Microbiologia Topico 1

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 20

TÓPICO 1 UNIDADE 1

BACTÉRIAS

1 INTRODUÇÃO

O tema geral da disciplina são as relações entre os microrganismos e os hospedeiros. Essas


relações, e nossa vida, não envolvem apenas os efeitos prejudiciais

de certos microrganismos, como doenças e deterioração dos alimentos, mas também seus
variados efeitos benéficos. Nesta unidade, prezado acadêmico, estudaremos os organismos
visíveis apenas através do microscópio que são as bactérias.

A microbiologia é a ciência que estuda os microrganismos – um grande e

diverso grupo de organismos microscópicos que existem em células isoladas ou

em aglomerados – o qual inclui os vírus que são microscópicos, mas não células

(BROOKS et al., 2014). A microbiologia estuda as bactérias, os fungos (leveduras e

fungos filamentosos), protozoários, algas microscópicas e os vírus.

FIGURA 1 – GRUPOS DE MICRORGANISMOS DE ESTUDO DA MICROBIOLOGIA

FONTE: Tortora, Funke e Case (2017, p. 5)

A nossa tendência é associar esses pequenos organismos apenas a doenças

ou aos transtornos comuns, como alimentos deteriorados. No entanto, a maioria

dos microrganismos, na verdade, auxilia na manutenção do equilíbrio da vida no

nosso meio ambiente. Constituem a base da cadeia alimentar em oceanos, lagos e

rios; auxiliam na degradação de resíduos e na incorporação do gás nitrogênio do

ar em compostos orgânicos; apresentam um papel fundamental na fotossíntese;

na digestão e a síntese de vitaminas, incluindo algumas vitaminas do complexo B,

para o metabolismo, e a vitamina K, para a coagulação do sangue. Também possuem muitas


aplicações comerciais: síntese de produtos químicos, como vitaminas,

UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DE MICROBIOLOGIA

ácidos orgânicos, enzimas, álcoois e muitos fármacos; na indústria alimentícia: e na

produção, por exemplo, de vinagre, chucrute, picles, molho de soja, queijo, iogurte,

pão e bebidas alcoólicas (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).


Teremos uma ideia de como nossos conceitos atuais sobre microbiologia

se desenvolveram observando alguns dos marcos históricos da microbiologia que

modificaram as nossas vidas.

2 HISTÓRICO

A microbiologia teve início quando o inglês Robert Hooke em 1665 observou em microscópio
uma amostra de tecido vegetal, identificando pequenas

caixas em sua composição, as quais passou denominar de células. Com essa descoberta, deu-
se início a teoria de que todos os seres vivos eram formados por

células, apesar de que Hooke não havia ainda observado microrganismos vivos

(TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

O comerciante holandês e cientista amador Anton van Leeuwenhoek foi

provavelmente o primeiro a observar microrganismos vivos através das lentes de

aumento dos mais de 400 microscópios que ele construiu. Entre 1673 e 1723, van

Leeuwenhoek escreveu sobre os “animáculos” que visualizou através de seus microscópios


simples de lente única (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

A descoberta de Leeuwenhoek despertou o interesse de muitos cientistas

sobre a origem desses pequenos organismos e alguns acreditavam que eles surgiam
espontaneamente a partir de matérias mortas (teoria da geração espontânea

ou abiogênese). Após vários experimentos de diferentes autores como Franesco Redi, John
Needham, Lazzaro Spallanzani e Rudolf Virchow, em 1861, Louis

Pasteur demostrou que os microrganismos estão em todos os lugares e ofereceu

provas para a teoria da biogênese (ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2012).

Quem descobriu os microrganismos? Antony Van Leuwenhoek (1632 – 1723)

era um homem comum que tinha como hobby polir lentes de vidro e as colocava entre

finas placas de bronze ou prata para inspecionar fibras e tecelagem de roupas. Usando

seu precário microscópio, observava águas de rios, infusões de pimenta, saliva, fezes etc.

IMPORTANTE

TÓPICO 1 | BACTÉRIAS

5
O período entre 1857 a 1914 foi apropriadamente chamado de a Idade de

Ouro da Microbiologia. Período importante na história da Microbiologia, no qual

se consolidou como ciência. No período, tivemos descobertas de agentes responsáveis por


doenças, sobre o sistema imunológico, assepsia, além do surgimento

de técnicas de estudo como colorações para facilitar a visualização dos microrganismos, meios
de cultura, fermentação e pasteurização, entre outros.

FIGURA 2 – FATOS HISTÓRICOS MAIS IMPORTANTES NA MICROBIOLOGIA

FONTE: Tortora, Funke e Case (2017, p. 9)

3 CAPACIDADE DE VISUALIZAÇÃO DOS MICRORGANISMOS

Caro acadêmico, os microrganismos são pequenos demais para serem

vistos a olho nu, devendo ser observados ao microscópio. Os microbiologistas

modernos utilizam microscópios que produzem, com grande clareza, ampliações

que são de dez a milhares de vezes maiores do que a da lente única de van Leeuwenhoek
(TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

Alguns microrganismos são visualizados mais rapidamente do que outros, devido ao seu
tamanho maior ou as características facilmente observáveis.

Muitos microrganismos, entretanto, devem ser submetidos a vários procedimentos de


coloração até que suas paredes celulares, cápsulas e outras estruturas percam seu estado
natural incolor (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

Levando em consideração o fato de que os microrganismos são tão pequenos a ponto de sua
observação a olho nu ser impossível, como medi-los?

UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DE MICROBIOLOGIA

Quando medimos os microrganismos, utilizamos o sistema métrico. A

principal vantagem do sistema métrico consiste no fato das unidades relacionarem-se umas
com as outras por fatores de 10. Assim, 1 metro (m) é igual a 10 decímetros (dm) ou a 100
centímetros (cm) ou a 1.000 milímetros (mm). Os microrganismos são medidos em unidades
menores, como micrômetros e nanômetros.

Um micrômetro (µm) é igual a 0,000001 m (10-6 m). O prefixo micro indica que a

unidade seguinte deve ser dividida por 1 milhão ou 106

. Um nanômetro (nm) é
igual a 0,000000001 m (10-9 m) (ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK, 2012; TORTORA; FUNKE;
CASE, 2017).

FIGURA 3 – REPRESENTAÇÕES DE UNIDADES MÉTRICAS DE MEDIDAS E NÚMEROS

FONTE: Engelkirk e Duben-Engelkirk (2012, p. 13)

Se a cabeça de um alfinete tivesse 1 mm (1.000 µm) de diâmetro, seriam

necessários 1.000 cocos (forma celular bacteriana) dispostos um ao lado do outro

para ocupação do espaço. A maioria dos vírus que causam doenças nos seres humanos varia
de tamanho, cerca de 10 a 300 nm, embora alguns (p. ex., vírus Ebola,

causador de febre hemorrágica) possam ter 1.000 nm (1 µm) de comprimento. Alguns


protozoários grandes podem alcançar o comprimento de 2.000 µm (2 mm).

TÓPICO 1 | BACTÉRIAS

FIGURA 4 – NOÇÕES DE TAMANHO DOS MICRORGANISMOS

FONTE: <http://bit.ly/3buOyq9>. Acesso em: 16 jul. 2019.

O tamanho das bactérias é expresso em micrômetros – µm – enquanto o

tamanho dos vírus é expresso em nanômetros – nm –.

ATENCAO

4 TAXONOMIA

A ciência da classificação é chamada de taxonomia (do Grego taxon = arrumação, organização),


por exemplo, a classificação de microrganismos em um sistema ordenado, indicando uma
relação natural (BROOKS et al., 2014). Os objetivos da

taxonomia são mostrar as relações entre os organismos e fornecer uma maneira de

identificá-los.

A classificação dos organismos foi mudando ao longo dos séculos. Em 1735,

Carolus Linnaeus introduziu um sistema formal de classificação, dividindo os organismos em


dois reinos: Plantae e Animalia. Haeckel (1865) propôs a criação do Reino Protista, que incluía
bactérias, protozoários, algas e fungos (TORTORA; FUNKE;

CASE, 2017).

Em 1969, Robert H. Whittaker criou o sistema de cinco reinos, baseado na

maneira pela qual os organismos obtêm os alimentos: Reino Monera, Reino Protista,
Reino Plantae, Reino Animalia e Reino Fungi (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

Os microrganismos pertencem a três dos cinco reinos: as bactérias são do reino Monera, os
protozoários e algas microscópicas são protistas, e os fungos microscópicos, como leveduras e
bolores, pertencem ao reino Fungi (TORTORA; FUNKE;

CASE, 2017).

UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DE MICROBIOLOGIA

QUADRO 1 – CLASSIFICAÇÃO DOS MICRORGANISMOS

SISTEMA DE

CLASSIFICAÇÃO REINOS ORGANISMOS INCLUÍDOS

Linnaeus – 1753 Plantae e Animalia

Bactérias, fungos, algas,

plantas, protozoários e animais

superiores.

Haeckel – 1865

Plantae

Animalia

Protista

Algas multicelulares e plantas

Animais

Microrganismos: bactérias,

fungos filamentosos e leveduras,

algas unicelulares e protozoários.

Whittaker – 1969

Plantae

Animalia

Protista

Fungi
Monera

Algas multicelulares e plantas

Animais

Protozoários e algas unicelulares

Fungos filamentosos e leveduras

Todas as bactérias

FONTE: Adaptado de Tortora, Funke e Case (2017)

4.1 OS TRÊS DOMÍNIOS

A descoberta de três tipos celulares foi fundamentada nas observações

de que os ribossomos não são os mesmos em todas as células, embora estejam

presentes em todas elas. A comparação de sequências nucleotídicas contidas no

RNA ribossomal de diferentes tipos de células mostrou que existem três grupos

celulares distintos: os eucariotos e dois tipos diferentes de procariotos – as bactérias e as


arqueias. Domínio Eukarya inclui todos os organismos com células

eucarióticas. Os Domínios Bacteria e Archaea são procariotos (ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKIRK,


2012; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

Prezado acadêmico, veja, a seguir, as principais diferenças entre as células

procarióticas e eucarióticas.

TÓPICO 1 | BACTÉRIAS

FIGURA 5 – COMPARAÇÃO DE CÉLULAS PROCARÍÓTICAS E EUCARIÓTICAS

FONTE: Tortora, Funke e Case (2017, p. 267)

O Domínio Eukarya inclui os reinos Fungi, Plantae e Animalia, além dos

protistas. O Domínio Bacteria inclui todos os procariotos patogênicos, isto é, que

causam doenças aos seres humanos, muitas bactérias não patogênicas de grande

importância para o ambiente, como as bactérias fotoautotróficas, e muitas outras

que encontramos no solo, água e alimentos, desempenhando muitas funções que

estudaremos nas próximas unidades.


Carl R. Woese e seus colaboradores desenvolveram um sistema de classificação dos Três
Domínios de Woese de organismos, baseado na sequência de bases

nucleotídicas das moléculas do RNA ribossômico. Embora esse sistema de classificação

não tenha sido inicialmente aceito, tornou-se o sistema de classificação mais aceito pelos

microbiologistas (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

IMPORTANTE

UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DE MICROBIOLOGIA

10

FIGURA 6 – SISTEMA DE TRÊS DOMÍNIOS

FONTE: Tortora, Funke e Case (2017, p. 266)

O Domínio Archaea inclui procariotos que não possuem peptideoglicano em suas paredes
celulares, entre outras características distintas. Vivem em

ambientes hostis, como fontes termais, lagos salinos, piscinas térmicas, fundo de

pântanos e realizam processos metabólicos incomuns. Em resumo, são bactérias

extremófilas ambientais não contendo patógenos humanos, com muitas aplicações


biotecnológicas devido aos seus componentes celulares hiperestáveis.

TÓPICO 1 | BACTÉRIAS

11

FIGURA 7 – ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DE ARCHAEA, BACTERIA E EUKARYA

FONTE: Tortora, Funke e Case (2017, p. 267)

4.2 NOMENCLATURA CIENTÍFICA

Prezado acadêmico, você sabia que os organismos são reagrupados de

acordo com a proximidade de sua relação? Espécies similares são agrupadas em

um gênero; gêneros similares são agrupados em uma família; famílias, em uma

ordem; ordens, em uma classe; classes, em um filo; filos, em um reino; e reinos,

em um domínio.

A cada organismo são atribuídos dois nomes ou um binômio. Esses nomes correspondem ao
gênero e à espécie, e ambos são escritos sublinhados ou

em itálico. O nome do gênero começa sempre com letra maiúscula e é sempre


um substantivo. O nome da espécie começa com letra minúscula e, geralmente,

é um adjetivo. Como esse sistema atribui dois nomes para cada organismo, ele é

chamado de nomenclatura binominal (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

Os nomes científicos têm origem no latim (o nome do gênero pode apresentar origem grega)
ou são latinizados pela adição de um sufixo apropriado.

Os sufixos para ordem e família são – ales e – aceae, respectivamente (TORTORA;

FUNKE; CASE, 2017).

UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DE MICROBIOLOGIA

12

FIGURA 8 – A HIERARQUIA TAXONÔMICA

FONTE: Tortora, Funke e Case (2017, p. 271)

Um grupo de bactérias derivadas de uma única célula é chamado de linhagem,

cepa ou estirpe.

ATENCAO

5 ESTRUTURA CELULAR BACTERIANA

Prezado acadêmico, os procariotos compõem um vasto grupo de organismos unicelulares


muito pequenos, incluindo as bactérias e as arqueias. Milhares

de espécies de bactérias são diferenciadas por muitos fatores, incluindo a morfologia (forma),
composição química, necessidades nutricionais, atividades bioquímicas e fontes de energia
(LEVINSON, 2016; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

TÓPICO 1 | BACTÉRIAS

13

As bactérias são organismos unicelulares, procarióticos, que podem ser

encontrados na forma isolada ou em colônias (muitas bactérias agrupadas). O

tamanho varia de 0,2 a 2 µm de diâmetro e de 2 a 8 µm de comprimento. A morfologia celular


pode ter o formato esférico (cocos), cilíndrico (bacilos) e de espiral.

No entanto, só é possível visualizar a morfologia celular através da utilização do

microscópio óptico com aumento de 1000 vezes. Através de olho nu, conseguimos

visualizar as colônias bacterianas quando cultivadas em meio de cultura no laboratório. Veja a


diferença entre estrutura celular e colônia.
FIGURA 9 - MORFOLOGIA DA COLÔNIA E CÉLULA BACTERIANA

FONTE: Hajdenwurcel (1998, p. 56)

Os cocos geralmente são esféricos, mas podem ser ovais, alongados ou achatados em uma das
extremidades. Quando os cocos se dividem para se reproduzir,

as células podem permanecer ligadas umas às outras, sendo denominadas como arranjos. Essa
característica é útil na identificação de alguns cocos. Veja os exemplos

de células e arranjos: diplococos, estreptococos, tétrades, sarcinas, estafilococos (LEVINSON,


2016; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

Os bacilos se dividem somente ao longo de seu eixo curto. A maioria dos

bacilos se apresenta como bastonete único. Os diplobacilos se apresentam em pares

após a divisão, e os estreptobacilos aparecem em cadeias. Outros ainda são ovais

e tão parecidos com os cocos que são chamados de cocobacilos (LEVINSON, 2016;

TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

O nome “bacilo” tem dois significados em microbiologia. Como acabamos de

utilizar, a palavra bacilo se refere a uma forma bacteriana. Quando escrita em latim,

em letra maiúscula e em itálico, refere-se a um gênero específico. Por exemplo, a bacteria


Bacillus cereus causa doença veiculada por alimentos – DTA – (LEVINSON, 2016;

TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

A terceira forma celular das bactérias são as espirais, que apresentam uma ou

mais curvaturas e nunca são retas. As bactérias que se assemelham a bastões curvos

UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DE MICROBIOLOGIA

14

são chamadas de vibriões. Outras, chamadas de espirilos, possuem forma helicoidal,

como um saca-rolha, e corpo bastante rígido. Já outro grupo de espirais tem forma

helicoidal e flexível, são chamados de espiroquetas.

A forma das bactérias é determinada pela hereditariedade e a maioria apresenta uma única
forma, no entanto, várias condições ambientais podem alterar essa

forma o que torna a identificação mais difícil. Além disso, algumas bactérias, como

Rhizobium e Corynebacterium, são geneticamente pleomórficas, ou seja, elas podem


apresentar várias formas (LEVINSON, 2016; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

FIGURA 10 – MORFOLOGIA CELULAR E ARRANJOS BACTERIANOS

FONTE: Adaptado de Tortora, Funke e Case (2017)

Caro acadêmico! Você sabia que as bactérias se comunicam? As bactérias

também têm mecanismos de comunicação e podem ser sofisticados. Elas, inclusive, são

capazes de “contar” em quantas estão em uma colônia. Saiba mais assistindo ao vídeo:

https://youtu.be/zyNMWjd7ds8.

DICAS

Acadêmico, a partir de agora, estudaremos a estrutura de uma célula bacteriana típica.


Discutiremos seus componentes de acordo com a seguinte organização: estruturas externas e
internas e a parede celular, de acordo com Brooks et

al. (2014), Levinson (2016) e Tortora, Funke e Case (2017).

TÓPICO 1 | BACTÉRIAS

15

FIGURA 11 – ESTRUTURA DE UMA CÉLULA BACTERIANA

5.1 ESTRUTURAS EXTERNAS À PAREDE CELULAR

Estruturas externas à parede celular – glicocálice, os flagelos, os filamentos axiais, as fimbrias e


os pili.

a) Glicocálice (ou Glicocálix) – é um polímero viscoso e gelatinoso que está situado


externamente à parede celular e é composto por polissacarídeo, polipeptídio ou ambos. Se o
glicocálice estiver organizado de maneira definida e

acoplado firmemente à parede celular, recebe o nome de cápsula; se estiver desorganizado e


fracamente aderida à parede celular, recebe o nome de camada

limosa. É importante para as bactérias porque auxilia na sua adesão as células

(formação de biofilme), protege contra a desidratação e a fagocitose, além da

viscosidade inibir o movimento dos nutrientes para fora da célula.

FONTE: Tortora, Funke e Case (2017, p. 76)

UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DE MICROBIOLOGIA

16
b) Flagelos – são organelas especiais (apêndices delgados) responsáveis pela locomoção das
bactérias. De acordo com o número e distribuição dos flagelos, as

bactérias podem ser classificadas em atríquias (sem flagelos), peritríquios (distribuídos ao


longo de toda a célula) ou polares (em uma ou ambas as extremidades

da célula). No caso dos flagelos polares, eles podem ser monotríquios (um único

flagelo em um polo da célula), lofotríquios (um tufo de flagelos saindo de um

polo da célula;) ou anfitríquios (flagelos em ambos os polos da célula).

FIGURA 12 – ARRANJOS DE FLAGELOS BACTERIANOS

FONTE: Tortora, Funke e Case (2017, p. 77)

O movimento bacteriano para perto ou para longe de um estímulo é chamado de taxia. Esses
estímulos incluem os químicos (quimiotaxia) e os luminosos

(fototaxia). Taxia positiva é o movimento em direção a um atraente (como um

açúcar ou um aminoácido) e taxia negativa é o movimento para longe de um repelente


(LEVINSON, 2016; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

Outro aspecto importante do flagelo é a presença da proteína flagelar,

chamada de antígeno H. É útil para diferenciar os sorvares, ou variações dentro

de uma espécie, de bactérias gram-negativas. Por exemplo, existem no mínimo

50 antígenos H diferentes para a E. coli. Os sorvares identificados como E. coli

O157:H7 estão associados a epidemias de origem alimentar que estudaremos nas

próximas unidades (LEVINSON, 2016; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

c) Filamentos axiais – são similares aos flagelos e ficam enovelados em torno da

célula com forma espiral. Apresentam movimento semelhante ao modo como

um saca-rolhas se move através da rolha. Um exemplo é o Treponema pallidum,

o agente causador da sífilis.

TÓPICO 1 | BACTÉRIAS

17

FIGURA 13 – FILAMENTOS AXIAIS

FONTE: Tortora, Funke e Case (2017, p. 79)

d) Fímbrias e Pili – são estruturas de proteínas (pilina) caracterizadas como pelos


mais curtos, retos e finos que os flagelos. São divididas em dois tipos, fímbrias

e pili, possuindo funções muito diferentes.

Função das fímbrias: adesão em diferentes superfícies, assim como a glicocálice, relacionada
com a formação de biofilmes. Podem ocorrer nos polos da

célula bacteriana ou podem estar homogeneamente distribuídas em toda a superfície da


célula.

Função dos Pili (singular: pilus): estão envolvidos na motilidade celular e na

transferência de DNA entre as células bacterianas. Estudaremos sobre o Pili na unidade sobre
genética bacteriana. Existe apenas um ou dois pili por célula bacteriana.

Parede celular – localiza-se externamente à membrana citoplasmática. É

uma estrutura complexa e semirrígida, composta por peptideoglicanos (também

conhecida como mureína) que mantêm a forma característica de cada célula bacteriana. Não
são estruturas homogêneas, mas são camadas de diferentes substâncias que variam de acordo
com o tipo de bactéria envolvida (LEVINSON, 2016;

TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

A composição química da parede celular é usada para diferenciar os principais

tipos de bactérias, pois além da classificação morfológica em cocos, bacilos e espirilos, as

bactérias são classificadas, de acordo com as suas características tintoriais, em Gram-positivas


e Gram-negativas quando submetidas à coloração de Gram.

IMPORTANTE

Existem dois tipos principais de paredes celulares de eubactérias que diferem em espessura,
assim como em composição química, e podem ser diferencia-

UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DE MICROBIOLOGIA

18

das com base na capacidade de suas paredes celulares fixarem o corante violeta

cristal: as Gram-positivas (que coram em roxo) e as Gram-negativas (que coram

em vermelho).

a) Gram-positiva: apresentam a parede celular com uma camada de peptideoglicano (porção


glicano e peptídica) mais espessa que as Gram-negativas e não
apresentam membrana externa. Juntos, o esqueleto de carboidrato (porção glicano) e as
cadeias laterais tetrapeptídicas (porção peptídica) compõem o peptideoglicano. Apresentam,
ainda, ácido teicoico e ácido lipoteicoico (TORTORA;

FUNKE; CASE, 2017).

b) Gram-negativa: apresentam a parede celular com uma camada de peptideoglicano delgada


e membrana externa que consiste em lipopolissacarídeos (LPS),

lipoproteínas e fosfolipídeos. O LPS é constituído por um lipídeo A que está

ligado ao antígeno O, que são endotoxinas que provocam diversas respostas fisiológicas no ser
humano, como febre, isso em virtude da sua toxicidade (SALVATIERRA, 2014).

TÓPICO 1 | BACTÉRIAS

19

FIGURA 14 – PAREDES CELULARES BACTERIANAS

Legenda: (a) estrutura do peptideoglicano em bactérias gram-positivas; (b) uma parede

celular gram-positiva; (c) uma parede celular gram-negativa.

FONTE: Tortora, Funke e Case (2017, p. 82)

Para visualizar as diferenças na parede celular e classificar as bactérias

como Gram-positivas e Gram-negativas, é realizada a coloração de Gram a partir

de um esfregaço bacteriano, fixado em calor e corado com cristal violeta, lugol,

descorante e fucsina ou safranina, respectivamente.

Prezado acadêmico, estudaremos a técnica de coloração de Gram no livro

de atividades práticas da disciplina.

ESTUDOS FUTUROS

UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DE MICROBIOLOGIA

20

Caro acadêmico, você deve estar se perguntando: quais são as aplicações

da coloração de Gram?

Através da coloração de Gram, visualizamos, no microscópio óptico, a

forma, o arranjo e o Gram das bactérias. Além disso, a seguir, é possível observar

várias diferenças entre as bactérias gram-positivas e gram-negativas, como a ação


dos antibióticos, produção de toxinas etc.

FIGURA 15 – CARACTERÍSTICAS COMPARATIVAS DAS BACTÉRIAS GRAM-POSITIVAS E


GRAMNEGATIVAS

FONTE: Tortora, Funke e Case (2017, p. 84)

TÓPICO 1 | BACTÉRIAS

21

Além da coloração de Gram, existem outras colorações, como: coloração simples, coloração
álcool-ácido resistente e colorações especiais, como: negativa, endósporos,

cápsula e flagelos. Para obter mais informações sobre as colorações, acesse os livros de

microbiologia disponíveis na biblioteca virtual.

NOTA

5.2 ESTRUTURAS INTERNAS À PAREDE CELULAR

Estruturas internas à parede celular – Membrana plasmática, citoplasma,

nucleoide, plasmídeos ribossomos, inclusões e endoporos.

a) Membrana plasmática – apresenta uma espessura de 8 nm (nanômetros), servindo de


barreira responsável pela separação entre o meio interno (citoplasma)

e o externo. É composta por 60% de proteínas imersas em uma bicamada de lipídeos (40%),
sendo os fosfolipídios os de maior importância (SALVATIERRA,

2014; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

Essa barreira é altamente seletiva e atua impedindo a livre passagem de

moléculas e íons. Também é importante na digestão de nutrientes e na produção

de energia. As membranas plasmáticas das bactérias contêm enzimas capazes de

catalisar as reações químicas que degradam os nutrientes e produzem ATP (LEVINSON, 2016;
TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DE MICROBIOLOGIA

22

FIGURA 16 – MEMBRANA PLASMÁTICA

FONTE: Tortora, Funke e Case (2017, p. 86)

Legenda: (a) um diagrama mostrando a bicamada lipídica formando a membrana plasmática


interna da bactéria gram-negativa; (b) uma porção da membrana interna mostrando a
bicamada

lipídica e as proteínas; (c) modelos espaciais de várias moléculas de fosfolipídios organizados


na

bicamada lipídica.

b) Citoplasma – refere-se à substância celular localizada no interior da membrana

plasmática. Cerca de 80% do citoplasma é composto de água, contendo, principalmente,


proteínas (enzimas), carboidratos, lipídeos, íons inorgânicos e muitos compostos de baixo peso
molecular. O citoplasma é espesso, aquoso, transparente e

elástico. As principais estruturas do citoplasma dos procariotos são: um nucleoide

(contendo DNA), as partículas, denominadas ribossomos, e os depósitos de reserva,


denominados inclusões (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

c) Nucleoide e Plasmídeos – as células bacterianas não contêm o núcleo típico

das células eucarióticas. O cromossomo bacteriano consiste em um cromossomo único e


circular e ocupa uma posição próxima ao centro da célula. Pode ser

chamado de nucleoide (LEVINSON, 2016; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

Várias bactérias apresentam também moléculas de DNA extracromossomal, denominadas


plasmídeos, as quais são geralmente circulares, contendo muitas vezes genes que conferem
características adaptativas vantajosas ao microrganismo (LEVINSON, 2016; TORTORA; FUNKE;
CASE, 2017).

d) Ribossomos – local onde ocorre a síntese de proteínas. As células com altas

taxas de síntese proteica, como aquelas que estão crescendo ativamente, possuem muitos
ribossomos. Nas bactérias as dezenas de milhares de ribossomos,

conferem ao citoplasma uma aparência granular. Vários antibióticos atuam inibindo a síntese
de proteica nos ribossomos (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

TÓPICO 1 | BACTÉRIAS

23

Conheça mais sobre a síntese de proteínas e os ribossomos. Assista ao vídeo:

Do DNA à Proteína: https://www.youtube.com/watch?v=6nxRxoGME_I.

DICAS

e) Inclusões – são depósitos de reserva encontrados nas células bacterianas e

eucarióticas. Entre as inclusões encontradas em bactérias estão os grânulos


metacromáticos (fosfato inorgânico), grânulos polissacarídicos (normalmente

glicogênio ou amido), inclusões lipídicas, grânulos de enxofre, caboxissomos e

vacúolos de gás (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

f) Endosporos – são estruturas formadas por algumas bactérias Gram-positivas

pertencentes aos gêneros Bacillus e Clostridium entre outros gêneros. Os esporos

são originados em situações em que há́ um longo período de carência nutricional

ou de outras condições adversas do meio. O processo de esporulação é desencadeado


próximo da depleção de algum dos diversos nutrientes (carbono, nitrogênio ou fósforo). Cada
célula forma um único esporo interno, liberado quando

a célula-mãe sofre autólise. O esporo é uma célula em repouso, altamente resistente à


dessecação, ao calor e a agentes químicos; quando reencontra condições

nutricionais favoráveis e é ativado, o esporo germina, produzindo uma única

célula vegetativa. No entanto, os endósporos podem permanecer dormentes por

milhares de anos (BROOKS et al., 2014; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DE MICROBIOLOGIA

24

FIGURA 17 – FORMAÇÃO DO ENDÓSPORO POR ESPORULAÇÃO

FONTE: Tortora, Funke e Case (2017, p. 93)

Os endósporos são importantes do ponto de vista clínico e para a indústria

alimentícia, pois são resistentes a processos que normalmente destroem as células


vegetativas. Esses processos incluem o aquecimento, a dessecação, a utilização de substâncias
químicas e a radiação. Discutiremos sobre o controle das bactérias esporuladas

nas próximas unidades (BROOKS et al., 2014; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

A seguir, podemos observar um resumo das estruturas bacterianas com sua

composição química e função. Aproveite para revisão do assunto!

IMPORTANTE

TÓPICO 1 | BACTÉRIAS

25

FIGURA 18 – ESTRUTURAS BACTERIANAS


FONTE: Levinson (2016, p. 6)

Conheça mais formação de biofilmes na indústria de alimentos através da

leitura do artigo: Biofilme na indústria de alimentos: http://bit.ly/37nOSnj.

DICAS

26

Neste tópico, você aprendeu que:

• Microbiologia é a ciência que estuda as bactérias, fungos (leveduras e fungos filamentosos)


protozoários, algas microscópicas e os vírus.

• Anton van Leeuwenhoek, usando um microscópio simples, foi o primeiro a observar os


microrganismos (1673).

• Na Idade de Ouro da Microbiologia (1857 a 1914) aconteceram descobertas de

agentes responsáveis por doenças, sobre o sistema imunológico, assepsia, além do

surgimento de técnicas de estudo, como colorações, meios de cultura, fermentação,


pasteurização etc.

• Os microrganismos são medidos em micrômetros, μm (10-6 m), e em nanômetros,

nm (10-9 m).

• Todos os organismos são classificados em Bacteria, Archaea e Eukarya. Eukarya

inclui protistas, fungos, plantas e animais.

• As arqueias são bactérias que não possuem peptideoglicano em suas paredes celulares,
extremófilas ambientais não contendo patógenos humanos, com muitas

aplicações biotecnológicas devido aos seus componentes celulares hiperestáveis.

• A ciência da taxonomia inclui a classificação, nomenclatura e identificação dos organismos


vivos. A espécie, é o menor e mais definitivo nível de divisão. A classificação designa também
os gêneros, famílias, ordens, classes e filos.

• A cada organismo são atribuídos dois nomes. Esses nomes correspondem ao gênero e a
espécie, e ambos são escritos sublinhados ou em itálico.

• As bactérias são organismos unicelulares, procarióticos, que podem ser encontrados na


forma isolada ou em colônias. O tamanho varia de 0,2 a 2 µm de diâmetro

e de 2 a 8 µm de comprimento.

• As três formas celulares bacterianas básicas são cocos (esféricos), bacilos (forma de

bastão) e espiralada (retorcida).


• A célula bacteriana apresenta várias estruturas de acordo com a seguinte organização.
Estruturas externas à parede celular: glicocálice, os flagelos, os filamentos

axiais, as fimbrias e os pili. Estruturas internas à parede celular: membrana plasmática,


citoplasma, nucleoide, plasmídeos ribossomos, inclusões, endósporos.

RESUMO DO TÓPICO 1

27

• A coloração de Gram é importante para iniciar o processo de identificação das

bactérias.

• As bactérias gram-positivas permanecem rochas após a descoloração; as bactérias

gram-negativas não, e aparecem em vermelho devido ao contracorante.

• Os endósporos são estruturas de repouso, formadas por algumas bactérias para a

sobrevivência durante condições ambientais adversas.

28

1 O sistema de classificação que distribui os seres vivos em cinco grandes reinos –

Monera, Protista, Fungi, Animalia e Plantae – foi idealizado por Whittaker, em

1969. Atualmente, costuma-se agrupar os seres vivos em três domínios. De acordo com essa
classificação, como os organismos procariontes estão agrupados?

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Exclusivamente no domínio Archaea.

b) ( ) Exclusivamente no domínio Bacteria.

c) ( ) Exclusivamente no domínio Eukarya.

d)( ) Nos domínios Archaea e Bacteria.

e) ( ) Nos domínios Bacteria e Eukarya.

2 As bactérias são organismos unicelulares, procariontes que apresentam várias

estruturas, formas e arranjos. Assinale V para as alternativas CORRETAS

sobre as bactérias e F para as alternativas FALSAS.

a) ( ) As células bacterianas apresentam diferentes formas, como: cocos, bastonetes, espirilos e


vibriões.
b) ( ) As bactérias apresentam várias estruturas e organelas celulares, como: ribossomos,
mitocôndrias, cromossomo único circular, cápsula, flagelos e fímbrias.

c) ( ) A pili é responsável pela transferência de material genético, função importante


relacionada com a resistência bacteriana.

d) ( ) Os flagelos bacterianos não são antigênicos para os humanos, pois são muito
semelhantes, em composição química, ao flagelo humano.

e) ( ) Os esporos apresentam-se sob a forma de corpúsculos esféricos ou ovoides,

livres ou no interior da bactéria. São responsáveis pela resistência ao ataque dos

agentes físicos e químicos utilizados na desinfecção.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V, V, V, F, V

b) ( ) F, F, V, F, F

c) ( ) V, F, V, F, V

d)( ) F, V, F, V, F

e) ( ) F, V, V, F, V

3 Na reação de Gram, algumas células bacterianas retêm os dois corantes,

apresentando a coloração rocha ao microscópio, porém, outras perdem o

corante violeta, exibindo apenas a cor vermelha. Sobre a reação de Gram,

analise as seguintes sentenças:

AUTOATIVIDADE

29

I- Bactérias coradas de roxo são chamadas de Gram-positivas e as que se coram de

vermelho de Gram-negativas.

II- O procedimento de coloração de Gram permite que as bactérias retenham a cor

com base nas diferenças das propriedades químicas e físicas da membrana celular.

III-Bactérias Gram-negativas apresentam uma parede celular complexa, composta

por uma membrana externa que recobre uma camada fina de peptideoglicano.

IV-As bactérias Gram-positivas retêm o cristal violeta devido à presença de uma

espessa camada de peptideoglicano em suas paredes celulares, apresentando-


-se na cor vermelha.

Agora, assinale a alternativa CORRETA.

a) ( ) As sentenças I, III e IV estão corretas.

b) ( ) Somente a sentença I está correta.

c) ( ) As sentenças II e III estão corretas.

d)( ) As sentenças I, II e III estão corretas.

e) ( ) As sentenças I e III estão corretas.

Você também pode gostar