam ser
liberadas.
344
Ciclo lisogênico
No ciclo lisogênico há a multiplicação do vírus sem a produção de
partículas virias. Neste ciclo, a célula hospedeira permanece viva. O material
genético do vírus se junta ao genoma da célula, de modo que toda vez que a
célula se multiplica, ocorre a multiplicação do material genético viral também.
As duas primeiras etapas do ciclo lisogênico são idênticas às do ciclo
lítico: o bacteriófago adsorve e penetra. Em seguida, há a expressão de
proteínas regulatórias que reprimem a expressão das moléculas de RNAm
responsáveis por sintetizar as proteínas que compõem a partícula viral (ocorre
uma repressão da etapa de biossíntese). Não é necessário se sintetizar estas
proteínas nesta etapa do ciclo lisogênico, visto que não serão formadas novas
partículas virais no momento.
Após isso, o material genético do vírus se liga ao genoma da bactéria,
formando um prófago (termo que designa o vírus integrado ao genoma da
bactéria).
Em seguida, as bactérias se multiplicam, fazendo com que o material
genético viral se multiplique junto (e sem produzir partículas virais). As bactérias
com vírus são chamadas de bactérias lisogenizidas.
Frente a alguns estímulos (ex.: substancias químicas e radiação UV),
pode ocorrer separação do genoma do vírus do genoma da bactéria, de
modo que o vírus possa entrar no ciclo lítico. No meio de cultura, esta mudança
346
HIV
No caso do HIV, as glicoproteínas que realizam a adsorção são a gp120
e a gp41, que estão presentes no envelope viral. O HIV entra na célula por meio
da fusão do seu envelope com a membrana plasmática (não é endocitado).
349
Influenza
O vírus influenza é um vírus envelopado. Para entrar no interior das
células, este vírus é endocitado. Ele também brota da célula após ser formado
(não é um vírus lítico).
350
VACINAS VIRAIS
Podem ser obtidas a partir de:
• Vírus vivos atenuados: a atenuação é obtida por meio de passagens do
vírus por meio de sistemas de células/ovo embrionado, até que sejam
selecionados vírus que perderam a característica de virulência. Esta
perda da virulência ocorre pois os vírus são passados por sistemas de
células livres de fatores promotores de pressão seletiva. Com isso, o vírus
vai perdendo os genes de virulência, visto que passa a predominar
linhagens que direcionam a sua energia para a replicação, e não para a
produção de fatores de virulência.
o Ex.: vacinas para caxumba, sarampo, rubéola, febre amarela,
poliomielite (vacina oral), etc.
o Estas vacinas não podem ser administradas em imunossuprimidos
ou gestantes, visto que ela pode causar doença nestes indivíduos
• Vírus inativados
o Ex. vacinas para raiva e hepatite A
o Não são capazes de causar a doença em nenhuma circunstância
o CoronaVac: é uma das vacinas desenvolvidas para o SARS-CoV-
2. As partículas virais são cultivadas em culturas de células VERO,
e em seguida são inativadas e administradas na vacina.
FÁRMACOS ANTIVIRAIS
MECANISMO DE AÇÃO
É muito difícil se desenvolver medicamentos con tra vírus, visto que estes
patógenos ficam no interior das células do indivíduo e utilizam o metabolismo da
célula do hospedeiro para se multiplicar. Não existem antivirais com amplo
espectro de ação.
Os requisitos para que um antiviral seja eficiente são:
• O processo alvo deve ser essencial para a replicação do vírus (inibir algo
importante)
• O agente terapêutico deve ser ativo contra o vírus e ter toxicidade
aceitável para o organismo hospedeiro.
Desnudamento
Alguns fármacos que atuam sobre o processo de desnudamento são a
Amantadina e a Rimantadina. Estes fármacos atuam contra o vírus Influenza
A, mas não são utilizados atualmente, visto que foram desenvolvidas linhagens
resistentes a estes medicamentos.
Estes fármacos bloqueiam o canal de íons M2 presente na membrana
dos vírus Influenza. Este canal é responsável por possibilitar a passagem de íons
357
H+ pelo envelope do vírus, os quais são necessários para que ocorra o processo
de desnudamento. Com o bloqueio, não há a entrada destes íons, de modo que
não é possível ocorrer o processo de desnudamento (e assim o vírus não é
capaz de realizar a sua multiplicação)
.
• Inibidores de RNA polimerase-RNA dependente: são utilizados apenas
em vírus que contenham RNA. Estes medicamentos possuem alta
toxicidade seletiva, visto que atuam sobre uma enzima viral.
o Remdesivir: é um medicamento utilizado no tratamento do Ebola.
Montagem/liberação:
Alguns dos medicamentos que atuam nesta fase são medicamentos
utilizados no tratamento da Influenza: Zanamivir (Relenza) e Oseltamivir
(Tamiflu). Estes medicamentos são muito efetivos.
Estes medicamentos funcionam como inibidores de neuraminidase. A
neuraminidase e a hemaglutinina são proteínas presentes no envelope viral
do vírus Influenza, e são as responsáveis por definir os diferentes tipos de
Influenza (ex.: H1N1, H2N5, etc). Estas proteínas também são importantes na
saída do vírus da célula hospedeira: quando o vírus está brotando a partir da
membrana plasmática da célula, ele não é liberado imediatamente, visto que
após brotar ele fica aderido à membrana por meio de uma ligação da
hemaglutinina a um receptor da célula. Para que ocorra a liberação do vírus, a
neuraminidase presente no envelope viral atua quebrando esta ligação, e
promovendo assim a liberação do vírus no meio.
360
Estes medicamentos devem ser tomados bem no inicio dos sintomas (24-
48h depois dos primeiros sintomas).
TRANSMISSÂO VERTICAL
As consequências da transmissão vertical de infecções virais podem ser:
FORMAS DE TRANSMISSÃO
• Rota aérea: ocorre principalmente por meio do espirro, mas também pode
ocorrer por meio de tossidos ou de gotículas de saliva liberadas durante
a fala
• Rota fecal-oral: a disseminação dos patógenos que causam infecções por
meio da rota-fecal oral ocorre principalmente devido às seguintes
situações:
o Manipulação inadequada de alimentos
o Destino inadequado de dejetos
• Transmissão sexual
• Transmissão direta
o Ex.: contato com animais
• Por meio de vetores (mosquitos, cães, morcegos, etc)
TROPISMO
O tropismo consiste na predileção do vírus para infectar certos tecidos
do hospedeiro e não outros. Alguns possuem tropismo estreito e outros
possuem tropismo amplo
Os padrões de infecção são definidos pelo tropismo viral (ex.: vírus
enterotrópico, neurotrópico, pantrópico (tropismo amplo), etc.).
O tropismo é determinado pela susceptibilidade (é determinada pela
presença de receptores celulares aos quais o vírus pode se ligar) e pela
permissividade (presença de constituintes no interior da célula do hospedeiro
que são essenciais para a síntese viral – ex.: o vírus pode precisar de algum
elemento que está presente em determinado tipo celular e que não está presente
em outro).
PERÍODO DE INCUBAÇÃO
É muito variável. Alguns vírus possuem período de incubação de anos.
RECUPERAÇÃO DA INFECÇÃO
Infecções agudas:
As infecções agudas são infecções restritas. Ao longo de um curto
período de tempo, há a contaminação, seguida pelo aumento da carga viral, até
chegar ao momento em que os sintomas começam a aparecer. O momento em
que os sintomas aparecem normalmente coincide com o ápice da carga viral,
sendo este o momento de maior disseminação a outros indivíduos.
Normalmente os mecanismos da resposta imune são capazes de
combater a infecção viral, produzindo anticorpos neutralizantes. Desta
forma, vai ocorrendo a redução da carga viral e a remissão dos sintomas. Após
a resolução da infecção, permanece no organismo a memória imunológica.
367
Infecções persistentes:
As infecções persistentes não são infecções restritas a um período de
tempo, mas sim infecções que não são resolvidas e continuam no organismo
do indivíduo por longos períodos de tempo.
As infecções persistentes são divididas em infecções crônicas e infecções
latentes.
Infecções crônicas:
Neste tipo de infecção persistente, o vírus continua a se replicar, de
modo que há uma produção contínua de partículas virais. A infecção inicial
pode ou não causar sintomas, sendo seguida por um período de ausência de
sintomas, no qual o vírus estabelece uma infecção crônica (a qual pode perdurar
por anos). Pode ser que depois de um período de tempo o vírus passe a causar
complicações, levando ao aparecimento de novos sin tomas após meses/anos
dos sintomas iniciais. Estas complicações normalmente são decorrentes do dano
crônico causado aos tecidos por esta presença prolongada dos vírus no
organismo. Em alguns casos, as infecções crônicas podem até mesmo evoluir
para o desenvolvimento de tumores.
O vírus pode se disseminar pelo organismo durante as infecções crônicas.
Infecções latentes:
Nas infecções latentes a produção de partículas virais não é contínua
(como nas infecções crônicas), ocorrendo apenas de forma periódica ou
368
Parvovírus B19
São vírus não envelopados com DNA fita simples. São muito importantes
na veterinária. O parvovírus que mais frequentemente causa infecções em
humanos é o B19, o qual causa uma doença exantemática, o eritema
371
Não há medicamentos que tratem este quadro nem vacinas que podem
preveni-lo. O próprio sistema imune da criança é capaz de eliminar a infecção
(segue modelo de infecção aguda). É uma doença benigna e de fácil transmissão
(ocorre por meio de secreções das vias respiratórias).
Molusco contagioso
O vírus pertencente à família Poxvírus que mais causa infecções
atualmente é o que causa o Molusco Contagioso. O molusco contagioso causa
lesões epidérmicas salientes (pápulas), as quais muitas vezes são
confundidas com verrugas vulgares.
Este vírus só ocorre em humanos, e infecta principalmente crianças. A
transmissão ocorre por meio do contato direto ou por meio de fômites. Também
pode acometer adultos, sendo neste caso transmitida por meio da via sexual.
Monkeypox e cowpox
Os vírus que causam a Monkeypox e a Cowpox são vírus que circulam
em animais (macacos e bovinos, respectivamente), mas que podem causar
infecções em humanos também. O monkeypox ocorre principalmente na África,
e o cowpox pode acontecer no Brasil. Estes vírus causam erupções cutâneas
muito semelhantes às da varíola. As lesões do cowpox são mais localizadas,
ocorrendo no local em que o indivíduo entrou em contato com o gado
373
Citomegalovírus (HHV-5)
São os agentes mais comuns de infecções congênitas, sendo o vírus
mais associado à indução de defeitos congênitos e retardamento mental.
A transmissão deste vírus ocorre por meio da saliva, secreções
respiratórias, urina e leite materno. Também pode ocorrer transmissão
congênita.
377
HHV-6 e HHV-7
Também são vírus adquiridos principalmente na infância. Estes vírus
apresentam tropismo por linfócitos T. Também estão associados a doenças
exantemáticas, provocando o exantema súbito (chamado também de roséola
do lacternte), caracterizado pelo aparecimento súbito de manchas pelo corpo do
indivíduo
.
A transmissão se dá por meio de secreções da via oral.
É muito difícil se diferenciar as doenças exantemáticas apenas pelo
aspecto clínico. Todavia, esta diferenciação não é tão necessária para o
tratamento, visto que normalmente estas condições ou se resolvem sozinhas ou
são tratadas pelos mesmos fármacos.
O quadro de exantema súbito é mais causado pelo HHV-6 do que pelo
HHV-7.
HHV-8
O Herpesvírus do tipo 8 está associado ao sarcoma de Kaposi, um tumor
vascular comum em pacientes HIV+. Este vírus inibe proteínas celulares que têm
a função de impedir a proliferação celular (ex,: p53, proteína pRb, etc): induzem
a produção de um análogo de ciclina, causando uma superexpressão de ciclinas,
as quais fazem com que a célula dê segmento ao seu processo de replicação
A transmissão deste vírus se dá por meio de secreções orais.
378
FAMÍLIA HEPADNAVIRIDAE
O nome desta família ocorre pois são vírus (viridae) que possuem
tropismo por células hepáticas (Hepa) e possuem DNA (dna) = hepadnaviridae
Hepatite B
O vírus da hepatite B apresenta três formas morfológicas distintas:
uma mais alongada, uma esférica menor e uma esférica maior. Apenas a
esférica maior (chamada de partícula de Dane) é um vírion, de modo que as
outras duas são partículas virais não infectantes.
FAMÍLIA ADENOVIRUS
Consistem em vírus de DNA não envelopado. Estes vírus são muito
estáveis, de modo que podem permanecer no ambiente por períodos mais
longos sem perder a sua capacidade de infecção.
379
PAPILOMAVÍRUS HUMANO
Há mais de 100 diferentes tipos de HPV, os quais são classificados por
números (HPV-1, HPV-3, etc).
Estes vírus causam infecções persistentes e tumores epiteliais
benignos (verrugas), as quais regridem espontaneamente. Alguns tipos de HPV
possuem potencial oncogênico, podendo causar tumores malignos (HPV 16,
18, 31 e 33).
A transmissão ocorre por meio do contato direto ou do contato com
fômites contaminados. Há vacinas para a infecção pelo HPV, as quais devem
ser aplicadas aos indivíduos antes de se tornarem sexualmente ativos. A vacina
utilizada no Brasil é tetravalente, contendo proteínas do HPV-16, HPV-18
(carcinogênicos), HPV-6 e HPV-11 (relacionados a verrugas genitais) – desta
forma, mesmo um indivíduo vacinado pode desenvolver o HPV e tumores se for
infectado pelo HPV-31 ou pelo HPV-33.
Este vírus não causa infecções sistêmicas: replica-se apenas no sítio
de porta de entrada da infecção.
No caso das verrugas vulgares (benignas), o indivíduo pode disseminá-
las ao ir coçando estas lesões. Apesar de ocorrer a resolução espontânea neste
caso, se a doença começar a se espalhar muito pode-se realizar uma
intervenção terapêutica (a partir de ácidos).
380
Paramixovírus
Sarampo
O sarampo é um vírus que causa doenças exantemáticas, marcada por
lesões eritematosas pelo corpo (na forma de manchas). Há apenas um tipo
383
sorológico deste vírus (o que explica porque há apenas uma vacina para o
sarampo e porque ela é eficiente até hoje).
Caxumba
Também apresenta apenas um tipo sorológico. Infecta apenas humanos
e transmissão se dá pela via respiratória.
Este é um vírus que possui tropismo por glândulas: após instalado, este
vírus localiza-se principalmente na parótida. Pode se localizar também nos
testículos, próstata, ovário, fígado, tireoide e baço. Normalmente causa uma
infecção é benigna, mas em raros casos pode levar à esterilidade se acomete
as gônadas.
Também há vacinas contra este vírus.
Rabdovírus – Raiva
A transmissão do vírus da raiva ocorre por meio da mordida de animais
como cachorros e morcegos, mas também pode ocorrer por meio de lambidas
ou arranhados provocados por estes animais. Normalmente é uma virose letal.
Também há uma vacina eficiente contra este vírus, e é importante
vacinar-se os animais de estimação.
384
Flavivírus
Hepatite C
A transmissão deste vírus ocorre por via parenteral, como através do
compartilhamento de seringas ou de transfusões. Também podem ser
transmitidos por via sexual, mas é menos comum. Estabelecem infecções
crônicas.
Não existe vacina contra Hepatite C, visto que há a presença de muitos
subtipos e os componentes deste vírus não estimulam a resposta imune
eficientemente.
Febre amarela
Pode ser transmitido pelo Aedes aegypti (no ciclo urbano) e por mosquitos
do gênero Haemagoggus (no ciclo silvestre). Os casos leves de febre amarela
apresentam sintomas como febre, dor de cabeça, náuseas e vômitos. Os casos
graves podem causar doenças cardíacas, hepáticas e renais fatais.
Também há vacinas para a febre amarela.
Dengue
Há vacinas contra o vírus da dengue, as quais não devem ser
administradas a indivíduos soronegativos. Deve-se restringir o uso destas
vacinas a indivíduos soropositivos que moram em áreas endêmicas.
Observou-se que as pessoas soronegativas que foram vacinadas apresentaram
chances muito maiores de desenvolver quadros de dengue hemorrágica quando
expostas naturalmente ao vírus. Este vírus apresenta 4 sorotipos.
Zika vírus
Pode ser transmitido pela picada de mosquito, por meio de transmissão
vertical ou por meio de relação sexual (contato com sêmen e fluidos vaginais).
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Togavírus - Rubéola
A rubéola pós-natal é uma doença benigna transmitida pelas vias
respiratórias superiores. A rubéola congênita, por sua vez, é uma doença grave
(causa má-formações e aborto), sendo transmitida por via transplacentária.
É uma doença exantemática, causando como principal sintoma manchas
pelo corpo.
Coronavírus – CoV
São vírus normalmente associados a resfriados: 5 a 10% de todos os
resfriados são causados por coronavírus. Estes vírus tendem a ser altamente
espécie-específicos, mas em alguns casos estes vírus conseguem circular entre
as espécies (como ocorreu tanto com o SARS-CoV-1 quanto com o SARS-CoV-
2). SARS = Síndrome respiratória aguda severa.
Hepatite A
Faz parte da família dos Picornavírus (vírus pequenos, não envelopados
e estáveis). É a principal causa de hepatite no mundo.
Este vírus é transmitido por meio da via fecal-oral (pela ingestão de água
ou alimentos contaminados – principalmente moluscos, crustáceos e outros
alimentos ingeridos de maneira crua). Também pode ser transmitido por via
sexual.
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Poliomielite
Também é um vírus transmitido pela via fecal-oral. Também há vacina
disponível para este vírus.
O principal sintoma da infecção pelo pólio vírus é a paralisia muscular,
que pode ser fatal.
Norovírus
É a principal causa de gastroenterites virais no mundo. Causa quadro
de vômito e diarreia que possui evolução benigna. Causa uma doença branda,
autolimitada, e com duração dos sintomas de 12-60 horas (em um indivíduo
imunocompetente).
São transmitidos através da ingestão de alimentos.