Introdução À Microbiologia PDF

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 141

Matria de

Microbiologia
Fotografias colorizadas de bactrias observadas ao microscpio eletrnico.
Da esquerda para a direita: Bacillus anthracis, Escherichia coli, Neisseria gonorrhoeae




2008


































Introduo Microbiologia
Introduo
Microbiologia: Mikros (= pequeno) + Bio (= vida) + logos (= cincia)
A Microbiologia era definida, at recentemente, como a rea da cincia que
dedica-se ao estudo dos microrganismos, um vasto e diverso grupo de
organismos unicelulares de dimenses reduzidas, que podem ser
encontrados como clulas isoladas ou agrupados em diferentes arranjos
(cadeias ou massas), sendo que as clulas, mesmo estando associadas,
exibiriam um carter fisiolgico independente.
Assim, com base neste conceito, a microbiologia envolve o estudo de
organismos procariotos (bactrias, archaeas), eucariotos inferiores (algas,
protozorios, fungos) e tambm os vrus.

Bactrias

Archaea


Fungos

Vrus
Algas

Protozorios
Tipos de microrganismos
estudados pelos microbiologistas.
(Adaptado de Tortora et al., Microbiology, 8 ed)

Esta rea do conhecimento teve seu incio com os relatos de Robert
Hooke e Antony van Leeuwenhoek, que desenvolveram microscpios que
possibilitaram as primeiras observaes de bactrias e outros
microrganismos, alm de diversos espcimes biolgicos. Embora van
Leeuwenhoek seja considerado o "pai" da microbiologia, os relatos de
Hooke, descrevendo a estrutura de um bolor, foram publicados
anteriormente aos de Leeuwenhoek. Assim, embora Leeuwnhoek tenha
fornecido importantes informaes sobre a morfologia bacteriana, estes dois
pesquisadores devem ser considerados como pioneiros nesta cincia.
Recentemente foi publicado um artigo discutindo a importncia de Robert
Hooke para o desenvolvimento da Microbiologia.

Esquema do microscpio construdo por Robert Hooke e um esquema de um fungo observado
por este pesquisador.
(Adaptado de Tortora et al., Microbiology - 8 ed)


Rplica do microscpio construdo por Leeuwenhoek e de suas ilustraes, descrevendo os
"animlculos" observados.
(Adaptado do livro Brock Biology of Microorganisms, 10 Ed., 2003)

Classificao dos seres vivos
De acordo com a definio tradicional da microbiologia, esta uma
cincia que at recentemente, era responsvel pelo estudo de organismos
classificados em trs reinos distintos: Monera, Protista e Fungi. No entanto,
a partir dos estudos de Carl Woese, a microbiologia passou a estar
relacionada a trs domnios de seres vivos.
Sistemas de classificao dos seres vivos:
Linnaeus (sc. XVIII): reinos Animal e Vegetal
Haeckel (1866): introduo do reino Protista
Whittaker (1969): 5 reinos, dividos principalmente pelas
caractersticas morflogicas e fisiolgicas:
Monera: Procariotos
Protista: Eucariotos unicelulares - Protozorios (sem parede celular) e
Algas (com parede celular)
Fungi: Eucariotos aclorofilados
Plantae: Vegetais
Animalia: Animais



Classificao dos seres vivos, de acordo com Whittaker (1969)
(Adaptado de Pommerville, J.C.(2004) Alcamo's Fundamentals of Microbiology)
No entanto, a partir dos estudos de C. Woese (1977), passamos a
dispor de um sistema de classificao baseado principalmente em aspectos
evolutivos (filogentica), a partir da comparao das sequncias de rRNA de
diferentes organismos. Com esta nova proposta de classificao, os
organismos so agora subdividos em 3 domnios (contendo os 5 reinos),
empregando-se dados associados ao carter evolutivo.
Archaea: Procariotos
Bacteria: Procariotos
Eukarya: Eucariotos
Classificao dos seres vivos, de acordo com Woese (1977)
(Adaptado de Pommerville, J.C.(2004) Alcamo's Fundamentals of Microbiology)
A princpio, acredita-se que estes 3 domnios divergiram a partir de um
ancestral comum. Provavelmente os microrganismos eucariticos atuaram
como ancestrais dos organismos multicelulares, enquanto as bactrias e
archaeas correspondem a ramos que no evoluram alm do estgio
microbiano.
Archaea: so organismos procariotos que, freqentemente so
encontrados em ambientes cujas condies so bastante extremas
(semelhantes s condies ambientais primordiais na Terra), sendo por isso,
muitas vezes considerados como sendo ancestrais das bactrias. No
entanto, hoje em dia considera-se as archaeas como um grupo
intermedirio entre procariotos e eucariotos.
Muitos destes organismos so anaerbios, vivendo em locais
"inabitveis" para os padres humanos - fontes termais (com temperaturas
acima de 100C), guas com elevadssimos teores de sal (at 5M de NaCl -
limite de dissoluo do NaCl), em solos e guas extremamente cidos ou
alcalinos (espcies que vivem em pH 0, outras em pH 10) e muitas so
metanognicas.
Genericamente, podemos dizer que as Archaeas definem os limites da
tolerncia biolgica s condies ambientais.
Bacteria: Corresponde a um enorme grupo de procariotos,
anteriormente classificados como eubactrias, representadas pelos
organismos patognicos ao homem, e bactrias encontradas nas guas,
solos, ambientes em geral.
Dentre estas, temos as bactrias fotossintetizantes (cianobactrias) e outras
quimiossintetizantes (E. coli), enquanto outras utilizam apenas substratos
inorgnicos para seu desenvolvimento.
Eukarya: No mbito microbiolgico, compreende as algas, protozorios
e fungos (alm das plantas e animais).
As algas caracterizam-se por apresentarem clorofila (alm de outros
pigmentos), sendo encontradas basicamente nos solos e guas.
Os protozorios correspondem a clulas eucariticas, apigmentados,
geralmente mveis e sem parede celular, nutrindo-se por ingesto e
podendo ser saprfitas ou parasitas.
Os fungos so tambm clulas sem clorofila, apresentando parede celular,
realizando metabolismo heterotrfico, nutrindo-se por absoro.
Como mencionado anteriormente, os vrus so tambm assunto
abordado em microbiologia, embora, formalmente, no exibam as
caractersticas celulares, no sentido de no apresentarem metabolismo
prprio, de conterem apenas um tipo de cido nuclico, etc.
A Microbiologia na atualidade
A definio clssica de "microbiologia" mostra-se bastante imprecisa, e
at mesmo inadequada, frente aos dados da literatura publicados nesta
ltima dcada. Como exemplo pode-se citar duas premissas que j no
podem mais ser consideradas como verdade absoluta na conceituao desta
rea de conhecimento: as dimenses dos microrganismos e a natureza
independente destes seres.
Em 1985 foi descoberto um organismo, denominado Epulopiscium
fischelsoni que, a partir de 1991, foi definido como sendo o maior procarioto
j descrito, exibindo cerca de 500 m de comprimento. Esta bactria foi
isolada do intestino de um peixe marinho (Surgeonfish, peixe barbeiro ou
cirurgio), encontrado nas guas da Austrlia e do Mar Vermelho. Alm de
apresentar dimenses nunca vistas, tal bactria mostra-se totalmente
diferente das demais quanto ao processo de diviso celular, que ao invs de
ser por fisso binria, envolve um provvel tipo de reproduo vivparo,
levando formao de pequenos glbulos, que correspondem s clulas
filhas.


Comparao entre o tamanho de uma clula de Epulopiscium e 4 paramcios
(Adaptado do livro Brock Biology of Microorganisms, 10 Ed., 2003)
Mais recentemente, em 1999, outro relato descreve o isolamento de
uma bactria ainda maior, isolada na costa da Nambia. Esta, denominada
Thiomargarita namibiensis, pode ser visualizada a olho n, atingindo at
cerca de 0,8 mm de comprimento e 0,1 a 0,3 mm de largura.

Microscopia
de luz polarizada,
revelando os
grnulos de enxfre
no interior da
bactria
Thiomargarita
namibiensis.

Comparao
entre a bactria
Thiomargarita
namibiensis e uma
Drosophila.


(Adaptado de
Schulz, H. N. et al.
(1999). Science,
284:493-495 -
Clique no autor,
caso deseje ler o
artigo original)
Como analisar a questo do tamanho dos
microrganismos?
Durante muito tempo se acreditava que o tamanho das bactrias era
imposto pelo seu prprio metabolismo, ou seja, se a bactria aumentasse
muito em tamanho, ela seria incapaz de se manter vivel e morreria. Tal
fato decorre da seguinte deduo: A rea superficial da membrana
citoplasmtica seria o fator limitante para a eficincia das trocas com o meio
externo.
Sabendo-se que a rea de uma esfera calculada pela frmula e
que o volume de uma esfera obtido pela frmula , a medida que a
rea aumenta, seu volume aumenta muito mais rapidamente. Assim, se uma
bactria comeasse a crescer, aumentando sua rea, a proporo
rea/volume diminuiria. Isto faria com que a clula passasse a apresentar
um volume muito grande, sendo que sua rea superficial seria insuficiente,
em termos de trocas atravs da membrana, para manter sua viabilidade.
A partir dos isolados de bactrias gigantes, o conceito da limitao
de tamanho bacteriano vem sendo abandonado, pois no h mais como
questionar a existncia e viabilidade destas bactrias e, possivelmente,
novos relatos sero incorporados, deixando de ser meras curiosidades.
Uma das explicaes mais provveis para tal fato reside na existncia
de grandes mesossomos nestes tipos bacterianos, refutando assim a
hiptese de que tais estruturas seriam meros artefatos de microscopia.
Novos estudos vm sendo realizados, os quais esto trazendo informaes
sobre outras estratgias desenvolvidas pelos microrganismos para que
sobrevivam, quando apresentam dimenses extremamente maiores que os
microrganismos "convencionais".
Microrganismos atuando como seres multicelulares
Outro aspecto que vem sendo demonstrado refere-se ao carter
multicelular das bactrias. Embora estas exibam a capacidade de
sobreviver como uma clula nica, realizando os processos metablicos
necessrios sua perpetuao, quando as bactrias encontram-se
associadas, formando colnias, ou biofilmes (estruturas rgidas, adesivas, de
natureza geralmente polissacardica, que encontram-se fortemente
ancoradas s superfcies, criando um ambiente protegido que possibilita o
crescimento microbiano), estas passam a se comportar de forma social,
exibindo diviso de tarefas e alterando seu perfil fisiolgico de forma a
apresentar uma cooperao que reflete-se em diferentes nveis metablicos.
Sabe-se que muitos genes de virulncia so expressos somente
quando a densidade populacional atinge um determinado ponto. Da mesma
forma, a capacidade de captar DNA do meio externo, a bioluminescncia,
etc, envolvem a percepo da densidade populacional por parte das
bactrias.
Este tipo de mecanismo de comunicao denominado sensor de
quorum (quorum sensing) e vem sendo amplamente estudado nas mais
diferentes reas da Microbiologia, uma vez que foi descrito tanto para
bactrias como para fungos.


Estudos com bactrias primitivas
Ainda em relao s novas pesquisas desenvolvidas na rea de
Microbiologia, temos o cultivo de bactrias pr-histricas, visando a busca
de compostos com atividade antimicrobiana ou de interesse comercial. Neste
sentido, empresas foram criadas (Ambergene), especializadas na
reativao de formas bacterianas latentes, isoladas de insetos preservados
em mbar. Os resultados obtidos revelam a reativao de mais de 1200
espcies bacterianas, apresentando de 2 a at 135 milhes de anos.
Em 2000, foi publicado um relato descrevendo o isolamento e cultivo de uma
espcie bacteriana a partir do lquido contido em um cristal de sal de 250
milhes de anos. Os estudos de seqenciamento do DNA que codifica o RNA
ribossomal 16S indicam que o organismo pertence ao gnero Bacillus, uma
bactria em forma de bastonete, Gram positiva, com a capacidade de formar
endsporos. At o momento, esta corresponde espcie bacteriana mais
antiga.

Inseto de onde foi
retirada a bactria
(provavelmente Bacillus), de 135
milhes de anos

Aspecto das colnias
crescidas em meio slido
(Adaptado de Cano et al., (1995)
Science, 268:1060-1064)



A questo da vida em marte
Em 1997, foram publicados relatos de expedies da NASA a Marte,
sugerindo a presena de possveis microrganismos (nanobactrias) em
espcimes minerais, sendo que achados semelhantes foram tambm
detectados em partculas de meteoritos de Marte, que atingiram a Terra. A
favor desta hiptese h o achado de microrganismos que decompem
minerais, frequentemente isolados das profundezas marinhas (A cerca de
1,5 km abaixo do solo).
Os meteoritos apresentam carbono, fsforo, nitrognio, alm da
presena de gua. J em relao s condies ambientais de Marte (muito
frio), temos como contra-argumento o isolamento de Archaea a partir de
ambientes absolutamente inspitos, inicialmente comsiderados como
inadequados vida.
De acordo com alguns pesquisadores, no absurdo considerar que a
vida surgiu em Marte, pois estudos com o meteorito Nakhla, que caiu em
1911 no Egito, com aparentemente de 1,3 bilhes de anos, revelam a
presena de elementos cocides, potenciais fsseis bacterianos, variando de
0,25 a 2,0 m de tamanho, o que seria correspondente ao tamanho mdio
atual das bactrias. Curiosamente, estas formas ovais apresentam um teor
maior de carbono no seu interior que nas reas ao seu redor. Alm disso,
exibem tambm um elevado teor de xido de ferro, um composto comum
em clulas fossilizadas.
Recentemente, a NASA enviou outra sonda para Marte e os dados
recebidos reforam cada vez mais a idia da existncia anterior de vida em
Marte, devido aos achados da possvel ocorrncia de gua naquele planeta.

Comparao entre possveis "microrganismos" presentes em rochas de Marte e microrganismos
que compem a placa dental ho homem.
(Adaptado de An Electronic Companion to Beginning Microbiology)
Assim, com base nestes novos achados e principalmente com estudos
envolvendo as Archaea, a microbiologia vem levantando uma srie de
questes quanto fisiologia e o metabolismo celular, alm de questionar
permanentemente os limites das condies de vida.

Ubiqidade dos microrganismos
Os microrganismos so os menores seres vivos existentes,
encontrando-se em uma vasta diversidade de ambientes e desempenhando
importantes papis na natureza. Este grupo caracteriza-se por ser
completamente heterogneo, tendo com nica caracterstica comum o
pequeno tamanho dos organismos.
Acredita-se que cerca de metade da biomassa do planeta seja
constituda pelos microrganismos, sendo os 50% restantes distribudos entre
plantas (35%) e animais (15%).
Em termos de habitat, os microrganismos so encontrados em quase
todos os ambientes, tanto na superfcie, como no mar e subsolo. Desta
forma, podemos isolar microrganismos de fontes termais, com temperaturas
atingindo at 130C (clique aqui para ler o relato do isolamento de um
procarioto cujo mximo de temperatura de crescimento foi definido como
130C); de regies polares, com temperaturas inferiores a -10C; de
ambientes extremamente cidos (pH=1) ou bsicos (pH=13). Alguns
sobrevivem em ambientes extremamente pobres em nutrientes,
assemelhando-se gua destilada. H ainda aqueles encontrados no interior
de rochas na Antrtida.
Em termos metablicos, temos tambm os mais variados tipos, desde
aqueles com vias metablicas semelhantes a de eucariotos superiores, at
outros que so capazes de produzir cido sulfrico, ou aqueles capazes de
degradar compostos pouco usuais como cnfora, herbicidas, petrleo, etc.
Uma vez que os microrganismos precederam o homem em bilhes de
anos, pode-se dizer que ns evolumos em seu mundo e eles em nosso.
Desta forma, no de se estranhar que a associao homem-microrganismo
mostra-se com grande complexidade, com os microrganismos habitando
nosso organismo, em locais tais como a pele, intestinos, cavidade oral,
nariz, ouvidos e trato genitourinrio. Embora a grande maioria destes
microrganismos no causem qualquer dano, compondo a denominada
microbiota normal, algumas vezes estes podem originar uma srie de
doenas, com maior ou menor gravidade. Nesta classe de organismos esto
aqueles denominados patognicos e potencialmente patognicos.
Sabe-se que em cerca de 10
13
clulas de um ser humano podem ser
encontradas, em mdia, cerca de 10
14
clulas bacterianas. No homem, estas
se encontram em vrias superfcies, especialmente na cavidade oral e trato
intestinal.


Principais funes dos microrganismos na natureza
Alm de seu importante papel como componentes da microbiota
residente de animais e plantas, em nosso dia a dia convivemos com os mais
diversos produtos microbiolgicos naturais tais como: vinho, cerveja,
queijo, picles, vinagre, antibiticos, pes, etc. Paralelamente, no pode ser
deixada de lado a importncia dos processos biotecnolgicos, envolvendo
engenharia gentica, que permitem a criao de novos microrganismos,
com as mais diversas capacidades metablicas.
Os microrganismos desempenham tambm um importante papel nos
processos geoqumicos, tais como o ciclo do carbono e do nitrognio, sendo
genericamente importantes nos processos de decomposio de substratos e
sua reciclagem. Dentre os compostos utilizados como substrato temos,
alguns de grande importncia atualmente: DDT, outros pesticidas, cnfora,
etc.
O carbono encontra-se na atmosfera primariamente como CO
2
, sendo
utilizado pelos organismos fotossintetizantes, para sua nutrio.
Virtualmente, a energia para o desenvolvimento da vida na Terra derivada,
em ltima anlise, a partir da luz solar. Esta captada pelas plantas e
microrganismos fotossintetizantes (algas e bactrias), que convertem o CO
2

em compostos orgnicos, atravs da reao:
CO
2
+ H
2
O => (CH
2
O)n + O
2

Os herbvoros alimentam-se de plantas e os carnvoros alimentam-se
dos herbvoros.
O CO
2
atmosfrico torna-se disponvel para a utilizao na fotossntese
origina-se de duas fontes biolgicas principais: 1) 5 a 10% a partir de
processos de respirao e 2) 90 a 95% oriundos da degradao
(decomposio ou mineralizao) microbiana de compostos orgnicos.
Em termos de ciclo global, h um balano entre o consumo de CO
2
na
fotossntese e sua produo atravs da mineralizao e respirao. Este
balano, no entanto, vem sendo fortemente alterado por atividades
humanas, tais como a queima de combustveis fsseis, promovendo um
aumento da qualntidade de CO
2
atmosfrico, resultando no conhecido efeito
estufa.
A celulose existente nas plantas, embora seja um substrato
extremamente abundante na Terra, no utilizvel pela vasta maioria dos
animais. Por outro lado, vrios microrganismos, incluindo fungos, bactrias e
protozorios a utilizam, como fonte de carbono e energia. Destes
microrganismos, muitos encontram-se no trato intestinal de vrios
herbvoros e nos cupins.
Muitos compostos txicos podem ser degradados por microrganismos,
dentre eles, policlorados, DDT, pesticidas.
Outra abordagem que tem se mostrado de grande valia para o homem
refere-se introduo de genes bacterianos em outros organismos (ditos
transgnicos), tais como plantas. Assim, est em franco desenvolvimento a
obteno de plantas transgnicas resistentes a pesticidas ou ao ataque de
insetos.
Microrganismos como agentes de doenas
Os microrganismos, eventualmente provocam doenas no homem, outros
animais e plantas. Apesar dos enormes avanos em relao ao tratamento
de doenas infecciosas, estas vm se tornando novamente um tema
preocupante, em virtude do crescente surgimento de linhagens bacterianas
cada vez mais resistentes s drogas. Atualmente, a Organizao Mundial da
Sade vem demonstrando crescente interesse nas doenas emergentes e re-
emergentes, de origem infecciosa.
Abaixo apresentamos um quadro cronolgico que deixa clara tais
preocupaes, em relao ao nmero de mortes provocadas por doenas
infecciosas.


(Adaptado do livro Brock Biology of Microorganisms, 10 Ed., 2003)

Importncia da Microbiologia
uma rea da Biologia que tem grande importncia seja como cincia
bsica ou aplicada.
Bsica: estudos fisiolgicos, bioqumicos e moleculares (modelo comparativo
para seres superiores). => Microbiologia Molecular
Aplicada: processos industriais, controle de doenas, de pragas, produo de
alimentos, etc.
reas de estudo:
Odontologia: Estudo de microrganismos associados placa dental,
crie dental e doenas periodontais. Estudos com abordagem preventiva.
Medicina e Enfermagem: - Doenas infecciosas e infeces
hospitalares.
Nutrio: - Doenas transmitidas por alimentos, Controle de
qualidade de alimentos, Produo de alimentos (queijos, bebidas).
Biologia: - Aspectos bsicos e biotecnolgicos. Produo de
antibiticos, hormnios (insulina, GH), enzimas (lipases, celulases), insumos
(cidos, lcool), Despoluio (Herbicidas - Pseudomonas, Petrleo), Bio-filme
(Acinetobacter), etc.
BIOTECNOLOGIA - Uso de microrganismos com finalidades
industriais, como agentes de biodegradao, de limpeza ambiental, etc.



Um breve histrico da importncia da microbiologia
Efeitos das doenas nas civilizaes
Talvez um dos aspectos mais negligenciados quando se estuda a
microbiologia refere-se s profundas mudanas que ocorreram no curso das
civilizaes, decorrentes das doenas infecciosas.
De forma geral, as doenas provocavam um abatimento fsico e moral da
populao e das tropas, muitas vezes influenciando no desenrolar e no
resultado de um conflito.
A prpria mobilizao de tropas, resultando em uma aglomerao,
muitas vezes longa, de soldados, em ambientes onde as condies de
higiene e de alimentao eram geralmente inadequadas, tambm colaborava
na disseminao de doenas infecciosas, para as quais nnao exisitam
recursos teraputicos.
Paralelamente, em reas urbanas em franca expanso, os problemas
mencionados acima eram tambm de grande importncia, pois rapidamente
as cidades cresciam, sendo que as instalaes sanitrias geralmente eram
completamente precrias.
Com a prtica do comrcio entre as diferentes naes emergentes,
passou a haver a disseminao dos organismos para outras populaes,
muitas vezes susceptveis a aqueles agentes infecciosos.
Abaixo listaremos, brevemente, um pequeno histrico com alguns exemplos
dos efeitos das doenas microbianas no desenvolvimento de diferentes
civilizaes.
O declnio do Imprio Romano, com Justiniano (565 AC), foi acelerado
por epidemias de peste bubnica e varola. Muitos habitantes de Roma foram
mortos, deixando a cidade com menos poder para suportar os ataques dos
brbaros, que terminaram por destruir o Imprio.
Durante a Idade Mdia varias novas epidemias se sucederam, sendo
algumas amplamente disseminadas pelos diferentes continentes e outras
mais localizadas. Dentre as principais molstias pode-se citar: Tifo, varola,
sfilis, clera e peste.
Em 1346, a populao da Europa, Norte da frica e Oriente Mdio era
de cerca de 100 milhes de habitantes. Nesta poca houve uma grande
epidemia da peste, que disseminou-se atravs da rota da seda (a principal
rota mercante para a China), provocando um grande nmero de mortes na
sia e posteriormente espalhando-se pela Europa, onde resultou em um
total de cerca de 25 milhes de pessoas, em poucos anos.
Novas epidemias da peste ocorreram nos sculos XVI e XVII, sendo que no
sculo XVIII (entre 1720 e 1722), uma ltima grande epidemia ocorreu na
Frana, matando cerca de 60% da populao de Marselha, de Toulon,. 44%
em Arles, 30% em Aix e Avignon.
A epidemia mais recente de peste originou-se na China, em 1892,
disseminando-se pela ndia, atingindo Bombaim em 1896, sendo
responsvel pela morte de cerca de 6 milhes de indivduos, somente na
ndia.
Antes da II Guerra Mundial, o resultado das guerras era definido pelas
armas, estratgias e pestilncia, sendo esta ltima decisiva. Em 1566,
Maximiliano II da Alemanha reuniu um exrcito de 80.000 homens para
enfrentar o Sulto Soliman da Hungria. Devido a uma epidemia de tifo, o
exrcito alemo foi profundamente dizimado, sendo necessria a disperso
dos sobrevivente, impedindo assim a expulso das hordes de tribos orientais
da Europa nesta poca.
Na guerra dos 30 anos (1618-1648), onde protestantes se revoltaram
contra a opresso dos catlicos, alm do desgaste decorrente da longa
durao do confronto, as doenas foram determinantes no resultado final.
Na poca de Napoleo, em 1812, seu exrcito foi quase que completamente
dizimado por tifo, disenteria e pneumonia, durante campanha de retirada de
Moscou. No ano seguinte, Napoleo havia recrutado um exrcito de 500.000
jovens soldados, que foram reduzidos a 170.000, sendo cerca de 105.000
mortes decorrentes das batalhas e 220.000 decorrentes de doenas
infecciosas.
Em 1892, outra epidemia de peste bubnica, na China e ndia, foi
responsvel pela morte de 6 milhes de pessoas.
At a dcada de 30, este era quadro, quando Alexander Fleming,
incidentalmente, descobriu um composto produzido por um fungo do gnero
Penicillium, que eliminava bactrias do gnero Staphylococcus, um
organismo que pode produzir uma vasta gama de doenas no homem. este
composto - denominado penicilina - teve um papel fundamental na desfecho
da II Guerra Mundial, uma vez que passou a ser administrado s tropas
aliadas, enquanto o exrcito alemo continuava a sofrer pesadas baixas no
campo de batalha.
Alm destas epidemias, vale ressaltar a importncia das diferentes
epidemias de gripe que assolaram o mundo e que continuam a manifestar-
se de forma bastante intensa at hoje. Temos ainda o problema mundial
envolvendo a AIDS, o retorno da tuberculose (17 milhes de casos no Brasil)
e do aumento progressivo dos nveis de resistncia aos agentes
antimicrobianos que vrios grupos de bactrias vm apresentando
atualmente.

Morfologia e ultraestrutura bacterianas (Parte 1)
Morfologia: Tamanho, forma e arranjos bacterianos

As bactrias so extremamente variveis quanto ao tamanho e formas que
apresentam. At recentemente acreditava-se que as menores bactrias
apresentavam cerca de 0,3 m (ex: Mycoplasma), entretanto, j existem
relatos de clulas menores, denominadas nanobactrias ou
ultramicrobactrias, com tamanhos variando de 0,2 a 0,05 m de dimetro,
sendo algumas inclusive j cultivadas em laboratrio. H ainda controvrsias
quanto a este grupo, pois vrios autores acreditam ser meros artefatos.
Muitas bactrias medem de 2 a 6 m de comprimento, por 1 a 2 m de
largura, mas certamente estes valores no podem ser definidos como
absolutos, pois eventualmente encontramos bactrias de at 500 ou 800
m, como no caso de Epulopiscium ou Thiomargarita.
Em relao s formas, a maioria das bactrias estudadas seguem um padro
menos varivel, embora existam vrios tipos morfolgicos distintos. De
maneira geral, as bactrias podem ser agrupadas em trs tipos morfolgicos
gerais: cocos, bacilos e espiralados.

Os cocos correspondem a clulas arredondadas, podem se dividir sem um
plano de orientao definido, o que leva a um grande nmero de arranjos
diferentes. Assim temos os cocos isolados, diplococos (Neisseria,
pneumococos), tetracocos, sarcinas (cubos contendo 8 clulas),
estreptococos (cocos em cadeia) e estafilococos (cocos formando massas
irregulares).
















Microscopia ptica, corada
pelo mtodo de Gram, de cocos
formando cadeias, um arranjo
denominado estreptococos.

Microscopia eletrnica de
varredura das clulas
apresentadas acima.

Microscopia ptica, corada
pelo mtodo de Gram, de cocos
em um arranjo denominado
estafilococos.

Microscopia eletrnica de
varredura das clulas
apresentadas acima.
Os bacilos tm forma de bastonetes, podendo apresentar
extremidades retas (Bacillus anthracis), arredondadas (Salmonella, E. coli),
ou ainda afiladas (Fusobacterium). Como seu plano de diviso fixo,
ocorrendo sempre no menor eixo, os bacilos exibem uma menor variedade
de arranjos, sendo via de regra encontrados isolados, como diplobacilos ou
ainda como estreptobacilos. H ainda um arranjo, denominado em
paliada, tambm denominado letras chinesas, que tpico do gnero
Corynebacterium. Tal tipo de arranjo ocorre porque a parede celular desses
organismos dupla e no momento da diviso celular ocorre a ruptura de
apenas uma das camadas, deixando as clulas unidas pela camada de
parede que no se rompeu. Os bacilos podem ainda apresentar-se como
pequenas vrgulas (Vibrio cholerae) ou em forma de meia lua
(Selenomonas).

Microscopia ptica, corada
pelo mtodo de Gram, de bacilos
arranjados dois a dois (diplobacilos).

Microscopia eletrnica de
transmisso, de um bacilo em
processo de diviso celular.

Espiralados: Sua nomenclatura bastante controvertida ainda. Um tipo de
classificao divide os espiralados em dois grupos, osespiroquetas, que
apresentam uma forma de espiral flexvel, possuindo flagelos
periplasmticos. O outro grupo so os espirilos, que exibem geralmente
morfologia de espiral incompleta e rgidos.
Geralmente os espiralados so microrganismos bastante afilados, de difcil
observao por microscopia de campo claro, sendo muitas vezes analisados
por meio da microscopia de campo escuro, ou de tcnicas de colorao
empregando a impregnao por sais de prata.

Microscopia ptica de
fluorescncia, de um organismo
espiralado.

Microscopia ptica,
utilizando um procedimento de
impregano com sais de prata,
revelando a bactria causadora
da sfilis, Treponema pallidum
(observe os grandes neutrfilos
prximos s bactrias)






Micrografias eletrnicas colorizadas de diferentes bactrias. No sentido horrio: Enterococcus (cocos
ovalados), Francisella (bacilos pequenos, com a regio central abaulada), Fusobacterium (longos
bacilos, geralmente com extremidades mais afiladas) e Neisseria gonorrhoeae (diplococos em forma de
rins).
(Fotos obtidas de sites da internet)

H ainda formas intermedirias como os cocobacilos; formas
pleomrficas (quando o microrganismo no tem uma morfologia padro), tal
como Mycoplasma; ou ainda formas de involuo, originadas quando o meio
encontra-se desfavorvel ao desenvolvimento. Nesses casos, como o
organismo deixa de realizar os processos metablicos (nutrio e diviso
celular) adequadamente, este sofre alteraes morfolgicas.
H tambm bactrias apresentando apndices, tais como extenses
celulares na forma de longos tubos ou hastes (prostecas) (Rhodomicrobium
vannielii). Alm destas bactrias, estudos vm revelando a ocorrncia de
bactrias com formas bastante peculiares, tais como clulas estreladas ou
retangulares.

bactria com morfologia
retangular

bactria com morfologia
semelhante a uma estrela
(Adaptado de Tortora et al., Microbiologia, 1998)

Bactria pedunculada
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)

Ultraestrutra Bacteriana
A ultraestrutura bacteriana comeou a ser estudada em maiores
detalhes nas dcadas de 50 e 60, a partir do melhoramento das tcnicas de
microscopia eletrnica. Os procedimentos adotados incluam a lise celular,
seguida de centrifugao para promover a separao dos vrios
componentes subcelulares, que podiam agora ser purificados e analisados
bioquimicamente.

Parede Celular - Estrutura presente na maioria das bactrias conhecidas,
exceto em micoplasmas e algumas Archaea, que no a possuem.
Corresponde a uma das estruturas mais importantes nas clulas bacterianas,
estando localizada na poro mais externa, acima da membrana
citoplasmtica. Devido sua grande rigidez, a parede celular responsvel
pela manuteno da forma do microrganismo. Como o ambiente intracelular
bastante concentrado em relao ao meio externo, (variando de 2 a at 10
atm), a parede atua como uma barreira fsica rgida, que mantm a forma
celular, impedindo que a clula estoure em decorrncia do grande turgor.
Alm disso, a parede celular atua como uma barreira de proteo contra
determinados agentes fsicos e qumicos externos, tais como o choque
osmtico. A parede pode ainda desempenhar importante papel em
microrganismos patognicos, em decorrncia de presena de componentes
que favorecem sua patogenicidade, tais como antgenos ou molculas
envolvidas no reconhecimento celular.
Em 1884, Christian Gram desenvolveu um mtodo de colorao de
bactrias que permitia sua separao em dois grupos distintos, as Gram
positivas (que coravam-se em roxo) e as Gram negativas (que coravam-se
em vermelho). A partir do advento da microscopia eletrnica e do
aperfeioamento das tcnicas de anlise bioqumica dos diferentes
componentes celulares, foi verificado que esta diferena entre as bactrias
Gram positivas e Gram negativas era, provavelmente, devida s diferenas
de composio e estrutura das paredes celulares.
Assim, quando observadas sob microscopia eletrnica de transmisso, as
bactrias Gram positivas apresentam uma parede celular espessa (de 20 a
80 nm), de aspecto homogneo, enquanto as clulas Gram negativas
exibem uma parede mais delgada (de 9 a 20 nm) e de aspecto bastante
complexo, aparentemente apresentando mais de uma camada. A
microscopia eletrnica de varredura revelou outras diferenas entre estes
dois grupos de organismos. As Gram positivas exibiam a superfcie mais lisa
e homognea, enquanto as Gram negativas apresentavam-se com maior
complexidade superficial.


Aspecto das paredes celulares de organismos Gram positivos e negativos
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)

Composio da parede celular
Peptideoglicano (murena ou mucopeptdeo): Composto
exclusivamente encontrado no domnio Bacteria, sendo o responsvel pela
rigidez da parede celular. O peptideoglicano corresponde a um enorme
polmero complexo que, em bactrias Gram positivas pode formar at 20
camadas, enquanto em clulas Gram negativas est presente, formando
apenas uma ou duas camadas.
O peptideoglicano corresponde a um esqueleto, formado por dois
derivados de acares, a N-acetilglicosamina (NAG) e o cido N-
acetilmurmico (NAM), unidos alternadamente, atravs de ligaes do tipo
-1,4. O grupo carboxil de cada molcula de NAM liga-se a um
tetrapeptdeo, composto por aminocidos que alternam-se nas configuraes
L e D. Destes aminocidos, o D-glutamato, D-alanina e o cido meso-
diaminopimlico no so encontrados em qualquer outra protena conhecida.
Acredita-se que sua presena confira maior resistncia da parede contra a
maioria das peptidases.
Assim, em cada resduo de NAM h um tetrapeptdeo associado. A enorme
rigidez da da parede celular resultante das ligaes entre os tetrapeptdeos
de cadeias adjacentes. Neste aspecto, h uma grande diferena entre as
bactrias Gram positivas e negativas. Nas bactrias Gram negativas (Ala-
Glu-DAP-Ala), a ligao entre os tetrapepdeos direta, ocorrendo entre o
grupamento amino do DAP subterminal (posio 3) e o grupamento carboxi
da D-Ala terminal (posio 4). J nas Gram positivas (Ala-Glu-Lys-Ala), a
ligao indireta, sendo mediada por uma ponte interpeptdica de natureza
varivel (cinco glicinas em S. aureus). A anlise das figuras abaixo deixa
clara a grande estruturao do peptdeoglicano, em virtude das inmeras
ligaes cruzadas existentes ao longo da molcula. Assim, devido a esta
complexa estruturao fsica, o peptideoglicano confere rigidez parede,
embora exiba certo grau de elasticidade e tambm porosidade.

peptideoglicano de clulas Gram
positivas
peptideoglicano de clulas Gram
negativas
Nas bactrias Gram positivas, cerca de 90% da parede celular
composta pelo peptdeoglicano, que geralmente forma cerca de 20 camadas.
O restante da parede composto essencialmente por cido teicico. Nas
bactrias Gram negativas, apenas cerca de 10% da parede corresponde ao
peptideoglicano, existindo geralmente como uma camada nica ou dupla. Os
demais componentes da parede celular de bactrias Gram negativas sero
analisados posteriormente.

Esquema ilustrando o espesso peptideoglicano de bactrias Gram positivas
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)

cidos Teicicos: Juntamente com peptideoglicano, os cidos teicicos
compem a parede celular das bactrias Gram positivas. Estes compostos,
presentes em grandes quantidades, correspondem a polmeros de glicerol ou
ribitol ligados a acares ou aminocidos e conectados entre si por meio de
grupamentos fosfato.
Os cidos teicicos associam-se ao peptideoglicano pela ligao do
grupamento 6 hidroxil do cido N-acetilmurmico, podendo alternativamente
associar-se aos lipdeos da membrana citoplasmtica, quando passam a ser
denominados de cidos lipoteicicos. Devido sua carga negativa, os cidos
teicicos contribuem com o carter negativo da superfcie celular de Gram
positivas. Seu papel fisiolgico ainda desconhecido, mas especula-se que
estes possam participar nos processos de passagem de ons pela parede, ou
ligar-se a prtons, mantendo um pH celular relativamente baixo.
Em casos de escassez de fosfato, os cidos teicicos podem ser substitudos
por cidos teicurnicos, deixando assim os fosfatos livres para comporem
ATP ou DNA, por exemplo.

Frmula de um cido teicico, contendo ribitol
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)

O componente adicional da Parede Celular de Gram
negativos

Membrana Externa: Esta, embora denominada "membrana"externa um
componente da parede celular, presente apenas nas bactrias Gram
negativas. A membrana externa corresponde a uma segunda bicamada
lipdica (semelhante membrana plasmtica), localizada acima do
peptideoglicano, contendo fosfolipdeos, lipoprotenas, protenas e tambm
lipopolissacardeos. Quando comparada membrana citoplasmtica, a
membrana externa exibe maior permeabilidade a pequenas molculas, tais
como glicose ou outros monossacardeos.
Sua face interna geralmente rica em pequenas lipoprotenas (7,2 kDa),
denominadas lipoprotenas de Braun, que ligam-se covalentemente ao
peptideoglicano, ancorando firmemente a membrana externa camada de
peptideoglicano.
Estudos indicam que a membrana externa e a membrana citoplasmtica
mantm contato em algumas discretas regies celulares, denominadas stios
de adeso. Acredita-se que estas regies de juno podem conferir maior
rigidez parede celular das bactria Gram negativas, alm de fixar melhor a
membrana externa, no deixando-a frouxa, associada somente ao
peptideoglicano. Os stio de adeso foram tambm denominados junes de
Bayer e acredita-se que possam ser importantes locais de passagem de
compostos citoplasmticos, seja componentes envolvidos na sntese da
membrana externa ou diferentes nutrientes.

Esquema da parede celular de organismos Gram negativos
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)
A face externa da membrana externa rica em lipopolissacardeos
(LPS), inexistentes na membrana citoplasmtica. Estes componentes so
tambm denominados de endotoxina, uma vez que provocam febre, choque
e eventualmente morte, quando injetados em animais. O LPS uma
molcula complexa, composta por 3 regies distintas: lipdeo A,
polissacardeo central e cadeia polissacardica lateral O, ou Antgeno O.

Esquema do lipopolissacardeo, encontrado na face externa da membrana
externa
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)

O lipdeo A corresponde poro mais interna da molcula, ancorando o LPS
poro hidrofbica da membrana externa. Este componente corresponde
poro txica do LPS e geralmente composto por cido esterico,
palmtico, mirstico, lurico ou caprico. Estes cidos graxos esto ligados a
um dissacardeo de NAcGlicosamina-P. A poro polissacardica localiza-se
acima do lipdeo A, em direo ao exterior, sendo composta por duas
regies, o polissacardeo central e polissacardeo O, que mais externo, de
natureza repetitiva. Em Salmonella, o cerne composto por 10 acares
pouco usuais. Conectado ao cerne, h o Ag O, que geralmente composto
por 3 a 5 acares bastante peculiares e variveis. A natureza destes
acares pode ser modificada pelos microrganismos, resultando em um
mecanismo de evaso do sistema imune. O LPS tambm confere carga
nagativa superfcie celular.
O LPS se associa a protenas, formando a face externa da unidade de
membrana.
A membrana externa apresenta um grupo especializado de protenas,
denominadas genericamente de porinas, que atuam como canais para a
passagem de pequenas molculas hidroflicas, participando assim do
processo de nutrio. As porinas podem ser especficas, contendo stios de
ligao para 1 ou mais substratos, ou inespecficas, compondo canais
aquosos.
A maioria das porinas correspondem a protenas transmembrnicas, com 3
subunidades idnticas, que formam orifcios de cerca de 1 nm, sendo que,
aparentemente, possuem mecanismos para a abertura e fechamento. Para
algumas substncias, a membrana externa mais restritiva.

Compostos que afetam a Integridade da Parede Celular
Ao da Lisozima na PC: Esta enzima, sintetizada por alguns organismos e
por glndulas endcrinas do homem, age clivando as ligaes do tipo -1,4,
presentes no peptideoglicano. Nas clulas Gram positivas, o tratamento com
lisozima origina protoplastos (clulas sem parede celular), enquanto nas
Gram negativas, a lisozima origina esferoplastos (clulas com resqucios de
parede celular).

Ao da penicilina na PC: Este antibitico impede a ligao dos
tetrapeptdeos. A droga se liga irreversivelmente s PBPs, que so protenas
envolvidas no processo de biossntese do peptideoglicano. Paralelamente, as
autolisinas, que atuam em conjunto com a maquinaria de biossntese,
passam a degradar pores do peptideoglicano. Como a sntese est
bloqueada, o resultado lquido a formao de uma parede defeituosa.

A Camada S
Algumas bactrias e vrias Archaea apresentam uma camada de natureza
protica ou glicoprotica estruturada (como um piso de tacos), denominada
camada S. Esta camada, as bactrias, encontra-se acima da parede celular e
at o momento, suas funes no se encontram totalmente esclarecidas.
Acredita-se que esta camada proteja a clula contra flutuaes osmticas,
de pH e ons, alm de auxiliar na manuteno da rigidez da parede. Alguns
autores especulam que a camada S pode mediar a ligao dos orgnaismos a
superfcies.

Microscopia eletrnica de uma clula contendo a camada S.
(Adaptado de Prescott et al., 2002)



Morfologia e ultraestrutura bacterianas (Parte 2)

Cpsula, Glicoclix e camada limosa - A cpsula pode ser
definida como uma camada externa parede celular, geralmente
apresentando-se como um material viscoso, fortemente associado
superfcie celular, geralmente de natureza polissacardica e raramente
protica. Por outro lado, o termo camada limosa algumas vezes definido
como uma uma zona difusa, contendo material pouco organizado, sendo
facilmente removida.
A presena da cpsula normalmente confere vantagens s bactrias, pois
suas principais funes incluem: ligao s clulas do hospedeiro, fator de
virulncia por dificultar a fagocitose e tambm a proteo, seja aumentando
a resistncia ao dessecamento, uma vez que armazena grandes quantidades
de gua, fonte de nutrientes e proteo contra a infeco por bacterifagos,
ou interao com anticorpos.
Em odontologia, a presena da cpsula pode ser considerada como um
importante fator de virulncia para o principal agente cariognico - S.
mutans, que sintetiza um cpsula composta por um homopolissacardeo
denominado glucano (produto da degradao da sacarose em glicose e
frutose). Tal polmero adere-se firmemente parede celular do
microrganismo e permite sua aderncia ao esmalte, favorecendo sua
colonizao.
Outros microrganismos apresentam cpsula de natureza heteropolimrica -
S. pneumoniae. Eventualmente, a cpsula pode ser de natureza
polipeptdica, como em B. anthracis (cido glutmico, na forma D).

Micrografia ptica, empregando a
tcnica de colorao negativa,
revelando clulas capsuladas.
(Adaptado de Tortora et al., Microbiologia, 1998)

Micrografia eletrnica de
transmisso, revelando a delgada
cpsula circudando a clula
(Adaptado de "An eletctronic companion to microbiology")


Fmbrias e Pili - Muitas bactrias Gram negativas apresentam
apndices finos (3 a 10 nm), retos e curtos, denominados fmbrias.
Geralmente estas so bastante numerosas, podendo atingir nmeros de
1000 ou mais por clula. Como so muito pequenas e delgadas, somente
podem ser visualizadas pela microscopia eletrnica. As fmbrias s o de
natureza protica, compostas por subunidades repetitivas de uma protena
denominada genericamente de pilina. As fmbrias possuem, geralmente em
sua extremidade, e algumas vezes ao longo da estrutura, protenas
distintas, denominadas adesinas, as quais mediam a adeso especfica da
clula bacteriana a diferentes substratos.

Micrografia eletrnica de
varredura de bacilos apresentando
fmbrias

Esquema ilustrando a organizao
estrutural de uma fmbria, assinalando a
presena de molculas do tipo adesina,
situadas na extremidade da estrutura
(Adaptado de An Electronic Companion to Microbiology)

Muitas bactrias podem ainda apresentar outro tipo de apndice,
denominado pilus F ou fmbria sexual, o qual exibe semlhanas estruturais
com as fmbrias. No entanto, este tipo de fmbra normalmente encontrado
em um menor nmero nas clulas, variando de 1 a 10. O pilus F
corresponde a uma estrutura bastante longa e menos rgida que as fmbrias
convencionais, estando envolvido no reconhecimento de outras bactrias,
em um processo de transferncia de genes denominado conjugao.


Micrografia eletrnica colorizada, revelando a longa fmbria sexual (pilus F).
Observar tambm a presena de fmbrias.
Atualmente, diferentes tipos diferentes de fmbrias vm sendo
descritos, sendo vrios destes associados adeso, ou virulncia.
Bactrias Gram positivas podem, muitas vezes, apresentar estruturas
fibrilares (diferentes de fmbrias) em sua superfcie, provavelmente tambm
envolvidas nos processos de adeso a substratos.

Flagelos - Estruturas longas, delgadas e relativamente rgidas,
apresentando cerca de 20 nm de espessura e 15 a 20 m de comprimento,
responsveis pela locomoo das bactrias. Devido sua pequena
espessura, os flagelos somente podem ser visualizados por meio de
coloraes especficas, microscopia de campo escuro, ou por icroscopia
eletrnica.
De acordo com o nmero e distribuio dos flagelos, as bactrias podem ser
classificadas como: atrquias (sem flagelos), monotrquias (um nico
flagelo), anfitrquias (um flagelo em cada extremidade) , lofotrquias (um
tufo de flagelos em uma, ou ambas as extremidades) e peritrquias
(apresentando flagelos ao longo de todo o corpo bacteriano).


Bactria monotrquia
(Adaptado de Atlas, 1997 - Principles of
Microbiology)
Bactria anfitrquia
(Adaptado de Tortora et al., 1998 - Microbiology)
Bactria lofotrquia
(Adaptado de Tortora et al., 1998 -
Microbiology)
Bactria lofotrquia
(Adaptado de Atlas, 1997 - Principles of
Microbiology)

Bactria peritrquia
(Adaptado de Tortora et al., 1998 -
Microbiology)
Bactria peritrquia
(Adaptado de Tortora et al., 1998 - Microbiology)

Estrutura - Estruturalmente, o flagelo pode ser subdivido em 3 regies:
filamento, corpo basal e gancho, sendo estas duas ltimas importantes para
a insero e movimento do filamento. O filamento dos flagelos apresenta
estrutura helicoidal, com comprimento de onda constante para cada espcie.
Este corresponde a um cilindro longo e oco, composto por unidades
repetitivas de uma protena denominada genericamente de flagelina, que
pode variar de 30 a 60 kDa, dependendo do microrganismo. Sua
extremidade distal revestida por uma protena seladora. Algumas bactrias
apresentam bainhas de diferentes naturezas revestindo o filamento, tal
como em Vibrio cholerae, ou Bdellovibrio. O gancho apresenta maior
espessura que o filamento, sendo composto por diferentes subunidades
proticas. O corpo basal corresponde poro mais complexa do flagelo,
apresentando 4 anis ligados a um basto central em bactrias Gram
negativas, enquanto em Gram positivas so observados apenas 2 anis. Os
anis externos L e P associam-se ao LPS e peptidioglicano, respectivamente,
enquanto os anis S e M esto associados membrana citoplasmtica.

Esquema da estrutura dos flagelos bacterianos, em clulas
Gram negativas ( esquerda) e Gram positivas ( direita)
(Adaptado de Prescott et al., Microbiology, 2000)

Detalhe ampliado da estrutura de um flagelo de clulas Gram negativas
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)

Sntese flagelar - Muitos genes esto envolvidos na sntese do flagelo e na
mobilidade celular. Em E. coli e Salmonella foram identificados mais de 40
genes (fla), que codificam protenas estruturais, de exportao de
componentes para o exterior e de regulao de muitos eventos bioqumicos
envolvidos na sntese de novos flagelos. A sntese de flagelos fortemente
regulada, tanto por fatores metablicos como por sinais emitidos durante a
diviso celular. Acredita-se que as subunidades de flagelina sejam
transportadas ao longo do filamento e se autoarranjam espontaneamente,
quando atingem a ponta.
Movimentao - A movimentao dos flagelos ocorre atravs de um
mecanismo de rotao do filamento, em velocidades que podem atingir at
270 ou 1100 rps, o que permite uma locomoo de at 100 m/segundo,
correspondendo a 100 vezes o seu comprimento/minuto. Os flagelos
atuariam de maneira anloga a propulsores de um barco, sendo o sentido da
rotao importante para o tipo de movimentao resultante. Em muitas
clulas monotrquias, a rotao no sentido anti-horrio promove a
movimentao para frente, enquanto a rotao no sentido horrio faz com
que a clula se locomova no sentido oposto.
Em outras monotrquias, quando o flagelo gira no sentido horrio promove a
locomoo.

Tipos de movimentao de clulas monotrquias
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)

No caso de bactrias peritrquias, quando os flagelos giram no sentido anti-
horrio as clulas se movem para frente. Estes dobram seus ganchos e seus
filamentos se agrupam, formando um feixe, que gira e propele a clula.
Quando a rotao ocorre no sentido horrio, os flagelos se separam e a
bactria passa a vibrar somente, at que os flagelos voltem a girar no
sentido anti-horrio, impulsionando novamente a clula para frente.
Para que haja a movimentao, o basto localizado entre o gancho e o anel
M tem a capacidade de rodar livremente na membrana citoplasmtica.
Acredita-se que o anel S esteja fixo na parede celular, sem a possibilidade
de rodar. Os anis P e L sustentariam o basto. H evidncias que o corpo
basal atuaria como uma estrutura passiva que giraria no interior de um
complexo proteco inserido na membrana, semelhante a um rotor de um
motor eltrico, que gira no centro de um anel de eletromagnetos (estator). A
energia necessria para a rotao provida pela fora prton motiva. A
dissipao do gradiente de prtons cria uma fora que gira o flagelo no
sentido anti-horrio, impelindo o microrganismo. O rotor seria composto
pelo basto central, pelo anel M e por um anel C, ligado ao M atravs da
membrana citoplasmtica. Estes anis so formados por vrias protenas,
sendo a FliG bastante importante. No estator, temos as protenas MotA e
MotB, que formam um canal de prtons, sendo que MotB tambm ancora o
complexo ao peptideoglicano.

Esquema ilustrando a movimentao de bactrias peritrquias
(Adaptado de Tortora et al., 1998 - Microbiology)

Flagelos periplasmticos - Estes flagelos so encontrados apenas nos
espiroquetas (sendo muitas vezes denominados de filamentos axiais). Como
o prrpio nome indica, estes flagelos situam-se no periplasma, localizando-
se abaixo da membrana externa destas bactrias. Os flagelos
periplasmticos originam-se a partir dos polos celulares, voltando-se em
direo ao centro da clula, envolvendo a membrana citoplasmtica do
corpo bacteriano.
Micrografia
eletrnica colorizada, revelando os
flagelos periplasmticos (amarelo)
(Adaptado de Tortora et al., 1998 -
Microbiology)
Micrografia eletrnica revelando o flagelo
periplasmtico, situado abaixo da membrana
externa
(Adaptado de An Electronic Companion to
Microbiology)

Movimentao por meio de deslizamento

Muitos procariotos so mveis, apesar de no possurem flagelos. Estas
bactrias so capazes de se movimentar sobre superfcies slidas, por um
processo denominado deslizamento. A motilidade por deslizamento
apresentada por vrios membros de Bacteria, sendo, no entanto, estudada
somente em alguns poucos grupos. O movimento deslizante
consideravelmente mais lento 10 m/seg para algumas bactrias, quando
comparado s velocidades atingidas pelo movimento flagelar mas, da
mesma forma, permite a locomoo das bactrias em seus habitats.
Mecanismos da Motilidade Por Deslizamento
Embora at o momento nenhum mecanismo de deslizamento tenha sido
comprovado, existem alguns modelos definindo o processo, alm de
evidncias sugerindo a existncia de mais de um tipo de mecanismo. Em
cianobactrias, medida que as clulas deslizam, secretam um
polissacardeo limoso em sua superfcie externa. Aparentemente, este
polissacardeo estabelece o contato entre a superfcie celular e a superfcie
slida, contra a qual a clula desliza. medida que o polissacardeo limoso
excretado se adere superfcie, a clula gradativamente puxada. Esta
hiptese sustentada pela observao de poros excretores de compostos
limosos na superfcie de vrias cianobactrias filamentosas.
Em Flavobacterium johnsoniae, provavelmente o mecanismo de
deslizamento envolve a movimentao de protenas na superfcie celular. De
acordo com este modelo, protenas especficas de motilidade, ancoradas nas
membranas citoplasmtica e externa, parecem propelir a clula para frente
por um mecanismo de cremalheira contnua. Ao que parece, o movimento
das protenas da membrana citoplasmtica promovido pela liberao de
energia oriunda da fora prton motiva que, de alguma maneira, transmite
esta energia s protenas da membrana externa, localizadas ao longo de
uma pista de corrida na superfcie celular. Acredita-se que o movimento
das protenas da pista de corrida contra uma superfcie slida, literalmente
empurre a clula para frente.
Assim como as outras formas de motilidade, o deslizamento apresenta
grande relevncia ecolgica. Este movimento permite que a clula explore
novos recursos, ou interaja com outras clulas, de maneira benfica.


Esquema proposto para a movimentao deslizante de Flavobacterium
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)

Morfologia e ultraestrutura bacterianas (Parte 3)
Periplasma (gel periplasmtico) - Corresponde a um espao situado entre a
membrana externa e membrana citoplasmtica, encontrado em clulas Gram negativas.
Embora questionveis, relatos espordicos descrevem a existncia de um espao observado
entre o peptideoglicano e a membrana citoplasmtica de organismos Gram positivos. O
periplasma apresenta consistncia de gel, provavelmente devido ao grande nmero de
protenas presentes nesta regio. Em virtude disto, este "espao" passou a ser denominado gel
periplasmtico. O periplasma pode atingir de 1 a cerca de 70 nm de espessura,
correspondendo a at 40% do volume total da clula.
Em Gram negativas, tem grande importncia, pois vrias enzimas e outras protenas
esto localizadas, incluindo hidrolases, protenas de ligao envolvidas no transporte e
quimiorreceptores. Bactrias quimiolitotrficas e denitrifcantes apresentam muitas vezes
protenas transportadoras de eltrons no periplasma, outras apresentam enzimas envolvidas na
sntese de peptideoglicano. A presena do periplasma bactrias Gram positivas ainda motivo
de controvrsias, devido ao enorme potencial secretor que este grupo apresenta.
Membrana Citoplasmtica - Estrutura delgada, com cerca de 8 nm, composta por uma
bicamada fosfolipdica (podendo apresentar 7 tipos de fosfolipdeos diferentes), entremeada de
protenas (cerca de 200 tipos distintos), atuando como importante barreira osmtica, altamente
seletiva. Normalmente, as membranas de organismos procariotos apresentam maiores
concentraes de protenas que as membranas eucariticas, tendo em vista a ausncia de
organelas citoplasmticas nas bactrias.
A bicamada fosfolipdica composta por glicerol ligado a duas cadeias de cidos
graxos, atravs de ligaes do tipo ster, com protenas entremeadas. Tanto as protenas
como os fosfolipdeos podem mover-se lateralmente ao longo da membrana. Esta
estabilizada principalmente por interaes hidrofbicas e por pontes de H.
Paralelamente, os ons Ca
+2
e Mg
+2
tambm participam, interagindo ionicamente com as
cargas negativas dos fosfolipdeos.
Via de regra, os fosfolipdeos bacterianos contm cidos graxos com cadeias no ramificadas
de 16 a 18 tomos de carbono. Esta composio pode ser varivel, de acordo com as
condies ambientais. Assim, quando cultivadas em temperaturas baixas, h um aumento da
proporo de cidos graxos insaturados, aumentando consequentemente a fluidez da
membrana. Por outro lado, aumetando o grau de saturao, as cadeias tornam-se mais rgidas,
pois as molculas tm maior capacidade de associao.

Esquema da membrana citoplasmtica bacteriana
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)
Via de regra, exceto no caso dos micoplasma (bactrias desprovidas de parede celular),
micoplasmas, as membranas procariticas no apresentam esteris, como observado em
eucariotos. Entretanto, muitas bactrias apresentam molculas pentacclicas, semelhantes a
esteris, denominadas hopanides, talvez conferindo maior rigidez membrana. A presena de
esteris na membrana citplasmtica de micoplasmas pode ser justificada pela ausncia da
parece celular, neste grupo de organismos.

Similaridade estrutural entre os esteris (a), colesterol (b) e hopanides (c)
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)
Mesossomos - correpondem a extensas invaginaes da membrana citoplasmtica,
em forma de vesculas, lamelas ou tbulos. Geralmente so encontrados com maior
abundncia em Gram positivos, mas tambm presentes em Gram negativos. At hoje, sua
existncia e funes so ainda debatidas pelos pesquisadores. Diversas funes tm sido
atribudas aos mesossomos, tais como a participao na segregao dos cromossomos
durante a diviso, papel respiratrio, papel na esporulao, ou at mesmo como sendo um
mero artefato decorrente dos procedimentos utilizados para a preparao microscpica dos
espcimes. A partir do acahado de extensos mesossomos em bactrias de grandes
dimenses, acredita-se que sua principal funo seja de aumentar a superfcie da membrana,
aumentando assim o contedo enzimtico das clulas.
Matriz Citoplasmtica - composta por cerca de 70% de gua, alm dos demais
compostos celulares, tais como o DNA, incluses e plasmdeos. Caracteristicamente, o
citoplasma celular apresenta um grande concentrao de ribossomos e protenas, tais como
protenas atuando como um sistema de citoesqueleto.
Nucleide e plasmdeos- Os procariotos so organismoshaplides, geralmente
apresentando apenas 1 nico cromossomo no envolto por carioteca. Eventualmente, algumas
bactrias podem apresentar 2 ou 3 cromossomos. O cromossomo bacteriano normalmente
cirucular e encontra-se bastante enovelado, em uma regio celular denominada nucleide. Em
bactrias, o cromossomo no apresenta-se associado a histonas, sendo estabilizado por outras
protenas de natureza bsica. Geralmente o DNA cromossomal corresponde a uma molcula
bastante grande, podendo ser 1000 vezes maior que a prpria clula. Em E. coli, o DNA possui
cerca de 4,7 Mb, exibindo aproximadamente 1 mm de comprimento, quando linearizado.

(Adaptado de An Electronic Companion to
Microbiology)
Vrias bactrias apresentam tambm molculas de DNA extracromossomal,
denominadas plasmdeos, as quais so geralmente circulares, contendo muitas vezes genes
que conferem caractersticas adaptativas vantajosas ao microrganismo. Seu nmero e
dimenses so bastante variveis.
Corpsculos de incluso - So grnulos de armazenagem, de diferentes naturezas,
sendo geralmente utilizados como fonte de material de reserva ou energia, muitas vezes
insolveis. Estes podem apresentar-se sem qualquer envoltrio ou envoltos por uma nica
camada lipdica delgada (diferente de uma membrana), ou por protenas.
Dentre os compostos orgnicos armazenados temos o glicognio, o amido e
poliidroxibutirato. J dentre os inorgnicos temos polifosfatos (volutina ou metacromticos) e
enxofre.

Grnulos de poliidroxibutirato
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)
Os magnetossomos so partculas intracelulares de magnetita (Fe
3
O
4)
, que originam um
dipolo magntico na clula, que pode responder aos campos geomagnticos. Estes foram
descritos em algumas bactrias aquticas e algas. Outras bactrias aquticas apresentam
vesculas de gs, que conferem mobilidade nas diferentes camadas de gua. So estruturas
em forma de fuso, ocas, compostas por protenas, tendo tamanhos variveis (30 - 300 nm de
dimetro e at 1000 nm de comprimento). Consistem de um orifcio oco envolto por uma
membrana (armao) protica extremamente delgada (2 nm). Nesta membrana encontram-se
por 2 tipos de protenas que originam uma estrutura rgida, impermevel agua e permevel a
gases. A protena predominante tem cerca de 7.5 kDa, contendo 50% de resduos de
aminocidos hidrofbicos (Ala, Val, Leu, Ile), provavelmente voltados para o interior da
partcula, evitando a entrada de gua.


Clulas apresentando
magnetossomos em seu interior
(corpsculos negros enfileirados)
(Adaptado de Prescott et al., Microbiology, 2000)

Preparao de magnetossomos
(Adaptado de Prescott et al., Microbiology,
2000)

Bactrias se movendo em direo a
um campo magntico
(Adaptado de Prescott et al., Microbiology, 2000)

Esquema de uma vescula de ar,
indicando como as protenas que a
formam se associam
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of
Microorganisms, 2003)

Domnio Archaea
Consideraes Gerais
Por volta da dcada de 70, vrios organismos procariticos foram isolados a partir de
uma srie de ambientes considerados extremamente inspitos, quase que incompatveis com a
presena de seres vivos. Estes ambientes naturais caracterizavam-se por apresentar
temperaturas bastante elevadas (prximas a 100C), extrema acidez (pH prximo a 2), altas
salinidades (cerca de 10 a 15%) e, muitas vezes, ausncia completa de oxignio. Como vrias
destas caractersticas correspondiam s possveis condies encontradas na Terra primitiva,
os pesquisadores acreditavam que os organismos procariticos presentes nestes ambientes
deveriam corresponder a clulas primitivas, talvez "fsseis vivos", representando as formas de
vida ancestrais das bactrias modernas. Por esta razo, estes organismos foram denominados
"arqueobactrias".
No entanto, a partir dos trabalhos de Carl Woese e colaboradores (h cerca de 25
anos), realizando estudos comparativos de sequncias de DNA que codificavam rRNA (16S e
23S) de diferentes organismos, foram definidos 3 grandes domnios compreendendo todos os
seres vivos. Assim, de acordo com a proposta de Woese, os seres vivos poderiam ser
agrupados em trs grandes domnios: Bacteria (anteriormente denominadas eubactrias),
Archaea (as "arqueobactrias") e Eucarya (Eucariotos). Estes trs domnios teriam derivado de
um hipottico ancestral comum de todas as clulas.
A anlise da rvore filogentica apresentada abaixo, revela como a denominao
"arqueobactrias" inadequada e quo obsoleta a idia de que as "arqueobactrias" seriam
os ancestrais das bactrias atuais, pois estes organismos no correspondem aos ancestrais da
bactrias atualmente conhecidas.

rvore filogentica universal, apresentando os trs domnios da vida
(Adaptado de Madigan et al., 2003 - Brock Biology of Microorganisms)
Esta rvore revela claramente que as "arqueobactrias" no correspondem aos
ancestrais das bactrias atuais, visto que sua possvel origem ocorre quase que
concomitantemente origem das bactrias mais primitivas.
Outro aspecto que a rvore permite deduzir o fato das "arqueobactrias" ocuparem
uma posio intermediria entre os domnios Bacteria e Eucarya, sugerindo que estas
correspondem a um grupo de organismos diferentes de bactrias e de clulas eucariticas. De
fato, estudos genticos e fisiolgicos posteriormente revelaram que tais organismos
apresentam caractersticas de bactrias, de eucariotos, alm de caractersticas exclusivas, no
encontradas em qualquer outro domnio. Por esta razo, deixaram de ser denominadas
"arqueobactrias", recebendo a denominao archaea.
Uma questo ainda no elucidada refere-se ao porqu de encontrar-se um grande
variedade de archaea extremfilas, habitanto ambientes de altas temperaturas, salinidade, ou
extremos de pH. Por outro lado, o acmulo de conhecimentos sobre este grupo vem mostrando
que as archaea podem ser encontradas nos mais diversos ecossistemas, desde ambientes
aquticos frios, sistema digestrio do homem e outros animais, em tecidos vegetais.
Certamente no absurdo cogitar que no futuro sejam descobertas archaea patognicas ao
homem ou outros seres vivos.
As caractersticas apresentadas por alguns dos membros deste domnio parecem refletir
as condies primitivas da Terra, quando tal domnio comeou a evoluir como um ramo
filogenticio distinto. Ao que parece, vrias archaea conservaram mais do que as eubactrias
estas caractersticas fisiolgicas primitivas, o que seria responsvel pela distribuio atual no
planeta.
Assim, as archaea compreendem um grupo heterogneo de microrganismos que podem
ser caracterizados, em sua maioria, como habitantes de ambientes inspitos, geralmente
crescendo em condies consideradas at ento como extremas e limtrofes para a vida.
Classificao das Archaea
Atualmente, considera-se que este domnio apresente trs filos: Crenarchaeota,
Euryarchaeota e Korarchaeota.

rvore filogentica do domnio Archaea
(Adaptado de Madigan et al., 2003 - Brock Biology of Microorganisms)
O filo Crenarchaeota, separa-se muito prximo da raiz da rvore universal, sendo
composto por organismos hipertermfilos (Thermoproteus, Pyrolobus e Pyrodictium),
compreendendo os organismos capazes de crescer nas maiores temperaturas conhecidas.
Estes hipertermfilos so, em sua maioria, quimiolitotrficos autotrficos, sendo ento
classificados como produtores primrios. Neste grupo h tambm organismos isolados (mas
ainda no cultivados em laboratrio) de ambientes frios, tais como guas ocenicas.

Lagoa quente, rica em
enxofre, que convertido a cido
sulfrico, por espcies de archaea.
Sulfolobus, exemplo de uma archaea
do filo Crenarchaeota, habitante da lagoa
ilustrada acima.

(Adaptado de Madigan et al., 2003 - Brock Biology of Microorganisms)

O filo Euryarchaeota um grupo fisiologicamente diverso, sendo composto por dois grupos: 1)
as archaea metanognicas, que so anaerbias, (Methanococcus, Methanobacterium e
Methanosarcina), encontradas em ambientes de condies extremas, e 2) as haloflicas
extremas, que so aerbias (Halobacterium, Halococcus). As metanognicas compreendem os
organismos mais anaerbios conhecidos, ou seja, o oxignio mesmo em concentraes
baixssimas, exerce um efeito extremamente letal sobre estes organismos. Neste filo h ainda o
gnero Thermoplasma, composto por bactrias acidfilas, termoflicas, que no apresentam
parede celular. As haloflicas geralmente coram-se como Gram negativas, no apresentam
esporos e, em sua maioria, so imveis, geralmente apresentando grandes plasmdeos,
contendo cerca de 25 a 30% do DNA da clula. Dentre as metanognicas, encontra-se o
gnero Methanopyrus, que cresce em temperaturas de at 110C.


Lago hipersalino no Egito,
rico em carbonato de sdio. O pH
destas guas encontra-se na faixa de
10, sendo habitado por archaea
halfilas extremas, tais como
Halobacterium salinarum. A colorao
vermelha decorrente da presena
de pigmentos carotenides, presentes
nestes organismos.

Thermoplasma, uma archaea desprovida de parede celular.

Pilha de refugo da minerao de
carvo, que muitas vezes sofre auto-
combusto. Hbitat da archaea
Thermoplasma.
(Adaptado de Madigan et al., 2003 - Brock Biology of Microorganisms)
O filo Korarchaeota composto quase que somente por isolados identificados apenas a
partir do sequenciamento de 16S rRNA, sendo considerado um grupo de hipertermfilos. At o
momento, poucos espcimes de Korarchaeota foram cultivados em laboratrio.
Pesquisas realizadas em uma fenda termal localizada no fundo do mar da Islndia, em
2002, levaram identificao de uma nova espcie de archaea apresentando caractersticas
bastante distintas, quando comparada aos demais membros desse domnio. A espcie
Nanoarchaeum equitans diferencia-se das demais archaea por ser aparentemente muito
primitiva (ou modificada), sendo encontrada em associao com outra archaea (Igniococcus
sp.). Este organismo de morfologia arredondada bastante diminuto, apresentando cerca de
400 nm de dimetro e um pequeno genoma, de 0,5 Megabases. De acordo com seus
descobridores, as grandes diferenas apresentadas por Nanorachaeum em relao
seqncia de RNA ribossomal, sugerem que tal organismo seja classificado em um novo filo,
proposto como Nanoarchaeota.

Micrografia de fluorescncia,
empregando um corante especfico
para DNA, revelando as clulas de
Igniococcus (maiores) e de
Nanoarchaeum equitans (menores).
No quadro direita, micrografia
eletrnica evidenciando a estreita
associao das duas archaea.
Boucher & Doolittle (2002) Nature, 417:27-28
(clique no autor, caso deseje ver o artigo original)
Micrografia de fluorescncia
empregando corantes especficos para os rRNAs
de Igniococcus (verde) e Nanoarchaeum
(vermelho)

Huber et al. (2002) Nature, 417:63-67.
(clique no autor, caso deseje ver o artigo original)
Estrutura celular das Archaea
Quanto morfologia, podem ser esfricas, bacilares, espiraladas, achatadas, quadradas,
discides e muitas vezes de morfologia irregular ou pleomrficas. Suas dimenses so
extremamente variveis, de 0,1 a 15 m, com alguns filamentosos atingindo 200 m.
As archaea apresentam vrias caractersticas especiais, que permitem seu
desenvolvimento em uma vasta gama de ambientes. Estas incluem alteraes de composio
de membrana, composio variada de paredes celulares, presena de protenas tipo histonas,
ntrons, mecanismos de splicing, entre outros.
Parede celular: Apresenta composio e estruturao extremamente variveis neste
grupo de microrganismos. Esta variabilidade sugere que o ancestral comum seria desprovido
de parede, sendo as diversas paredes resultantes de evoluo independente, de acordo com
os diferentes ambientes e grupos de archaea.

Diferentes composies de parede celular presentes em archaea.
(Adaptado de Atlas, R.M. (1997) - Principles of microbiology)
Quando coradas pelo mtodo de Gram, algumas archaea comportam-se como Gram
positivas e outras como Gram negativas, embora suas paredes sejam completamente distintas
daquelas de eubactrias. Como observado na figura acima, suas paredes celulares
apresentam uma grande diversidade quanto composio qumica e, diferentemente das
eubactrias, no apresentam peptideoglicano. Alm disso, existem tambm outras archaea que
no exibem parede celular (Thermoplasma).
O gnero Thermoplasma cresce bem em temperaturas de 55C e pH 2, em meios
complexos. Estes organismos apresentam a membrana citoplasmtica bastante diferente,
contendo compostos semelhantes a lipopolissacardeos, contendo ligaes tetrater. Um outro
gnero, filogeneticamente relacionado a Thermoplasma, Picrophilus, que cresce em pHs de
0,06 a 0,7.
Vrias archaea exibem uma parede espessa, rgida, semelhante parede Gram positiva
(Methanobacterium, Methanopyrus, Halococcus), entretanto, os polmeros que compem a
estrutura podem ser: pseudopeptideoglicano ou metanocondroitina.
O pseudopeptideoglicano diferencia-se do peptideoglicano pela ocorrncia de cido
talosaminurnico em substituio ao murmico, pela ligao do tipo b-1,3 ao invs de b-1,4
entre os acares e pela ausncia de D-aminocidos nas pores peptdicas da molcula.
Nestas bactrias, a lisozima no exibe qualquer atividade de degradao da parede, uma vez
que seu stio de ao so as ligaes b-1,4. Da mesma forma, a penicilina ineficaz contra
estes organismos porque o mecanismo de sntese de parede distinto nas archaea.
A metanocondroitina um polmero de 4 acares (galactosamina, cido glucornico,
N-acetil-galactosamina e glicose), muito semelhante ao tecido conectivo animal, composto por
sulfato de condroitina.
Aquelas archaea que coram-se como Gram negativas podem ter paredes compostas
por protenas, polissacardeos ou glicoprotenas. As paredes proticas podem variar entre si,
podendo ser do tipo monocamada de natureza cristalina, ou policamadas, de protenas
tubulares. As glicoprotenas so tambm comuns, muitas vezes contendo grandes quantidades
de aminocidos carregados negativamente. As halobactrias so um exemplo do modelo
descrito acima, onde as cargas negativas da parede interagem com os ons Na
+
do ambiente,
estabilizando a parede.
O gnero Halococcus apresenta a parede celular composta por um
heteropolissacardeo altamente sulfatado, nunca observado em qualquer outro ser vivo.
Eventualmente, algumas archaea exibem uma camada protica adicional ao redor da
parede celular, ou compondo a prpria parede, denominada camada S, em um estado
cristalizado.

Membrana Citoplasmtica: corresponde a uma estrutura nica, apresentando
composio qumica e arranjo totalmente diferentes das membranas citoplasmticas de quase
todas as bactrias e de todos eucariotos.
Membrana Bacteria Archaea Eucarya
Contedo protico alto alto baixo
Composio lipdica fosfolipdeos
Sulfolipdeos,
glicolipdeos,
hidrocarbonetos
ramificados, isoprenoides,
fosfolipdeos
Fosfolipdeos
Estrutura dos
lipdeos
cadeia linear cadeia ramificada cadeia linear
Ligao dos lipdeos ster ter (di e tetraeter) ster

As membranas de archaea geralmente apresentam um alto contedo protico e vrios lipdeos:
glicolipdeos, sulfolipdeos, fosfolipdeos (raros) e lipdeos apolares do tipo isopreno. A
presena de hidrocarbonetos ramificados aumenta a fluidez da membrana, uma vez que
dificultam a formao de estruturas cristalinas. Dentre os principais lipdeos esto aqueles do
tipo glicerol-ter-isopreno (hidrocarbonetos de 20, 25 ou 40 Carbonos).
Uma caracterstica da poro lipdica da membrana o fato desta no ser composta por cidos
graxos convencionais. Em seu lugar encontram-se longas cadeias de hidrocarboneto
ramificadas. Os hidrocarbonetos ligam-se ao glicerol por ligaes do tipo ter (ao invs de
ster) e podem apresentar-se como bicamadas (como em todas as membranas) ou como
monocamadas. Quando formam bicamadas, denominam-se glicerol diter e quando originam
monocamadas, diglicerol tetrater.
Quando h a monocamada, esta modula sua fluidez atravs da ciclizao de alguns elementos
da cadeia de hidrocarboneto, formando anis pentacclicos.
As protenas de membrana podem ser tambm bastante diferentes daquelas observadas em
outros tipos celulares.

Estrutura e composio da membrana presente em vrias archaea.
(Adaptado de Madigan et al., 2003 - Brock Biology of Microorganisms)
Cromossomo: bastante semelhante ao cromossomo das eubactrias, uma vez que
nico e, na maioria dos casos, circular. Por outro lado, sua organizao semelhante aos
eucariotos, uma vez que observam-se protenas (do tipo histona) associando-se ao DNA,
atuando na manuteno da estrutura do DNA, afetando tambm a expresso gnica. Foi
observado que em muitos hipertermfilos a associao das protenas ao DNA promove um
enovelamente do tipo positivo no DNA, enquanto em eucariotos, este negativo.
Foi tambm relatada a presena de introns no cromossomo de Archaea, em genes de
RNA de hipertermfilos e halfilos, sendo processado atravs de endonucleases.
Transcrio: Em relao aos promotores, aparentemente sua estrutura tem maior
semelhana com promotores de eucariotos que de procariotos. A RNA polimerase mais
complexa que a de bactrias, podendo ser composta por 8 polipeptdeos em metanognicas e
haloflicas (enquanto em Bacteria so 4). Nas hipertermfilas, podem existir 10 polipeptdeos
distintos (assemelhando-se RNA polimerase de eucariotos).
Ribossomos: So do tipo 70S, semelhantes aos de bactrias, entretanto, sua
composio protica bastante distinta, tornando-os resistentes aos antibiticos que afetam a
sntese protica bacteriana. A traduo tambm diferentes das Bacteria, assemelhando-se
mais aos Eucarya, sem a participao da formil-metionina no incio do processo. A toxina
diftrica, que inibe a traduo de clulas eucariticas tambm inibe o processo em Archaea.
Flagelos: Muitas archaea, inclusive aquelas sem parede celular, podem apresentar
flagelos. Estes diferem totalmente dos flagelos bacterianos, uma vez que no apresentam a
estruturao em corpo basal, gancho e filamento. Nas Archaea, o flagelo no apresenta os
anis observados nas bactrias e, geralmente, composto por vrios tipos de flagelina, que
exibe composio similar a vrias fmbrias. Ao que parece, o flagelo composto por flagelina,
que se organiza a partir da membrana citoplasmtica, projetando-se para o exterior da clula.
Metabolismo
As archaea apresentam uma enorme diversidade metablica. Muitas so
quimiorganotrficas, com metabolismo semelhante s demais clulas, outras so
quimiolitotrficas, utilizando o H
2
como doador de eltrons nas reaes de oxi-reduo.
Vrias archaea so anaerbias e geralmente termfilas e suas vias para obteno de
energia geralmente envolvem
1) Reduo do CO
2
a metano ou converso do acetato a CO
2
e ento metano; sendo
incorporado pela via do Acetil-Coa
CO
2
+ 4H
2
k CH
4
+ 2H
2
O nas metanognicas
2) Reduo de SO
4
a H
2
S;
SO
4
2-
+ H
+
+ 4H2 k HS
-
+ 4H2O
3) Reduo de Enxfre elementar a H
2
S.
S + H
2
k HS
-
+ H
+

Assim, pode-se notar que muitas archaea exibem metabolismo quimioautotrfico.
Ecologia de archaea
Embora inicialmente fossem consideradas organismos restritos a ambientes extremos,
muitas archaea vm sendo isoladas de ambientes favorveis aos demais organismos
procariticos e eucariticos. No entanto, dentre as vrias archaea descritas at o momento, a
maioria encontrada em poucos ambientes especializados terrestres e aquticos, tais como
lagos extremamente salinos, ambientes estritamente anaerbios e/ou ambientes extremamente
quentes. At pouco tempo, a menor temperatura onde foi possvel se fazer o cultivo in vitro de
archaea era de 30C.
Dados recentes indicam, por outro lado, que este grupo de microrganismos pode
tambm ser isolado de ambientes frios. Atualmente sabemos que estes organismos so
importantes membros da microbiota aqutica de regies frias do planeta. Ao que parece, as
archaea podem corresponder a at 34% da biomassa procaritica das guas costeiras
superficiais da Antrtida.
De maneira geral, e pelo fato da maioria das archaea conhecidas serem isoladas de
ambientes quentes, salinos e/ou anaerbios, este domnio didaticamente dividido em trs
grandes grupos: termoflicos, halfilos e metanognicos.
No entanto, vale ressaltar mais uma vez que dados mais recentes comprvam a ampla
distribuio geogrfica e ecolgica desse grupo de organismos.
Termofilia: Sabe-se que vrias archaea tm temperatura tima superior a 80C e
temperatura mxima de crescimento acima de 100C (Pyrodictium brockii tem timo de 105C
e Pyrolobus fumarii de 106C, embora cresa em at 113C). Ainda no se sabe at onde pode
ir esta faixa de temperatura.
Pyrolobus fumarii foi isolado de uma fenda no Oceano Atlntico, a uma profundidade de
3.650 metros, crescendo em uma faixa de temperatura de 90 a 113C, pH de 4 a 6.5 e
concentraes de NaCl variando de 1 a 4%. Experimentos realizados em laboratrio mostram
que culturas na fase exponencial de crescimento sobrevivem ao tratamento em autoclave
(121C) por 1 hora.
A termofilia requer adaptaes fisiolgicas especializadas, pois as protenas e cidos
nuclicos no podem ser desnaturados e a membrana deve manter-se funcional nestas
temperaturas.
Curiosamente, a estrutura primria (seqncia de aminocidos) de vrias protenas de
Archaea no exibem diferenas significativas quando comparada a outros organismos.
Provavelmente, o principal fator para esta caracterstica seja o dobramento destas protenas.
Uma caracterstica das protenas de termoflicos refere-se substituio de aminocidos mais
flexveis por aqueles que conferem maior rigidez molcula. Alm disso, foi sugerido que as
protenas poderiam ser estabilizadas pela presena de altos teores de aminocidos
hidrofbicos. As archaea termfilas tambm exibem um enorme nmero de chaperonas, que
garantem o dobramento correto das protenas nas temperaturas mais elevadas.
Em termos de genoma, observa-se muitas vezes valores maiores de G+C nas
hipertermfilas, estabilizando assim os cidos nuclicos. Entretanto, tal caracterstica no pode
ser considerada como regra. Muitas termoflicas apresentam altas concentrao de 2,3-
difosfoglicerato cclico, um composto que protege contra a depurinizao. Vrias outras
produzem uma DNA girase reversa, que enovela o DNA no sentido positivo, que mais estvel
que o negativo, o qual encontrado na maioria das outras clulas. Alm disso, muitas vezes
so encontradas protenas do tipo histona ou outras, que se ligam fortemente ao DNA,
protegendo-o.
Quanto membrana, sua funcionalidade decorrente da presena de isopreno e da
ciclizao de seus componentes, alm da alta frequncia de membranas do tipo tetrater.
As termfilas podem ser encontradas em fontes geotrmicas, fontes vulcnicas (que
expelem vapores e compostos sulfurados), fontes termais marinhas, onde erupes vulcnicas
elevam a temperatura para mais de 100C. Nestes casos, estas bactrias requerem,
adicionalmente, presses elevadas para o seu desenvolvimento. Estes organismos so muito
utilizados em biodigestores de esgoto e tambm como fonte de insumos laboratoriais (Taq pol).
Halofilia: Este grupo de archaea habita locais denominados hipersalinos, requerendo
grandes quantidades de sal para seu desenvolvimento. Um halfilo extremo requer pelo menos
1,5M de NaCl (9%), podendo variar de 2 a 4M (12 a 23%) para outras espcies. Foram
descritos organismos capazes de crescer na presena de 5,5M de NaCl, o que equivale a 32%,
correspondendo ao limite de saturao para este sal.
Embora ambientes salinos sejam comuns, os hipersalinos so raros, encontrando-se
em reas quentes e secas do mundo (lagos salgados, salinas, mar morto). Nestes ambientes,
as clulas tenderiam a perdem gua, devido elevada concentrao externa de sal.
Entretanto, exibem uma adaptao fisiolgica que corresponde ao acmulo de sais ou ons em
seu citoplasma, ou pela sntese de compostos orgnicos intracelulares, denominados solutos
compatveis. Assim, o gnero de halfilos Halobacterium bombeia grandes quantidade de K
+

para o interior da clula, superando a concentrao externa de Na
+
. Nestes organismos, as
enzimas devem exibir maior tolerncia ao sal, tendo em vista que seu funcionamento dever
ocorrer em um ambiente muito concentrado. Muitas apresentam bombas de cloro, que
constantemente bombeiam este on para o interior da clula. As paredes podem conter uma
grande quantidade de aminocidos carregados negativamente, ou polissacardeos sulfatados,
para interagir com ons Na
+
presentes no meio, sendo esta interao essencial integridade da
parede.
Metanognicos: Este foi o primeiro grupo de archaea descrito, sendo nico por sua
capacidade de sintetizar metano. Sua distribuio geogrfica muito ampla, sendo
encontrados no intestino de ruminantes, em cupins, em lagoas, lodos de esgoto, etc. Podem
ser quimiolitotrficos ou quimiorganotrficos e, via de regra, so anaerbio estritos, exibindo
enorme sensibilidade ao oxignio.
Interaes microbianas
Ao que parece, as archaea interagem intensamente com outros organismos, embora
sejam eventos menos frequentes que aqueles observados para as eubactrias.
As archaea metanognicas realizam associaes com outros microrganismos, uma vez
que necessitam de substrato (principalmente H) para a produo de metano. Assim, em
processos de degradao anaerbia de resduos de indstrias de papel, que ocorrem em rios e
lagos e tambm no intestino de ruminantes, pode-se observar a ocorrncia de comunidades
microbianas contendo metanognicas, havendo a produo de metano e gs carbnico.
Um dos principais produtos da fermentao de muitos anaerbios o H
2
, que
prontamente utilizado pelas metanognicas, que associado ao CO
2
, origina o metano. O cido
frmico pode tambm ser utilizado como doador de eltrons para a reduo do CO
2
. A
produo de metano, por sua vez, garante um ambiente anaerbico. J foi descrita a
ocorrncia de metanognicas endossimbiontes em protozorios que habitam o rumen de
vertebrados.
Foi descrita a associao de archaea com animais e em alguns tecidos vegetais,
embora at o momento no tenha sido comprovada a capacidade de invadir tecidos ou
manifestar potencial patognico nesses organismos. Em muitos casos a presena de
metanognicas no rumen pode levar a prejuzos ao gado, uma vez que competem pelo acetato
produzido na fermentao da celulose.
H ainda um problema ambiental associado produo de metano pelas archaea, pois
este metano expelido pelas archaea contribui ao agravamento do efeito estufa. Estudos
recentes indicam que a quantidade de metano expelida pelas Archaea pode ser de 400
ton
3
/ano (cerca de 50 litros por dia). Dados recentes revelam a deteco de archaea em
amostras de placa dental subgengival, embora nada tenha sido provado em relao ao
potencial patognico dos organismos isolados.
Nutrio de microrganismos
Introduo
Os microrganismos exibem os mais diversos mecanismos nutricionais. Em relao aos
procariotos (Bacteria e Archaea), a nutrio ocorre predominantemente pela absoro, uma vez
que a grande maioria destes organismos possui uma espessa parede celular, impossibilitando
a realizao de fagocitose.
Os seres vivos podem ser classificados de acordo com as fontes de energia e de
carbono que utilizam para seu crescimento. Assim, em relao s fontes de energia, tempos os
organismos fototrficos (que utilizam a energia luminosa) e os quimiotrficos (que utilizam a
energia proveniente de reaes qumicas). Em relao s fontes de carbono, temos os
organismos autotrficos (fontes inorgnicas) e os heterotrficos (fontes orgnicas). Dentre os
procariotos, iremos encontrar exemplos em todas as possveis classes de organismos.


Classificao dos seres vivos, de acordo com as fontes de energia e carbono
(Adaptado de Tortora et al., Microbiology - An Introduction, 1997)
Composio qumica da clula procaritica
As clulas procariticas so compostas, essencialmente por macromolculas
(protenas, cidos nuclicos, polissacardeos e lipdeos), apresentando tambm uma menor
quantidade de outros compostos orgnicos e inorgnicos. Alm destes, encontramos ons e
gua. Relativamente, podemos consideram a clula como sendo 90% de gua, 10% de
macromolculas e o restante compreendido pelos demais componentes.
A maioria das pequenas molculas obtida a partir do meio, sendo as macromolculas
sintetizadas em seu interior.


Nutrientes
Os nutrientes so definidos como as substncias encontradas no ambiente, que
participam do anabolismo e catabolismo celular, podendo ser divididos em dois grandes
grupos: macronutrientes, que so necessrios em grandes quantidades e micronutrientes,
necessrios em pequenas quantidades. Alguns nutrientes so utilizados como fonte de material
para a biossntese das molculas, enquanto outros correspondem a fontes de energia,
necessria aos processos biossintticos e de manuteno dos organismos. Muitas vezes,
diferentes nutrientes podem apresentar os dois papis descritos acima.
Principais Macronutrientes
Carbono: corresponde base de todas as molculas orgnicas. Entre os procariotos
melhor estudados at o momento, a maioria requer algum tipo de composto orgnico como
fonte de carbono, o qual pode ser de diferentes variedades (aminocidos, cidos orgnicos,
acares, bases nitrogenadas, etc).
Nitrognio: corresponde ao segundo elemento mais abundante nas clulas, compondo
protenas, cidos nuclicos e peptideoglicano. Podemos encontrar o nitrognio sob a forma de
compostos orgnicos ou inorgnicos, sendo ambas as formas prontamente utilizadas por um
grande nmero de procariotos. Assim, a partir da degradao de protenas e cidos nuclicos,
bem como a partir de amnia e nitrato, os organismos utilizam o nitrognio presente na
natureza. Embora o nitrognio esteja em grandes concentraes na atmosfera, este no
amplamente utilizado, exceto por aqueles organismos denominados fixadores de N
2
.
Hidrognio: elemento presente em protenas, acares e demais molculas orgnicas.
Fsforo: encontrado em compostos orgnicos (cidos nuclicos) ou inorgnicos
(fosfatos), sendo importante na composio de cidos nuclicos e fosfolipdeos. Em sua
maioria, os microrganismos utilizam o fsforo sob a forma de compostos inorgnicos.
Enxofre: compondo a cistena e metionina, estando presente tambm em vrias
vitaminas (tiamina, biotina). Na natureza, o enxofre sofre uma srie de transformaes, as
quais so exclusivamente realizadas por microrganismos. A principal fonte de enxofre para os
microrganismos corresponde aos sulfatos inorgnicos ou H
2
S.
Potssio: necessrio para todos os microrganismos, devido ao seu papel ativador de
vrias enzimas, tais como aquelas envolvidas na traduo.
Magnsio: necessrio geralmente em grandes quantidades, uma vez que tem papel na
estabilizao de ribossomos, membranas e cidos nuclicos, sendo tambm importante para o
funcionamento de diferentes enzimas, especialmente aquelas envolvidas na transferncia de
fosfato.
Clcio: embora no seja essencial ao crescimento da maioria dos microrganismos, tem
papel de estabilizao da parede celular e de termorresistncia nos esporos.
Sdio: importante, especialmente para microrganismos marinhos e certas archaea
halfilas.
Ferro: presente em um grande nmero de protenas, especialmente aquelas envolvidas
na respirao.
Principais Micronutrientes: Embora necessrios em pequenas quantidades, tm papel
to importante quanto os macronutrientes.
Cobalto: necessrio apenas para a formao da vitamina B
12
.
Zinco: tem papel estrutural em vrias enzimas (DNA e RNA polimerases) e outras
protenas de ligao ao DNA.
Molibdnio: presente em certas enzimas como a nitrato redutase assimilativa.
Cobre: importante para enzimas respiratrias.
Mangans: ativador de muitas enzimas.
Nquel: presente em hidrogenases.


Fatores de crescimento: correspondem a compostos orgnicos especficos, que so
necessrios em quantidades muito pequenas devido incapacidade das clulas os
sintetizarem (vitaminas, aminocidos, purinas e pirimidinas), os quais so geralmente
fornecidos como componentes dos meios de cultura (peptonas, extrato de levedura) utilizados
para o crescimento in vitro dos microrganismos. Na natureza, tais fatores so normalmente
encontrados nos hbitats naturais dos microrganismos. Por exemplo, bactrias do gnero
Porphyromonas requerem vitamina K como fator de crescimento, sendo esta fornecida pelo
prprio hospedeiro eucarioto.
As vitaminas correspondem ao fator de crescimento mais comum para os
microrganismos. Estas so definidas como compostos orgnicos necessrios em pequenas
quantidades, para o crescimento e funes no relacionadas nutrio, atuando na maioria
das vezes como parte de coenzimas. Esto descritas abaixo algumas das funes
desempenhadas pelas principais vitaminas requeridas pelos microrganismos:
biotina - Biossntese de cidos graxos, b-decarboxilaes, fixao de CO
2
;
tiamina (B
1
) - a-decarboxilaes e transcetolase
piridoxina (B
6
) - transformaes de aminocidos e ceto cidos
cobalamina (B
12
) - reduo e transferncia de fragmentos nicos de carbono, sntese de
desoxirribose.

As bactrias dos gneros Streptococcus e Lactobacillus tm uma necessidade por
vitaminas maior do que aquela exibida pelo homem.
O processo de nutrio em procariotos
Nos procariotos contendo parede celular os processos de nutrio ocorrem atravs da
absoro dos nutientes, a partir do ambiente externo. Entretanto, devido s caractersticas
diferenciais na composio e estrutura da parede celular dos organismos Gram positivos e
Gram negativos, este processo apresenta algumas diferenas nestes dois grupos de
organismos.
Nutrio em Gram positivos: Estas bactrias caracterizam-se por sintetizar uma srie
de exoenzimas, as quais so liberadas no meio, clivando os nutrientes, que so capatados por
protenas transportadoras. Os fungos (clulas eucariticas), posuem um sistema de nutrio
semelhante ao das bactrias Gram positivas, nutrindo-se pela absoro, aps a clivagem
extracelular de compostos complexos.
Nutrio em Gram negativos
Papel da parede celular em Gram negativas
A parede celular das bactrias Gram positivas composta por vrias camadas de
peptdeoglicano, enquanto nas Gram negativas observa-se uma maior complexidade qumica e
estrutural da parede, decorrente da presena de camadas lipoprotica e lipopolissacardica,
localizadas externamente camada de peptdeoglicano, originando a membrana externa. Estas
diferenas, por si s, contribuem em grande parte s diferenas observadas na forma de
captao dos nutrientes.
Devido presena de uma membrana externa de carter hidrofbico (LPS), as
bactrias Gram negativas apresentam um grande nmero de porinas associadas camada
lipopolissacardica. As porinas correspondem a protenas, formadas por trs subunidades
idnticas, que originam um canal de cerca de 1 nm de dimetro, cujo mecanismo de abertura e
fechamento permanece ainda desconhecido. Desta forma, as porinas permitem a passagem de
molculas hidroflicas, de baixa massa molecular.
Estas protenas podem atuar de forma inespecfica, formando canais aquosos, ou
especfica, exibindo stios de ligao para substratos de at 5 kDa, ou ainda, acopladas a
protenas transportadoras.
Papel das protenas periplasmticas em bactrias Gram negativas
O periplasma corresponde poro celular localizada entre a membrana plasmtica e a
membrana externa, geralmente exibindo constituio gelatinosa, provavelmente devido ao
grande nmero de enzimas e protenas presentes, assim como pela prpria presena do
peptdeoglicano e lipoprotenas. De forma geral, so encontrados trs tipos de protenas no
periplasma de clulas Gram negativas: hidrolases, que atuam na degradao inicial dos
nutrientes; protenas de ligao, que iniciam os processos de transporte e os quimioreceptores,
envolvidos em processos de quimiotaxia. O transporte inicial das molculas para o citoplasma,
a partir do periplasma, um processo que requer gasto energia, por meio da utilizao de ATP.
Papel da membrana citoplasmtica na nutrio de Gram positivos e negativos
A membrana citoplasmtica, estrutura vital para qualquer tipo de clula, uma barreira
que separa o contedo celular do meio externo. A membrana corresponde a uma barreira
altamente seletiva, permitindo que as clulas concentrem metablitos especficos em seu
interior. No domnio Bacteria, a membrana apresenta-se como uma bicamada fosfolipdica,
contendo protenas dispersas por toda sua superfcie. A estutura global da membrana
estabilizada atravs de interaes do tipo pontes de hidrognio, interaes hidrofbicas e pela
presena de ons Ca
++
e Mg
++
, os quais se combinam com as cargas negativas dos
fosfolpides. Embora em archaea, a membrana apresente estrutura totalmente distinta,
podendo ser do tipo bicamada ou monocamada, muitas vezes desprovida de fosfolipdeos, tal
estrutura desempenha os mesmo papis fisolgicos descritos para as membranas de qualquer
ser vivo.
Assim, a membrana tem papel essencial nos processos de nutrio procaritica, uma
vez que todos os nutrientes e produtos de degradao devem atravess-la. Devido sua
permeabilidade seletiva, a maioria das molculas so incapazes de simplesmente atravessar a
membrana de forma passiva. Ao contrrio, estas devem ser ativamente transportadas atravs
da membrana.
O interior de uma clula procaritica consiste em uma soluo aquosa hipertnica em
relao maioria dos hbitats onde os procariotos so geralmente encontrados. Assim, a gua
tem a capacidade de passar livremente para o citoplasma, pelo processo de osmose. Outros
compostos, tais como pequenas substncias apolares e lipossolveis (cidos graxos, lcoois,
benzeno) so capazes de solubilizar-se na membrana e entrar na clula. Molculas carregadas
como ons, aminocidos, compostos polares, devem ser transportados especificamente uma
vez que, devido sua natureza, no so capazes de atravessar a membrana.
Processos de transporte atravs da membrana
A presena de protenas transportadoras na membrana permite que a clula capte
compostos que naturalmente no penetrariam na clula, devido natureza semi-permevel da
membrana. Estas protenas podem ser agrupadas em trs classes: uniportadoras,
simportadoras e antiportadoras.
As protenas uniportadoras so aquelas que que transportam uma nica substncia de
um lado para outro da membrana. As duas outras classes so descritas como
cotransportadoras, uma vez que para transportar uma substncia qualquer, necessitam
transportar outra, concomitantemente. As simportadoras so aquelas que carreiam ambos os
compostos em uma mesma direo enquanto nas antiportadoras o transporte se d em
direes opostas.
Este tipo de transporte, mediado por protenas, permite clula apresentar
concentraes internas de determinados compostos superiores quelas encontradas no meio
externo.
Uma das principais caractersticas do processo de transporte mediado por protenas
reside na sua elevada especificidade, assim, determinados transportadores carreiam apenas
um nico tipo de molcula, embora a maioria apresente afinidade por uma classe de molculas
Tipos de transporte mediado por protenas
Difuso facilitada
Neste tipo de processo, a ligao do nutriente protena transportadora induz uma
mudana de conformao na protena, formando um canal pelo qual o nutriente tem acesso ao
citoplasma. Embora haja a participao de transportadores neste processo, a ao das leis das
massas impede que ocorra a formao de um gradiente de concentrao, mantendo assim as
concentraes intra e extracelular semelhantes.
Este processo de difuso mediada por transportadores denominado difuso facilitada, o qual
no envolve gasto de energia.
Os mecanismos descritos a seguir caracterizam-se por requerem um gasto de energia,
uma vez que estes permitem um acmulo dos compostos transportados no interior da clula.
Desta forma, estes mecanismos envolvem o transporte contra um gradiente de concentrao,
sendo a energia necessria para o bombeamente dos compostos para o interior da clula.
Nestes casos, a energia pode advir da clivagem de ATP ou pela dissipao de gradientes de
prtons ou ons Na
+
atravs da membrana. Este gradiente inico estabelecido durante
reaes que liberam energia e podem ser utilizados como fonte potencial de energia para a
captao de nutrientes contra um gradiente de concentrao.
Translocao de grupo
Neste tipo de transporte, o nutriente sofre uma alterao qumica durante sua passagem
atravs da membrana. Uma vez que o produto translocado para o interior da clula agora
diferente daquele presente no meio externo, no h a formao de um gradiente de
concentrao.
Molculas de acares tais como glicose, frutose, N-acetilglicosamina, purinas e pirimidinas
so exemplos de translocao de grupo, sendo fosforiladas durante o processo pelo sistema
fosfotransferase.
Em E. coli, o sistema fosfotransferase composto por 24 protenas, sendo 4
necessrias para o transporte de um dado acar.
O sistema fosfotransferase tem tambm papel na regulao do transporte dos acares, uma
vez que na presena de glicose e outro acar, o sistema fosforila preferencialmente as
molculas de glicose.
Tranporte ativo
Alguns acares, a maioria dos aminocidos, vrios ons inorgnicos e cidos orgnicos
so transportados atravs deste tipo de mecanismo. A energia necessria para efetuar os
processos advm ou do ATP ou, mais comumente, da formao de um gradiente de prtons
(ons hidrognio) por toda a membrana, denominado fora prton motiva. Como resultado, a
membrana fica energizada e este potencial eletroqumico responsvel pela captao dos
nutrientes.
Cada transportador tem stios especficos tanto para o substrato como para os prtons.
Com a entrada do nutriente, o prton tambm atravessa e membrana e com isso vai diminuindo
o gradiente e a fora motiva.
Ctions tipo K
+
podem ser transportados ativamente por uniportadores, em resposta
diferena de cargas, uma vez que o interior da clula fica carregado negativamente.
Os nions provavelmente so transportados juntamente com prtons, por
simportadores. Molculas no carregadas, como aminocidos ou acares, so transportadas
tambm por simportadores, juntamente com um ou mais prtons.
Alm da fora motora resultante do gradiente de prtons, o transporte ativo tambm pode ser
executado utilizando a energia liberada pela hidrlise de ATP, como no caso do transporte de
maltose em E. coli.
A Cultura de microrganismos in vitro: A partir do conhecimento dos requerimentos
nutricionais, podem ser confeccionados meios que permitam o crescimento microbiano in vitro.
Cultura pura: corresponde a uma cultura contendo um nico tipo de organismo. Esta
importante, uma vez que permite o estudo dos microrganismos isoladamente. Para isso,
precisamos conhecer as necessidades nutricionais e ambientais dos microrganismos.
Os meios de cultura consistem em meios aquosos, adicionados de nutrientes e,
eventualmente, gar (polissacardeo = ster sulfato de galactana, retirado de algas - Gelidium),
caso se deseje a consistncia slida. H duas classes de meios: os quimicamente definidos
(sintticos) e os indefinidos (complexos). Tipos de meios em relao consistncia: Lquidos,
Semi-slidos e Slidosn Tipos de meios, quanto composio: Simples, Enriquecidos,
Seletivos, Diferenciais.

Crescimento microbiano
Introduo ao Crescimento Microbiano
Em microbiologia, o termo crescimento refere-se a um aumento do nmero de clulas e
no ao aumento das dimenses celulares.
Crescimento Populacional: definido como o aumento do nmero, ou da massa
microbiana.
A taxa de crescimento a variao no nmero ou massa por unidade de tempo. O
tempo de gerao o intervalo de tempo necessrio para que uma clula se duplique. O tempo
de gerao varivel para os diferentes organismos, podendo ser de 10 a 20 minutos at dias,
sendo que em muitos dos organismos conhecidos, este varia de 1 a 3 horas. O tempo de
gerao no corresponde a um parmetro absoluto, uma vez que dependente de fatores
genticos e nutricionais, indicando o estado fisiolgico da cultura. O tempo de gerao pode
ser calculado quando uma cultura encontra-se em fase exponencial, pela frmula abaixo:
N=N
o
.2
n
, onde N= nmero final de clulas, N
o
= nmero inicial de clulas, n= nmero de
geraes.
n= log(N) - log(N
o
)/0.301
g =
t
/
n
, onde g= tmpo de gerao, t= tempo de crescimento e n= determinado acima.
Medidas do crescimento microbiano
O crescimento dos microrganismos pode ser mensurado por diferentes tcnicas, tais
como pelo acompanhamento da variao no nmero ou peso de clulas, por exemplo. Dentre
as diferentes tcnicas utilizadas, descreveremos alguns exemplos.
Contagem total de clulas: esta metodologia envolve a contagem direta das clulas
em um microscpio, seja de amostras fixadas (e coradas) ou analisadas a fresco, (sendo
aplicados cerca de 10 l da suspenso, na maioria dos casos), utilizando-se cmaras de
contagem. A contagem direta uma tcnica rpida, mas tem como principais limitaes a
impossibilidade de distino entre clulas vivas e mortas (o que pode ser contornado pelo uso
de corantes vitais, para leveduras) e contagens errneas, devido s pequenas dimenses de
algumas clulas, ou pela formao de agregados celulares.
Em preparaes no coradas, deve-se utilizar microscpio de contraste de fase, o qual
deve ser empregado apenas quando as clulas no esto muito diludas (<10
6
clulas/ml).


Exemplo ilustrando o procedimento de contagem direta
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)
H tambm os contadores eletrnicos (do tipo Coulter) usados em hematologia, que
podem ser empregados na contagem de clulas microbianas. Em determinadas situaes, por
exemplo quando se requer apenas uma estimativa da quantidade de microrganismos, pode-se
empregar a contagem proporcional, que corresponde a uma anlise comparativa das culturas
com suspenses padro. Como exemplo de uma suspenso padro podemos citar a escala de
MacFarland, que corresponde a uma srie de tubos contendo uma soluo de BaSO
4
em
diferentes concentraes, apresentando assim, graus de turvao distintos. Desta forma,
comparando-se a turvao da cultura em estudo com os tubos de MacFarland, pode-se obter
uma estimativa do nmero de clulas presentes na amostra.
Contagem de viveis: Procedimento tambm conhecido como contagem em placa,
que estima o nmero de clulas viveis (isto , capazes de se reproduzir) em uma amostra.
Esta metodologia envolve a coleta de alquotas de uma cultura microbiana em diferentes
tempos de crescimento, as quais so ento inoculadas em meio slido. Aps a incubao dos
meios, geralmente por uma noite, o nmero de colnias contado. Como uma colnia
normalmente originada a partir de um organismo, o total de colnias que se desenvolvem no
meio corresponde ao nmero de clulas viveis presentes na alquota analisada. Esta tcnica
deve sempre realizada empregando-se vrias dilues (10
0
a 10
4
clulas) das amostras. A
contagem de viveis pode ser feita pela semeadura em superfcie ou em profundidade ("pour
plate"). Geralmente o volume a ser inoculado no deve ultrapassar 0,1 ml, para evitar a
confluncia das colnias. Se a tcnica de semeadura em profundidade for utilizada, pode-se
inocular de 0,1 a 1,0 ml de clulas. Esta tcnica precisa quando o nmero de colnias (ou
placas de lise, no caso de partculas virais ) contadas situa-se entre 30 e 300 e quando as
condies culturais e ambientais esto adequadas para os microrganismos analisados. Este
tipo de contagem est sujeito a grandes erros (agregados, duas clulas prximas, originando
uma colnia), que podem ser minimizados pela realizao de triplicatas para cada diluio.
Esta metodologia amplamente utilizada, exibindo elevada sensibilidade, detectando baixos
nmeros de clulas e permitindo tambm a contagem de diferentes tipos de microrganismos,
pelo emprego de meios seletivos (meios que favorecem o crescimento de um determinado tipo
ou grupo de organismo) e/ou seletivos e diferenciais (meios que alm de favorecerem o
desenvolvimento de um tipo ou grupo de organismo, tambm permite sua distino, a partir de
alguma caracterstica fenotpica).
Tambm podem ser usadas membranas filtrantes, onde os lquidos so filtrados e as
membranas colocadas diretamente sobre os meios de cultura.


Tcnica de contagem de viveis
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)
Massa de clulas: pode ser determinada a partir da estimativa do peso seco ou do
peso mido de uma cultura. Este tipo de procedimento realizado quando no necessrio
determinar o nmero preciso de microrganismos presentes.
Peso seco: Muito utilizado na quantificao de fungos, onde o miclio retirado da cultura,
lavado e transferido para um frasco e submetido secagem. Realizam-se ento sucessivas
pesagens, at o momento onde no observa-se mais variaes. Este procedimento pode
tambm ser realizado centrifugando-se a cultura e pesando o sedimento, ou ento secando-o
(100 - 150C/16 horas) e depois pesando-o.
Turbidimetria: quantificao em espectrofotmetro ou colormetro a 660 nm, uma vez
que neste comprimento de onda, a cor geralmente parda dos meios de cultura no interfere
com os resultados. Nestes comprimentos, a absoro de luz por componentes celulares
corados desprezvel mas, se necessrio, outros comprimentos de onda podem ser usados.
Tal metodologia requer a confeco de uma curva padro. Embora a anlise turbidimtrica seja
menos sensvel, de rpida e fcil execuo, no destruindo a amostra. Entretanto, no
permite a determinao de clulas viveis.
Anlises qumicas: A partir da quantificao de protenas ou de nitrognio, ou por meio
da anlise de diferentes atividades metablicas.
Nmero Mais Provvel (NMP): Amplamente utilizado em laboratrios de microbiologia
de alimentos ou ambiental, na quantificao de microrganismos em gua, leite e outros
produtos. Esta metodologia basicamente utilizada para a pesquisa de coliformes totais e
coliformes fecais, que so microrganismos indicadores de poluio fecal, o que pode ter como
consequncia a presena de outros organismos, tais como protozorios e vrus. Esta tcnica foi
desenvolvida aps anlises estatsticas complexas. A determinao do NMP realizada
inoculando-se 3 sries de 5 tubos, com 10, 1 e 0,1 ml da gua ou do produto homogeneizado
em soluo salina, em meios seletivos para coliformes totais contendo tubos de Durham
invertidos em seu interior. Estes so incubados por 48 hs/37C sendo ento analisados quanto
ao crescimento e presena de gs no interior dos tubos de Durham.
Tal resultado considerado como positivo para a presena de coliformes totais.
Amostras dos tubos positivos so ento repicados para caldos seletivos para coliforme fecais,
tambm contendo tubos de Durham, os quais so incubados por mais 24 ou 48 hs a 42C. De
todos os tubos positivos faz-se uma semeadura em placa com meio seletivo e posterior
identificao bioqumica. De acordo com o nmero de tubos que apresentam gs determina-se
o NMP, pela consulta de uma tabela desenvolvida por Hoskins (1934). Este um teste apenas
presuntivo para a presena de coliformes.
Curva de crescimento (cultura descontnua)
Quando uma cultura microbiana desenvolve-se em um sistema fechado, pode-se confeccionar
uma curva de crescimento. Esta pode ser dividida em diferentes etapas: lag, log, estacionria e
de declnio.

Curva de Crescimento Padro, em um sistema fechado
Lag: perodo varivel, onde ainda no h um aumento significativo da populao. Ao
contrrio, um perodo onde o nmero de organismos permanece praticamente inalterado.
Esta fase apenas observada quando o inculo inicial proveniente de culturas mais antigas.
A fase lag ocorre porque as clulas de fase estacionria encontram-se depletadas de vrias
coenzimas essenciais e/ou outros constituintes celulares necessrios absoro dos nutrientes
presentes no meio.
A fase lag tambm observada quando as clulas sofrem traumas fsicos (choque
trmico, radiaes) ou qumicos (produtos txicos), ou quando so transferidas de um meio rico
para outro de composio mais pobre, devido a necessidade de sntese de vrias enzimas.
Assim, durante este perodo observa-se um aumento na quantidade de protenas, no peso seco
e no tamanho celular.
Log ou exponencial: nesta etapa, as clulas esto plenamente adaptadas, absorvendo
os nutrientes, sintetizando seus constituintes, crescendo e se duplicando. Deve ser levado em
conta tambm que neste momento, a quantidade de produtos finais de metabolismo ainda
pequena. A taxa de crescimento exponencial varivel, de acordo com o tempo de gerao do
organismo em questo. Geralmente, procariotos crescem mais rapidamente que eucariotos.
Nesta fase so realizadas as medidas de tempo de gerao. Geralmente, ao final da fase log,
as bactrias passam a apresentar fentipos novos, decorrentes do processo de comunicao
denominado "quorum sensing".
Estacionria: Nesta fase, os nutrientes esto escasseando e os produtos txicos esto
tornando-se mais abundantes. Nesta etapa no h um crescimento lquido da populao, ou
seja, o nmero de clulas que se divide equivalente ao nmero de clulas que morrem. Na
fase estacionria que so sintetizados vrios metablitos secundrios, que incluem antibiticos
e algumas enzimas. Nesta etapa ocorre tambm a esporulao das bactrias.
Foram detectados alguns genes (sur) que so necessrios sobrevivncia das clulas
na fase estacionria. Alm destes, existem outros genes (fatores s alternativos da RNA
polimerase, protenas protetoras contra dano oxidativo).
Declnio: A maioria das clulas est em processo de morte, embora outras ainda
estejam se dividindo. A contagem total permanece relativamente constante, enquanto a de
viveis cai lentamente. Em alguns casos h a lise celular.
Culturas descontnuas tendem a sofrer mutaes que podem repercutir na populao como um
todo. As prprias condies ambientais tendem a promover variaes de carter fenotpico
(reversvel) nas culturas.
Crescimento em culturas contnuas: tcnica muito usada nos processos industriais
de obteno de produtos microbiolgicos. Nestes casos, tem-se o interesse em manter as
clulas em fase log ou estacionria. Utilizam-se fermentadores ou quimiostatos, que permitem
um crescimento em equilbrio dinminco, havendo assim um controle da densidade
populacional e da taxa de crescimento. Estes so respectivamente controlados pela
concetrao do nutriente limitante (fonte de C ou N) e pela taxa de fluxo (taxa de diluio). Em
baixas concentraes do nutriente limitante, a taxa de crescimento proporcional
concentrao do nutriente (que virtualmente zero).
Crescimento sincronizado: inicialmente obtido por processos que retardavam a
sntese de DNA. Atualmente, utiliza-se mtodos de separao mecnica das clulas menores,
recm-divididas. Pode ser feita pela filtrao em vrios papis de filtro, que retm clulas
maiores, em fase de diviso.
Efeito dos fatores ambientais no crescimento
O crescimento dos microrganismos grandemente afetado pelas condies fsicas e
qumicas do ambiente onde se encontram, sendo que estas podem influir positivamente ou
negativamente de acordo com o microrganismo em questo.
Temperatura: Corresponde a um dos principais fatores ambientais que influenciam o
desenvolvimento bacteriano. A medida que h um aumento da temperatura, as reaes
qumicas e enzimticas na clula tendem a tornar-se mais rpidas, acelerando a taxa de
crescimento. Entretanto, em determinadas temperaturas inicia-se o processo de desnaturao
de protenas e cidos nuclicos, inviabilizando a sobrevivncia celular.
Assim, todos os microrganismos apresentam uma faixa de temperatura onde
desenvolvem-se plenamente. Nesta faixa de temperatura podemos determinar as temperaturas
mnima, tima e mxima (temperaturas cardeais), para cada microrganismo. A temperatura
mxima provavelmente reflete os processos de desnaturao mencionados acima, enquanto os
fatores que determinam a temperatura mnima ainda no so bem conhecidos, embora
certamente a fluidez da membrana seja um dos fatores determinantes destes nveis trmicos
baixos.


Temperaturas cardeais dos microrganismos
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)
Dentre os diferentes microrganismos observa-se uma ampla variedade de faixas de
temperatura, onde para alguns o timo encontra-se entre 5 e 10C, enquanto para outros de
90 a 100C. Assim, os microrganismos podem ser classificados em quatro grupos, de acordo
com os timos de temperatura: psicrfilos (0 a 20C, timo de 15C - Flavobacterium),
mesfilos (12 a 45C, 37C - E. coli), termfilos (42 a 68C, 62C - Thermococcus), e
hipertermfilos (80 a 113C, 105C - Pyrodictium brockii).

Tipos de bactrias em relao temperatura
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)
Psicrfilos: os ambientes frios so predominantes na Terra (oceanos, polos, solos)
entretanto este grupo (bactrias, fungos e algas) muito pouco estudado. Destes, os mais
conhecidos so as algas que crescem sob o gelo ou em geleiras (Chlamydomonas nivalis),
dando colorao vermelha.
H os microrganismos psicrotolerantes que so aqueles cujo timo encontra-se entre
20 e 40C e que sobrevivem a 0C. So um grupo amplo (bactrias, fungos, algas e
protozorios) que podem contaminar alimentos e outros substratos refrigerados.
Mesfilos: crescem numa faixa de 20 a 40C, com um timo em torno de 37C, sendo
os principais microrganismos encontrados em animais de sangue quente.
Termfilos e Hipertermfilos: timos de 45 e 80C, respectivamente. So
encontrados nos solos, silagem, fontes termais e no fundo ocenico, em fontes. Geralmente
so procariotos, sendo as Archaea as mais resistentes, apresentando enzimas e protenas
termoestveis, provavelmente devido substituio de aminocidos, conferindo um novo
folding. Tm tambm uma maior concentrao de cidos graxos saturados na MC. As Archaea
no tem cidos graxos na MC, mas sim hidrocarbonetos de cadeias com diferentes
comprimentos, compostas por unidades repetitivas de 5 C (fitano), ligadas a glicerol fosfato, por
ligao ter.
Os termfilos e hipertermfilos tem grande interesse biotecnolgico porque tendem a
fazer os processo mais rapidamente, com menor contaminao por outros microrganismos e
possuem enzimas mais termoestveis.

pH: Os ambientes naturais tem uma faixa de pH de 5 a 9, o que comporta o crescimento
de diferentes tipos de microrganismos.
Bactrias - faixa entre 7, com algumas acidfilas (Thiobacillus de 0,5 a 6,0 com timo entre 2 e
3,5) e outras alcaliflicas (Bacillus e Archaea).
Fungos - tendem a ser mais acidfilos que as bactrias (pH <5).


Distribuio de alguns microrgansmos, de acordo com o pH
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)
Tenso de O
2
: Extremamente importante no desenvolvimento, uma vez que os
microrganismos comportam-se de forma bastante distinta, sendo classificados como aerbios,
anaerbios facultativos, anaerbios estritos, anaerbios aerotolerantes e microaerfilos
(requerem concentraes baixas de O
2
).
As condies de anaerobiose podem ser conseguidas pelo uso de agentes redutores nos
meios de cultura, tais como o tioglicolato de sdio, que reage com o oxignio, formando gua;
pela remoo mecnica do oxignio, sendo substitudo por nitrognio e CO
2
; pelo uso de
sistemas comerciais do tipo "GasPak", que gera hidrognio e CO
2
com um catalisador de
paldio. Adiciona-se gua ao sistema, a qual gera hidrognio, que reage com o oxignio na
superfcie do catalisador, formando gua; ou ainda pelo uso de "glove box" anaerbias ou a
mesa inoculadora desenvolvida pelo VPI.

Classes de organismos, em relao tenso de oxignio
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)
gua: Essencial a qualquer microrganismo, embora as necessidades sejam variadas.
o solvente universal, mas sua disponibilidade varivel (solues com acares ou sais tm
menos gua disponvel).
A
w
: presso do vapor em equilbrio com a soluo/ pv da gua, variando de 0 a 1.
Os organismos que vivem em ambientes onde a disponibilidade de gua baixa
desenvolvem mecanismos para extrair gua do ambiente, pelo aumento da concentrao de
solutos internos, seja bombeando ons para o interior ou sintetizando ou concentrando solutos
orgnicos (solutos compatveis), que podem ser aucares, lcoois ou aminocidos (prolina,
betaine, glicerol).
Presso osmtica: Fator extremamente importante, principalmente a partir do maior
conhecimento sobre as Archaea, visto que vrios membros deste domnio requerem altas
concentraes de sais para seu desenvolvimento.


Classes de organismos, em relao salinidade
Fatores adicionais:
Fonte luminosa para fototrficos autotrficos. Presso atmosfrica, para aqueles que
vivem em profundidades.

Reproduo em procariotos
Introduo
A diviso celular um processo complexo, que ocorre de variadas maneiras,
dependendo do tipo de organismo. Em eucariotos, os microtbulos do fuso mittico atuam
como a fora motriz durante a segregao cromossomal. Nas clulas animais e em fungos, um
anel de actina-miosina se forma na poro mediana de uma clula em diviso, sendo que a
fora gerada pela interao entre estas duas protenas promove o crescimento interior do septo
de diviso. Nas plantas, a formao do septo complexa, devido parede celular espessa.
Assim, surge na regio central da clula um disco, que cresce de forma centrfuga. Em todos
estes casos o stio de diviso celular definido indiretamente pelos microtbulos, pois o
posicionamento do fuso mittico parece ser crucial no direcionamento do plano de diviso. Nas
plantas um feixe transiente de microtbulos envolve a clula no plano de diviso, com um
possvel papel na seleo do stio de diviso.
Embora intensamente estudado, o processo de diviso celular em procariotos ainda
pouco conhecido, existindo alguns modelos propostos. Uma das principais concluses obtidas
destes estudos refere-se ao fato da diviso celular em procariotos corresponder a um processo
extremamente complexo e regulado, tanto em termos espaciais como temporais. Assim, h
uma srie de mecanismos que regulam os eventos de duplicao e segregao do
cromossomo e a formao do septo de diviso, garantido a eficincia do processo. Outro
importante achado refere-se intensa participao de protenas citoplasmticas, atuando como
anlogos do citoesqueleto de clulas eucariticas, no processo de diviso celular.
At o momento, os estudos indicam que a maioria dos procariotos se divide por fisso
binria, originando duas clulas filhas idnticas logo aps a duplicao e segregao
cromossomal. O ciclo celular bacteriano pode ser divido em duas fases: 1) Um ciclo de DNA,
que inclui a replicao e segregao dos cromossomos e 2) um ciclo de diviso, com a
citocinese e separao das clulas filhas.
No entanto, estudos com outras bactrias, tais como a bactria pedunculada Caulobacter
crescentus, revelam um processo mais complexo de diviso, originando clulas distintas
morfolgica e fisiologicamente. Relatos mais recentes da literatura descrevem a ocorrncia de
diferentes procesos de reproduo no domnio Bacteria.
Assim, em Epulopiscium, uma bactria "gigante" simbionte intestinal do peixe cirurgio,
foi observada a ocorrncia de viviparidade, com a formao de 1 a 7 clulas filhas ativas
metabolicamente, as quais so liberadas aps a lise da clula me. Neste mesmo gnero e em
Metabacterium polyspora, foi descrita a formao de mltiplos esporos intracelulares. Tais
relatos deixam claro o quanto ainda desconhecemos sobre a reproduo em procariotos e que
estes organismos so capazes de exibir mais de um mecanismo de reproduo.
Visando abordar de maneira geral os eventos associados reproduo procaritica por
meio da fisso binria, passaremos a descrever os principais resultados obtidos a partir de
pesquisas realizadas especialmente com Escherichia coli e Bacillus subtilis.
O processo de fisso binria - Uma viso geral
Fisso binria em B. subtilis Esta bactria corresponde a um excelente modelo de
estudo devido sua capacidade de originar endsporos, quando em condies desfavorveis.
Neste sentido, um dos aspectos que mais chamou a ateno dos pesquisadores foi que
durante a reproduo o septo de diviso era formado na regio mediana da clula, enquanto na
esporulao o septo localizava-se na regio prxima a um dos plos celulares (Fig. 1). A fisso
binria ocorre quando a clula cresce, atinge cerca do dobro de seu comprimento e se divide.
Paralelamente, h a duplicao e segregao do DNA (Fig. 1a). Por outro lado, na
esporulao, h a duplicao do cromossomo, mas o septo formado tem localizao polar,
sendo esta a regio de formao do endsporo (Fig. 1b).

Adaptado de Angert (2005) Nature Rev. Microbiol., 3:214-224.
Fig. 1 Ciclos de vida em B. subtilis. Em (a) ciclo vegetativo. Em condies
favorveis, a clula aumenta de tamanho, replica o cromossomo (azul) e se divide por fisso
binria. O aparato de diviso montado, com a protena FtsZ (verde) formando um anel no
meio da clula, onde ocorre a diviso. Em condies de exausto ambiental (Fig. 1b), a clula
forma esporos. As duas cpias do cromossomo assumem uma nova configurao, que se
estende de um plo a outro. A maquinaria de diviso montada nos dois plos, mas a diviso
ocorre somente em um deles. Parte de um dos cromossomos fica presa por um septo de
diviso, sendo empacotado pelas protenas do septo, em um compartimento fechado (pr-
esporo). O pr-esporo ento englobado pela clula me. O pr-esporo preparado para a
dormncia, pois protenas se ligam, protegendo o DNA, o citoplasma mineralizado e
formada uma barreira protica ao redor da estrutura.
Vrios so os aspectos ainda pouco elucidados sobre a diviso celular. Por exemplo,
como ocorre a segregao do DNA? Como o septo de diviso localizado corretamente? Os
estudos vm mostrando que as bactrias possuem uma srie de protenas citoplasmticas que
atuam como um verdadeiro citoesqueleto, sendo responsveis pela correta migrao do DNA e
posicionamento do septo. Existem autores que vm utilizando o termo "replissomo" para
descrever a complexa maquinaria celular envolvida no processo de diviso. Alm disso, dados
recentes tambm revelam que os lipdeos de membrana so importantes componentes do
replissomo. Dentre os diversos componentes da maquinaria, uma protena denominada MreB,
semelhante actina, est implicada na segregao do DNA.
Um dos componentes mais estudados corresponde protena FtsZ, um homlogo estrutural da
tubulina que, durante a fisso binria, se organiza como um anel no centro da clula e atua
como ponto de ancoragem de outros elementos do aparato. Estes outros componentes
redirecionam o crescimento da parede celular e protegem o DNA de danos enquanto o
envelope invagina. FtsZ uma protena muito conservada e uma das primeiras protenas a
se organizar no fututro stio de diviso. Nos prximos tpicos discutiremos a protena FtsZ em
maior detalhe.
Em condies normais, o septo de diviso somente formado aps a segregao do
DNA duplicado. Vrios so os processos que resultam em tal situao. Um deles corresponde
prpria ocluso do futuro stio de diviso pelo nucleide ainda no segregado. Ao que parece,
o DNA se liga a uma srie de lipdeos da membrana, no permitindo que o anel FtsZ seja
montado. Outras protenas, denominadas sistema MinCD, impedem a montagem do complexo
FtsZ nos plos.
Alm destas, vrias outras vm sendo estudadas, tais como EzrA, que afeta a estabilidade dos
polmeros FtsZ, otimizando sua montagem apenas nos locais corretos. No caso de danos ao
DNA, as protenas YneA e SulA desestabilizam o anel, impedindo a diviso.
O processo de segregao dos cromossomos bacterianos
Esta etapa da diviso celular procaritica foi analisada a partir dos estudos com B. subtilis,
como mencionado anteriormente, uma bactria capaz de esporular. A partir dos estudos com
mutantes incapazes de realizar o processo completo de segregao cromossomal, foi
verificado que sempre um mesmo segmento de DNA era o primeiro a atingir os plos celulares.
O mapeamento deste segmento de DNA revelou que tal seqncia correspondia regio
situada adjacente oriC, que a origem de replicao do DNA cromossomal.
Em E. coli, a replicao do cromossomo ocorre quando o complexo protena DnaA-ATP
se liga a stios em oriC. A ligao promove o desenovelamento da oriC, o recrutamento de uma
helicase (DnaB) e a montagem de um replissoma. A iniciao da replicao regulada,
ocorrendo uma vez a cada ciclo celular. A Figura 2 esquematiza o ciclo de iniciao da
duplicao do DNA mediado pela protena DnaA.

Adaptado de Boeneman, K. & Crooke, E. (2005) Curr. Op. Microbiol., 8:143148.
Fig. 2 Regulao da atividade de DnaA. Quando na presena de excesso de ATP, a
protena DnaA se liga ao ATP e se complexa em oriC, iniciando a replicao do DNA. A DnaA
hidrolisa o ATP, originando ADP e passando para a forma inativa. Nesta forma, h a interao
de DnaA-ADP ligada a oriC com fosfolipdeos cidos da membrana citoplasmtica,
promovendo a reciclagem de DnaA para sua forma ativa, ligada ao ATP.
O conjunto DnaA/oriC/lipdeos de membrana encontra-se situado na poro mediana da
clula e, medida que a sntese das molculas de DNA ocorre, estas migram para os plos,
liberando assim a regio central para a formao do septo de diviso.
Em eucariotos, o movimento e segregao dos cromossomos controlado pelos
centrmeros. Estes, ligam-se aos microtbulos do fuso mittico atravs de conjuntos proticos
denominados cinetcoros. O movimento do cromossomo ao longo do fuso ocorre como
resposta a uma fora exercida nos cinetcoros, seja pela ao de protenas motoras ou pela
montagem-desmontagem dos microtbulos que formam o fuso.
O fato da regio oriC estar sempre localizada nas vizinhanas do polo celular sugere
que esta regio poderia conter uma sequncia do tipo centrmero. Alm disso, pela sua
localizao sempre igual, foi especulado que deveria haver a participao de uma ou mais
protenas, desempenhando o papel dos cinetcoros ou das protenas motoras dos eucariotos.
A partir de outros estudos, foi identificada um protena, denominada Spo0J que, em
linhagens mutantes, promovia alteraes na segregao dos cromossomos de clulas
vegetativas. Em clulas onde o gene spo0J foi deletado, a oriC deixava de se localizar nos
plos celulares, indicando que a protena Spo0J poderia estar envolvida no posicionamento
polar da oriC.
Por meio de estudos microscpicos,verificaram que a protena Spo0J forma focos se
se ligam ao DNA em um ou mais stios, nas proximidades de oriC. Assim, cada cpia da regio
onde est a origem de replicao parece ter seu prprio conjunto de Spo0J.
O achado mais marcante em relao a estes eventos de segregao corresponde
rpida migrao deste conjunto (DNA-Spo0J) ao longo do eixo celular. Tal fenmeno sugere a
existncia de protenas geradoras de fora e a presena de alguma estrutura anloga a um
citoesqueleto.
Dados mais recentes sugerem a participao de uma protena, denominada RacA, no
processo de migrao dos cromossomos para os plos. Ao que parece, esta protena exerce
um papel anlogo ao desempenhado pelo fuso mittico.

A replicao bacteriana seria como uma mitose?
O conjunto de Spo0J poderia ser comparado funcionalmente aos cinetcoros, que so
as organelas envolvidas na ligao dos centrmeros aos microtbulos do fuso.

Alternativamente, Spo0J poderia atuar em uma fase inicial, transformando as regies
oriC recm-replicadas em estruturas com um dobramento tal que seriam ento separadas por
outras protenas (talvez RacA). Isto poderia ter um papel importante, pois sabe-se que em
bactrias, os eventos de replicao se sobrepem. Nestes casos, a separao correta evitaria
o emaranhado de cromossomos.
Tais achados no so surpresa, uma vez que os eucariotos e os procariotos devem ter
evoludo a partir de um ancestral comum, que era eficiente na segregao cromossomal.
Assim, no teria porque este evento ser to distinto nas bactrias, onde a grande maioria dos
processos ocorrem de forma similar aos eucariotos.


Modelo proposto para a segregao cromossomal, em bactrias
(Adaptado de Errington, J. ASM News 64:210-217, 1998)
Seleo do stio de diviso durante a diviso celular simtrica
Como a clula seleciona o stio mediano ainda no est precisamente estabelecido, entretanto
muitos dados j existem para explicar esta etapa do processo de diviso celular.
Estudos com mutantes de E. coli indicam que as clulas contm trs stios potenciais de
diviso: na regio central e nos plos. Normalmente, para que ocorra uma diviso na regio
central, os stios polares devem ser inibidos, sem a inibio do stio potencial mediano. Nestas
clulas, parece que tal processo se d pela ao cooperativa de um inibidor de diviso com um
fator topolgico de especificidade, os quais so codificados pelos genes minC, minD e minE.


Papel das protenas Min, na localizao do septo de diviso
(Adaptado de Rothfield & Zhao. Cell, 84:183-186, 1996)
Parece que, inicialmente, as protenas MinC e MinD atuariam em conjunto, como um
inibidor inespecfico de diviso, capaz de bloquear todos os stios possveis de septao. Esta
observao se baseia no fato que a diviso fica completamente bloqueada quando minC e
minD so expressos, na ausncia de minE. A protena MinE, de alguma forma, conferiria a
especificidade topolgica ao sistema, de forma que MinCD bloquearia somente os stios
polares, sem interferir com o stio mediano.
MinE teria duas funes: 1) Como antagonista de MinCD e 2) Como fator de especificidade
topolgica pois quando se liga ao stio central, restringe o conjunto MinCD aos stios polares,
no desejados para a diviso. Estudos indicam que estas funes de MinE esto localizadas
em domnios distintos na sequncia de 88 aminocidos da protena. A funo antagnica sobre
MinCD est localizada em um pequeno domnio N-terminal (MinE1-22). A funo topolgica
esta associada a um domnio C-terminal (MinE23-81).
Assim, o domnio N-terminal atuaria como um antagonista de MinCD, enquanto o C-
terminal atuaria, direta ou indiretamente, como um sensor topolgico, capaz de distinguir o stio
potencial mediano daqueles nos polos.
Os autores especulam que existiriam uma molcula alvo (topolgico) que marcaria o stio
mediano como sendo diferente dos stios polares. A elevada afinidade da regio Carboxi-
terminal de MinE por este alvo levaria localizao preferencial da protena na regio mediana,
enquanto a poro amino-terminal impediria a ao bloqueadora de MinCD. Como a MinE
estaria sequestrada na regio mediana, a protena no estaria disponvel para interferir com a
atividade de MinCD nos polos.
Dados mais recentes indicam que alm das protenas Min, os fosfolipdeos de
membrana tambm teriam papel na seleo do stio de septao. Uma das primeiras protenas
que participam do processo de septao, FtsA ou ZipA, poderiam reconhecer e interagir com
um domnio fosfolipdico situado da poro central da membrana da clula, permitindo assim a
ligao de FtsZ.

Adaptado de Mileykovskaya, E. & Dowhan, W. (2005) Curr. Op. Microbiol., 8:135142.
Esquema do ciclo celular. (a) A nova clula filha apresenta a origem e a terminao
de replicao do DNA ("o" verde, oriC e "T" vermelho, de lado, respectivamente); o sistema Min
(bolas verdes e rosas) ligado aos plos, ou oscilando entre os plos; domnios lipdicos nos
plos (vermelho). (b) O cromossomo sofre uma rotao, trazendo a oriC para a poro central,
onde formado um domnio lipdico rico em cardiolipina (vermelho). O DNA comea a ser
replicado pela DnaA, e pela montagem do replissomo (pentgono). (c,d) As origens recm-
replicadas se movem em direo aos plos, liberando o domnio lipdico central para agora
interagir com FtsZ (prpura). (e) Organizao da maquinaria de diviso (multicolorida) e
converso do domnio central em futuros plos. (f) Em E: coli, MinD (rosa) e seu domnio C-
terminal (cinza) trocam ADP por ATP (direita), expondo a poro C-terminal, que interage com
lipdeos de membrana nos plos. O polmero de MinD-ATP pode crescer em direo ao centro.
Prximo ao centro, a ligao de MinE (verde) induz a hidrlise de ATP, levando MinD para a
conformao MinD-ADP, despolimerizando-o e voltando para os plos. (g) Vrias molculas de
DnaA (amarelo) associadas a ATP ou ADP.
Somente quando ligada a ATP a DnaA (diagrama da direita) capaz de se ligar prximo
oriC (azul e verde), abrir o DNA e permitir a montagem do replissomo. A forma inativa, DnaA-
ADP ligada oriC reciclada na membrana (vermelho).
Formao do septo de diviso e a separao das clulas filhas
Estudos indicam que uma protena presente em E. coli, denominada FtsZ, desempenha
importante papel na formao do septo e separao das clulas filhas, durante o processo de
diviso celular.
A protena FtsZ forma um anel no stio da diviso celular, sugerindo um papel estrutural para
esta protena neste processo. Atualmente sabe-se que a FtsZ tem homologia com as pores
que se ligam ao GTP da tubulina, sendo os cristais das duas muito semelhantes e que tambm
atua como GTPase.
A FtsZ hidrolisa o GTP aps formar estruturas semelhantes a polimeros de tubulina e
vem sendo encontrada (ou homlogos) em um grande nmero de espcies de Bacteria e
Archaea estudadas at o momento, formando um anel no stio de diviso.
Homlogos de FtsZ j foram detectados em clulas vegetais, onde mutaes nestes genes
impedem a diviso dos cloroplastos, reforando a hiptese de sua participao na diviso
celular e tambm a teoria da endossimbiose.
Componentes da maquinaria de diviso celular
Durante a diviso, vrias protenas so recrutadas para o anel formado por FtsZ: FtsA,
FtsQ, FtsW, FtsL, FtsN, FtsK, FtsI (PbP3) e ZipA, que se organizam em um complexo para
realizar a diviso. Exceto por FtsZ, FtsA e ZipA, todas as demais apresentam dominnios
transmembranosos e periplasmticos, indicando que atravessam a membrana citoplasmtica.
O anel FtsZ localiza-se exatamente no centro de uma clula vegetativa bacilar, como E. coli,
sugerindo uma pr-determinao do local, provavelmente mediada por MinE.
Durante a diviso o anel FtsZ comea a se contrair, pela remoo sucessiva de suas
subunidades, as quais migram para as futuras regies centrais das novas clulas filhas. Assim,
acredita-se que os stios de diviso da prxima gerao j esto presentes nas clulas me,
sendo o processo de montagem e desmontagem bastante rpido.


Formao do septo e separao das clulas filhas
(Adaptado de Margolin, W. ASM News 65, 1999)

Seleo do stio de diviso durante a diviso celular assimtrica
Em B. subtilis, os stios polares so utilizados para a formao do septo apenas durante
a esporulao. Quando crescendo vegetativamente, B. subtilis utiliza a regio mediana para a
formao do septo de diviso entretanto, em condies desfavorveis, o stio de septao
passa para um dos polos, permitindo a esporulao.
Durante o crescimento vegetativo, B. subtilis seria semelhante a E. coli, com MinCD
atua conjuntamente, provavelmente com a protena de funo igual MinE, ainda no
descoberta, que suprimiria o uso dos stios polares para a diviso. Havendo um estmulo para a
esporulao, a especificidade topolgica do sistema seria revertida, ocorrendo liberao dos
stios polares. Um modelo explicativo implicaria na existncia de duas MinE, com diferentes
propriedades topolgicas, que determinariam a localizao central ou subterminal do septo.
Reproduo pela formao de esporos mltiplos, inativos - Metabacterium
polyspora
Esta bactria Gram positiva habita o trato GI de cobaias e produz mltiplos (at 9)
endosporos. O ciclo de vida desta bactria requer que o organismo circule pelo trato GI, ou
seja, depende da natura coprfaga de seu hospedeiro. Esporos de M. polyspora so isolados
das fezes do hospedeiro e somente estes esporos maduros sobrevivem passagem pelo
estmago, indo germinar no intestino delgado (figura abaixo). Algumas clulas fazem fisso
binria neste estgio, mas a maioria esporula. A partir do intestino delgado, as bactrias se
depositam no ceco, ondem terminam de esporular. Ao que parece, os pr-esporos ou
endosporos maduros no so capazes de realizar fisso binria. Os esporos passam pelo ceco
e finalmente so eliminados nas fezes, podendo ser novamente ingeridos pelo hospedeiro,
recomeando o ciclo.
A esporulao em M. polyspora diferente, com uma diviso iniciada nos dois plos e o
DNA vai para os dois compartimentos. Aps o englobamento, o pr-esporo pode se dividir,
produzindo outros pr-esporos que amadurecem. Assim, existem 3 ou mais cpias do genoma.

Adaptado de Angert, E.R. (2005). Nature Rev. Microbiol., 3:214-224.
Formao de mltiplos esporos em M. polyspora. a-g: fluorescncia especfica para
membrana e capas de esporos. a: as clulas se dividem nos dois plos. b: pr-esporos
englobados pela clula me. c. pr-esporos capazes de fazer fisso binria (a seta indica um
novo septo de diviso formado). d: diviso e crescimento do pr-esporo. e: amadurecimento do
pr-esporo, f: M polyspora com 7 pr-esporos. g: clula que emerge do esporo, se divide nos
plos e comea a esporular. h: micrografia de contraste, mostrando fisso binria em M.
polyspora, um evento raro.

O processo de reproduo em Epulopiscium fischelsoni - uma bactria vivpara
Desde a sua descoberta, o gnero Epulopiscium tem fascinado os microbiologistas, por
suas caractersticas extremamente diferentes daquelas observadas nas bactrias comumente
estudadas. Alm de ser nica por suas dimenses (podendo atingir cerca de 600 a 800 nm),
estes organismos apresentam um tipo vivparo de reproduo.
Dados recentes da literatura revelam que as clulas de Epulopiscium so capazes de
gerar de 1 a 7 clulas filhas ativas, em seu interior. Ao que parece, o processo se assemelha
esporulao, envolvendo a condensao da molcula de DNA duplicada, que normalmente
dirige-se aos plos da clula me.
Estudos envolvendo anlises microscpicas revelam que aps o perodo de
condensao e migrao do DNA para as extremidades celulares, este se apresenta
descondensado, com as clulas filhas ativas metabolicamente.
Geralmente, so produzidas 2 clulas filhas, estando uma em cada polo. No entanto,
quando so geradas mais que 2 clulas filhas, observa-se a condensao do DNA em regies
medianas da clula me, situadas imediatamente abaixo da parede celular.

Esquema geral de uma clula de Epulopiscium originando uma clula filha
(Adaptado de Angert & Clements (2004) Mol. Microbiol., 51:827835)
Estes resultados so bastante recentes, embora em 1998 tenha sido publicado um
artigo descrevendo a ocorrncia de "vesculas contendo nucleides" neste organismo. Muito
pouco se sabe ainda sobre o processo de reproduo neste organismo, embora os dados
obtidos no estudo referente figura acima descrevam tambm a ocorrncia do anel formado
pelas protenas FtsZ.
Assim, possivelmente em um futuro no muito distante, novas informaes estaro
disponveis acerca do processo vivparo de reproduo neste procarioto.

Metabolismo Microbiano
Classes de organismos, quanto s fontes de energia e carbono
Energia: definida como a capacidade de produzir trabalho
Os organismos podem ser classificados em dois grandes grupos, de acordo com a forma que
obtm sua energia:os fototrficos, que obtm sua energia a partir da energia luminosa, pela
fotossntese e os quimiotrficos, que obtm sua energia a partir da utilizao de compostos
qumicos, envolvendo especialmente reaes de oxidao e reduo.
Em relao s fontes de carbono, os organismos podem ainda ser classificados como
autotrficos, quando utilizam fontes inorgnicas de carbono (CO
2
) e heterotrfico, quando as
fontes de carbono so de natureza orgnica.

Inicialmente, sero discutidos os processos de produo de energia em organismos
quimiotrficos heterotrficos, uma vez que estes so bastante conhecidos e estudados
metabolicamente.
Nos organismos quimiotrficos, a energia obtida basicamente atravs de reaes de
oxirreduo, tendo como substratos os nutrientes adquiridos pelas clulas.
Todo e qualquer nutriente, exibem uma energia associada aos eltrons presentes nas ligaes
interatmicas e, dependendo da estabilidade na distribuio desta energia, podemos ter
compostos com ligaes ricas em energia, ou seja, ligaes instveis, que facilmente liberam
a energia contida. Assim, nos organismos quimiotrficos, pode-se falar em energia qumica:
aquela liberada quando compostos orgnicos ou inorgnicos so oxidados.
Reaes de oxi-reduo
Oxidao => remoo de eltrons (ou tomos de hidrognio) de um tomo ou molcula.
Reduo => Ganho de eltrons (ou tomos de hidrognio) de um tomo ou molcula.
Tal definio decorre do fato de que frequentemente, estas reaes envolvem a
transferncia no somente de eltrons, mas sim de tomos de hidrognio (na forma de H
+
).
Como os eltrons no podem ficar isolados, soltos, estes devem fazer parte de tomos ou
molculas. Assim, toda reao de oxidao requer acoplada uma reduo. Assim, o composto
que foi oxidado denomina-se de doador de eltrons, enquanto aquele reduzido o aceptor de
eltrons.
Mecanismos de gerao de ATP
Os organismos apresentam trs mecanismos de fosforilao para a gerao de ATP:
1) Fosforilao em nvel de substrato: onde o ATP gerado pela transferncia de um
grupamento fosfato de alta energia a partir de um composto fosforilado ao ADP. Esta ligao
rica em energia geralmente foi adquirida na reao onde o substrato foi oxidado.
2) Fosforilao oxidativa: Neste caso, os eltrons so tranferidos do composto orgnico,
atravs de uma srie de carreadores a um aceptor final, sendo que a transferncia dos eltrons
entre os diferentes carreadores libera energia, onde parte utilizada na gerao de ATP, pela
quimiosmose.
3) Fotosforilao: que ocorre em clulas que contm pigmentos que absorvem luz.
Neste caso, a energia luminosa, convertida em ATP e NADPH, que sero utilizados para a
biossntese, empregando tambm uma cadeia de transporte de eltrons.
Processos onde h a produo de energia, em quimiotrficos
A produo de energia nos organismos quimiotrficos: pode, a grosso modo, ser
dividida em trs categorias: fermentao, respirao aerbia e respirao anarbia.
- Fermentao: processo que ocorre na ausncia de aceptores finais (anaerbio).
- Respirao: oxignio ou outro agente oxidante atua como aceptor final (aerbia ou
anaerbia).
Uma vez que estes trs processos envolvem reaes de oxirreduo, podemos
diferenci-los genericamente, de acordo com os doadores inciais e aceptores finais de eltrons.
Assim, temos:
Fermentao: processo onde o doador inicial e o aceptor final de eltrons
correspondem a molculas orgnicas. Desta forma, a fermentao um processo onde ocorre
oxidao parcial dos compostos orgnicos, que podem ser acares, protenas, cidos, entre
outros. Como o processo parcial, h apenas uma pequena frao de energia liberada. Nas
fermentaes, o ATP gerado a partir da fosforilao em nvel de substrato.
Por exemplo, aps a quebra da glicose, originando cido pirvico, este pode ser
convertido a outro composto orgnico, por um processo de fermentao. Assim, a fermentao
um processo que no depende do ciclo de Krebs, ou da cadeia de transporte de eltrons.
Neste tipo de reao, os eltrons so transferidos das coenzimas reduzidas (NADH,
NADPH) ao cido pirvico ou derivados, regenerando-os para novos ciclos de gliclise.
Vrios tipos de fermentao so observados em diferentes microrganismos, sendo os
exemplos mais conhecidos a fermentao alcolica e a fermentao ltica.
Tipos bsicos de fermentao:
Ltica (homo ou heteroltica) => cidos ltico, actico, frmico, etanol (Lactobacillus,
Streptococcus, Leuconostoc).
Propinica: Propinico, actico e CO
2
(Propionibacterium, Veillonella).
Acetona-Butrica: cido butrico, acetona, butanol, isopropanol, cido actico, cido frmico,
etanol, H
2
e CO
2
(Clostridium, Eubacterium, Bacillus).
Actica: actico, glucnico (Acetobacter).
Aerogenes-coli-tfico: Frmico, actico, ltico, succnico, etanol, 2,3-butilenoglicol, H
2
e CO
2

(Escherichia, Enterobacter, Salmonella).


Exemplos de fermentaes
(Adaptado de Tortora et al., Microbiology, an introduction, 1996)
Respirao: Processo onde o doador inicial de eltrons oxidado, tendo como aceptor
final de eltrons um composto inorgnico. Quando o aceptor final o oxignio, a respirao
denominada aerbia e quando o aceptor outro composto (Sulfato, nitrato), denominada
anaerbia. Em todos os processos de respirao temos a participao de uma cadeia de
transporte de eltrons.
Respirao Aerbia
Aps a gliclise, o cido pirvico convertido a actil-CoA, que entra no ciclo de Krebs,
onde ocorrem uma srie de reaes de oxirreduo, que transferem a energia para coenzimas,
principalmente NAD+, reduzindo-as. Esta energia armazenada ser transferida, levando
formao de ATP, pela cadeia de transporte de eltrons, localizada na membrana
citoplasmtica.
Esta cadeia de transporte corresponde a uma srie de molculas transportadoras
(flavoprotenas, citocromos e ubiquinonas), que sofrem reaes de oxirreduo, as quais
promovem uma gradual liberao de energia, que dirigir a gerao quimiosttica de ATP.
As cadeias de transporte snao bastante variveis nas diferentes bactrias e uma
mesma bactria pode apresentar diferentes cadeias de transporte de eltrons.
Durante o transporte h a produo de ATP, atravs da fosforilao oxidativa, que est ligada
ao estabelecimento de um gradiente de prtons atravs da membrana.
Quimiosmose: Estas protenas transportadoras de prtons esto orientadas na membrana de
tal forma que possibilita a separao entre prtons e eltrons, sendo os eltrons mandados
para a face citoplasmtica da membrana, por transportadores especficos e os prtons para o
lado de fora da clula. Ao final do processo, os eltrons so carreados ao aceptor final (O
2
na
respirao aerbia), que reduzido, formando gua. Para formar gua, precisa de ons H
+
do
citoplasma, vindos da dissociao da gua. Em decorrncia destes processos, gerada uma
formao lquida de OH
-
no interior da clula, resultando em um gradiente de pH e um potencial
eltrico ao longo da membrana (dentro fica negativo e alcalino e fora, positivo e cido). A
membrana fica ento energizada (fora motora de prtons). Esta energia eltrica pode ento
ser utilizada transporte de ons, movimentao flagelar ou na formao de ATP.
Formao de ATP: A enzima ATPase (um canal para o transporte de prtons), ligada
membrana, possui 2 partes: uma cabea em multi-subunidades, presente na face interna, e
uma cauda, condutora de prtons, que atravessa a membrana. Ela cataliza a reao entre ATP
e ADP + Pi. Atuando em uma direo, ela cataliza a formao de ATP (fosforilao oxidativa)
pela entrada controlada de prtons (a formao do gradiente dada com gasto de energia,
enquanto sua dissipao controlada libera energia).

Exemplos da respirao aerbia
(Adaptado de Tortora et al., Microbiology, an introduction, 1996)


Respirao anaerbia: Neste processo, o aceptor final de eltrons no o oxignio,
sendo substitudo por nitrato, sulfato ou carbonato. Uma vez que parte do ciclo de Krebs no
funcional em condies de anaerobiose, e tambm pelo menor nmero de molculas
transportadoras de eltrons presentes, este processo rende menor quantidade de energia, mas
ainda fornece mais que na fermentao. Eventualmente, ocorre em organismos que realizam
respirao aerbia.
Fotossntese: Um dos processos mais importantes na terra, realizado por organismos
autotrficos, que possibilita a converso da energia luminosa em energia qumica, a qual
ento utilizada para a converso do CO
2
da atmosfera em compostos de carbono reduzidos,
especialmente acares.
Neste processo, os eltrons so obtidos a partir dos tomos de hidrognio da gua. A
fotossntese pode ser dividida em duas etapas: fase clara a energia luminosa utilizada na
converso de ADP a ATP e na reduo de NADP a NADPH. H ainda a fase escura, os
eltrons so utilizados, juntamente com o ATP, para reduzir o CO
2
a compostos orgnicos.
Reaes luminosas: correspondem fotofosforilao, onde a energia luminosa
absorvida pelos pigmentos (clorofila, bacterioclorofila), excitando os eltrons, que passam para
a primeira de uma srie de molculas transportadoras, semelhante cadeia de transporte de
eltrons. Com isso, h a passagem de prtons pela membrana, com a converso de ADP em
ATP.
A fotofosforilao pode ser de dois tipos: cclica e acclica. No processo cclico, o eltron
retorna clorofila, enquanto na acclica, processo mais comum, os eltrons liberados no
retornam clorofila, sendo incorporados ao NADPH. Os eltrons perdidos so subsitudos por
outros, provenientes da gua ou outro composto oxidvel, tal como H
2
S. (Na cclica, quanto h
a absoro dos quanta pela bacterioclorofila, a molcula se excita, perdendo um eltron,
tornando-se um agente oxidante potente. O eltron transferido num processo semelhante a
CTE (Ferredoxina-ubiquinona-cit b-cit f) e retorna bacterioclorofila.
Entre b e f h a produo de ATP. Na acclica (algas) h dois sistemas de pigmentos
que tambm perdem eltrons, passam por um processo semelhante CTE, mas o eltron
usado para reduzir o NADP a NADPH). Reaes escuras: no requerem a luz, para que
ocorram e incluem o ciclo de Calvin-Benson, onde o CO
2
fixado.


Exemplos da fotossntese
(Adaptado de Tortora et al., Microbiology, an introduction, 1996)
Outros tipos metablicos
Fotoautotrficos: Utilizao de compostos inorgnicos como doadores: Ocorre nos
quimiolitotrficos, sendo as fontes o H
2
S, H
2
e NH
3
. Os processos so similares respirao
aerbia. A fonte de carbono geralmente o CO
2
.
Quimiolitotrficos: O CO
2
reduzido a gliceraldedo 3P (fixao), que ser
metabolizado via o ciclo de Calvin. A energia para a realizao destes processos advm da
oxidao de compostos inorgnicos (H
2
, NH
4
, NO
3
).
As bactrias prpuras e verdes usam a luz para produzir ATP; produzem NADPH a partir da
oxidao de H
2
S ou compostos orgnicos (fotossntese anoxignica). As algas e cianobactrias
geralmente obtm o NADPH pela hidrlise da gua, sendo um evento mediado pela luz
(oxignica).




Biofilmes Microbianos
Introduo
Nossa percepo de bactrias como organismos unicelulares baseia-se essencialmente
no conceito de culturas puras, nas quais as clulas podem ser diludas e estudadas a partir de
culturas lquidas. Como praticamente todos os conceitos e conhecimentos microbiolgicos
foram adquiridos a partir do estudo de organismos em culturas puras, somente h alguns anos
comeamos a entender que, na realidade, a maioria das bactrias se encontra na natureza
vivendo em comunidades, de maior ou menor estruturao.
O tipo de "ecologia" que imaginvamos em relao aos procariotos, ou seja, clulas
individuais crescendo de maneira planctnica (livres, em suspenso), raramente encontrado
na natureza. Sabe-se atualmente que, quando em seus habitats naturais, via de regra as
bactrias so encontradas em comunidades de diferentes graus de complexidade, associadas
a superfcies diversas, geralmente compondo um biofilme, isto , um ecossistema estruturado
altamente dinmico, que atua de maneira coordenada.
Assim, embora possam ter uma existncia planctnica independente, este tipo de vida
parece ser eventual.
Os biofilmes, complexos ecossistemas microbianos, podem ser formados por
populaes desenvolvidas a partir de uma nica, ou de mltiplas espcies, podendo ser
encontrados em uma variedade de superfcies biticas e/ou abiticas. Desta maneira, muitos
autores definem biofilmes como associaes de microrganismos e de seus produtos
extracelulares, que se encontram aderidos a superfcies biticas ou abiticas.
Geralmente, a dinmica de formao de um biofilme ocorre em etapas distintas.
Inicialmente temos or organismos denominados colonizadores primrios, que se aderem a uma
superfcie, geralmente contendo protenas ou outros compostos orgnicos. As clulas aderidas
passam a se desenvolver, originando microcolnias que sintetizam uma matriz
exopolissacardica (EPS), que passam a atuar como substrato para a aderncia de
microrganismos denominados colonizadores secundrios. Estes colonizadores secundrios
podem se aderir diretamente aos primrios, ou promoverem a formao de coagregados com
outros microrganisos e ento se aderirem aos primrios.

(Adaptado de Rickard et al., Trends Microbiol., 11:94-100, 2003)
Desenvolvimento de um biofilme. (a) Colonizao primria de um substrato; (b)
crescimento, diviso celular e produo do exopolissacardeo (EPS), com o desenvolvimento
de microcolnias; (c) coadeso de clulas individuais, de clulas coagregadas e grupos de
clulas idnticas, originando um biofilme jovem, de mltiplas espcies; (d) maturao e
formao de mosaicos clonais no biofilme maduro.
Assim, o biofilme corresponde a uma "entidade" dinmica pois, de acordo com os
microrganismos que o compem, teremos consies fsicas, qumicas e biolgicas distintas.
Estas alteraes fazem com que cada biofilme seja nico, de acordo com os microrganismos
presentes. Neste sentido, ao longo do tempo a composio microbiana dos biofilmes
geralmente sofre alteraes significativas. A figura abaixo ilustra no somente a estruturao
fisico-qumica de um biofilme, mas tambm sua evoluo e amadurecimento, dependendo das
relaes estabelecidas pelos microrganismos presentes.


Estgios de formao e vida de um biofilme, determinados por fatores fsicos, biolgicos e ambientais
(Adaptado de Jenkinson & Lappin-Scott, Trends Microbiol., 9:9-10, 2001)
Comportamento coletivo
H vrias dcadas, foi proposto que as bactrias poderiam corresponder a organismos
interativos, capazes de atuar coletivamente, facilitando sua adaptao s alteraes
ambientais. Para que um biofilme de uma ou vrias espcies seja formado, necessrio o
estabelecimento de um comportamento multicelular, que se reflete em atividades coordenadas
de interao e comunicao dos vrios organismos. Assim, os biofilmes no so simples
camadas viscosas contendo organismos. Estes representam sistemas biolgicos altamente
organizados, onde as bactrias estabelecem comunidades funcionais estruturadas e
coordenadas.
Um dos mecanismos de comunicao interbacteriana que vem se mostrando
extremamente importante na formao e desenvolvimento de biofilmes corresponde ao quorum
sensing.
Comunidades associadas s superfcies
Os procariotos podem habitar qualquer ambiente adequado s formas de vida
superiores, assim como vrios ambientes inspitos maioria das formas de vida. Tal fato
decorrente de sua inigualvel diversidade metablica e plasticidade fenotpica. Um dos
importantes aspectos associados a esta ubiqidade est relacionado capacidade destes
organismos migrarem para diferentes nichos, onde podem se propagar. O mecanismo mais
comum que permite a migrao dos procariotos corresponde motilidade, seja de origem
flagelar, deslizante, ou de outro tipo. No entanto, so conhecidos mecanismos que tambm
permitem a migrao bacteriana.
Por exemplo, algumas espcies podem sintetizar celulose, originando uma pelcula que
mantm as clulas prximas interface r-gua, ou na superfcie de plantas. Bactrias
fotossintetizantes podem se posicionar nas colunas de gua, em resposta intensidade
luminosa, pela produo de vesculas de gs. Outras, apresentam magnetossomos,permitindo
movimentaes ao longo dos campos magnticos da Terra. Um importante mecanismo na
formao de comunidades corresponde agregao ou aderncia, que otimiza tanto as
interaes celulares como tambm as taxas de sedimentao dos organismos.
As comunidades bacterianas tm importantes papis na natureza, seja na produo e
degradao de matria orgnica, na degradao de poluentes, ou na reciclagem de nitrognio,
enxofre e vrios metais. A maioria destes processos requer o esforo coletivo de organismos
com diferentes capacidades metablicas. Assim, os biofilmes participam metabolizando
esgotos e guas contaminadas com petrleo, na nitrificao, na reciclagem de enxofre oriundo
de drenados cidos de minas (onde o pH 0) e em vrios outros processos. Outro tipo de
biofilme est associado s partculas em suspenso, muitas vezes denominadas neve marinha,
extremamente importante nas transformaes biogeoqumicas do carbono em ambientes
pelgicos, na metanognese, fixao de nitrognio e produo de enxofre. Estes achados
revelam que nos biofilmes podem ser criadas condies de anaerobiose, em ambientes
normalmente aerbios.

(Adaptado de Davey & OToole, Microbiol. Mol. Biol. Rev., 64:847-867, 2000)
Exemplo da ecologia de comunidades microbianas. As quatro microcolnias centrais
correspondem a organismos que geram e consomem hidrognio. Os fermentadores utilizam
acares e produzem cidos orgnicos, utilizados pelos produtores de hidrognio. Alm das
interaes metablicas, a comunicao intra e intercelular pode ser mediada por molculas
sinalizadoras.

As interaes que permitem a agregao de diferentes espcies, ou mesmo gneros
microbianos em um biofilme geralmente envolvem a participao de adesinas (molculas de
adeso presentes em fmbrias ou dispersar ao longo da superfcie celular), que reconhcem
receptores especficos na superfcie de outras clulas, ou em diversos tipos de substratos.
Assim, a figura abaixo esquematiza a formao de um biofilme aqutico, revelando a
complexidade tanto estrutural como temporal deste ecossistema. As horas correspondem ao
tempo mdio necessrio adeso dos diferentes microrganismos, revelando a dinmica de
formao e estruturao deste biofilme.

Esquema de coagregaes envolvendo bactrias aquticas.
(Adaptado de Rickard et al., Trends Microbiol., 11:94-100, 2003)
Estrutura dos Biofilmes
A maioria dos biofilmes exibe uma certa heterogeneidade, existindo conjuntos de
agregados celulares distribudos ao longo da matriz exopolissacardica, que exibem densidades
variveis, originando aberturas e canais por onde a gua pode trafegar.

Corte lateral, revelando a estrutura de um biofilme artificial de V. cholerae. A intensidade da cor est
associada densidade celular.
(Adaptado de Davey & OToole, Microbiol. Mol. Biol. Rev., 64:847-867, 2000)
As microcolnias que compem um biofilme podem ser de uma ou vrias espcies,
dependendo das condies ambientais. Por exemplo, em locais de grande stress mecanico,
tais como a superfcie dental, o biofilme bastante compactado e estratificado. Os espaos
intersticiais (canais) tambm so parte importante dos biofilme, pois permitem a circulao de
nutrientes e a troca de metablitos.
Por que formar um biofilme?
Acredita-se que a formao de biofilmes esteja associada, por exemplo, proteo
contra o ambiente, ou seja, bactrias em um biofilme encontram-se abrigadas e em relativa
homeostase, graas presena da matriz exopolissacardica. A matriz contm vrios
componentes: exopolissacardeo, protenas, cidos nuclicos, entre outros.
O exopolissacardeo secretado para o meio externo, sendo de diferentes
composies. Ao que parece, o EPS tem diferentes estruturas e funes, dependendo das
comunidades e/ou condies ambientais. Este polmero pode impedir fisicamente a penetrao
de agentes antimicrobianos no biofilme, principalmente aqueles hidroflicos e carregados
positivamente. Em alguns casos o EPS capaz de sequestrar ctions, metais e toxinas. Por
estas razes, os biofilmes podem corresponder a excelentes mecanismos de transferncia de
metais nos ecossistemas, pois vrios organismos marinhos pastadores se alimentam de
biofilmes. Foi tambm descrito que o EPS teria papel de proteo contra radiaes UV,
alteraes de pH, choques osmticos e dessecao.
Disponibilidade de nutrientes e cooperatividade metablica
Os canais aquosos dos biofilmes podem ser comparados a um sistema circulatrio
primitivo, permitindo a troca de nutrientes e metablitos, assim como a remoo de metabtilos
potencialmente txicos. Em um biofilme, torna-se possvel a cooperao metablica. Por
exemplo, a degradao de compostos orgnicos complexos, originando metano e CO
2
durante
uma digesto anaerbia, requer pelo menos trs grupos de organismos. As bactrias
fermentativas iniciam o processo, gerando cidos e lcoois, que so utilizados por bactrias
acetognicas. Finalmente, as metanognicas convertem o acetato, CO
2
e hidrognio,
produzindo metano.
Os biofilmes so ambientes ideais para o desenvolvimento de relaoes sintrficas, que
um tipo de simbiose onde dois tipos de organismos metabolicamente distintos dependem um
do outro para utilizarem certos substratos, na produo de energia.


Sintrofia em um grnulo de lodo de um reator metanognico. Corantes
fluorescentes revelam organismos metanognicos (em verde) e bactrias que oxidam
propionato (em vermelho). A cor amarela resulta da combinao verde e vermelho, revelando
microcolnias sintrficas interligadas a cadeias de metanognicos.
(Adaptado de Davey & OToole, Microbiol. Mol. Biol. Rev., 64:847-867, 2000)

Aquisio de novas caractersticas genticas
Vrias bactrias possuem plasmdeos, conferindo as mais diversas caractersticas.
Estes podem ser transferidos horizontalmente por conjugao, para diferentes espcies
presentes em um bioflme. Estudo foram realizados com placas dentais artificiais, formadas
inicialmente por bactrias do gnero Streptococcus. Uma linhagem de Bacillus, contendo um
transposon conjugativo albergando genes de resistncia tetraciclina, foi inserida no sistema e
transferiu este transposon para clulas de Streptococcus.
A transduo pode, teoricamente, ser responsvel pela transferncia horizontal de
genes em biofilmes. Tal hiptese baseia-se no fato de sistemas marinhos e de gua doce
contm uma enorme abundncia de bacterifagos (cerca de 10
8
/ml), sendo responsveis pela
lise de um grande nmero de bactrias. Diariamente, de 10 a 20% da populao bacteriana
lisada por fagos, os quais tm relevante impacto na cadeia alimentar microbiana uma vez que
podem aumentar as taxas de mortalidade e/ou reduzir as taxas de crescimento em todos os
nveis trficos. Estudos recentes revelam que os fagos podem estruturar ou restruturar
comunidades microbianas. Em uma anlise, onde uma populao de cianobactrias foi
praticamente exterminada pelos fagos, observou-se a presena de novas espcies capazes de
degradas os compostos orgnicos que surgiram.
Papel dos biofilmes nas doenas
At o momento, a vasta maioria das doenas infecciosas vem sendo tratada
eficientemente com antibiticos entretanto, de acordo com as pesquisas mais recentes,
sabemos que tal tipo de estratgia pode ser ineficaz em duas situaes: 1) com organismos
exibindo resistncia inata droga e 2) em bactrias presentes em biofilmes.
Em um biofilme, as bactrias podem ser 1000 vezes mais resistente a um antibitico,
quando comparadas s mesmas clulas planctnicas, embora os mecanismos envolvidos
nesta resistncia sejam ainda pouco conhecidos. Dentre os possveis mecanismos, acredita-se
que possa haver a inativao da droga por polmeros ou enzimas extracelulares, ou a
ineficincia da droga em decorrncia de taxas de crescimento muito lentas no interior dos
biofilmes.

Infeces assciadas a biofilmes geralmente so de natureza recorrente, visto que as
terapias antimicrobianas convencionais eliminam predominantemente as formas planctnicas,
deixando as clulas ssseis livres para se reproduzir e propagar no biofilme aps o tratamento.
Para tornar o quadro ainda mais grave, as bactrias presentes nos biofilmes encontram-se
mais protegidas contra o sistema imune do hospedeiro.
Exemplos tpicos de doenas associadas a biofilmes incluem as infeces de implantes
tais como vlvulas cardacas, catteres, lentes de contato, etc.
Os biofilmes podem ainda promover doenas se formados em tecidos, tais como nas infeces
pulmonares provocadas por Pseudomonas aeruginosa, em pacientes com fibrose cstica, que
so suscetveis a infeces crnicas por esta bactria. A periodontite outro exemplo de
doena provocada por biofilmes. O principal microrganismo associado a esta doena,
Porphyromonas gingivalis, coloniza uma grande de superfcies orais direta ou indiretamente,
sendo ento capaz de invadir as clulas das mucosas e liberar toxinas.


Biofilmes e resistncia s drogas, devido densidade e tipos celulares, excluso
fsica da droga, expresso de genes de resistncia, quorum sensing e alteraes da superfcie
celular. (Adaptado de Mah & OToole, Trends Microbiol., 9:34-39, 2001)


Esquema do desenvolvimento temporal de uma placa dental.
(Adaptado de Rickard et al., Trends Microbiol., 11:94-100, 2003)
Gentica da formao dos biofilmes
Quatro organismos, P. aeruginosa, P. fluorescens, E. coli e V. cholerae, vm sendo
intensamente estudados, como modelos na formao de biofilmes de espcies nicas. Este
processo pode ser subdivido em etapas: a) Aderncia inicial superfcie, b) Formao das
microcolnias, c) maturao das microcolnias em um biofilme contendo a matriz de EPS.

Estudo microscpico da formao de um biofilme
por V. cholerae
(Adaptado de Watnick & Kolter, J. Bacteriol.,
182:26752679, 2000)

Etapas que uma nova espcie bacteriana realiza, durante
sua incorporao em um biofilme
(Adaptado de Watnick & Kolter, J. Bacteriol., 182:2675
2679, 2000)

Ao que parece, o processo se inicia quando as bactrias percebem determinadas
condies ambientais, que disparam o fenmeno de transio de clulas planctnicas em
ssseis. Assim, Pseudomonas aeruginosa e P. fluorescens parecem ser capazes de formar
bioflmes sob quase todas as condies, enquanto E. coli somente os forma se estiver em
meios mnimos suplementados com aminocidos, ou em meios pobres em nutrientes.
Diferentes vias genticas podem ser utilizadas na formao de biofilmes. Por exemplo,
V. cholerae parece ter diferentes vias para realizar a aderncia inicial, dependendo da
superfcie. Assim, quando no intestino, este organismo utiliza a fmbria Tcp para realizar a
colonizao, embora tal estrutura no tenha papel na etapa inicial de formao de biofilmes em
superfcies abiticas, sendo o processo mediado por um outro tipo de fmbria, denominada
Msh.
Incio de formao do biofilme
A partir de estudos com linhagens mutantes de P. aeruginosa, foi relatado que, quando
as clulas no sintetizam flagelos, so incapazes de realizar as interaes iniciais com as
superfcies. Mutantes que no produzem a fmbria tipo IV (associada movimentao das
clulas em uma superfcie) so capazes de se aderir formando uma monocamada, ao invs de
microcolnias. Existem uma protena, denominada Crc que, alm de atuar regulando o
metabolismo das clulas, tambm regula a expresso de dois genes que codificam protenas
importantes na montagem da fmbria tipo IV.
O LPS da membrana externa tambm tem papel na adeso inicial. Em E. coli, os
flagelos tambm so importantes nesta primeira etapa de formao do biofilme. H ainda a
participao de fmbrias do tipo I, uma protena de membrana externa, Ag43 e do LPS. Em V.
chloreae acredita-se que o processo seja bastante similar ao de E. coli.
Maturao do biofilme
Aps a etapa de interaes iniciais, comea a haver a formao das microcolnias,
normalmente associada produo de EPS. Outra etapa importante corresponde
organizao da arquitetura do biofilme que, em P. aeruginosa parece ter a participao do
"quorum sensing".


Estgios iniciais na formao de biofilmes de Gram negativos (P. aeruginosa, E.
coli, e V. cholerae).
(A) Em P. aeruginosa, os flagelos so necessrios para aproximar a bactria da
superfcie, enquanto o LPS media as primeiras interaes, havendo talvez a participao de
protenas da membrana externa. Quando formam monocamadas, fmbrias tipo IV mediam o
movimento pulsante, necessrio formao de microcolnias. A produo destas fmbrias
regulada, em parte, por sinais nutricionais (Crc), havendo ainda a ativao de genes envolvidos
na sntese de alginato e represso de genes flagelares. A formao do biofilme maduro envolve
a participao de homoserina lactonas sinalizadoras.
(B) Em E. coli, os flagelos aproximam as clulas do substrato, enquanto as primeiras
interaes so mediadas por fmbris tipo I e a protena de membrana externa Ag43. O EPS,
cido colnico resonsvel pela arquitetura do biofilme.
(C) V. cholerae, tambm usa os flagelos na aproximao, sendo a ligao mediada por
fmbrias MshA e talvez outras protenas.
(Adaptado de Davey & OToole, Microbiol. Mol. Biol. Rev., 64:847-867, 2000)
Disperso
Em determinados momentos, os biofilmes sofrem disperso, liberando microrganismos
que podem vir a colonizar novos ambientes. s mecanismos genticos associados disperso
no so ainda bem conhecidos.
Existem trs tipos de processos de disperso: expansiva, quando parte das clulas de uma
microcolnia sofrem lise e outras retomam a motilidade, sendo ento liberadas da estrutura.
Outro tipo de disperso envolve a fragmentao do biofilme, onde pores de matriz
extracelular associadas a microrganismos so liberadas. Finalmente, o terceiro tipo de
disperso, denominada superficial, ocorre pelo crescimento do prprio biofilme como um todo.
Quorum Sensing
Introduo

O quorum sensing (sensor de quorum) corresponde a um processo de comunicao
intra e interespcies microbianas, que permite aos microrganismos apresentarem alteraes
fenotpicas marcantes quando estes se encontram em altas densidades populacionais. A
descoberta deste tipo de interao microbiana tornou evidente o conceito que, embora
geneticamente e estruturalmente mais simples, os microrganismos tm a capacidade de se
comportar como organismos complexos, capazes de se comunicar e agir coordenadamente,
respondendo a diferentes estmulos de modo unificado.
Este interessante processo foi descoberto em bactrias luminescentes marinhas,
habitantes de orgos luminescentes de lulas e certos peixes.

Lula exibindo luminescncia
H muitos anos conhecia-se a existncia de bactrias marinhas (por exemplo Vibrio
fischeri) capazes de emitir luminescncia. No entanto, este fenmeno era apenas observado
quando os microrganismos encontravam-se confinados nos orgos de luz dos animais. Quando
tais bactrias encontravam-se livres na gua do mar, a luminescncia no era observada.
Estudos posteriores revelaram que durante o dia as lulas expeliam as bactrias de seus orgos
de luz mas, medida que a noite se aproximava, estas passavam a acumumular os
microrganismos, que aps um determinado perodo de tempo tornavam-se luminescentes. Em
outras palavras, a emisso de luminescncia estava associada densidade populacional
bacteriana.
Posteriormente o processo que resultava na luminescncia foi esclarecido, sendo
denominado quorum sensing, uma vez que correspondia a um mecanismo de comunicao
onde os microrganismos monitoravam sua densidade populacional.
O mecanismo de Quorum Sensing
Atualmente est bem definido que este sensoriamento populacional realizado por
meio de pequenas molculas, denominadas autoindutores (AI). Os autoindutores podem ser de
diferentes naturezas qumicas: em organismos Gram negativos, via de regra os autoindutores
so do tipo N-acil homoserina lactonas (AHL), que correspondem a pequenas molculas que
se difundem livremente para dentro e para fora das clulas. Em Gram positivos, normalmente
os autoindutores correspondem a pequenos petdeos (hepta ou octapeptdeos) que se ligam a
receptores localizados na superfcie das clulas bacterianas.
Nos diferentes organismos que realizam o quorum sensing, o processo segue,
essencilamente, as mesmas etapas.
Durante o crescimento microbiano, todas as clulas produzem e liberam uma pequena
quantidade de autoindutores. Quando a populao se encontra no meio da fase logartmica ou
no incio da fase estacionria de crescimentno, a quantidade de autoindutor produzido alcana
uma concentrao limite, suficiente para disparr o processo de alterao da expresso gnica.
Em termos bastante simples: os autoindutores se ligam a protenas receptoras que so
ento ativadas, promovendo a ativao da expresso de certos genes, podendo ainda inibir a
expresso de outros genes que se encontravam ativos. Assim, o quorum sensing ativado
quando a concentrao de autoindutor atinge um nvel tal que sua ligao a uma protena
receptora eficiente, permitindo a ativao transcricional de uma srie de genes.
Regulao da bioluminescncia em Vibrio fischeri
Para melhor ilustrar o mecanismo de quorum sensing, descreveremos o fenmeno de
bioluminescncia apresentado por Vibrio fischeri.
Nealson et al., (1970) revelaram que o sobrenadante de culturas densas de V. fischeri continha
um composto capaz de induzir a luminescncia em culturas de baixa densidade, sendo por isso
denominado "autoindutor". Este autoindutor (VAI - Vibrio AutoIndutor) foi identificado em 1981,
como uma N-(3-oxohexanoil)homoserina lactona (OHHL), enquanto os genes regulatrios e
estruturais necessrios ao processo de luminescncia (regulon lux) foram descritos em 1984,
estando localizados em um segmento de DNA de 9 kb.
O regulon lux composto por dois operons que so transcritos em direoes opostas,
sendo separados por uma regio intergnica regulatria. O operon da esquerda contm o gene
luxR, que codifica o ativador transcricional LuxR, que tambm atua como receptor do
autoindutor. O operon da direita contm o gene luxI, que codifica a OHHL sintase. Abaixo do
gene luxI, encontram-se os genes estruturais luxCDABE, que codificam as protenas
necessrias ao desenvolvimento da bioluminescncia (subunidades a e b da luciferase - luxA e
luxB, a redutase - luxC, transferase - luxD e sintetase - luxE).
Assim, em qualquer etapa de seu ciclo de vida, as clulas de V. fischeri esto
produzindo pequenas quantidades do autoindutor (VAI), que se difunde livremente atravs das
membranas da bactria. Nestes estgios onde a populao microbiana ainda pequena, est
ocorrendo a ligao do VAI ao seu receptor, LuxR, no entanto, tal ligao ainda transiente.
No entanto, medida que a populao aumenta, a quantidade de VAI tambm aumenta, at
que atinge uma concentrao limiar, que dispara o processo, resultando na ativao da
tanscrio dos operons lux.
A protena LuxR modular, sendo constituda por um domnio C-terminal de ligao ao
DNA e um domnio N-terminal de ligao OHHL. A OHHL, produzida pelo gene luxI, liga-se
protena LuxR, ativando-a. Esta quando ativada liga-se ao DNA, em um stio especfico,
denominado lux box, que corresponde a uma regio de 20 nucleotdeos invertidos repetidos,
situada entre os dois operons lux.
O complexo VAI-LuxR liga-se ao lux box e estimula a transcrio dos operons, promovendo
uma maior sntese de autoindutor, de protena LuxR e de todo o aparato necessrio
luminescncia.

Regulao do operon lux pelo autoindutor de V. fischeri
Outras atividades microbianas associadas ao Quorum Sensing
Atualmente so conhecidas centenas de espcies microbianas que realizam o processo
de quorum sensing, revelando que tal tipo de comunicao resulta em uma srie de alteraes
fenotpicas apresentadas pelas culturas.
Dentre as principais atividades microbianas associadas ao quorum sensing temos:
- produo de antibiticos
- expresso de fatores de virulncia
- aquisio do estado de competncia (a capacidade de captar DNA do meio)
- transferncia de DNA para outros organismos
- fixao de nitrognio
Alm destas atividades, cada vez mais est se tornando claro o papel ecolgico
desempenhado pelo quorum sensing. Sabe-se que os microrganismos sintetizam autoindutores
bastante especficos, reconhecidos apenas por membros da mesma espcie. No entanto,
pesquisas revelam que organismos de espcies prximas podem sintetizar autoindutores
semelhantes, capazes de interferir no quorum sensing de outros organismos. Por exemplo,
Staphylococcus epidermidis, um habitante da microbiota normal, sintetiza autoindutores que
interferem no quorum sensing de S. aureus, um microrgnaismo potencialmente patognico.
Acredita-se que este tipo de interferncia tenha como principal funo impedir ou dificultar a
colonizao do hospedeiro por organismos invasores.
H alguns anos foi descoberto um segundo tipo de autoindutor, denominado AI-2, que
parece estar envolvido em um processo mais "geral" de cominucao microbiana. Este AI-2
seria reconhecido por um grande nmero de espcies, talvez atuando como uma molcula que
sinaliza aos diferentes organismos a presena de outros microrganismos. Este seria um tipo de
molcula que realizaria um "censo" geral da populao.
A descoberta do quorum sensing trouxe novas e interessantes perspectivas para o
controle microbiano, especialmente no que se refere ao tratamento de doenas infecciosas.

Controle Microbiano
Definies
Esterilizao: Destruio ou remoo de todas as formas de vida de um objeto ou
habitat.
Desinfeco: Processo que promove a inibio, morte ou remoo de vrios
microrganismos patognicos e saprfitas, sem eliminar todas as formas de vida.
Sanitizao: Processo que leva reduo dos microrganismos, a nveis seguros, de
acordo com os padres de sade pblica (elimina 99,9% das formas vegetativas).
Anti-sptico: Produto que evita a infeco em tecidos, seja inibindo ou matando os
microrganismos. Como so aplicados em tecidos vivos, os anti-spticos so, geralmente,
menos txicos que os desinfetantes (agentes aplicadas em materiais inanimados).
Germicida: mata microrganismos, mas no endosporos. Cida: Qualquer agente que
promova a morte (ex: bactericida, fungicida, algicida) Sttico: Qualquer agente que promova
a inibio do crescimento (ex: bacteriosttico, fungisttico)
Padro de morte microbiana

Da mesma forma que no crescimento, a morte microbiana um evento que ocorre de
forma exponencial. Assim, aps uma rpida reduo do nmero, a taxa de morte pode tornar-
se mais lenta, devido sobrevivncia de clulas mais resistentes.
Condies que afetam a atividade de um agente antimicrobiano, especialmente se tal
agente de natureza qumica.
1. Tamanho da populao: Quanto maior a populao, maior o tempo necessrio sua
eliminao.
2. Natureza da populao: Se nesta populao de microrganismos existirem
endosporos, os quais so muito mais resistente que formas vegetativas, sua eliminao no
ocorrer to facilmente. No caso de clulas em diferentes estgios de crescimento - clulas
mais jovens tendem a ser mais suscetveis que clulas em fase estacionria. Havendo a
presena de membros do gnero Mycobacterium, sua eliminao mais difcil que de outras
bactrias no esporuladas, etc.
3. Concentrao do agente: Geralmente, quanto mais concentrado, melhor (exceto
lcool). A relao entre a concentrao e a eficincia via de regra no linear.
4. Tempo de exposio: De acordo com normas da OMS, o tempo mnimo de exposio
deve ser de 30 minutos. Em casos de agentes esterilizantes, a exposio deve ser tal que a
chance de haver sobreviventes de 1 em 106.
5. Temperatura: Dentro de limites, o aumento da temperatura torna o processo mais
eficiente. Para agentes qumicos, geralmente o aumento de 1C da temperatura aumenta em
10 vezes a eficincia do processo, o que tambm permite a diluio do agente.
6. Condies "ambientais": pH do meio - quando cido, favorece a eliminao trmica;
presena de matria orgnica - dificulta a ao do produto (necessidade de lavagens dos
materiais antes do controle por agentes qumicos), seja por proteger o microrganismo ou
competir pelo produto em uso. Altas concentraes de acar, protenas ou lipdeos diminuem
a penetrabilidade do calor, enquanto o sal pode aumentar ou diminuir a resistncia ao calor. A
consistncia do material ou soluo tambm interfere.
Controle microbiano por agente fsicos
Os principais agentes fsicos que promovem o controle microbiano so: Calor, Filtrao
e Radiaes. Eventualmente, outros agentes, tais como as baixas temperaturas, dessecao,
podem ser utilizados.
CALOR - Uso disseminado desde pocas remotas, correspondendo ainda um dos
agentes fsicos mais prticos e eficientes para a esterilizao e/ou desinfeco. O calor pode
ser empregado sob duas formas: seco e mido, tendo a vantagem de apresentar, basicamente,
apenas 2 parmetros a serem controlados: tempo e temperatura.
Para todos os organismos so definidas as temperaturas cardeais, ou seja, as
temperaturas mnima, mxima e tima de crescimento. Assim, quando estes so submetidos a
temperaturas superiores temperatura mxima de crescimento, os efeitos letais tornam-se
aparentes. A morte um fenmeno que ocorre de forma exponencial, sendo proporcional
apenas concentrao inicial da populao. J o tempo para uma determinada frao da
populao a ser morta independente da populao inicial.
Processos empregando calor:
A morte se d pela oxidao de constituintes celulares e desnaturao de protenas e
cidos nuclicos. No a melhor maneira de utilizao do calor, uma vez que o ar menos
condutor da temperatura que a gua.
Calor seco
Incinerao (E): processo drstico de eliminao de microrganismos, que destri o
produto.
Ao rubro (E): processo onde os materiis so levados incadescncia, promovendo a
destruio de todos os microrganismos.
Flambagem (D): processo onde o material submetido diretamente ao fogo, seja seco
ou embebido em lcool. Bastante utilizado na desinfeco de alas de vidro.
Estufa esterilizante (E: 160C/2 hs ou 180C/1 h). Amplamente utilizado para vidrarias e
outros materiais.
Calor mido - Como mencionado anteriormente, um processo mais eficiente devido
ao maior poder de penetrao do vapor dgua. A morte decorrente da desnaturao de
cidos nuclicos e protenas, podendo tambm romper membranas. Alm disso, o vapor tem
maior capacidade de romper as pontes de hidrognio.
Autoclave (E - 121C/20 min./1 atm) - Destri esporos, em um pequeno volume, em 10
a 12 minutos. Com volumes maiores, o tempo maior (5 litros => 70 minutos). Frequentemente
so utilizados indicadores da eficincia de esterilizao, por exemplo, ampolas contendo
esporos de B. stearotermophilus ou de Clostridium PA3679, os quais so inoculados em meios
de cultura aps o processo de esterilizao. Caso haja o desenvolvimento de clulas
vegetativas, o processo no foi realizado adequadamente, uma vez que no houve a
esterilzao.
gua em ebulio (D - 100C/30 min.)
A ttulo de comparao, a eliminao de esporos de C. botulinum pela fervura, requer cerca de
5,5 horas. Por outro lado, a 120C, estes esporos so eliminados aps 4 a 5 minutos.
Pasteurizao (D - 62,8C/30 min - pasteurizao lenta, ou 71,7C/15 seg -
pasteurizao rpida)
UHT (E): 141C/2 segundos - processo bastante utilizado para o leite e outros alimentos
lquidos.
FILTRAO - Processo muito til na esterilizao de materiais termolbeis, sendo
empregado para lquidos e gases. Estes filtros so geralmente compostos por celulose,
acetato, policarbonato, teflon, ou outro material sinttico. Embora o dimetro dos poros possa
variar, os mais utilizados so aqueles de 0,2 m, que removem os microrganismos (exceto
vrus) das solues e do ar.
Dentre os principais tipos de filtros podemos citar:
Filtros de profundidade: Correspondem aos filtros mais antigos, constitudos de malha
fibrosa ou granular, base de papel, asbestos ou fibra de vidro, arranjados de forma a criar
uma srie de camadas aleatrias sobrepostas, formando pequenos canais sinuosos. Assim, os
microrganismos ficam retidos nas malhas e/ou adsorvidos superfcie do material. Estes filtros
so feitos tambm de terra de diatomceas (Berkefield) ou porcelana (Chamberlain). Na
prtica, so usados como pr-filtros, para a remoo de partculas maiores. Muitas vezes so
tambm usados na filtrao de ar.
Membranas Filtrantes: Correspondem ao tipo mais comum de filtro esterilizante, em
microbiologia. So membranas porosas de acetato de celulose, nitrocelulose ou policarbonato,
tendo espessura de 0,2 mm, contendo poros variando de 0,1 a 0,5 m de dimetro, que
ocupam cerca de 80 a 85% da membrana.
Filtros Isopore (nucleopore): Correspondem a filmes extremamente delgados de
policarbonato (10 m de espessura) que so tratados com radiao nuclear, seguida de
cauterizao (marcao) qumica. A radiao provoca danos localizados na membrana e o
tratamento qumico aumenta essas falhas, formando orifcios, cujo tamanho pode ser
controlado pela fora da soluo cauterizadora e pelo tempo de tratamento. Estes filtros
funcionam como verdadeiras peneiras, removendo todas as partculas maiores que os orifcios.
Tm, entretanto, baixa porosidade, sendo muito usados na preparao de amostras para a
microscopia de varredura, onde os organismos so retidos no filtro, sendo mantidos em um
plano uniforme, no topo do filtro.
O ar tambm pode ser filtrado, em fluxos laminares contendo filtros HEPA (High
Efficiency Particulate Air filters), que removem 99,97% de partculas de 0,3 m.

Bactrias retidas na superfcie de um filtro do tipo Isopore
(Adaptado de Prescott et al., Microbiology, 1997)
RADIAES - Ionizante e no ionizante
Radiao No-Ionizante: A radiao ultravioleta (de 4 a 400 nm - sendo 260 nm o
comprimento mais eficiente) bastante letal, mas exibe baixa penetrabilidade, no
atravessando vidros, filmes sujos e outro materiais. Assim, a radiao UV extremamente
eficiente na eliminao de microrganismos presentes em superfcies.
Como sua maior eficincia se d a 260 nm, que corresponde ao comprimento de onda
onde se d a maior absoro pelo DNA, a radiao UV afeta primariamente este tipo de
molcula. Sua ao principalmente decorrente da formao de dmeros de pirimidinas
(timina), efeito este que pode ser revertido por sistemas de fotorreativao (enzima de reparo
ativada pela luz) ou por sistema de reativao independente da luz (polimerase).
Por outro lado, no podem ser descartados outros efeitos deletrios do UV, uma vez
que quando a 340 nm, observa-se dano celular, sem estar primariamente relacionado s
mutaes, uma vez que neste comprimento de onda os cidos nuclicos no tm mais uma
grande capacidade de absorver este tipo de radiao.
Radiao Ionizante: Radiaes de pequeno comprimento de onda, portanto, de
altssima energia e penetrabilidade. Os dois principais tipos so a radiao gama e os Raios X.
Estas, so bastante eficientes, uma vez que promovem a ionizao de tomos, fazendo-os
perderem eltrons. Como consequncia so gerados radicais livres extremamente reativos,
que podem destruir pontes de hidrognio, duplas ligaes, estruturas em anel. Quando na
presena de oxignio, geram radicais hidroxila livres, absolutamente txicos para as clulas.
A radiao gama originada geralmente a partir de fontes de
60
Co ou
137
Ce.
Estas radiaes vm sendo amplamente utilizadas em produtos termolbeis, tais como
plsticos e alguns tipos de alimentos (frutas, vegetais, alimentos marinhos). Nos alimentos seu
uso interessante, uma vez que inativam enzimas autocatalticas que participam do processo
de degradao natural.
Outros agentes Fsicos de controle

Baixas temperaturas: A refrigerao ou o congelamento so amplamente utilizados no
controle microbiano de alimentos e produtos biolgicos, pois levam a uma diminuio ou
interrupo do metabolismo. Como, na maioria dos casos, os microrganismos patognicos ao
homem so mesoflicos, estas baixas temperaturas so eficientes no controle. Entretanto,
deve-se ter cuidado porque clulas de Clostridium botulinum, quando incubadas a 5C, so
ainda capazes de produzir e secretar a toxina do tipo E.
Dessecao: Liofilizao ou dessecamento natural, que atua diferentemente nos
organismos, dependendo do tipo de meio, do material dessecado e da intensidade do
processo. Via de regra, os cocos Gram negativos so mais sensveis que os Gram positivos,
sendo M. tuberculosis um dos exemplos clssicos de organismo resistente dessecao
(vrias semanas em escarro seco).
Presso osmtica: conservas com altos teores de sal ou acar.
Controle de Microrganismos por Agentes Qumicos
Durante muito tempo foram mais empregados em processos de desinfeco e anti-
sepsia, entretanto, atualmente estes vem sendo cada vez mais amplamente utilizados em
processos de esterilizao.
Cuidados prvios: lavagem adequada do material, garantia de pleno contato com o
agente.
Caractersticas de um agente qumico ideal: boa atividade antimicrobiana, toxicidade
seletiva, solubilidade, estabilidade, inocuidade, no interao com a matria orgnica,
temperatura de ao adequada, alto poder de penetrao, sem poder corrosivo ou tintorial,
desprovido de ao danosa ao meio ambiente.

Principais Tipos de Agentes Qumicos:
1) Compostos orgnicos:
Fenis e derivados (cresis (metil-fenol), xilenis): Primeiros a serem usados (Lister,
1867 - salas de cirugia). O fenol no mais usado como desinfetante ou anti-sptico devido
sua toxicidade para os tecidos. Os derivados fenlicos (hexaclorofeno, hexilresorcinol) so
empregados principalmente como anti-spticos ou desinfetantes hospitalares. Estes atuam
desnaturando protenas e rompendo membranas. So tuberculocidas, efetivos na presena de
matria orgnica, permanecem ativos por muito tempo. Entretanto tem odor desagradvel e
so irritantes para pele.
Hexaclorofeno -associao de fenol a halognio (Cl) que bastante eficaz, sendo
bastante usado em pastas dentifrcias e sabes. No passado, pesquisas indicaram que tal
composto era cumulativo e carcinognico.
lcoois: Muito usados, efetivos, confiveis e baratos, atuando como bactericidas,
fungicidas e contra vrus envelopados. Os mais usados so etanol e isopropanol, nas
concentraes entre 70 e 80%. Atuam desnaturando protenas e dissolvendo lipdeos de
membrana.
Compostos Quaternrios de Amnio: so detergentes catinicos, molculas orgnicas
derivadas de gorduras, atuando como umectantes e emulsificadores. Apenas os detergentes
catinicos so detergentes efetivos, que desnaturam protenas (Ex: cloreto de benzalcnio, que
mata a maioria das bactrias).
2) Halognios:
Iodo: anti-sptico para a pele a 2%, ou em soluo gua-etanol de iodeto de potssio,
para procedimentos pr-operatrios. Eficaz contra bactrias, fungos, vrus e protozorios
parasitas. Atua oxidando componentes celulares e iodinando protenas. Em concentraes
elevadas elimina esporos. Tem como desvantagens: danos pele, manchar e alergnico.
Iodforos: Complexao de iodo a carreador orgnico (agentes tensioativos, como a
PVP). So solveis em gua, estveis, sem propriedades tintoriais, liberando o iodo
lentamente, minimizando a irritao cutnea. Usado na assepsia pr-operatria e tambm
como desinfetante.
Cloro: Muito utilizado no tratamento de guas e nas indstrias de laticnios e alimentos.
Pode ser aplicado na forma de gs, hipoclorito de sdio ou de clcio, que geracido
hipocloroso e ento O2, promovendo a oxidao de materiais celulares e causando a morte em
cerca de 30 minutos. Eficaz contra fungos, bactrias e vrus, com a desvantagem ser descorar
alguns materiais. eficiente, barato, de fcil uso, mas altamente reativo com a matria
orgnica. Como desvantagem, o uso do cloro em guas pode produzir pequenas quantidades
de compostos organoclorados, particularmente o trihalometano (THM), um possvel agente
carcinognico. Como alternativa pode ser usada a cloramina (monocloramina), que reduz
drasticamente os nveis de THM. A monocloramina pode ser gerada diretamente na gua pela
adio simultnea de amnio e cloro ou hipoclorito.
O tratamento da gua presente nas torres de resfriamento de aparelhos ar condicionado
extremamente importante para o controle de Legionella pneumophila.

3) Metais Pesados:
Foram muito usados no passado como germicidas (prata, mercrio, zinco e cobre),
sendo atualmente substitudos por compostos menos txicos. Os mais usados so compostos
orgnicos de mercrio, prata, cobre e zinco.
Nitrato de prata: usado em soluo 1%, para prevenir a oftalmia neonatorum, sendo
substitudo em vrios hospitais pela eritromicina (que protege contra Chlamydia tambm).
Temos ainda o Mercurocromo e mertiolate, usados como como preservantes de soros e
vacinas. O sulfato de cobre usado na desinfeco de guas, especialmente contra algas.
Estes atuam combinando-se com protenas, geralmente nos grupos SH, inativando-as.

4) Outros
Perxidos: principalmente gua oxigenada, sobre organismos anaerbios, atuando pela
sua ao oxidante.
Oznio: Vem sendo empregado na desinfeco de gua, com sucesso, na Europa e
Estados Unidos. Embora seja um tratamento mais caro, tem a vantagem de no produzir
compostos organoclorados. Por outro lado, devido sua instabilidade, a gua submetida a este
tipo de tratamento est mais sujeita contaminao que quando clorada.
Corantes: dividem-se em dois grupos, acridina (que interage com o DNA) e derivados
de rosanilina (Cristal violeta, verde malaquita), que atuam inibindo G+, Candida e Trichomonas.
Tem ao aparentemente ao nvel da parede celular das bactrias.


Comparao da eficincia de diferentes anti-spticos
(Adaptado de Prescott et al., Microbiology, 1997)

Agentes Qumicos Esterilizantes:
Aldedos: Formaldedo e Glutaraldedo, molculas muito reativas, combinam-se com
protenas, inativando-as.
Formaldedo 8% dissolvido em gua ou lcool (irritante e deixa resduos) e glutaraldedo
2% (menos irritante). Em 12 horas, destroem esporos.
Gases esterilizantes: xido de etileno, atua pela interao com protenas, com alta
capacidade de penetrao. Como explosivo, dissolvido em misturas de 10 a 20% com CO
2

ou freon. Importante a presena de umidade no ambiente e tambm temperatura.
Condies: 38C/5-8 hs ou 54C/3-4 hs, com 50% de umidade e EtO de 400 a 800
mg/litro.
Betapropiolactona: eventualmente usado. No penetra to bem e pode ser
carcinognico. Atua em concentraes muito menores que o EtO.
Abaixo temos uma tabela, listando alguns dos principais agentes qumicos utilizados no
controle microbiano.

Antibiticos e Quimioterpicos
Introduo
Os antibiticos so produtos de enorme importncia no apenas na rea de sade,
como tambm na economia, visto que apenas nos Estados Unidos, cerca de 100.000 toneladas
so produzidas anualmente. Embora aproximadamente 8000 substncias com atividade
antimicrobiana sejam conhecidas e, a cada ano, centenas de novas substncias sejam
descobertas, pouqussimas so efetivamente aproveitadas e utilizadas como agentes
antimicrobianos, visto que muitas destas no atendem aos requisitos mnimos para seu
emprego teraputico. Paralelamente, no podemos deixar de mencionar o crescente problema
em relao ao surgimento de espcies bacterianas resistentes aos diferentes antibiticos. Este
talvez corresponda ao principal desafio dos pesquisadores, visto que a multirresistncia vem se
tornando diariamente mais disseminada nas populaes microbianas, sejam patognicas ou
no.
Mais recentemente, outro aspecto que vem sendo cada vez mais levado em
considerao refere-se ocorrncia dos biofilmes e sua importncia na teraputica
antimicrobiana, pois o conhecimento sobre a ocorrncia de biofilmes microbianos em nosso
organismo levou a uma quebra do paradigma de tratamento das doenas infecciosas.
Certamente, para que os antibiticos possam ser empregados de forma mais eficaz, ser
necessrio um maior conhecimento acerca dos biofilmes formados naturalmente em nosso
organismo. Pois, somente a partir da elucidao da ecologia dos biofilmes naturais do homem,
teremos maiores chances de tratar de forma adequada as vrias doenas infecciosas.

Conceitos
Agente Antimicrobiano: Composto qumico que mata ou inibe o crescimento de
microrganismos, podendo ser natural ou sinttico.
Agentes Quimioterpicos (Antimicrbicos): Agentes qumicos, naturais ou sintticos,
usados no tratamento de doenas. Atuam matando ou inibindo o desenvolvimento dos
microrganismos, em concentraes baixas o suficiente para evitar efeitos danosos ao paciente.
Antibiticos: Grupo de agentes quimioterpicos (maioria), que constituem-se em
produtos microbianos ou derivados. So produtos do metabolismo secundrio (quando a clula
entra em fase estacionria), no essenciais para o crescimento ou reproduo, sendo sua
sntese dependente da composio do meio (podem ser super produzidos). So geralmente
compostos complexos, cuja sntese envolve vrias etapas enzimticas, sendo as enzimas
reguladas separadamente das do metabolismo primrio. Via de regra, a produo de
antibiticos est associada ao fenmeno de quorum sensing.
Quimioterpico: Agente qumico sinttico, exibindo as mesmas atividades de um
antibitico.

Histrico dos antibiticos e descobertas relacionadas
Paul Ehrlich (1854 - 1915): Desenvolveu o conceito de toxicidade seletiva, indicando
que determinado agente exibia uma ao danosa aos microrganismos, sem afetar as clulas
do hospedeiro. Tal conceito tem importante reflexo prtico, pois indica se um agente pode,
teoricamente, ser til no tratamento de doenas infecciosas. Este pesquisador trabalhava com
corantes e tcnicas de colorao de microrganismos, quando verificou que alguns compostos
coravam os microrganismos, mas no os tecidos animais. Esperava encontrar um corante
txico aos microrganismos ("bala mgica").
1904 - Uso prtico do vermelho de tripan, composto ativo contra o tripanossoma que
causava a doena africana do sono.
Ehrlich & Hata: realizao de testes com compostos arsenicais, em coelhos com sfilis.
Descobriram que o composto 606, arsfenamida, era ativo => Em 1910, foi lanado o
medicamento Salvarsan (nome comercial da arsfenamida), para o tratamento da sfilis.
1927 - Na I. G. Farbenindustrie (Bayer) - G. Domagk: testava corantes e outros
compostos qumicos, quanto ao em microrganismos e toxicidade em animais.
1935 - Vermelho Prontosil: incuo para animais, protegendo camundongos contra
estafilococos e estreptococos patognicos. Neste mesmo ano, foi descoberto que o prontosil
era clivado no organismo, originando a sulfanilamida como um dos produtos. Na realidade, a
droga eficaz era a sulfanilamida.
1939 - Nobel para Domagk
1896 - E. Duchesne: descobriu a penicilina, mas raramente tal pesquisador citado,
pois seus achados nunca foram devidamente publicados ou notificados, sendo esquecids
durante vrios anos.
A. Fleming: Busca de um tratamento eficaz para os feridos na II Guerra Mundial. Foi o
"segundo" descobridor da penicilina e tentou, sem sucesso, purific-la em quantidades
suficientes para ser utilizada como medicamento.
1939 - H. Florey & E. Chain - testavam atividade bactericida de vrias substncias
(lisozima, sulfonamidas). Obtiveram a cultura de fungo isolada inicialmente por Fleming,
passando a trabalhar na purificao da penicilina. Injetarama penicilina em camundongos
infectados com estafilococos ou estreptococos e observaram que quase todos sobreviveram.
(Trabalho publicado em 1940).
1945 - Nobel para Florey, Chain e Fleming
1944 - S. Waksman: descobrimento da estreptomicina (Streptomyces griseus), a partir
do teste de cerca de 10.000 linhagens de bactrias e fungos do solo.
1952 - Nobel para Waksman.
At 1953 - Isolamento de microrganismos produtores de cloranfenicol, neomicina,
terramicina e tetraciclina.
A partir de 1953 - a indstria investiu centenas de milhares de dlares na busca de
novas drogas antimicrobianas, sendo que tal linha de pesquisa perdura at hoje em todo o
mundo, empregando diversos tipos de abordagens.

Caractersticas gerais das drogas antimicrobianas

Toxicidade Seletiva: caracterstica que todo antimicrobiano deveria apresentar, pois
reflete-se na capacidade de atuar seleivamente sobre o microrganismo, sem provocar danos ao
hospedeiro.
Esta expressa em termos do ndice teraputico: relao B/A, onde
A) Dose teraputica: concentrao p/ tratamento
B) Dose txica: concentrao a partir da qual txica
Drogas que atuem sobre funes microbianas inexistentes em eucariotos geralmente tem
maior toxicidade seletiva e ndice teraputico (Penicilina).
Espectro de ao: Refere-se diversidade de organismos afetados pelo agente.
Geralmente os antimicrobianos so de pequeno ou de amplo espectro. Atualmente, uma srie
de laboratrios vem trabalhando em busca de isolar e purificar antimicrobianos de espectro
restrito, que atuam especificamente sobre um ou um pequeno nmero de microrganismos. No
entanto, atualmente os antibiticos comercializados enquadram-se nas categorias de pequeno
e amplo espectro de ao.

Exemplos de diferentes drogas antimicrobianas, classificadas de acordo com o espectro de ao.
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)


Quanto sntese: Microbiana, qumica ou semi-sinttica
Microbiana - geralmente por uma ou poucas bactrias (actinomicetos) e vrios tipos de fungos
filamentosos. Geralmente correspondem a produtos do metabolismo secundrio.
Qumica - Sulfonamidas, Trimetoprim, Cloranfenicol, Isoniazida alm de outros antivirais
e antiprotozorios.
Semi-sintticos - so antibiticos naturais, modificados pela adio de grupamentos
qumicos, tornando-os menos suscetveis inativao pelos microrganismos (ampicilina,
carbencilina, meticilina).

Quanto ao: "stticos" ou "cidas"
Os "cidas" podem ser "stticos" dependendo da concentrao, ou do tipo de organismo.
Os "staticos" tem sua ao vinculada resistncia do hospedeiro.

CMI e CML: 2 parmetros que indicam a eficincia da droga.
A droga "cida" geralmente elimina o agente em concentraes de 2 a 4 vezes maior que
a "sttica", sendo o inverso falso.
Atingir concentraes efetivas nos tecidos e entrar em contato com o microrganismo.
No alterar os mecanismos naturais de defesa do hospedeiro.

Mecanismos de ao dos antimicrobianos
Vrios so os possveis alvos para os agentes antimicrobianos. O conhecimento dos
mecanismos de ao destes agentes permite entender sua natureza e o grau de toxicidade
seletiva de cada droga.

Exemplos das principais estruturas ou etapas metablicas afetadas por antibiticos
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)
1) Inibio da sntese da Parede Celular: estes agentes antimicrobianos
correspondem aos mais seletivos, apresentando um elevado ndice teraputico.
penicilinas, ampicilina e cefalosporinas: contm em sua estrutura um anel b-lactmico, que
interage com protenas denominadas PBPs (Penicillin Binding Protein), inibindo a enzima
envolvida na transpeptidao, responsvel pela ligao entre as cadeias de tetrapeptdeos do
peptideoglicano. Com isso, h o impedimento da formao das ligaes entre os tetrapeptdeos
de cadeias adjacentes de peptideoglicano, ocasionando uma perda na rigidez da parede
celular. Acredita-se tambm que tais drogas podem atuar promovendo a ativao de enzimas
autolticas, resultando na degradao da parede.

Mecanismo de ao dos antibiticos b-lactmicos
(Adaptado de Atlas, R.M., Principles of Microbiology, 1997)

bacitracina: Interfere com a ao do carreador lipdico que transporta os precursores da
parede pela mebrana. Resulta na no formao das ligaes entre o NAM e NAG.
vancomicina: liga-se diretamente poro tetrapeptdica do peptideoglicano. ainda a
droga de escolha para linhagens resistentes de S. aureus.
2) Ligao Membrana Citoplasmtica: so agentes antimicrobianos que muitas
vezes exibem menor grau de toxicidade seletiva.
polimixinas: Ligam-se membrana, entre os fosfolipdeos, alterando sua permeabilidade
(detergentes). So extremamente eficientes contra Gram negativos, pois afetam tanto a
membrana citoplasmtica como a membrana externa.
Ionforos: Molculas hidrofbicas que se imiscuem na Membrana citoplasmtica, permitindo a
difuso passiva de compostos ionizados para dentro ou fora da clula.

Exemplo de um antibitico que atua como ionforo
(Adaptado de Atlas, R.M., Principles of Microbiology, 1997)


3) Inibio da sntese de cidos nuclicos: seletividade varivel.
Novobiocina: se liga a DNA girase, afetando o desenovelamento do DNA, impedindo
sua replicao.
quinolonas: Inibem a DNA girase, afetando a replicao, transcrio e reparo.
Rifampicina: Ligao RNA polimerase DNA-dependente, bloqueando a transcrio.

4) Inibio da traduo: So geralmente bastante seletivos. Correspondem a um dos
principais grupos de agentes antimicrobianos, uma vez que a sntese protica corresponde a
processo altamente complexo, envolvend vrias etapas e diversas molculas e estruturas.

Diferentes etapas da traduo que podem ser afetadas por agentes antimicrobianos
(Adaptado de Atlas, R.M., Principles of Microbiology, 1997)

estreptomicina e gentamicina: Liga-se subunidade ribossomal 30S, bloqueando-a e
promovendo erros na leitura do mRNA. Interferem com a formao do complexo de iniciao.
tetraciclina: Liga-se subunidade ribossomal 30S (stio A), impedindo a ligao do
aminoacil-tRNA.
cloranfenicol: Liga-se subunidade ribossomal 50S e inibe a ligao do tRNA e da
peptidil transferase, inibindo a elongao.
eritromicina: Liga-se subunidade ribossomal 50S e inibe a elongao.

Exemplos de drogas que interferem com a sntese protica
(Adaptado de Atlas, R.M., Principles of Microbiology, 1997)

5) Antagonismo metablico: geralmente ocorre por um mecanismo deinibio
competitiva.
Sulfas e derivados: inibio da sntese do cido flico, pela competio com o PABA.
Trimetoprim: bloqueio da sntese do tetrahidrofolato, inibindo a dihidrofolato redutase.

Similaridade estrutural entre a sulfanilamida e o PABA (importante precursor da sntese de purinas)
(Adaptado de Atlas, R.M., Principles of Microbiology, 1997)

Isoniazida: afeta o metabolismo do NAD ou piridoxal, inibe a sntese do cido miclico -
"fator corda".
Resistncia microbiana
Este tema tornou-se um motivo de preocupao crescente entre os profissionais da
rea de sade, pois a cada ano observamos o aumento de linhagens resistentes aos mais
diversos agentes antimicrobianos.

Proporo de bactrias fecais, isoladas de
indivduos normais, resistentes aos diferentes
antibiticos.

Aumento na proporo de linhagens de N.
gonorrhoaea resistentes penicilina.
(Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003)
A resistncia microbiana aos antimicrobianos pode ser de dois tipos:
Natural: ausncia da estrutura, ou via metablica alvo.

Adquirida: Atravs de mutaes espontneas e seleo, ou por recombinao aps
transferncia de genes.
Dentre os principais mecanismos de resistncia podemos citar:
Impermeabilidade droga: Muitas bactrias Gram negativas so resistentes penicilina G por
serem impermeveis droga, ou por apresentarem alteraes em protenas de ligao
penicilina. No caso das sulfonamidas, o microrganismo pode tambm apresentar uma menor
permeabilidade droga.
Inativao: muitas drogas so inativadas por enzimas codificadas pelos microrganismos. Por
exemplo, a penicilinase (b-lactamase) uma enzima que cliva o anel b-lactmico inativando a
droga. Outras drogas podem ser inativadas em decorrncia de modificaes introduzidas pelo
microrganismo, tais como a adio de grupamentos qumicos. Assim, muitos microrganismos
so capazes de promover a fosforilao ou acetilao de antibiticos.
Modificao de enzima ou estrutura alvo: Por exemplo, alteraes na molcula do rRNA 23S
(no caso de resistncia eritromicina e cloranfenicol), alterao da enzima, no caso de drogas
que atuam no metabolismo, ou uso de vias metablicas alternativas.
Bombeamento para o meio: Efluxo da droga - No caso da resistncia s tetraciclinas, em
bactrias entricas.

Processos de transferncia de genes entre bactrias
Introduo
Sabemos que, embora as mutaes sejam responsveis pela expresso de vrias
novas caractersticas por uma clula, muitos dos fentipos expressos pelos microrganismos
procariticos so decorrentes da aquisio de novos fragmentos de DNA, por meio de
processos de transferncia horizontal de genes. Trs processos de transferncia gentica entre
bactrias so bastante conhecidos: transformao, conjugao e transduo. H ainda um
quarto processo, a converso lisognica, que envolve a transferncia de DNA de uma partcula
viral para uma bactria, sendo um evento importante na aquisio de genes muitas vezes
associados virulncia.
Transformao - definida como um processo de incorporao de DNA na forma livre,
geralmente decorrente da lise celular. A partir de seu descobrimento, foi demonstrado
formalmente que o DNA era a molcula envolvida na hereditariedade (experimentos iniciados
por F. Griffith, 1928).
Vrias bactrias Gram positivas e negativas so naturalmente transformveis,
entretanto, dentro de um gnero, nem todas as espcies o so. Na natureza, o processo ocorre
quando uma clula sofre lise, liberando seu DNA. Este, por ser de grande tamanho tende a
sofrer quebras, originando centenas fragmentos de aproximadamente 15 kb (o equivalente a
cerca de 15 genes, em Bacillus subtilis).
Como uma clula absorve poucos fragmentos, apenas uma pequena proporo de
genes podem ser transferidos.
Inicialmente, para que o processo ocorra, necessrio que a cl. encontre-se
competente, isto , deve apresentar stios de superfcie para a ligao do DNA da clula
doadora e apresentar a membrana em uma condio que permita a passagem deste DNA.
Esta propriedade , provavelmente, uma caracterstica inerente de certas linhagens e, ao que
parece, envolve o mecanismo de quorum sensing. O estabelecimento da competncia um
fenmeno controlado, envolvendo a participao de diferentes protenas (protena de ligao
ao DNA, presente na membrana, autolisinas, nucleases), sendo um processo varivel entre os
microrganismos.
Aparentemente, o nmero de stios disponveis para a ligao do DNA limitado. Esta
captao parece estar relacionada a uma pequena sequncia, de 10 a 12 pares de bases,
presente no DNA exgeno. Em Haemophilus, foi demostrada a presena de uma protena que
reconhece e liga-se a uma sequncia 5 - AAGTGGGTCA - 3, muito comum no genoma deste
microrganismo, garantindo que somente ocorrer a captao de DNA de espcies muito
similares.
A competncia um processo que depende de vrias condies distintas nos diferentes
microrganismos. Sabe-se que a fase de crescimento e as condies ambientais desempenham
um papel de extrema importncia no processo. Alm destes, a temperatura e a concentrao
de ctions tambm influenciam a eficincia do processo.
A captao do DNA tambm diferente entre Gram positivos (G+) e Gram negativos
(G-): Nas G+ o DNA captado como dupla hlice e absorvido como fita simples, sendo uma
das fitas degradadas. Nas G-, o DNA absorvido como fita dupla, embora apenas uma das
fitas participe do processo de recombinao. Independente do tipo celular, a ligao do DNA
clula mais eficiente quando est como fita dupla.
Ligao do DNA: inicialmente reversvel, tornando-se irreversvel depois. As clulas
competententes ligam o DNA com muito mais eficincia que clulas no competentes (1000
vezes mais). Streptococcus pneumoniae capaz de ligar apenas cerca de 10 molculas de
DNA de dupla fita, de 15 a 20 kb. Quando so absorvidas, como DNA de fita simples, estas
passam para cerca de 8 kb.
Em Haemophilus influenzae, necessrio que o DNA tenha uma sequncia especfica
de 11 pb, para que haja a ligao irreversvel e o DNA seja captado.
Integrao do DNA: O DNA liga-se a protenas na superfcie celular, sendo em seguida
absorvido ou tendo uma de suas fitas degradadas por nucleases antes da absoro. medida
que o DNA absorvido no interior da clula, este se associa a protenas de ligao ao DNA de
fita simples, protegendo-o de degradao. A protena RecA tambm participa deste processo,
associando-se fita e promovendo a recombinao. H ento a degradao do que resta da
fita simples e formao de um DNA hbrido, que na replicao originar uma molcula parental
e outra recombinante.


Esquema dos eventos envolvidos na transformao em Streptococcus, um
organismo Gram positivo. O autoindutor (1) ao encontrar o receptor (2) interage com este,
promovendo a ativao de vrios genes (3, 4 e 5) dentre eles as autolisinas, nucleases e
protena de ligao ao DNA. Uma das fitas do DNA passa a ser captada pela clula, enquanto
a outra degradada (6). Ao penetrar na clula a fita simples protegida por protenas. Caso
este DNa encontre uma regio complementar, a protena RecA auxiliar sua recombinao
com o DNA endgeno (7).
Conjugao - Processo de transferncia de DNA de uma bactria para outra,
envolvendo o contato entre as duas clulas (descoberta por Tatum & Lederberg, 1946). A
conjugao est associada presena de plasmdeos de natureza F. Estes plasmdeos contm
genes que permitem a transferncia do DNA plasmidial de uma clula para outra ou, em outras
palavras, a capacidade conjugativa. Quando a clula porta um plasmdeo de natureza F
denominada F+, doadora, ou macho, enquanto clulas desprovidas de tais plasmdeos so
denominadas F-, receptoras, ou fmeas.
A capacidade conjugativa est associada presena de determinados genes
localizados em um operon denominado tra. Estes genes conferem uma srie de caractersticas
envolvidas na conjugao tais como a sntese do pilus F, responsvel pelo reconhecimento e
contato entre as clulas, assim como a transferncia do DNA plasmidial.
Eventualmente, os plasmdeos podem ser integrados no cromossomo, sendo este
processo mediado por pequenas seqncias de DNA denominadas IS (insertion sequences).
As clulas apresentados tais plasmdeos integrados so denominadas Hfr (do ingls High
Frequency of Recombination). Quando integrados, esses plasmdeos podem mobilizar a
transferncia de genes cromossomais tambm.



Exemplo de um plasmdeo do tipo F

Em gram negativos, a conjugao pode ser de dois tipos: entre clulas F+ e F-,
resultando em duas clulas F+ e entre clulas Hfr e F-, resultando em uma clula Hfr e outra F-
. Nos dois processos, acredita-se que o mecanismo provvel de transferncia do DNA seja pelo
crculo rolante, onde apenas uma das fitas transferida, sendo a fita complementar sintetizada
pela clula receptora. Provavelmente, o estmulo para o disparo do processo seja o contato das
clulas. Assim, a conjugao envolve a passagem de DNA de uma clula F
+
para outra F
-
, que
torna-se ento F
+
tambm.
Quando o plasmdeo encontra-se incorporado ao cromosso, a conjugao passa a
envolver a transferncia de genes cromossomais, sendo que nestes casos, a clula receptora
permanece F
-
, porque a regio tra a ltima a ser transferida, o que raramente ocorre na
natureza. Nestes casos, passam grandes blocos de DNA da clula Hfr para a receptora,
promovendo extensas recombinaes.
(a)
(b)
(c)

(d)

Esquema dos eventos associados conjugao entre clulas F+ e F-.






Eventos associados conjugao entre uma
clula Hfr e outra F-. Observe que a clula F- permanece
como receptora, uma vez que a regio tra normalmente
no transferida.
Transduo: (Lederberg & Zinder, 1952) transferncia mediada por vrus, podendo ser
generalizada (qualquer fragmento de DNA) ou especializada (determinados genes, passados
por fagos temperados).
Transduo generalizada: Descoberta em Salmonella typhimurium com o fago P22,
embora este processo tambm ocorra em outras bactrias, tais como E. coli. Este tipo de
processo requer a ocorrncia de um ciclo ltico, onde eventualmente pode haver o
empacotamento de fragmentos de DNA da clula hospedeira, gerando partculas denominadas
partculas transdutoras, que correspondem ao capsdeo viral contendo em seu interior DNA
bacteriano. Embora no possam ser descritas como vrus, as partculas transdutoras exibem a
capacidade de adsoro superfcie de outras clulas bacterianas. A frequncia com que um
determinado gene transferido baixa uma vez que cada partcula transdutora leva apenas
um determinado fragmento de DNA (1 em 10
6
ou 10
8
cl. recebem um determinado gene).




Transduo generalizada: durante um ciclo ltico, pode haver a incorporao de DNA
bacteriano no capsdeo viral. Este DNA poder ser transferido para outra bactria, pois os
processos de adsoro e injeo de DNA dependem da estrutura do vrus, independente do
tipo de DNA contido em seu interior.
Transduo especializada: Evento raro, embora bastante eficiente. O exemplo melhor
conhecido e primeiramente descoberto foi a transferncia de um genes que codificam produtos
envolvidos na degradao de galactose pelo fago l de E. coli.
A etapa inicial no processo corresponde infeco e lisogenizao do fago, que ocorre em
stios especficos do genoma. Neste caso, a integrao do fago ocorre adjacente ao conjunto
de genes envolvidos na utilizao de galactose. Pela ao de algum indutor (ex: UV) h a
separao do fago do genoma (integrao reversa), que normalmente ocorre perfeitamente.
Entretanto, em alguns casos, essa separao defeituosa, promovendo a remoo de genes
bacterianos e deixando parte do genoma viral na clula. Essas partculas podem ser de dois
tipos: aquelas que carregam genes gal e outras que carregam genes bio. Aquelas partculas
levando genes gal so denominadas ldgal (defectivas, contendo o gene gal), porque so
incapazes de formar partculas virais maduras (porque deixam no hospedeiro o gene que
codifica a protena integrase). Quando estas partculas infectam novas clulas, juntamente com
fagos normais (helper), pode haver a transferncia de genes gal, a partir da infeco e
lisogenizao dos dois fagos.






Transduo especializada: este processo dependente da ocorrncia de um ciclo
lisognico. O fago integra seu DNA ao DNA bacteriano e aps um determinado perodo de
tempo e de acordo com certos estmulos, este fago pode iniciar um ciclo ltico. Caso a exciso
do DNA viral ocorra de maneira defeituosa, poder haver a transferncia de um pequeno
fragmento de DNA bacteriano (porque parte do DNA viral ficar incorporado ao genoma
bacteriano). Este vrus "defeituoso" poder transferir o DNA bacteriano para outras clulas.
Converso lisognica: Transferncia de genes de fagos para bactrias. A prpria
lisogenizao torna a bactria imune a outras infeces por este fago, mas alm disso, outros
fentipos podem ser adquiridos. O exemplo mais clssico consiste na converso de clulas
atoxignicas de Corynebacterium diphtheriae em toxignicas, pelo fago . Assim, a bactria
recebe um gene que codifica uma toxina, sendo este gene de origem viral.

Você também pode gostar