Viktor E. Frankl - O Sofrimento de Uma Vida Sem Sentido
Viktor E. Frankl - O Sofrimento de Uma Vida Sem Sentido
Viktor E. Frankl - O Sofrimento de Uma Vida Sem Sentido
No
fundo, é dominado por uma vontade de sentido. No entanto, hoje em dia essa vontade
de sentido en-contra-se em larga medida frustrada. São cada vez mais numerosos os
pacientes que recorrem a nós, os psiquiatras, acometidos de um sentimento de vazio.
Este sentimento de vazio tornou-se, em nossos dias, uma neurose de massa. Hoje
o homem não sofre mais tanto, como nos tempos de Freud, de uma frustração sexual,
mas sim de uma frustração existencial. E hoje não o angustia tanto, como na época de
Alfred Adler, um sentimento de inferioridade, senão, bem mais, um sentimento de
falta de sentido, acompanhado de um sentimento de vazio, de um vazio
existencial. Se me perguntais como explico a gênese desse sentimento de vazio, só
posso dizer que, ao contrário do animal, o homem não possui nenhum instinto que lhe
diga o que tem de ser, e, ao contrário do homem de tempos anteriores, não há mais
uma tradição que lhe diga o que deve ser -e, aparentemente, não sabe sequer o que
quer ser de verdade. Por conseguinte, ele só quer o que os outros fazem - e então nos
encontramos diante do conformismo -, ou só faz o que os outros querem dele - e
então nos encontramos diante do totalitarismo.
E, se não soar tão frívolo, diria que esse sentimento de vazio tem algo que ver com o
tema geral deste encontro, e com o fato de que justa-mente as três décadas de paz que
se tem concedido ao homem de hoje possibilitam-lhe o luxo de elevar-se acima da
luta pela sobrevivência, acima da mera subsistência, para perguntar-se pelo
‘para que’ da sobrevivência, pelo derradeiro sentido da existência.”
Sobrevivente de Theresienstadt, Auschwitz, Kaufering e Türkheim (estes últimos
dependentes do campo de Dachau), Viktor E. Frankl foi professor de neurologia e
psiquiatria na Universidade de Viena e fundador da Logoterapia e Análise
Existencial. Vinte e nove universidades da Europa, das Américas do Norte e do Sul,
da África e da Ásia lhe outorgaram o título de doutor honoris causa. Escreveu trinta
e nove livros, traduzidos para vinte e sete idiomas, entre eles Em Busca de Sentido,
que descreve a vida de um prisioneiro num campo de concentração, e O que não
está escrito nos meus livros, no qual narra suas memórias e reflexões pessoais.
Editor
Reservados todos os direitos desta obra. Proibida toda e qualquer reprodução desta
edição por qualquer meio ou forma, seja ela eletrônica ou mecânica,
fotocópia, gravação ou qualquer outro meio de reprodução, sem permissão expressa
do editor.
F915s
Franld, Viktor E. (Viktor Emil), 1905-1997 O sofrimento de uma vida sem sentido :
caminhos para encontrar a razão de viver / Viktor Frankl; tradução Karleno Bocarro.
- 1. ed. - São Paulo : É Realizações, 2015.
Tradução de: Das leiden am sinnlosen leben Inclui bibliografia e índice ISBN 978-
85-8033-209-4
15-25038
27/07/2015 28/07/2015
É Realizações Editora, Livraria e Distribuidora Ltda.
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Este livro foi reimpresso pela Paym Gráfica e Editora em setembro de 2016. Os
tipos são da família Minion Pro e DIN Std. O papel do miolo é o Lux Cream 80 g, e
o da capa, cartão Ningbo Gloss 300g.
VIKTOR E. FRANKL
O SOFRIMENTO DE UMA
VIDA SEM SENTIDO
Tradução
Karleno Bocarro
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SUMÁRIO
Introdução
Freud, Adler e Jung
A intenção paradoxal
A vontade de sentido
A frustração existencial
0 sentido do sofrimento
Pastoral médica
Logoterapia e religião1
A crítica do psicologismo dinâmico
0 que diz o psiquiatra a respeito da literatura moderna?1
Bibliografia de Viktor E. Frankl
índice analítico
Introdução
O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO1
Cada época tem suas neuroses e cada tempo precisa de sua psicoterapia.
De fato, hoje não nos defrontamos mais, como nos tempos de Freud, com uma
frustração sexual, mas, sim, com uma frustração existencial. E o paciente típico de
nossos dias não sofre tanto, como nos tempos de Adler, de um sentimento de
inferioridade, mas de um sentimento abismai de falta de sentido, que está associado
a um sentimento de vazio interior, razão pela qual tendo a falar de um vazio
existencial.
até o momento devo ter proferido 129 conferências somente nos Estados Unidos, o
que me ofereceu ocasião propícia para entrar em contato com os estudantes -
corrobora que as partes da citada carta são representativas, à medida que refletem o
estado de ânimo e o sentimento de vida predominantes na juventude acadêmica atual.
No entanto, não somente entre os jovens. A respeito da geração dos adultos, limitar-
me-ei a apontar o resultado das pesquisas levadas a cabo por Rolf von Eckartsberg
junto aos alunos formados da Universidade Harvard: vinte anos após a conclusão de
sua graduação, uma porcentagem considerável desses estudantes -que, entrementes,
tinham feito carreira em suas respectivas áreas e, além disso, aparentemente levavam
uma vida digna e feliz - queixavam-se de um sentimento abismai e definitivo de
ausência de sentido.
INTRODUÇÃO 11
Quando me perguntam como explicar o advento desse vazio existencial, cuido então
de oferecer a seguinte fórmula abreviada: em contraposição ao animal, os instintos
não dizem ao homem o que ele tem de fazer e, diferentemente do homem do passado,
o homem de hoje não tem mais a tradição que lhe diga o que deve fazer. Não sabendo
o que tem e tampouco o que deve fazer, muitas vezes já não sabe mais o que, no
fundo, quer. Assim, só quer o que os outros fazem - conformismo! Ou só faz o que os
outros querem que faça - totalitarismo.2
Por fim, Elisabeth Lukas desenvolveu um novo teste que permite um diagnóstico
mais exato da frustração existencial, que compreende também o propósito de obter
possibilidades de intervenção tanto terapêutica como pro-filática: o “Logo-Test”.4
INTRODUÇÃO 13
Não acontece o mesmo com o homem? Tomemo-lo pura e simplesmente como ele é,
torná-lo-emos consequentemente pior. Tomemo-lo como deve ser, e convertê-lo-
emos no que ele pode tornar-se. Mas isso não me foi dito pelo meu instrutor de voo.
Essa é uma sentença de Goethe.
Isso nos mostra, aliás, que é perfeitamente possível provar, de uma perspectiva
meramente empírica, o conceito de vontade de sentido. Limitar-me-ei aqui a referir-
me ao trabalho de Crumbaugh e Maholick5 bem como ao de Elisabeth S. Lukas, que
desenvolveu testes cuidadosamente elaborados a fim de quantificar a vontade de
sentido. Ademais, existem dezenas de dissertações, principalmente com auxílio
desses testes, que podem validar a teoria da motivação da logoterapia.
Não é possível aqui, dentro do tempo disponível, uma análise de todos esses
estudos. Não posso, contudo, privar-me de trazer ao debate os resultados de
pesquisas concluídas por aqueles que não são alunos meus. Quem poderia,
portanto, duvidar da vontade de sentido - note-se bem: nada mais, nada menos do
que a motivação especificamente humana - ao ter em mãos o relatório do
American Council on Education, segundo o qual o interesse primário de 73,7% de
189.733 estudantes de 360 universidades reside em “conseguir uma concepção de
mundo a partir da qual a vida encontra um sentido”? Ou consideremos o relatório do
National Institute of Mental Health: entre 7.948 estudantes de escolas superiores,
o grupo dos melhores (78%) queria “encontrar um sentido em suas vidas”.
INTRODUÇÃO 15
Por outro lado, a questão do sentido da vida evoca não só a frustração das
necessidades inferiores, mas também, evidentemente, a satisfação das necessidades
inferiores, no âmbito, por exemplo, da “affluent society” (ver p. 28). Claro que não
estaremos em erro se dissermos que nessa aparente contradição avistamos uma
confirmação de nossa hipótese, segundo a qual a vontade de sentido é uma motivação
sui generis, que não pode reduzir-se a outras necessidades nem pode deduzir-se
delas (conforme empiricamente demonstrado por Crumbaugh e Maholick e também
por Kratochvil e Planova).
Deparamo-nos aqui com um fenômeno humano que considero fundamen-taldo ponto
de vista antropológico: a autotranscendência da existência humana! O que pretendo
descrever com isso é o fato de que o ser humano sempre aponta para algo além de si
mesmo, para algo que não é ele mesmo - para algo ou para alguém: para um sentido
que se deve cumprir, ou para um outro ser humano, a cujo encontro nos dirigimos
com amor. Em serviço a uma causa ou no amor a uma pessoa, realiza-se o homem a
si mesmo. Quanto mais se absorve em sua tarefa, quanto mais se entrega à pessoa
que ama, tanto mais ele é homem e tanto mais é si mesmo. Por conseguinte, só pode
realizar a si mesmo à medida que se esquece de si mesmo, que não repara em si
mesmo. Não é isso que acontece com o olho, cuja capacidade ótica depende de que
não veja a si mesmo? Quando o
olho vê algo de si mesmo? Somente quando está doente: por exemplo, quando sofro
de uma catarata, então vejo uma nuvem - e com isso percebo a turbidez do cristalino.
E quando padeço de um glaucoma, vejo então um halo de cores do arco-íris em torno
das fontes de luz - que é, por sua vez, o glaucoma. No entanto, na mesma proporção,
essa percepção afeta e míngua a capacidade do meu olho de perceber o ambiente ao
meu redor.
Aqui devemos falar, porém, dos resultados parciais (de um total de noventa) de uma
pesquisa empírica feita pela Sra. Lukas. Esta revela que, entre os visitantes do
célebre Wiener Prater (um grande parque público de Viena), um lugar de diversão, o
nível objetivo de frustração existencial era significativamente superior à média do
nível da população vienense (o qual, por seu turno, revelava valores sensivelmente
iguais àqueles medidos e publicados por autores americanos e japoneses). Em outros
termos, a pessoa que se dedica especialmente ao prazer e às diversões é aquela que,
em relação à sua vontade de sentido, ao fim, se mostra frustrada ou - para usar
novamente as palavras de Maslow - presa ao seu desejo primário.
Isso me faz lembrar uma anedota americana a respeito de um homem que se encontra
na rua com seu médico particular, o qual lhe pergunta pelo seu estado de saúde.
Durante a conversa, o paciente confessa que vem sofrendo ultimamente de uma certa
surdez. “É provável que o senhor esteja bebendo muito”, adverte-o o médico. Alguns
meses mais tarde, voltam a encontrar-se na rua, e novamente o médico toma interesse
pela saúde de seu paciente, elevando a voz para se fazer ouvir. “Oh”, diz este então.
“O senhor não precisa falar tão alto! Voltei a ouvir muito bem”. “Certamente o
senhor parou de beber”, retruca o médico. “Isso é perfeitamente correto, continue
assim”. Alguns outros meses mais tarde: “Como vai o senhor?” “O que disse?”
“Perguntei como vai o senhor”. Finalmente o paciente entende. “Bem, como o senhor
percebe, minha audição piorou”. “É provável que o senhor tenha voltado a beber”. O
paciente então explica toda a conversa: “Veja o senhor: antes eu bebia e ouvia mal.
Depois, deixei de beber e estava ouvindo melhor. No entanto, o que eu ouvia não era
tão bom como o uísque”. Podemos, pois, dizer o seguinte: na ausência de um sentido
de vida, cuja realização o teria tornado feliz, ele procurou alcançar a felicidade
evitando toda realização de sentido, apoiando-se
INTRODUÇÃO 17
Nesse contexto, cabe finalmente citar Black e Gregson, estudiosos da Nova Zelândia.
Segundo eles, os criminosos apresentam um grau de frustração existencial
substancialmente superior à média da população. Casa-se bem com isso o trabalho
realizado por Barber entre jovens criminosos levados a seu centro de reabilitação
californiano e tratados com o método da logoterapia: reduziu-se aí o índice de
reincidência de 40% para 17%.
Ódio e amor são fenômenos humanos porque são intencionais, porque o homem tem
sempre motivos para odiar algo e para amar a alguém. Trata-se sempre de um motivo
sobre o qual ele atua, e não de uma causa (psicológica ou biológica) que, “às suas
costas” e “sobre sua cabeça”, tenha como conseqüência a agressividade e a
sexualidade (encontramo-nos diante de uma causa biológica no experimento de W. R.
Hess, no âmbito do qual se conseguiu provocar acessos de cólera em um gato -por
meio de eletrodos colocados na região subcortical de seu cérebro).
INTRODUÇÃO 19
Além disso, a socióloga Carolyn Wood Sherif relatou que é falsa a noção popular de
que as competições esportivas sejam um substituto, sem derramamento de sangue, da
guerra: três grupos de jovens, colocados num acampamento isolado, tinham
fortalecido, e não mitigado, as agressões de uns contra os outros em competições
esportivas. Mas o inesperado veio depois: uma única vez deixaram de lado suas
mútuas agressões, como se tivessem sido levadas para longe. Foi quando tiveram de
mobilizar-se para tirar de um atoleiro um dos carros encarregados de levar víveres
ao acampamento; essa “entrega a uma tarefa”, desgastante porém sensata,
literalmente os fez “esquecer” suas agressões.
Aqui vejo uma indicação frutífera para uma investigação da paz muito mais
apropriada do que as intermináveis ruminações de discursos sobre os potenciais
agressivos, conceito com o qual se faz crer aos homens que a violência e a guerra
sejam partes de seu destino.
Esse tema já foi por mim analisado em outro lugar.6 Contentar-me-ei então de indicá-
lo e ceder a palavra a Robert Jay Lifton - um especialista internacional na área - que
em seu livro History and Human Survival escreveu o seguinte: “Os homens são
propensos a matar, sobretudo quando se encontram em um vazio de sentido”. De fato,
os impulsos agressivos parecem proliferar, principalmente, ali onde se faz presente o
vazio existencial.
Esse perigo se mostra maior quando a sexualidade prolifera em larga escala no vazio
existencial. Confrontamo-nos hoje em dia com uma inflação sexual que, como toda
inflação - a do mercado monetário, por exemplo - anda lado a lado
INTRODUÇÃO 21
Seria inclusive do mais intrínseco interesse daqueles aos quais não resta outra coisa
senão o prazer e o gozo sexual se estes se preocupassem em colocar seus contatos
sexuais num nível de relação com o parceiro para além do simples sexo, elevando-
os, portanto, a um nível humano. De fato, a sexualidade tem nesta dimensão humana
uma função de expressão: na dimensão humana ela se torna a expressão de uma
relação de amor, de uma “Fleischwerdung” - uma encarnação -, de algo como amar
ou estar amando. Que a sexualidade só pode ser feliz sob essas condições revela um
estudo recentemente realizado pela revista americana Psychology Today: das vinte
mil respostas à pergunta sobre aquilo que mais estimulava a potência e o orgasmo,
concluiu-se que o estímulo de maior confiança era o romantismo, ou seja, estar
apaixonado pelo parceiro: portanto, o amor a ele.
INTRODUÇÃO 23
uma provisão de libido insatisfeita”. Pessoalmente, não posso acreditar nisso. Julgo
que não só é algo especificamente humano perguntar-se pelo sentido da vida, senão
que é também próprio do homem colocar esse sentido em questão. É um privilégio
particularmente dos jovens dar provas de seu amadurecimento ao considerar em
primeiro lugar o sentido da vida e, deste privilégio, fazer bastante uso (ver nota na p.
11).
Einstein afirmou uma vez que quem sente que sua vida não tem sentido, não apenas é
infeliz senão também pouco capaz de viver. De fato, pertence à vontade de sentido
algo daquilo que a psicologia americana qualifica como “survival value". Não foi
essa, afinal de contas, a lição que pude levar comigo de Auschwitz e Dachau: que os
que se mostraram mais aptos a sobreviver, ainda mais em tais situações limites,
foram aqueles que, reafirmo, estavam orientados para o futuro, para uma tarefa que
os esperava mais adiante, para um sentido que desejavam realizar. E os psiquiatras
americanos puderam confirmar mais tarde esta experiência com os campos de
prisioneiros de guerra japoneses, norte-vietnamitas e norte-corea-nos. Agora, o que
vale para os indivíduos não pode valer igualmente para a humanidade inteira? E não
deveríamos também, no âmbito da denominada investigação da paz, colocar a
questão de que talvez a única oportunidade de sobrevivência da humanidade se
encontre numa vontade geral para com um sentido coletivo?
Essa questão não pode ser resolvida somente por nós psiquiatras. Ela deve manter-
se aberta, ou ao menos precisa ser levantada. E ser levantada, como já dissemos, no
plano humano, o único no qual podemos encontrar a vontade de sentido e sua
frustração. E isso vale também para a patologia do espírito da época, assim como a
conhecemos pela teoria das neuroses e da psicoterapia do indivíduo: precisamos,
contra as tendências despersonalizantes e desumanizantes, que por toda parte se
ampliam, de uma psicoterapia reumanizada.
O que dissemos anteriormente? Cada época tem suas neuroses, e cada época precisa
de sua psicoterapia. Agora sabemos mais: somente a psicoterapia reumanizada pode
compreender os sintomas da época - e reagir às necessidades de nosso tempo.
O sentido não pode ser dado; antes, tem de ser encontrado. E esse processo de
encontro do sentido tem como finalidade a percepção de uma Gestalt, uma figura. Os
fundadores da psicologia da Gestalt, Lewin e Wertheimer, já falavam de um caráter
de exigência, que vem ao nosso encontro em cada uma das situações com as quais
confrontamos a realidade. Wertheimer chegou ao ponto de atribuir a cada exigência
(“requiredness”), implicada em cada situação, uma qualidade objetiva (“objective
quality”). A propósito, diz também Adorno: “O conceito de sentido envolve a
objetividade além de todo agir”.
O sentido deve ser encontrado, mas não pode ser produzido. O que se deixa
produzir é um sentido subjetivo, um mero sentimento de sentido, ou de absoluta falta
de sentido. E isso é naturalmente compreensível se pensarmos que o homem, que não
é mais capaz de encontrar um sentido em sua vida, nem tampouco de inventá-lo, a
fim de evadir-se do sentimento de vazio, de absurdo ou de falta de
INTRODUÇÃO 25
sentido cada vez mais difuso, crie arbitrariamente sentidos subjetivos ou contras-
sentidos: enquanto aquele acontece num palco - teatro do absurdo! este se dá na
embriaguez, no êxtase, especialmente naquele estimulado pelo LSD. No
entanto, nessa embriaguez corre-se o risco de passar longe do verdadeiro sentido, da
missão autêntica que nos espera lá fora, no mundo (em contraposição às vivências
de sentido meramente subjetivas, em si mesmas). Isso me faz lembrar os animais de
laboratório que tiveram eletrodos plantados em seu hipotálamo por pesquisadores
californianos. Sempre que a corrente era conectada, os animais experimentavam um
sensação de contentamento, quer de impulso sexual, quer de impulso ao alimento.
Por fim, eles próprios aprenderam a conectar a corrente, ignorando, contudo, o
parceiro sexual e o alimento verdadeiro que lhes eram oferecidos.
O sentido não só deve, mas pode ser encontrado, e a consciência conduz o homem
em sua busca. Em síntese, a consciência é um órgão do sentido. Podemos defini-la,
então, como a capacidade intuitiva de descobrir o rastro do sentido -único e singular
- escondido em cada situação.
Cada dia, cada hora, atende, pois, com um novo sentido, e a cada homem espera um
sentido distinto. Existe, portanto, um sentido para cada um, e para cada um existe um
sentido especial.
De tudo isso resulta o fato de que o sentido, de que aqui se trata, deve mudar de
situação para situação e de pessoa para pessoa. Ele é, contudo, onipresente. Não há
nenhuma situação na qual a vida cesse de oferecer uma possibilidade de sentido,
INTRODUÇÃO 27
e não há nenhuma pessoa para quem a vida não coloque à disposição um dever. A
possibilidade de realização de um sentido é, em cada caso, única, e a personalidade
que pode realizar-se é igualmente singular em cada caso. Na literatura logote-
rapêutica encontram-se os trabalhos publicados de Casciani, Crumbaugh,
Dansart, Durlak, Kratochvil, Lukas, Mason, Meier, Murphy, Planova, Popielski,
Richmond, Ruch, Sallee, Smith, Yarnell e Young, dos quais se conclui que a
possibilidade de se encontrar um sentido na vida é independente do sexo, do
coeficiente de inteligência, do nível de formação; é independente de sermos
religiosos ou não,7 e, se somos religiosos, de que professemos esta ou aquela
confissão. Por fim, demonstrou-se que a descoberta de um sentido é independente do
caráter e do ambiente.
Nenhum psiquiatra, nenhum psicoterapeuta - também nenhum logotera-peuta - pode
dizer a um paciente qual é o sentido; contudo, pode muito bem afirmar que a vida tem
um sentido. Sim, e mais: que este se conserva, sob quaisquer condições e
circunstâncias, graças à possibilidade de encontrar um sentido também no
sofrimento. Uma análise fenomenológica da vivência imediata, autêntica, tal como
podemos experimentar no despretensioso e simples “homem da rua”, e que precisa
apenas ser traduzida para uma terminologia científica, propriamente revelaria que o
homem não só - em virtude de sua vontade de sentido - procura um sentido, senão
que igualmente o encontra, por três caminhos. Em primeiro lugar, vê um sentido no
que faz ou cria. A par disso, descobre um sentido nas experiências que vive ou em
amar alguém. Mas também descobre, eventualmente, um sentido em uma situação
desesperadora com a qual, desamparado, se defronta. O que realmente conta é a
firmeza e a atitude com que ele vai ao encontro de um destino inevitável e
irrevogável. Somente a firmeza e a atitude permitem que o homem dê testemunho de
algo daquilo que só ele é capaz: transformar e remodelar o sofrimento no nível
humano para torná-lo uma realização. Um estudante de medicina dos Estados Unidos
me escreveu:
Não há nenhuma situação de vida que seja realmente sem sentido. Isso ocorre porque
os aspectos aparentemente negativos da existência humana, especialmente aquela
tríade trágica na qual convergem o sofrimento, a culpa e a morte também podem
plasmar-se em algo positivo, numa realização. Mas, é claro, mediante uma atitude e
firmeza adequadas.
E ainda há um vazio existencial. E isso no meio de uma “affluent society”, que não
deveria deixar insatisfeita nenhuma das necessidades que Maslow denominou
fundamentais. Isso se deve ao fato de que essa sociedade só satisfaz necessidades,
mas não a vontade de sentido. “Tenho 22 anos”, escreveu-me certa vez um estudante
americano. “Tenho uma formação universitária, tenho um carro de luxo, usufruo de
uma completa independência financeira e tenho à minha disposição mais sexo e
prestígio do que sou capaz de suportar. Mas o que me pergunto é qual o sentido de
tudo isso.”
A sociedade do bem-estar traz consigo uma profusão de tempo livre que oferece, é
verdade, ocasião para se configurar uma vida plena de sentido, mas que, na
realidade, não faz senão aflorar o vazio existencial, tal como podem observar os
psiquiatras nos casos da chamada “neurose dominical”. E esta, ao que
parece, encontra-se a aumentar. Quanto a isso, enquanto o Institut für Demoskopie
de Allensbach, em 1952, comprovava que a quantidade de pessoas que
considerava o domingo um dia demasiadamente longo perfazia os 26%, hoje a cifra
chega aos 37%. E torna compreensível o que afirma Jerry Mandei:
INTRODUÇÃO 29
de um sofrimento com que não se pode acabar. Como médico, penso naturalmente
nas doenças incuráveis, em carcinomas que não se podem mais operar.
E então perguntaram a Yehuda Bacon que sentido poderiam ter os anos em que
passara em Auschwitz:
vW!
1
Viktor E. Frankl, “Zur Validierung der Logotherapie”. In: Der Wille zum Sirm. Berna,
Hans Huber, 1972 [Edição brasileira: Viktor E. Frankl, A Vontade de Sentido. Trad.
Ivo Studart Pereira. São Paulo, Paulus, 2011.]
Algo de que não precisamos admirarmo-nos, visto que consideramos que alguém,
tenha consciência religiosa ou não, pode muito bem ser religioso de maneira
inconsciente, ainda que o seja no sentido lato do termo, tal como o foram, por
exemplo, Albert Einstein, Paul Tillich e Ludwig Wittgenstein (ver p. 88-89).
Freud, Adler e Jung
Defrontar-se com o dever de falar da contribuição da psicoterapia à imagem do
homem de hoje significa defrontar-se com uma escolha; a saber, a escolha de
proceder principalmente de maneira histórica ou então principalmente de maneira
sistemática. E essa escolha significa uma tortura, porque no caso concreto da
maneira sistemática, teríamos de desenvolver uma polissistemática; pois, para o
atual estado do conhecimento e método psicoterapêuticos, vale uma variante da
sentença, que soaria assim: Quot capita tot systemata. Em outras palavras,
seria algo ilimitado pretender aqui analisar também os mais importantes e
correntes sistemas psicoterapêuticos. A não ser que intentasse exigir de meu público
uma paciência sobre-humana. Sim, mais do que isso: teria de presumir uma
apreciação insuficiente sobre o conhecimento da psicoterapia que já tem. Diante
desse dilema, decidi-me a abordar o tema não de modo histórico ou sistemático,
mas criticamente. Mas também, a respeito disso, dá-se que nem podemos limitar-
nos a um só dos grandes sistemas, nem tampouco estender-nos ao conteúdo geral
de cada um deles. O que somente interessa, portanto, é destacar um
denominador comum, isto é, no sentido concreto de sublinhar a fonte de perigos e
erros inerentes a todos os sistemas.
É-nos evidente que Freud foi “o” pioneiro puro e simples no campo da psicoterapia
e “o” gênio no que diz respeito à sua própria personalidade. Se de repente -se assim
posso expressar-me - me fosse exigido fazer um esboço dos ensinamentos de Freud,
eu diria que foi mérito seu haver colocado a questão do sentido, conquanto lhe desse
um significado diferente do nosso ou mesmo não lhe desse nenhuma resposta. À
medida que o fez, essa questão foi colocada no âmbito do espírito de seu tempo, isto
é, em um duplo aspecto: primeiro no aspecto material, uma vez que Freud
encontrava-se preso ao espírito da chamada cultura de veludo vitoriana - pu-dica de
um lado, lasciva, de outro -, e segundo, no aspecto formal, uma vez que
suas concepções tinham como base um modelo mecânico que não era de nenhum
modo o mais eficaz só porque se chamava (eufemisticamente) “dinâmico”.
Em especial, Freud se empenhou em interpretar o sentido dos sintomas neuróticos, o
que o levou a avançar sobre a vida inconsciente da alma, descobrindo assim, nem
mais nem menos, toda uma dimensão do ser psíquico. Mais tarde, no âmbito do
“inconsciente”, conseguimos ver e reconhecer algo mais do que meros instintos e
inconsciente instintivo, tendo conseguido comprovar a existência de algo assim como
um inconsciente espiritual, uma espiritualidade inconsciente e até uma fé
inconsciente;1 tudo isso faz parte de uma outra página e não restringe o mérito
histórico que observamos na obra e no pensamento de Freud.
Para Freud, o sentido dos sintomas neuróticos era inconsciente não apenas na
acepção de “esquecido”, mas também na acepção de “reprimido”. Quer
dizer, tratava-se de um sentido que fora empurrado para o inconsciente. Isso porque
tudo que se tornara inconsciente ou se fizera inconsciente era algo desagradável. No
entanto, os conteúdos respectivos da consciência eram desagradáveis segundo o
sistema de coordenadas daquela cultura vitoriana de veludo, de que se falou há
pouco.
' Viktor E. Frankl, A Presença Ignorada de Deus. Trad. Walter O. Schlupp e Helga
H. Reinhold. São Leopoldo, Sinodal / Petrópolis, Vozes, 2008.
isso serve o aparato anímico”.1 “As tendências principais admitidas por Freud estão
pensadas em termos homeostáticos. Quer dizer, Freud explica toda ação
como colocada a serviço do restabelecimento do equilíbrio perturbado. Todavia,
essa hipótese, vinda da física de seu tempo, e segundo a qual a distensão seria a
única tendência básica primária do ser vivo, está completamente errada. O
crescimento e a reprodução são processos que resistem à explicação através e tão
somente do princípio homeostático”.2 Portanto, nem sequer no âmbito da dimensão
biológica se faz valer o princípio homeostático, para não falar do âmbito
psicológico-noo-lógico: “Aquele que cria”, por exemplo, “coloca seu produto e sua
obra em uma realidade positivamente concebida, enquanto a aspiração ao equilíbrio
daquilo que se acomoda à realidade é concebida negativamente”.3 Gordon W.
Allport também assume uma posição crítica em relação ao princípio da homeostase:
Isso pode ser bastante correto quando temos de lidar com a natureza da
aspiração especificamente humana, cuja característica própria é justamente a
de não se encontrar, de modo algum, vocacionada ao equilíbrio ou à redução das
tensões - pelo contrário; é vocacionada à manutenção das tensões.
Alfred Adler, em contraposição a Sigmund Freud, vai muito além do psicológico,
uma vez que recorre, em primeiro lugar, ao biológico sob forma de “inferioridade
orgânica”. Esta, como fato somático, conduz ao “sentimento de inferioridade” como
reação psíquica - não só em relação a uma inferioridade orgânica,
37
39
A logoterapia
Há agora uma psicoterapia que reconhece, de antemão, que - abstraindo das neuroses
principalmente noogênicas - atua não de modo causai, senão no sentido de uma
terapia inespecífica. E dela, isto é, da logoterapia, diz Edith Joelson da University of
Geórgia em “Some Comments on a Viennese School of Psychiatry”:8
Com efeito, é possível que a teoria psicodinâmica das neuroses esteja certa
quando afirma que na gênese de toda neurose participam de maneira decisiva, na
primeira infância, os conflitos instintivos. No entanto, pouco se alcança -
especialmente em pacientes adultos - se não se leva em conta uma reorientação
para valores e sentido, essenciais ao processo terapêutico.
Uma psicoterapia não psicanalítica também tem êxitos dignos de nota. Isso vale, em
especial, para a escola behaviorista e reflexológica. Evidentemente, tais êxitos
podem ser potencializados, tão logo se arrisque a ascender à dimensão propriamente
humana. N. Petrilowitsch nos revela o que se pode conseguir com esse fator
adicional, quando afirma que, ao contrário das outras psicotera-pias, a logoterapia
não permanece na esfera da neurose, senão que a ultrapassa e encontra a dimensão
dos fenômenos especificamente humanos.10 De fato, a psicanálise, por exemplo, vê
na neurose o resultado de processos psicodinâmicos e tenta, em conformidade com
isso, tratá-la de modo que promova novos processos psicodinâmicos, como acontece
com a transferência. A terapia do comportamento - uma teoria fundamentada na
aprendizagem por seu turno, vê na neurose o produto de processos de aprendizagem
ou conditioning processes e se esforça, consequentemente, em influenciar a neurose
de modo que a encaminhe para uma espécie de reaprendizado ou reconditioning
processes. Em contrapartida, a logoterapia ascende à dimensão humana, tornando-se,
dessa maneira, capaz de acolher em seu instrumental os fenômenos especificamente
humanos que nela se encontram.
2. A LOGOTERAPIA 45
De maneira análoga se expressa, por fim, A. Maeder, quando evoca e adverte por
meio da fórmula: “Não há nenhum esquema como este: primeiro a análise, depois a
síntese”. “Parece-me algo além de qualquer evidência o fato de que tenho de entrar
em casa todas as vezes pelo porão e, todas as vezes, trilhá-lo e começar qualquer
reparo a partir de baixo.”11 Lembremo-nos, contudo, nesse contexto, que foi o
próprio Freud aquele que assim compreendeu a psicanálise: “Eu sempre me detive
no rés do chão ou no subsolo do edifício”, escreveu ele a Ludwig Binswanger.
Os dois exemplos que seguem pretendem esclarecer como não é indispensável que a
análise existencial logoterapêutica seja precedida de uma psicanálise: Desde os
treze anos, Judith K. padecia de uma agorafobia aguda. Já havia sido tratada por
colegas especialistas proeminentes, submetida uma vez à hipnose,
Esse caso nos faz lembrar de outra paciente, a Sra. Hede R., que durante catorze
anos padeceu de uma grave neurose obsessiva. A fim de certificar-se de que tinha
realmente fechado as gavetas de sua mesa, ela se via obrigada a batê-las num ritmo
determinado. A repetição do ato, induzido pelo controle constante e pela dúvida de
se as gavetas estavam bem fechadas, chegou a ferir o nó dos dedos da paciente e a
quebrar a fechadura. Ela foi então internada e entregue aos cuidados da Dra.
Kozdera com o objetivo de ser tratada pela logoterapia. Dois dias depois do início
do tratamento, obteve melhoras tão significativas que se livrou da obsessão
controladora. É de assinalar que somente após esse efeito terapêutico notável é que
teve lugar uma conversa com a paciente na qual veio à tona o seguinte: quando tinha
cinco anos, seu irmão quebrou sua boneca preferida, e desde então adquiriu o hábito
de engavetar seus brinquedos. Quando tinha dezesseis anos, percebeu que a irmã
vestia suas roupas às escondidas, o que em seguida a levou a trancá-las. Isso
demonstra que, mesmo se esse trauma psíquico, infantil ou pu-bescente tivesse sido
realmente patogênico, sua manifestação, compreendida no sentido da psicoterapia
analítica, teria somente um êxito enganoso, obtido, na realidade, por outros
caminhos.
2. A LOGOTERAPIA 47
existência pessoal e espiritual do ser humano. E não seria correto, como acontece
frequentemente, se quiséssemos localizar única e exclusivamente as fontes de
perturbação no psíquico. Isso eqüivaleria a um erro de localização, tendo em vista
que não só o psíquico pode ser patogênico, mas também o somático e o noético. A
psicanálise pode cometer a falta de dupla unilateralidade em relação ao etiológico,
ou seja, seu campo de visão pode ser estreitado por dois antolhos. No entanto,
estes dois antolhos não se encontram à direita e à esquerda, senão em cima e
embaixo: de um lado, a psicanálise, ao fixar-se no psicogênico, descura do
somatogênico; do outro, da noogênese das doenças neuróticas.
disso, que seria irremediável. Na realidade, como a nós ficou evidente em pouco
tempo, tratava-se não de uma neurose psicogênica, mas de uma
pseudoneurose. Realmente, algumas poucas injeções de diidro-ergotamina foram
suficientes para a paciente se ver inteiramente livre do problema, de modo que,
depois de sua recuperação médica, também cessou, sob todas as formas possíveis, o
conflito matrimonial. É incontestável que esse conflito existia, mas não era do tipo
patogênico e, consequentemente, tampouco era psicogênica a doença de nossa
paciente. Se todo conflito matrimonial fosse patogênico, então provavelmente 90%
dos casados seriam neuróticos.
2. A LOGOTERAPIA 49
Assim como o neurótico fóbico reage aos seus ataques de medo com medo ao medo,
também o neurótico obsessivo reage a seus ataques obsessivos com medo à
obsessão, e apenas a partir dessa reação é que surge a neurose propriamente
obsessiva e clinicamente manifesta. É precisamente por temer seus ataques
obsessivos que os pacientes afetados veem neles indícios ou sintomas de uma
psicose, ou então receiam converter em ato seus impulsos obsessivos. Entretanto, ao
contrário do tipo neurótico fóbico, que por receio ao medo se põe a fugir do medo, o
tipo neurótico obsessivo reage de modo que, por receio à obsessão, começa uma
luta contra a obsessão. Enquanto o neurótico fóbico foge do medo, o neurótico
obsessivo corre de encontro à obsessão - e, em numerosos casos de neurose
obsessiva, é precisamente esse mecanismo o patogênico propriamente dito.
que por alguma razão se sente inseguro de sua sexualidade e, em conseqüência dessa
insegurança, reage de maneira que ou intenciona forçar o prazer sexual ou intenciona
refletir ao extremo o ato sexual. No primeiro caso, ele faz do ato um programa; mas
o prazer não pode intencionar como fim último em si mesmo, senão que se realiza,
propriamente falando, no sentido de um efeito, de modo espontâneo, justamente
quando não é perseguido. Pelo contrário, quando mais se busca o prazer, tanto mais
ele foge.
E como dissemos há pouco: o medo já realiza aquilo que teme. Então podemos dizer
doravante: o desejo demasiadamente intenso já impossibilita o que tanto deseja.
De tudo isso tira proveito a logoterapia à medida que orienta o paciente a enfrentar-
se, ainda que por algumas frações de segundo, justamente com aquilo que tanto teme
- portanto, a desejá-lo paradoxalmente, ou a aceitá-lo antecipadamente, conseguindo
assim tirar da ansiedade antecipatória ao menos o vento que sopra sua vela.
Sigmund Freud, Gesammelte Werke. Frankfurt, S. Fischer, vol. XI, 1940 p. 370.
Ibidem.
Ibidem, p. 36.
6
10
11
Dois dias após ter lido o seu livro. Em Busca de Sentido,5 encontrei-me em uma
situação que me proporcionou a oportunidade de pôr à prova, pela primeira vez,
a logoterapia. Participei na universidade de um seminário sobre Martin Buber, e
durante o primeiro encontro não tive papas na língua
3. A INTENÇÃO PARADOXAL 53
mais tempo”. Ela: “Eu não sabia que o senhor também sofria de tremores”. Eu:
“Não, não - de modo algum! Mas se eu quiser, também posso tremer”. (E
comecei - e com que intensidade.) E ela: “Oh, o senhor consegue tremer mais
rápido do que eu”. (E, sorrindo, começou a apressar o seu tremor.) Eu: “Mais
rápido, vamos, senhora N.! A senhora tem de tremer mais rápido”. Ela: “Mas eu
não posso mais, pare! Já não consigo mais continuar”. E estava realmente
cansada. Levantou-se, foi até a cozinha e voltou com uma xícara de café. Tomou
o café sem derramar uma gota. Quando, desde então, eu a surpreendia
tremendo, bastava dizer: “Pois bem, senhora N., que tal uma competição de
treme-treme?”. E ela respondia: “Está certo, está certo.” E isso tem ajudado
todas as vezes.
Sadiq, que já citamos aqui, tratou, certa vez, de uma paciente de 54 anos, que caíra
no vício em soníferos e fora internada em um hospital.
Às dez da noite, saiu de seu quarto e me pediu um sonífero. Ela: “Posso pedir
uma pílula para dormir?”. Eu: “Sinto muito, acabaram por hoje e a enfermeira
se esqueceu de fazer a tempo um novo pedido”. Ela: “Como vou agora poder
dormir?” E eu: “Para esta noite, terá de ser sem soníferos”.
Duas horas mais tarde, reaparece. Ela: “Simplesmente não dá”. Eu: “E que tal
se a senhora voltasse a deitar-se e, para variar, em vez de dormir,
tentasse passar a noite em claro?”. E ela: “Eu sempre pensei que fosse louca,
mas me parece que o senhor é igualmente louco”. Eu: “Veja a senhora, às vezes
me agrada ser um pouco louco, ou a senhora não é capaz de entender isso?”
Ela: “O senhor fala sério?” Eu: “Sobre o quê?”. Ela: “Que devo tentar não
dormir”. Eu: “Claro que falo sério. Tente uma vez só! Vamos ver se a senhora
consegue passar a noite acordada. Tudo bem?” Ela: “O.k.” E quando a
enfermeira, na manhã seguinte, entrou com o café da manhã em seu
quarto, encontrou a paciente ainda dormindo.
3. A INTENÇÃO PARADOXAL 55
É admirável constatar como as pessoas leigas recorrem com bons resultados à
intenção paradoxal. Tenho aqui diante de mim a carta de uma paciente que sofrerá de
agorafobia durante catorze anos e que, durante três, se submeteu sem sucesso ao
tratamento psicanalítico ortodoxo. Ao longo de dois anos recebeu o tratamento de um
hipnotizador, o que lhe proporcionou uma leve melhora. Esteve inclusive internada
por seis semanas. Nada, de fato, a ajudava. De qualquer modo, escreve a paciente:
“Nada mudou em catorze anos. Cada dia era para mim um inferno”. A coisa chegou
ao extremo de um dia querer sair à rua, mas foi logo acometida pela agorafobia.
Ocorreu-lhe então lembrar que tinha lido o meu livro Em Busca de Sentido, e disse a
si mesma: “Agora vou mostrar a todas estas pessoas que se encontram aqui ao meu
redor, na rua, do que sou bem capaz: cair em pânico e sofrer um desmaio”. E
subitamente se sentiu calma. Continuou o caminho até o supermercado e fez
as compras. No entanto, quando chegou o momento de pagar, começou a transpirar
e a tremer. Disse a si mesma: “Vou mostrar ao caixa quanto sou verdadeiramente
capaz de transpirar. Ele irá arregalar os olhos”. Somente no caminho de volta
percebeu o quanto estava calma. E assim continuou. Ao cabo de algumas poucas
semanas, era capaz de dominar a tal ponto a agorafobia, com a ajuda da intenção
paradoxal, que às vezes não conseguia acreditar que tivesse estado doente.
A.V., de 45 anos, casada, mãe de um jovem de dezesseis anos, sofria havia 24 anos
(!) de uma doença, durante os quais padeceu de uma grave síndrome fó-bica,
composta por claustrofobia, agorafobia, temor excessivo, medo de elevadores,
passar por pontes, entre outras coisas. Por causa de todos esses transtornos, foi
tratada durante todos aqueles 24 anos por diversos psiquiatras, que
aplicaram repetidas vezes, entre outros remédios, chamadas análises de longa
duração. Tiveram de interná-la nos últimos quatro anos numa clínica. Apesar dos
calmantes que recebia, sentia-se num estado de permanente e elevada excitação.
Esteve igualmente durante um ano e meio aos cuidados de um experiente analista,
mas sem nenhum êxito. Em Io de março de 1959, o Dr. Gerz assumiu o tratamento,
a saber, por meio da intenção paradoxal. Cinco meses mais tarde, a paciente viu-se
pela primeira vez, após 24 anos, livre de qualquer sintoma. Deram-lhe alta logo em
seguida. Desde então, passaram-se vários anos, nos quais leva uma vida normal
e feliz no seio de sua família.
3. A INTENÇÃO PARADOXAL 57
por acaso deixei escapar? Que me prendam então - três vezes ao dia! Ao menos
recebo de volta o meu dinheiro, meu belo dinheirinho, que arremessei no
focinho daqueles senhores de Londres...”. Começou então a desejar, no sentido da
intenção paradoxal, ter cometido o maior número possível de erros e fazer novas
faltas; embaralhar o seu trabalho com o intuito de provar à sua secretária que era “o
maior fraudador do mundo”. E o Dr. Gerz não teve a menor dúvida de que estava em
jogo a completa ausência de toda preocupação de sua parte - tal como tinha de estar
por trás de suas instruções -, quando o paciente se mostrou capaz não só de realizar a
intenção paradoxal, mas também de formulá-la por meio de um extraordinário senso
de humor, o mesmo com que o Dr. Gerz tinha, evidentemente, de contribuir. Assim,
por exemplo, quando o paciente entrava em seu consultório médico, ele o saudava do
seguinte modo: “O quê? Pelo amor de Deus! O senhor ainda anda por aí livre e
solto? E eu pensando que já estava há tempos por trás das grades. Estive inclusive
lendo os jornais e perguntando-me quando iam informar a respeito do grande
escândalo que o senhor causara”. A isso reagia o paciente com uma
sonora gargalhada. E, cada vez mais, simpatizava com essa atitude irônica,
ironizando também contra si mesmo e contra a própria neurose quando, por exemplo,
dizia: “Não me interessa a mínima que me prendam; o máximo que pode acontecer é
a companhia de seguros falir”. Agora, já faz um ano que o tratamento chegou ao fim.
Pratico a intenção paradoxal desde 1929,6 mas somente em 1947 publiquei --a com
esse nome.7 É evidente a semelhança dela com os métodos de tratamento da terapia
comportamental que surgiram mais tarde no mercado - algo que não
Acrescenta-se a isso que “as dúvidas muitas vezes expressadas de que à eliminação
de um sintoma deve seguir-se necessariamente a formação de um sintoma substituto
ou de outra atitude inoportuna interna, formuladas com essa generalização, são
afirmações completamente injustificadas”.9 Mas não se deve despertar a impressão
de que os resultados alcançados em todos os casos tratados pela logoterapia tenham
se dado em tão curto espaço de tempo como nos casos anteriormente citados. Citei-
os porque se prestam bem ao intuito didático.
A derreflexão
O elemento característico do modelo de reação neurótica sexual é a luta pelo prazer.
E podemos aqui observar, novamente, como o paciente se emaranha num círculo
vicioso. A luta pelo prazer, a luta pela potência e pelo orgasmo, a vontade de prazer,
a hiperintenção forçada ao gozo conduzem não ao prazer, mas a uma hiperreflexão
forçada sobre si mesmo: inicia-se, durante o ato, a observar a si mesmo e, se é
possível, a também espiar o parceiro. É o fim para a espontaneidade.
É claro que do mesmo modo que a intenção forçada patogênica deve ser substituída
na terapia pela intenção paradoxal, de maneira análoga a hiperreflexão patogênica
precisa, como corretivo, de uma derreflexão. Muitas vezes temos comprovado que, a
fim de solucionar um sintoma, a única coisa necessária é a dissolução da atenção
localizada centralmente no dito sintoma. E foi o que aconteceu no caso da paciente S.
Disse a ela que, naquele momento, não dispunha de tempo para dar início ao
tratamento, mandando que retornasse dois meses mais tarde. Até lá, recomendei, não
devia preocupar-se nem com a capacidade nem com a incapacidade de obter
o orgasmo - a respeito do qual voltaríamos a ocupar-nos quando iniciássemos o
tratamento -, senão que, durante a relação sexual, deveria voltar a atenção ao
parceiro. E a evolução do caso deu-me inteira razão. Aquilo que esperava
secretamente, de fato aconteceu. A paciente não retornou ao consultório ao fim de
dois meses, senão ao fim de dois dias - curada! Bastou deixar de voltar a atenção a
si mesma, à sua capacidade ou à sua incapacidade ao orgasmo - em resumo: uma
derreflexão -, e entregar-se despreocupadamente ao parceiro para, pela primeira
vez, atingir o orgasmo.
4. A DERREFLEXÀO 61
4. A DERREFLEXÀO 63
Um sexólogo da Califórnia, Claude Farris, fez chegar até mim um relato do qual se
depreende que a intenção paradoxal é igualmente aplicável em casos de vaginismo.
Para uma paciente, que fora educada num convento católico, a sexualidade era tabu
severo. Veio em busca de tratamento por causa das fortes dores que sentia durante o
ato sexual. Farris a instruiu a não relaxar a região genital, senão a enervar a
musculatura da vagina na medida do possível, de modo que seu esposo não
conseguisse penetrá-la. O esposo foi instruído a fazer o que estivesse ao seu alcance
a fim de vencer essa resistência. Uma semana mais tarde, ambos retornam para
informar-me que, pela primeira vez em sua vida matrimonial, o ato sexual ocorrera
livre das dores. Não houve recidivas por registrar.
Isso mostra, portanto, que em certo sentido não se deve intencionar diretamente algo
como a distensão, mas se pode, por outro lado, tentar o caminho de uma intenção
paradoxal, ou seja, da intenção oposta à distensão. Retiro de um trabalho de David
L. Norris, um de meus alunos californianos, o seguinte episódio: no âmbito de um
trabalho de pesquisa e investigação, Norris teve de fazer alguns experimentos com
pessoas conectadas a um eletromiógrafo a fim de medir--lhes o grau de distensão.
Entre elas havia um homem que repetidas vezes levava o aparelho de medição à
escala de 50 microampère. Nem com a melhor das vontades - ou se deveria dizer
por causa de uma vontade forçada, por causa de uma hiperintenção? -, o sujeito
conseguia distender-se de maneira adequada. Até que o diretor do experimento
perdeu a paciência: “Steve, jamais conseguirás alcançar uma distensão decente”.
Steve então estourou de raiva: “Com os diabos todo este palavreado de distensão.
Estou me lixando, se o senhor quer saber!” Após o que a agulha do aparelho desceu
de 50 pA para 10 pA - e com tanta velocidade que o diretor pensou que a energia
elétrica tinha caído.
5
1
Idem, A Vontade de Sentido. Trad. Ivo Studart Pereira. São Paulo, Paulus, 2011.
Idem, Psicoterapia e Sentido da Vida. Trad. Alípio Maia de Castro. 5. ed. São
Paulo, Quadrante, 2010.
Viktor E. Frankl, Die Psychotherapie in der Praxis. Viena, Franz Deuticke, 1947.
Viktor E. Frankl, Die Psychotherapie in der Praxis. Viena, Franz Deuticke, 1947.
[Em edição brasileira: A Psicoterapia na Prática. Trad. Cláudia M. Caon.
Campinas, Papirus, 1991.]
11
Não é, portanto, a felicidade aquilo que o homem anseia de modo mais profundo e
verdadeiro? Não foi o que admitiu o próprio Kant, que essa é a realidade, e que só
posteriormente o homem anseia por ser digno de felicidade? Eu diria que aquilo que
o homem realmente quer é, afinal de contas, não a felicidade em si, mas um motivo
para ser feliz. Assim que, a saber, é dada uma razão para ser feliz, apresenta-se essa
felicidade, comparece espontaneamente o prazer. A experiência clínica diária nos
revela, com frequência, que é justamente o afastamento do “motivo para ser feliz”
que impede o homem sexualmente neurótico - o homem impotente ou a mulher frígida
- de ser feliz. Como se dá, porém, esse afastamento patogênico do “motivo para ser
feliz”? Através de uma doação forçada a uma felicidade em si
Motivo Efeito
-►
No entanto, como podemos explicar isso? Em virtude de sua vontade de sentido, o
homem tende a achar um sentido e realizá-lo, mas também a encontrar--se com outro
ser humano, a amá-lo sob a forma de um tu. Ambos, a realização e o encontro, dão
ao homem um motivo para a felicidade e para o prazer. No neurótico, contudo, tal
aspiração primária permanece como que desviada para uma aspiração direta à
felicidade, à vontade de prazer. Ao invés de permanecer aquilo que deve ser, ou
seja, um efeito (o efeito secundário de um sentido realizado e do ser humano
encontrado), o prazer se torna o objeto de uma intenção forçada, de uma
hiperintenção, e esta hiperintenção faz-se sempre acompanhar de uma hi-perreflexão.
O prazer se torna conteúdo e objeto únicos da atenção. No entanto, à medida que o
homem neurótico se interessa pelo prazer, perde de vista o motivo para o prazer - e o
efeito “prazer” já não pode mais ser obtido.
No que diz respeito ao tão propalado tema da autorrealização, ouso afirmar que o
homem só é capaz de realizar-se à medida que cumpre um sentido. O imperativo de
Píndaro, segundo o qual o homem deve tornar-se quem ele é, requer
um complemento, que encontro nas palavras de Jaspers: “O que o homem é, o é
através da coisa que faz sua”. Como o bumerangue volta para o caçador que o
arremessou, quando falha o alvo, assim também só propende para a autorrealização
o homem que, antes de tudo, fracassou no cumprimento do sentido, e que talvez nem
sequer fosse capaz de encontrar o sentido que vale a pena realizar.
5. A VONTADE DE SENTIDO
Fim Efeito
>
Já não vivemos mais hoje, como no tempo de Freud, em uma época de frustração
sexual. Nossa época é a da frustração existencial. E em particular entre os jovens,
cuja vontade de sentido se encontra frustrada. “O que dizem Freud e Adler para a
jovem geração de hoje?”, indaga Becky Leet, a redatora-chefe de um
jornal publicado pelos estudantes da University of Geórgia.
Temos a pílula que nos liberta das conseqüências da realização sexual - hoje não
existe mais nenhum motivo para se estar sexualmente tolhido. E temos o poder -
basta tão somente lançarmos um olhar sobre os políticos americanos, que
estremecem diante da jovem geração, como se estivessem a confrontar
a Guarda Vermelha da China. Mas Frankl diz que as pessoas vivem hoje em
um vazio existencial, e que esse vazio existencial se manifesta, sobretudo, pelo
tédio.
Tédio - isso soa, contudo, inteiramente diferente, não é mesmo? Muito mais
familiar, não é verdade? Ou o senhor conhece pouquíssimas pessoas ao seu redor
que se queixam do tédio, não obstante o fato de que lhes bastam estender a mão
para tudo ter, inclusive o sexo de Freud e o poder de Adler?
Com efeito, é cada vez maior o número de pacientes que nos procura com o
sentimento de um vazio interior - descrito e qualificado por mim de “vazio
existencial” com o sentimento de uma ausência abismai de sentido em sua
existência. Seria um erro supor que se trata de um fenômeno restrito ao mundo
ocidental. Pelo contrário, Osvald Vymetal chamou expressamente a atenção para o
fato de que “esta doença de hoje, a perda do sentido da vida, ultrapassa ‘sem
concessão e controle’, particularmente entre os jovens, as fronteiras da ordem social
capitalista e socialista”. Foi Vymetal quem também declarou, por ocasião de um
congresso tchecoslovaco de neurologia, após ter professado, ex praesidio, seu
entusiasmo por Pavlov, que mesmo em vista do vazio existencial o médico da alma
não pode angariar seu sustento com uma psicoterapia orientada em Pavlov. E
devemos a L. L. Klitzke1 e Joseph L. Philbrick2 a indicação de que o problema
também se faz sentir nos países em desenvolvimento.
Aconteceu, portanto, o que Paul Polak já em 1947 havia previsto, quando em uma
conferência proferida na Verein für Individualpsychologie [Sociedade de Psicologia
Individual] afirmou que
Ernst Bloch seguiu nessa mesma trilha quando disse recentemente: “Os homens
recebem de presente aquelas preocupações que, de outro modo, só a teriam na hora
da morte”.
6
A frustração existencial
O psiquiatra de hoje encontra muito frequentemente a vontade de sentido, não raras
vezes, em forma de frustração. Não há, portanto, somente a frustração sexual, a
frustração do instinto sexual ou, em termos gerais, a da vontade de prazer,
mas também aquela frustração existencial, como a chamamos na logoterapia, ou seja,
um sentimento de ausência de sentido da própria existência. Esse sentimento de falta
de sentido e de vazio deixou para trás o sentimento de inferioridade no que diz
respeito à etiologia das doenças neuróticas. O homem de hoje não sofre tanto do
sentimento de que tem menos valor do que algum outro qualquer, mas antes do
sentimento de que sua existência não tem sentido. Essa frustração existencial é no
mínimo patogênica, quer dizer, pode ser a causa de doenças psíquicas, com a mesma
frequência quanto a tão incriminada frustração sexual.
O homem existencialmente frustrado não conhece nada com que possa preencher
aquilo que denomino seu vazio existencial. Schopenhauer dizia que a humanidade
oscila entre a necessidade e o tédio. Ora, hoje temos - e nós, neurologistas, também -
de lidar mais com o tédio do que com a necessidade, sem excluir, senão incluindo-a
categoricamente, a chamada necessidade sexual. De fato, é patente que, por trás dos
numerosos casos de frustração sexual, se esconde na verdade a frustração da vontade
de sentido: só no vazio existencial prolifera a libido sexual.
Como a linguagem já nos ensina, o tédio pode ser “mortal”. Com efeito, alguns
autores chegam a afirmar que os suicídios podem ser atribuídos, em última instância,
àquele vazio interior que corresponde à frustração existencial.
Todas essas questões assumem hoje em dia uma atualidade singular. Vivemos em
uma época de crescente tempo livre. Mas há um tempo livre não só em relação a
algo, senão também para algo; o homem existencialmente frustrado, todavia, não
sabe com que ou como poderia preenchê-lo.
A crise dos aposentados é, por assim dizer, uma neurose de desemprego permanente,
porém existe também uma neurose de desemprego passageira, periódica. Refiro-me
aqui à neurose dominical, uma depressão que acomete aquelas pessoas que se tornam
conscientes do conteúdo raso de sua vida quando, chegando o domingo e
suspendendo-se o trabalho diário, se interrompe a atividade da semana e se revela o
vazio existencial.
6. A FRUSTRAÇÃO EXISTENCIAL
diversas máscaras por trás das quais se esconde o vazio existencial. Pensemos
simplesmente na doença do empresário que, movido por um furor ao trabalho, se
atira com ímpeto numa atividade insana de modo que a vontade de poder -para não
utilizar uma expressão extremamente primitiva e banal: a “vontade de dinheiro” -
reprime a vontade de sentido!
No entanto, assim como os empresários têm sempre o que fazer, e com isso pouco
tempo até para respirar ou para descobrir a si mesmos, suas esposas, por sua vez,
têm muito pouco o que fazer e, consequentemente, muito tempo; não sabem fazer
uso de tantas horas vagas e, por conseguinte, muito menos empreender algo por
iniciativa própria. Terminam então por anestesiar o próprio vazio interior recorrendo
à bebida, à bisbilhotice e ao jogo... Todas essas pessoas encontram-se numa fuga de
si mesmas ao entregar-se a uma forma de configuração de seu tempo livre, que
chamo de centrífuga e à qual gostaria de opor uma outra, que tende a dar ao homem
não só uma oportunidade de dispersão, mas também de recolhimento interior.
Devemos salientar que existe igualmente o horror vacui - o medo do vazio -que
acontece não apenas no domínio físico, mas também no domínio psicológico. Na
tentativa de dominar o vazio existencial com o barulho dos motores e a embriaguez
da velocidade, observo o dinâmico psíquico vis a tergo do rápido e crescente
aumento da motorização. Considero o ritmo acelerado da vida de hoje como uma vã
tentativa de automedicação da frustração existencial; pois, quanto menos conhece o
homem a finalidade de sua vida, mais ele acelera o ritmo com o qual a segue. Nesse
sentido, o artista de cabaré vienense Helmut Qualtinger, em uma canção, parodia um
afetado selvagem da motocicleta: “Eu não tenho a mínima noção de aonde vou, mas
pra lá vou a toda velocidade”.
Uma tal ambição pode, algumas vezes, também lançar mão de objetivos elevados.
Conheço um paciente, como nunca imaginara encontrar, que é a representação típica
de um caso de “doença de empresário”. Mal se examinava o homem, logo se
percebia que era um tipo de sujeito que trabalha até se matar. Pude então constatar
por que se atirava com tal ímpeto ao trabalho, e a ponto de um esgotamento: era, é
verdade, muito rico, tinha até mesmo um avião particular. No entanto, confessou que
todo o seu sacrifício consistia em um dia poder tornar-se proprietário de um jatinho,
em vez daquele aviãozinho ordinário.
7
1
Mas o que interessa, do ponto de vista médico, ou, melhor dizendo, do ponto de vista
do doente, é a atitude com que o indivíduo enfrenta a doença, a
disposição com que lida contra essa doença. Em uma palavra: o que interessa é a
atitude adequada, o sofrimento sincero de um destino autêntico. O modo de suportar
o sofrimento necessário encerra um possível sentido. É o que nos faz recordar aquele
poema de Julius Sturm, que Hugo Wolf tão bem musicou:
Porque assim é, efetivamente: o que importa é como se suporta o destino logo que
nos escapa das mãos. Em outras palavras: quando não é mais possível moldar o
destino, então se faz necessário ir ao encontro deste destino com a atitude certa.
Fica claro agora com que direito Goethe pôde afirmar: “Não existe nenhuma situação
que não possa ser enobrecida seja agindo, seja aceitando”. Só que podemos
completá-lo: a aceitação, ao menos no sentido de que esta nos faz suportar um
sofrimento de forma correta e leal a um destino autêntico, é por si mesma uma ação -
mais do que isso, a mais elevada ação e a mais elevada realização permitida a um
homem. E compreendemos igualmente as palavras de Hermann Cohen: “A suprema
dignidade do homem é o sofrimento”.
Tentemos agora responder à seguinte pergunta: por que o sentido que o homem pode
encontrar no sofrimento é o mais elevado de quantos podemos conceber? Bem, os
valores de atitude mostram-se aqui mais excelentes do que os valores de criação e
de vivência, enquanto o sentido do sofrimento é superior, dimensio-nalmente, ao
sentido do trabalho e ao sentido do amor. E por que é assim? Partamos da ideia de
que o Homo sapiens se articula no Homo faber, que cumpre seu sentido existencial
ao criar; no Homo amans, que enriquece o sentido de sua vida ao experimentar, ao
encontrar o outro e ao amar, e no Homo patiens, o homem que sofre e rende serviço
ao sofrimento. O Homo faber é aquele que podemos com razão chamar de um homem
de êxito; conhece somente duas categorias, e só nelas pensa: o sucesso e o fracasso.
Sua vida agita-se então entre esses dois extremos, na linha de uma ética do êxito, ao
contrário do Homo patiens: as categorias deste não são o sucesso ou o fracasso, mas
a realização e o desespero.
7. O SENTIDO DO SOFRIMENTO 75
Realização
Êxito
Fracasso
t
Desespero
Como se refletem então essas relações no quadro da prática médica? Bem, o que
aqui foi dito eqüivaleria a afirmar, por exemplo, que um carcinoma passível
de uma intervenção cirúrgica não é uma doença cujo sofrimento tenha sentido. Pelo
contrário, tratar-se-ia de um sofrimento inútil. O adoentado teria que recorrer à
coragem de submeter-se à operação, enquanto aquele que se defronta cego de fúria
com um carcinoma incurável a ser operado deveria recorrer à humildade. E
tampouco são as dores, em geral, um sofrimento supérfluo, uma
necessidade irremediável do destino. De fato, é sempre possível dentro de limites
mais amplos atenuá-las. A renúncia heróica à narcose ou à anestesia local, ou
também, no caso de uma doença impossível de operar, a renúncia a um medicamento
sedativo, não é para qualquer um, ainda que estivesse ao alcance de Sigmund Freud.
Ele se permitiu renunciar, de modo heroico e até o fim, a todo tipo de analgésicos -
literalmente “permitiu-se” renunciar (como é sábio o idioma!). No entanto, não é a
qualquer um que se pode exigir tal renúncia. Não cumpro nenhuma renúncia válida,
se renuncio por capricho, a tudo aquilo que poderia anestesiar a dor.
Recorreu a mim um médico idoso, que, por muito tempo, exercera as funções de
clínico geral. Um ano antes falecera sua esposa, a pessoa que amava mais do que
tudo, e não conseguia, no entanto, afastar a dor da perda. Perguntei a esse meu
paciente, fortemente deprimido, se já havia refletido sobre o que poderia
ter acontecido se tivesse falecido antes da esposa. “Nem pensar”, respondeu,
“minha mulher teria ficado totalmente desesperada”. Só precisei então chamar-lhe a
atenção: “Veja o senhor, tudo isso acabou por poupar a sua esposa, ainda que ao
preço, sem dúvida, de que seja o senhor quem deve agora suportar a saudade”. Seu
sofrimento adquiriu um sentido naquele mesmo instante: o sentido de um sacrifício.
7. O SENTIDO DO SOFRIMENTO
77
Não podia nem um pouco mudar o destino, mas tinha mudado de atitude! O destino
lhe tinha retirado a possibilidade de cumprir um sentido através do amor. Mas lhe
reservara a possibilidade de adotar, diante desse destino, a atitude adequada.
Prezado doutor! Nos últimos meses um grupo de presos vem lendo seus livros e
tem escutado suas gravações. Que verdade esta: que se possa também
encontrar no sofrimento um sentido... De alguma maneira posso dizer que a
minha vida começou agora - que sentimento esplêndido! É enterne-cedor ver
como meus irmãos, em nosso grupo, enchem os olhos de lágrimas ao perceber
que sua vida, aqui e agora, ganhou um sentido que antes consideravam
impossível. O que acontece aqui chega a ser quase um milagre. Homens que
antes se sentiam desamparados e desesperados veem agora um novo sentido em
suas vidas. Aqui, nesta prisão, governada pelas mais rígidas medidas de
segurança de toda Flórida - aqui, a somente uns cem metros da cadeira elétrica -
, precisamente aqui os nossos sonhos tornaram-se verdadeiros. Estamos à
véspera de Natal; mas, para nós, a logoterapia significa a Páscoa. Sobre o
Gólgota de Auschwitz levanta-se, nesta manhã de Páscoa, o sol. Que novo dia se
aproxima de nós!
8
Pastoral médica
Podemos qualificar aqueles casos antes citados como uma pastoral médica, uma
pastoral com que se confronta o médico diariamente em suas consultas, e
que representa um dever legítimo no âmbito das atividades médicas. “Pastoral
médica” é o objeto do profissional que tem de lidar com doenças incuráveis, do
geriatra que se dedica aos idosos enfermos, do dermatologista que se ocupa de
pessoas desfiguradas, do ortopedista que cuida de pessoas com deformidades
locomotoras ou até do cirurgião, obrigado muitas vezes a mutilar um paciente por
causa de uma intervenção cirúrgica. Enfim, todos aqueles que trabalham com
pacientes que se encontram diante de um destino que não se pode alterar ou que é,
talvez, inevitável. E nessas situações, naquelas que não se pode mais curar e nem
sequer mitigar, resta-nos somente o recurso ao consolo. Que isso vem a propósito do
ofício médico pode ser testemunhado pela inscrição que ostenta a entrada principal
do Hospital Geral de Viena, e com a qual o imperador José II dedicou ao público
essa instituição hospitalar: saluti et solatio aegrorum - não apenas curar, mas
também consolar os enfermos. Encontramos também uma indicação semelhante na
disposição regulamentar da American Medicai Association: “O médico deve
igualmente confortar a alma. Isto não é de modo algum uma tarefa só do psiquiatra.
É, muito simplesmente, tarefa de todo médico que pratique a sua profissão”.
Evidentemente, é possível ser médico sem se preocupar com isso; mas aqui vale
então o que disse, num contexto análogo, Paul Dubois: a única coisa, a saber, que os
diferencia de um veterinário, é a clientela.
8. PASTORAL MÉDICA 81
doença neurótica, então a tais neuroses denomino neuroses noogênicas. Que fique
bem evidente: nem toda frustração existencial se torna patogênica, e nem toda doença
neurótica é noogênica.
espírito. Abstraímos aqui dos extremismos da noossomática, como aquele que afirma
que um câncer representa não apenas um suicídio inconsciente, senão, diretamente,
uma execução inconsciente da pena capital por algum complexo de culpa.
Ainda que o homem seja um ser essencialmente espiritual, não deixa de ser uma
criatura finita; essa limitação reflete a condição do ser humano, que é
só facultativamente incondicionado, mas que, de fato, permanece condicionado.
Por conseguinte, a pessoa espiritual não pode impor-se incondicionalmente - através
das camadas psicofísicas. Nem sempre é perceptível a pessoa espiritual
através dessas camadas, nem tampouco operante. É certo que o organismo
psicofísico é o conjunto dos órgãos, dos instrumentos, ou seja, dos meios para um
fim; mas esse meio é inteiramente sombrio em relação à sua função expressiva e
inteiramente indolente em relação à sua função instrumental.
É verdade que toda doença tem um “sentido”; mas o sentido real de uma doença não
está ali onde o procura a investigação psicossomática - não no “que” do estar
doente, antes no “como” do sofrimento; e assim, pois, é um sentido que já deve estar
dado na doença, e isso acontece sempre que o homem sofrido, o Homo
patiens, cumpre no sofrimento autêntico, e marcado por um destino autêntico, o
sentido possível de um sofrimento necessário e inevitável. Mas não cabe ao médico
designar esse sentido mediante interpretações psicossomáticas.
A esse respeito, é evidente que o “que” do estar doente também possui um sentido.
Trata-se, todavia, de um suprassentido, isto é, de algo que ultrapassa todo o sentido
de compreensão humana. É algo que se encontra além dos limites de toda temática
psicoterapêutica legítima. A ultrapassagem desses limites, a tentativa persistente de
forjar uma patodiceia ou, até mesmo, uma teodiceia, leva o médico ao fracasso. No
mínimo, levá-lo-á a um embaraço semelhante ao daquele homem que, indagado pelo
filho até que ponto Deus é amor, respondeu-lhe com um exemplo: “Bem, foi Ele
quem te curou do sarampo”. Ao que o filho replicou: “Sim, mas primeiro me enviou
o sarampo”.
8. PASTORAL MÉDICA 83
O que dirias a ti mesma? Tive tudo de bom na vida, fui rica, mimada, deixei os
homens loucos de paixão, enquanto flertava com eles, e não abandonei nenhuma
forma de prazer. Mas agora estou velha, não tive filhos e tenho de admitir que,
rigorosamente falando, minha vida foi um fracasso, visto que não posso levar
nada comigo ao túmulo. Para que estive no mundo?
Convidei então a mãe do deficiente físico a colocar-se na mesma situação e que nos
dissesse o que pensava:
Eu sempre desejei ter filhos, e este meu desejo realizou-se. O mais jovem
faleceu, e fiquei sozinha com o mais velho. Se não fosse eu, o que lhe teria
acontecido... É provável que tivesse sido levado a uma instituição
para deficientes mentais; mas era eu quem estava ali e pude ajudá-lo a fazer-
se homem. Minha vida não foi um fracasso. É possível que tivesse sido
difícil, havia muitas tarefas para cumprir, mas consegui superá-las e tornar a
minha vida plena de sentido. Agora posso morrer em paz.
Somente entre soluços ela conseguiu proferir essas palavras. Puderam delas então
tirar os outros pacientes a lição de que o que importa não é tanto que a vida de um
ser humano seja dolorosa ou prazerosa, mas que seja carregada de sentido.
9
Logoterapia e religião1
Para a logoterapia, a religião pode ser um objeto - não uma posição. A religião é um
fenômeno do homem, do paciente, um fenômeno entre outros fenômenos que encontra
a logoterapia. No entanto, para a logoterapia, tanto a existência religiosa como a
irreligiosa são, em princípio, fenômenos coexistentes. Em outras palavras, a
logoterapia deve assumir perante eles uma atitude neutra. A logoterapia é uma
orientação da psicoterapia, e esta pode ser exercida - ao menos segundo a legislação
médica austríaca - por aqueles que são médicos. Portanto, e não por outro motivo, o
logoterapeuta, uma vez que tenha prestado o juramento hipocrático, deve cuidar para
que seu método e técnica (logoterapêuticos) sejam aplicados a todos os doentes,
crentes ou descrentes; e também para que as técnicas logoterapêu-ticas sejam
aplicadas por qualquer médico independentemente de sua cosmovisão.
No que diz respeito ao “passo para a dimensão supra-humana”, não podemos forçar
o homem, muito menos pela psicoterapia. Sentimo-nos já satisfeitos de não encontrar
a porta do supra-humano bloqueada pelo reducionismo seguido por uma psicanálise
mal compreendida e vulgarmente interpretada, e logo apresentada aos
9. LOGOTERAPIA E RELIGIÃO 87
Ainda que a religião, como dito anteriormente, não seja para a logoterapia mais do
que um objeto, ela, contudo, lhe é muito cara, e por uma razão muito simples: no
contexto da logoterapia, logos significa espírito e, além disso, sentido. Por espírito
entendemos a dimensão dos fenômenos especificamente humanos, e,
em contraposição ao reducionismo, a logoterapia se recusa a reduzi-los a
fenômenos sub-humanos ou a deduzi-los destes.
Uma vez que podemos definir o homem como um ser responsável, o homem é
responsável pelo cumprimento de um sentido. Contudo, em vez de fazermos a
pergunta do “para que” na psicoterapia, é preciso colocar-se e deixar em aberto a
pergunta do “diante de que” de nosso ser-responsável. É preciso deixar ao paciente
a decisão de como interpretar o seu ser-responsável; como ser-responsável diante da
sociedade, diante da humanidade, diante da consciência ou diante não de algo, mas
diante de alguém, diante do divino.
Poderia levantar-se a objeção de que não se deve deixar aberta essa pergunta do
“diante de que” do ser-responsável do paciente. Senão que a resposta seja dada já há
muito tempo sob a forma de revelação; a prova, porém, claudica. Com efeito, essa
aponta para uma petitio principii, uma vez que o fato de que reconheço a revelação
enquanto tal pressupõe sempre uma decisão de fé. Não faria o mínimo efeito,
portanto, se diante de um incrédulo se aludisse ao fato de que existe uma revelação;
porque se o paciente a aceitasse como tal, tornar-se-ia então um crédulo.
Vi morrer ateus convictos que durante toda a vida se horrorizavam com a crença em
“um ente superior” ou em algo semelhante, em uma acepção dimensional do sentido
elevado da vida. No entanto, no leito de morte, tiveram algo que não foram capazes
de viver ao longo de décadas: testemunharam uma segurança não só contrária à sua
concepção de mundo, mas que também não se pode intelectualizar e racionalizar. De
profundis irrompe algo, impõe algo, aflora uma confiança ilimitada que não se sabe
o que ou contra o que se manifesta, nem tampouco em que ou quem confia, mas que
resiste ao conhecimento do infausto prognóstico. Quem bate nessa mesma tecla é
Walter von Baeyer, quando escreve:
Detemo-nos nos pensamentos e observações pronunciados por Plügge.
O doente que conserva plenamente sua lucidez deve ter percebido há muito
9. LOGOTERAPIA E RELIGIÃO 89
Certa vez, fui entrevistado por uma repórter da revista americana Time, que me
perguntou se a tendência da época era de afastamento da religião. Respondi que a
tendência não era afastar-se da religião, mas, sim, daquelas confissões que não
tinham outra coisa que fazer senão lutar entre si e atiçar os fiéis uns contra os outros.
A repórter perguntou-me então se isso queria dizer que, mais cedo ou mais tarde, se
chegaria a uma religião universal, o que de pronto neguei. Muito pelo contrário,
disse. Caminhamos, muito mais, em direção não a uma religião universal, mas a uma
religião pessoal - profundamente personalizada, uma religiosidade a partir da qual
cada indivíduo encontrará o seu próprio idioma, pessoal e original, ao se dirigir a
Deus.
Mas isso nem de longe significa que não haverá mais rituais e símbolos coletivos.
Existe igualmente uma pluralidade de idiomas e, no entanto, não há para muitos entre
eles um alfabeto em comum?
Resta-nos perguntar se, em geral, se pode falar de Deus, e não antes com ele. A frase
de Ludwig Wittgenstein: “whereof one cannot speak, thereof one must be silent” -
sobre aquilo que não se pode falar, deve-se silenciar - não só podemos traduzir do
inglês para o alemão, mas também do agnosticismo para o teísmo: do que não se
pode falar, a este se deve rezar.
9. LOGOTERAPIA E RELIGIÃO 91
10
1
Hoje em dia são poucos os casos de pacientes cujas associações são realmente
espontâneas. A maior parte das associações que o paciente produz no curso de
um tratamento prolongado são qualquer coisa menos “livres”; muitas vezes são
avaliadas para transmitir ao analista determinadas idéias, as quais o paciente
supõe que são bem-vindas ao analista. Em tais casos, os pacientes trazem à tona
um material associativo previamente calculado, ou seja, determinado a agradar
o analista. Aparentemente, os pacientes da psicologia adleriana sofrem somente
de problemas de poder, e seus conflitos encontram-se, ao que parece,
exclusivamente condicionados pela ambição, pela aspiração à superioridade e
coisas do gênero. Os pacientes dos discípulos de Jung inundam seus médicos de
arquétipos e de vários símbolos ana-gógicos. Os freudianos escutam de seus
pacientes a confirmação da presença de complexos de castração, de traumas de
nascimento ou algo equivalente.
Não seria possível pensarmos que a análise didática ajuda a impedir os juízos de
valor inconscientes? Bem, parece-me que essas análises por sua natureza são mais
capazes de contribuir para o surgimento de tais juízos de valor inconscientes.
Ninguém aqui precisa ir tão longe como William Sargant, que em seu livro A
Conquista da Mente aponta para o fato de que muitas vezes a psicanálise
se considera encerrada quando o paciente acolhe inteiramente para si as opiniões
do psicoterapeuta e se tenha quebrado toda a resistência com respeito à interpretação
afirmação, assume um ponto de vista diante de uma teoria - tudo isso suplanta mais e
mais o interesse pela questão de se essa opinião, afirmação ou teoria é ou não
verdadeira; logo que assim se procede, continua Dietrich von Hildebrand, começa a
propagar-se uma perversão devastadora (“a disastrous perversion”).
Para dar um exemplo: Sigmund Freud apresenta a filosofia como “uma das formas
mais decentes de sublimação da sexualidade reprimida, nada mais”.2 Podemos
entender, destarte, por que Scheler falava da psicanálise como uma
“alquimia”, segundo a qual seria possível desprender dos instintos coisas como
bondade, amor etc. Muito menos, afirma M. Boss,
se pode deduzir de meros instintos uma existência tão exemplar como a que o
próprio Freud supôs exemplarmente conduzir. Uma transformação dos instintos
a partir de si mesmos, em um dever humano de veracidade e em um
autossacrifício a serviço da ciência como, por exemplo, se distingue no destino de
Freud, é algo que permanece para sempre inimaginável.
É óbvio que pode haver casos em que a inquietação e a preocupação do homem com
o sentido último e mais elevado de sua vida, digamos assim, não representem “nada
mais” do que uma sublimação dos instintos reprimidos, e pode igualmente haver
casos nos quais os valores realmente representem “formações de reação e
racionalizações secundárias”. Para autores como Ginsburg e Herma, são, de fato,
nada mais do que isso; mas se trata provavelmente de simples casos de exceção, e,
de modo geral, a luta por um sentido de vida é um fator primário, e mais ainda: a
característica mais primária. E, se podemos chamá-la assim, um constitutivo da
existência humana.
é um mero meio para o fim, então esta tendência ao desvendamento não é senão uma
tendência a desvalorizar-se. Perante as árvores das mentiras da vida, o psicólogo,
que desvenda, já não vê mais o bosque da própria vida, uma vez que a ânsia de
desmascarar, de desvendar, termina por desembocar em cinismo, tornando-se ao fim
e em si mesma uma máscara, a máscara do niilismo.
Resta-nos mencionar um terceiro ponto - algo que vai além da vontade de sentido e
do sentido do sofrimento; discutir, a fim de completar nossas considerações acerca
da imagem do homem na psicoterapia, a liberdade da vontade. O que já nos leva ao
centro da teoria metaclínica de toda psicoterapia, e teoria quer dizer visão, visão de
uma imagem do homem. Não se trata, todavia, de que nós, os médicos, devemos
levar a filosofia para dentro da medicina, mas de que nossos pacientes nos tragam
sua problemática filosófica.
tivesse a consciência dada a mim pela fé, segundo a qual não sou dona de minha
vida, já, e muitas vezes, teria me entregado ao vazio”. E continua, triunfante:
É claro que o clínico pode lançar um olhar aqui e ali ao fundo da superfície do
psicótico até a personalidade do doente - deslocada e oculta por essa psicose. A
despeito disso, a prática médica confirma de maneira contínua aquilo que uma vez
designei como meu credo psiquiátrico: a crença absoluta na pessoa espiritual, e
também na dos doentes psicóticos.
A isso vem juntar-se o fato, ainda não demonstrado, de que a psiquiatria esteja
autorizada a adotar uma posição sobre o assunto. Não vos deixeis levar pela ideia de
que a psiquiatria se encontre apta a solucionar todos os problemas. Até os dias de
hoje, nós, psiquiatras, não sabemos sequer, por exemplo, qual é a real causa da
esquizofrenia - quanto mais, como bem já sabemos, os meios de curá-la. Nós, os
psiquiatras, não somos nem oniscientes, nem onipotentes; o único atributo divino que
se pode a nós conceder é o da onipresença: em todo simpósio vedes um psiquiatra,
em toda discussão escutais sua voz e o encontrais até nesta reunião...
Penso, contudo, e para falar a sério, que é preciso que se deixe finalmente de
superestimar, de idolatrar a psiquiatria, e que se faria muito melhor, e mais, se
passássemos a humanizá-la. Deveríamos, de início, evitar colocar no mesmo
saco o que existe de humano no homem e o que existe de doente nele. Em outras
palavras, o que se nos pede é um diagnóstico diferencial entre um estado
psíquico adoentado e um estado de necessidade espiritual - aquela necessidade
espiritual que resulta, por exemplo, do desespero de um homem diante da aparente
ausência de sentido em sua existência -, e quem poderia negar que estamos a tratar
aqui de um dos temas favoritos da literatura contemporânea?
Pois bem, assim se manifestou Sigmund Freud numa carta à princesa Bona-parte:
“No instante em que alguém se pergunta sobre o sentido ou valor da vida, está
doente. Nesses casos, simplesmente a pessoa mostra que tem uma carga de libido
insatisfeita”. Entretanto, pessoalmente, inclino-me a pensar que é justamente neste
momento que o homem evidencia uma única coisa, a saber: que é um homem
verdadeiramente autêntico. Nenhum animal, portanto, jamais se colocou a questão do
sentido de sua existência. Nem sequer um dos gansos de Konrad Lo-renz. Mas é o
homem que se aflige com essa questão. Não obstante, não se deve ver nela o sintoma
de uma neurose; pelo contrário, considero uma realização humana, uma vez que é
próprio do homem não apenas perguntar-se pelo sentido da vida, mas também
questionar tal sentido.
Mesmo se em algum caso particular se concluísse que o autor de uma obra literária
estava realmente doente - que talvez até sofresse de uma psicose e não apenas de
uma neurose -, isso implicaria uma objeção, ainda que mínima, contra o valor e a
verdade de sua obra? Creio que não. Dois mais dois são quatro, ainda que seja um
esquizofrênico que o afirme. E, de maneira similar, creio que em nada avilta a
poesia de Hõlderlin e a verdade da filosofia de Nietzsche o fato de que o primeiro
sofria de esquizofrenia, e o segundo, de paralisia cerebral. Pelo contrário, estou
convencido de que as obras de Hõlderlin e Nietzsche continuam sendo
lidas, enquanto o nome dos psiquiatras que escreveram volumes inteiros a respeito
desses “casos” há muito foi esquecido.
Todavia, embora seja verdade que a patologia está longe de dizer algo contra o valor
de uma obra, não é menos verdade que diga algo a favor. Mesmo no caso de um
escritor que seja um doente psíquico, verificamos que uma obra importante sua
jamais surgiu por causa de uma psicose, mas apesar dela. A doença nunca é, por si
só, criativa.
Perguntemo-nos então o que torna esse desmascaramento tão atrativo. Bem, parece
que aos medíocres causa prazer ouvir dizer que Goethe era, afinal de contas, um
neurótico, um neurótico como tu e eu, se é que posso expressar-me assim. (E quem
estiver 100% livre de neurose, que atire a primeira pedra.) Aparentemente, e por
alguma razão estranha, agrada-lhes quando alguém afirma que o homem não é nada
mais que um simples macaco, o campo de batalha do id, do
E se não soar tão frívolo, diria que esse sentimento de vazio tem algo que ver com o
tema geral deste encontro, e com o fato de que justamente as três décadas de paz que
se tem concedido ao homem de hoje possibilitam-lhe o luxo de elevar-se acima da
luta pela sobrevivência, acima da mera subsistência, para perguntar-se pelo “para
que” da sobrevivência, pelo derradeiro sentido da existência. Em outras palavras,
quanto a esses trinta anos, deixemos que nos fale Ernst Bloch: “Aos homens são
concedidas preocupações que antes só o confrontavam na hora da morte”.
Parte das obras da literatura contemporânea também pode ser interpretada como
sintoma da neurose de massa. Precisamente quando o escritor se limita a uma mera
autoexpressão ou se contenta com um expressar de si - um exibicionismo literário
que não diz nada - é que traz à tona a expressão de seu sentimento de vazio e falta de
sentido. Mais do que isso: não apenas traz à tona, senão que põe em cena o absurdo,
o contrassenso. E isso é completamente compreensível. De fato, o sentido autêntico
precisa ser descoberto, pois não pode ser inventado. Sentido não pode ser
produzido. Não é tecnicamente exeqüível. No entanto, o absurdo e o contrassenso
podem ser criados, e deles fazem uso generoso alguns escritores. Tomados pelo
sentimento de ausência de sentido, expostos e entregues a um vazio completo de
sentido, atiram-se sem hesitar à aventura de preencher o vazio com o contrassenso e
o absurdo.
A literatura, porém, tem uma escolha. Não precisa continuar sendo um sintoma da
atual neurose de massa, mas pode muito bem contribuir para o seu tratamento. Com
efeito, os homens que passaram pelo inferno do desespero, através da aparente falta
de sentido da existência, são precisamente aqueles que podem oferecer aos outros
homens, como um sacrifício, seus sofrimentos. É justamente a autoexpressão de seu
desespero que pode ajudar o leitor - igualmente atingido
pelo sofrimento de uma vida sem sentido - a superá-lo, mesmo que seja para
mostrar-lhe que não se encontra só. Em outras palavras, ajudá-lo a transformar o
sentimento de absurdidade em sentimento de solidariedade. Nesse caso, a
alternativa não é mais “sintoma ou terapia”, senão que o sintoma é uma terapia!
Sem dúvida, se a literatura deve exercer essa função terapêutica - ou seja, realizar
seu potencial terapêutico -, deve renunciar a entregar-se, numa
prática sadomasoquista, ao niilismo e ao cinismo. Ainda que o escritor possa
provocar no leitor - ao comunicar e compartilhar com ele seu sentimento de ausência
de sentido - uma reação catártica, não deixa, contudo, de agir
irresponsavelmente quando lhe prega tão somente o absurdo da existência. Se o
escritor não for capaz de imunizar o leitor contra o desespero, deveria ao menos
evitar infectá-lo com seu próprio niilismo.
Acredite em mim, Sr. Mitchell, de alguma maneira posso entender a sua situação.
Afinal de contas, eu também tive de viver, durante algum tempo, à sombra de uma
câmara de gás. Mas, acredite-me, Sr. Mitchell, nem sequer então renunciei por um só
momento à minha convicção de que sejam quais forem as condições e as
circunstâncias, a vida tem um sentido. Porque ou a
vida tem realmente um sentido - e então preserva esse sentido mesmo que só venha a
durar poucos instantes - ou não tem nenhum sentido - e então não o terá nunca,
mesmo que dure muito tempo. Até mesmo uma vida aparentemente desperdiçada,
pode, retroativamente, encher-se de sentido: ao nos elevarmos, mediante o
autoconhecimento, acima de nós mesmos.
E vós sabeis então o que contei em seguida ao Sr. Mitchell? A história da morte de
Ivan Ilitch, como nos foi legada por Liev Tolstói. E com certeza a conhe-ceis: é o
relato de um homem que, confrontado com o fato de que não mais viveria muito
tempo, adquire de repente a consciência de como havia arruinado a vida. Contudo,
precisamente esse conhecimento o fez crescer tanto em seu interior que foi capaz de
preencher de sentido retrospectivo uma vida que parecia tão absurda.
O Sr. Mitchell foi o último homem executado na câmara de gás de San Quentin.
Pouco antes de sua morte, concedeu uma entrevista ao San Francisco Chronicle, em
que não deixou dúvida de que fizera sua, sob todos os aspectos, a história da morte
de Ivan Ilitch.
De tudo isso se pode concluir o quanto um livro pode ajudar o simples “homem da
rua” em seu caminho, em seu caminho de vida e em seu caminho para a morte. Ao
mesmo tempo, lança uma luz sobre a imensa responsabilidade social que recai sobre
os escritores.
Viena: Franz Deuticke; Munique: Serie Piper 475, Ernst Reinhardt, 1947-1986.
Verlag, 1948-1988.
_. Der Mensch vor der Frage nach dem Sinn. Eine Auswahl aus dem
Frankl, Viktor E. Die Sinnfrage in der Psychotherapie. Vorwort von Franz Kreuzer.
Munique: Serie Piper 214, 1981-1988.
Nova York: Simon and Schuster; Londres: Hodder and Stoughton, 1978-1988.
_. O Que Não Está Escrito nos Meus Livros - Memórias. Trad. de Cláudia
8c Letras, 2014
_; Kreuzer, Franz. Im Anfang war der Sinn. Von der Psychoanalyse zur
Logotherapie. Viena: Franz Deuticke, 1982; Munique: Serie Piper 520, 1982-1986.
_; Pieper, Joseph; Schõck, Helmut. Altes Ethos - neues Tabu. Kõln: Adamas,
1974.
_; Tournier, Paul; Levinson, Harry; Thielicke, Helmut; Lehmann Paul;
Miller, Samuel H. Are You Nobody?. Richmond: John Knox Press, 1966-1971.
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People and Meaning: A Commemorative Tribute to the Founder of Logotherapy on
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LUKAS, Elisabeth. Auch dein Leben hat Sinn. Logotherapeutische Wege zur
Gesundung. Freiburg im Breisgau: Herder, 1980-1984.
_. Auch dein Leben hat Sinn. Logotherapeutische Trost in der Kris. Freiburg
Herder, 1985-1987.
Deuticke, 1986.
Mit Beitragen von Gertrud Simmerding, Franz Sedlak und Wolfram K. Kurz.
Munique: Psychologie Verlags Union, 1990.
WICKI, Beda: Die Existenzanalyse von Viktor E. Frankl ais Beitrag zu einer
anthropologisch fundierten Padagogik. Berna: Paul Haupt, 1991.
ÁUDIO E VIDEOCASSETE:
AUDITORIUM Netzwerk,
Dipl.-Pãd. Bernd Ulrich,
Weinbergstrasse 4,
índice onomástico
A
Bloch, Ernst, 68, 108 Boss, Medard, 38, 96 Brod, Max, 75 Buckley, Frank M.,
12 Bühler, Charlotte, 36
Cushing, Harvey, 70
Fechtman, 17
Fraiser, 17
Freud, Sigmund, 9-10, 18, 22, 33-36, 45, 67-68, 76, 93, 95-96, 104-05, 107 Frosch,
61
Harvey, 39, 70
Herma, 96
Hess, W. R., 18
Hoff, Hans, 70
Horn, Myron J„ 62
Jachym, Franz, 45 Jaspers, Karl, 66, 80 Joelson, Edith, 43 Johnson, V., 62 Jung, 33-
34, 37-38, 94
Kant, 65, 88
Katz, Joseph, 14 Kierkegaard, 66,100 Klitzke, L. L., 10, 68 Kocourek, K„ 46, 58,
83 Kozdera, 46, 58 Kratochvil, 15, 27 Krippner, Stanley, 17 Kunz, H., 95
L
Langen, 12
Ledermann, E. K., 45
Ledwidge, B. L., 58
Leet, Becky, 67
Lewin, 24
Lhamon, 39
Maki, B. A., 17
Mandei, Jerry, 28
Marmor, J„ 95
Maslow, 15-16, 28
Mason, 27
Masters, W„ 62
Meier, 27
Murphy, 27
Myers, 39
N
Pflanz, M., 41
Píndaro, 66
Planova, 15, 27
Plügge, 88
Polak, Paul, 68
Popielski, 12, 27
Prill, 12
Pynummootil, George, 53
Qualtinger, Helmut, 71
Urban,38, 40
Vanderpas, J. H. R„ 45 Volhard, 12
W
Weitbrecht, H. J., 38, 80, 95 Werner, 12 Wertheimer, 24 Wittgenstein, 27, 89-
90 Wust, Peter, 25
Y
Yarnell, 27 Young, 11, 27
Uma edição extra para os alunos japoneses apareceu em Tóquio, e saiu pela
Dogakuscha Verlag.
A
Amor, 15, 18, 21-22, 73-74, 76-77, 86, 90, 96,100 Análise didática, 94-
95 Ansiedade antecipatória, 48, 50, 59 Arquétipo, 38, 40, 94 Associação livre,
94 Atos falhos, 35 Autoexpressão, 100,106 Autointerpretação,
97 Autotranscendência, 15, 87, 107
Conflito, 11, 39-40, 43,47-48, 65, 94 Conformismo, 11, 26, 108 Consciência, 11, 25-
27, 34, 41, 56, 65, 76, 82, 87, 99, 110 Crescimento econômico, 29 Criatividade, 73,
75, 104, 107 Criminalidade, 20, 108 Crise da aposentadoria, 70 Crise energética,
29 Culpa, 28, 82, 95
E
Educação, 26, 37 Eficiência, 42, 44, 58 Encontro, 15, 24,41, 66, 73, 93
índice analítico
Espiritualidade, 34
Estatística, 11-12
Estresse, 40
Gestalt, 24
Liberdade, 22,49,91, 98-99,110 Linguagem, 69, 97, 106-07 Logoterapia (ver também
“Derreflexão” e “Intenção paradoxal”), 55-56, 58,
Marxismo, 10
Necessidade, 12, 15,23, 28-29,69, 72, 76, 104 Neurose dominical, 28, 70 Neurose
fóbica, 49 Neurose noogênica, 11-12 Neurose obsessiva, 46,49, 58,105 Neurose
sexual, 20-24, 59-64 Noologismo, 81
Reducionismo, 86-87, 106 Religião, 38, 85-91 Repressão, 35 Resistência, 47, 63,
94-95 Reumanização da psicoterapia, 23 Revelação, 87
Satisfação insuficiente, 12 Sensibilidade, 44, 107 Sentido, 9-30, 34, 37-38, 43, 65-
77, 80, 82-83, 86-90, 96-99, 104, 106-10 Sexualidade, 18,20-22,35,
50,61,63,96 Sintoma substituto, 50 Sofrimento, 9, 27-30, 37, 73-77, 80,
Teatro do absurdo, 25 Técnica, 22, 29, 42, 61-62, 85 Tédio, 67-69, 98 Tempo livre,
28-29, 70-71 Terapia breve, 58
V
Valor, 11, 14, 16, 22, 43, 73-75, 80, 93, 96,104
Vazio existencial, 9,11,17, 20, 22,26, 28-29, 67-71, 107 Verdade, 25,28, 90,
99 Vontade de poder, 65, 67, 71 Vontade de prazer, 59, 65-67, 69 Vontade de sentido,
13-18, 23, 27-29, 51,65-69, 71-72, 82, 87-89, 97-98, 104
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Este livro originou-se das aulas ministradas por Frankl na Universidade de Viena,
chamadas “Teoria da neurose e psicoterapia” ou também “Teoria e terapia das
neuroses”. Elas foram completadas pelos originais de palestras que o autor ministrou
em outros lugares. Teoria e Terapia das Neuroses permitirá que os leitores
brasileiros tenham acesso a esse texto essencial sobre a Logoterapia.
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