Deficincia Auditiva

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Deficiência auditiva

Aula

7
Apresentação

N
esta aula, você aprenderá sobre os diferentes espectros da audição e a
identificar as causas da surdez. Saberá a estimativa de deficientes auditi-
vos no mundo e quantos, no Brasil, estão incluídos nas escolas. Faremos,
em seguida, um passeio pela história da educação do surdo, transitando pelas
instituições segregadas e chegando às escolas inclusivas. Nessa trajetória, você
conhecerá as distintas filosofias que inspiraram os métodos de ensino adotados
na educação do surdo no decorrer dos tempos. Reconhecerá os vestígios dessas
abordagens nas práticas pedagógicas e políticas educacionais vigentes. Por fim,
finalizaremos a nossa narrativa falando do aluno surdo inserido em uma escola
regular, procurando saber quais os desafios enfrentados por ele e, além disso,
como viabilizar sua aprendizagem.
Boa aula!

Objetivos
1 Conceituar deficiência auditiva.

Identificar as causas e prevalência da deficiência


2
auditiva.

Descrever a trajetória educacional das pessoas


3 com deficiência auditiva no decorrer da história.

Identificar as principais características do oralis-


4 mo, bilinguismo e comunicação total.

Identificar recursos e estratégias pedagógicas que


5 viabilizam a aprendizagem de alunos com defi-
ciência auditiva na sala de aula regular.

Aula 7 Educação Inclusiva 135


Conhecendo a deficiência auditiva

P
odemos definir deficiência auditiva como a diminuição da percepção nor- Deficiência auditiva
mal dos sons. Assim como estudamos na cegueira, a capacidade de ouvir Neste texto, utilizaremos a pa-
lavra surdez como sinônimo de
deve ser compreendida dentro de um continuum no qual em um extremo
deficiência auditiva.
estaria a audição normal e em outro a incapacidade de perceber os sons. Dessa
forma, deficiência auditiva é classificada em cinco tipos, desde a surdez leve até
a surdez profunda, conforme indicado na Figura 1.

Figura 1 – Espectros da audição

O nível de perda auditiva é baseado em uma unidade de medida denomina-


da de decibéis (dB), que indica a intensidade e volume de sons (DIAS; SILVA;
BRAUN, 2007). O Quadro 1 a seguir dá uma ideia do que isso significa.

Decibéis Exemplos
20 Cochico
40 Fala suave
60 Conversa normal
80 Trânsito ruidoso
100 Escavadeira

Quadro 1 – Exemplos de intensidade/volume do som, considerando a frequência de decibéis

Aula 7 Educação Inclusiva 137


O conceito de decibéis ajuda-nos a compreender o espectro da audição, desde
a audição normal até a surdez profunda, conforme descrito no Quadro 2.

Classificação Percepção de som (decibéis)


Audição normal 0-15 db
Leve 16 – 40 dB

Moderada 41- 55 dB

Surdez Acentuada 56-70 db

Severa 71-90 db

Profunda + 90 db

Quadro 2 – Classificação da capacidade auditiva

Assim, uma pessoa incapaz de ouvir o som de um cochicho (aproximada-


mente 20 db) pode apresentar uma surdez leve. Aquele que não percebe o som
das buzinas em um ruidoso trânsito (aproximadamente 80 db), possivelmente
evidencia uma deficiência auditiva severa.
A criança pode nascer surda ou desenvolver a surdez posteriormente. As cau-
sas são diversas, abrangendo desde anomalias genéticas até acidentes e traumas
físicos. Algumas condições que podem levar à perda auditiva estão assinaladas
no Quadro 3.

Causas pré-natais Causas pós-natais

n Anóxia (falta de oxigenação no cérebro


n Fatores genéticos
logo após o nascimento)
n Doenças da mãe (rubéola, toxoplasmose)
n Trauma de parto (ex. inadequando de
fórceps ao nascimento)
n Uso de drogas pela mãe
n Doenças: meningite, rubéola
n Uso de medicamentos (pela mãe) que
podem afetar a audição do feto
n Acidentes

Quadro 3 – Etiologia da surdez

Fonte: adaptado de Silva (2011, p. 11).

138 Aula 7 Educação Inclusiva


Deficiência auditiva em números
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que a deficiência auditiva
afeta, aproximadamente, 10% da população mundial. De acordo com o Censo
de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 9,7 milhões de
brasileiros apresentam algum nível de deficiência auditiva. O Censo Escolar de
2009 indica que mais de 40 mil alunos com algum tipo de deficiência auditiva
estão matriculados em escolas regulares.

Atividade 1

Você viu que o número de pessoas com deficiência auditiva no país


é expressivo. A inserção de alunos surdos em salas de aula regulares
é cada vez maior. Que tal conhecer o que esses alunos sentem em um
mundo predominantemente ouvinte? Vamos fazer isso através de um
experimento. Gostaria que você, inicialmente, selecionasse um programa
de televisão que tipicamente assiste. Isso pode ser o noticiário ou uma
novela. Depois de selecionado, ligue a TV e assista ao programa por 20
minutos, com o som desligado. Agora responda as questões a seguir.

1 Como você se sentiu?

2 Que recursos utilizou para compreender as cenas?

Se você tentou ler os lábios das pessoas na televisão, reflita


3 sobre a seguinte afirmativa: “Menos de 50% dos sons da
fala podem ser observados e entendidos quando se lê os
lábios” (NOGUEIRA, 1994 apud GOLDBERG, 2002, p. 39).

E você? Qual o percentual de informações que você acha


4 que captou?

Aula 7 Educação Inclusiva 139


A educação dos surdos
no decorrer da história
Bom, agora chegou a hora de passearmos pela história! Vamos conhecer, nas
páginas seguintes, como a percepção/educação do surdo foi modificada no decorrer
dos tempos. Iniciaremos pela Idade Antiga e chegaremos à Contemporaneidade.

Da Antiguidade à Idade Média


Na Idade Antiga, Aristóteles preconizava que a pessoa surda, por não compre-
ender ou utilizar a linguagem oral, era incapaz de raciocinar. Assim, impossibili-
tada de absorver qualquer tipo de conhecimento, não poderia trazer benefícios à
sociedade. Para o bem da coletividade grega, que tanto valor atribuía à perfeição
da mente e do corpo, era proposto, nesse contexto, que os surdos fossem extir-
pados do meio social.
Durante a Idade Média, sob a influência da Igreja Católica, o deficiente au-
ditivo (na época, denominado de surdo-mudo) passa a ser compreendido como
um “instrumento de Deus”. Nessa perspectiva, deveria ser “cuidado”, uma vez
que desempenhava o papel de “alertar os homens, para agraciar as pessoas com
a possibilidade de fazerem caridade” (BIANCHETTI, 1998 apud CARVALHO-
-FREITAS, 2007, p. 49). Embora digno de compaixão, era ainda considerado
uma pessoa incapaz, permanecendo apartado de direitos, como a herança, o
casamento e a educação.

Da Modernidade à Contemporaneidade
Na Idade Moderna, os avanços da Medicina desmantelaram o postulado de
Aristóteles sobre a incapacidade intelectual do surdo e sobre sua impossibili-
dade de adquirir a fala. Pela primeira vez, a surdez foi desvinculada da mudez.
Nesse momento histórico, deixam de ser chamados de surdos-mudos e ganham
o direito à educação.
Registros indicam que o primeiro professor de surdos foi Ponce de León
(1520-1584), que você conheceu em nossa segunda aula. Está lembrado? Pois
bem, Ponce desenvolveu, na Espanha, um método educacional próprio. Os escas-
sos relatos disponíveis sugerem que esse educador, inicialmente, ensinava seus
alunos a escrever; depois a apontar para os objetos correspondentes à escrita
e, finalmente, verbalizar as palavras (WINZER, 2002). Depois de Ponce, outros
mentores entraram em cena, como Ivan Pablo Bonet (1579-1633), na Espanha;
John Wallis (1618 – 1687), na Inglaterra; Charles Michel de L’Épée (1712 – 1789),
na França; e Samuel Heinicke (1723 –1790), na Alemanha.

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Embora alguns desses professores fossem contemporâneos, divergiam quan-
to aos métodos empregados para educar o surdo. Duas abordagens mereceram
destaque na época: o gestualismo e o oralismo.
O principal defensor da abordagem gestualista foi o abade Michel de L’Epée,
responsável por fundar a primeira escola de surdos na França. L’Epée argumen-
tava que o uso da língua de sinais na/pela escola poderia oferecer o principal
meio de acesso à escrita e à leitura (do francês) pelo surdo (SOUZA, 2003). Oralismo
Criou, nesse contexto, os sinais metódicos, um sistema gestual artificial que Na atualidade, o oralismo é
descrito como uma abordagem
mesclava elementos da língua de sinais francesa, que havia aprendido com os
clínico-educacional que visa,
surdos parisienses, com outros sinais inventados por ele (SOUZA, 2003). Os através do desenvolvimento da
educadores, em sua perspectiva, deveriam aprender esses sinais para poder se linguagem oral, integrar o surdo
comunicar com os surdos. Para L’Epée, além de um veículo de comunicação, a na sociedade ouvinte. Nessa
perspectiva, a surdez é compre-
língua de sinais, enquanto língua natural do surdo, favorecia o desenvolvimento
endida como uma deficiência
do pensamento (WINZER, 2002). que deve ser minimizada pela
Samuel Heinicke, contemporâneo de L´Epée, acreditava que o pensamento estimulação auditiva (GOL-
ocorria por meio de palavras e, para poder compreendê-las, era preciso saber DFELD, 2002, p. 34).

articulá-las oralmente (WINZER, 2002). Assim, em oposição ao gestualismo,


defendia uma abordagem intitulada de oralismo. Os surdos, em sua perspectiva,
deveriam ser ensinados a falar e a compreender a língua falada. Para disseminar Língua de sinais
o oralismo, fundou, na Alemanha, a primeira escola oral de surdos. Pouco é Língua produzida por movi-
mentos das mãos, do corpo e
conhecido sobre a metodologia adotada por Heinicke (WINZER, 2002), mas a
expressões faciais, tendo uma
concepção oralista teve forte impacto, influenciando até hoje a história da edu- estrutura linguística completa,
cação do surdo no Brasil e no mundo. como qualquer outra língua. O
Bom, vamos fazer uma pausa e falar um pouco do que estava ocorrendo interlocutor “recebe” a sinaliza-
ção pela visão e, por isso, essa
no Brasil?
língua é denominada de viso-
O marco inicial da educação do surdo em nosso país teve início em 1856, -espacial. É importante salientar
com a fundação do Imperial Instituto de Surdos-Mudos no Rio de Janeiro. Esse que cada país tem sua própria
instituto, hoje denominado Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), língua de sinais. No Brasil temos
a Língua Brasileira de Sinais
foi criado por iniciativa de Ernet Huet, um dos discípulos de L´Epée. Além de
(Libras) usada nacionalmente
disciplinas acadêmicas, a instituição oferecia oficinas de sapataria, alfaiataria, e a Língua de Sinais Kaapor
gráfica, marcenaria, dentre outras. Com o apoio de D. Pedro II, aproximadamente Brasileira, uma das línguas de
100 alunos, entre 9 e 14 anos, recebiam atendimento (SOARES, 2004). O uso da uma comunidade indígena da
Amazônia (Silva, 2011). A Libras
língua de sinais na instituição prevaleceu até 1911, quando a abordagem oralista
é estruturalmente distinta
ganhou maior evidência no Brasil e os surdos passaram a ser ensinados por meio do português
da linguagem oral (GOLDFELD, 2002).

Curiosidade

Quer saber mais sobre a história do INES e alguns recursos usados


para pessoas com deficiência auditiva? Visite a página www.ines.gov.

Aula 7 Educação Inclusiva 141


A Contemporaneidade
Prosseguiremos com nossa história. Com a revolução Francesa e a Revolução
Industrial, no final do século XIX, a Europa passa por grandes transformações
sociais, políticas e econômicas. A propagação dos ideais de “liberdade, igualda-
de e fraternidade” faz emergir um clima de conscientização acerca dos direitos
humanos. A ávida busca por mão de obra qualificada faz proliferar as escolas e,
com elas, as instituições especializadas na educação de surdos. Nesses educan-
dários, a disputa entre as filosofias gestualistas e oralistas, iniciada no final do
século XVIII, ganha maior evidência.
A vitória do oralismo é consolidada em 1880 durante o II Congresso Interna-
cional sobre a Instrução de Surdos, realizado na Itália. Com maior representativi-
dade de oralistas no evento, foi acordado que o método oral puro ou oralismo
seria mais eficaz do que o uso dos sinais manuais, combinado ou não com a fala
(SOARES, 2005). As resoluções do congresso fortemente influenciaram a Europa
e os países da América Latina nos anos subsequentes.
Assim, durante o século XIX, o gestualismo foi praticamente abolido em
várias regiões do mundo, onde prevaleceu o oralismo. O uso do Método Oral
Puro, no entanto, produziu poucos resultados satisfatórios. Como argumenta
Lacerda (2000)

A maior parte dos surdos profundos, por exemplo, não desenvolveu uma
fala socialmente inteligível, e, em geral, o desenvolvimento alcançado foi
parcial e tardio em relação à aquisição de fala apresentada pelos ouvintes,
implicando um atraso de desenvolvimento global significativo. Somadas a
isso, estavam as dificuldades ligadas à aprendizagem da leitura e da escrita.
Sempre tardia, cheia de problemas, mostrando sujeitos, muitas vezes, ape-
nas parcialmente alfabetizados após anos de escolarização (FERNANDES,
1989 apud LACERDA, 2000, p. 72).

As pesquisas científicas aliadas aos insatisfatórios efeitos da abordagem ora-


lista propiciaram o surgimento de novas abordagens pedagógico-educacionais
para o surdo (LACERDA, 1998). Nesse contexto, merecem destaque os trabalhos
do linguista Noam Chomsky e do professor William Stokoe, publicados nas
décadas de 1950 e 1960. Ambos defendiam que a língua de sinais era a língua
“natural” do surdo. Nesse sentido, não poderia ser compreendida como um
mero conjunto desarticulado de símbolos manuais, mas, segundo Stokoe, um
sistema linguístico estruturalmente semelhante às outras línguas. Para Chomsky,
independente da modalidade (oral ou gestual), o indivíduo surdo ou ouvinte
teria a mesma capacidade para desenvolver a linguagem. A diferença entre eles
se limitaria à forma como essa linguagem é expressa, ou seja, através de uma
modalidade viso-gestural (língua de sinais) ou oral (fala).
Com as novas concepções sobre a língua de sinais, outras abordagens educa-
cionais, como a comunicação total e o bilinguismo entram em cena. A comu-
nicação total, divulgada em diversos países a partir da década de 1970, defende
o uso de múltiplas formas de comunicação. O desenvolvimento da fala não
é considerado um objetivo central nesse modelo, mas uma das competências
trabalhadas para possibilitar a integração social do surdo (LACERDA, 1998). A

142 Aula 7 Educação Inclusiva


língua de sinais, por sua vez, não é empregada de maneira plena (GOLDFELD,
2002). Assim, formas linguísticas e não linguísticas de expressão são admitidas,
incluindo sinais retirados da língua de sinais e sinais gramaticais modificados.
Essa abordagem, amplamente adotada na atualidade, recomenda o uso simultâ-
neo da fala e dos diferentes códigos manuais. Leitura labial
A comunicação total no Brasil se configura pelo uso da Língua Brasileira de Técnica que utiliza a leitura da
posição dos lábios para captar
Sinais (Libras), a datilogogia, o cued speech, e o português sinalizado (GOLDFELD,
os movimentos e compreender o
2002). O Quadro 4 a seguir traz uma breve explanação de cada metodologia. que está sendo dito (SILVA, 2011,
p. 27).

Método Características

Língua Brasileira de Sinais (Libras) – Língua


utilizada para a comunicação visual-espacial,
reconhecida como língua oficial dos surdos no
Brasil. Ela apresenta gramática e características
próprias que diferem da língua portuguesa. Para se
comunicar em Libras, não basta conhecer os sinais
manuais, mas compreender sua gramática. Como
Libras em qualquer língua oral, diferenças regionais são
observadas no uso de Libras.
Alguns sinais da Libras tendem a reproduzir
características parciais ou totais dos conceitos que
representam. Veja, por exemplo, o sinal manual de
“copo”, ao lado, produzido pela mão semiaberta
(como se segurando um copo). Esse sinal traz
semelhanças físicas com o objeto “copo”.

(fala com pistas) – método de comunicação utilizado como auxílio à leitura labial.
Cued speech Sinais manuais são empregados para auxiliar a pessoa surda a distinguir palavras que se
assemelham quando verbalmente articuladas (exemplo: pato e bato).

Soletração de uma palavra


suando o alfabeto manual. Essa
metodologia é tipicamente usada
Datilogogia para expressar nomes de pessoas,
localidades e outras palavras que
não possuem um sinal específico
em Libras (SILVA, 2001).

Fonte: http://psicopedagogiaeducacao.blogspot.com.br/

Português Língua artificial criada a partir da fusão entre o português e a LIBRAS. Nesse método, os
sinalizado sinais da Libras são adaptados à estrutura gramatical da língua portuguesa.

Quadro 4 – Metodologias tipicamente usadas na comunicação total

Aula 7 Educação Inclusiva 143


A Comunicação Total desempenhou um importante papel na valorização da
Libras. Apesar de não empregá-la em sua forma “pura”, possibilitou que ela
voltasse a ser inserida na educação do surdo. Nesse sentido, a comunicação total
semeou o terreno para o desenvolvimento do bilinguismo.
O bilinguismo, compreendido como uma filosofia educativa, preconiza que os
Língua própria surdos formam uma comunidade com cultura e língua próprias. Na perspectiva
Nesse sentido, o termo Surdo bilíngue, o surdo deve adquirir inicialmente, como língua materna, a língua de
(com S maiúsculo) é, por vezes,
sinais e, como segundo idioma, a língua oficial de seu país. No caso do Brasil,
usado para designar o grupo
linguístico e cultural e surdez por exemplo, a criança surda deve aprender, o mais precocemente possível, a
(com s minúsculo) para sinalizar Língua Brasileira de Sinais (Libras) e, como segunda língua, o português. A ideia
a deficiência, a falta de audição do acesso concomitante às duas línguas baseia-se no reconhecimento de que o
(GOLDFELD, 2002). Aceitar e
surdo, apesar de conviver em uma sociedade essencialmente ouvinte, é interlo-
assumir a surdez implica, assim,
em valorizar a cultura e cutor natural de uma língua adaptada à sua capacidade de expressão.
a comunidade Surda. No Brasil, a Libras foi, em 2005, reconhecida como língua oficial em todo
território nacional. O Decreto governamental 5.626, publicado no referido ano,
Ouvinte torna obrigatório o uso da língua de sinais para os surdos, assim como para os
De fato, cerca de 90% dos sur- professores que atendem esses alunos (SILVA, 2011). Esse documento indica,
dos têm pais ouvintes
ainda, que a língua de sinais seja ensinada como primeira língua e a língua por-
(GOLDFELD, 2002).
tuguesa na modalidade escrita, como segunda língua nas escolas.

Atividade 1

Apesar de as abordagens anteriormente descritas terem sido


1 instituídas em diferentes momentos da história, ramifica-
ções das mesmas perduram na atualidade. Nessa atividade,
você deverá:

a) Elaborar um quadro identificando as principais características


dos seguintes modelos de ensino: oralismo, bilinguismo e co-
municação total.

b) Em seguida, deverá entrevistar um professor de uma escola regular


ou de uma instituição especial e identificar:

n Se ele trabalha ou já trabalhou com alunos surdos.

n Sua concepção de surdez (como cultura ou deficiência).

n Qual a metodologia que emprega ou empregaria, no caso de não ter


um aluno surdo.

144 Aula 7 Educação Inclusiva


Em seguida, relacione a metodologia do professor e sua concep-
2 ção de surdez tomando como base o quadro elaborado no item 1.

Assista ao filme Filhos do Silêncio (Título Original: Children of


3 a Lesser God; País/Ano de produção: EUA, 1986) e descreva
os métodos de comunicação empregados no filme.

Estratégias de ensino
De acordo com a política educacional vigente no Brasil, os alunos surdos
devem frequentar classes regulares de ensino (BRASIL, 2008). Um expressivo
número desses educandos, no entanto, chega à escola com uma defasagem
linguística significativa, tanto em Língua Portuguesa como em Libras. Esse fe-
nômeno acaba prejudicando, dentre outros fatores, o desempenho acadêmico
do aluno em relação à leitura, à interpretação e à estrutura linguística de textos
(OLIVEIRA, 2012). Assim, a mera inserção desses educandos em classes comuns
não garante sua aprendizagem. Estratégias específicas de ensino e adaptações
curriculares são imprescindíveis.
Dias, Silva e Braun (2007) e Brasil (2006; 2008) enumeram estratégias de
ensino e adaptações curriculares que podem favorecer a aprendizagem do aluno
surdo inserido na sala regular. Dentre elas estão:

1) A utilização de sinais, escrita, gestos naturais, dramatizações, de-


senhos, diagramas e mímicas como recursos visuais para facilitar a
compreensão de textos e aulas expositivas.

2) A verbalização de frases completas, não exagerando na articulação


das palavras ou velocidade da fala.

3) A realização de sínteses e resumos para favorecer a compreensão


das informações abordadas verbalmente.

Aula 7 Educação Inclusiva 145


4) O uso de glossários ou listas de palavras que estarão incluídas nas
atividades acadêmicas.

5) A alternância de atividades verbais com atividades motoras (brinca-


deiras e danças), diminuindo, assim, a fadiga causada pela atenção
visual do aluno surdo.

6) A organização de mesas em duplas ou quartetos de modo que os


alunos se posicionem frente a frente, facilitando a leitura labial do
aluno surdo.

7) A adequação de critérios regulares de avaliação. Em outras palavras,


a avaliação do conhecimento do aluno deve ser feita não apenas
considerando sua produção escrita. Lembre, o português escrito é,
para ele, uma segunda língua!

8) Na avaliação da produção escrita do aluno surdo em língua portu-


guesa, é importante que: a. o aluno tenha acesso ao dicionário ou
ao intérprete; b. maior relevância seja dada ao conteúdo; c. a forma
da linguagem seja avaliada de maneira flexível.

9) Eliminação de conteúdos secundários e a introdução de novos ob-


jetivos de ensino.

10) Substituição de conteúdos do currículo que exijam audição e fala.

11) Modificação da temporalidade para determinados objetivos


e conteúdos.

Tradutor/Intérprete 12) A presença de tradutores/intérpretes de Libras nas escolas.


de Libras
Profissional que domina a língua
de sinais brasileira (Libras) e a
língua portuguesa e está capa-
citado a traduzir/interpretar a Por lei, o aluno deve estar matriculado em uma sala regular em um turno e,
Libras para o português no turno oposto, no atendimento educacional especializado. De acordo com
e vice-versa.
Damazio (2007), três tipos de serviços didáticos pedagógicos devem ser ofertados
ao aluno surdo no AEE:

146 Aula 7 Educação Inclusiva


1) Momento do AEE em Libras na escola comum – um professor (prefe-
rencialmente surdo) explica o conteúdo curricular, em Libras, para o
aluno surdo. Esse atendimento deve ocorrer diariamente, em horário
contrário ao das aulas, na sala de aula comum.

2) Momento do AEE para o ensino de Libras – o aluno surdo tem aula


de Libras.

3) Momento do AEE para o ensino da Língua Portuguesa – o aluno


surdo tem aula de português, visando compreender as especificida-
des dessa língua.

Leituras complementares

Para saber mais sobre estratégias de ensino para alunos com deficiência
auditiva, consulte os materiais didáticos disponíveis online pelo MEC.

BRASIL. Saberes e práticas da inclusão: desenvolvendo competências para o


atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos surdos. 2. ed.
Brasília: MEC; Secretaria de Educação Especial, 2006. 116 p. (Série: Saberes e
práticas da inclusão). Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/
pdf/alunossurdos.pdf>. Acesso em: 11 dez. 2012.

DAMAZIO, Mirlene Ferreira Machado. Atendimento educacional especializado:


pessoa com surdez. São Paulo: MEC/SEESP, 2007. Disponível em: <http://portal.
mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/alunossurdos.pdf>. Acesso em: 11 dez. 2012.

Aula 7 Educação Inclusiva 147


Resumo

Nesta aula, você conheceu as especificidades da deficiência


auditiva, compreendendo a surdez dentro de um continuum. Conheceu
as causas dessa condição, que afeta uma parcela expressiva de pessoas
no mundo. Em seguida navegou pela história da educação do surdo
desde sua passagem por instituições segregadas até a sua inclusão
nas salas regulares. Nesse contexto, descobriu distintas filosofias
educacionais, como o oralismo, a comunicação total e o bilinguismo.
Você observou que, dependendo de cada paradigma, a surdez pode ser
compreendida como deficiência ou cultura. Por fim, você aprendeu a
identificar estratégias e adaptações curriculares que são tipicamente
usadas para viabilizar a aprendizagem do surdo no contexto regular
de ensino.

Autoavaliação
A partir do que vimos durante a aula, assinale verdadeiro (V) ou falso (F).

( ) A criança já nasce surda, não podendo adquirir a deficiência auditiva no


decorrer de seu desenvolvimento.

( ) A pessoa incapaz de ouvir um trânsito ruidoso, possivelmente, apresenta


surdez leve.

( ) Surdos e ouvintes são capazes de desenvolver a linguagem. Os surdos na


modalidade viso-espacial e os ouvintes na modalidade oral.

( ) A primeira instituição de ensino para o surdo no Brasil foi construída em


1915 e adotava o modelo oralista.

( ) O modelo oralista compreende a surdez como uma deficiência a ser mini-


mizada pela estimulação oral.

( ) A língua de sinais brasileira (Libras) tem a mesma estrutura gramatical


do português.

( ) Todos os países do mundo utilizam a mesma língua de sinais.

148 Aula 7 Educação Inclusiva


( ) As escolas brasileiras, na atualidade, adotam a filosofia bilíngue.

( ) De acordo com a legislação brasileira vigente, o aluno surdo deve ser edu-
cado em uma escola especial.

( ) Pelo português ser sua segunda língua, é comum o surdo apresentar pro-
blemas na produção de textos escritos.

Referências
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cional de Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva. Brasília:
MEC/SEESP, 2008.

BRASIL. Saberes e práticas da inclusão: desenvolvendo competências para


o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos surdos. 2.
ed. Brasília: MEC; Secretaria de Educação Especial, 2006. 116 p. (Série: Saberes
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sas brasileiras. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte, Minas Gerais, 2007.

DAMAZIO, Mirlene Ferreira Machado. Atendimento educacional especializado:


pessoa com surdez. São Paulo: MEC/SEESP, 2007.

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na classe regular: reflexões sobre a prática pedagógica. In: GLAT, R. Educação
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GOLDFELD, Márcia. A criança surda. 2. ed. São Paulo: Plexus, 2002.

LACERDA, Cristina B.F. de. Um pouco da história das diferentes abordagens na


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Uberlândia: Edufu, 2012. p. 1-12. Disponível em: <http://www.ileel.ufu.br/
anaisdosielp/pt/arquivos/sielp2012/865.pdf>. Acesso em: 4 out. 2012.

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SOARES, Maria Aparecida Leite. A Educação do Surdo no Brasil. Campinas, SP:


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Washington, DC: Gaulladet University Press, 2002.

Anotações

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