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PSI7025 – Psicologia Humanista-Existencial
Profas Cynara Abreu, Symone Melo e Ana Karina Azevedo
Docente Assistida: Amanda Melo Slides originais por Symone Melo Temo somente uma coisa: não ser digno do meu tormento. Dostoievsky A liberdade espiritual do ser humano, a qual não se pode tirar, permite-lhe, até o último suspiro, configurar a sua vida de modo que tenha sentido [...]. Se é que a vida tem sentido, também o sofrimento necessariamente o terá. Frankl A tese que nos serviu de ponto de partida: ser homem é ser livre e ser responsável. Frankl https://www.youtube.com/watch?v=oyfnD-Lg_q8 ▪ Viktor Emil Frankl (1905-1997) - Neurologista e Psiquiatra; ▪ Fundador da “Psicoterapia do sentido da vida” ou Logoterapia ▪ A Logoterapia é uma escola psicológica de caráter multifacetado – de cunho fenomenológico, existencial, humanista e teísta. (Holanda, 2010; Kroeff, 2011) ▪ Nasceu em Viena, em março de 1905. ▪ Pais judeus. O pai era secretário no Ministério da Educação Vienense e a mãe dona-de-casa; ▪ Interesse pelos trabalhos de Freud, a quem, aos 16 anos dirige uma carta. Freud pede que ele continue escrevendo; ▪ Aos 19 anos, envia um artigo a Freud, que o publica na Revista Internacional de Psicanálise, em 1924. ▪ Ingressa no campo da Psicanálise, mas começa a discordar do determinismo da teoria freudiana e visão mecanicista do homem; ▪ Aproxima-se de Alfred Adler, ex-discípulo de Freud. ▪ Diverge das propostas de Adler, em especial, da ideia de que o que move o homem é a vontade de poder; ▪ Expulso da sociedade adleriana; ▪ Formou-se em Medicina em 1930; ▪ Prestou serviços no Hospital Psiquiátrico de Viena, no pavilhão de pessoas afetadas por ideações suicidas, onde permaneceu por quatro anos; ▪ Responsável pela criação de centros de atendimento para jovens que tentavam suicídio; ▪ Em dezembro de 1941, casa-se com Tilly Grosser; ▪ A intensa investida dos alemães levou Frankl a pensar em migrar para os Estados Unidos, local no qual teria, além de boas possibilidades de viver com sua esposa (que estava grávida),a chance de se projetar com êxito no campo profissional; ▪ Apesar do desejo, dos benefícios da mudança e do apoio incondicional dos seus pais, Frankl cedeu ao dilema da dúvida. ▪ Sentiu-se angustiado em ter que deixar os seus pais, já idosos, diante do destino cruel reservado às guerras ▪ No final de 1942, a Gestapo prende a família de Frankl e cada um é levado para um lugar diferente; ▪ Frankl ficou prisioneiro no campo de concentração de 1942 a1945. Quando foi libertado, contava com 40 anos de idade e 25kg. ▪ Dedicou seus primeiros tempos de liberdade para saber sobre o paradeiro dos seus familiares. ▪ Ao saber da morte de seu pai, irmão e, principalmente, da morte de Tilly, Frankl ditou (durante nove dias) para o gravador a primeira versão do livro “Um psicólogo no campo de concentração” ▪ Sua mulher Tilly faleceu no campo de concentração. Até o ano de1984, Frankl não teve ciência das circunstâncias nas quais ela foi morta. Foi quando veio ao Brasil, para o 1° Encontro Latino Americano Humanístico-Existencial: Logoterapia, realizado em Porto Alegre, que soube sobre a morte de Tilly; ▪ Entre as muitas pessoas que foram recepcioná-lo na chegada ao Brasil, estava uma cunhada. Durante a guerra, a família Grosser emigrou para Porto Alegre e o sogro de Frankl exerceu o cargo de professor na PUC/RS, uma das entidades promotoras do referido encontro. ▪ Para a surpresa de Frankl, foi no Brasil - momentos antes de seu embarque de retorno - que soube das circunstâncias da morte de sua mulher. ▪ Viktor Frankl viveu três anos no holocausto, onde viu o manuscrito de seu primeiro livro sobre logoterapia ser destruído; ▪ De cada 29 pessoas, apenas uma conseguiria sobreviver; ▪ Frankl afirmava ter duas fortes razões para continuar vivo: escrever seus livros e o encontro com Tilly; ▪ Como lição, percebeu que o ser humano é capaz de suportar os mais intensos sofrimentos, quando tem um sentido para sua vida, uma tarefa cobrando realização, uma missão intransferível.(Gomes, 1992; Bragio, 1982) ▪ O documento mais significativo deste momento de sua vida, está no livro “Em busca de sentido - um psicólogo no campo de concentração”, escrito em dezembro de 1945, poucos meses depois de sua libertação, sob a intensa emoção provocada com a constatação da morte do pai, da esposa e do irmão. ▪ Foi titular das cadeiras de Neurologia e Psiquiatria da Universidade de Viena e também professor de Logoterapia da Universidade Internacional da Califórnia. ▪ Ocupou diversas cadeiras nas Universidade de Harvard, Stanford, Universidades de Dallas (Texas) e de Pittsburgh. ▪ Sua teoria tem sido incorporada em muitos estudos e vários centros de pesquisa por todo o mundo. ▪ Viktor Frankl faleceu em 1997. ▪ No Brasil, a Logoterapia teve como campo privilegiado o estado do Rio Grande do Sul, principalmente na Pontifícia Universidade Católica (PUC). ▪ Vale ressaltar que na América-Latina, em 1984,com a presença de Viktor Frankl, foi fundada a Sociedade Latino Americana de Logoterapia, integrada pelos seguintes países: Argentina, México, Chile, Porto Rico, Uruguai e Brasil, da qual o autor da Logoterapia foi presidente de honra. ▪ Os vinte e seis livros de Frankl foram traduzidos em pelo menos vinte línguas, incluindo o japonês, o coreano, o chinês e algumas línguas africanas. ▪ Sobre a Logoterapia, já são incontáveis os pesquisadores, os terapeutas, os livros e as teses. ▪ Influências – Freud e Adler, Buber, Max Scheler, Heidegger. ▪ O método utilizado pela logoterapia é o fenomenológico; ▪ A existência humana se revela numa cuidadosa análise fenomenológica; ▪ Somente o conhecimento existencial pode ser absoluto. Frankl critica, porém, a concepção existencialista de falta de sentido para a vida; ▪ Considerou-se humanista, embora faça críticas ao sentido de autorrealização (Para Frankl, o sentido está fora, no outro ou na comunidade). ▪ Frankl assinalava a necessidade de agregar à visão de homem uma dimensão além das dimensões física e psíquica, lembrando que apesar de o homem ser uma unidade físico-psíquica, “esta unidade não constitui o homem total; precisamente o espiritual é que institui, funda e garante a totalidade do homem” ▪ O homem é biológico, sociológico, psicológico e espiritual. A teoria de Viktor Emil Frankl concebe uma visão de homem distinta das demais concepções psicológicas de seu tempo ao propor a compreensão da existência mediante fenômenos especificamente humanos e a identificação de sua dimensão espiritual, a qual pela sua dinâmica própria pode despertar a vivência da religiosidade. ▪ Premissas do pensamento de Viktor Frankl:
▪ O homem é ser espiritual-pessoal;
▪ É capaz de se autodeterminar (de fazer escolhas, de encontrar seus próprios sentidos); ▪ Orienta-se, primariamente, para os significados e valores; ▪ A auto transcendência (e não auto realização)pertence de maneira essencial ao ser do homem – abertura para o mundo.(Peter, 1999) ▪ “O conceito de homem da logoterapia está baseado em três pilares, a liberdade da vontade, a vontade de sentido, e o sentido da vida” (Frankl, 1970, p. 16).
▪ O que de fato impulsiona o homem não é nem a vontade de
poder (como aponta Adler), nem a vontade de prazer(como em Freud), mas sim o que Frankl chama de vontade de sentido. ▪ Necessidade dos seres humanos em buscar um telos (sentido, fim, finalidade, vigor de vida), um significado, um por que viver. ▪ Frankl percebeu que as pessoas, especialmente os jovens, que retornaram da Primeira Guerra Mundial na Europa, estavam terrivelmente traumatizados pela destruição sofrida e que somente poderiam recuperar-se psicologicamente dos danos sofridos – incapacidade física, carência de afeto e de recursos logísticos, simbólicos e culturais – quando se empenhassem na busca de um novo sentido para viver. ▪ A busca do indivíduo por um sentido é a motivação primária em sua vida; ▪ Esse sentido é exclusivo e específico, uma vez que precisa e pode ser cumprido somente por aquela determinada pessoa (o que só você pode fazer?); ▪ Frustração existencial – ocorre quando a vontade de sentido é frustrada; ▪ Não importa o sentido da vida de um modo geral, mas antes o sentido específico da vida de uma pessoa em dado momento. ▪ Não se deveria procurar um sentido abstrato da vida. Cada qual tem sua própria vocação ou missão específica na vida. ▪ Cada um precisa executar uma tarefa concreta, que está a exigir realização. Nisto a pessoa não pode ser substituída, nem pode sua vida ser repetida. ▪ Assim, a tarefa de cada um é tão singular como a sua oportunidade específica de levá-la a cabo. ▪ Cada pessoa é questionada pela vida; ▪ e ela somente pode responder à vida respondendo por sua própria vida; ▪ à vida, cada pessoa somente pode responder sendo responsável (capacidade de dar respostas, de responder). ▪ Assim, a logoterapia vê na responsabilidade/responsividade a essência propriamente dita da existência humana; ▪ Para viver é fundamental a manutenção da liberdade, da singularidade e da responsabilidade. ▪ Para Frankl (2013, p 135), podemos descobrir o sentido na vida de três diferentes formas: ▪ Criando um trabalho ou praticando um ato; ▪ Experimentando algo – como a bondade, a verdade, a cultura ou a natureza, ou encontrando alguém – amor. ▪ Pela atitude que tomamos frente ao sofrimento inevitável. Tríade trágica: dor, culpa e morte. “Quando já não somos capazes de mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós próprios.” ▪ A vida tem um sentido em qualquer circunstância e a despeito da tríade trágica: Dor, Culpa e Morte ▪ Otimismo trágico – otimismo diante da tragédia (da tríade) ▪ “ Como é possível dizer sim à vida apesar de tudo isso?”(Frankl, 1984/2013, p. 161) ▪ Diante da dor: transformar o sofrimento numa conquista e numa realização humana; ▪ Diante da culpa: extrair da culpa a oportunidade de mudar a si mesmo para melhor; ▪ Diante da morte: fazer da transitoriedade da vida um incentivo para realizar ações responsáveis. (...) a consciência e a responsabilidade constituem precisamente os dois fatos fundamentais da existência humana. O que, traduzido numa forma antropológica fundamental, podia expressar-se assim: ser-homem equivale a ser-consciente e responsável (...) são os dois aspectos juntos e combinados que oferecem a imagem total e verdadeira do homem. (Frankl, 1967, p. 13). O homem é a sua liberdade. Aquilo que o homem apenas tem poderá perder. A liberdade, porém, é característica permanente e definitiva do homem. Mesmo que a ela renuncie, o próprio ato dessa voluntária renúncia acontece na liberdade. [...]. O julgamento sobre a liberdade ou inexistência da mesma não será feito simplesmente à base da teoria, mas em primeiro plano, na prática, no agir aqui e agora. (Frankl 1991, p. 118-119) Não preciso de que ninguém me chame a atenção para a condicionalidade do homem - afinal de contas, eu sou especialista em duas matérias, neurologia e psiquiatria, e nessa qualidade sei muito bem da condicionalidade biopsicológica do homem; acontece, porém, que não sou apenas um especialista em duas matérias, sou também sobrevivente de quatro campos de concentração, e por isso também sei perfeitamente até onde vai a liberdade do homem, que é capaz de resistir às mais rigorosas e duras condições e circunstâncias, escorando-se naquela força que costumo denominar de resistência do espírito. (Frankl, 1989, p. 41). ▪ Para Frankl (1989), os processos de massificação eliminam a singularidade da pessoa, fazendo de cada indivíduo uma simples cópia do outro. ▪ Nela, não é possível encontrar a singularidade, a diversidade, a ação e as atribuições individuais. ▪ É longe das massas e próximo à comunidade que o ser humano tem a possibilidade de renascer para a vida individual e coletiva. A Logoterapia defende a diferença entre a comunidade e a massa: “Uma verdadeira comunidade é essencialmente comunidade de pessoas ‘responsáveis’, ao passo que a pura massa é apenas uma soma de seres despersonalizados” (Frankl, 1989, p. 118). ▪ O passado não decide todo o destino do homem. O homem não é apenas aquilo que ele é, é também aquilo que ele decide ser; ▪ A liberdade do homem é liberdade de tomar atitude em qualquer condição em que se encontre. Em última instância, o homem decide sobre si mesmo; ▪ O problema fundamental do homem é descobrir e realizar o significado da própria existência, por meio da realidade concreta da vida. ▪ A pessoa humana tem uma espiritualidade inconsciente, pulsante no íntimo de cada pessoa; ▪ Presença ignorada, eterna e oculta de Deus; ▪ Na angústia intensa, aparece uma fé, uma esperança no futuro que faz brotar o sentido da vida, a crença em Deus; ▪ O Deus oculto não é um Deus mágico no sentido espiritual, mas uma energia que aparece quando todas as outras sumiram. (Gomes, 1992) ▪ A logoterapia não concebe da mesma forma o fenômeno da fé como crença em Deus, mas concebe-a como uma crença ampliada no sentido; sendo assim, é legítimo que ela não se ocupe apenas com a “vontade de sentido”, mas também com a vontade de um sentido último, um “super sentido”. ▪ Ou seja, a fé religiosa é uma crença no suprassentido”. ▪ “A verdadeira religiosidade não tem caráter de impulso, mas antes de decisão” (Frankl, 1993, p. 56). ▪ A religião é a consciência que o homem tem de sua dimensão sobre- humana e nesta dimensão se apoia a fé básica no sentido último da vida. ▪ Logoterapia – psicoterapia centrada no sentido; ▪ Logos – sentido; O papel do logoterapeuta consiste em ampliar e alargar o campo fenomenológico do paciente de forma que todo o espectro do significado e dos valores se torne consciente e visível para ele” (Frankl, 1977, pp. 173-174). ▪ Na logoterapia, o ser humano é concebido como um ser livre, capaz de tomar consciência desta liberdade, e de agir responsavelmente, motivado pelo que considera os sentidos de sua vida. ▪ A logoterapia visa ampliar a capacidade da pessoa de perceber todas as possibilidades existentes de sentido em sua vida, escolhendo para realizar aquelas que considerar mais significativas. ▪ Quando o sentido de vida não está presente na vida da pessoa, esta pode experienciar um vazio existencial. (Kroeff, 2011) ▪ Esse vazio existencial pode ser atribuído à perda dos instintos e da tradição que o homem tem experimentado desde que se tornou um ser verdadeiramente humano... ▪ .... agora, o homem precisa fazer escolhas; ▪ Nenhum instinto lhe diz o que deve fazer e não há tradição que lhe diga o que ele deveria fazer, às vezes ele não sabe sequer o que deseja fazer. ▪ Em vez disso, ele deseja fazer o que os outros fazem (conformismo) ou ele faz o que outras pessoas querem que ele faça (totalitarismo). ▪ O vazio existencial se manifesta principalmente sob a forma de tédio. ▪ Não são poucos os casos de suicídio que podem ser atribuídos a este vazio existencial. ▪ Fenômenos como depressão, agressão e vício não podem ser entendidos se não reconhecermos o vazio existencial subjacente a eles. ▪ O vazio existencial ainda utiliza diversas máscaras e disfarces. ▪ A preocupação ou desespero da pessoa sobre se sua vida vale a pena ser vivida é uma angústia existencial, mas de forma alguma uma doença mental; ▪ Ao invés de remédios, o paciente precisa ser guiado através de suas crises existenciais a encontrar sentido em sua vida; ▪ Neuroses noogênicas (noo = mente) – neuroses causadas pelos problemas existenciais, como a frustração existencial. ▪ A busca por sentido pode causar tensão interior em vez de equilíbrio interior. Tal tensão, entretanto, é um pré-requisito indispensável para a saúde mental; ▪ Quando os terapeutas desejam incrementar a saúde mental de seus pacientes, não deveriam ter receio de criar uma sadia quantidade de tensão através da reorientação para o sentido da sua vida. (Frankl, 1991) ▪ Ao utilizar o termo noodinâmica, Frankl critica as concepções de saúde mental a partir do ideal do equilíbrio homeostático, pois segundo ele, uma determinada tensão é necessária para a existência humana. ▪ A noodinâmica é a tensão essencialmente humana, é a própria dinâmica existencial; é a tensão que se estabelece entre o homem e o sentido, entre o ser e o dever-ser. ▪ E nela está presente a liberdade a qual permite escolher uma ou outra possibilidade (Roehe, 2005) ▪ Intenção paradoxal – a arte de prescrever ao cliente o sofrimento que ele já possui. Com ela, o terapeuta propõe ao cliente manter o sintoma que está incomodando como estratégia para conseguir o contrário; ▪ Derreflexão – Tentativa de deslocar a atenção do cliente que está preocupado com a sua doença (hiper-reflexão) para alguma coisa mais importante e significativa de sua vida. ▪ Os próprios pacientes, através de suas questões, perguntas e problemas forçam a entrada dos temas filosóficos no campo da psicoterapia; ▪ É certo que tais questões, perguntas e problemas superam a psicoterapia enquanto tal, mas também é certo que uma teoria psicológica do homem não pode excluir tais questões, perguntas e problemas que são próprias do homem, nem renunciar a eles. (Peter, 1999) https://www.youtube.com/watch?v=e5878lMpVkc https://www.youtube.com/watch?v=ilRNmwNvuWk