Fundamentos Da Logoterapia NOV 2011
Fundamentos Da Logoterapia NOV 2011
Fundamentos Da Logoterapia NOV 2011
1. Introdução
2. A psicologia e as diferentes visões e abordagens do homem
3. O homem Viktor Frankl e o seu percurso científico inicial
4. A logoterapia
5. Os conceitos fundamentais
5.1 A vontade de sentido
5.2 Frustração existencial
5.3 O vazio existencial
5.4 O sentido da vida
5.5 A essência da existência
5.6 O sentido do amor e do sofrimento
5.7 Transitoriedade da vida
5.8 As chamadas “técnicas” ou “assertivas da logoterapia”
5.9 O credo profissional segundo Frankl
5.10 A tese do otimismo trágico
5.11 Situações clínicas
5.11.1 Na literatura
5.11.2 Experiência pessoal
6. Considerações finais
7. Bibliografia
8. Anexos
INTRODUÇÃO
PPP
(http://psic-paulorech.livejournal.com/21223.html)
A Psicologia não pode não refletir o pensamento da sua época, visto que, não
somente o “objeto” do estudo da Psicologia é o próprio Homem, mas o ‘pesquisador’,
ou seja, aquele que busca conhecer o homem estará sempre inserido em um contexto
cultural que dá também ao ‘pesquisador’ – o homem – as ‘ferramentas’ a serem
utilizadas nesta ‘pesquisa’.
Nos anos 50, a cultura do pós-guerra buscava respostas para as muitas questões
pendentes e forma um ótimo fermento para o proliferar de novas idéias a respeito do
homem. Tanto que em contraposição às concepções de homem vigente então na
Psicologia – determinista e condutivista – consolidaram-se duas novas grandes
correntes: uma denominada Psicologia Humanista, com berço nos EUA e outra
Psicologia Existencial, com berço na Europa. Em ambas as escolas existem experiências
ou pensamentos anteriores, como que “precursores” desta própria escola. (García
Pintos, 1988).
Embora existam semelhanças em ambas as escolas, pois ambas nascem como
fruto de um questionamento à psicologia vigente, ao seu ‘modus operandi’ – existem
também diferenças significativas. (As semelhanças, porém, permitem que passem a
coexistir os chamados “existenciais-humanistas”, ou seja, quem identifique como
correta ou completa uma visão do Homem que integra aspectos de ambas as teorias.)
(** poderia simplesmente cancelar a afirmação acima, mas, ver o texto abaixo ... e ver
Pintos, pg 49 e seg) Segundo Pintos, o existencialismo europeu é gerado em uma raiz
cultural fortemente filosófica, característica da cultura européia e “simultaneamente,
na América cresce um movimento com semelhantes inquietudes e orientações
parecidas, que concluirá constituindo a corrente humanista”. Possivelmente, conclui o
Autor, aspectos sociais fizeram com que o movimento americano se desenvolvesse
sem interrupções, ao contrario do movimento europeu, no qual “analistas existenciais
do porte de Biswanger, Boss, Caruso e o próprio Frankl (entre outros), seguiam suas
investigações em meio a fortes perseguições políticas.”
O existencialismo europeu, por sua vez, tem raízes mais antigas. Kierkegaard
(1813 – 1855, considerado o pai do existencialismo) Husserl (1859 – 1938, criador da
fenomenologia), e Heidegger (1889 – 1976, possivelmente a grande figura do
existencialismo contemporaneo), todos nasceram no século XIX, mostrando o quanto o
existencialismo se constrói em uma longa historia e no contexto europeu, de guerras e
luta quase permanente pela sobrevivência. Frankl assinala que a Logoterapia condivide
importantes conceitos de Karl Jaspers (1883 – 1969), Max Scheler (1874 – 1918),
Nicolai Hartmann (1822 – 1950), que serão abordados oportunamente.
“Bergson restitui à filosofia o seu domínio mostrando que a ela não se podiam
aplicar de forma alguma os progressos que eram próprios da ciência” (R. Maritain,
1952). Por sua vez, o filósofo alemão Edmund Husserl (1859 – 1938) chamou de
fenomenologia o seu trabalho, com grande repercussão também na psicologia. Entre
os discípulos alemães podemos destacar Martin Heidegger, Edith Stein, Max Scheler e
Nicolai Hartmann. Na França, destacaram-se Jean Paul Sartre, Maurice Merleau-Ponty
e Gabriel Marcel e na Espanha cabe destacar José Ortega y Gasset. (in Xauza, pg 60 e
61).
1
Embora não seja possível uma tradução exata, significa “O homem no quotidiano”. Interessante notar
que Frankl afirmava ser o homem, por ser portador de espírito, capaz de perceber os valores e portanto,
intuir e distinguir o melhor para si. Desvelar os valores para que o homem do quotidiano possa assumir
o próprio caminho era o objetivo da revista.
em um ano de funcionamento o índice de suicídio chegou a ser nulo e ser publicado
em um periódico de Viena, no dia 13 de Julho de 1931: “A atividade de consulta (...) foi
uma feliz idéia do Dr. Frankl, fundador e responsável direto do centro”. Em 1935,
Frankl contava com uma casuística pessoal de 900 casos e os centros de atendimento
estavam presentes em outros países europeus. A valorização do trabalho de Frankl é
contundente: para Schwarz a contribuição de Frankl é comparável à de Kant para a
filosofia, mas para Frankl a preocupação era não cair em um psicologismo ou
reducionismo, fragmentando a natureza do homem. Em 1926 Frankl usa pela primeira
vez o nome “logoterapia”.
O ano de 1927 foi de profunda crise na sociedade adleriana. O fato mais
marcante foi a expulsão de Allers e Schwarz. Frankl passou a ser ignorado por Adler e
seu livro2 – pronto para ser impresso – deixado de lado. Embora não visse motivo para
deixar a associação, Frankl foi expulso alguns meses mais tarde. Em 1939 uma revista
suíça publicou uma síntese do não impresso livro “Philosophie und Psychotherapie”,
uma tentativa de aproximação da filosofia com a psicoterapia, que aborda quatro
temas fundamentais: 1) sustenta que a psicanálise atende especialmente as pulsões do
homem, esquecendo, no entanto, a totalidade corporal, psíquica e espiritual da pessoa
humana. 2) coloca uma crítica à atitude do psicoterapeuta que se esquiva na
abordagem dos problemas existenciais dos pacientes. 3) estabelece que o paciente
“deve” ser interpelado plenamente em sua liberdade e responsabilidade, no que
podemos reconhecer um gérmen do futuro “modus operandi” da logoterapia, ou seja,
apelando para a liberdade e responsabilidade do paciente o motivamos para que
modifique a sua atitude diante da situação que se coloca como um problema. 4)
enuncia a importância de não descuidar-se na clínica o tema dos valores.
Frankl conclui o curso de medicina em 1930, tempo no qual havia
fundamentado o seu núcleo teórico estudando Max Scheller. O pensamento de Frankl
consistia em crer que a pessoa humana tem em si mesma – à semelhança com o
humanismo – a possibilidade de dar a si mesma um significado à sua própria existência
e que o terapeuta tem a função de sustentar o paciente na busca e realização deste
significado. Em 1936 Frankl conclui uma dupla especialização em neurologia e
psiquiatria.
A insistência de Frankl na temática dos valores continuaria mais tarde,
intensificadas na experiência da “morte iminente”, ao longo dos mais de três anos nos
campos de concentração. Se a vida carece de sentido, porque sobreviver ao
internamento? Ainda, qual o sentido de todo este sofrimento, se o não sobreviver ao
campo é o mais evidente? É certa a teoria que o homem não é mais que o produto de
muitos fatores ambientais condicionantes? Frankl responde no seu livro “Em busca de
sentido”, o “mais” autobiográfico de todos, o autobiográfico por excelência:
“Foram poucos em número, mas ofereciam prova suficiente de que ao homem
se pode arrebatar tudo, com exceção de uma coisa: a última das liberdades humanas –
a eleição da atividade pessoal ante um conjunto de circunstancias – para decidir o seu
caminho” (Frankl, 1982).
Frankl poderia ser questionado em muitos aspectos, menos o da coerência. As
suas convicções o levaram – contra o conselho dos seus amigos – a prestar serviço
2
Em 1939 uma revista suíça publicou uma síntese do livro “Philosophie und Psychotherapie”, uma
tentativa de aproximação da filosofia com a psicoterapia, que aborda quatro temas fundamentais (ver
pg 26 livro G Pintos).
como médico em enfermaria para vitimas da febre tifóide, pois assim daria algum
sentido á sua morte. Ficava patente que o tipo de pessoa em que se convertia o
prisioneiro era (também) resultado de uma decisão intima. Muitos morreram antes da
condenação á morte, alguns, porem, caminharam para o forno de cabeça erguida, ao
que Frankl chamou de poder de resistência do espírito.
“Qualquer homem podia, inclusive sob tal circunstancia, decidir o que seria
dele – mental e espiritualmente – pois mesmo no campo de concentração se pode
conservar a dignidade humana. É esta liberdade espiritual, que não nos podem
arrebatar, que faz que a vida tenha sentido e propósito” (1982).
Convidado pela Sociedade de Medicina de Viena a fazer um discurso, em 25 de
março de 1949, em homenagem aos associados mortos, Frankl indaga sobre o homem:
“Quem é então o homem?
(...) Nós o conhecemos no campo de concentração, onde tudo o que não lhe
era essencial foi jogado fora... Sobrou o que ele não pode ‘ter’, mas o que ele deve
‘ser’. O que restou foi o próprio homem, em sua essência, queimado pela dor,
dissolvido pelo sofrimento – o elemento humano em sua quintessência” (Frankl, 1978).
OS CONCEITOS
http://psic-paulorech.livejournal.com/21260.html
O fato que Frankl chama a sua teoria de “logo”, ou terapia centrada no sentido,
propõe o quanto o ‘sentido’ tenha um caráter exponencial para Frankl. De fato, este é,
já, o primeiro indicativo do ‘eu’ em Frankl: o ‘eu’ frankleano não é movido pela busca
do prazer ou do poder, referindo-se às duas grandes correntes da sua época,
preconizadas por Freud e Adler. Hoje, no contexto das demais correntes
marcadamente existenciais, podemos completar que o ‘eu’, segundo Frankl, vive “a”
angustia de encontrar um sentido para a própria existência, enquanto que para os
demais, o homem vive a angustia do nada, do ‘não-ser’ ou a angustia do permanente
‘decidir’. Quis o destino que Frankl fizesse em primeira pessoa o que ele chamou de
“experimentum crucis”, ou seja, 3 longos anos prisioneiro em campos de
concentração, onde a finalidade dos algozes não era somente ganhar uma guerra, mas
sim destruir um grupo, uma raça e onde a existência passava a ser “um número”
(Frankl, "Em busca de sentido", Vozes).
Neste ponto cabe ressaltar que caíram muitos “determinismos”, não somente
os psíquicos, mas também os sociais e aparece com força a “vontade de sentido” como
coloca Frankl.
García Pintos, em sua descrição “10 teses sobre a Pessoa”, cita Frankl e coloca
apropriadamente que devemos estar atentos a “não cair em um reducionismo
espiritualista, tão negativo quanto o biologista ou o psicologista” e continua: “a
espiritualidade do homem não é somente uma sua característica, mas um constituinte:
o espiritual não é algo que somente caracteriza o homem, assim como o fazem o
biológico e o psíquico, que são também próprios do animal, mas o espiritual é algo que
distingue o homem, que corresponde a ele e antes de tudo a ele”. Frankl ressalta ainda
que no homem, o bio, o psico e o espiritual são dimensões e não extratos, ou seja,
existe uma continuidade, de maneira que o instinto é “espiritualizado”, ou ainda,
podemos acrescentar, “permeado do espírito”. Diferenciando dos demais seres, “o
homem tem instintos, o animal é os seus instintos". Ainda, considerando a realidade
psicofísica e espiritual do homem, podemos dizer que o “homem é (tal como é) graças
aos seus instintos, herança genética, do meio e, mais ainda, apesar de tudo isso”.
Consciente que as questões do sentido e dos valores estão entre os tópicos mais
polêmicos, cito uma experiência clínica freqüente, quando coloco a seguinte questão
para o cliente: busco que recorde, da sua memória, duas disciplinas do curso médio
que lhe eram uma, a mais fácil e agradável e outra, a mais difícil; supondo que tenham
sido História e Matemática, faço imaginar que ele, cliente, está em um período de
exames/testes e que recebe, neste momento, estas duas provas e em ambas a mesma
nota: 8,0! O momento seguinte é ‘clássico’: qual das duas notas lhe dá mais satisfação?
Bem, deveria deixar um momento para reflexão, mas antecipo que em grande parte –
não na totalidade e por isso cabe um esclarecimento – as respostas são que a nota 8,0
para a disciplina mais difícil tem mais ‘valor’! E por que teriam mais valor? Porque
significaram mais esforço e este esforço confere um ‘valor’, mesmo se a nota é a
mesma para ambas as disciplinas! Bom, esta resposta não é absoluta, pois algumas
pessoas não percebem em um primeiro momento esta questão do valor intrínseco no
esforço. Significa que não existe ‘valor’ no esforço? Eu não diria tanto, mas poderia
confirmar que os ‘valores’ sempre serão únicos e exclusivos de cada indivíduo.
Exemplificando ainda, chamo a atenção para as muitas situações de consultório, onde
encontramos filhos adolescentes que tiveram as suas dificuldades (crises e dificuldades
na escola, por exemplo) sempre resolvidas pelos pais. Que resultados nós
encontramos? Adolescentes com as necessidades materiais satisfeitas, mas que
buscam um algo, seja o próprio limite, seja o valor que lhe foi negado, por não realizar
o esforço que a vida lhe colocou.
Uma das contribuições mais significativas de Frankl tem a ver com a ‘estrutura’
do Eu e Frankl usa a proposta de Freud para introduzir um novo conceito de
‘inconsciente’, sem antes redimensionar também o EU ou o Ego. Segundo Frankl,
Freud faz com que o ID apareça como o verdadeiro EU, ou seja, ocorre uma
“Ideificação”, visto que o Ego é subjugado, e o Homem um ser fundamentalmente
‘impulsionado’; afirmando o Homem como um ser fundamentalmente livre, Frankl
afirma também que o Inconsciente contém em si um elemento ‘espiritual’, elemento
este que confere uma capacidade de auto-transcendência que lhe são específicas e
únicas.
- Entendo. O teu amor por ela justifica este sofrimento, que o somente o senhor pode
vivenciar e assim fazendo, o teu sofrimento é suficiente e necessário para que não seja
ela a pagar por isso.
Frankl, (Quadrante, 2003) em sua “imago hominis”, define o homem como “unidade
apesar da pluralidade: porque há uma unidade antropológica, apesar das diferenças
ontológicas”. Frankl propõe uma imagem de homem baseada em analogias
geométricas. “Trata-se de uma ontologia dimensional, caracterizada por duas leis:
O homem, portanto, como o entende Frankl, deve ser entendido como um ser
bio-psico-espiritual. Chegamos ao ponto, no entanto, de nos perguntarmos: o que
Frankl fala sobre e como define “espírito”?
(*No original consta: “Otro sinônimo de lo espiritual es “persona”, o que em tradução literal significa
que o Autor coloca “persona” como equivalente a “espiritual”, conforme a preferência de Frankl, citada
anteriormente. No português, porem, “espiritual” ficaria muito identificado com o adjetivo.)
Continuando:
______
“Prezado,
eis um artigo que toca numa ferida que conheço muito bem sua extenção e inflamação.
Por diversas razões, me considero um existencialista. E as razões para me considerar
um, foi justamente não me enquadrar entre entre aqueles que podem se libertar da
dependência química justamente resgatando ou adquirindo valores, buscando acalento,
força, mas principalmente algo com que pudesse dividir a responsabilidade e poder para
mudar sua situação. Um Deus, uma força maior a que se pode confiar ou mesmo se
entregar.
Entendo que um dia resolvi questionar se as sombras eram as verdades como todos a
tinham, ou se havia algo mais. (mito da Caverna). Mas o fato é que se questionei algo
até então inquestionável, principalmente no meio em que fui educado, é porque a dúvida
apenas anunciava minha descrença, e repudio ao temos ao Deus do Cristianismo.
Essa dúvida, antes me causavam angustias pelo fato do sentimento de culpa, enquanto
na mesma sociedade que éra proibido duvidar, as drogas não eram e até hoje não é
proibida aos jovens nessa cmesma sociedade. Além de prometer o paraíso, mas também
não se negar a dar provas de exisitencia deste.
Mas foi durante a faculdade que passei a embasar minhas opiniões e reconhecer minhas
tendencias ao ceticísmo, chegando há um ponto de dizer: "maldita dúvida que um dia
tive, mas melhor teria sido permancer apenas com ela. Agora vivo o inferno da
descrença, sem o direito de nem mesmo ser hipócrita ou tentar me enganar sobre Deus e
a fé.
Pois bem; em vários tratamentos e principalmente terapia de grupos que são tão
recomendadas, há uma necessidade vital para o sucesso que é crer num Deus.
Independente de como o compreendo. Mas não o compreendo! Pois não o reconheço.
E mesmo que tente o descobrir como algo em meu interior, ainda assim, temo
desmoralizar o pouco de valor que posso ter, a final, se ele está dentro de mim, onde
está seu poder já que reside tão próximo do que me aprisiona?”
“...buscando acalento, força, mas principalmente algo com que pudesse dividir a
responsabilidade e poder para mudar sua situação. Um Deus, uma força maior a que se
pode confiar ou mesmo se entregar.”
CONSIDERAÇÕES FINAIS