Conteúdo - Módulo 1
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Conteúdo - Módulo 1
Site: Escola Virtual de Governo Impresso por: Layane Santana Rodrigues Donato
Curso: Introdução à Libras Data: sexta-feira, 22 nov. 2024, 15:40
Livro: Conteúdo - Módulo 1
Descrição
Índice
1. Surdez e sociedade
1.1. Causas da surdez
1.2. Descoberta da surdez
1.3. Graus de perda auditiva
1.4. Graus de perda auditiva - Cont.
1.5. Aparelho de ampliRcação sonora individual
1.6. A surdez pela perspectiva ouvintista
1.7. A surdez pela perspectiva socioantropológica
1.8. A lei da libras e o decreto que a regulamenta
1.9. Identidade e cultura surda
3. Prática de libras
3.1. Libras: primeiro contato
3.2. Libras: diálogos e sinais importantes para uma primeira comunicação
3.3. Alfabeto manual e pronomes pessoais
4. Finalizando o módulo
1. Surdez e sociedade
Seja bem-vindo(a) ao curso de Introdução à Língua Brasileira de Sinais - Libras! Neste primeiro módulo, serão apresentados conceitos básicos sobre a
surdez e a Libras. Você conhecerá as principais causas da surdez, a descoberta, os graus de perda auditiva e o aparelho de ampliRcação sonora
individual. Além disso, você conhecerá um pouco mais sobre lutas e conquistas da Comunidade Surda, como ocorre a comunicação com surdos e
como podem ser construídas a Identidade e a Cultura Surdas. Este módulo também permitirá um primeiro contato com a Libras, oportunidade em
que será possível aprender como os surdos determinam um sinal que equivale ao nome de uma pessoa em Libras, além do alfabeto manual, que é
utilizado para soletrar nomes próprios.
Bem-Vindo(a)!
Você conhece as causas da surdez? Sabia que a surdez ou perda auditiva pode ocorrer no período pré-natal, ou seja, durante a gestação e também
durante ou após o nascimento?
No período pré-natal, não é possível identiRcar a surdez por meio de exames. Essa detecção se dá somente após o nascimento da criança. A perda
auditiva pode ocorrer por fatores hereditários, que podem manifestar-se, ou não, ou seja, numa mesma família podem ocorrer nascimentos de Rlhos
surdos ou ouvintes, a surdez pode se manifestar, ou não, ao longo de gerações, entre outras possibilidades. Além disso, a surdez pode ser causada por
doenças que acometem a mãe durante a gravidez, como, por exemplo, rubéola, meningite, toxoplasmose, citomegalovírus, sarampo, síRlis e herpes. Há
também a prematuridade ou nascimento tardio do bebê. Ainda se observam outros fatores de risco, tais como a exposição da gestante ao uso de
entorpecentes, drogas ototóxicas, alcoolismo, radiação, etc.
No período peri-natal, ou seja, durante o nascimento, fatores como as infecções hospitalares, a falta de oxigênio no cérebro, o parto prematuro ou
tardio, entre outros, podem provocar perda auditiva. A utilização de medicamentos ototóxicos, infecções, algumas doenças como a meningite, o
sarampo e a caxumba infantil, exposição excessiva a ruídos, traumas diversos e outras situações adversas podem ocasionar a perda de audição em
qualquer idade.
1.2. Descoberta da surdez
O diagnóstico da surdez pode ocorrer já nos primeiros dias de vida da criança, por meio do teste da orelhinha. Esse exame pode apontar suspeitas,
que devem ser conRrmadas, ou não, por volta de até quatro meses de idade, mediante a realização de outros testes e exames.
Em muitos casos, a surdez só é diagnosticada quando a criança tem por volta de um ou dois anos de idade. É recorrente, nesse período, a família
iniciar uma corrida a Rm de compreender, aceitar e procurar alternativas educacionais e de saúde adequadas.
As crianças surdas, em sua maioria, chegam à escola por volta dos cinco ou seis anos de idade, isto é, com atraso signiRcativo em relação à aquisição
de uma língua. O ideal é que a criança surda vá para a escola o mais cedo possível, considerando-se que a falta de acesso a uma língua a impede de
se comunicar, de viver e perceber o mundo plenamente, como demonstram os estudos na área. O Projeto "Toda Força ao 1º Ano: contemplando as
especiRcidades dos alunos surdos” ressalta que:
Por não terem acesso à linguagem oral, usada pelas famílias, e pelo fato de as famílias não usarem a Língua de Sinais, as crianças
surdas, Rlhas de pais ouvintes, são privadas das conversas, assim como muitas vezes de atividades prazerosas, como contação de
histórias, recitação de versinhos e parlendas, entoação de canções. A não participação em tais atividades prejudica a constituição de
conhecimento de mundo e de língua, disponível comumente às crianças ouvintes antes da escolarização. Por outro lado, pesquisas
mostram que, expostas à Língua de Sinais, as crianças surdas podem usufruir de todas estas atividades. 1
Esses aspectos merecem atenção, pois detectar a surdez precocemente só trará de fato efeitos benéRcos para a criança surda se ela não vier a
sofrer ausência de língua. Caso contrário, haverá o risco de ela se tornar atrasada em seu desenvolvimento global.
O documentário a seguir "Sou surda e não Sabia” tem como protagonista a surda Sandrine, resgatando, por meio de sua história, aspectos
importantes sobre a concepção de surdez, a oralização de crianças surdas, a Língua de Sinais, a descoberta da surdez e a educação do surdo. O
vídeo é uma excelente oportunidade para se conhecer um pouco mais o tema e renetir sobre como a Comunidade Surda percebe a surdez.
No Projeto "Toda Força ao 1º Ano: contemplando as especiRcidades dos alunos surdos”, podemos encontrar uma classiRcação, baseada na literatura
produzida por Shlomo Silman e Carol A. Silverman, que apresenta os graus de perda auditiva, medidos em decibéis (dB). Esses graus são classiRcados
como:
Normal até 25 dB
Leve de 26 a 40 dB
Moderada de 41 a 55 dB
Moderadamente severa de 56 a 70 dB
Severa de 71 a 90 dB
Profunda maior que 91 dB
Para ReAetir
Apesar de muitas pessoas compreenderem que existem graus diferentes de perda auditiva, no senso comum ainda é recorrente a
ideia de que uma pessoa com uma perda profunda não é capaz de ouvir nada, já pessoas com perda leve, moderada ou severa ouvem
um pouco mais "baixo” do que as pessoas ouvintes. Nesse contexto, as pessoas surdas teriam uma perda profunda, já as pessoas com
deRciência auditiva teriam perdas leves, moderadas ou severas.
1.4. Graus de perda auditiva - Cont.
Na Rgura 1 temos um exemplo de audiometria construído com ilustrações, para que as explicações Rquem mais claras:
Figura 1 - Exemplo de audiometria Ilustrada - Exame que contém frequências medidas em ciclos por segundo (Hz)
e exemplos do que cada grau de perda auditiva consegue perceber, medido em decibéis.
O mesmo deve ser feito para analisar pessoas com perda moderada, ou seja, na linha horizontal, de 55 dB para cima da tabela, a pessoa com esse
tipo de perda pode não escutar os sons marcados nessa faixa. Dessa forma, sua perda abrange um grau maior do que a perda leve. Isso não signiRca
que o indivíduo com esse grau de perda não escute nenhum som abaixo de 60 dB, pois sua perda auditiva pode variar em relação à frequência
medida em Hz.
Compreender essa complexidade inerente às perdas auditivas é importante para perceber que diferentes pessoas com perdas auditivas leves podem
escutar, ou não, sons diferentes. Contudo, o que merece muita atenção é o fato de que tanto a perda leve quanto moderada podem trazer prejuízos
para a compreensão da fala, visto que ambas concentram-se na faixa de percepção desse tipo de som. Já uma pessoa com perda severa pode não
ouvir de 80 dB para cima da tabela, entretanto é capaz de perceber os sons desse limite da tabela para baixo, etc. A análise da audiometria ilustrada
nos permite perceber que um mesmo grau de perda auditiva traz inúmeras variações em relação à percepção dos sons por pessoas diferentes.
1.5. Aparelho de ampli?cação sonora individual
Para muitos, o Aparelho de AmpliRcação Sonora Individual (AASI) auxiliaria o surdo a ouvir melhor, entretanto isso dependerá do grau e do tipo de
perda auditiva, além da época da vida em que ela tenha ocorrido. Isso signiRca que a pessoa com perda auditiva pré-linguística, ou seja, anterior à
aquisição de uma língua oral, pode ter um aproveitamento diferente daquele apresentado pela pessoa surda pós-linguística, isto é, que já teve a
experiência auditiva signiRcativa, no que diz respeito à construção de pensamento mediada por uma língua oral-auditiva.
De acordo com estudiosos da área, os aparelhos auditivos servirão apenas para as pessoas com surdez profunda perceberem ruídos e não para
distinguirem os sons da língua de maneira nuida. Veja o que diz Audrei Gesser, uma renomada pesquisadora da surdez e da Libras, com base na
literatura de Heloísa Boechat, Lígia Tega e Maria Cecília Lima, sobre a complexidade que envolve o uso do AASI:
As próteses ou aparelhos auditivos, conforme argumentam os fonoaudiólogos, ajudariam as crianças com surdez severa ou profunda a
"estimular a audição residual” e, assim fazendo, "perceber os componentes acústicos da fala”. Veja que se está falando em "percepções e
estímulos”. A escuta auditiva e o discernimento dos sons vocálicos ou consonantais da língua portuguesa são identiRcados somente
pelos indivíduos que têm surdez moderada ou leve e, mesmo assim, dentro de um modelo gradativo de reabilitação auditiva que vai
desde a detecção, discriminação e reconhecimento dos sons até a compreensão da linguagem. E esta última vai muito além da
utilização das habilidades puramente acústicas, uma vez que a compreensão da linguagem é complexa e envolve uma multiplicidade de
fatores: ela pressupõe relações entre mensagem e contexto, domínio de conceitos e a vivência social, o próprio conhecimento da
linguagem da criança, a sua memória sequencial e os conhecimentos gramaticais [...]. 1
1.6. A surdez pela perspectiva ouvintista
Observa-se, de forma habitual, que o nascimento de uma criança surda é cercado por uma série de sensações, muitas vezes, confusas e negativas. De
acordo com Oliver Sacks, escritor do livro Vendo Vozes, sendo 95% dos surdos Rlhos de pais ouvintes, esse acontecimento é visto por muitos como
uma tragédia, pois o Rlho idealizado torna-se distante. Infelizmente ainda "é muito comum o sentimento de culpa dos pais, de negação, indiferença,
superproteção, vergonha, ódio de si mesmos e da criança, ressentimento, medo, impotência, etc.”, como defende Rita Furtado em publicação de 2008.
Isso parece ocorrer em grande parte do imaginário social, pois a surdez é compreendida como uma restrição ou limitação. Essa representação,
construída social e historicamente, tem fortes bases no conceito de normalidade, pois "a sociedade estabelece os meios de categorizar as pessoas e
o total de atributos considerados como comuns e naturais para os membros de cada uma dessas categorias”, segundo Erving Gotman. Nessa
perspectiva, o discurso sobre o que é ser normal ganha força num contexto que classiRca o que a norma considera ideal ou adequado.
No caso dos surdos, a perda auditiva os coloca em uma situação de desvantagem diante dos ouvintes, pois "a norma é uma espécie de régua que tem
o objetivo de 'medir' os sujeitos a Rm de deRnir aqueles que farão parte dela e os que serão excluídos, dando origem aos sujeitos anormais”, nas
palavras de Rita Furtado em publicação de 2011. Assim, percebe-se a surdez como uma doença, que requer tratamento terapêutico. Recorre-se a
uma abordagem corretiva, a Rm de minimizar o possível "defeito” da pessoa surda, de modo que ela possa aproximar-se do que é considerado
comum. Nesse caso especíRco, a normalização ocorreria por meio da fala e da leitura labial.
Ainda nesse viés, temos o conceito de Ouvintismo, muito latente nas sociedades, que, conforme aRrma Carlos Skliar, consiste em "um conjunto de
representações dos ouvintes e o surdo está obrigado a olhar-se e narrar-se como se fosse ouvinte”. Isso legitima uma concepção clínico-patológica
sobre a surdez e cria um estigma social, que pode levar à exclusão e à marginalização dos surdos.
Pesquisas sobre o desenvolvimento de surdos Rlhos de pais surdos foram alterando muito a visão do surdo como um sujeito limitado ou incapaz. Elas
romperam com a ideia de déRcit linguístico e cognitivo e, cada vez mais, vêm demonstrando que, quando exposta a uma língua visual, a criança surda
tem possibilidades de se desenvolver de maneira análoga à criança ouvinte.
Em seus escritos, Oliver Sacks descreve de maneira eloquente sua incursão pelo mundo dos surdos. Nesses relatos o autor desvencilha-se da
concepção médica sobre a surdez e passa a percebê-la para muito além dos aspectos biológicos. Nesse percurso conhece a Língua de Sinais e a
descreve não só como adequada às condições visuais da pessoa surda, mas como a língua que possibilita a construção de relações de pensamento
puramente visuais, talvez nunca imaginadas pelas pessoas ouvintes. Diante disso, observa-se a produção de uma cultura visual compartilhada por
toda uma população. O autor disserta sobre a inteligência visual dos surdos, e, desse modo, adentra uma visão que se afasta cada vez mais da
concepção ouvintista. Observa-se uma inversão de percepção, que traz em seu bojo a reconstrução da alteridade do surdo, reconhecido assim como
um sujeito completo.
Quando se conhece a Comunidade Surda e sua Língua de Sinais, o encantamento parece ser recorrente. Enquanto os surdos eram comparados a
ouvintes que tinham um problema, pouco se possibilitava para o desenvolvimento global deles, ao passo que, quando se permitiu que o surdo
pudesse existir sendo surdo, suas possibilidades de existência e de inclusão se abriram de maneira contundente.
Entretanto, essa realidade só começa a se fazer presente na contemporaneidade. Segundo Sherman Wilcox, as Línguas de Sinais chegam à esfera
mundial, reconhecidas como idiomas, somente em meados da década de 1960, com as publicações do linguista Wiliam C. Stokoe. Dessa forma, pode-
se analisar o quanto é recente o estudo sobre as Línguas de Sinais no contexto mundial e renetir o quanto esses idiomas foram desvalorizados por
séculos. Somente nas últimas décadas, as Línguas de Sinais começaram a ser discutidas, permitidas e um pouco mais aceitas pelas sociedades
ouvintes, que são majoritárias. Contudo, seu reconhecimento como línguas autênticas pela área da Linguística não signiRcou a compreensão imediata
de seu papel na vida das pessoas surdas, nem mesmo a valorização de seu status de idioma.
Ainda de acordo com Sherman Wilcox, somente após vinte anos do reconhecimento da Língua de Sinais Americana (ASL, sigla em inglês), ocorrido na
década de 1960, deu-se início a um processo de ampla difusão nas universidades, colégios, televisão, teatro, atos políticos, etc. Isso fez com que
houvesse um aumento promissor na procura por cursos para seu aprendizado. Acredita-se que são essas práticas que favorecem o acesso e a
participação efetiva de surdos na sociedade ouvinte. Talvez esse seja o nosso momento atual. Um movimento que começa a instaurar-se na
sociedade brasileira para a inclusão das pessoas surdas. Por meio do amparo da legislação vigente, a Libras começa a ser difundida e os surdos
passam a compreendê-la como um direito.
1.8. A lei da libras e o decreto que a regulamenta
É possível veriRcar que as lutas por uma participação mais efetiva das Comunidades Surdas na sociedade majoritária (co)existem, não só no Brasil,
mas em âmbito mundial. EspeciRcamente em nosso país, a promulgação da Lei da Libras e do Decreto que a regulamenta vem trazendo mudanças
sociais em relação à possibilidade de inclusão dos surdos, por meio do respeito a sua língua. Essa árdua tarefa é necessária não só para garantir ao
surdo o direito de comunicar-se no país em que vive, mas também para outro desenvolvimento, no que se refere à concepção de surdez. Ao
conhecer-se sobre a Libras e as pessoas surdas, há uma tendência ao afastamento da compreensão da surdez como falta, ausência, incapacidade ou
doença. Isso é cada vez mais (re)aRrmado em pesquisas que se dedicam a essa questão de maneira mais especíRca. Esse pensamento é sintetizado
por Carlos Skliar, no livro "A Surdez: Um Olhar sobre as Diferenças”, da seguinte forma:
[...] O que está mudando são as concepções sobre o sujeito surdo, as descrições em torno da sua língua, as deRnições sobre as políticas
educacionais, a análise das relações de saberes e poderes entre adultos surdos e adultos ouvintes, etc.1
A Libras foi reconhecida como meio legal de comunicação e expressão no Brasil, por meio da lei nº 10.436/2002. A referida lei legitima a Libras como
idioma advindo das Comunidades Surdas Brasileiras. Isso pode ser constatado no Parágrafo Único do Artigo 1º, no qual se lê:
Art. 1º É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de
expressão a ela associados.
Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema
linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de ideias e
fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil.
O Decreto nº 5.626/2005, que regulamenta a lei supracitada, aponta para uma série de providências que devem ser adotadas nas mais diferentes
instâncias, principalmente no que tange à acessibilidade da pessoa surda. Dentre elas, pode-se destacar o Capítulo VIII do Documento, mais
precisamente o § 1º do Artigo 26:
DO PAPEL DO PODER PÚBLICO E DAS EMPRESAS QUE DETÊM CONCESSÃO OU PERMISSÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS, NO APOIO AO
USO E DIFUSÃO DA LIBRAS.
Art. 26. A partir de um ano da publicação deste Decreto, o Poder Público, as empresas concessionárias de serviços públicos e os
órgãos da administração pública federal, direta e indireta devem garantir às pessoas surdas o tratamento diferenciado, por meio do
uso e difusão de Libras e da tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa, realizados por servidores e empregados
capacitados para essa função, bem como o acesso às tecnologias de informação, conforme prevê o Decreto n.º 5.296, de 2004.
§ 1º As instituições de que trata o caput devem dispor de, pelo menos, cinco por cento de servidores, funcionários e empregados
capacitados para o uso e interpretação da Libras.
Sendo a Língua de Sinais a única que pode ser adquirida naturalmente por surdos, visto que se conRgura como uma língua de modalidade visual, seu
uso e difusão nas mais diferentes esferas, entre elas a educacional, a jurídica, a religiosa e a da saúde, possibilitam a "padronização” dos códigos de
expressão desse idioma, de forma a elevar a interação da pessoa surda com um universo superior ao seu núcleo familiar e/ou imediato, pois a língua
oral pode ser aprendida por surdos, mas não de maneira espontânea.
1.9. Identidade e cultura surda
A identidade surda é um tema muito estudado por vários pesquisadores. A autora Gladis Perlin descreve vários tipos de identidade que podem
desenvolver-se dependendo da experiência social e cultural vivenciada pelos surdos. São elas: identidade nutuante, inconformada, de transição,
híbrida e identidade surda.
Na identidade nutuante o surdo assume o papel de pessoa com deRciência e comporta-se de modo a tentar superar sua perda auditiva, enquanto na
identidade inconformada o surdo sente-se inferior ao ouvinte. Observa-se que, em ambas, impera uma concepção clínico-patológica sobre a surdez, e
o ouvintismo engendra essa percepção sobre si mesmo e seu espaço no mundo.
Já na identidade de transição, o surdo tem contato com a Comunidade Surda, mas esse contato é tardio. Dessa forma, não se encontra plenamente
em nenhum dos mundos.
A identidade híbrida é aquela em que o surdo perdeu audição ao longo da vida e aprendeu a Língua de Sinais como uma segunda língua. Dessa forma,
conserva seu pensamento pautado na língua oral, mas reconstrói suas relações sociais amparadas na língua visual.
A identidade surda se constitui por meio do desenvolvimento das experiências em Língua de Sinais. Nesse contexto os surdos se assumem como
surdos, ou seja, como sujeitos visuais e culturais, sendo vistos como capazes, diferentes, mas não inferiores aos ouvintes. Essa formação de identidade
ocorre de modo frequente entre os espaços em que a criança surda tem contato com adultos surdos. Ela espelha-se nos adultos como um modelo
possível de alcance. Ao se questionar se surdos com esse tipo de identidade são pessoas com deRciência auditiva, obtém-se resposta negativa. Eles
intitulam-se apenas como surdos, ou seja, pessoas às quais não falta nada.
A identidade surda é construída tendo como base uma concepção socioantropológica da surdez. Dessa forma, para o surdo, é normal ser surdo, e
esse sujeito não necessita de conserto, mas de possibilidades que permitam que ele se desenvolva com aquilo que tem de preservado. Débora
Rodrigues Moura defende esse pensamento, aRrmando que:
Dessa forma, reconhecer a identidade Surda positiva é permitir ao Surdo existir como sujeito participativo, enxergar possibilidades além
da audição, compreender uma forma de se estruturar na e pela diferença, conhecer um ser humano essencialmente visual que assimila
e produz cultura. 1
Nessa perspectiva a Cultura Surda se consolida. Ela não se resume, por exemplo, a um tipo de comida diferente ou a um tipo de crença especíRca,
mas à forma de viver e de experimentar o mundo por uma perspectiva que não se utiliza da audição. Ao dissertar sobre essa questão, Heloísa Salles
e outras autoras defendem que:
Quebrar o paradigma da deRciência é enxergar as restrições de ambos: surdos e ouvintes. Por exemplo, enquanto um surdo não
conversa no escuro, o ouvinte não conversa debaixo d'água; em local barulhento, o ouvinte não consegue se comunicar, a menos que
grite e, nesse caso, o surdo se comunica sem problemas. Além disso, o ouvinte não consegue comer e falar ao mesmo tempo,
educadamente, e sem engasgar, enquanto o surdo não sofre essa restrição. 2
Karin Ströbel disserta sobre oito artefatos culturais que caracterizam a Cultura Surda, são eles: a experiência visual, o linguístico, o familiar, a
literatura surda, a vida social e esportiva, as artes visuais, o político e os materiais.
Em relação à experiência visual e linguística, o próprio idioma visuo espacial traz consigo particularidades em relação a formas de pensamento
enredadas por uma percepção de mundo visual.
Em relação ao familiar e à vida social e esportiva, nos espaços em que há surdos presentes, todas essas dinâmicas se modiRcam. Recursos visuais e
formas peculiares de relacionar-se, de construir regras, de polidez, etc. modiRcam-se e se (re)constituem numa relação dialógica diferente da ocupada
só por ouvintes.
A literatura surda e as artes visuais se fortalecem cada vez mais por meio da exploração do papel do surdo como agente de transformação social e
cultural, sem que o som seja um pré-requisito indispensável para participação efetiva no mundo.
O artefato político abarca a própria luta da Comunidade Surda por uma participação efetiva enquanto minoria, frente às desigualdades enfrentadas.
E os materiais referem-se às tecnologias que fazem parte da vida das pessoas surdas, que vêm favorecer não somente a comunicação, mas também
a interação com o mundo por meio de sinais luminosos e sinestésicos, em detrimento dos sonoros.
2. Como promover a comunicação com surdos
A surdez traz consigo modos e formas de relacionar-se pautadas numa comunicação visual. Isso requer conhecê-las, bem como compreender as
necessidades e tecnologias advindas de quem se comunica sem o som.
Algo que parece intrigar as pessoas ouvintes é a forma como chamar a atenção de uma pessoa surda. É preciso compreender que gritar, falar mais
alto ou mais devagar nem sempre produz o efeito esperado.
Figura 2 - Pessoa com megafone gritando para chamar a atenção de outra que demonstra não escutá-la.
Em uma sala com um surdo de costas e distante ou com muitos surdos, a melhor forma de chamar a atenção é acendendo e apagando a luz por uma
ou duas vezes.
Figura 3 - Demonstração de como chamar a atenção de uma pessoa surda por meio da luz do ambiente.
Figura 9 - Demonstração do funcionamento de uma campainha com sinal luminoso utilizada em algumas escolas.
Intérprete de Libras
Figura 12 - Intérprete de Libras em situação escolar.
Assista o vídeo 1 sobre tecnologias utilizadas na residência de uma pessoa surda a Rm de possibilitar maior autonomia.
Fonte: TV INES
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3. Prática de libras
Nesta primeira parte você terá um primeiro contato com a Libras apresentada em práticas discursivas. Isso signiRca que a língua deve ser observada
em uso, em situações de interlocuções comunicativas. O objetivo não é a apropriação de todos os sinais mostrados, mas proporcionar a adaptação à
comunicação visual e gradualmente a compreensão do idioma.
Você deverá acostumar-se com a Libras e com uma forma visual de comunicação. Além disso, deve observar as expressões faciais e corporais
utilizadas, sem se preocupar em decorar sinais. É importante deter-se na tentativa de compreensão das situações apresentadas, ainda que não seja
possível entender todas de forma completa.
Como a Libras é uma língua diferente da Língua Portuguesa, o ideal é tentar desvencilhar-se do mundo oral auditivo e imaginar as situações sendo
comunicadas sem o som.
3.1. Libras: primeiro contato
No vídeo 2, logo abaixo, tem-se um diálogo, sinais de marcação temporal, cumprimentos e a apresentação de pessoas surdas. É importante observar
que essas pessoas utilizam o Alfabeto Manual para soletrar o nome próprio e usam também o sinal correspondente à identiRcação de cada uma
delas.
O sinal de cada pessoa corresponde ao nome visual, ou seja, é marcado por alguma característica física presente no momento em que ela o recebe.
Muitas vezes o sinal é mais valorizado pela Comunidade Surda do que o próprio nome oral auditivo.
O sinal da pessoa em destaque na Rgura abaixo poderia ser representado de diversas maneiras.
Figura 13 - Ressalta a recexão sobre as características físicas da personagem e seus possíveis sinais.
Fonte: TV INES
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3.2. Libras: diálogos e sinais importantes para uma primeira comunicação
No vídeo 3 apresentam-se duas situações de diálogos em Libras. São explorados sinais de uso social importantes para uma primeira comunicação,
sinais de objetos e dias da semana em Libras.
Fonte: TV INES
Caso não consiga visualizar o vídeo (formato .mp4, tamanho 69.7MB), clique com o botão direito do mouse e selecione "Salvar link como...".
3.3. Alfabeto manual e pronomes pessoais
O Alfabeto Manual é usado para soletração de nomes próprios. Observe o vídeo e realize a atividade a seguir:
Fonte: TV INES
Caso não consiga visualizar o vídeo (formato .mp4, tamanho 19.6MB), clique com o botão direito do mouse e selecione "Salvar link como...".
Praticando Libras 1
Exercite o formato de cada letra.
Soletre seu nome próprio em Libras.
Soletre, a título de treino, o nome de pelo menos 05 (cinco) pessoas conhecidas.
Soletre seu nome próprio inteiro dando uma pausa de 1 a 2 segundos entre nome e sobrenome(s).
Fonte: TV INES
Caso não consiga visualizar o vídeo (formato .mp4, tamanho 9.1MB), clique com o botão direito do mouse e selecione "Salvar link como...".
Chegamos ao Rnal do Módulo I. Neste módulo você teve a oportunidade de conhecer um pouco sobre a Comunidade Surda e sobre a Libras. No
próximo Módulo você estudará a Libras em uso e aprenderá diferentes sinais referentes à Expressão Facial e Família. Até lá!
4. Finalizando o módulo
Terminamos o Módulo 1. Então, faça o Exercício Avaliativo do módulo, composto por questões a serem respondidas com base nos seus respectivos
vídeos de apoio e no conhecimento construído ao longo do conteúdo.
No próximo módulo, você terá a oportunidade de conhecer expressões faciais e diferentes sinais de graus de parentesco.