Capítulo 2
Capítulo 2
Capítulo 2
2. Esse algo real, creio eu, é o colapso total de todas as fontes de valores fora
do indivíduo. Muitos existencialistas europeus estão reagindo, em grande parte, à
conclusão de Nietzsche de que Deus está morto e talvez ao fato de que Marx
também está morto. Os americanos aprenderam que a democracia política e a
prosperidade econômica não resolvem, por si sós, qualquer dos problemas em torno
dos valores básicos. Não há outro lugar para onde nos voltarmos senão para dentro,
para o eu, como local de valores. Paradoxalmente, até alguns existencialistas
religiosos concordam em boa parte com essa conclusão.
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O Prof. Maslow deu-lhes o nome de peak-experiences. Creio que a minha tradução para “experiências
culminantes” corresponde fielmente à idéia do Autor. Cf. por exemplo, no capitulo 7: “3. A pessoa nas
experiências culminantes sente-se no auge de seus poderes, usando todas as suas capacidades da melhor e
da mais completa forma”. (N. do T.)
com a sua sociedade e, de fato, com a sociedade em geral. Ela não só se transcende,
de vários modos, como transcende também a sua cultura. A pessoa resiste à
enculturação. Torna-se mais desligada da sua cultura e da sua sociedade. Passa a ser
um pouco mais um membro da sua espécie e um pouco menos um membro do seu
grupo local. O meu pressentimento é que a maioria dos sociólogos e antropólogos
terão dificuldade em aceitar isso. Portanto, aguardo confiantemente uma
controvérsia nessa área. Mas isso constitui, claramente, uma base para o
“universalismo”.
12. Outra preocupação dos autores existencialistas pode ser, creio eu, descrita
de maneira muito simples. Trata-se da seriedade e profundidade da existência (ou,
talvez, o “sentimento trágico da vida”), em contraste com a vida superficial e frívola,
que é uma espécie de existência diminuída, uma defesa contra os problemas funda-
mentais da vida. Isso não é um mero conceito literário. Tem verdadeiro significado
operacional, por exemplo, na psicoterapia. Tenho ficado (como outros) cada vez
mais impressionado com o fato da tragédia poder, por vezes, ser terapêutica, e da
terapia parecer, com freqüência, atuar melhor quando as pessoas são impelidas para
ela pela dor. É quando a vida frívola não funciona que é posta em dúvida e ocorre
então um apelo aos valores fundamentais. A superficialidade tampouco funciona em
Psicologia, como os existencialistas estão demonstrando muito claramente.
Conclusão
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Para uma exposição mais detalhada deste mesmo tema, ver o meu livro Eupsychian Management (Irwin-
Dorsey, 1965), págs. 194-201.