A Hora Do Porco
A Hora Do Porco
A Hora Do Porco
Rio de Janeiro, RJ
13 de outubro de 2020
O presente trabalho relaciona o filme “The hour of the pig”, também conhecido
como “Entre a luz e as trevas”, dirigido por Leslie Megahey, com textos que dizem
respeito ao direito na Idade Média e suas características.
O objetivo desse trabalho é comentar, de maneira crítica, qual era o papel do
direito medieval em sua sociedade e como esse se apresentava nessa época, tal como
mostrar a importância e influência desse direito para o que conhecemos na
contemporaneidade.
Em primeiro lugar, devemos compreender o que é a história do direito: entende-
se por História do Direito o estudo do passado jurídico de toda humanidade, levando em
consideração todos os episódios ocorridos, uma vez que esses servem como forma de
legitimação do direito atual, como diz os estudos de Antonio Manuel Hespanha,
importante historiador. Dessa forma, a partir do século XIX, as escolas começaram a
questionar a naturalidade do direito contemporâneo. Assim, entendemos como o direito
é utilizado como objeto de estudo.
2. Resumo do filme
O filme “The hour of the pig”, retrata fatos verídicos sobre a vida do advogado
Bartholomew Chassenee, cujas defesas de animais se encontram documentadas. O longa-
metragem mostra o direito medieval sendo posto em prática, em uma cidade na França,
durante o século XV (esse século também ficou conhecido como “dark ages”). Assim,
podemos ver as peculiaridades do direito da época, e a imensa diferença para a legislação
atual, uma vez que esse determinava que os animais eram submetidos às mesmas leis
civis que os seres humanos, ou seja, poderiam ser julgados por um tribunal, processados
por crimes, condenados à pena de morte, etc.
Na obra cinematográfica, por mais que seja apresentado outros casos, a trama gira
em torno de um julgamento em corte de um porco, o qual está sendo acusado de assassinar
uma criança, que foi encontrada morta com marcas pelo corpo por uma bruxa. Como os
animais nessa época usufruíam de condições iguais as dos seres humanos, o porco é
defendido por um advogado, o qual no início se revolta por ter pego o caso de um animal,
mas ao se apaixonar pela dona do porco, se esforça muito para ganhar esse caso e poupar
o bicho de ser condenado à pena de morte.
O defensor do porco acusado descobre que o assassinato da criança não era um
caso isolado, e sim em série, e descobre o verdadeiro responsável pelo crime, o qual foge
ao ser descoberto para não ser julgado pelo assassinato cometido. No final, o porco
acusado é considerado não culpado e liberado e outro porco é condenado e morto em seu
lugar.
Diferente dos direitos anteriores ao direito medieval, esse contava com uma
sociedade estratificada e extremamente hierarquizada, ou seja, não estava presente nessa
época uma estrutura homogênea, e sim, uma estrutura dividida em camadas sociais, o que
fazia com que as relações de poder fossem claramente marcadas e possuía diferenças
muito nítidas entre pessoas de diferentes camadas.
Niklas Luhmann, famoso sociólogo do século XX, criou a teoria dos sistemas
sociais, que caracterizava cada sociedade de uma maneira. Pautando-se nessa teoria, a
sociedade da Idade Média estaria intrinsecamente interligada com a diferenciação
estratificatória, que se caracteriza pela existência de diferentes camadas sociais, cada uma
com um nível distinto de poder e pela presença do pluralismo jurídico.
Logo, pode se dizer que a sociedade medieval tinha como uma de suas principais
características sua estrutura vertical de poder, existindo um ponto mais alto de uma
ordem, a qual se auto sustenta. Tal separação e hierarquização dessa sociedade, dava- se,
sobretudo, pela imensa influência e poder da igreja. Existia uma forte associação entre a
autoridade e divindade, ou seja, uma teologia política, na qual era entendido que o rei
representava a imagem do Cristo vivo. Assim, a ordem era vista como um dom originário
de Deus, segundo São Tomás. Dessa forma, fica nítido que quanto mais perto do topo da
pirâmide social, era compreendido que estava mais perto de Deus, comprovando a grande
importância da igreja nesse período.
No filme “A hora do porco”, o poder e relevância da igreja católica é apresentado
diversas vezes. A criança assassinada, que está sendo defendida pelo Estado, seguia o
judaísmo, o que fez com que o advogado questionasse se isso tornava o crime mais leve
do que se fosse a mesma situação com uma criança cristã, comprovando também, a
imensa influência que a igreja católica possuía não só nos valores da sociedade, como
também no direito praticado por essa. Além disso, outra passagem que valida a
interferência do cristianismo no consciente das pessoas da época é também com a morte
da criança, que por sua jovialidade faz com que os planos de Deus sejam questionados,
pois põe em dúvida a ordem natural das coisas e, assim, faz com que a sociedade fique
com medo e receio do futuro desconhecido.
A influência da religião era tão forte, que a justificativa para julgar animais em
cortes era a ideia que circulava na sociedade de que alguns animais já nasciam com a
maldade dentro de si, acreditava se que o diabo estava presente em seu corpo, e é com
base nesse pensamento que o Estado pauta toda a sua defesa contra o porco. Ademais, é
apresentado um lugar chamado “The Inferno”, no qual estavam presentes diversos
elementos que apresentam a absoluta corrupção do poder, ou seja, o que era visto como
ruim na religião, o inferno, foi utilizado para representar algo que é negativo na sociedade,
a corrupção.
O século XV na França ficou marcado e conhecido por ser a Idade das Trevas.
Isso ocorreu por esse período ter coincidido com o alastramento de uma das maiores
pandemias da história, conhecida como peste negra, a qual acometeu principalmente a
população na Europa, causando uma intensa baixa populacional. A chegada da peste é
retratada no final do filme em questão, e é apresentado que a sociedade da época vivia
com medo da aproximação da peste bubônica na cidade em que estavam vivendo e
acreditavam em diversas superstições, como a de que propagação da doença era um
castigo divino.
Em tempos incertos e repletos de inseguranças, como a Idade das Trevas, a Igreja
Católica deveria servir como luz para a sociedade, mas muitas vezes acabava não sendo,
já que essa era tão corrupta para atingir seus interesses quanto o Estado. Isso se deve ao
fato de que pessoas que se encontravam no topo da pirâmide da hierarquização social, ou
seja, aqueles que se entendiam e eram vistos como os mais próximos de Deus, defendiam
sempre seu interesse próprio, até quando o assunto era justiça. Tal corrupção pode ser
vista no filme durante o caso Estado X Porco, quando o advogado descobre o real
assassino do menino e leva ao pai do criminoso a sua descoberta, nesse momento, o
homem, que vinha de família poderosa não nega que estava ciente dessa situação e avisa
ao defensor do porco que seu filho havia fugido, ou seja, não respondeu pelo crime que
comentou.
4. Soberania medieval
O detentor do poder durante o regime político medieval mostra uma
certa indiferença em tornar o direito um instrumento obrigatório em sua administração,
esse se preocupava mais com o direito público, ou seja, na conservação do poder. Sendo
assim, é possível perceber certa independência entre direito e política (ius e potestas).
Dessa forma, é tácito definir a soberania medieval pautando se nos conceitos de liberdade
e autonomia.
Com o conceito de soberania medieval está atrelado o conceito de “superioritas”,
que diz respeito a uma posição de superioridade em relação a outro que é tido como
inferior.
Essa soberania da Idade Média se difere da soberania moderna, uma vez que a
segunda une direito e política em único vértice, e tem como principais características o
poder absoluto, único e ilimitado.
5. Pluralismo jurídico
6. Legado
7. Conclusão