Apostila Escola Missionaria AM

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Igreja Adventista™

do Sétimo Dia
DISTRITO ALTO MARACANÃ
ASSOCIAÇÃO CENTRAL PARANAENSE

Material referente ao módulo 1 (Teologia) da Escola Missionária do Distrito do Alto Maracanã


Associação Central Paranaense da Igreja Adventista do Sétimo Dia

Ficha técnica
Escrito e diagramado por: Marcelo Altamiro Coelho
Supervisão: Júlio Padilha (MIPES ACP)

© 2021 Marcelo Altamiro Coelho

Impresso no Brasil

“Reservados todos os direitos. Salvo exceção prevista pela lei, não é permitida a reprodução total ou parcial desta
obra, nem a sua incorporação a um sistema informático, nem a sua transmissão em qualquer forma ou por qual-
quer meio (eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou outros) sem autorização prévia e por escrito dos titulares
do copyright. A infração de ditos direitos implica sanções legais e pode constituir um delito contra a propriedade
intelectual.”

2
Índice

Introdução ............................................................................................................... 4
1. Criação da Terra ............................................................................................... 9
2. Criação da humanidade ................................................................................. 17
3. Queda ............................................................................................................. 25
4. Redenção ........................................................................................................ 33
5. Dilúvio ............................................................................................................ 37
6. Plano de Deus ................................................................................................ 45
7. Patriarcas ........................................................................................................ 53
8. Êxodo ............................................................................................................. 59
9. Sinai ................................................................................................................ 65
10. Mandamentos e Santuário ............................................................................. 75
11. Levítico e Números ........................................................................................ 85
12. Do deserto à Canaã ........................................................................................ 91
13. Rute, Davi e Salomão ..................................................................................... 97
14. Salmos .......................................................................................................... 103
15. Reis e Exílio ................................................................................................. 109
16. Profetas .......................................................................................................... 113
17. Daniel ............................................................................................................ 119
18. Daniel 8 e 9 ................................................................................................... 129
19. Período intertestamentário........................................................................... 135
20. Evangelhos ................................................................................................... 143
21. Jesus ............................................................................................................. 153
22. Ensinos e morte de Jesus .............................................................................. 161
23. Missão e a Igreja Primitiva .......................................................................... 169
24. Do ano 100 a 300 d.C .................................................................................... 179
25. Apocalipse .................................................................................................... 187
26. Tempo do Fim ............................................................................................. 195
27. Dom profético .............................................................................................. 205
28. Eventos escatológicos .................................................................................. 213
Conclusão ............................................................................................................ 219

3
4
Introdução
Estudar a Bíblia é um grande privilégio. Ela abre nossa mente e nos faz enxergar o que
está envolvido no Grande Conflito entre o bem e o mal, nos mostra a Cristo e nos ajuda a lidar
com todas as dimensões da vida. Um estudante não se debruça sobre o livro sagrado somente
para a aquisição de conhecimento, mas para ser transformado à “imagem e semelhança” do
Criador.
Este material é fruto do sonho de fazer pessoas compreenderem cronologicamente a es-
sência da Palavra de Deus e se apaixonarem pela história bíblica. Muitos cristãos têm um co-
nhecimento temático da Bíblia, ou seja, entendem os diversos temas ou doutrinas contidos nas
Escrituras, porém lhes falta um elemento unificador que conectará os temas à história geral
bíblica.
Os 28 capítulos são o conteúdo das aulas ministradas no curso de Teologia da Escola
Missionária. Diversas contribuições dos alunos, colegas teólogos e os infindáveis recursos teo-
lógicos fazem parte da base do presente material. Procuramos referenciar cada ideia, porém
pode ocorrer que em meio a tantas aulas e palestras assistidas, podcasts ouvidos e livros lidos,
algo não tenha sido devidamente creditado ao autor original.

4 etapas da história
A proposta do presente material é estudar cronologicamente1 os eventos da Bíblia, tendo
como pano de fundo o Grande Conflito entre Cristo e Satanás. Para facilitar a compreensão,
seguimos a divisão proposta por Timothy Keller2 das quatro etapas da história bíblica:

1 Pode-se estudar a Bíblia também tendo como base alguns temas, como o Lar/exílio, Aliança, Reino e outros. “D. A. Carson propõe a existência de mais

ou menos vinte temas intercanônicos que solidificam a Bíblia.” Citado por Timothy Keller em Igreja Centrada, p. 50.
2 Timothy Keller. Igreja Centrada, p. 49.

5
1. O que Deus quis para nós - propósito original (Criação)

2. O que nos aconteceu e o que deu errado com o mundo (Queda)

3. O que Deus fez por meio de Jesus para endireitar as coisas (Redenção)
4. Em consequência de tudo isso, qual será o fim da história (Restauração)
Deus primeiro cria todas as coisas para um propósito original muito especial. Então o
homem e a mulher caem em pecado e destroem esse propósito. Deus cria um plano de reden-
ção, ou de salvação para a humanidade. E por fim a Bíblia mostra como Ele restaurará todas as
coisas para elas serem como eram no princípio. Esse é o resumo de toda a Bíblia. 4 partes, 4
etapas, 4 capítulos da história. Nunca se esqueça desse resumo, pois isso te ajuda a entender
como cada história se relaciona ao quadro completo e geral.3

Capítulos Narrativa do Evangelho Verdades do Evangelho


Capítulo 1 De onde viemos? De Deus: aquele que é único, mas se relaciona conosco
Capítulo 2 Por que as cosias deram tão errado? Por causa do pecado: escravidão e condenação
Capítulo 3 O que restaurará todas as coisas? Cristo: encarnação, substituição, restauração
Capítulo 4 Como posso ser restaurado? Por meio da fé: graça e verdade

Aprender teologia é como aprender marcenaria. Há pelo menos duas maneiras: uma é
você ter uma aula sobre todas as ferramentas e suas utilidades. Depois você teoricamente estará
pronto para fazer qualquer móvel ou peça de madeira. Outra forma é alguém fazer um móvel
ou peça junto com você e à medida que o trabalho está sendo feito, essa pessoa te mostra a
usabilidade de cada ferramenta e como ela deve ser usada naquela etapa do processo.
Em se tratando de Teologia, essa segunda maneira pode ser cha-
mada de método histórico-redentivo, percorrendo um arco narrativo onde as O método histórico-re-
histórias bíblicas vão sendo contadas e conectadas ao todo, e os conceitos dentivo, percorre o
teológicos e doutrinas vão sendo aplicados e entendidos à medida que
arco narrativo das his-
aparecem. Essa abordagem organiza a Bíblia por estágios ou enredo da
tórias bíblicas.
história fazendo perguntas que o método teológico-sistemático (estudar a Bí-
blia por temas e categorias) pode fornecer as respostas depois.
“O método teológico-sistemático, usado independentemente do método histórico-redentivo,
pode produzir um cristianismo racionalista, legalista e individualista. Da mesma forma, o mé-
todo histórico-redentivo usado independentemente do método teológico-sistemático, provavelmente
reproduz um cristianismo que ama a narrativa e a comunidade, mas evita as distinções evidentes
entre a graça e a lei e entre a verdade e a heresia.”4

Conceitos e ferramentas da Teologia


Os conceitos da Teologia não são difíceis. Entenda o significado de algumas palavras-
chave que estudaremos neste material. Muitas delas vieram de raízes gregas:
• Teologia –gr. Theos (Deus) Logia (Estudo)- o estudo sobre Deus
• Antropologia –gr. Antropós (homem) Logia (Estudo) – o estudo sobre a humanidade

3 Thimoty Keller, Igreja Centrada, p. 41.

4 Keller, p. 50

6
• Soteriologia –gr. Sotér (Salvação) Logia (Estudo) - como os habitantes da cidade de Salva-
dor (soteropolitanos)
• Pneumatologia –gr. Pneuma (Espírito) Logia (Estudo)- estudo do Espírito Santo
• Eclesiologia –gr. Eklesia (Igreja) Logia (Estudo) – o estudo sobre a igreja
• Escatologia - gr. Escatós (Fim) Logia (Estudo) – o estudo sobre os eventos finais
• Cristologia - gr. Cristhós (Cristo) Logia (Estudo) – o estudo sobre Cristo

Esses são os conceitos que aprenderemos ao longo da história. E duas ferramentas são
imprescindíveis:
1. Exegese - é uma análise detalhada do que está escrito, do texto em si. Literalmente sig-
nifica “arrancar para fora” o significado do texto.
2. Hermenêutica - é a arte que analisa não somente o texto, mas também o contexto, tor-
nando-se imprescindíveis elementos como fator histórico, momento político em que o
texto ou livro foi escrito, fator social, cultural, econômico, etc.

Vale à pena confiar?


Muitos dizem que a Bíblia foi uma invenção da Idade Média, ou ainda que foi composta
e editada intencionalmente ao longo dos séculos. Outros afirmam que as histórias de fato não
aconteceram e que, portanto, não merece confiança.
Há inúmeras evidências que nos ajudam a responder esses questionamentos, especial-
mente no campo da arqueologia, que é o estudo da antiguidade:
• Pedra Moabita – descoberta em 1868, em Dibon, Jordão, confirma os ataques dos Mo-
abitas a Israel, conforme relatado em 2 Reis 1 e 3.
• Carta de Laquis – Descobertas em 1932 a 1938, a 38 km ao norte de Berseba e que
descrevem o ataque de Nabucodonosor a Jerusalém em 568 a.C.
• Manuscritos do Mar Morto – Descobertos em 1948. Datam de 150 a 170 a.C e contém
todo ou partes dos livros do AT, à exceção do livro de Ester. Eles confirmam a exatidão
da Bíblia.
• O cilindro de Tiro – relata a destruição de Babilônia por Ciro e seu subsequente livra-
mento dos cativos Judeus.
• Pedra de Roseta – Descoberta em 1799 no Egito, por cientistas de Napoleão. Foi escrita
em 3 línguas: hieroglífica, demótica e grega. Esta pedra veio desvendar o mistério da de-
cifração dos caracteres hieroglíficos. A compreensão dos hieroglíficos ajuda a confirmar
a autenticidade do texto bíblico.
Mas como o texto bíblico foi preservado por tanto tempo? Alguns grupos no passado se
encarregaram de copiar e preservar essas cópias fidedignamente. Um desses grupos é chamado
de Massoretas, que surgiu por volta do ano 700 a.C. Para entender como ele preservaram as
Escrituras, devemos compreender que a Bíblia foi originalmente escrita em hebraico, aramaico
e grego. O hebraico era escrito sem vogais, sem espaços e pontuações, somente consoantes. Gn
1:1(em português) ficaria assim: NPRNCPCRDSSCTRR. Os Massoretas copiavam a Bíblia in-
teira, letra por letra. Ao final de cada página, eles contavam cada letra, palavra, frase, seção e

7
parágrafo. Se algo estivesse faltando, rasgavam e começavam de novo.5 Portanto, as cópias dos
Massoretas são extremamente fieis ao texto original. Praticamente tudo o que temos hoje pro-
vém das cópias dos manuscritos antigos, pois os originais se perderam. Mas devido ao nível de
excelência e comprometimento que os Massoretas empreenderam em seu trabalho, podemos
afirmar que a Bíblia, tal como ela é hoje, merece a nossa confiança.

Cristo
E há um outro ponto que merece nossa atenção: A Bíblia inteira serve para mostrar que
o personagem central e principal é Cristo Jesus. Ele é o elo central que liga todos os livros,
histórias, personagens e símbolos. É preciso trilhar o caminho que cada texto bíblico leva até
Cristo, pois este é o caminho que Deus proveu para isso.
Ele é a esperança dos patriarcas, a rocha de Moisés, o cumpridor de toda a Lei e o último
templo. Ele também é o comandante do exército do Senhor, o verdadeiro Rei e o verdadeiro
Israel. Ele é o rei prometido, o servo sofredor e a verdadeira sabedoria
de Deus. Ele é o juiz que foi julgado. É a serpente levantada no deserto Todos os temas, figu-
para o livramento do seu povo. Ele transforma a árvore em madeiro e ras e personagens
dá vida a nós. É a realização máxima e completa de todo o sistema sacri- apontam e fazem sen-
fical do AT. É o sumo sacerdote, os utensílios, o templo e o próprio tido em Jesus e sua
sacrifício. Ele está presente em cada parte da Escritura. Tudo converge
obra de salvação.
para Jesus. Todos os temas, figuras e personagens apontam e fazem sen-
tido em Jesus e sua obra de salvação.6
Tudo isso nos ajuda a entender que a Bíblia foi preservada para um propósito especial.
Creia nela. Confie nela. Estude-a cada dia mais. Aprofunde seu conhecimento. Cresça espiritu-
almente. Nos próximos capítulos iremos aprofundar esses ensinamentos.

Observação: ao longo do material você encontrará caixas amarelas chamados de Crença detectada.
Nelas está contida uma crença extraída da história bíblica. São 28 caixas ao longo do texto. O número no início
indica a ordem em que elas aparecem no livro Nisto Cremos.

CRENÇA DETECTADA 1. As Escrituras Sagradas - As Escrituras Sagradas, o Antigo e o Novo Testamento, são a Palavra de Deus
escrita, dada por inspiração divina por intermédio de santos homens de Deus que falaram e escreveram ao serem movidos pelo Espírito
Santo. (2 Pedro 1:20 e 21; 2 Timóteo 3:16 e 17; Salmos 119:105; Provérbios 30:5 e 6; Isaías 8:20; João 10:35; 17:17; 1 Tessaloni-
censes 2:13; Hebreus 4:12).

A igreja Adventista crê em 6 doutrinas (doutrina de Deus, do homem, da salvação, da igreja, da vida
cristã e dos eventos finais), subdivididas nas 28 crenças fundamentais7 que você encontrará nas páginas seguintes.
Bom estudo!

5 Samuel Korateng-Pipim. Receiving the Word: How New Approaches to the Bible Impact Our Biblical Faith and Lifestyle., p. 47.

6 Timothy Keller. Pregação: comunicando a fé na era do ceticismo, p. 88

7 https://www.adventistas.org/pt/institucional/crencas/

8
CAPÍTULO 1

Criação da Terra
Toda a narrativa bíblica do Grande Conflito pode ser dividida em 4 etapas: Criação, Queda, Redenção
e Restauração. Este primeiro capítulo detalhará a Criação da Terra e está baseado em Gênesis 1.
Entender os primeiros 12 capítulos de Gênesis (Gn) é fundamental
para compreender todo o restante da Bíblia, pois nesses capítulos conta Entender os primeiros
como tudo começou, dá as bases naturais e históricas da humanidade e 12 capítulos de Gêne-
mostra o desenrolar da história do mundo. Se Deus não nos criou, então sis é fundamental para
não temos base lógica para crer em Jesus como Messias, na Sua Volta, na compreender todo o
santidade do casamento, nos Dez Mandamentos, na vida como um dom, restante da Bíblia.
entre outros pontos.8 Gênesis nos ajuda a responder perguntas funda-
mentais: de onde viemos, quem somos, qual o propósito da vida e para onde estamos indo.
O relato da Criação é único, pois “é sem rival. Em lugar algum, no antigo Oriente Próximo
ou no Egito, há algo semelhante registrado. As palavras específicas para Criador, criação e cria-
tura– relacionadas a Deus, mundo e humanidade, em Gênesis 1 e 2 – definem todo o tom da
maravilhosa e singular mensagem salvífica apresentada na Bíblia.”9

Gênesis 1:1
O texto bíblico diz: “No princípio Deus criou os céus e a terra.” Essa simples declaração tenta
responder as seguintes perguntas: Quando criou? Quem criou? Como criou? O que criou? Para
que criou?
É evidente que a Bíblia não responde a todas as perguntas científicas da origem do uni-
verso, pois o propósito original do livro sagrado é contar a história da redenção e fazer a huma-
nidade entender onde se encaixa no plano divino. Então não espere encontrar todas as respostas
no texto bíblico, especialmente os detalhes da criação. É muito resumido. Por isso a necessidade
de a ciência ser uma aliada à fé.

8 https://dialogue.adventist.org/pt/404/criacao-e-uma-fe-logica

9 Gerhard F. Hasel e Michael G. Hasel em https://dialogue.adventist.org/pt/2236/a-cosmologia-unica-de-genesis-1

9
Quando foi o “no princípio?”
O texto bíblico dá margem para duas interpretações:10
PRIMEIRA INTEPRETAÇÃO: Deus criou tudo a partir do nada logo no primeiro
dia. E a Bíblia não relata como foi o processo da criação da água, por exemplo, apenas relata o
que Ele fez para dar forma e encher uma “bola” de terra e água que estava sem forma e vazia.
Esta teoria é chamada de o “não intervalo”, pois não houve uma lacuna entre o verso 1, 2 e 3
de Gn 1. A matéria bruta (terra sem forma e vazia) já estava incluída no primeiro dia da Criação.

SEGUNDA INTERPRETAÇÃO:
Deus criou algo antes Intervalo desconhecido Criação da terra

É possível que a matéria bruta dos céus e da Terra em seu estado informe fosse criada
muito tempo antes dos sete dias da semana da Criação. Esta é a teoria do "intervalo passivo".
Deus havia criado algo antes, mas somente no evento da Criação deu forma ao que estava sem
forma e encheu o que estava vazio. Isso explicaria a existência de rochas muito mais antigas e
sem fósseis, com um longo intervalo entre a criação da "matéria bruta" descrita em Gênesis 1:1-
2 e os sete dias da semana da Criação descrita no verso 3 e nos versos seguintes.
De qualquer forma, “não há margem para um intervalo de tempo na criação da vida na
Terra: ela surgiu do terceiro ao sexto dias literais e consecutivos da semana da Criação.”11Por-
tanto, a Bíblia, especialmente as cronologias, dão margem para que a vida humana tenha não
mais que 6 mil anos de existência. Assim também, o Gn não relata a criação do Universo, mas
somente o planeta Terra e o que está ao seu redor.12 Sobre a criação do Universo, leia Hb 11:1.

Quem criou?
O livro de Gn e toda a Bíblia tratam sobre Deus primariamente. Uma das grandes funções
da Bíblia, além de mostrar a história da redenção, é revelar o caráter de Deus. Gn fala que Deus
criou todas as coisas, inclusive o homem. Mas surge a pergunta: que Deus?
Existem muitas palavras para Deus na Bíblia. Uma das mais frequentes, que aparece
aprox. 2.500 vezes no AT, é Elohim ‫ִהים‬#‫ֱא‬. Elohim é um nome plural que significa “Forte”,
“Poderoso”. Mesmo Deus sendo um, existe uma pluralidade de pessoas na Divindade. A Bíblia
diz que Deus Pai, Filho e Espírito Santo criaram todas as coisas.13

10 Richard Davidson analisa sete interpretações gerais para Gn 1:1 no artigo https://dialogue.adventist.org/pt/76/no-principio-como-interpretar-genesis-

1. Tomaremos apenas as duas principais.


11 https://dialogue.adventist.org/pt/76/no-principio-como-interpretar-genesis-1

12 “Um estudo mais aprofundado das 41 formas de uso da frase “o céu e a Terra” revela que elas não significam que Deus criou todo o Universo, já com

os milhares de galáxias, na ocasião em que Ele criou o mundo. O foco permanece no planeta Terra e em seus arredores mais ou menos próximos. As
ideias elevadas expressas nesse primeiro verso da Bíblia definem o rumo de toda a cosmologia de Gênesis. https://dialogue.adventist.org/pt/2236/a-
cosmologia-unica-de-genesis-1
13 O nome do Ser Supremo, significando em hebraico "Forte", "Poderoso". É expressivo de poder onipotente; e por seu uso aqui na forma plural, é

obscuramente ensinado na abertura da Bíblia, uma doutrina claramente revelada em outras partes dela, a saber, que embora Deus seja um, há uma
pluralidade de pessoas na Deidade - Pai, Filho e Espírito, que estavam envolvidos no trabalho criativo (Pv 8:27; Jo 1: 3, 10; Ef 3: 9; Hb 1: 2; Jó 26:13).
Jamieson, R., Fausset, A. R., & Brown, D. (1997). Comentário crítico e explicativo de toda a Bíblia (Vol. 1, p. 17). OakHarbor, WA: Sistemas de pesquisa de
logotipos, Inc.Jamieson, R., Fausset, A. R., & Brown, D. (1997). Commentary Critical and Explanatory on the Whole Bible (Vol. 1, p. 17). Oak Harbor, WA: Logos

10
Quem estava na Criação?
Deus Pai (Ef 3:9), Deus Filho (Jo 1:3) e Deus Espírito Santo (Gn 1:2). Todas as vezes que a
Divindade está atuando em eventos grandiosos e poderosos, aparece o nome Deus, Elohim.
CRENÇA DETECTADA 2. A Trindade: Há um só Deus: Pai, Filho e Espírito Santo. Uma unidade de três Pessoas coeternas. Deus é
imortal, onipotente, onisciente, acima de tudo, e sempre presente. (Deuteronômio 6:4; 29:29; Mateus 28:19; 2 Coríntios 13:13; Efé-
sios 4:4-6; 1 Pedro 1:2; 1 Timóteo 1:17; Apocalipse 14:6 e 7).

Entender que Deus criou todas as coisas, nos ajuda a evitar três teorias muito presentes
em nossa sociedade:
• Ateísmo – pois a Bíblia fala da existência de Deus.
• Politeísmo – pois rechaça a ideia de vários deuses. Ele criou tudo sozinho.
• Panteísmo – pois Ele não é a criação, mas exerce domínio sobre a criação.

CRENÇA DETECTADA 3. Deus Pai - Deus o Eterno Pai, é o criador, o originador, o mantenedor e o soberano de toda a criação.
Ele é justo e santo, compassivo e clemente, tardio em irar-Se, e grande em constante amor e fidelidade. (Gênesis 1:1; Apocalipse
4:11; 1 Coríntios 15:28; João 3:16; 1 João 4:8; 1 Timóteo 1:17: Êxodo 34:6 e 7; João 14:9).

Criou –verbo bara’


O verbo específico para “criar”, bara’, tem somente Deus como seu sujeito em toda a
Bíblia. Isto é, na língua hebraica, ninguém pode bara’ (criar), a não ser Deus. Somente Deus é o
Criador, e ninguém mais pode compartilhar dessa atividade especial.
O verbo bara’ nunca é empregado com a matéria ou “coisas”, a partir das quais Deus cria;
ele contém – juntamente com a ênfase da frase “no princípio” – a ideia da criação a partir do
nada (creatio ex nihilo). Como a Terra está descrita em seu estado bruto de desolação e completa-
mente vazia, no verso 2, a palavra criou, no primeiro verso de Gênesis, significa o chamado da
matéria original à existência na fundação do mundo.14
Este é um verbo atribuído somente a Deus e aparece também em Sl 51:1, onde Davi pede
que Deus crie (bara’) um coração puro.

CRENÇA DETECTADA 6. Deus é o Criador - Deus é o Criador de todas as coisas e revelou nas Escrituras o relato autêntico da Sua
atividade criadora. “Em seis di-as fez o Senhor os Céus e a Terra” e tudo que tem vida sobre a Terra, e descansou no sétimo dia dessa
primeira semana. (Gênesis 1; 2; Êxodo 20:8-11; Salmos 19:1-6; 33:6 e 9; 104; Hebreus 11:3; João 1:1-3; Colossenses 1:16 e 17).

Como foi a Criação?


Em Pv 8:22 e 23 diz que houve inteligência, ordem e planejamento na criação do mundo.
Por isso, a conhecida expressão Design Inteligente15 – pois havia uma mente brilhante por trás.
Tudo na criação teve uma sequência e uma lógica. A sabedoria para criar todas as coisas estava
com Deus.

Research Systems, Inc.


14 https://dialogue.adventist.org/pt/2236/a-cosmologia-unica-de-genesis-1

15 Timothy G. Standish, "Design na natureza: milhares de anos de argumentos," Diálogo 20:2 (2008): 7-10, 16 em https://dialogue.adventist.org/pt/1552/de-

sign-na-natureza-milhares-de-anos-de-argumentos

11
Como era a terra?
Gn 1:2 – sem forma e vazia. O que Deus fará nos próximos 7 dias é dar forma ao que
estava “sem forma” e encher o que estava “vazio”.

Dias literais?
Alguns argumentam que Deus não criou todas as coisas em 7 dias literais, mas em “eras”,
que representam períodos maiores do que 24 horas. Porém a construção gramatical do relato
bíblico é clara em afirmar que a Criação aconteceu em uma semana literal.
Uma regra do hebraico nos ajuda a entender: quando a palavra dia (em hebraico yom) vem
acompanhada de um “número definido”, refere-se indiscutivelmente a um dia de vinte e quatro
horas16. E se cada dia da criação equivalesse a eras, as plantas (criadas no terceiro dia) teriam
morrido sem Sol (criado no quarto dia) e sem os insetos polinizadores. Como as plantas aguen-
tariam tanto tempo sem a luz do sol e sem os insetos para efetuarem sua polinização?
Além disso, ao final de cada ato criativo de Deus em Gn 1, o texto que conclui é: “e houve
tarde e manhã...”. Assim, podemos crer num Deus poderoso que criou todas as coisas em 7 dias
literais e que assim, deu início a um ciclo semanal válido até hoje. Salmo 33:6 e 9: “Os céus por
sua palavra se fizeram, e, pelo sopro de sua boca, o exército deles… Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e
tudo passou a existir”.

Dias da Criação
Primeiro dia – luz (Gn 1:1-5)
O que Deus criou no primeiro dia? Há pelo menos duas alternativas: a presença de Deus
iluminou todas as coisas que estavam em trevas, como pode sugerir Sl 104:2. Ou Deus criou o
sol no primeiro dia e no quarto dia apenas definiu a função dos luzeiros.17

Segundo dia – firmamento ou expansão (Gn 1:6-8)


Já havia água (Gn 1:2), então no segundo dia Deus as separa em “águas de baixo”, que
formariam os rios e mares, e as “de cima” que formariam a atmosfera, ou a camada de ar que
existe entre nós e o espaço sideral. O termo expansão descreve melhor o que aconteceu do que
a palavra firmamento.18A propósito, a palavra atmosfera vem do grego “atmos” que significa vapor e
“esfera” que é a forma que ela circula a terra. Portanto, a atmosfera pode ser considerada como
as “águas de cima”, ou uma esfera de vapor. A atmosfera tem camadas que totalizam aproxima-
damente 1.000 quilômetros de altura e é dividida em: troposfera, estratosfera, mesosfera, ter-
mosfera e exosfera.

16 http://www.centrowhite.org.br/perguntas/perguntas-e-respostas-biblicas/os-dias-da-criacao-sao-literais-ou-representam-eras/

17 Richard Davidson sugere 5 alternativas para este evento em https://dialogue.adventist.org/pt/912/luz-sobre-o-primeiro-dia-da-criacao

18 Ofirmamento está frequentemente associado à “firmeza” e “solidez”, ideias derivadas da Vulgata firmamentum e da Septuaginta steréōma, mas não
do termo original em hebraico. Seguindo a Vulgata, muitos têm sugerido que essa é “uma abóboda de corpo sólido”. Entretanto, essa é uma interpretação
bastante recente, sugerida inicialmente no século 18 pelo filósofo francês Voltaire. O termo hebraico rāqîa‘, tradicionalmente traduzido por “firmamento”,
é melhor representado pela palavra “expansão”. ClausWestrmann, Genesis (Neukirchen-Vluyn, Alemanha: Neukirchener, 1974), p. 160. Citado em
https://dialogue.adventist.org/pt/2236/a-cosmologia-unica-de-genesis-1

12
Terceiro dia – relva (Gn 1:9-13)
Deus cria a terra (porção seca). Os continentes e ilhas estão acima da água. As grandes
massas de água são chamadas de "mares" e a porção seca é chamada de "terra". Deus cria toda
a vida vegetal grande e pequena. Ele cria essa vida para ser autossustentável; as plantas têm a
capacidade de se reproduzir. Elas foram criadas em grande diversidade (muitos “tipos”). A terra
era verde e cheia de plantas. Deus declara que este trabalho também é bom.

Quarto dia – luminares (Gn 1:14-19)


Deus cria as estrelas e corpos celestes. O movimento destes vai ajudar o homem a acom-
panhar o tempo. Dois grandes corpos celestes são feitos para se relacionar com a terra. O pri-
meiro é o sol, que é a principal fonte de luz, e a lua, que reflete a luz do sol. O movimento destes
corpos distingue o dia da noite. Este trabalho também é declarado por Deus como sendo bom.
Os nomes do sol, lua e estrelas não são mencionados para não dar margem à idolatria dos astros.

Quinto dia – animais aquáticos e aves (Gn 1:20-23)


Deus cria toda a vida que vive nas águas19 e no ar. A linguagem permite que este pode ser
o momento em que Deus fez os insetos que voam também (ou, se não, eles foram feitos no
sexto dia). Todas estas criaturas são feitas com a capacidade de perpetuar as suas espécies através
da reprodução. As criaturas feitas no Dia 5 são as primeiras abençoadas por Deus. Deus declara
este trabalho bom.

Sexto dia – animais terrestres e homem (Gn 1:24-31)


Deus cria todas as criaturas que vivem em terra firme. Isto inclui o homem e todo tipo de
criatura não formada nos dias anteriores. Deus declara este trabalho bom.
Então, Deus fala: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”
(Gn 1:26). O texto reforça a ideia de um “nós” da Divindade. Deus cria o homem, e o homem
é feito à imagem de Deus (ambos, os homens e mulheres possuem esta imagem) e é especial
acima de todas as outras criaturas. Para enfatizar isso, Deus coloca o homem em posição de
autoridade sobre a terra e sobre todas as outras criaturas. Deus abençoa o homem e ordena-lhe
a se reproduzir, encher a terra e sujeitá-la. Deus anuncia que o homem e todas as outras criaturas
devem comer apenas plantas. O trabalho criativo de Deus está completo no final do sexto dia.
Toda a Terra em toda a sua beleza e perfeição foi totalmente formado em seis dias literais,
seguidos e de 24 horas. Na conclusão de Sua criação, Deus anuncia que tudo é muito bom.

Sétimo dia – descanso (Gn 2:1-3)


Deus descansa. Isso de forma alguma indica que Ele estava cansado dos seus esforços
criativos, mas denota que a criação está completa. Além disso, Deus está estabelecendo um
padrão de um dia de descanso a cada sete dias. Guardar este dia acabaria sendo uma caracterís-
tica distintiva do Seu povo escolhido (Êx 20:8-11).

19 Com base em outras passagens relacionadas à criação na Bíblia, [o termo monstros marinhos] parece ser um termo genérico para as grandes criaturas

aquáticas, em contraste com as pequenas criaturas “que povoam as águas”, criadas a seguir (Gênesis 1:21, 22; Salmo 104:25, 26). https://dialogue.ad-
ventist.org/pt/2236/a-cosmologia-unica-de-genesis-1

13
Sábado
O Sábado foi a coroação do trabalho de Deus. Ele descansa neste dia, abençoa e santifica.
Há pelo menos três princípios que se tornam benefícios do descanso sabático.

Descanso físico
Em Gn 2:2 aparece a palavra hebraica Shabat que é oriunda do verbo yashab: sentar. É
como após uma longa e exaustiva caminhada durante a semana, o sábado é um dia em que nos
sentamos para descansar fisicamente.

Descanso mental
Em Êx 20:8-11 diz que Deus descansou no sábado. Porém o verbo ali não é shabat, mas
nuah. Denota não apenas um descanso físico, mas tranquilidade, repouso, relaxamento. O sig-
nificado original é “tornar a mente quieta”, (‫)י ִניֶ֑ח)ִו‬, sem preocupações, sem ansiedade, sem
pressão. Esse verbo aparece novamente em Provérbios 29:17.

Fôlego espiritual ou refrigério


Êx 31:17 utiliza outra palavra para “descanso”. A palavra nafash (da raiz nefesh, que significa
“vida”). Portanto, descansar no sábado é tomar alento, refrigerar e revigorar a vida,20 tal como
em Sl 23:3 – “refrigera-me a alma (nefesh)”.
CRENÇA DETECTADA 20. O Sábado - O bondoso Criador, após os seis dias da Criação descansou no sétimo e instituiu o Sábado
para todas as pessoas, como memorial da Criação. O quarto mandamento da imutável Lei de Deus requer a observância desse Sábado
do sétimo dia como dia de descanso, adoração e ministério, em harmonia com o ensino e prática de Jesus, o Senhor do Sábado.
(Gênesis 2:1-3; Êxodo 20:8-11; 31:12-17; Lucas 4:16; Hebreus 4:1-11; Deuteronômio 5:12-15; Isaías 56:5 e 6; 58:13 e 14; Levíticos
23:32; Marcos 2:27 e 28).

Criação planejada
Há diversas evidências de uma criação planejada e não de uma evolução de espécies como
na seleção natural proposta por Charles Darwin. Veja alguns exemplos:

Girafa
O coração de uma girafa possui 76 centímetros de altura, pois serve para bombear sangue
para todo o corpo, especialmente sua cabeça. Existem girafas de 6 metros de altura.
Quando ela abaixa sua cabeça (para beber água, por exemplo), o sangue vai a favor da
gravidade e o coração se contrai, então o sangue desce numa velocidade enorme que poderia
causar uma explosão em seu cérebro. Porém ela tem uma artéria cheia de válvulas para amenizar
a chegada de sangue e uma espécie de esponja que expande o cérebro. Incrível!
Quando ela levanta sua cabeça rápido, a esponja reenvia o sangue para todo o corpo
novamente. Se fosse um processo de evolução, como ela saberia que precisaria de tudo isso?

20‫( ָנַפשׁ‬nāpaš). vb. se refrescar, respirar. Para ser revigorado pelo descanso. A relação da forma verbal com o substantivo [em Êx 31:17] é clara. Ao se
refrescar e respirar, o que precisa ser satisfeito para que a vida seja sustentada é renovado, junto com o eu. O verbo ocorre em Êx 23:12; 31:17 e 2 Sam
16:14; nos dois casos em Êxodo, refere-se a ser renovado pelo descanso do sábado. Joel T. Hamme, “Soul,” ed. Douglas Mangum et al., Lexham Theological
Wordbook, Lexham Bible Reference Series (Bellingham, WA: Lexham Press, 2014).

14
Pica pau
O bico do pica pau tem uma força incomum para perfurar madeira. O choque do crânio
com seu bico poderia causar um traumatismo, porém há uma cartilagem que amortece a força
do impacto. Depois de furar, ele precisa extrair o inseto. Ele faz isso com sua língua de 25
centímetros que produz uma glândula que “cola” no inseto. Essa cola é tóxica para o pica pau.
Então quando o inseto vem à boca, seu corpo produz um solvente para desfazer o efeito tóxico
da cola.
Em Romanos 1:20, Paulo parece fazer um apelo direto em favor do design: “Porque os
atributos invisíveis de Deus, assim o Seu eterno poder, como também a Sua própria divindade,
claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas
que foram criadas.”

Tabela dos dias da Criação


A terra era sem forma e vazia. Nos primeiros três dias Deus dá forma ao que estava sem
forma e nos próximos 3 dias Ele enche o que estava vazio. Nos primeiros 3 dias Deus cria os
“reinos” e nos últimos 3 ele cria os “reis”. No primeiro dia a luz é criada, para que no 4º dia
Deus criasse aquilo que ilumina. No 2º dia Deus separa as águas de cima e de baixo, para que
no 5º dia ele colocasse os animais que povoarão os céus e os animais que povoarão as águas.
No 3º dia Deus cria a porção seca (terra) para que no 6º dia Ele colocasse os animais que são
terrestres e o homem (que também é terrestre). O relato da criação culmina com o descanso
sabático.
Existe uma ordem e um planejamento na semana da criação.
A terra era sem forma... ...e vazia
Deus dá forma Deus enche
Deus cria os “Reinos” Deus cria os “Reis”
1º dia - Luz 4º dia - luminares
2º dia - águas de cima e 5º dia – aves e
águas de baixo anim. marinhos
3º dia – relva 6º dia – anim. terrestres e o homem
7º dia - sábado

Sequência
A sequência do pensamento em Gn 1-2 é como segue:
a. Deus antecede a criação (verso 1).
b. Há um princípio absoluto do tempo com relação a este mundo e às esferas celestes que o
cercam (verso 1).
c. Deus cria os céus e a Terra (verso 1), mas para começar eles são diferentes do que agora,
são “sem forma” e “vazios” (tohu e bohu em heb.); verso 2).
d. No primeiro dia da semana de sete dias da Criação, Deus começa a formar e a encher
o tohu e bohu (verso 3 e os seguintes).

15
e. A atividade divina de “formar e criar” é efetuada em seis dias su-
cessivos de 24 horas cada. Guardar o sábado é
f. No final da semana da Criação, os céus e a Terra estão terminados “tornar a mente qui-
(Gn 2:1). O que Deus começou no verso 1 está agora finalizado. eta”, sem preocupa-
g. Deus descansa no sétimo dia, abençoando-o e santificando-o como ções, sem ansiedade,
um memorial da Criação (Gn 2:1-4). sem pressão.

RESUMO
Deus criou toda a Terra e os arredores dela como prova do Seu grande Amor em 6 dias literais e descansou
no sétimo dia, ao que Ele chamou de sábado. O propósito original da Criação planejada era uma perfeita e
completa harmonia entre o ser humano e a Divindade para que vivessem felizes por toda a eternidade.

16
CAPÍTULO 2

Criação da humanidade
Toda a narrativa bíblica do Grande Conflito pode ser dividida em 4 etapas: Criação, Queda, Redenção
e Restauração. Este capítulo detalhará a Criação da Humanidade e está baseado em Gênesis 2.
No capítulo anterior vimos que Deus criou todas as coisas em 6 dias literais e descansou
no sétimo. Não havia judeus, nem adventistas, nem nenhuma outra religião ou povo. Isto aqui
é antes da origem dos povos. Se refere aos nossos primeiros pais. Ele abençoou, santificou e
descansou neste dia. A partir de então o sábado se torna um dia especial. Diferente dos demais.
Lembre-se: a origem do sábado se deu na Criação.
O livro de Gênesis tenta responder perguntas fundamentais. Uma delas é: Quem nós
somos? Para respondê-la, devemos entender:
• Quem foi o Deus Criador do homem?
• Como foi a criação do homem?
• Como foi a criação da mulher?
• O que é o casamento?
• O que é ser feito à imagem de Deus?
• O que era o Éden?

Revisão e ampliação
Gn 2:4. Parece que Moisés, o autor de Gn, irá relatar novamente como foi a criação de
todas as coisas. Não se trata de uma mera repetição do relato, mas de um recurso que vai apa-
recer muito em toda a Bíblia: revisão e ampliação. Ele já falou que o homem foi criado no cap.
1. Agora Ele repete a informação, mas acrescenta detalhes importantes. Este recurso será muito
utilizado na Bíblia, especialmente nas profecias. O autor conta algo e depois repete ampliando
e colocando detalhes adicionais.
A palavra “gênese” se refere a genealogia, ou seja, algo relacionado ao ser humano. Se
Deus somente dissesse que o homem e a mulher foram criados no capítulo 1, seria apenas um
registro normal e colocaria a humanidade no mesmo patamar dos demais elementos da Criação,
mesmo Ele tendo declarado que “era muito bom”. No cap. 2 Deus dá detalhes importantes
sobre como foi essa criação, pois são os detalhes que colocam a humanidade como foco da
Criação e que nos ajudam a entender por quê e para quê estamos aqui. Lembre-se: o foco do
relato bíblico é enfatizar a humanidade.

17
Quem foi o Deus criador?
Em todo o cap. 1 de Gn o nome de Deus é Elohim, o nome plural de Deus para tudo o
que precisa de força e poder. Em eventos grandiosos da Bíblia que exigem a força da Divindade,
aparece o nome Elohim (conforme vimos no capítulo anterior). Este nome aparece mais de 2.500
vezes no AT.
Mas em Gn 2:4 é introduzido um outro nome – “SENHOR”. A palavra “SENHOR” apa-
rece somente a partir de Gn 2:4, justamente quando a Bíblia começa a falar sobre como foi a
criação do homem e da mulher. E que nome é esse? Por que é chamado de Senhor? E por que
aparece somente a partir da criação do homem?

Que nome é esse?


Este é o nome de Deus – o tetragrama sagrado em hebraico ‫ יהוה‬YHWH – traduzido
como “SENHOR”.
Em Êx 3:13-15 a Bíblia trata novamente do assunto a respeito do nome de Deus. Ali
Moisés pergunta para Deus sobre qual seria o nome do deus que o estava enviando para o Egito.
Deus diz no v. 14 – “Eu Sou o que Sou”, no hebraico Ehyeh-Asher-Ehyeh. O nome YHWH seria
uma forma abreviada da frase acima, significando apenas “Eu sou”.21 Não é um nome próprio,
mas um verbo imperfeito, que denota uma ação não concluída. Em outras palavras, o verbo
hebraico “ser” (HYH) no imperfeito pode significar um estado de ser que não está completo,
que não tem fim.
Portanto YHWH, que os judeus chamam de tetragrama sagrado, pode ser lido como
Yahweh, Jeová ou Yehowah, mas a leitura correta é imprecisa, pois os hebreus não pronunciavam
por respeito ao segundo mandamento (de não dizer o nome de Deus em vão), então acrescen-
taram as vogais de Adonai, que em hebraico significa “meu senhor”. Toda vez que liam o nome
de Deus, YHWH, diziam “meu senhor”, ou Adonai, ou SENHOR. Sempre que em sua Bíblia
aparecer o nome SENHOR, ali está o verdadeiro nome de Deus, ‫ יהוה‬YHWH.
Há uma lista de nomes de Deus na Bíblia.22 O nome YHWH ocorre 5.500 vezes, El apa-
rece 200 vezes, Elohim aproximadamente 2.500 vezes, Adon 30 vezes, Eloah 50 vezes e Elyon 30
vezes.

Significado de alguns dos nomes de Deus no AT:


Jehovah jir'eh = O Senhor vê ou provê (Gn 22:14).
Jehovah raphah = O Senhor que cura (Êx 15:26).

21 “Os verbos bíblicos em hebraico não têm um tempo (pelo menos como os tempos são entendidos em inglês, português), mas tem o que é chamado

de aspectos perfeitos ou imperfeitos. O aspecto imperfeito denota uma ação inacabada. Em outras palavras, o verbo hebraico a ser (HYH) no imperfeito
significaria um estado de ser que não está completo; isso não tem fim. Assim, o hebraico Ehyeh tem conotações muito mais amplas do que o inglês EU
SOU. Ele abrange a ideia inglesa de era, é e será - um conceito claramente maior que o simples "sou" do nome "EU SOU". https://www.ministrymaga-
zine.org/archive/2010/05/sacred-or-profane
22 Enquanto Deus é referido como YHWH (Yahweh) cerca de 5.500 vezes (Comentário Bíblico ASD, vol. 1: 171), Ele também é mencionado como 'El mais

de 200 vezes; como 'Elohim cerca de 2.500 vezes; como 'Adon cerca de 30 vezes; como 'Adonai em muitas ocasiões; como 'Eloah mais de 50 vezes; como
JAR cerca de 40 vezes; e como `Elyon cerca de 30 vezes. Isso significa que, pelo nome Yahweh, Deus se tornou conhecido em mais ocasiões do que por
todos os outros nomes juntos.

18
Jehovah nissi = O Senhor é minha bandeira (Êx17:15).
Jehovah mckaddishkem = O Senhor que te santifica (Êx 31:13).
Jehovah shalom = O Senhor envia paz (Jz 6:24).
Jehovah saba'oth = O Senhor dos exércitos (1 Sm 1:3).
Jehovah `Elyon = O Senhor Altíssimo (Sl 7:17).
Jehovah ro’ih = O senhor meu pastor (Sl 23:1).
Jehovah sidkenu = O Senhor nossa justiça (Jr 23:6).
Jehovah shammah = O Senhor está ali (Ez 48:35).23

E por que YHWH criou o homem? Porque YHWH aparece YHWH aparece na Bí-
na Bíblia QUANDO Deus está em sua forma pessoal lidando com blia QUANDO Deus
o homem. É o lado pessoal de Deus. E aparece mais de 5.500 vezes no está em sua forma pes-
AT, pois Deus na Bíblia está o tempo todo se relacionando com o ser
soal lidando com o ho-
humano.24Quando foi para criar a terra, a Divindade entrou em ação.
Quando o homem precisou ser criado, vemos Deus em sua forma pes- mem.
soal.
Sabe o que é mais espetacular? Um dia Jesus conversa com os fariseus sobre Abraão. Ele
diz em João 8:56 que Abraão havia se alegrado com a expectativa da vinda do Messias. Os
fariseus questionaram que Ele não tinha nem 50 anos e como havia visto Abraão? Jesus declara
no v. 58 que ele era o “Eu Sou”, uma clara referência ao Deus YHWH do AT. Podemos enten-
der que quem criou o homem foi o próprio Deus Filho, Jesus.
CRENÇA DETECTADA 4. Deus Filho - Deus o Filho Eterno, encarnou-Se em Jesus Cristo. Por meio dEle foram criadas todas as
coisas, e é revelado o caráter de Deus, efetuada a salvação da humanidade, julgado o mundo. Jesus sofreu e morreu na cruz por nossos
pecados. Em nosso lugar foi ressuscitado dentre os mortos e ascendeu para ministrar no santuário celestial em nosso favor. Ele virá
outra vez para o livramento final do Seu povo e a restauração de todas as coisas. (João 1:1-3 e 14; 5:22; Colossenses 1:15-19; João
10:30; 14:9; Romanos 5:18; 6:23; 2 Coríntios 5:17-21; Lucas 1:35; Filipenses 2:5-11; 1 Coríntios 15:3 e 4; Hebreus 2:9-18; 4:15;
7:25; 8:1 e 2; 9:28; João 14:1-3; 1 Pedro 2:21; Apocalipse 22:20).

Como foi a criação do homem?


O que é o homem? Para Stephen Hawking, um dos maiores expoentes do ateísmo: “A
raça humana é apenas uma escuma química sobre um planeta de tamanho moderado, girando
em torno de uma estrela média, nos arrabaldes de uma dentre centenares de bilhões de galá-
xias.”25 Já Gn 1:26-28 e 2:7 nos diz algo diferente. O simples fato de Deus dizer “façamos o
homem” já nos coloca em uma posição superior aos demais elementos da criação.
Não foi uma criação pela palavra, como o restante da criação, mas denota uma ação, “pôr
a mão na massa”. E como foi feito?
Gn2:7 – Deus formou um boneco de barro no chão – a palavra “formar” vem da mesma
expressão usada pelos oleiros para trabalhar com o barro. Ele usa o pó da terra. Há algo excep-
cional aqui que confirma nossa origem do barro: a constituição do nosso corpo é parecida com

23 https://www.ministrymagazine.org/archive/1958/05/the-name-of-god-part-ii

24 https://www.ministrymagazine.org/archive/1958/05/the-name-of-god-part-ii

25 Citado em David Deutsch, The Fabric of Reality (New York: Penguin Books, 1997), pp. 177, 178.

19
a da terra. 70% do planeta contém água, assim como o corpo do ser humano. Uma pesquisa
publicada pela revista “Science” estabeleceu que, tal como afirmam muitas religiões, a vida na
Terra possivelmente tenha surgido do barro. Um grupo de cientistas do Instituto Médico Ho-
ward Hughes e do Hospital Geral de Massachusetts, em Boston, assinala na “Science” que reu-
niu materiais típicos do barro que são fundamentais no processo inicial de formação biológica.26
O biólogo terrestre Dr. Kevin Lee Griffin, em um de seus artigos intitulado “A compo-
sição elementar da vida”, classificou 26 elementos químicos do solo que também estão presentes
(em quantidade variável) na composição do corpo humano.27
Deus então dá o nome ao primeiro homem de Adão – do heb. ‘adam, que vem da palavra
“terra” (‘adamah, em heb.).
Tal como na criação da Terra, Ele primeiro dá forma ao homem e depois o enche com o
fôlego de vida, com o sopro, ou espírito. Todas essas palavras tem o mesmo significado na
Bíblia – estão relacionadas a ar, vento, respiração. Na versão Septuaginta, aparece a palavra grega
pneuma. Assim como no grego, há palavras correlatas em português que usam a mesma raiz,
como é o caso em pneu, pneumático, pneumonia etc, todas relacionadas a “ar”. O homem é
resultado de pó + fôlego = alma vivente. Alma na Bíblia significa pessoa viva (do heb. Nefesh
haiah – ser vivente). Esse é o processo da vida. Pó + fôlego = ser vivente. A morte é o processo
inverso.
CRENÇA DETECTADA 7. A Natureza do Homem - O homem e a mulher foram formados à imagem de Deus com individualidade
e com poder e liberdade de pensar e agir. Conquanto tenham sido criados como seres livres, cada um é uma unidade indivisível de
corpo, mente e alma; e dependente de Deus quanto à vida, respiração e em tudo. Quando nossos primeiros pais desobedeceram a
Deus, negaram sua dependência dEle e caíram de sua elevada posição “abaixo de Deus”. A imagem de Deus neles, foi desfigurada, e
tornaram-se sujeitos à morte. Seus descendentes partilham dessa natureza caída e de suas consequências. (Gênesis 1:26-28; 2:7;
Salmos 8:4-8; Atos 17:24-28; Gênesis 3; Salmos 51:5; Romanos 5:12-17; 2 Coríntios 5:19 e 20).

Como foi a criação da mulher?


Gn 2:18-25 - O verbo hebraico que a Bíblia usa para descrever a criação da mulher é banah
que aparece em outros lugares com o sentido de construir ou criar uma “obra arquitetônica”.
O mesmo verbo foi usado quando Salomão construiu seus palácios com “beleza arquitetônica”.
A beleza singular da mulher é o que a diferencia do homem. Homens vieram do pó. Mulheres
tem uma beleza arquitetônica única. A mulher foi feita para ser uma auxiliadora idônea – alguém
para estar ao lado, no mesmo pé de igualdade do homem. “A costela de Adão constituiu o
material básico do qual sua companheira foi “construída”. A mulher foi formada para ter uma
unidade inseparável e um companheirismo por toda a vida com o homem, e o modo de sua
criação devia lançar o alicerce para a ordenança moral do matrimônio.”28
Adão dá o nome de Eva à sua esposa, pois “creu na promessa relativa ao descendente da
mulher e manifestou essa fé no nome que deu à esposa. Eva, hawwah em heb., significa “vida”,
e é aqui traduzida como zoe pela Septuaginta [versão grega do AT produzida antes do nasci-
mento de Jesus].”29

26 http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI195749-EI238,00.html

27 http://www.criacionismo.com.br/2015/10/a-origem-da-vida-pode-mesmo-estar-no.html

28 Comentário bíblico Adventista, vol. 1, p. 210.

29 Comentário bíblico Adventista, vol. 1, p. 210.

20
Como foi o primeiro casamento?
Gn 2:24-25 - Quando Moisés, o autor de Gn, declara a famosa frase “deixa o homem pais
e mãe e se une à sua mulher”, ele não usa a palavra adam que significa “aquele que veio da terra”,
mas usa a palavra hebraica ish para homem e isha’ para mulher. O sentido dessas palavras é a
ideia de um ser completo, independente, pronto para deixar seus pais e se unir a seu cônjuge.
O texto evidencia 5 princípios para o casamento:30
(1) O começo é claro. O marido deixa sua família parental e se torna independente,
pronto para iniciar uma união íntima com sua esposa
(2) a vontade de Deus é a monogamia heterossexual; o relacionamento é estabelecido
entre um homem e uma mulher, e isso cria uma unidade incomparável para ser vivida, amada e
apreciada pelo homem e pela mulher
(3) o casamento é um completo companheirismo. Trata-se de torna-se um no pensar
e sentir, na vontade e ação, culminando em tornar-se “uma só carne”: uma unidade de amor
(4) em seu caráter, o casamento é indissolúvel. É uma união marcada pela confiança,
fidelidade e amor duradouro
(5) o casamento é o lugar legítimo para a intimidade sexual. Deus criou o casamento.
Não é uma invenção humana de conveniência sociológica ou antropológica, mas um resultado
da provisão de Deus para dos dois criar “uma só carne”.

CRENÇA DETECTADA 23. Matrimônio e Família - O Casamento foi divinamente estabelecido no Éden e confirmado por Jesus
como união vitalícia entre um homem e uma mulher, em amoroso companheirismo. Para o cristão, o compromisso matrimonial é com
Deus, bem como com o cônjuge, e só deve ser assumido entre parceiros que partilham da mesma fé. No tocante ao divórcio, Jesus
ensinou que a pessoa que se divorcia do cônjuge, a não ser por causa de fornicação, e se casa com outro, comete adultério. Deus
abençoa a família e tenciona que seus membros ajudem uns aos outros a alcançarem completa maturidade. Os pais devem educar os
seus filhos a amarem e obedecerem ao Senhor. (Gênesis 2:18-25; Deuteronômio 6:5-9; João 2:1-11; Efésios 5:21-33; Mateus 5:31 e
32; 19:3-9; Provérbios 22:6; Efésios 6:1-4; Malaquias 4:5 e 6; Marcos 10:11 e 12; Lucas 16:18; 1 Coríntios 7:10 e 11).

O que era o Éden?


Éden era o jardim que Deus havia plantado na terra para que o homem e a mulher pu-
dessem viver ali felizes eternamente. Saber a localização hoje gera um grande debate, pois sabe-
mos onde estão os rios Tigre e Eufrates, mas os outros dois não sabemos onde estão. Talvez
existam hoje com outros nomes ou desapareceram. Esses dois rios estão no Iraque e a cidade
de Bagdá está entre eles. Mas isso não quer dizer que era ali o Éden.
A palavra Éden significa “prazer”, “delícia”31 ou “abundância”32. Por que o Éden era um
lugar de delícia, prazer e abundância? Em Salmos 16:11diz: “Tu me
farás conhecer a vereda da vida, a alegria plena da tua presença, eterno O Éden só era Éden
prazer à tua direita.” Esse texto afirma que a presença de Deus é um por causa da presença
“eterno prazer”. “O jardim do Éden não era apenas um lugar de de Deus!

30 Ekkehardt Müller em https://dialogue.adventist.org/pt/1876/o-presente-da-sexualidade-uma-visao-biblica

31 “Outra explicação envolve a raiz da palavra ugarítica ’dn, que pode significar “prazer, abundância.” D. A. Neal & John Anthony Dunne, “Eden, Garden
of,” ed. John D. Barry et al., The Lexham Bible Dictionary (Bellingham, WA: Lexham Press, 2016).
32 “O jardim do Éden tem uma etimologia disputada, embora a Septuaginta traduza ‫ﬠֶדן‬ ֵ ‫( ַגּן־‬gan-eden) como “O jardim dos luxos” em Gn 3:23, 24.” D.
A. Neal & John Anthony Dunne, “Eden, Garden of,” ed. John D. Barry et al., The Lexham Bible Dictionary (Bellingham, WA: Lexham Press, 2016).

21
habitação para a humanidade, mas um lugar divino e prazeroso onde a humanidade estava na
presença de Deus.”33 O Éden só era Éden por causa da presença de Deus! Você pode ter um
pequeno Éden quando você estiver na presença de Deus – ali há alegria e prazer.

O que difere o homem dos animais?


Além da nossa origem singular feita pelas mãos do Criador, há também a consciência e
capacidade de raciocínio presente somente nos humanos. Há ainda 3 palavras no NT que aju-
dam a entender o que temos que os animais não tem: Bios, que se refere a nossa vida aqui na
terra, nossa existência, vida física; Psique (Ψ) que é nosso interior, nossa mente e consciência,
nossa personalidade, nossos sentimentos, emoções. É disso que a psicologia trata; e Zoe que
descreve a vida espiritual. É a vida que Deus deseja que tenhamos. É a vida espiritual que rece-
bemos quando aceitamos a Cristo. João 10:10: “Eu vim para que tenha vida (zoe) e vida em
abundância.”

O que é ser feito à imagem de Deus


O homem teria a imagem de Deus tanto na aparência como no caráter.34 “A imagem
parece ser necessária para a função; portanto, a imagem aponta para dotes físicos, intelectuais,
sociais e espirituais que seriam necessários para a humanidade cumprir o propósito de Deus
para eles. Os humanos são feitos à imagem de Deus e refletem características divinas (como
moralidade e capacidade de escolha), mas não são inerentemente divinos.”35 Ser semelhante ao
Criador envolve pelo menos 3 aspectos:
• Governo – a função que deveria exercer ao governar e cuidar da terra.
• Amor – em toda sua plenitude.
• Relacionamento – um casal deveria exercer a mesma capacidade de se relacionar como
Deus se relaciona.
Gn 1:27 – Nós não somos deuses, mas parecidos com Deus. Nós fomos criados com a
capacidade de se relacionar tal como Deus a tem. A Bíblia é um livro que fala de Deus se rela-
cionando conosco. Você não encontra uma grande variedade de respostas à pergunta: quem é
Deus?, mas você encontra diversas afirmações sobre como Ele se relaciona conosco. Como em
Ap 1:8 que diz que Ele é “aquele que era, que é e que há de vir”, ou seja, fala da maneira que
Ele deseja ser reconhecido: era no passado, está presente hoje e em breve voltará.
Como vimos, em Êx 3:13-15 Ele diz que gostaria de ser sempre lembrado dessa forma:
como YHWH, o Deus pessoal. O Deus que se relaciona. O Deus que se inclinou para fazer a
humanidade. Por isso que ele olha para o homem e diz: não é bom que o homem esteja só.
Toda a criação Deus declara que era boa. Mas o homem sozinho “não era bom”.

33 D. A. Neal & John Anthony Dunne, “Eden, Garden of,” ed. John D. Barry et al., The Lexham Bible Dictionary (Bellingham, WA: Lexham Press, 2016).

34 “O homem deveria ter a imagem de Deus, tanto na aparência exterior como no caráter. Cristo somente é a "expressa imagem" do Pai (Heb. 1:3); mas

o homem foi formado à semelhança de Deus. Sua natureza estava em harmonia com a vontade de Deus. A mente era capaz de compreender as coisas
divinas. As afeições eram puras; os apetites e paixões estavam sob o domínio da razão. Ele era santo e feliz, tendo a imagem de Deus, e estando em
perfeita obediência à Sua vontade.” Patriarcas e profetas, p. 45.
35 Bíblia de estudo Andrews, p. 7.

22
Então ele cria a mulher. Aí Deus diz: isso não é bom, é muito bom. Ser criado à imagem
e semelhança de Deus é se relacionar com Ele e com outras pessoas.
É saber lidar com os outros num verdadeiro relacionamento. Não é O homem foi feito para
exploração, opressão, retaliação, vingança, fofoca, solidão, desprezo, se relacionar com Deus
indiferença. Nada disso combina com o ser humano criado à imagem e com os outros.
de Deus. O homem foi feito para se relacionar com Deus e com os
outros.
“Ser criado à imagem e semelhança de Deus nos distingue dos reinos animal e vegetal.
Eleva a humanidade acima de todas as coisas terrestres criadas para exercer uma mordomia
(administração) bondosa e ética sobre a criação. A linguagem da imagem de Deus é encontrada
no Novo Testamento como parte da responsabilidade do cristão de imitar a Cristo, que é a
imagem de Deus por excelência.”36

Trabalho
Que função Deus deu ao homem e à mulher? Gn 1:26 e 2:15 nos mostram que Ele dese-
java que o primeiro casal dominasse, cultivasse e guardasse o jardim do Éden. Havia trabalho
não penoso no jardim que eles deveriam cumprir todos os dias. É importante lembrar que o
trabalho surgiu antes da entrada do pecado no mundo. Portanto, o trabalho faz parte do plano
divino para nós.

CRENÇA DETECTADA 21. Mordomia - Somos despenseiros de Deus, responsáveis pelo uso apropriado do tempo e das oportuni-
dades, capacidades e posses, e das bênçãos da Terra e seus recursos, que Ele colocou sob o nosso cuidado. Reconhecemos o direito de
propriedade da parte de Deus, por meio de fiel serviço a Ele e a nossos semelhantes, e devolvendo os dízimos e dando ofertas para a
proclamação de Seu Evangelho e para a manutenção e o crescimento de Sua igreja. (Gênesis 1:26-28; 2:15; Ageu 1:3-11; Malaquias
3:8-12; Mateus 23:23; 1 Coríntios 9:9-14).

O termo dominar não fala de exploração do mundo natural, mas sim de participação no
governo divino, dado à humanidade porque foram criados à imagem de Deus e, portanto, são
capazes de distinguir entre exploração e mordomia. A mordomia humana é multifacetada: re-
conhece Deus como dono de todos os bens (Sl 24: 1-2) e fonte de todo o poder (Dt 8:18). Inclui
os princípios de serviço (Mt 20: 25–28) e responsabilidade (Mt 25: 14–30).37
“A doutrina da criação mostra, antes de tudo, que o mundo físico é importante. [...] A
criação é uma obra de arte e amor realizada pelo Criador. Grande parte da obra de Deus consiste
no prazer que ele sente de continuar sustentando e cultivando a criação (Sl 65:9-13; 145:21;
147:15-20). Se o próprio Deus faz essas duas coisas – se Ele tanto cultiva e sustenta a criação
física quanto salva almas por meio de sua verdade –, como alguém poderia afirmar que o trabalho
de um artista ou banqueiro é secular e que apenas ministros profissionais do evangelho realizam
a obra do Senhor?”38. Desse ponto de vista, todos os trabalhos são importantes, desde que sejam
para glória do Criador.

36 Michael S. Heiser, “Image of God”, ed. John D. Barry et al., The Lexham Bible Dictionary (Bellingham, WA: Lexham Press, 2016).

37 Jon L. Dybdahl, org., Bíblia de estudo Andrews (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 2010), 7.
38 Keller, p. 269.

23
RESUMO
O capítulo 2 revisa como o Deus pessoal (YHWH) criou o homem e da mulher e os colocou como seres
superiores para guardar e cultivar o jardim, sendo assim fiéis mordomos e despenseiros dos recursos que estavam
à sua disposição.

24
CAPÍTULO 3

Queda
Toda a narrativa bíblica do Grande Conflito pode ser dividida em 4 etapas: Criação, Queda, Redenção
e Restauração. Este capítulo detalhará a Queda e está baseado em Gênesis 3.
Gn 3:1-7 - começa com “mas” - estava tudo bom, a Criação era perfeita e expressava o
sublime e profundo amor de Deus, MAS algo de errado aconteceu. Ler o relato de Gn 3 levanta
algumas perguntas: quanto tempo levou para o homem cair, quem é a serpente, que árvore era
proibida, o que é pecado e o que Deus fez para solucionar o problema?

Quem é a serpente?
A Bíblia não menciona claramente toda a história de algo chamado O Grande Conflito
entre o bem e o mal. Ela não mostra todo o início da história, mas há outros textos bíblicos que
nos ajudam a entender o que houve: Ap 12:9, Is 14:12-14 e Ez 28:15-17.
A serpente na Bíblia é identificada como Satanás, cujo nome significa “adversário, ini-
migo”. Lúcifer vem da tradução em latim da expressão “estrela da manhã” de Is 14:12. Ele é
descrito como um anjo querubim que caiu do céu por lutar contra Deus.

Quando aconteceu a queda de Satanás?


Parece que foi antes da criação do mundo, pois ao tentar Adão e Eva ele já mostra quem
ele era. E cf. 2 Tm 1:9-11, a decisão de Deus de prover um sacrifício para a humanidade já havia
sido feita.
Uma sequência dos fatos seria assim:39 “E a respeito de Satanás e dos anjos apóstatas,
parece que a expulsão deles do céu ocorreu antes da criação da Terra. O relato do primeiro
contato de Satanás com a humanidade, como apresentado em Gênesis 3, mostra que ele já era
um pecador endurecido e um inimigo determinado de Deus; que ele não tinha nenhum escrú-
pulo contra o uso da falsidade e da calúnia no fomento da deslealdade e desobediência ao Cria-
dor; e que ele estava cruelmente inclinado à escravidão e à ruína final da humanidade pelo pe-
cado. Quando ele tentou o homem, ele estava na terra, já tendo sido banido da morada de Deus.
Não poderíamos assumir com segurança, mesmo com base nas poucas escrituras que

39 https://www.ministrymagazine.org/archive/1959/01/when-did-satans-fall-occur

25
possuímos, que sua aventura pelo pecado começou muito antes da criação de nossa terra? Sa-
bemos que o plano de redenção foi feito antes do início do mundo (2 Timóteo 1: 9-11). Mas a
verdadeira expulsão de Lúcifer do céu, ao que parece, ocorreu não muito antes de nosso mundo
ser criado.”

O que Satanás tanto queria?


“Satanás foi outrora um honrado anjo no Céu, o primeiro depois de Cristo. Seu sem-
blante, como o dos outros anjos, era suave e exprimia felicidade. Sua testa era alta e larga, de-
monstrando grande inteligência. Sua forma era perfeita, seu porte nobre e majestoso. Mas
quando Deus disse a Seu Filho: "Façamos o homem à Nossa imagem" (Gên. 1:26), Satanás teve
ciúmes de Jesus. Ele desejava ser consultado sobre a formação do homem, e porque não o foi,
encheu-se de inveja, ciúmes e ódio. Ele desejou receber no Céu a mais alta honra depois de
Deus.” Primeiros Escritos - Pag. 145

Acusações de Lúcifer
• A lei de Deus é imperfeita (PP, 69)
• Justiça e misericórdia não podem ser harmonizadas (DTN, 761)
• A Lei de Deus não pode ser obedecida (DTN, 761)
• A Lei de Deus deve ser mudada (PP, 42)
Pelo que se entende, Satanás teve inveja de não poder ocupar o lugar de decisões no céu
quando a Divindade fazia os planos para criar a terra. Ele desejava ter o poder que Deus tinha,
ele queria ser igual a Deus. Fez guerra e foi expulso junto com a terça parte dos anjos. Enten-
demos que ele teve oportunidade de passar em outros mundos não caídos. O que sabemos é
que o plano da salvação já havia sido delineado antes mesmo da criação do mundo, cf. 2 Tm
1:9-11.
Portanto, uma sequência lógica dos fatos seria assim:
• A Divindade faz os planos para a Criação
• Lúcifer tem inveja
• Acontece a Queda do céu
• O Plano da salvação já estava preparado
• Ocorre a Criação do mundo
• Episódio da Serpente
• Por fim, a Queda do homem e da mulher
CRENÇA DETECTADA 8. O Grande Conflito - Toda a humanidade está agora envolvida em um grande conflito entre Cristo e
Satanás, quanto ao caráter de Deus, Sua Lei e Sua soberania sobre o Universo. Esse conflito originou-se no Céu quando um ser criado,
dotado de liberdade de escolha, por exaltação própria, tornou-se Satanás, o adversário de Deus e conduziu à rebelião uma parte dos
anjos. Ele introduziu o espírito de rebelião neste mundo. Observado por toda a Criação, este mundo tornou-se o palco do conflito
universal, dentro do qual será finalmente vindicado o Deus de amor. (Apocalipse 12:4-9; Isaías 14:12-14; Ezequiel 28:12-18; Gênesis
3; Gênesis 6-8; 2 Pedro 3:6; Romanos 1:19-32; 5:19-21; 8:19-22; Hebreus 1:4-14; 1 Coríntios 4:9).

O que era a árvore do conhecimento?


A palavra conhecimento na Bíblia não significa só conhecer intelectualmente, mas experi-
mentar. Eles experimentariam o mal. Essa árvore era uma prova de obediência a Deus. Deso-
bedecer a Deus é pecado (1 João 3:4). Deus disse para eles: se comerem, vão morrer. Ou seja,
se pecarem, vão morrer.
Comer = desobediência = pecado = morte. Rm 6:23 – o salário do pecado é a morte.

26
Que conhecimento eles adquiriram? Eles souberam o que é desobedecer a Deus. Desafi-
aram a Deus. Tiveram o mesmo sentimento de Lúcifer de querer ser igual a Deus. Um resumo
da história: Primeiro Eva comeu, pois foi enganada pela serpente. Depois Adão comeu, mas foi
conscientemente. Então eles experimentaram, conheceram o que era o mal e se esconderam,
pois quebraram a Lei de Deus? Que Lei?
A Lei que Adão e Eva quebraram foi os 10 mandamentos, e mesmo que os mandamentos
ainda não existissem em tábuas de pedra, havia princípios envolvidos em cada um deles que foi
o motivo da desobediência do primeiro:
• Não terás outros deuses diante de mim –princípio da Lealdade
• Não farás imagem de escultura – princípio da Adoração
• Não tomarás o nome de Deus em vão – princípio da Reverência
• Lembra-te do dia de sábado - princípio da Santidade
• Honra teu pai e tua mãe - Respeito à autoridade
• Não matarás - princípio do Amor à vida
• Não adulterarás - princípio da Pureza (fidelidade)
• Não furtarás - princípio da Honestidade
• Não dirás falso testemunho – princípio da Veracidade
• Não cobiçarás – princípio do Contentamento
Portanto, ao desobedecerem a Deus, descumpriram os 10 mandamentos. Cometeram o
pecado. Mas o que é pecado?

Pecado
Geralmente o pecado é entendido como ato de transgressão e desobediência cometido
contra a lei de Deus (1Jo 3:4). Mas também pode ser:
• Um sentimento – Mt 5:22
• Um desejo – Mt 5:28
• Omissão – Tg 4:17
• Parcialidade – Tg 2:9
• Defeito de caráter – Mt 7:18-20, 15:18-20
• Fanatismo – (proibir ou condenar aquilo que Deus nunca proibiu ou condenou) Cl 2:20-
23, 1Tm 4:1-3
• Estado: ignorância culposa – At 13:22, Jo 3:10-12 e escassez de poder: Rm 11:17, At 3:17,
18
• Natureza – Rm 7:14-23
Algumas palavras em hebraico descrevem o conceito de pecado. A principal delas está
relacionada com het, hatta, hata`ae hatta`t. Essa raiz aparece 580 vezes no AT. O sentido básico
da palavra é errar o alvo ou o caminho (Pv 8:36), cf. Pv 19:2 - ficar aquém do padrão; falhar em
viver segundo as expectativas (Gn 40:1); sentido de culpa (Êx 5:16); rompimento de relaciona-
mento pessoal (1Sm 14:4 cf. Jz 11:27); falhar em desrespeitar os direitos ou interesses de outros
(Gn 20:9). Hatá presume o quebramento de uma lei absoluta.
Outras palavras em hebraico para pecado:
• Awa – desviar-se de um padrão ou torcer um padrão.
• Pesha – revolta contra o padrão; quebra de relacionamento; ataque deliberado a um rela-
cionamento estabelecido.

27
• Asham – refere-se a um pecado e a culpabilidade resultante.
• Shegaga – pecado por ignorância. Pode ter duas causas: negligência ou ignorância (Gn 20:9,
Nm 22:34, 35:22). Em Nm 15:30 há o pecado da mão erguida, do atrevimento. Para esses
pecados não havia expiação no sistema sacrifical judaico. Shaga tem a ideia de extraviar-
se, causado por 3 motivos: vinho e bebida forte (Is 28:7, Pv 20:1), mulher sedutora (Pv
5:20, 23) e incapacidade de rejeitar instrução errada (Pv 19:27 cf. 1Sm 26:21).

Quais as consequências da queda?


Expulsão do paraíso – o pecado, que na sua raiz é a satisfação do eu egoísta, é incom-
patível com a santidade de Deus. Deus não pode tolerar o pecado, porque a natureza de ambos
é repulsiva, excludente entre si. Por isso Deus expulsa o homem e a mulher do Éden.
Morte – Rm 5:12
Separação – Is 59:2. O pecado causou uma separação entre:

Natureza e natureza – animais já não conviveriam mais pacificamente

Natureza e homem – haveria o medo de ambas as partes (Gn 3:1, 2, 13, 15)

Homem e mulher – problemas de relacionamentos (Gn 3:12, 16, 17)

Homem e Deus – o pecado nos afastou de Deus (Gn 3:8-10, 22-24)

Deus e Deus – na cruz, Cristo diz: “Deus meu, Deus meu, por que me desam-
paraste?” (Mt 27:46)
Além disso, o pecado causou culpa e condenação (Rm 7:7-13) e destituição da glória
de Deus (Rm 3:23).
A pureza é substituída pela culpa (Gn 2:25, 3:7), a alegria de comungar com Deus pelo
medo e a vergonha (3:8-10), as relações harmoniosas pelas acusações e maus tratos (2:22-24;
3:12, 16), a bênção da procriação pela dor (1:28, 3:16), o governar da natureza pela luta constante
(1:28; 3:17-19) e a vida eterna pelo retorno ao pó (3:19). Adão e Eva experimentaram o julga-
mento imediato ao serem separados de Deus, quando foram expulsos do Jardim do Éden (Gn
3:23, 24).40

A inversão da criação
O texto bíblico (Gênesis 3) nos fala que um evento não planejado aconteceu e inverteu o
quadro original de paz em um quadro de conflito. A morte faz sua primeira aparição quando
um animal é morto para cobrir a nudez do ser humano (Gn 3:21), mas agora ela está claramente
delineada no horizonte para toda a humanidade (Gn 3:19-24). A bênção de Gn 1 e 2 foi subs-
tituída pela maldição de Gn 3:14, 17. Na verdade, o equilíbrio ecológico original foi pertur-
bado, e somente um novo evento – o pecado da humanidade – é o culpado por isso.41

Folhas de figueira
O que Adão fez após a desobediência? O homem procurou se livrar do sentimento de
culpa por seus próprios atos. Esconde-se de Deus e tece para si roupas de folhas de figueira

40 https://dialogue.adventist.org/pt/2506/adao-e-eva-licoes-de-uma-velha-historia

41 https://dialogue.adventist.org/pt/3051/quando-a-morte-ainda-nao-existia-o-testemunho-da-criacao-biblica

28
(Gn 3:7). A busca da salvação por obras meritórias esteve presente implícita e explicitamente
desde o início da história da humanidade. “O fundamento de toda religião falsa tem sido a
confiança nos próprios esforços como meio de salvação.”42

Quanto tempo durou entre a Criação e a Queda?


Adão teve Sete com 130 anos. Sete veio depois que Caim matou Abel. Caim devia ter pelo
menos uns 20 anos de idade quando ofereceu a oferta do cap. 4. Portanto, alguns teólogos
entendem que Adão tinha aproximadamente 100 anos quando a Queda aconteceu.43 Mas não
podemos afirmar isso plenamente, é apenas uma interpretação.

O que Deus fez para solucionar o problema?


Quem foi o primeiro missionário que existiu? Muitos patriarcas podem ser citados
como bons missionários, mas é vital entender que o primeiro missionário foi o próprio Deus.
A partir desse ato divino se desenvolve o conceito de Missio Dei, termo em latim que abrange a
missão de Deus no mundo.
Baseado na iniciativa divina em buscar o ser humano e prover um
“A existência da Bíblia
escape da morte eterna, a missão de Deus será o tema de toda a Bíblia.
“A existência da Bíblia é em si mesma é evidência incontestável de que é em si mesma é evi-
Deus se recusou a abandonar a sua criação rebelde, de que ele se recusou dência incontestável
a desistir, mas estava e está determinado a redimir e restaurar a criação de que Deus se recu-
caída a seu propósito original [...]. a própria existência da compilação de sou a abandonar a sua
tal coletânea é evidência de um Deus que vai atrás dos seres humanos, criação rebelde.”
de um Deus que se revelou a eles, que não os deixará sem luz em sua
escuridão [...] um Deus que toma a iniciativa de restabelecer conosco o relacionamento que foi
quebrado.”44
A narrativa bíblica da missão de Deus pode ser resumida no seguinte: (1) Deus e seu
cosmos existiram em perfeita harmonia; (2) o pecado e a rebelião foram introduzidos por Lúci-
fer, que foi expulso com seus anjos da presença de Deus; (3) A Terra e a humanidade foram
criadas sem pecado; (4) Adão e Eva se rebelaram e trouxeram sofrimento e morte para si pró-
prios e para toda a criação terrestre; (5) o Deus Triúno embarcou em uma missão abrangente,
centrada na obra de Jesus Cristo, para restaurar os humanos, a Terra e todo o universo ao estado
original perfeito; (6) Satanás, o pecado e os pecadores devem ser eliminados; (7) a harmonia
perfeita deve ser restaurada. Portanto, o primeiro ato missional de Deus ocorreu antes mesmo
da Queda no jardim do Éden. Foi no ato de separar os anjos leais dos anjos rebeldes no céu que
Ele iniciou sua Missão.45
Assim, antes mesmo do surgimento da Igreja, Deus já estava cumprindo Sua Missão. Por-
tanto, Deus não tem uma missão para sua igreja, mas uma Igreja para Sua Missão.

42 Patriarcas e profetas, p. 73.

43 "A partir disso, parece que o mergulho da humanidade no pecado ocorreu logo após a criação do mundo - no máximo cem anos, provavelmente até

menos e certamente não mais." https://www.ministrymagazine.org/archive/1959/01/when-did-satans-fall-occur


44 Charles R. Taber. “Missiology and the Bible”, Missiology 11 (1983), p. 232.

45 Doss, Gorden R. Introdução à Missão Adventista (p. 22). Edição do Kindle.

29
O conceito de missio Dei implica que a missão tem que ser “vista
como originária da própria natureza de Deus [...] inserida no contexto A missão tem que ser
da doutrina da Trindade.”46 O Pai envia Seu Filho para salvar o mundo; vista como originária
o Pai e o Filho enviam o Espírito ao mundo; E o Espírito envia a igreja. da própria natureza de
Deus já está realizando a missão, e a igreja precisa se juntar a ele. Deus Deus.
é o verdadeiro missionário por excelência.

Iniciativa divina
Gn 3:8- Na viração do dia, ou seja, na hora do pôr-do-sol, Deus se encontra com o ho-
mem e lhe faz a pergunta – “onde você está?”. A partir de então Deus trava um diálogo com
Adão e Eva e os leva a refletir sobre a desobediência. É assim que Deus lida com o ser humano
pecador. Is 1:18 diz “Venham, vamos resolver este assunto”, diz o Senhor. “Embora seus pe-
cados sejam como o escarlate, eu os tornarei brancos como a neve; embora sejam vermelhos
como o carmesim, eu os tornarei brancos como a lã.” Mas Adão culpa Eva que joga a respon-
sabilidade sobre a serpente.

Inimizade
Gn 3:15 - “E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e o seu
descendente; este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.” Com esta declaração Deus
afirma que haveria uma inimizade entre Satanás e a humanidade. A palavra “satanás” em heb.
significa “adversário”.
“Ti” (serpente) “Mulher” (humanidade)
INIMIZADE
Descendência (demônios) Descendente (Cristo)
Ferirá o calcanhar Ferirá a cabeça
Representa Satanás Representa o povo de Deus

Deus também prometeu a vinda do Messias que resgataria a humanidade do poder de


Satanás. Vários textos bíblicos apontam para um homem (Jesus) como sendo o redentor da
humanidade, e apontam-no como sendo a “semente” da mulher, isto é, nascido dela (Is
53:10,11; Gl 4:4; Hb 2:14).
Além do mais, ainda em Gênesis 3:15, Deus diz que um descendente da mulher feriria a
cabeça da serpente. A serpente é o diabo (cf. Ap 12:7-9).Jesus é quem destruiu o poder de
Satanás sobre a vida dos que o recebem (Jo 1:12; 1 Jo 5:18), quando morreu na cruz e ressuscitou
dentre os mortos (veja Jo 12:31; At 26:18; Rm 5:18-19; Hb2:14). Jesus é o descendente prome-
tido. Desde Eva, toda mulher esperava ser mãe do “descendente” prometido, por isso era ver-
gonhoso uma mulher ser estéril, pois “anularia” a possibilidade de ser mãe do Filho de Deus.

46 David Bosch. Missão Transformadora, 3. Ed. São Leopoldo: Sinodal, 2009, p. 389

30
Graça
O apóstolo Paulo diz que através da ofensa do primeiro Adão todos os homens se torna-
ram pecadores. Mas a graça de Deus através da obra de Cristo foi muito maior do que a deso-
bediência, o julgamento e a condenação de Adão (Romanos 5:12-21).
Jesus Cristo, o segundo Adão, triunfou onde o primeiro Adão fracas- O plano de salvação e
sou. Enquanto a ofensa do primeiro Adão trouxe morte, os méritos redenção da humani-
do segundo Adão trouxeram vida. À luz de todo o Novo Testamento, dade já havia sido es-
Gênesis 3 revela que Cristo é o Cabeça de um novo povo que é redi- tabelecido no céu an-
mido de seus pecados e justificado diante de Deus através de sua obra tes mesmo de a terra
na cruz. A esse povo Ele restaura o caminho à árvore da vida (cf. Ap ser criada.
22:2-17).
Como dito anteriormente, o plano de salvação e redenção da humanidade já havia sido
estabelecido no céu antes mesmo de a terra ser criada.

Primeiro sacrifício
Gn 3:21 – Deus rejeitou as vestes feitas por Adão. Deus mesmo é quem teceu as vesti-
mentas de pele, símbolo do sacrifício futuro do Messias. Ou seja, naquele dia houve morte, mas
não do primeiro casal e sim de um substituto cordeiro. Is 61:10 poderia descrever perfeitamente
o sentimento daqueles que não conseguem se “cobrir” com sua própria justiça e confiam no
Senhor para isso: “é grande o meu prazer no Senhor! Regozija-se a minha alma em meu Deus!
Pois ele me vestiu com as vestes da salvação e sobre mim pôs o manto da justiça”.

CRENÇA DETECTADA 10. A Experiência da Salvação - Em infinito amor e misericórdia, Deus fez com que Cristo Se tornasse pecado
por nós, para que nEle fôssemos feitos justiça de Deus. Guiados pelo Espírito Santo reconhecemos nossa pecaminosidade, arrepen-
demo-nos de nossas transgressões e temos fé em Jesus como Senhor e Cristo, como Substituto e Exemplo. Essa fé que aceita a salvação,
advém do poder da Palavra e é o dom da graça de Deus. Por meio de Cristo somos justificados e libertados do domínio do pecado. Por
meio do Espírito, nascemos de novo e somos justificados. Permanecendo nEle, tornamo-nos participantes da natureza divina e temos
a certeza da salvação agora e no Juízo. (Salmos 27:1; Isaías 12:2; Jonas 2:9; João 3:16; 2 Coríntios 5:17-21; Gálatas 1:4; 2:19 e 20;
3:13; 4:4-7; Romanos 3:24-26; 4:25; 5:6-10; 8:1-4, 14, 15, 26 e 27; 10:7; 1 Coríntios 2:5; 15:3 e 4; 1 João 1:9; 2:1 e 2; Efésios 2:5-
10; 3:16-19; Gálatas 3:26; João 3:3-8; Mateus 18:3; 1 Pedro 1:23; 2:21; Hebreus 8:7-12).

Deus então expulsa o homem e a mulher do jardim do Éden para que não tivessem mais
acesso à arvore da vida. “Depois de seu pecado Adão e Eva não mais deviam habitar no Éden.
Encarecidamente rogaram para que pudessem permanecer no lar de sua inocência e alegria.
Confessaram que haviam perdido todo o direito àquela feliz morada, mas comprometeram-se
para no futuro prestar estrita obediência a Deus. Declarou-se lhes, porém, que sua natureza
ficara depravada pelo pecado; haviam diminuído sua força para resistir ao mal, e aberto o cami-
nho para Satanás ganhar mais fácil acesso a eles. Em sua inocência tinham cedido à tentação; e
agora, em estado de culpa consciente, teriam menos poder para manter sua integridade.”47
Recapitulando, Deus já tinha um plano de salvação antes mesmo do pecado entrar na
terra. Após o pecado, Deus toma a inciativa, procura o homem, promete a vinda do Salvador
substituto, sentencia a serpente e provê as primeiras vestimentas, símbolo da justiça de Deus
que cobre nossos pecados.

47 Patriarcas e profetas, p. 61.

31
Uma forma lógica de entender Gn 2 e 3 é através do quiasmo, que é uma organização dos
eventos semelhantes e contrastantes:

A Estabelecimento do jardim 2:5-8


B Vida 2:9-17
C União 2:18-23
C’ Separação 3:1-3
B’ Morte 3:14-21
A’ Expulsão do jardim 3:22-24

De tudo o que vimos nesse capítulo, o que mais deve nos chamar a atenção é para o fato
de que Deus foi o primeiro missionário e que toda a Bíblia é produto
da Sua Missão. Logo mais veremos sobre um povo que foi escolhido Deus não tem uma
para cumprir essa missão, Jesus que veio para cumprir a mesma mis- missão para sua igreja,
são, uma igreja que seria estabelecida para cumprir a Missão e nós mas uma Igreja para
como discípulos do século 21 que recebemos a mesma tarefa de dar Sua Missão.
continuidade na Missão que começou com Deus. Lembre-se: Deus
não tem uma missão para sua igreja, mas uma Igreja para Sua Missão.

RESUMO
O pecado que começou no Céu, se desenrola na terra e afeta Adão e Eva. A Queda trouxe separação e
morte, mas Deus tomou a iniciativa de procurar e salvar o ser humano. Deus como o primeiro missionário é o
exemplo do que verdadeiramente é a Missão.

32
CAPÍTULO 4

Redenção
Toda a narrativa bíblica do Grande Conflito pode ser dividida em 4 etapas: Criação, Queda, Redenção
e Restauração. Este capítulo detalhará a Redenção e está baseado em Gênesis 3 a 6.
Gn 3:21 – Deus havia declarado que se eles comessem do fruto da árvore do conheci-
mento do bem e do mal, certamente morreriam. Morreram naquele dia? Não. Mas houve morte
no dia da Queda? O relato de Gn 3:21 implicitamente diz que quem morreu foi um animal
inocente. Deus não queria que eles morressem, então mata um animal no lugar deles. A dor de
ver um animal sendo morto seria a lembrança deste pecado. A pele do animal serviu de roupa
para eles. Mas em tudo isso Deus tinha um plano especial.
Neste capítulo veremos sobre a relação do Jardim do Éden com o Santuário, Caim e Abel,
os patriarcas e o estado da terra antes do dilúvio.

Santuário
Algumas referências no texto bíblico nos ajudam a entender que havia uma relação pró-
xima entre o jardim e o santuário.48
Tal como o jardim estava virado para o lado oriental, assim também o Santuário era vol-
tado para o lado do nascer do sol.
Os dois querubins que guardavam a entrada do jardim (Gn 3:24); lembram os dois que-
rubins no propiciatório (tampa da arca da aliança) Êx 25:18-22.
O acesso à árvore da vida era vetado à Adão e Eva, assim como a entrada no Santo e
Santíssimo não era permitida a qualquer pessoa.
No fim do relato da criação e da narrativa sobre a construção do tabernáculo no deserto,
os mesmos três elementos – aprovação, conclusão e bênção – são expressos com as mesmas
palavras-chave (compare as palavras ‘tudo/todo’, ‘terminar/concluir’ e ‘abençoar’ em Gênesis
1:31-2:3 com essas mesmas palavras em Êxodo 39:32,43; 40:33).
Assim como Deus ‘andava no jardim’ (Gn 3:8), também estava no meio de Seu povo no
santuário (2Sm 7:6,7).

48 https://tempodevocional.com/2013/10/06/o-primeiro-santurio-na-terra/

33
Adão devia ‘cultivar’ e ‘guardar’ o jardim (Gn 2:15). Em hebraico, os mesmos dois verbos
são usados em relação ao serviço dos levitas no tabernáculo (Nm 3:7,8).
Figuras relacionadas a um jardim aparecem por todo o santuário (Êx 25:31-36, lRs6:18).
A criação durou seis dias, sendo cada dia introduzido pela expressão ‘Disse Deus’ (ou
‘Disse também Deus’), e os seis dias foram sucedidos pelo sábado. Assim também existem seis
seções introduzidas com as palavras ‘Disse o Senhor a Moisés’ (‘Disse mais o Senhor a Moisés’),
relacionadas ao tabernáculo (Êx 25:1;30:11,17,22,34; 31:1), seguidas por uma sétima seção sobre
o sábado (Êx 31:12-17).
O santuário foi levantado no primeiro dia do primeiro mês (Êx 40:17), o dia do Ano
Novo hebraico, que recorda o fim da criação do mundo. Gênesis 2
não precisava ser explícito sobre esses paralelos, pois os antigos os A maior perda na
entendiam. Por exemplo, um escrito judaico do segundo século a.C. queda não foi a expul-
afirma que ‘o jardim do Éden era o Santo dos Santos e a habitação do são de Adão e Eva do
Senhor’. O jardim do Éden é chamado de ‘jardim de Deus’ (Is 51:3; jardim, mas a perda da
Ez 28:13; 31:9). Era a morada de Deus na Terra, o lugar em que nossos possibilidade de estar
primeiros pais deviam adorar e ter comunhão com Ele. Portanto, a na presença imediata
maior perda na queda não foi a expulsão de Adão e Eva do jardim,
de Deus.
mas a perda da possibilidade de estar na presença imediata de Deus.

Caim e Abel
Gn 4:1-7– Aqui temos o início do sistema de sacrifícios. O sacrifício envolvia uma vítima
inocente, algum pecador e um ato de fé. Eles fariam isso até vir o Messias. Eles sabiam que
aquilo não garantia nada, pois era preciso um ato de fé e uma evidência de que eles aceitavam o
que Deus fazia no lugar deles, portanto era uma substituição. Leia Isaías 53 para entender como
Jesus foi o substituto dos cordeiros que foram mortos.
O que aconteceu com Caim foi uma repetição do que ocorreu com Adão.
• Ele pecou
• Se escondeu na ira
• Deus procura
Gn 4:7–Podemos entender esse episódio como sendo um pecado batendo à porta do
coração de Caim. Porém uma análise a respeito da raiz hebraica para “pecado” nos ajuda a
entender de outra maneira. que Deus estava dizendo para ele a oferta pelo pecado jaz à porta.
Uma referência ao local onde eles faziam os sacrifícios.49
“O texto diz: ‘Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes
mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo’ (Gn
4:7). De que ‘porta’ o texto está falando? Muitos interpretam esse texto da seguinte forma: ‘Se
procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz
à porta [do coração]; o seu desejo [desejo do pecado] será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo
[tem que dominar o pecado] (Gn 4:7), o que dá margem até mesmo para interpretações perfec-
cionistas. Uma análise mais acurada do texto demonstra que, como disse antes, o termo chatat

49 https://michelsonborges.wordpress.com/2019/09/11/a-oferta-de-caim-a-falsa-adoracao-e-a-autojustificacao/

34
pode ser, e é mais bem traduzido nesse texto por oferta pelo pecado e não ‘pecado’.
Agora vamos a uma tradução mais correta do texto: ‘Se procederes bem, não é certo que
serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que uma oferta pelo pecado [palavra feminina] jaz
à porta [do jardim, não do coração; era na porta do jardim que Adão e Eva ofereciam seus
holocaustos, segundo Ellen White]; o desejo dele [de Abel, que é o antecedente masculino mais
próximo] será para ti, e sobre ele [Abel] dominarás’ (Gn 4:7).

Primeira cidade
Gn 4:17 – Caim constrói a primeira cidade e coloca o nome de Enoque. A decisão de
Caim foi substituir a confiança em Deus pelo desejo de viver separado do Criador. A raiz da
palavra Enoch é “iniciação, dedicação, novo começo”. Ele quis começar a cidade sem Deus. É
como se dissesse: “Nós cuidamos de nós mesmos”. Caim tomou o destino de sua vida em suas
próprias mãos, recusando a direção de Deus em sua vida. A construção da primeira cidade foi
um ato de rebeldia, desconfiança, desobediência e isolamento. As pessoas não querem viver em
comunidade hoje. A primeira cidade tornou-se um símbolo de autossuficiência e independência
da presença de Deus. Caim foi o primeiro secular e ateu que houve na face da terra.

Arrependimento de Deus
Vamos pular para Gn 6 e entender as bases do dilúvio. Depois retornaremos ao cap. 5.

Ira de Deus
Deus vai agora demonstrar sua ira para a humanidade. Por que? Porque a maldade havia
se espalhado pela terra.
Gn 6:1-4 - Quem são os filhos de Deus?50 Os “Filhos de Deus” não são anjos, como
alguns afirmam, mas aqueles que começaram a invocar o nome do Senhor em Gn 4. Eles viram
as mulheres, “filhas dos homens”, e as tomaram como esposas. Nessa época o povo de Deus já
vivia de certa maneira “separado” da maldade do mundo. A maldade havia tomado uma pro-
porção inigualável e Deus decide recomeçar.

Deus se arrependeu?
Gn 6:6 - Arrependimento no texto original significa uma tristeza muita profunda. Quando
a Bíblia fala do arrependimento humano, usa as seguintes palavras no original: Shubh (hebraico)
e metanoéo (grego). Seus significados: mudança de mente (não somente a tristeza pelo pecado),
voltar atrás, retornar ao caminho correto. Por outro lado, quando a Bíblia fala acerca do arre-
pendimento divino, usa os seguintes termos: Naham (hebraico) e Metamélomai (grego), signifi-
cando ‘dor, tristeza, pesar”. Portanto, quando Gênesis 6:6 diz que Deus “se arrependeu”, está
afirmando que o Senhor “sentiu profunda dor, pesar” (lembremos que não temos como

50 Uma interpretação mais coerente com o consenso das Escrituras, reconhece como “filhos de Deus”, em Gênesis 6, os descendentes de Sete, que eram

homens tementes a Deus (Gn 4:25; 5:32); e como “filhas dos homens”, as mulheres incrédulas da linhagem de Caim (Gn 4:1-24). Tal união de crentes
com descrentes é considerada, nesse contexto, como uma evidência de apostasia do povo de Deus (Gn 6:1-7). Esse mesmo tipo de união continuou
sendo desaprovado tanto no Velho Testamento (ver Êx 34:15 e 16; Dt 7:1-4) como no Novo Testamento (ver II Co 6:14 e 15). Concordamos, portanto,
com os comentaristas que veem os “filhos de Deus” em Gênesis 6:2 como meros seres humanos tementes a Deus (contrastar com Gl 3:26; Ef 2:19; I Jo
3:1). http://www.centrowhite.org.br/perguntas/perguntas-e-respostas-biblicas/quem-sao-os-filhos-de-deus-em-genesis-6/

35
expressar em linguagem humana os sentimentos de Deus) por ter de executar juízo (por ocasião
do dilúvio) contra o homem que Ele havia criado. O arrependimento divino não traz mudança
em seu Ser, mas sim no seu modo de “tratar” o ser humano.

Deus deu alguma chance para aquele povo?


Sim. Há pelo menos 3 evidências.
Primeira: Gn 6:3 - “Meu Espírito não agirá para sempre no homem. Seus dias serão 120
anos.” – Deus não estava delimitando os anos da humanidade, mas a partir daquele momento
até o dilúvio haveria 120 anos para que eles se arrependessem. A expressão “agir” atribuída ao
Espírito Santo tem o significado de “convencer”. A atuação e influência do Espírito Santo sobre
alguém dura toda a vida, até o momento da morte.
CRENÇA DETECTADA 5. Deus Espírito Santo - Deus o Espírito Santo, desempenhou uma parte ativa com o Pai e o Filho na Criação,
Encarnação e Redenção. Inspirou os escritores das Escrituras, encheu de poder a vida de Cristo, ainda hoje atrai, convence os que se
mostram sensíveis e transforma os seres humanos à imagem de Deus. Concede dons espirituais à Igreja. (Gênesis 1:1 e 2; Lucas 1:35;
2 Pedro 1:21; Lucas 4:18; Atos 10:38; 2 Coríntios 3:18; Efésios 4:11 e 12; Atos 1:8; João 14:16-18 e 26; 15:26 e 27; 16:7-13;
Romanos 1:1-4).

Segunda: Genealogia do cap. 5 até o 6. Quando Matusalém nasceu Deus já estava pronto
para fazer um juízo e quando este homem morresse, o juízo viria. Isso é evidenciado no signi-
ficado do nome de Matusalém em hebraico: ‫ְמתוָּשַׁלח‬/ ‫ְמתוֶּשַׁלח‬, (Mətušélaħ/Mətušálaħ), “Ho-
mem da javelina”, ou ainda: “sua morte trará juízo”.51 Ou seja, quando Matusalém morresse,
Deus enviaria o dilúvio sobre a terra. Um cálculo da idade dos patriarcas nos ajuda a entender
como isso ocorreu:
Gn 5:25 – 187 anos
Gn 5:28 - 182 anos
Gn 7:6 – 600 anos
Total: 969 anos. Deus fez a vida dele durar 969 anos, tornando-se assim o homem que
mais viveu na face da Terra. Deus alongou a vida dele para que todos pudessem se arrepender.
No ano da morte de Matusalém, veio o dilúvio.
Terceira: A própria construção da Arca era um convite ao arrependimento.

RESUMO
As consequências do pecado de Adão e Eva podem ser vistas nos filhos e no restante da história dos
Patriarcas. Mas Deus estava disposto a recomeçar tudo com o Dilúvio e contava com a fidelidade de Noé e seus
filhos.

51 Klein, Reuven Chaim (22 de outubro de 2019). “Bereishis: The Sword of Methusaleh”. Times of Israel.

36
CAPÍTULO 5

Dilúvio
Toda a narrativa bíblica do Grande Conflito pode ser dividida em 4 etapas: Criação, Queda, Redenção
e Restauração. Este capítulo detalhará ainda o plano da Redenção e está baseado em Gênesis 6 a 12.
É importante reafirmar a literalidade de Gn 1-12. Temas como criação literal de 7 dias,
humanidade feita por Deus, sábado, casamento, pecado, promessa, sacrifício, julgamento, dilú-
vio, povo da aliança e outros não farão sentido se Gn 1-12 não for literal.
Nesse capítulo entraremos na história de Abraão, o elo mais importante entre os episódios
anteriores e o restante da Bíblia. Algumas perguntas para os capítulos que estudaremos na Bíblia:
o que aconteceu no dilúvio? Pós dilúvio – para onde foi cada filho de Noé? O que aconteceu
na torre de Babel? Por que a confusão de línguas? Quem foi Abraão e por que ele é tão impor-
tante na história? Para quê Deus o chamou?

O mundo antes do Dilúvio


Vimos anteriormente sobre a paciência de Deus em dar tempo ao homem para que se
arrependessem. A arca seria o meio de salvação que Deus considerou para livrar os homens da
morte.

Como era a terra antes do dilúvio?


Chuvas - Não chovia sobre a terra. Acredita-se que as águas que Deus separou no se-
gundo dia da Criação é que “regavam” as plantas. Uma névoa subia da terra para fazer este
trabalho.
Com base em alguns versos indiretos, muitos criacionistas entendem a existência de um
dossel de vapor d’água que envolvia a terra até a primeira chuva cair durante o dilúvio. Gênesis
1:7 diz: “Fez, portanto, Deus o firmamento [atmosfera] e separou as águas estabelecidas abaixo
desse limite [lençóis d’água, oceanos, rios], das que ficaram por cima [dossel].”.
Gênesis 7:11 afirma que “as comportas do céu se romperam”, confirmando-nos a ideia
de um manancial que estava anteriormente suspenso e recluso, até que se rompeu e precipitou
toda a água armazenada de uma só vez.
A teoria do dossel é apenas uma hipótese pelo fato de o dossel não suportar em modela-
gens matemáticas a quantidade de água necessária para se cobrir todo o globo com uma inun-
dação. Apesar de a hipótese da quantidade de água condensada nesse dossel ser um tópico à
parte, fato é que a Bíblia realmente nos fornecesse indícios da existência de uma canopla de

37
água, embora não mencione a sua dimensão.52
Este dossel favoreceria também a temperatura amena constante da terra, sem ventos e
sem tempestades.
Montanhas - Para o mestre em Ciências Brian Thomas, o fato de os animais chegarem a
Noé, vindo de todas as regiões daquele único continente (Gn 1:9-10), também implica que eles
não encontraram barreiras montanhosas intransponíveis, como os Himalaias, por exemplo. As
rochas da Terra contêm tantos fósseis marinhos rasos que devemos imaginar vastos mares rasos
naquela época, ao contrário da maioria dos oceanos profundos de hoje. Além disso, a julgar
pelos números e tipos de plantas pantanosas e animais enterrados com dinossauros, a terra pré-
diluviana deve ter tido grandes regiões tipo pantanal. No entanto, pelo menos, algumas terras
altas tinham solo, pois Gênesis 4 indica terrenos adequados para gado, provavelmente gramado,
e outras áreas que forneceram metais preciosos e minerais.53
Sl 104:6-9 diz de maneira poética que Deus elevou montanhas e aprofundou vales.54
Como uma folha de papel que você amassa, surgem elevações e aprofundamentos. Possivel-
mente foi isso que aconteceu após o dilúvio. Grandes fossas como as Marianas com mais de 11
mil metros de profundidade não existiam até então. A terra foi modificada após o dilúvio.
Pangeia - Criacionistas admitem os efeitos da microevolução e do isolamento geográfico.
Na verdade, muitas “espécies” de animais não estiveram na arca, pois surgiram depois. O mo-
vimento tectônico que afasta os continentes (ou os aproxima) uns dos outros é tido pelos cria-
cionistas como um fenômeno decorrente do dilúvio. Assim, a Austrália não existia no passado
remoto da Terra; ela fazia parte do mega-continente conhecido como Pangeia. Resumindo: ou
os ancestrais dos cangurus migraram para a região que hoje é a Austrália e acabaram ficando
isolados lá, sofrendo modificações, ou nem sequer entraram na arca e surgiram posteriormente
a partir de microevolução de uma espécie ancestral.
O dilúvio causou a divisão dos continentes. Este movimento é chamado de deriva conti-
nental, onde todos os continentes tenham surgido de um só e que eles continuam se movendo.55

Noé
Significado do seu nome: Noah – descanso (Gn 5:29).
Seguindo a cronologia de Gn 5-7, o dilúvio aconteceu quando Noé tinha 600 anos de
idade (Gn 7:6). Portanto, somando as idades dos patriarcas de Adão a Noé, chegamos a apro-
ximadamente 1.656 anos após a Criação.56

Como era a arca?


A palavra arca (tebah) significa literalmente uma caixa. Foi projetada essencialmente vi-
sando a estabilidade nas águas do dilúvio e não à movimentação através das águas.57

52 https://origememrevista.com.br/2017/08/24/o-mundo-pre-diluviano/

53 https://origememrevista.com.br/2017/08/24/o-mundo-pre-diluviano/

54 https://answersingenesis.org/the-flood/psalm-104-flood-or-day-three-of-creation-week/

55 https://numar.scb.org.br/artigos/existia-um-unico-supercontinente-antes-do-diluvio/

56 https://answersingenesis.org/bible-timeline/timeline-for-the-flood/

57 Folha Criacionista, Número 23, Julho de 1980 – Sociedade Criacionista Brasileira.

38
Ela media 135 m de comprimento, 22,5 de largura e 13,5 de altura. O volume total era de
41.006 m cúbicos, o equivalente a 586 vagões de trem. Tinha 3 pavimentos e aberturas no teto
e lateral.
Betume - Ela foi calafetada com betume. A palavra “kaphar” sign. simplesmente “cober-
tura”.
Estabilidade - A arca fora feita para sobreviver às ondas e ventos. As proporções do
barco criam dois centros, o gravitacional e o metacentro. Somente um ângulo maior que 90
graus para que a arca emborcasse.
Navios de hoje - As proporções métricas da arca são praticamente as mesmas dos gran-
des navios de hoje.

Cabia todos os animais? De onde vieram tantos?


Representantes de todos os principais grupos de animais foram introduzidos na arca, com
exceção dos “enxames de seres viventes que povoavam as águas” (sherets hammayim). Noé não
recebeu instruções quanto aos invertebrados. Todos os animais introduzidos na arca são des-
critos como “basar”, isto é, “carne”, termo não utilizado para os invertebrados. A vida “nephesh”
de toda carne está no sangue (Lv 17:11, 14; Dt 12:23; Gn 9:4). No sentido bíblico e no entendi-
mento comum, os invertebrados não têm sangue.
Entende-se que somente os seguintes grupos foram introduzidos na arca:
• Todas as aves
• Todos os répteis e mamíferos terrestres
• Possivelmente alguns dos anfíbios preponderantemente terrestres.
Por que mais animais limpos que imundos? Eram necessários para os sacrifícios. Eles
forneceriam vestimenta e comida após o dilúvio (Gn 9:3) e tendo-se tornado animais vulneráveis
à predação, necessitavam melhores condições na luta pela sobrevivência.58
Possivelmente havia cerca de 35 mil animais na arca, mesmo que a capacidade total da
arca era para 100 mil animais do tamanho de um carneiro.

O Dilúvio foi local ou universal?


Existem evidências de um dilúvio universal, ou global e não apenas um evento local como
se fosse uma inundação:

Fósseis
Fósseis de criaturas marinhas encontradas nas diversas e mais altas montanhas, que por
sua vez estão espalhadas por todos os continentes.
A existência de milhões de espécimes fossilizados em todo o mundo evidencia que houve
uma grande catástrofe hídrica que causou esse sepultamento repentino, preservando tantos ani-
mais (alguns deles enormes) em situações que realmente apontam para o elemento surpresa: há

58 Folha Criacionista, 1980, p. 26.

39
fósseis preservados em estado de agonia e sufocamento; alguns têm alimento não digerido no
estômago e há até animais sepultados em pleno ato de dar à luz.59 A Folha de SP publicou uma
matéria interessante sobre isso.60

Outras versões do dilúvio


Cerca de 250-300 relatos já catalogados, em diferentes povos, de um relato de dilúvio
global apontam para uma memória ancestral derivada de uma tradição oral sobre uma inundação
global conforme o dilúvio de Noé descrito no livro de Gênesis;
O aviso de um dilúvio próximo, a construção de um barco com antecedência, o armaze-
namento dos animais, a inclusão da família, a libertação de aves para determinar se o nível de
água tinha diminuído. Estes relatos são encontrados em civilizações antigas como (China, Ba-
bilônia, país de Gales, Rússia, Índia, América, Hawaii, Escandinávia, Sumatra, Peru e Polinésia)
todos têm suas próprias versões de uma gigante inundação.
Manu - Manu era o nome do herói do dilúvio nas tradições da Índia. Ele, como Noé, é
tido como o construtor de uma arca na qual oito pessoas foram salvas. “Ma” é a antiga raiz que
designa água e, portanto, Manu poderia significar “Noé das águas”. Em sânscrito, Manu passou
a designar a palavra “homem ou humanidade”, pois Manu ou Noé foi pai de toda a humanidade.
É dela que deriva a palavra em inglês “man” que significa homem.
Na mitologia egípcia, Nu era a divindade das águas que enviara uma inundação para des-
truir a humanidade. A palavra saiu da Índia e migrou para o Japão e virou “maru”. Muitos navios
até hoje utilizam esse nome.
O hieróglifo egípcio que designa água era desenhado como uma linha ondulada. Ao ser
inventado o alfabeto, esse símbolo passou a ser a letra m, representando mayim, o termo semí-
ticio indicativo de água.

Sedimentos
Cerca de metade (50%) dos sedimentos encontrados sobre os continentes são de origem
marinha.61

E os dinossauros?
Realmente existiram, pois há evidências soterradas até hoje. O detalhe é que eles não são
como os descritos em filmes ou livros de ficção científica. O tamanho deles não é como nós
imaginamos.62
Metade das famílias dos dinossauros eram do tamanho de uma girafa macho adulta e
alguns do tamanho de um cachorro grande ou um peru selvagem.

59 http://www.criacionismo.com.br/2011/01/diluvio-universal-e-suas-implicacoes.html

60 http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2007/06/303168-dinossauros-tiveram-uma-morte-em-agonia.shtml

61 https://www.ministrymagazine.org/archive/1984/05/evidences-for-a-worldwide-flood

62 É importante notar que nem todos os dinossauros eram das grandes variedades carnívoras. Metade das famílias de dinossauros eram do tamanho de

uma girafa macho adulta (cerca de 7 metros de altura) ou menores, algumas do tamanho de um cachorro grande ou peru selvagem. Além disso, a
maioria dos dinossauros eram herbívoros (comedores de plantas). D. Lambert and the Diagram Group, Dinosaur Data Book (New York: Avon Books, 1990),
p. 320

40
Alimentação - A maior parte deles era vegetariana, mas obviamente haviam exceções.63
Extinção - Não apenas os dinossauros foram extintos no dilúvio, mas muitas outras es-
pécies de animais foram extintas também.

Quanto tempo durou o dilúvio?


O dilúvio em si durou 40 dias de chuva sem parar. Após isso as águas duraram 150 dias.
Então eles esperaram mais alguns dias até que as águas se secassem completamente. Portanto,
aproximadamente 1 ano e 10 dias - Gn 7:11 - entraram na arca e 8:14 - quando saíram.

Pós dilúvio
Noé bêbado
Gn 9 -A Armênia, local onde a arca repousou, era na antiguidade conhecida como uma
região de vinhas. Noé não plantou somente uma vinha, mas para atestar os fatos que se segui-
riam, foi mencionado somente este tipo de plantação. Ele bebeu vinho, ficou nu e Cam viu seu
pai assim. Noé quando ficou sóbrio lançou uma maldição sobre Cam.
Esse episódio deve ser entendido sob o olhar dos povos antigos. Ele olhou, do verbo
heb. ra’ah que significa olhar atentamente. Este talvez fosse o pecado dele, um ato de desrespeito
a seu pai. Outro fator foi ele ter contado para os outros ao invés de ter agido e tapado seu pai.64
O fato de a maldição ser pronunciada sobre Canaã, o quarto filho de Cam, tem sido considerada
por muitos comentaristas como evidência de que, na verdade, Canaã tenha sido o culpado.65
A maldição não parece ter sido pronunciada por ressentimento, mas como uma profecia,
uma predição do que Deus viu de antemão e o anunciou através de Noé.

Divisão da terra
Gn 10 é chamado de tabela das nações, pois aqui vemos o surgimento de todos os povos.
Há grandes evidências que mostram que a humanidade começou novamente (a primeira vez foi
no Éden) na região da Mesopotâmia (que quer dizer Meso (entre) e póta-
Possivelmente Jesus
mus (rios) – região entre rios – no caso os rios Tigre e Eufrates).
tenha enviado os 70
Ali são listadas 70 nações. Possivelmente Jesus tenha enviado os
70 em Lc 10:1 como um símbolo destas 70 nações que deveriam ser em Lc 10:1 como um
alcançadas.66 Sabemos que o surgimento da escrita e desenvolvimento símbolo destas 70 na-
do comércio se deram por volta do Terceiro Milênio antes de Cristo, ções que deveriam ser
justamente após o dilúvio.67 Os 3 filhos de Noé e os rumos que eles alcançadas
tomaram nos ajudam a entender o surgimento dessas nações.
Em resumo, Jafé foi para a Ásia e Europa, Cam para África e Sem permaneceu naquela

63 https://dialogue.adventist.org/1381/dinosaurs-questions-christians-ask

64 https://adventistbiblicalresearch.org/materials/bible-ot-texts/genesis-918-27

65 Comentário Bíblico Adventista, v. 1, p.257

66 Derek Kidner, Genesis: An Introduction and Commentary, vol. 1, Tyndale Old Testament Commentaries (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1967), 112.

67 https://archive.archaeology.org/9903/newsbriefs/egypt.html

41
região.

Jafé
Seu nome significa “expansão” - Enquanto os descendentes de Cam e Sem (vv. 6–31)
teriam vivido próximos um do outro no antigo Oriente Próximo, os descendentes de Jafé não
são todos encontrados em regiões próximas umas das outras. Estes versos provavelmente re-
fletem uma perspectiva israelita de que todos os nomes vêm do outro lado do Mar Mediterrâ-
neo, como Társis que hoje é a atual Espanha.68
Gn 10:5 – ilhas das nações – uma frase usada pelos judeus para descrever todos os países
acessíveis pelo mar (Is 11:11, 20:6 e Jr 25:22).69 Essas ilhas teriam sido territórios dos descen-
dentes de Jafé. Esses mesmos dariam origem a povos que mais tarde seriam chamados de “gen-
tios”.
Cam
Emigrou para o Sul e os principais assentamentos eram Cuxe, na Arábia, Canaã, no país
conhecido pelo seu nome e Mizraim no alto e baixo Egito. Mizraim “mitsrayim” era como o
Egito era conhecido no AT. Há uma tradição que diz que Noé acompanhou seu filho e pesso-
almente supervisionou a formação do assentamento. O Egito era chamado também de “terra
de Cam” (Sl 105:23, 27; 106:22].70
V. 8 – Ninrode – um dos descendentes de Cam. Seu nome está associado à fundação de
cidades como Babilônia, Nínive e Acade71. Ele pode ter sido neto de Sargão I, rei cujo nome
foi descoberto em recentes achados arqueológicos.
V. 16 – os jebuseus fundaram a cidade de Jebus que mais tarde se tornou Jerusalém depois
que foi conquistada por Davi (1 Cr. 11:4-5).72

Sem
Habitou na região do deserto da Arábia. Dos semitas (descendentes de Sem) surgiram as
3 maiores religiões do mundo: judeus, árabes e cristãos.
O verso 21 fala do nascimento de Héber, cujo nome hebraico é Ivrim, que significa “povo
do outro lado do rio”. Por ele ser um ancestral de Abraão73, deu origem ao nome Hebreus
(descendentes de Héber).74 Assim como são conhecidos também como israelitas (descendentes
de Israel).
Resumindo, cada povo tomou um rumo e povoaram toda a terra. At 17:26 diz que Deus

68 John D. Barry et al., Faithlife Study Bible (Bellingham, WA: Lexham Press, 2012, 2016), Ge 10:2.

69 Robert Jamieson, A. R. Fausset, and David Brown, Commentary Critical and Explanatory on the Whole Bible, vol. 1 (Oak Harbor, WA: Logos Research Systems,

Inc., 1997), 23.


70 Robert Jamieson, A. R. Fausset, and David Brown, Commentary Critical and Explanatory on the Whole Bible, vol. 1 (Oak Harbor, WA: Logos Research Systems,

Inc., 1997), 23.


71 John D. Barry et al., Faithlife Study Bible (Bellingham, WA: Lexham Press, 2012, 2016), Ge 10:8.

72 John D. Barry et al., Faithlife Study Bible (Bellingham, WA: Lexham Press, 2012, 2016), Ge 10:16.

73 “Noé gerou a Sem; este gerou a Arfaxade, que gerou Salá, que gerou Héber; este gerou a Pelegue, que gerou Reú, que gerou Serugue, que gerou Naor,

que gerou Tera, que então gerou a Abrão”.


74 Robert Jamieson, A. R. Fausset, and David Brown, Commentary Critical and Explanatory on the Whole Bible, vol. 1 (Oak Harbor, WA: Logos Research Systems,

Inc., 1997), 23.

42
estabeleceu onde cada povo iria habitar.

Torre de Babel
Gn 11 - Os povos acreditavam que os deuses viviam nos lugares altos e associavam essas
deidades com as montanhas. Como a região de Sinar (região da Babilônia) era uma região sem
montanhas (Gn 11:2 diz que era uma planície), as torres eram substitutos dos montes.
Em toda a Bíblia vamos encontrar povos adorando deuses nos “altos”, ou nos cumes dos
montes. Davi ergue certa vez os olhos para os “montes” (Sl 121) e pergunta: “de onde me virá
o socorro?”. Havia muitos povos que adoravam seus deuses nos altos dos montes. Quando não
havia monte, eles construíam os zigurates.
Possivelmente a torre de Babel tenham sido um zigurate75. Eles tinham aproximadamente
100 metros de altura, sua altura possibilitava ficar longe da poeira e eram ideais para se observar
as estrelas. No alto construíam templos para adorar suas deidades. De fato, do alto dos zigurates
o céu parecia mais próximo. Acreditavam que ali o céu se encontrava com a terra e os deuses
com a humanidade. Entendiam que ali os deuses tornavam conhecidas suas vontades aos mor-
tais. Zigurates eram vistos como o centro do cosmos.76
O problema deles está no v. 4 – a intenção deles era tornar o nome conhecido e não se
espalhar pela terra. Em 9:7 Deus deu a ordem para que se multiplicassem e se espalhassem.
Então Deus desce e confunde as línguas.
De fato, há fortes evidências de que as línguas tenham proximidades de origem. O nome
Deus, por exemplo:
Idiomas latinos: Deus (PT), Dios (ES), Dieu (FR), Theus, Zeus
Idiomas saxônicos: God, Gott, Gud
Idiomas do oriente médio: El (heb.), All, Allá (árabe), lllu, Il
V. 8 – eles se dispersam – aqui é o ponto crucial, onde Deus muda o foco sobre todos os
povos da terra para o povo escolhido de Israel. Em certo sentido, “o evento de Babel marca
Yahweh renegando as nações do mundo como Sua família humana em favor de eleger Israel, a
quem Ele também usará para reivindicar as nações como Seu povo.”77

Abraão
Gn 12 - A Bíblia agora enfatiza a descendência de Sem, destacando Héber e por fim
Abrão, que quer dizer “pai exaltado”. Ele foi chamado de Ur dos caldeus, que era no crescente
fértil, uma região em forma de meia lua rodeada de rios e ótima para a agricultura. A lua cres-
cente é usada como símbolo dos povos do oriente médio até hoje.
Deus então faz um chamado a Abrão e ele se torna um elo muito importante entre a
história geral da humanidade até então e todo o restante da Bíblia. A partir de agora, todos os
demais capítulos da Bíblia falam somente da descendência dele.
O que Deus prometeu por meio da descendência de Abraão? A Bíblia, o Messias e a

75 “Ziggurat” deriva da palavra Acadiana zaqaru, que significa “construção alta.”

76 John D. Barry et al., Faithlife Study Bible (Bellingham, WA: Lexham Press, 2012, 2016), Ge 11:4.

77 John D. Barry et al., Faithlife Study Bible (Bellingham, WA: Lexham Press, 2012, 2016), Ge 11:8.

43
salvação a todos os povos. Veremos mais sobre isso no próximo capítulo.
Gn 12:1-3 é chamada de passagem de conexão entre as duas seções, o relato do surgi-
mento do mundo e a história da família de Abraão.
A partir de agora a história se preocupará com a ação de Deus em uma nação e por meio
dela. Eles não seriam superiores, mas existiriam por causa das demais nações. Desde o início
Deus tinha como alvo a salvação universal.

Bênção
Benção é um termo bíblico com ricas ressonâncias, significando a revogação da maldição
do pecado e a restauração da plenitude da criação.
Por 5 vezes a Terra foi amaldiçoada em Gn 1-11. Deus chama
A eleição tinha um pro-
Abraão para reverter as maldições em bênçãos. A palavra abençoar aparece
5 vezes em Gn 12:2-3. A benção que viria por meio de Abraão seria a pósito: que as demais
solução para a maldição que tomou conta da terra nos primeiros capítu- nações participassem
los. dessa benção.
Gn 18:19 – um povo chamado a fim de que. A eleição tinha um pro-
pósito: que as demais nações participassem dessa benção.

RESUMO
O Dilúvio, uma catástrofe que atingiu toda a Terra, mudou a geografia e resultou num recomeço. Após
a saída da arca, cada filho de Noé vai com sua família para direções diferentes, dando origem a todos os povos.
Dentre todas as famílias, a de Abraão é escolhida para, através dela, Deus enviar a salvação a todos os habitantes
e reverter as maldições da Queda em bênçãos.

44
CAPÍTULO 6

Plano de Deus
Toda a narrativa bíblica do Grande Conflito pode ser dividida em 4 etapas: Criação, Queda, Redenção
e Restauração. Este capítulo detalhará ainda o plano da Redenção e está baseado em Gênesis 12.
Uma cronologia básica da Bíblia até aqui: Criação > Queda > Caim e Abel > Enoque >
Noé > distribuição da terra > Abraão.
A missão de Deus desde o Éden havia sido resgatar a boa criação
A missão de Deus
de sua contaminação pecaminosa: ele fez a promessa a Adão e iniciou a
desde o Éden havia
longa jornada de redenção para realizá-la.78 Por que Deus escolheu
Abraão? O que ele queria com esse povo? sido resgatar a boa cri-
ação de sua contami-
Chamado de Abraão nação pecaminosa.

Sai da tua terra


Gn 12:1- Abraão deveria sair da terra de seus familiares, numa região muito próspera e
fértil. Harã e Ur pertenciam à mesma civilização e tinham os mesmos padrões de vida. Tudo
isso mudaria, pois a região que Deus o estava chamando era cheia de florestas e montanhas. Ele
nunca mais voltaria para seus parentes.
Ele deveria partir em direção à Canaã. Seria uma jornada de aproximadamente 720 km.79
Se contarmos com a ida ao Egito e o retorno a Canaã, a viagem foi de 2.400 km aproximada-
mente. Por que Deus escolheu esta terra? O que Deus queria com o povo que viria de Abraão?
Com o chamado de Abraão, Deus pôs em operação um plano definido para enviar o
Messias ao mundo e apresentar o convite do evangelho a todos os povos (Gn 12:1-3; PP, 125;
PR, 368). Deus encontrou em Abraão um homem preparado para prestar obediência irrestrita
à vontade divina (Gn 26:5; Hb 11:8) e despertar um espírito semelhante em sua posteridade (Gn
18:19). Assim sendo, Abraão se tornou, em sentido especial, "amigo de Deus" (Tg 2:23) e "o
pai de todos os que creem" (Rm 4:11). Deus estabeleceu uma solene aliança de parentesco com
ele (Gn 15:18; 17:2-7), e sua posteridade, Israel, herdou a sagrada responsabilidade de ser

78 A igreja missional na Bíblia, p.61

79 Comentário Bíblico Adventista, v. 1, p. 289

45
representante escolhido de Deus na Terra (Hb 11:9; PP, 125) para a salvação de toda a raça
humana. A salvação deveria vir "dos judeus", no sentido de que o Messias seria judeu (]o 4:22),
e pelos judeus, como mensageiros de salvação a todos os povos (Gn 12:2, 3; 22:18; Is 42:1, 6;
43:10; Gl3:8, 16, 18; PJ, 286).80

O plano de Deus
O que Deus prometeu por meio da descendência de Abraão? Bíblia, Messias e salvação a
todos os povos. No grande propósito de Deus de salvar e redimir a humanidade (lembrar das 4
etapas), Deus escolhe um povo para que eles sejam os agentes de salvação dEle entre os outros
povos. O que Abraão estava iniciando se tornaria uma grande nação que cumpriria o desígnio
de Deus. O plano de Deus incluía 2 itens importantes: um povo escolhido e uma terra esco-
lhida.
Deus pediu para que Abraão fosse até a terra de Canaã e estabelecesse ali um povo. Eles
cresceriam ali mesmo e através deles a terra seria salva.
Quando chegassem nessa terra, Israel teria um senso de missão, não para ir a algum outro
lugar, mas para se tornar uma luz e testemunha para as nações através da fidelidade à aliança
feita com Deus.81Abraão é escolhido precisamente para que a bênção possa chegar a todas as
nações. A eleição de um tem por objetivo a salvação de todos.

Que tipo de povo Deus queria que Israel fosse?


A missão de Deus era abençoar e salvar as nações. A missão do povo de Deus deveria ser
a mesma. Além disso, eles deveriam adora-lo exclusivamente e viver de acordo com suas exi-
gências morais.82
Resumindo: Deus escolhe Israel para que a salvação chegasse a todo o mundo. Esse plano
de Deus não estava 100% claro na época de Abraão, mas os demais textos do AT nos ajudam
a entender o que Deus queria com essa eleição.

Como funcionaria o plano?83


Deus colocou seu povo na Palestina, na encruzilhada do mundo antigo, e lhe providen-
ciou todos os recursos para que se tornasse a maior nação sobre a face da Terra (PJ, 288).
Era Seu objetivo exaltá-los "sobre todas as nações da Terra" (Dt 28:1; PR, 368, 369), de
modo que "todas as nações" reconheceriam sua superioridade e os chamariam "felizes"
(Ml3:12). Prosperidade incomparável, tanto temporal como espiritual lhes foi prometida como
recompensa por colocar em prática os sábios e justos princípios do Céu (Dt 4:6-9; 7: 12-15; 28:
1-14; PR, 368, 369, 704). Isso seria o resultado de sincera cooperação com a vontade de Deus,
revelada pelos profetas, e de bênçãos divinas acrescentadas ao esforço humano (ver DTN, 811,
827; cf. PP, 214). O êxito de Israel deveria se basear nas seguintes condições e incluiria:

80 Comentário Bíblico Adventista, v. 4, p. 13

81 Matacio,Doug (2008) "Centripetal and “Centrifugal” Mission: Solomon and Jesus," Journal of Adventist Mission Studies: Vol. 4: No. 1, 31-42.: https://digi-
talcommons.andrews.edu/jams/vol4/iss1/4
82 Michael W. Goheen. Igreja missional na Bíblia, p. 83

83 Comentário bíblico adventista, v. 4, p. 14-7.

46
Santidade de caráter. (Lv 19:2). Sem isso, o povo de Israel não se qualificaria para rece-
ber as bênçãos materiais que Deus pretendia conceder-lhe. Sem isso, as muitas vantagens apenas
resultariam em prejuízos para si mesmos e para os outros. Seu caráter devia se enobrecer e se
elevar gradualmente, refletindo com perfeição cada vez maior os atributos do perfeito caráter
de Deus (Dt 4:9; 28:1, 13, 14; 30:9, l0; ver PJ, 288, 289). A prosperidade espiritual devia preparar
o caminho para a prosperidade material.
Bênçãos da saúde. Fraquezas e enfermidades haveriam de desaparecer inteiramente
de Israel como resultado do estrito apego aos princípios de saúde (ver Êx 15:26; Dt 7:13,
15, etc.; PP, 378, 379; PJ, 288).
Intelecto superior. A observância das leis naturais do corpo e da mente resultaria numa
capacidade mental sempre crescente, e o povo de Israel seria abençoado com poder intelectual,
discernimento penetrante e raciocínio perfeito. Seriam muito mais adiantados do que outras
nações em sabedoria e entendimento (PR, 368). Tornar-se-iam uma nação de gênios intelectuais,
e debilidades mentais seriam praticamente desconhecidas entre eles (ver PP, 378; cf. OTN, 827;
PJ, 288).
Habilidade em agropecuária. Se o povo seguisse as instruções que Deus lhe deu com
respeito ao cultivo do solo, a terra seria gradualmente restaurada à sua beleza e fertilidade
edênicas (Is 51: 3). Tornar-se-ia um exemplo dos resultados de se agir em harmonia com as leis
moral e natural. Pestes e doenças, inundações e secas, fracasso nas colheitas - tudo isso desapa-
receria com o tempo (ver Dt 7:13; 28:2-8; Ml 3:8-ll ; PJ, 289).
Perícia profissional superior. O povo hebreu alcançaria sabedoria e habilidade "em
todo artifício", isto é, um elevado grau de capacidade inventiva e habilidade como artesãos para
a confecção de todos os tipos de utensílios e dispositivos mecânicos. Seu conhecimento técnico
resultaria em produtos "fabricados em Israel" superiores a todos os outros (ver Êx 31:2-6; 35:33,
35; PJ, 288).
Prosperidade incomparável. "Sua obediência à lei de Deus os tornaria uma maravilha
de prosperidade ante as nações do mundo" (PJ, 288), testemunhas vivas da grandeza e majestade
de Deus (Dt 8:17, 18; 28:11-13; OTN, 577).
Grandeza nacional. Como indivíduos e como nação, Deus pretendia prover aos filhos
de Israel “toda a possibilidade de se tornarem a maior nação da Terra" (PJ, 288; ver Dt 4: 6-8;
7:6, 14; 28:1; Jr 33:9; Ml3:12; PP, 273, 314; Ed, 40; OTN, 577). Ele pretendia torná-los uma
honra ao Seu nome e uma bênção às nações circunvizinhas (Ed, 40; PJ, 286).
Localização. Ezequiel escreveria mais tarde sobre Jerusalém: Ez 5:5 “Assim diz o Senhor
Deus: Esta é Jerusalém; eu a coloquei no meio dos povos, com nações em torno dela.”
Diversos textos judaicos e rabínicos situam Israel no centro do mundo, como o umbigo
do universo. A expressão “umbigo da terra” vem de Ez 38:12: “meio da terra”, em heb. “um-
bigo”.84 Há um mapa desenhado pelo cartografista Heinrich Bunting em 1851 que mostra a
concepção judaica do mundo, tendo Israel como centro de todas as coisas.

84 A Midrash Tanhuma (comentário rabínico da Torá), Parashat Kedoshim (porção semanal de leitura da Torá centrada em Lv 19:1-20-27) afirma: Assim

como o umbigo está no centro do corpo do homem, do mesmo modo a terra de Israel é o umbigo do mundo. A Igreja missional na Bíblia, p.73.

47
Jerusalém seria o cen-
tro do mundo e todos
seriam atraídos a esse
lugar para conhecer
um povo abençoado,
uma terra abençoada e
o Deus que dava todas
essas bênçãos.

Israel produziria uma força centrípeta85, ou seja, atracional. O meio seria o centro de
tudo. Jerusalém seria o centro do mundo e todos seriam atraídos a este lugar para conhecer um
povo abençoado, uma terra abençoada e o Deus que dava todas estas bênçãos.

Resultados
Quando as nações da Antiguidade observassem o extraordinário progresso de Israel, sua
atenção e seu interesse seriam despertados. "Até os pagãos reconheceriam a superioridade dos
que servem e adoram o Deus vivo" (PJ, 289). Desejando as mesmas bênçãos, perguntariam
como poderiam conseguir essas vantagens materiais. Israel responderia: "Aceitem nosso Deus
como seu Deus, amem e sirvam a Ele como nós o fazemos, e Ele fará o mesmo por vocês."
"As bênçãos assim asseguradas a Israel" eram, "nas mesmas condições e no mesmo grau, asse-
guradas a toda nação e a cada indivíduo sob o vasto céu" (PR, 500, 501; ver At 10:34, 35; 15:7-
9; Rm 10:12, 13; etc.). Todas as nações da Terra deveriam participar das bênçãos tão generosa-
mente derramadas sobre Israel (PR, 370).
Esse conceito do papel que Israel devia desempenhar é repetido várias vezes no AT. Deus
seria glorificado em Israel (Is 49:3), e os israelitas seriam Suas testemunhas (Is 43:10; 44:8) para
revelar ao mundo os princípios de Seu reino (PJ, 285). Eles deveriam celebrar Seu louvor (Is
43:21) para anunciar Sua glória entre os pagãos (66: 19), a fim de ser uma "luz para os gentios"
(Is 49:6; 42:6, 7). Todos reconheceriam que Israel mantinha um relacionamento especial com o
Deus do Céu (Dt 7:6-14; 28:10; Jr 16:20, 21). Contemplando a "justiça" de Israel (Is 62:1, 2), os
gentios o reconheceriam como a descendência que o Senhor abençoou (Is 61:9, lO; cf. Ml 3:1
2) e a Deus, como o único Deus (Is 45:14; PP, 314). À pergunta "que grande nação há que tenha
deuses tão chegados a si como o SENHOR?", eles próprios responderiam dizendo: "Certa-
mente, este grande povo é gente sábia e inteligente" (Dt 4:7, 6). Ao ouvirem dos benefícios que
o Deus de Israel concederia a Seu povo e "diante da paz e da prosperidade" que Ele lhes daria
(Jr 33:9, NIV), as nações pagãs admitiriam que seus pais “herdaram só mentiras” (Jr 16:19).
As vantagens materiais desfrutadas por Israel destinavam-se a atrair a atenção e o interesse
dos gentios, para os quais as bênçãos espirituais, menos visíveis, não exerciam atração natural.
Eles se ajuntariam e viriam de longe (Is 49:18, 12, 6, 8, 9, 22; SI 102:22), "desde os fins da terra"

85 “A
força centrípeta é a resultante que puxa o corpo para o centro da trajetória em um movimento curvilíneo ou circular.” https://digitalcommons.an-
drews.edu/jams/vol4/iss1/4

48
(Jr 16:19), para a luz da verdade que resplandece do "monte do SENHOR" (Is 2:3; 60:3; 56:7;
cf. Is 11:9, 10). Nações que nada conhecessem do verdadeiro Deus "correriam" a Jerusalém por
causa da clara evidência das bênçãos divinas que acompanhariam a Israel (Is 55:5). Embaixado-
res de países estrangeiros iriam, um após o outro, para descobrir, se possível, o grande segredo
do êxito de Israel como nação, e os líderes israelitas teriam oportunidade de guiar a mente de
seus visitantes à Fonte de todo o bem. Sua mente deveria ser dirigida do visível para o invisível,
do visto para o não visto, do material para o espiritual, do temporal para o eterno. As nações
reagiriam positivamente ao apelo divino por meio de um Israel fiel (ver Is 19:18-22; cf. SI 68:31).
Ao voltarem a seus países de origem, os embaixadores gentios aconselhariam a seus com-
patriotas: "Vamos depressa suplicar o favor do SENHOR e buscar ao SENHOR dos Exércitos"
(Zc 8:21; cf. 1Rs 8:41-43). Eles enviariam mensageiros a Israel com a declaração: "Iremos con-
vosco, porque temos ouvido que Deus está convosco" (Zc 8:23). Nação após nação "seguir-te-
ão" (Is 45:14), isto é, "unir-se-ão a eles" e "se achegarão à casa de Jacó" (Is 14:1).
A casa de Deus em Jerusalém seria "chamada Casa de Oração para todos os povos" (Is
56:7), e "muitos povos e poderosas nações" buscariam "em Jerusalém o SENHOR dos Exérci-
tos" para "suplicar o favor do SENHOR" "naquele dia" e ser Seu "povo" (Zc 8:22; 2:11). Os
filhos do "estrangeiro" (ou gentio, 1Rs 8:41; ver com. de Êx 12:19, 43) se chegariam "ao SE-
NHOR, para O servirem e para amarem o nome do SENHOR" (Is 56:6; Zc 2:11). As portas
de Jerusalém estariam abertas de contínuo para receber as riquezas doadas a Israel para a con-
versão de outros povos e nações (SI 72:10; Is 60:1-11; 45:14; Ag 2:7). Finalmente, "todas as
nações" chamariam "a Jerusalém de Trono do SENHOR" e nela se reu-
niriam para não mais andarem "segundo a dureza do seu coração ma- Israel deveria florescer,
ligno" (Jr 3: 17). "Todos os que [ ... ] se volvessem da idolatria ao culto brotar e encher de fru-
do verdadeiro Deus deveriam unir-se ao povo escolhido. Quando o nú-
tos o mundo.
mero de Israel aumentasse, deveriam ampliar os limites até que seu reino
abarcasse o mundo" (PJ, 290; cf. Dn 2:35). Assim Israel deveria florescer,
brotar e encher de frutos o mundo (Is 27:6). [...]
Após o grande chamado final ao mundo para reconhecer o verdadeiro Deus, aqueles que
se recusaram persistentemente a obedecer-Lhe, unir-se-iam com o “mau desígnio” de sitiar a
cidade de Jerusalém e tomá-la pela força das armas a fim de se apoderar das vantagens materiais
com as quais Deus abençoou Seu povo (Ez 38:8-12; Jr 25:32; Jl3:I, 12; Zc 12:2-9; 14:2; cf. Ap
17:13, 14, 17). Durante o cerco, israelitas perversos seriam mortos por seus inimigos (Zc 13:8;
14:2). No quadro profético, Deus é representado como ajuntando as nações a Jerusalém (Sf 3:6-
8; cf. Ez 38:16, 18-23; 39:1-7). Ele está em conflito com elas porque se rebelaram contra a Sua
autoridade (]r 25:31-33), e Ele as julgará (]o 3:9-17) e destruirá ali (Is 34:1-8; 63:1-6; 66:15-18).
A "nação e o reino" que não servissem a Israel deveriam perecer (Is 60:12). "As nações que
rejeitassem o culto ou o serviço do verdadeiro Deus deveriam ser desapossadas" (PJ, 290), e a
posteridade de Israel possuiria as nações (Is 54:3).
Assim, a Terra ficaria livre daqueles que se opunham a Deus (Zc 14:12, 13). Ele seria "Rei
sobre toda a Terra" (v. 3, 8, 9), e Seu domínio se estenderia "de mar a mar [ ... ] até as extremi-
dades da Terra" (Zc 9:10). Naquele dia, "todos os que restarem de todas as nações que vieram
contra Jerusalém subirão de ano em ano para adorar o Rei, o SENHOR dos Exércitos" (Zc 14:
16; c f. 9:7; Is 66:23).

49
Escatologia do AT86
Segundo o cenário universal e do fim do tempo predito por essas passagens, remanescen-
tes da oposição de outras nações do mundo contra Israel e o Deus de Israel lançam um ataque
final contra Jerusalém. Durante o cerco de Jerusalém, os israelitas réprobos são mortos por seus
inimigos (Zc 13:8; 14:2). Então Deus convoca as nações rebeldes para juízo, e elas são elimina-
das pelo Senhor na batalha escatológica final (Zc 14; Ez 38–39). Deus ressuscita os justos mor-
tos e aplica o toque final da imortalidade sobre os vivos (Is 25:8; 26:19). Os ímpios também são
ressuscitados, julgados e (depois de um período de tempo [o milênio?]: Is 24:27) punidos, ter-
minando em destruição eterna (Is 24:20-23). Deus então recria novos céus e uma nova terra,
além de recriar “para Jerusalém alegria e para o seu povo, regozijo” (Is 65:17-18). O mundo
torna-se o Éden restaurado, e o universal e eterno reino do Senhor é introduzido (Zc 14; Is 24–
27; 35; 51:3). “E será que, de uma Festa da Lua Nova à outra e de um sábado a outro, virá toda
a carne a adorar perante mim, diz o SENHOR” (Is 66:17). Pecado e pecadores são totalmente
derrotados, e o mal nunca mais se levantará outra vez (Is 66:24; cf. Na 1:9).”

Como foi o início deste plano?


Gn 12:7 – Abraão faz a jornada de Harã até a terra de Canaã. O Senhor diz que aquela
terra seria dele e de sua descendência.
Gn 12:10 – Por causa de fome, decide ir para o Egito e mente sobre o parentesco com
Sara e retorna a Betel.
Gn 13 - Abraão e Ló se desentendem por causa da quantidade de gado que eles tinham
e Ló escolhe viver na região de Zoar, próximo a Sodoma e Gomorra (mapa), duas cidades
fundadas pelos descendentes de Cam (Gn 10:19). No v. 14 Deus promete de novo a Abraão
aquela terra como sua herança. Em cada uma dessas ocasiões ele levanta um altar.
Gn 14 – acontece uma guerra de 4 reis contra 5 e nesta batalha saqueiam as cidades de
Sodoma e Gomorra onde Ló habitava. Abraão então leva 318 homens que o serviam e resgata
Ló. No final do capítulo aparece Melquisedeque (em heb. “rei de justiça”) que era sacerdote do
Deus altíssimo (em heb. “El Elyon”) e Abraão entrega o dízimo de tudo o que ele havia con-
quistado.
Gn 15 – Deus de novo aparece em visão e promete as heranças, filhos e bênçãos, mas
Abraão pergunta como isso aconteceria, se ele ainda continuava sem filhos.
Gn 15:5 – Deus o leva para fora e pede para ele contar as estrelas. Assim, incontável, seria
a descendência dele. E ele creu (v.6). Então oferece um sacrifício a Deus e enquanto espera o
fogo descer do céu, dorme profundamente e Deus fala com ele no sonho (vv 12-18).
Gn 16 – Sara tem pressa e oferece Hagar para que Abraão tivesse um filho. Nasce Ismael
(que signif. Deus ouve) quando Abraão tinha 86 anos.
Gn 17 – Quando ele tinha 99 anos, Deus muda o nome dele, pois AGORA que ele seria
pai. Abrão sign. “Pai exaltado”. Abraão sign. “Pai de numerosa multidão”.
V.9-12 – circuncisão – Era um corte no prepúcio masculino que quando cicatrizava formava
uma espécie de anel ou aliança em torno do órgão sexual masculino. Assim, quando um homem

86 Compreendendo as Escrituras, p. 192-5.

50
tivesse relações com sua mulher, os “filhos” que saíssem dali e fecundassem o óvulo já fariam
parte da descendência e do povo da aliança.
Era praticada no oitavo dia. Hoje a ciência entende porque. Baseado em estudos sobre os
índices ideais de vitamina K e protrombina, o dia perfeito para se realizar uma circuncisão é o
oitavo dia, pois é quando estas vitaminas anti-hemorrágicas estão em seu nível mais alto no
corpo. Seguir esta regra ajudava a evitar o perigo de uma grande hemorragia.87
Outro fator está relacionado à prevenção de muitas doenças, tanto para os homens como
para as esposas. As judias são as que menos tem câncer de colo e útero e muito creditam isso à
circuncisão de seus maridos.
Gn 18 e 19 – Sodoma e Gomorra são destruídas – mais informações sobre este episódio
no comentário bíblico adventista v. 1.
Gn 20 e 21 – nasce Isaque, o filho da promessa.
Gn 22 – Deus prova Abraão – pede para levar seu único filho ao monte Moriá para
sacrificá-lo (tal como os zigurates ou altos dos montes como locais de adoração). Ali naquele
monte pega seu filho, constrói um altar, dispõe a lenha e coloca Isaque. O anjo do Senhor então
interrompe o ato e Abraão vê um carneiro preso pelos chifres nos arbustos. Então diz: Jeová
Jireh, ou Deus proverá. Por que? Porque ele entendeu que seu filho seria sacrificado naquele
momento, mas Deus mostrou que não havia necessidade, pois um cordeiro seria o substituto
de Isaque. Deus proveu o sacrifício, tal como proveria Seu Filho como substituto da raça hu-
mana séculos depois.
Jesus em João 8:56 diz que Abraão “viu o meu dia”, ou seja, Abraão entendeu o que
aconteceria com o Filho de Deus. No monte Moriá, o filho escapou e o cordeiro morreu em
seu lugar. Na cruz, o cordeiro escapou e o Filho morreu em seu lugar. Gl 3:8 diz que Deus pré-
anunciou o evangelho a Abraão naquele momento.
O monte Moriá foi o local onde Salomão construiu o templo alguns séculos depois (2 Cr
3:1: “Salomão começou a construir o Templo do SENHOR Deus em Jerusalém, no monte
Moriá”.

RESUMO
O chamado de Deus a Abraão era para que ele constituísse uma família e esta seria responsável por
habitar uma terra próspera, dando origem à uma missão de atração das demais nações. Se fossem fieis, a Terra
voltaria às condições do Éden e Deus restauraria tudo como era no início.

87 Dr. S. I. McMillen, Nenhuma Dessas Doenças, 1986, pág. 21.

51
52
CAPÍTULO 7

Patriarcas
Toda a narrativa bíblica do Grande Conflito pode ser dividida em 4 etapas: Criação, Queda, Redenção
e Restauração. Este capítulo detalhará ainda o plano da Redenção e está baseado de Gênesis 22 a Êxodo 1.
No capítulo anterior vimos sobre o chamado de Abraão para ser o predecessor de um
povo que se tornaria uma benção a todas as nações. Por meio dele e de sua família, todas as
famílias da terra seriam abençoadas.
Todas as histórias registradas nos próximos capítulos têm a intenção de mostrar o que
Deus havia escolhido: a terra e o povo. Em todo o Gênesis vemos situações que ajudaram o
povo mais tarde a saber como se originaram aqueles lugares, como Betel que Jacó chamou de
casa de Deus, Peniel onde ele viu Deus face a face e outros mais.
Outro objetivo era mostrar que os patriarcas adquiriram estas terras que Deus havia es-
colhido para eles. Eles compraram ou adquiriram a terra que mais tarde
eles possuiriam. Deus escolheu este
Outro ponto é mostrar com as histórias a mão de Deus em aben- povo, então tudo o
çoar este povo escolhido, mesmo eles passando por situações difíceis e que ele fizesse serviria
incertas. Deus escolheu este povo, então tudo o que ele fizesse serviria para cumprir o propó-
para cumprir o propósito que Ele havia designado para eles. As histórias sito que Ele havia de-
do AT mostram isso. signado para eles.

Entendendo a Linha do tempo


Hoje podemos olhar a história da Bíblia e contar os anos que se passaram desde a criação
até os nossos dias. Esta contagem é feita em ordem crescente a partir de Jesus e decrescente
antes dele.
Criação Jesus Nossos dias
Ano 6 mil a.C. aprox. Ano “zero” Ano 2021 d.C.

53
De Abraão até a entrada no Egito (aproximadamente)88:

Nasce Abraão entra Nasce Nasce Nasce José é vendido José se torna mi- Jacó e sua família se
Abraão em Canaã Isaque Jacó José como escravo nistro no Egito mudam para o Egito
2165 a.C 2090 a.C 2065 a.C 2005 a.C 1915 a.C 1898 a.C 1885 a.C 1860 a.C

Sara
Gn 23 – com a morte de Sara, Abraão compra a terra que futuramente seria de sua des-
cendência. A caverna de Macpela que em heb. significa “dupla” é identificada hoje como uma
caverna dupla próximo ao monte Hebrom onde estão enterrados Sara, Abraão, Isaque, Rebeca,
Lia e Jacó. Em cima destas cavernas está construída uma mesquita islâmica. Em árabe, o lugar
é chamado Haram el-Khalil que quer dizer “lugar sagrado do amigo (de Deus)”, referindo-se a
Abraão.89

Isaque - confirmação da aliança


Isaque casa com Rebeca e Deus promete a ele o mesmo que prometeu a seu pai: Gn 26:1-
5. Isaque tem 2 filhos: Jacó e Esaú. Jacó, cujo nome vem do heb. ‘aqab “pegar pelo calcanhar”
ou “enganar”. Significa literalmente “ele agarra o calcanhar” ou “ele engana”.90O nome Esaú
tem uma raiz incerta, mas seria chamado mais tarde de Edom por causa do episódio com o
cozinhado de lentilhas vermelhas, em heb. ‘adom, “vermelho”.
Desde o nascimento, Deus disse que os dois seriam grandes nações que lutariam a vida
toda. De fato, os israelitas (descendentes de Jacó) e os edomitas (descendentes de Esaú, ou
Edom), lutaram a vida toda.
Esaú rejeitou o direito à primogenitura e assim fazendo, rejeitou os seguintes direitos:
• Sucessão à autoridade oficial do pai;
• Herança de uma porção dupla da propriedade do pai
• O privilégio de se tornar o sacerdote da família
• Sucessão à promessa da Canaã terrestre
• A honra de ser um dos progenitores do Descendente prometido.91
Os dois brigam por causa da primogenitura, Jacó foge, casa-se com 4 mulheres, se recon-
cilia com seu irmão e retorna à terra de seu pai.
De Esaú se fala muito pouco a partir de agora. Ele toma esposas da casa de seu tio Ismael
e se torna pai de uma grande nação, os edomitas.

88 Larry Richards. Guia fácil para entender a Bíblia, p. 33.

89 https://pt.wikipedia.org/wiki/Túmulo_dos_Patriarcas

90 Comentário Bíblico Adventista, v. 1 p. 378

91 idem, p. 379

54
Jacó e seus filhos
Jacó tem 12 filhos, frutos das suas 4 mulheres. Mais tarde seus filhos dariam nome 12
tribos de Israel.
• De Lia – Rúben, Simeão, Levi, Judá, Issacar e Zebulom
• De Raquel – José e Benjamin
• De Bila – Dã e Naftali
• De Zilpa – Gade e Aser

José
Gn 37 -Episódio da venda de José como escravo para o Egito. Ele foi vendido para uma
caravana de ismaelitas, portanto descendentes do seu tio-avô Ismael (Gn 37:25). Estes eram os
árabes que desde o início eram dedicados ao comércio.

Por que José se tornou governador do Egito?


Ele se torna primeiro ministro do Egito facilmente devido a alguns fatores:
Tudo o que José fazia, Deus colocava a mão. Ele era abençoado pelo Senhor.
Parentesco com os hyksos. Existem evidências arqueológicas de que pessoas não egíp-
cias ocuparam altos cargos no Egito. Houve um tempo em que uma tribo semita (descendentes
de Sem, filho de Noé, portanto da mesma linhagem de José) chamada hyksos92invadiu o Egito,
tirou o faraó egípcio e assumiu o poder. Foi neste governo não egípcio que José se torna pri-
meiro ministro.
José teve dois filhos: Manassés (que significa “que faz esquecer”, pois ele desejava esque-
cer sua antiga condição que o levou até ali) e Efraim, que quer dizer “dupla frutificação”.

Como o povo de Israel se fixou no Egito?


Devido à fome na terra de Canaã, eles foram buscar auxílio no Egito. Esse foi o mesmo
motivo que levou Abraão e Isaque ao Egito anos antes.
Após o episódio onde José, agora governador, manda buscar toda a família, Jacó se en-
contra com seu filho depois de muitos anos longe dele. Antes de sua morte, Jacó abençoa cada
um dos filhos e dá profecias a eles.
Para Judá diz que ele se tornaria uma que lideraria as demais tribos até a vinda do Mes-
sias.O “cetro” seria para sempre desta tribo, pois todos os reis de Israel viriam de Judá.
Gn 50:14 – Quando Jacó morreu, José foi enterra-lo na caverna de Macpela. José retorna
ao Egito, pois aquele povo deveria se tornar uma grande nação.
Aqui termina o período patriarcal da Bíblia.

92 “Omomento da expulsão dos hiksos e da escravidão de Israel se encaixa perfeitamente no Tutmós III. Os hiksos governaram o Egito por 100 anos de
1656-1556 aC. Eles eram os "reis pastores" que eram amigos dos hebreus. Pode-se inferir que eles eram uma tribo semita como os edomitas.”
http://www.bible.ca/archeology/bible-archeology-exodus-date-1440bc.htm

55
Moisés
Êx 1:8 – aproximadamente 215 anos após a entrada no Egito, houve um faraó que não
conheceu José. Por que? Um general egípcio chamado Ahmoses iniciou um exército em Tebas
e se torna poderoso. Conquistou o Egito, expulsou os hyksos do poder, se tornou faraó e inau-
gurou a 18a dinastia egípcia. Uma das primeiras atitudes dele foi escravizar semitas e consequen-
temente os hebreus (que também eram semitas).O faraó que “não conhecia José”, portanto, era
Ahmoses.
Hatshepsut, neta de Ahmoses, não teve filho homem, porém seu marido Thutmoses II93
teve um filho com uma amante. Este filho seria o próximo Faraó94, caso Hatshepsut não tivesse
filho.95 A genealogia dos faraós é como se segue:96

Quando Joquebede teve seu filho, o colocou num cesto e lançou no rio, possivelmente
sabendo que Hatshepsut poderia encontra-lo e adota-lo como filho. Quando a rainha encontrou
o menino no cesto, entendeu que era um presente do rio Nilo, a quem eles consideravam um
deus. Assim como todos os outros descendentes da dinastia tinham o sufixo “moses”ou “mosi”
no nome, Hatshepsut possivelmente tenha colocado o nome de Hapi-Moses (moses significa
“nascido de”, portanto Hapi-moses significa “nascido do deus Hapi” ou do rio Nilo). Provavel-
mente Moisés tenha trocado de nome no deserto, tirando o nome do deus Hapi. O nome Moisés
significa somente “nascido de”.
Moisés foi treinado para ser um faraó e continuar a 18a dinastia, já que sua mãe adotiva

93 https://books.google.com.br/books?id=DoyTDAAAQBAJ&pg=PA177&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false

94 http://www.bible.ca/archeology/bible-archeology-exodus-date-1440bc.htm

95 https://en.wikipedia.org/wiki/Eighteenth_Dynasty_of_Egypt

96 Projeção da 18ª Dinastia dos Faraós – Bible.ca

56
não teve filho homem. Um crime mudou toda a história e será o conteúdo do próximo capítulo,
bem como a saída do povo de Israel do Egito, evento do qual a Bíblia chama de êxodo.

RESUMO
O plano de Deus para com o povo de Israel estava sendo cumprido. Pode-se ver a mão de Deus protegendo
e cuidando deles em todos os momentos e preparando esse povo para se tornarem uma grande e próspera nação a
fim de que a bênção chegasse a todas as demais nações.

57
58
CAPÍTULO 8

Êxodo
Toda a narrativa bíblica do Grande Conflito pode ser dividida em 4 etapas: Criação, Queda, Redenção
e Restauração. Este capítulo detalhará ainda o plano da Redenção e está baseado de Êxodo 1 a Êxodo 12.
Geralmente cada livro da Bíblia tem seu título inspirado na primeira palavra do texto
bíblico, no tema principal ou no nome do autor. Gênesis, por exemplo, significa “começos”,
pois a primeira palavra de Gn 1:1 é bereshit (“começos” ou “princípio” em heb.). Entramos agora
no livro de Êxodo – a palavra êxodo vem do gr. ex (fora) e hodos (caminho). Significa literalmente
“saída”.
Relembrando: Deus chamou Abraão para que este fosse o pai de uma grande nação. Ele
foi pai de Isaque, que gerou Jacó, que gerou 12 filhos. Estes constitu-
íram as 12 tribos de Israel. Deus queria que este povo herdasse a A missão de Deus para
terra de Canaã por ela ser o centro da terra. A missão de Deus salvar todas as nações
para salvar todas as nações estava sobre aquele povo escolhido. estava sobre aquele
Eles foram para o Egito e ficaram lá até que se tornassem uma grande povo escolhido.
nação. Deus estava transformando escravos em herdeiros.
Perguntas que podem surgir ao ler os primeiros capítulos de Êxodo: Quem foi Moisés?
Quem apareceu para ele na sarça ardente? O que ele fez no deserto por 40 anos? Como foram
as 10 pragas? Como foi a saída ou êxodo do povo? Como surgiu a Páscoa?

Período dos faraós


A arqueologia se baseia nos achados para determinar quando ocorreu o êxodo e qual faraó
estava no trono quando tudo aconteceu. E após anos de estudos, entende-se que:
• Faraó que mandou matar as crianças hebreias: Amenhotep I (1532-1511)
• Filha de Faraó que adotou Moisés: Hatshepsut em 1526
• Faraó na época da fuga de Moisés: Tutmosis II e Hatshepsut (1498-1485)
• Faraó do êxodo: Tutmosis III: 1485-1431
Todos estes pertenciam à 18ª dinastia dos faraós que tinham o sufixo moses junto com o
nome de uma divindade egípcia.

Moisés
Nascido no Egito numa família de escravos hebreus, escapa à morte graças à Hatshepsut.
Êx 2:3 - Ele foi colocado num cesto. A palavra “cesto” em heb. é tebah. Esta palavra

59
aparece somente em duas ocasiões: para se referir à arca de Noé e o cesto de Moisés. Os dois
objetos foram usados para libertar e salvar pessoas.97
Ela dá a ele o nome de Moisés. Como mencionado no último capítulo, o sufixo moses era
costumeiramente usado no novo império egípcio acompanhado de nomes teóforos98, como
Ramsés (gerado por Rá), Ahmoses (nascido do deus Ah - Lua), Pitamosi, etc . No nome Moisés,
a parte teófora que devia designar um deus egípcio foi eliminada (possivelmente foi chamado
de Hapi-moses – em homenagem ao deus do rio Nilo), esvaziando, portanto, o nome de todo
o sentido pagão.99 Seu nome é mencionado 706 vezes de Êx a Js.
Moisés passou a juventude no palácio real, recusou seguir sua carreira brilhante (Hb 11:23-
27) e uniu-se à causa do seu povo oprimido.
Após um homicídio para defender seus irmãos, refugia-se em Midiã onde é acolhido pela
família de Reuel (Jetro). Casa-se com Zípora e se torna pastor de ovelhas.
Enquanto apascentava o rebanho do sogro, recebe uma visão da sarça ardente onde o
Anjo do Senhor lhe confia a missão quase impossível de libertar Seu povo do Egito e de con-
duzir à terra de Canaã.

Nome de Deus
Êx 3 - Deus aparece para ele no meio da sarça e o chama para libertar o povo do Egito.
Moisés pergunta a Deus qual nome ele deveria falar quando o povo perguntasse: “Qual é o seu
nome?” Êx 6:3 mostra que Israel até então só conhecia a Deus por El-Shaddai, Deus-Todo-
Poderoso.100 Eles ainda não conheciam o nome verdadeiro de Deus.
A pergunta do povo não era para testar o conhecimento de Moisés sobre o nome de
Deus. Perguntar “Com qual novo título Deus apareceu para você?” era o mesmo que perguntar
“Que nova revelação você recebeu de Deus?”. Normalmente, nos dias dos patriarcas, toda nova
revelação por parte de Deus era resumida em um título para Ele.101
Êx 3:14 - Deus diz que seu nome era “Eu sou o que sou”, em heb. ’ehyeh ’ǎšer ’ehyeh,
possivelmente a forma alongada do nome YHWH que significa apenas “Eu sou”. É um nome
que está diretamente relacionado com o verbo “ser” no presente. Quem o possui é eterno e
existe por si mesmo.102 William LaSor traduz como “Eu sou aquele que se faz presente”103 – de
fato e verdadeiramente presente, pronto para ajudar e agir.

Vida de Moisés
Sua vida se divide em 3 partes:

97 Francis Brown, Samuel Rolles Driver, e Charles Augustus Briggs, Enhanced Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon (Oxford: Clarendon Press, 1977),

1061.
98 Um nome teóforo ou teofórico (do grego antigo ϑεοϕόρος, composto de ϑεο- "deus" e -ϕόρος "portador") na onomástica é todo nome que contém

elementos alusivos a Deus ou a deidades.


99 Badenas, Roberto. Para Além da Lei. Publicadora Servir / MaxiShield International. Edição do Kindle, p. 76.

100 R. Alan Cole, Exodus: an introduction and commentary, vol. 2, Tyndale Old Testament Commentaries (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1973), 75.

101 R. Alan Cole, Exodus: an introduction and commentary, vol. 2, Tyndale Old Testament Commentaries (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1973), 76.

102 Comentário Bíblico Adventista, v. 1 p. 543.

103 LaSor, William S. Old Testament Survey, p. 136.

60
• 40 anos no Egito
• 40 anos no deserto de Midiã - “Eterno inquieto, [Moisés] acalma-se unicamente quando
se isola no deserto, a sós com Deus.”104
• 40 anos no êxodo

Profeta
Ele foi considerado o “maior de todos os profetas de Israel” Dt 34:10. Não precisava de
sonhos e visões, pois falava diretamente com Deus - Dt 34:10 e Êx 33:11.

Libertação
Moisés retorna para o Egito e inicia uma batalha espiritual para libertar o povo. Na época
o Faraó era Tutmoses III, irmão de Moisés e herdeiro do trono.
Deus novamente lhes dá a promessa: Êx 6:1-8. Moisés e Arão falam com faraó para que
liberte o povo. Faraó resiste e aumenta a carga sobre os filhos de Israel. Deus queria livrar Israel
e fazer um julgamento (7:4) sobre os egípcios. Mais tarde eles reconheceriam que haviam pecado
e que Deus era justo (Êx 9:27) ao enviar as 10 pragas. Cada praga era um desafio a um ou mais
deuses dos egípcios, para que eles entendessem que só há um Deus no céu e na terra:

Praga Referência Divindade egípcia afetada


1. Sangue 7:14-25 Khnum: guardião do Nilo; Hapi: espírito do Nilo; Osíris: o Nilo é seu
sangue
2. Rãs 8:1-15 Heket: deusa com cabeça de rã, deusa da ressurreição, esposa do deu
criador Khnum, parteira divina
3. Piolhos 8:16-19 Khepri: deus da ressurreição cujo símbolo era um escaravelho alado
(besouro grande)
4. Moscas/ inse- 8:20-32 Khepri: deus da ressurreição cujo símbolo era um escaravelho alado
tos
5. Peste nos ani- 9:1-7 Hathor: deusa-mãe (vaca); Ápis: touro do deus Ptah, símbolo de ferti-
mais lidade; Mnévis, touro santo de Heliópolis
6. Úlceras 9:8-12 Sekhmet: deusa com cabeça de leoa, deusa das pragas, mas também
com poder de curar
7. Chuva de pe- 9:13-35 Nut: deusa do céu; Ísis, deusa da vida; Seth, protetor divino das co-
dras lheitas
8. Gafanhotos 10:1-20 Senehem: deus protetor contra as pragas
9. Trevas 10:21-23 Amon, Amon-Rá, Rá, Aton, Hórus: diferentes divindades solares e ce-
lestiais
10. Morte do pri- 11:4-7; 12:29-30 Osíris: deus da vida; o próprio faraó
mogênito

As águas do Rio Nilo tingem-se de sangue: Humilhação ao deus-Nilo, Hápi. A morte

104 Badenas, Roberto. Para Além da Lei. Publicadora Servir / MaxiShield International. Edição do Kindle, p. 113.

61
dos peixes foi também um golpe contra a religião egípcia, pois certas espécies de peixes eram
veneradas (Êx 7:19-21).Uma possível explicação científica: Ou foi o barro vermelho lavado
vindo da Etiópia (que causa o fenômeno anual ainda hoje chamado de "Nilo Vermelho" pelos
árabes) ou uma multiplicação de plânctons vermelhos.105
Rãs cobrem a terra: Humilhação a deusa-rã, Heket. A rã é o símbolo da fertilidade e da
ressurreição no conceito egípcio (Êx 8:5-14).
Piolhos atormentam homens e animais: A palavra kinnam sign. “pernilongos” ou
“mosquitos”. Os mosquitos egípcios de tão pequenos, eram quase invisíveis, mas seu ferrão
causava uma irritação dolorosa na pele.Este deus era referente à invenção da magia ou das artes
secretas. A praga resultou em os sacerdotes-magos reconhecerem a derrota, quando se viram
incapazes de transformar o pó em borrachudos, por meio da magia (Êx 8:16-19).
Moscas atacam homens e animais: Humilhação ao deus Khepri e Ptah, criador do
universo, e Tot, senhor da magia (Êx 8:23,24).
A morte dos animais: Humilhação à vários deuses, tais como: Seráfis (Ápis) – deus sa-
grado de Mênfis do gado, a deusa-vaca, Hator e a deusa-céu, Nut, imaginada como uma vaca,
com as estrelas afixadas na sua barriga (Êx. 9:4 e 7).
Pústulas cobrem homens e animais: Humilhação também a deusa-rainha do céu do
Egito, Neith (Êx. 9:11).
Chuva de granizo destrói plantações: Humilhação aos deuses que controlam os ele-
mentos naturais; tais como: deus da água, Íris e deus de fogo, Osiris (Êx. 9:13-35).
Nuvem de gafanhotos ataca plantações: Humilhação aos deuses responsáveis pela
abundante colheita. O deus do ar, Xu e deus-inseto, Sebeque (Êx 10:12-15).
Escuridão encobre o Sol por três dias: Humilhação ao deus principal do Egito, Rá, o
deus-sol que foi escondido por trevas (Êx. 10:23).
Os primogênitos de homens e animais morrem: Resultou na maior humilhação para
os deuses egípcios, os governantes do Egito - que chamavam a si mesmos de deuses, filhos de
Rá ou Amom-Rá (Êx 12:12).
Em todas as pragas Deus deu tempo para que os egípcios se arrependessem. Na nona
praga Deus deu um tempo de 3 dias para que os egípcios pudessem ficar quietos, em silêncio e
se arrependessem para libertar o povo. Mas isso não aconteceu.

Páscoa
Êx 12:1-5 - Deus dá instruções para a saída do Egito: Muitas pessoas têm dificuldade para
diferenciar os animais mencionados nesse texto. Aqui estão algumas diferenças entre eles: Cabra
é a fêmea do bode e o filhote deles é chamado cabrito. O carneiro é o macho da ovelha e juntos
geram os cordeiros.
v. 11- a preparação
v. 21 a 23 - na décima praga, Deus dá ordens para que o anjo passasse sobre as casas de
todos e mate os primogênitos das casas que não tinham os umbrais manchados com o sangue
dos animais. Páscoa, em heb. “pesach" significa “passar sobre” ou “passar além”. O anjo do

105 R. Alan Cole, Exodus: an introduction and commentary, vol. 2, Tyndale Old Testament Commentaries (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1973), 96.

62
Senhor passaria sobre as casas dos hebreus e não mataria os primogênitos. Pesach ainda hoje é
uma festividade judaica que tem início no 15º dia do mês hebraico de “Nisan” (abril).
Deus então dá ordens para que o povo sacrificasse um cordeiro, se preparasse para a saída
que aconteceria no dia seguinte.
“A experiência do
Na saída (êxodo) do povo, os egípcios desejavam vê-los longe
êxodo é para o AT e
dali e entregam tudo para os israelitas. Assim eles “saqueiam” o Egito.
para o judaísmo o que
“A experiência do êxodo é para o AT e para o judaísmo o que a
a cruz é para o NT e
cruz é para o NT e para a fé cristã.” O povo de Israel se “originou” no
êxodo. A Igreja se originou na cruz. para a fé cristã.”

RESUMO
Deus liberta Seu povo escolhido da escravidão do Egito a fim de leva-los à Terra prometida. O êxodo
marcou o início de Israel como povo. Agora teriam uma identidade, organização e um local para cumprir a
missão que Deus havia dado a eles.

63
64
CAPÍTULO 9

Sinai
Toda a narrativa bíblica do Grande Conflito pode ser dividida em 4 etapas: Criação, Queda, Redenção
e Restauração. Este capítulo detalhará ainda o plano da Redenção e está baseado de Êxodo 1 a Êxodo 3.
O povo de Israel foi estabelecido por Deus para ser uma nação escolhida a fim de que
todas as outras nações pudessem ser salvas. Os patriarcas foram para o Egito e depois de 430
anos saíram. O livro de Êxodo abrange aproximadamente 85 anos de história, desde o nasci-
mento de Moisés até a dedicação do tabernáculo no monte Sinai. Compreende os altos e baixos
do povo de Deus, desde quando eram escravos no Egito até se rebelarem no deserto.

Estudar a história do povo de Israel é entender seu papel no plano redentivo de Deus.
Eles estavam criando uma identidade e agora ao saírem do Egito, estavam indo para a terra
prometida. Ao ler esse relato surgem algumas perguntas: Como foi a
saída do povo? Onde era o Mar vermelho? Como a Bíblia foi escrita? Estudar a história do
Por que o Sinai? Quantas leis foram dadas no Sinai? O que é a lei de povo de Israel é enten-
Talião? O que tem de especial no decálogo? Por que os 10 mandamen- der seu papel no plano
tos são proibições? O que cada mandamento representa? redentivo de Deus.

65
Êxodo
Êx 12:37-Finalmente eles saem do Egito e começam a jornada em direção à Canaã. Esse
evento deu nome ao livro: êxodo, em grego: ex (fora) hodos (caminho), ou saída.
O êxodo marca o início do povo de Israel como povo escolhido e abençoado. A partir de
agora eles são oficialmente um povo (“meu povo” cf. 7:14).
Em toda a Bíblia Cristo está presente, pois todos os temas e personagens apontam para
Ele. Há uma comparação entre Cristo e o povo de Israel:

Moisés – libertador Cristo – libertador


Foram para o Egito Foi para o Egito
Passaram pelo meio do Mar Passou pelas águas (batismo)
Vaguearam 40 anos pelo deserto Vagueou 40 dias pelo deserto
Deus revelou o caráter dEle no monte Sinai Revelou o caráter de Deus no monte (Mt 2-7)
Sacrificaram o cordeiro pascal Foi o cordeiro pascal sacrificado
Construíram o tabernáculo para Deus habitar com eles Habitou entre nós (Jo 1:14)

Misto de gente
É importante lembrar em 12:38 que muitas pessoas que não eram do povo de Israel foram
junto no êxodo. Possivelmente egípcios e outros escravos que foram maltratados por faraó e
que viram esta fuga como uma oportunidade de escape.
Estas pessoas desempenhariam um papel crucial, pois eles desejariam algum tempo depois
voltar ao Egito, sentiriam falta das carnes do Egito, adorariam os deuses egípcios e levariam o
povo de Israel a se corromper no episódio do bezerro de ouro.

Mar Vermelho
Eles se deparam com o mar vermelho diante deles. A localização não é precisa, mas há
grandes evidências de que eles atravessaram o canal de Suez, ou região dos grandes lagos.
Um breve panorama histórico de Israel do êxodo à terra prometida:

66
1. Ramessés - Israel foi tirado do Egito (Êx. 12; Núm. 33:5).106
2. Sucote - Depois que os Hebreus partiram deste primeiro local de acampamento, o Senhor
os guiou por meio de uma nuvem durante o dia e de uma coluna de fogo à noite (Êx.
13:20–22).
3. Pi-Hairote - Israel atravessou o Mar Vermelho e os egípcios morrem afogados (inclusive o
Faraó Tutmosis III) (Êx. 14; Núm. 33:8).
4. Mara - O Senhor curou as águas de Mara (Êx. 15:23–26).
5. Elim - Israel acampou junto a 12 fontes de água (Êx. 15:27).
6. Deserto de Sim - O Senhor enviou maná e codornizes para alimentar Israel (Êx. 16). Deu
ordens expressas de respeitarem o sábado.
7. Refidim - Israel lutou contra Amaleque (Êx. 17:8–16).
8. Monte Sinai (Monte Horebe ou Jebel Musa) O Senhor revelou os Dez Mandamentos (Êx. 19–20).
9. Deserto do Sinai - Israel construiu o tabernáculo conforme o modelo de Deus (Êx. 25–30).
10. Acampamentos do Deserto - Setenta anciãos foram chamados para ajudar Moisés a governar
o povo (Núm. 11:16–17).
11. Eziom-Geber - Israel atravessou em paz as terras de Esaú e de Amom (Deut. 2).
12. Cades-Barneia - Moisés enviou espias à terra prometida; Israel rebelou-se e não pôde entrar
na terra; Cades serviu como o principal acampamento de Israel por muitos anos (Núm.
13:1–3, 17–33; 14; 32:8; Deut. 2:14).
13. Deserto- Oriental Israel evitou entrar em conflito com Edom e Moabe (Núm. 20:14–21; 22–
24).
14. Ribeiro de Arnom - Israel destruiu os amorreus que lutaram contra eles (Deut. 2:24–37).
15. Monte Nebo - Moisés viu a terra prometida (Deut. 34:1–4). Moisés proferiu seus três últimos
discursos (Deut. 1–32) e morrei ali.
16. Planícies de Moabe - O Senhor disse a Israel que dividisse a terra e desapossasse os habi-
tantes (Núm. 33:50–56).
17. Rio Jordão - Israel atravessou o rio Jordão em terra seca. Próximo a Gilgal, algumas pedras
do leito do rio Jordão foram colocadas como monumento alusivo à divisão das águas do
rio (Js. 3:1–5:1).
18. Jericó - Os filhos de Israel tomaram e destruíram a cidade (Js. 6).

Bíblia
No cap. 17 o rei Amaleque veio pelejar contra os hebreus que estavam desorganizados e
não tinham um exército preparado. Após a batalha, Deus pede para Moisés escrever o relato
desta batalha. É a primeira vez que vemos Moisés escrevendo “num livro” (v. 14).
A partir de então, temos um processo de escrita da Bíblia, sendo Moisés o primeiro
escritor. Alguns elementos são importantes para entendermos como a Bíblia foi escrita e como
chegou até nós. As seguintes palavras-chave nos ajudam a compreender melhor:
“Deus inspirou Moisés que usou a língua que ele falava para expressar com suas palavras
a vontade de Deus a seu povo e perpetuar Seus ensinos.” Vamos analisar esta frase:
Deus – foi Ele quem revelou todas as coisas a Moisés, pois falavam face a face.

106 https://www.lds.org/scriptures/bible-maps/map-2?lang=por

67
Inspirou – o profeta recebia um sonho, visão, voz audível, ou pensamento de Deus, o
Revelador. A expressão que a Bíblia usa para descrever este processo significa literalmente “so-
prada por Deus”. Deus inspirou o pensamento dos profetas. Outros escritores usaram o relato
de outras pessoas ou mesmo pesquisa para escrever o texto sagrado.
Moisés – foi o primeiro profeta a escrever a Bíblia. Possivelmente seu primeiro escrito
tenha sido Gênesis quando estava no deserto cuidando de ovelhas. A partir de Êx 17:14 é que
começou a escrever Êxodo. O Pentateuco foi escrito por um hebreu familiarizado com o Egito
e a Arábia, seus costumes e cultura. (At 7:22; Hb 11:23-29).107
“Enquanto os anos se passavam, e vagueava ele com seus rebanhos nos lugares solitários,
ponderando na situação opressa de seu povo, reconsiderava o trato de Deus para com seus pais
e as promessas que eram a herança da nação escolhida, e suas orações por Israel ascendiam de
dia e de noite. Anjos celestiais derramavam sua luz em redor dele. Ali, sob a inspiração do
Espírito Santo, escreveu o livro do Gênesis. Os longos anos passados nas solidões do deserto
foram ricos de bênçãos, não somente para Moisés e seu povo, mas para o mundo em todos os
séculos subsequentes.” PP, 251

CRENÇA DETECTADA 1. As Escrituras Sagradas - As Escrituras Sagradas, o Antigo e o Novo Testamento, são a Palavra de Deus
escrita, dada por inspiração divina por intermédio de santos homens de Deus que falaram e escreveram ao serem movidos pelo Espírito
Santo. (2 Pedro 1:20 e 21; 2 Timóteo 3:16 e 17; Salmos 119:105; Provérbios 30:5 e 6; Isaías 8:20; João 10:35; 17:17; 1 Tessaloni-
censes 2:13; Hebreus 4:12).

Língua que ele falava - Hebraico – o hebraico é um ramo da antiga língua semita falada
pelos nativos de Canaã. Abraão a aprendeu quando chegou ao lugar, vindo de Ur dos Caldeus.
Também foi chamada de língua de Canaã (Is 19:18) e “judaico” (2Re 18:26, 28; Ne 13:24).108
Escrito da direita para a esquerda, o hebraico possui 22 letras alfabéticas, todas consoantes. O
Salmo 119 é dividido em 22 partes, cada parte começa com uma letra do hebraico. É uma língua
simples e pobre. Todo o AT foi escrito com ela, com exceção de poucas partes que foram
escritas em aramaico.
Com suas palavras - Inerrância – muitos dizem que a Bíblia por ser inspirada por Deus
não contém erros, pois foi ditada pelo Senhor. Existem falhas sim, mas de comunicação, pois
as palavras não foram inspiradas, mas os homens sim. Existe perfeição de conteúdo, mas pode
haver imperfeição no modo de comunicá-lo.109
Sua vontade para Seu povo – Esta era a revelação de Deus. Moisés escreveu tudo o que
Deus o mostrou e falou. Ele chamou seu livro de o livro da aliança (Êx 24:7), o livro desta lei
(Dt 28:58,61); e este livro da lei (Dt 29:20-27; 30:10; 31:24-26). Isso inclui todo o Pentateuco
(cinco volumes), que foi considerado pelos judeus um livro só com cinco partes. Foi chamado
mais tarde de Torah, ou Lei.

107 DAKE, Finis Jennings; Bíblia de Estudo Dake. 1.ed. Belo Horizonte: Atos, 2010.

108 Emilson dos Reis. Introdução Geral à Bíblia, p. 77.

109 idem, p. 47.

68
Leis de Deus
Agora vamos estudar da chegada do povo ao pé do monte, vamos analisar todas as leis
dadas no Sinai, chegaremos à parte essencial delas que é o Decálogo e entraremos no coração
desta lei.
Torah
Leis gerais

Decálogo

Jornada de 45 dias
Êx 19:1 – no terceiro mês – isto é, no mês de sivã, que corresponde ao final de maio,
início de junho. Aproximadamente 45 dias depois de terem saído do Egito e celebrarem a Pás-
coa, chegaram ao pé do Sinai. Passaram mais um dia no monte, (19:3), um dia dando a resposta
a Moisés (19:7-8), três dias de preparação, totalizando 50 dias da Páscoa até a promulgação da
Lei. Portanto, a festa do Pentecostes, que aconteceu 50 dias depois da Páscoa, marcou a inau-
guração de Israel como igreja e nação110, assim como em At 2:1 justamente na festa de Pente-
costes Deus inaugura a igreja do NT.111
No monte eles receberiam as instruções quanto ao sacerdócio, sacrifícios, ofertas e taber-
náculo. Antes de deixar este lugar, eles teriam tudo para funcionar como uma nação, exceto a
terra (que estavam à caminho).112

Sinai
O monte Sinai era o lugar perfeito para que o povo recebesse de Deus as orientações. Era
um local ermo, onde o povo podia estar a sós com Deus, longe de tudo que desviasse seu
pensamento e atenção das coisas divinas. Passariam 11 meses ali. Teriam tempo para refletir
sobre sua responsabilidade para com o Senhor e a missão dada por Deus a eles.113
Precisamos de momentos de descanso como esse para que Deus revele Sua vontade,
dando instruções de como cumpri-la e nos impressionando com Sua majestade.

O que Deus deu no Sinai?


Tudo o que Deus revelou a Moisés está contido nos livros de Êx, Lv e Dt e foi chamado
de Torah. Tentar classificar estas leis não é fácil, pois não há consenso entre os teólogos. Mas

110 Comentário Bíblico Adventista, v. 1, p. 636 e PP, 303.

111 Robert Jamieson, A. R. Fausset, e David Brown, Commentary Critical and Explanatory on the Whole Bible, vol. 1 (Oak Harbor, WA: Logos Research Systems,

Inc., 1997), 61.


112 John D. Barry et al., Faithlife Study Bible (Bellingham, WA: Lexham Press, 2012, 2016), Êx 19.1–25.

113 Comentário Bíblico Adventista, v.1, p. 636.

69
as classificações114abaixo nos ajudam a entender o que o Senhor revelou a Moisés:

TRADIÇÃO JUDAICA
A classificação mais conhecida é a que divide tudo o que foi dado no Sinai em duas cate-
gorias: proibições e ordens. A tradição judaica atribui a declaração seguinte ao Rabi Simlay:
“613 mandamentos foram revelados a Moisés no Sinai; 365 proibições, como o número de
dias do ano solar, e 248 ordens, como o número de partes do corpo.”

PAIS DA IGREJA
Já os Pais da Igreja dividiram todo o conteúdo do Pentateuco em três grupos:
1. Leis cerimoniais, relacionadas com o culto do santuário (sacrifícios, sacramentos, ritos
sagrados).
2. Leis morais, que incluem o Decálogo e as leis humanitárias dele resultantes.
3. Leis civis, caracterizadas por disposições próprias da comunidade teocrática de Israel,
nem sempre aplicáveis num quadro sociopolítico diferente.
A razão teológica desta divisão: a lei moral corresponde à expressão do carácter de Deus
e, por conseguinte, é eterna e invariável. As leis cerimoniais, referindo-se a um ritual antecipador
da obra da salvação, teriam um carácter provisório e estariam destinadas a cumprir-se no minis-
tério de Cristo.

DIVISÃO GERAL
O conteúdo de todas as leis pode ser dividido em 10 partes:
1. Decálogo (Êx 20:1-17 e Dt 5:6-21).
2. O “código da aliança” (Êx 20:22 a 23:19), é incontestavelmente um importante docu-
mento jurídico.
3. O “código deuteronômico” (Dt 12 a 26) constitui a seção legislativa mais vasta do
Pentateuco.
4. As normas sobre a construção e o funcionamento do santuário (Êx 25 a 29)
5. “As leis dos sacrifícios” (Lv 1 a 7) contém os preceitos relativos aos diversos sacrifícios
e ofertas.
6. “A lei de santidade” (Lv 17 a 25), refere-se especialmente aos rituais relativos ao sacer-
dócio e às medidas tendentes a manter a “santidade” de Israel.
7. As leis sobre as cerimônias e as festas (Nm 28 a 30).
8. “O Decálogo ritual” (Êx 34:10-28), assim chamado porque contém também dez pres-
crições sobre o modo de prestar culto a Deus e celebrar as Suas festas.
9. As disposições sobre saúde pública agrupam principalmente as prescrições relacionadas
com os critérios de puro e de impuro (Lv 11 a 16).
10. Finalmente, um conjunto de leis sobre a distribuição da terra (Nm 32 a 36).

114 Cf. Badenas, Roberto. Para Além da Lei (Locais do Kindle 532-541). Publicadora Servir / MaxiShield International. Edição do Kindle.

70
Resumindo, essas leis serviriam para Israel como povo e nação prestes a herdar a terra
prometida e também a todos os demais povos que se serviriam das “leis
universais”. Mais tarde os profetas
Mais tarde os profetas insistirão sobre o fato de que a Torah insistirão sobre o fato
pertence a todas as nações, até às ilhas mais distantes (Is 42:4). A luz
de que a Torah pertence
dos seus ensinos brilha para guiar toda a humanidade até à vida (Pv.
a todas as nações.
6:28), como a revelação viva de um Deus ético, imparcial e universal
(Rm 2: 9-16).

Princípios gerais das leis


Por que essas leis e o que tinha de especial nelas? Existem alguns princípios envolvidos
em todas as leis dadas pelo Senhor.

Vida emprestada
Os seres humanos tendem a crer que tudo o que possuem lhes pertence por direito e que
podem impor a outros a ilusão de serem os proprietários de pessoas e bens. Mas a Torah afirma
que a vida, os bens, o mundo, tudo é emprestado. Tudo recebemos e tudo devemos deixar.

Relacionamento
A lei convida o homem não somente a respeitar o “Outro” duma maneira geral, mas ainda
a procurar a comunhão com todos “os outros”, para assim participar no grande projeto divino
de santidade. O seu objetivo final é a harmonia entre todos os seres.
A legislação do Antigo Testamento ignora os advogados. Quando havia algum litígio,
acusadores e acusados apresentam-se diante do juiz na porta da cidade, trazendo, eles mesmos,
as suas testemunhas e as suas provas, acompanhados pela família e pelos amigos. Os deveres
sagrados da defesa recaem totalmente sobre a consciência e a competência dos juízes. A eles
pertence o exame dos testemunhos, tomando em consideração os fatos e as provas. Curiosa-
mente, a raiz do verbo “julgar”, shpt em hebraico, significa também “governar” e “restabelecer
o direito pisado”. No seu sentido primitivo, o direito não consiste tanto em decidir quem tem
razão e quem não tem, num litígio, mas em ajudar a restabelecer a harmonia quebrada por
uma ação injusta.

Respeito pela vida


A Torah prescreve numerosas sanções, mas promete recompensas somente pela obser-
vação de dois mandamentos e ambos com a mesma promessa: 1. “Honra o teu pai e a tua mãe
para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá” (Êx 20:12). 2.
“Quando encontrares algum ninho de ave no caminho, em alguma árvore, ou no chão, com
passarinhos, ou ovos, e a mãe posta sobre os passarinhos, ou sobre os ovos, não tomarás a mãe
com os filhos. Deixarás ir livremente a mãe, e os filhos tomarás para ti; para que bem te vá, e
para que prolongues os dias” (Dt 22:6, 7). Uma antiga explicação diz que estes dois mandamen-
tos são: um o mais fácil a observar –deixar a mãe voar e tomar os filhos –e o outro o mais difícil
–honrar os nossos pais. Os dois têm como objeto o respeito para com os responsáveis da trans-
missão da vida, humana e animal. Como em ambos os casos se trata de prolongar a vida dos
pais, a recompensa justa consiste em prolongar a sua própria vida.

71
Princípios humanitários
Contra a xenofobia - A lei não exige somente a tolerância, mas repete 24 vezes a neces-
sidade de amar, respeitar e proteger o estrangeiro, o que na prática equivalia a dizer o inimigo.
A razão é sempre a mesma: “E quando o estrangeiro peregrinar contigo na vossa terra, não o
oprimireis; ... amá-lo-ás como a ti mesmo, pois estrangeiros fostes na terra do Egito: eu sou o
Senhor, vosso Deus” (Lv 19: 33, 34). Ao elevar o escravo e o pobre à categoria de pessoas, a lei [...] institui
para todos o direito ao trabalho e ao repouso.”
Contra a escravatura - “Quando o teu irmão hebreu ou a tua irmã hebreia se vender a
ti, seis anos te servirá, mas no sétimo ano o despedirás forro de ti. E quando o despedires de ti,
forro não o despedirás vazio” (Dt 15: 12-15).

Autoridade
A Torah fala sobre igualdade, mas também sobre hierarquia:
• O respeito aos pais (Êx 20: 12). Amaldiçoar os seus próprios pais (Lv 20: 9) e, ainda mais,
feri-los (Êx. 21: 15) é considerada uma falta muito grave.
• Todos devem levantar-se diante das pessoas idosas (Lv 19: 32).
• E se alguém é surdo ou cego, ninguém tem o direito de amaldiçoar o primeiro nem de
enganar o segundo (Lv 19: 14).
• Tanto o juiz como o príncipe devem ser respeitados (Êx 22: 28), por serem ambos res-
ponsáveis da autoridade diante do povo e de Deus.
• A lei limita os abusos de poder do rei. É-lhe proibido ter muitos cavalos, muitas mulheres
e não deve acumular prata nem ouro (Dt 17: 16, 17).115

Propriedade
A falta de respeito pela propriedade alheia é um indício da falta de respeito pelo outro, a
Torah introduz uma série de preceitos muito especiais neste sentido:
• obrigação de restituir os objetos achados (Dt 22: 1; Êx 23: 4),
• obrigação de pagar diariamente aos empregados (Lv 19: 13),
• interdição de mudar os marcos nas propriedades (Dt 19: 14),
• de enganar em pesos e medidas ou de outro qualquer modo (Lv 19: 36; 25: 14).116

Lei de Talião
“Olho por olho, dente por dente.” À primeira vista essa lei parece ser um convite à
vingança e à retaliação, mas a própria lei diz: “Não te vingarás, nem guardarás ira contra os
filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19:18). Essa famosa que
todo o delito deve ser reparado proporcionalmente ao dano causado e que deveria ser tratado
no nível jurídico, exigindo a intervenção de um juiz.
Em resumo, vemos que o conceito de justiça na Torah está em relação direta com o

115 A história de Salomão ilustra, perfeitamente, o desprezo que ele tinha por estas leis: ele acumulará cavalos, riquezas e mulheres, e acabará, finalmente,

por oprimir o povo com taxas e impostos (I Reis 10: 14-19; 11: 1-13; 5: 13; 9: 20-28; 12: 4, 9, 11).
116 Badenas, Roberto. Para Além da Lei (Locais do Kindle 812-817). Publicadora Servir / MaxiShield International. Edição do Kindle.

72
respeito pela pessoa, a proteção da vida e a recusa da violência.117

Validade118
A lei mostrava que Deus Se deu a Si mesmo a Israel para ser o seu Deus e elegeu esse
povo para ser Sua propriedade exclusiva (Êx 19:4-6). A lei era um monumento moral, ético,
social e cultural. Mas não um monumento a ser postado em algum lugar preeminente; era um
monumento vivo. Embora escrita numa pedra, Deus desejou registrá-la no coração de Seu
povo (SI 37:30, 31; Jr 31:33), para que pudesse governar toda a vida de
A lei não era somente
cada indivíduo, de toda a nação e até de toda a humanidade.
a revelação da vontade
A lei não era somente a revelação da vontade e da graça de Deus,
mas a revelação de Sua santidade. Ele podia convidar Seu povo a uma e da graça de Deus,
vida de santidade porque Ele mesmo é santo (Lv 19:2). A lei representa mas a revelação de
o caráter de Deus, Sua justiça e perfeição, Sua bondade e verdade (SI Sua santidade.
19:7,8; 119:142,172). Paulo a chamou de “espiritual” (Rm 7:14) e afir-
mou: "Por conseguinte, a lei é santa; e o mandamento, santo, e justo, e bom" (v. 12). Qualquer
violação da lei é separação de Deus (Is 59:2), de Israel (Êx 12:15, 19; Lv 7:20, 21, 25, 27) e da
própria vida (Êx 28:43; Dt18:20). Significa rebelião, apostasia e morte.
O caminho da vida, apontado por Deus para Seus filhos e filhas, tanto nos tempos antigos
como agora, é o mesmo: uma vida moral autêntica. A leitura de todo o conteúdo da revelação
de Deus — o AT e o NT — apresenta uma visão clara da forma pela qual Deus pretendia que
a “nação santa” e a igreja cristã vivessem: uma vida definida por palavras como justiça, equidade,
santificação, obediência, santidade e fé, uma vida que siga princípios divinos detalhados na lei
moral. Seu povo devia viver uma vida de caráter moral semelhante a Deus.

RESUMO
As diversas leis dadas por Deus no monte Sinai serviriam não apenas para o povo de Israel, mas também
para todos os moradores da Terra. O povo precisava apenas seguir estritamente a Lei e seus princípios humani-
tários e de equidade e representar a Deus como embaixadores na Terra a fim de atrair o olhar curioso dos demais
povos.

117 Badenas, Roberto. Para Além da Lei (Locais do Kindle 864-865). Publicadora Servir / MaxiShield International. Edição do Kindle.

118 Tratado de Teologia: Adventista do Sétimo Dia, p. 512-3

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74
CAPÍTULO 10

Mandamentos e Santuário
Toda a narrativa bíblica do Grande Conflito pode ser dividida em 4 etapas: Criação, Queda, Redenção
e Restauração. Este capítulo detalhará ainda o plano da Redenção e está baseado em Êxodo e Levítico.
Agora que entendemos como as leis se dividem e quais princípios estão contidos nelas,
vamos nos ater a duas importantes leis reveladas no Sinai. A primeira é o Decálogo, o coração
da lei e em seguida as leis referentes ao Santuário.

Decálogo
Ele é diferente das demais leis por 4 razões:
• Foi diretamente dado por Deus (Êx 20:1, 18, 19; Dt 4:2; 5:4, 22).
• Moisés escreveu as outras leis num livro (rolo), enquanto que o Decálogo foi gravado
pelo próprio Deus sobre duas tábuas de pedra (Êx 31:18; 32:16; 34:1-28; Dt 4:13; 9:10,
etc.).
• Estava guardado dentro da arca da aliança, depositada no lugar mais sagrado do santuário,
enquanto que o livro da Lei estava guardado ao lado, fora da arca (Dt 10:1-5; 31:24-26).
• O Decálogo aparece sempre como um prefácio das outras leis, tanto em Êxodo (Êx 20:22
a 23:19) como no Deuteronômio (Dt 5:6-21; 10:4; 4:13), prova que o Decálogo funciona,
em certo sentido, como a declaração de princípios da Torah. Grandes comentadores ju-
deus classificaram-no como o resumo e a essência de toda a Lei.

CRENÇA DETECTADA 19. A Lei de Deus - Os grandes princípios da Lei de Deus são incorporados nos Dez Mandamentos e exem-
plificados na vida de Cristo; expressam o amor, a vontade e os propósitos de Deus acerca da conduta e das relações humanas, e são
obrigatórios a todas as pessoas, em todas as épocas. Esses preceitos constituem a base do concerto de Deus com Seu povo e a norma
do julgamento de Deus. (Êxodo 20:1-17; Mateus 5:17; Deuteronômio 28:1-14; Salmos 19:7-13; João 14:15; Romanos 8:1-4; 1 João
5:3; Mateus 22:36-40; Efésios 2:8).

Por que somente “nãos”?


É inegável que a proibição deixa uma margem de ação maior do que a ordem. Uma ordem
dá-nos somente duas opções: segui-la ou transgredi-la. Em contrapartida, uma proibição fecha
uma porta, mas deixa abertas todas as outras. Uma interdição supõe mil permissões. Não restam
dúvidas, portanto, de que uma lei feita, exclusivamente, de ordens seria muito mais restritiva.
Uma lei feita de nãos, limita somente aquela opção. Como no caso do Éden, só uma
árvore era proibida, todas as demais eram permitidas.
Se a ordem tivesse sido: “coma somente desta árvore”, a limitação seria revoltante. Mas

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como foi uma proibição, ela limitava apenas aquela árvore, mas havia todas as outras para que
eles comessem.
Satanás sabia disso e pergunta à mulher: Deus proibiu vocês de comerem de todas as
árvores do jardim? O objetivo da serpente era transformar em escravatura a percepção da liber-
dade de que o homem desfruta, a fim de que se sinta oprimido pelas leis divinas. As leis, para
proteger, devem necessariamente limitar. Nesta perspectiva de proteção, as proibições da lei
divina são praticamente sinônimas de proteção da liberdade, para nós e para os outros. Com
efeito, podemos continuar a ser livres uns e outros, unicamente,
na medida em que respeitamos as nossas liberdades respectivas. As proibições do Decálogo limi-
As proibições do Decálogo limitam o espaço no qual po- tam o espaço no qual podemos
demos exercer a nossa liberdade, respeitando a do outro. exercer a nossa liberdade, res-
peitando a do outro.
Tempo verbal
É importante observar que o Decálogo não é redigido no imperativo (“não furtes”), mas
no futuro. “Não tomarás o nome do Senhor em vão”; “não matarás”; “não furtarás”, etc..
Com essa forma verbal, o texto não se limita a advertir: “Não sigas este caminho”, mas
subentende também: “Quando tiveres a possibilidade de seguir este caminho, lembra-te, desejo
que não o faças e espero que não o farás.” O incompleto, inacabado, tal como o nosso futuro,
implica a faculdade de escolher.

Ordem não aleatória


A ordem dos mandamentos está longe de ser aleatória. O bloco que se refere às relações
com Deus termina com o quarto mandamento, que une num mesmo preceito a reverência de-
vida ao Criador e o respeito devido a si mesmo. Os seis mandamentos que se referem às relações
humanas começam com o dever de honrar os pais, já que, na qualidade de procriadores, servem
de ligação entre o Criador e as suas criaturas.119 A ordem é claramente decrescente:
1. Homicídio (delito contra a vida): agressão física.
2. Adultério (delito contra a família): agressão moral.
3. Furto (delito contra a propriedade): agressão econômica.
4. Falso testemunho (delito contra a reputação): agressão verbal.
5. Cobiça (delito ao nível do desejo): agressão mental.
Os mandamentos que se referem a Deus, tal como os que dizem respeito ao próximo,
dirigem-se explicitamente à totalidade da atividade humana, a saber, a ação, a palavra e o pen-
samento.

10 mandamentos
Os mandamentos são uma expressão do amor de Deus por nós. É como se Deus dissesse:
“Agora tu és o Meu povo. Já não estás debaixo da soberania caprichosa dos faraós que se fazem
passar por deuses, mas sob a Minha. Eis o que Eu espero de ti: (aqui segue-se a apresentação
das cláusulas). Gostaria que conseguisses libertar-te não só dos faraós, mas também da sua

119 Filo de Alexandria, De Decalogo, 107.

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ideologia. Não só dos deuses que, até agora, te têm dominado, mas também das crendices que
tens acerca de quem te comanda e te domina (‘Não terás outros deuses diante de Mim’). Gostaria
de te libertar não só das realidades que te oprimem, mas também das imagens que fazes das
forças que te ultrapassam. (‘Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do
que há em cima nos céus’), porque as tuas imagens podem ser falsas. Comigo, em vez de fazeres
deuses à tua imagem e à tua semelhança, como tens tendência a fazer, transformar-te-ás, pouco
a pouco, à Minha imagem e semelhança.”120
Neste sentido, o Decálogo é o texto de uma aliança fundada sobre a graça absoluta de um
Deus que deseja transformar escravos em herdeiros (Gl 4:1-7).
Eles começam com o v. 1 do cap. 20. É um lembrete cons- Primeiro Deus nos
tante de que o Deus que primeiro os salvou, agora estabelece limites salva para depois exi-
ao relacionamento. Primeiro Deus nos salva para depois exigir
gir nossa obediência.
nossa obediência.

Princípios
Cada um dos mandamentos é um reflexo do caráter de Deus e contém princípios profun-
dos por trás de cada um.
1. Não terás outros deuses - Lealdade
2. Não farás imagem de escultura– Adoração
O ser humano sempre teve problema em adorar outros deuses e homens. A Torah foi
um antídoto contra toda espécie de idolatria e culto às imagens.
3. Não tomarás o nome de Deus em vão– Reverência
Aborreço as gerações - “É inevitável que os filhos sofram as consequências das más ações
dos pais, mas não são castigados pela culpa deles, a não ser que participem de seus pecados. Dá-
se, entretanto, em geral o caso de os filhos andarem nas pegadas de seus pais. Por herança e
exemplo os filhos se tornam participantes do pecado do pai. Más tendências, apetites perverti-
dos e moral vil, assim como enfermidades físicas e degeneração, são transmitidos como um
legado de pai a filho, até a terceira e quarta geração. Esta terrível verdade deveria ter uma força
solene para restringir os homens de seguirem uma conduta de pecado.” PP, 266.
4. Lembra-te do dia de sábado - Santidade
O Sábado representa a santidade de Deus.
“O sábado não é apresentado como uma nova instituição, mas como havendo sido esta-
belecido na criação. Deve ser lembrado e observado como a memória da obra do Criador.
Apontando para Deus como Aquele que fez os céus e a Terra, distingue o verdadeiro Deus de
todos os falsos deuses.” PP, 267
5. Honra teu pai e tua mãe - Respeito à autoridade
6. Não matarás - Amor à vida
7. Não adulterarás - Pureza (fidelidade)
Isto inclui todas as formas de sexo fora do casamento

120 Badenas, Roberto. Para Além da Lei (Locais do Kindle 1041-1047). Publicadora Servir / MaxiShield International. Edição do Kindle.

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8. Não furtarás - Honestidade
9. Não dirás falso testemunho– Veracidade
“A intenção de enganar é o que constitui a falsidade. Por um relance de olhos, por um
movimento da mão, uma expressão do rosto, pode-se dizer falsidade tão eficazmente como por
palavras. Todo exagero intencional, toda sugestão ou insinuação calculada a transmitir uma im-
pressão errônea ou desproporcionada, mesmo a declaração de fatos feita de tal maneira que
iluda, é falsidade. Este preceito proíbe todo esforço no sentido de prejudicar a reputação de
nosso próximo, pela difamação ou suspeitas ruins, pela calúnia ou intrigas. Mesmo a supressão
intencional da verdade, pela qual pode resultar o agravo a outrem, é uma violação do nono
mandamento.” PP, 269
10. Não cobiçarás - Contentamento
Aqui está a raiz de todos os pecados, a cobiça.

Singular
Êx 24:1-10 – pedra de safira, v. 12. Deus faz uma aliança com o povo e chama Moisés e
70 anciãos para celebrar juntos a aliança. Eles viram uma aparição de Deus, mas não Ele em sua
glória (33:20).
v. 11 – estendeu – uma expressão para falar sobre causar um dano.
Moisés então sobe ao monte e permanece lá 40 dias. Nesse tempo Deus deu a ele as
tábuas dos 10 mandamentos, as demais leis e os detalhes da construção do Santuário.

Santuário
O Santuário ocupa um lugar de honra da Bíblia. É o assunto mais falado em todas as
Escrituras: 45 cap. no Pentateuco, 45 cap. nos Profetas e 150 vs. nos Salmos. Entender o San-
tuário é entender o plano de salvação, as bases do Amor, Justiça e Misericórdia de Deus e o
caminho que Deus tem para salvar: “O teu caminho, ó Deus, está no santuário. Quem é Deus
tão grande como o nosso Deus?” Salmos 77:13.

Propósito
Êx 25:8 - Para que Deus “habitasse com eles”. A palavra para “habitar" é a palavra he-
braica šākēn, que mais tarde seria usada para dar nome à luz que brilhava sobre a arca chamada
de shekinah. Essa palavra no gr. pode ser traduzida como tenda, tabernáculo ou habitar. Este é
o sentido da expressão: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1:14), ou “tabernaculou”
entre nós.121

Modelo do celestial
25:9 - Deus estava mostrando a Moisés um modelo do santuário celestial para que ele
reproduzisse na terra. Este é um ponto importante, pois o Santuário do céu sempre existiu. Há

121 R. Alan Cole, Exodus: an introduction and commentary, vol. 2, Tyndale Old Testament Commentaries (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1973), 195–

196.

78
diversos textos bíblicos que reforçam esta ideia.122
“O Senhor está no seu santo templo; nos céus tem o Senhor o seu trono; os seus olhos
estão atentos, as suas pálpebras sondam os filhos dos homens” (Sl 11:4). Ao apóstolo João
também foi mostrado o santuário celestial. “Abriu-se, então, o santuário de Deus que se acha
no céu, e foi vista a Arca da Aliança no seu santuário, e sobrevieram relâmpagos, vozes, trovões,
terremoto e grande saraivada” (Ap 11:19). O santuário de Deus é tão real como Seu trono,
nosso Sumo Sacerdote Jesus Cristo, e Seu ministério celestial. A carta aos Hebreus explicita-
mente afirma que Jesus Cristo “se assentou à destra do trono da Majestade nos céus, como
ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, e não o homem” (Hb
8:1, 2).
A palavra grega σκηνή (skēnē) é traduzida 15 vezes no Novo Testamento como taberná-
culo e quatro vezes por tenda. Mas não deveríamos imaginar que o santuário celestial seja uma
tenda como aquele construído por Moisés, pois sua qualidade e dimensões o extrapolam em
perfeição e superioridade. “Quando, porém, veio Cristo como sumo sacerdote dos bens já rea-
lizados, mediante o maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, quer dizer, não desta
criação” (Hb 9:11). A grandeza do santuário celestial também é evidenciada em Daniel 7:9-10.
A palavra hebraica traduzida por modelo é ‫( ַתְּב ִנית‬tabnît). Tabnit se refere a “um desenho
ou modelo para um edifício (2Rs16:10; 1Cr 28:11-19), uma imagem ou figura de algo (Dt 4:16,
18; Sl 106:20; Is 44:13; Ez 8:10; 10:8), uma réplica ou símile (Js 22:8). Geralmente descreve um
objeto tridimensional e na maioria dos casos pressupõe a existência de um original”.123
O santuário terrestre foi um ponto de acesso ao celestial (Is 6:1-7), lugar da manifestação
divina e do culto verdadeiro (Êx 40:34, 35; Nm 17:1-13). O santuário celestial é o lugar da
morada de Deus, lugar de reunião, de adoração, e onde Ele manifesta Sua vontade, juízo e
perdão (1RS 8:31, 32, 34, 36, 39, 43; Dn 7:9-10; Ap 4:4-11). É o lugar “onde o Deus transcen-
dente se encontra com suas criaturas celestiais”. Embora nenhum edifício possa conter a Deus,
Ele “condescende em morar entre suas criaturas, entrar em sua esfera de ação, morar na Terra
e no céu com o fim de fazer-se acessível a elas (1Rs 8:27-30)”. O santuário terrestre representava
o santuário celestial, o centro do governo de Deus. Era chamado de Tenda do Testemunho
(Nm 17:7), pois ali estavam as tábuas do Testemunho (Êx 31:18; Nm 17:4), ou seja, a cópia da
Lei de Deus escrita pelo dedo de Deus em tábuas de pedra. No santuário celestial está a Lei
original, pela qual o santo Rei rege a todos os seres pensantes do Universo.124

Estrutura
O santuário possuía um pátio externo e dois compartimentos internos. O primeiro com-
partimento interno era o lugar santo, e o segundo, o lugar santíssimo. No lugar santo o sacerdote
realizava o trabalho diário (Hb 9:6) e ali havia uma mesa com pães, o candelabro e o altar de
incenso (Êx 40:22, 24, 26). No lugar santíssimo o sumo sacerdote entrava uma vez por ano no
Dia da Expiação, o décimo dia do sétimo mês (Hb 9:7). Nesse compartimento se encontrava a
arca da aliança coberta de ouro e, dentro dela, as tábuas dos dez mandamentos, uma urna de

122 https://noticias.adventistas.org/pt/coluna/wilson-borba/o-santuario-que-esta-no-ceu/

123 Ángel Manuel Rodríguez, “Santuario”, em Tratado de Teologia Adventista del Séptimo Día, 1ª ed. (Buenos Aires: Casa Editora Sudamericana, 2009), p. 433.

124 Ángel Manuel Rodríguez, “Santuario”, em Tratado de Teologia Adventista del Séptimo Día, 1ª ed. (Buenos Aires: Casa Editora Sudamericana, 2009), p. 484.

79
ouro contendo o maná e o bordão de Arão (Êx 40:20, 21; Hb 9:3, 4). Um véu separava esses
dois compartimentos (Êx 26:33). À frente do lugar santo ficava o pátio, onde estavam o altar
do holocausto e a pia em que os sacerdotes lavavam as mãos (Êx 40:29, 30). O santuário era
móvel, cercado e teve sua construção aprovada por Deus (Êx 40:33,34-38).

Pátio
Átrio. O átrio era um retângulo de 45,75 m x 22,87 m, envolto por cortinas de linho fino,
com 2,28 m de altura separando esse átrio do acampamento de Israel ao redor. A entrada ao
pátio do tabernáculo olhava para o leste, assim como a do templo de Salomão (v. Ez 8.16) e a
do templo de Herodes. Ao todo 60 “colunas” sustentavam as “cortinas” ao redor do átrio, ou
uma a cada 3,46 m em média. As “colunas” eram provavelmente de madeira de acácia revestidas
de bronze e eram colocadas em “bases” também de bronze (v. 10).
Altar. O altar dos holocaustos [ofertas totalmente queimadas] era feito de madeira reco-
berta de bronze. Os chifres nas quatro pontas eram importantes no ritual e recebiam aplicações
de sangue por ocasião da consagração dos sacerdotes (29.12), nas ofertas pelo pecado (Lv 4.25,
30) e no Dia da Expiação (Lv 16.18). Davam proteção a qualquer pessoa que se agarrasse a eles
(1Rs 1.50). O altar era oco e era cheio de terra ou pedras não lavradas (20.24). Tinha (Lv 4.7)
em torno de 2,3 m de comprimento por 1,4 m de altura. Devido à sua natureza portátil, era um
quadrado aberto, feito de madeira de acácia, coberto com uma folha de bronze. O altar funcio-
nava como um lugar para abater os animais de forma “limpa” para retirada da carne (desde que
todo sangue pertencia ao Senhor [Lv 17:6]) e como o único lugar autorizado de sacrifício.
O altar das ofertas queimadas era a primeira coisa que os israelitas viam quando entravam
no pátio do tabernáculo. Aqui sacrifícios eram constantemente feitos. Sua vívida presença cons-
tantemente lembrava o povo de que eles somente poderiam vir a Deus através do sacrifício. Era
o único meio pelo qual seus pecados poderiam ser perdoados e levados embora. Em Hebreus
10.1-18, Jesus Cristo é retratado como o sacrifício definitivo. O altar testemunhava da culpa do
pecador e de sua necessidade de expiação e reconciliação, e lhe assegurava que isso tinha sido
alcançado (Jo 1:29; Rm 5:10; 2Co 5:18, 19; Cl 1:20).125
Quatro chifres. Eles sobressaíam dos quatro cantos superiores do altar. A expressão
“uma só peça” indica que os chifres eram parte do próprio altar, e não que lhe foram acrescidos.
O sacerdote tocava nestes chifres com o dedo, molhado no sangue do sacrifício pelo pecado
(Êx 29:12; Lv 8:15; 9:9; 16:18). Algumas vezes se atavam a esses chifres animais que seriam
sacrificados (Sl 118:27, ARC). Na descrição do segundo advento do Senhor crucificado, o pro-
feta Habacuque (3:4) vê “chifres que saem da Sua mão” (KJV); “ali”, nas marcas dos pregos nas
mãos de Cristo, “está velado o Seu poder”. Tendo em vista que um animal que tem chifres os
usa para atacar outros animais, os chifres se tornaram símbolo de força e poder (1Sm 2:1, 10; Sl
75:10; 110:9; etc.). A palavra “chifre” é usada como símbolo do poder nacional e foi usado em
geral pelos profetas nesse sentido (Jr 48:25, KJV; Dn 7:11, 8:3; Ap 12:3; etc.).
Pia de bronze. Talvez tenha sido o móvel mais simples de todo o tabernáculo, e traz as
seguintes características: era o segundo móvel do tabernáculo, feito apenas de bronze, tanto a
bacia propriamente quanto o seu suporte, e abastecida de água (30:18); feito com os espelhos

125 Comentário Bíblico Adventista, vol. 1, p. 693.

80
ofertados pelas mulheres hebreias, que certamente foram derretidos e reutilizados (38:8). Não
tem dimensões específicas, embora ao menos a bacia tenha tido uma forma arredondada como
sugere a maioria dos comentaristas e ilustradores. Era de uso exclusivo de “Arão e seus filhos”,
isto é, sacerdotes e sumo-sacerdotes; não se pode dizer com certeza se era daqui que era tirada
água para a lavagem dos animais oferecidos em sacrifícios diários, nem que os levitas em geral
que auxiliavam no tabernáculo também se lavassem aqui (o que nos leva a inferir que houvessem
outros recipientes de água disponíveis no tabernáculo para estes fins, que não apenas a pia de
bronze, que era de uso exclusivo dos sacerdotes).
A pia de bronze simboliza o batismo por imersão logo após a conversão (At 16:31-33).

Lugar Santo
Tabernáculo. O tabernáculo foi chamado de tenda da congregação porque ali se reuniam
Deus e os representantes religiosos de Israel, conforme estava determinado pelos regulamentos
litúrgicos. Não era a mesma coisa que a “tenda da congregação” montada fora do acampamento,
onde Deus se encontrou com Moisés (33.7; Nm 12.4).
O tabernáculo não era um lugar em que o povo de Deus se reunia para a adoração coletiva,
mas onde o próprio Deus se encontrava – em ocasiões por ele determinadas, e não por acaso –
com o Seu povo. Acesas as lâmpadas do entardecer até de manhã. As lâmpadas eram acesas no
entardecer (v. 30.8) e, segundo parece, apagadas de manhã (1Sm 3.3).
Candelabro. Funcionava como fonte de luz, tendo em vista que o Lugar Santo não tinha
janelas (ver Lv 24:2-4). O candelabro, que ficava defronte da mesa no Santo Lugar, foi feito de
um talento (cerca de 34 kg) de ouro batido de forma a sugerir uma amendoeira que crescia.
Talvez símbolo da nova vida, a amendoeira florescia em janeiro, antes de outras árvores. O
pedestal e a parte vertical representavam o tronco de uma árvore, da qual saíam três ramos de
cada lado.
Era a lâmpada acesa continuamente que ficava no lado sul do Santo Lugar (Lv 24.1-4).
Havia um cuidado especial para que as lâmpadas não se apagassem à noite. A “lâmpada acesa
continuamente” (Lv 24:2) era um lembrete perpétuo dAquele em quem não há “treva alguma”
(1Jo 1:5). Assim deveria ser com a igreja, “a luz do mundo” (Mt 5:14). Sua luz nunca deve se
apagar (ver Jo 3:19-21). A “lâmpada acesa continuamente” no santuário representava a “verda-
deira luz”, “a luz dos homens” (Jo 1:-9; DTN, 464). Apontava também para as Sagradas Escri-
turas, que são lâmpada para os pés (Sl 119:105; Is 40:8). Era propósito que Israel fosse luz para
as nações ao redor (PJ, 286). O candelabro aparece em visões proféticas (Zc 4 e Ap 1:12, 20).
No NT Jesus Se identifica como a “Luz do Mundo” (Jo 8:12).
Azeite. O azeite puro de olivas batidas era para a iluminação. Azeitonas verdes eram
esmagadas num pilão. A massa polpuda era, então, colocada num cesto de pano, e o óleo pin-
gava pelo fundo, produzindo um combustível puro que queimava com pouco ou nenhuma fu-
maça e produzia uma chama viva. Era um símbolo do Espírito Santo, a fonte e o meio de
iluminação espiritual (Zc 4:2-6; At 2:1-4).
Mesa com pães. Nesta mesa estavam contidos os pães da proposição, literalmente os
“pães da presença”. Esses pães só podiam ser comidos pelos sacerdotes (Lv 24.8-9). A coloca-
ção cuidadosa dos doze pães perante o Senhor, e a ingestão dos pães pelos representantes (os
sacerdotes) lembrava o povo de Israel de sua constante dependência da presença vivificante de
Deus. Representa a presença e sustento divinos (33:14-15; Is 63:9).
Consistiam de 12 pães ou bolos, substituídos a cada sábado. Esses 12 pães constituíam
uma oferta perpétua de agradecimento a Deus pelas 12 tribos, pelas bênçãos recebidas diaria-
mente. Num sentido mais elevado, os pães apontavam para o pão espiritual, Jesus Cristo.

81
Altar de incenso. Era construído de madeira e era de um tipo e tamanho bem conhecidos
no mundo antigo. Tinha o formato de uma pequena pilastra truncada, com pequeninos chifres
nos quatro cantos. Como os outros objetos no Tabernáculo, era feito de madeira de acácia,
revestido de ouro, e possuía argolas laterais através das quais, varais podiam ser colocados para
o seu transporte. Em relação às suas dimensões: seu comprimento, um côvado; sua largura, um
côvado; e altura, dois côvados (Êx 30:2). Ele era quadrado: meio metro por meio metro de
largura e um metro de altura. Ele ficava no “Santo Lugar” no interior do Tabernáculo, bem em
frente da cortina que separava o Santo dos Santos. O principal simbolismo ligado ao incenso é
a oração feita a Deus, “Suba a minha oração, como incenso, diante de ti, e seja o levantar das
minhas mãos como o sacrifício da tarde!” (Sl 141:2). O perfume característico produzido pela
queima do incenso subia à Deus, da mesma maneira que sobem aos céus as orações do justo.

Lugar Santíssimo
Arca da aliança. A revelação do modelo para o santuário terrestre começa com os planos
para a arca da Aliança, o objeto mais sagrado do tabernáculo. Essa caixa ornamentada continha
as tábuas dos Dez Mandamentos (Êx 30:6; 31:18; 32:15, 16), o vaso com o maná e o bordão de
Arão (16.33; 25.16; Nm 17.10; Dt 10.1-5; Hb 9.4). A arca do Testemunho (v. 16) ou arca da
aliança (Js 3:11) é a peça central do tabernáculo e aparece numerosas vezes no AT. O principal
objetivo da arca era servir como um depósito para a santa lei de Deus. Devido ao fato de as
tábuas de pedra serem uma transcrição do caráter e da vontade de Deus, e, além disso, terem
sido gravadas por Sua própria mão, eram tidas como o objeto mais sagrado do santuário.
Propiciatório. Refere-se à tampa dourada da arca. O termo original vem da raiz “cobrir,
fazer expiação” e a Septuaginta grega a traduz como “propiciatório”. A graça divina se encaixa
perfeitamente com a lei divina e, juntas, elas destacam os dois mais importantes elementos do
caráter divino, i.e., justiça e misericórdia.
Ele representava a misericórdia divina. Era de “ouro puro”, indicando que a misericórdia
é o mais precioso dos atributos divinos. Seu lugar era em cima da lei, assim como a misericórdia
transcende a justiça (Sl 85:10; 89:14). A misericórdia sem a justiça é sentimentalismo débil, que subverte
toda a ordem moral. Por outro lado, a justiça sem misericórdia é severidade moral, impecável na teoria, mas
revoltante a Deus e aos homens. A arca e o propiciatório constituíam o coração do santuário. Acima
do propiciatório estava o shekinah, símbolo da presença divina. As tábuas da lei dentro da arca
testificavam o fato de que o reino de Deus está fundado num padrão imutável de justiça (Sl
97:2), o qual é mantido até mesmo pela graça divina. Enquanto as tábuas dentro da arca testifi-
cavam contra o povo, o propiciatório apontava para um meio pelo qual as exigências da lei
pudessem ser satisfeitas e o pecador, salvo da morte, o castigo da lei. Com base somente na lei,
Deus e o homem não podem voltar a se unir, uma vez que o pecado o separa dEle (Is 59:1, 2).
O propiciatório espargido de sangue deve intervir, pois somente pela mediação de Cristo em
nosso favor podemos nos aproximar de Deus (Hb 7:25).
Querubins. Os querubins geralmente estavam associados ao trono do Senhor, como
guardiães ou transportadores do trono (1Sm 4.4; Is 37.16) mas aqui eles simbolizam anjos guar-
diães (Gn 3.24). Não é um caso de idolatria (Êx 20.4), pois eram guardados no Santo dos Santos,
onde ninguém podia entrar, a não ser o Sumo Sacerdote, e uma só vez por ano. O Senhor é
“Aquele que habita entre os querubins” (1Sm 4.4; 2Sm 6.2; 2Rs 19.15; Sl 80.1; 99.1; Is 37.16).
O propiciatório tornava-se assim o ponto focal do encontro de Deus com o Seu povo. O pro-
pósito do êxodo, pois, era esse encontro de Deus com o homem (29.45-46).

82
Símbolos
Símbolo Doutrina
Altar Sacrifício de Jesus e Salvação pela fé
Pia Batismo por imersão
Mesa com pães Bíblia como alimento e Jesus, o pão da vida
Candelabro Espírito Santo
Altar de incenso Oração e a intercessão de Cristo
Propiciatório Mediação de Cristo
Arca da aliança Dez mandamentos e Sábado
Maná Reforma de Saúde
Dia da Expiação Juízo
Deserto Milênio
Bode Satanás

Através deste local Deus ensinava: A verdade sobre o juízo, a santidade de Sua Lei, o
sábado, a reforma de saúde e a verdade sobre o milênio quando a culpabilidade dos pecados do
povo de Deus será transferida para o autor do pecado: Satanás.

Sombra
O termo sombra (Hb 8:5) é tradução de σκιά (skia), que significa uma projeção de algo
maior. A sombra não é a realidade principal e original, mas uma projeção vinda de um modelo
ou realidade maior. O santuário terrestre era sombra do original celestial. Os cordeirinhos sa-
crificados eram uma sombra projetada para trás do Cordeiro de Deus morto no Calvário. Igual-
mente, os sacerdotes terrenos eram uma sombra do Sacerdote celestial Jesus Cristo, pois Seu
“ministério no santuário do Céu era o grande objeto que projetava sua sombra para o passado,
e tornava claro o ministério do sacerdócio judaico”.126
O santuário terrestre duraria deste momento até a morte de Je- O santuário terrestre
sus, quando não haveria mais a necessidade de existir. A declaração duraria deste mo-
de que Cristo é “ministro do verdadeiro tabernáculo que o Senhor mento até a morte de
erigiu e não o homem” (Hb 8:2) implica na superioridade do santuário Jesus, quando não ha-
celestial em relação ao terrestre. Após a morte de Jesus Cristo na cruz,
veria mais a necessi-
o serviço do santuário terrestre expirou (Mt 27:51), abrindo o cami-
dade de existir.
nho para Seu ministério sacerdotal no santuário celestial.
Ler Mt 27:50-51.

126 Ellen G. White, Atos dos apóstolos, 9ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013), 246.

83
RESUMO
O povo agora tinha tudo o que precisava para que a Missão de Deus pudesse ser cumprida. Os 10
mandamentos eram a expressão do caráter do Senhor e o Santuário e seus detalhes apontavam para a obra de
Jesus. O relacionamento entre Deus e o povo seria feito através da Tenda do encontro. Ali receberiam tudo o que
Ele desejava ensinar para que Seu povo fosse fiel à Missão.

84
CAPÍTULO 11

Levítico e Números
Toda a narrativa bíblica do Grande Conflito pode ser dividida em 4 etapas: Criação, Queda, Redenção
e Restauração. Este capítulo detalhará ainda o plano da Redenção e está baseado em Êxodo e Levítico.

Serviços do Santuário
No Santuário do deserto aconteciam dois tipos de serviços:
Serviço diário. Como o próprio nome diz, esse serviço acontecia cotidianamente e tam-
bém pode ser chamado de contínuo. O diário era dividido em duas partes: (1) sacrifício coletivo
e (2) sacrifício individual.
1. Sacrifício Coletivo. Esse cerimonial acontecia diariamente no holocausto da manhã e da
tarde. Toda manhã e tarde, o sacerdote queimava um cordeiro de um ano sobre o altar. Repre-
sentava Jesus. O sacrifício de Cristo na cruz do Calvário foi por todo o mundo.
2. Sacrifício Individual. Não bastava um cordeiro morrer por toda a congregação de Israel
no ritual do sacrifício coletivo. A parte mais importante do ministério diário era o serviço efe-
tuado em prol do indivíduo. O aspecto mais importante do serviço diário estava na aceitação
individual da graça por parte do pecador arrependido. O incenso que subia diante do véu em
direção ao lugar santíssimo simboliza os méritos de intercessão de Cristo pelo Seu povo, sendo
Ele o único mediador entre Deus e o homem (1Tm 2:5; 1Jo 2:1; At 4:12).
Serviço anual. Tendo em vista a transferência dos pecados confessados pelo povo para
dentro do santuário através do serviço diário, os compartimentos sagrados, uma vez contami-
nados, necessitavam ser purificados. Esse era o dia da Expiação.

Dia da Expiação
Lv 16 conta como acontecia o dia de Yom Kipur ou Dia da Expiação. Expiação quer
dizer cobrir, expiar, reconciliar, pacificar. No sentido de cobrir, a expiação significava, no antigo
Israel, tomar um cordeiro e sacrifica-lo para cobrir o pecado (cf. Lv 4, 13-21).
A expiação em Israel começava pelo sacerdote e sua casa, que oferecia um novilho em
sacrifício pelo pecado. Em seguida, eram tomados dois bodes, e um deles seria enviado para o
deserto como emissário, no intuito de levar o pecado do povo. O outro bode era sacrificado e
seu sangue aspergido no propiciatório, cobrindo o pecado do povo. (cf. Lv 16). Esses aconte-
cimentos ocorriam uma vez por ano, no dia 10 do sétimo mês no calendário israelita que era o
grande Dia do Juízo, no qual o sacerdote entrava no Santo dos Santos para a expiação. Até hoje,
é comemorado o “Yom Kippur” pelos judeus, o Dia da Expiação, ou Dia do Perdão.

85
Lv 16:3, 11-14 - A preparação para as festividades desse dia começava dez dias antes.
Esses dias eram de arrependimento, destinados a operar uma perfeita mudança de coração. O
sumo sacerdote, que dirigia a cerimônia, tinha uma preparação especial:
1. Uma semana antes do dia da expiação ele se mudava para os recintos do templo, para
oração e meditação.
2. Não dormia no dia anterior para que não lhe viesse qualquer contaminação.
3. Banhava-se e vestia vestes santas.
4. Ele usava um cinto branco e uma mitra de linho sem ostentação para estar diante de
Deus.
Antes de começar a expiação pelo povo o Sumo sacerdote devia fazer expiação por seus
próprios pecados, assim estava limpo para ser um mediador entre Deus e o povo.
Como acontecia a cerimônia
a. O sumo sacerdote oferecia um sacrifício de um novilho (boi novo) por ele e sua família,
pedindo perdão a Deus pelos seus pecados.
b. O sacerdote oferecia o sacrifício, entrava no lugar Santo com incenso e um pouco do
sangue e aspergia sobre o propiciatório (que era a tampa da arca) (cf. Lv 16:13).
c. Faziam um sorteio sobre dois bodes. Um seria oferecido ao Senhor para purificação do
santuário e outro seria enviado ao deserto, chamado de bode Azazel.
d. Oferecia então o bode ao Senhor.
e. Após esta cerimônia, pegavam o bode vivo (16:20) e transferiam os pecados para ele.
Após isso enviavam para o deserto e deixavam o bode sozinho para morrer.
f. Era um dia solene, pois todo o povo estava diante do Senhor com o coração contrito e
arrependido. Era também um dia de juízo, onde cada um investigava seu coração para
que os pecados fossem perdoados por Deus.

Bode Azazel
Muitos dizem que representa Jesus. Mas o que Levítico mostra? Quais as evidências para
Azazel não representar Jesus?
• O bode ficava vivo (v. 10). Jesus morreria como sacrifício (Jo 1:29 e 1 Co 5:7);
• Eram tiradas sortes, ou sorteio entre os bodes. Se os dois representavam Jesus, por que
tirar sortes entre eles?;
• v. 9 diz que o bode que morreria seria oferecido como “oferta pelo pecado”;
• O bode Azazel só entrava em cena depois que havia sido feita a expiação (v. 16 e 20);
• O deserto é descrito na Bíblia como sendo uma referência ao que acontecerá após a vinda
de Jesus, cf. Ap 20:1-3, onde Deus irá responsabilizar Satanás pelos pecados de toda a
humanidade e o lançará no abismo.

86
• A palavra Azazel significa “demônio do deserto”.127 Todas as coisas aponta-
Jesus vam para Cristo. Tudo
Todas as coisas apontavam para Cristo. Tudo era uma referência a era uma referência a
Jesus. Ver Hb 9:11-12, 22; Jo 1:29; Hb 9:1-5 e 8:5 Jesus.

Bezerro de ouro
Êx 32 – Moisés fica no monte por 40 dias (cf. Dt 9:11)128 recebendo as leis enquanto o
povo se corrompe no pé do monte, pois entendiam que algo havia acontecido a ele e pedem
por um substituto.129 Quando Moisés desce, vê o que havia acontecido. O povo estava se di-
vertindo. Este aspecto da celebração imitava outros festivais religiosos que costumavam incluir
danças extravagantes e interação sexual. O v. 25 destaca ainda mais a falta de controle da cele-
bração.130
O bezerro era de madeira revestido de ouro. Ao perceber o que havia acontecido, Moisés
joga as tábuas no chão e as quebra em sinal claro de que o povo havia quebrado a aliança que o
Senhor havia feito com eles. Muitos acabam sendo mortos e Deus então dá novamente os man-
damentos a Moisés, porém desta vez em tábuas de pedra esculpidas por Moisés.
Êx 34:29 – o rosto de Moisés resplandecia – o termo traduzido como resplandecia vem
de um verbo muito parecido com um substantivo que significa chifre. A Vulgata confundiu as
duas palavras e isso fez com que Moisés fosse retratado com dois chifres na arte medieval.131 O
rosto de Moisés resplandeceu por ter permanecido na presença de Deus.

Construção do Santuário
Êx 35 – Deus então ordena que cada um traga suas ofertas para a construção do santuário,
pois ele seria construído a partir daquele momento.
V. 30-31 - é a primeira vez na Bíblia que vemos alguém ser cheio do Espírito de Deus,
neste caso, Bezalel, um artesão a quem fora designado o trabalho de elaborar desenhos, trabalhar
em metais, lapidar pedras etc. Todos se empenham e constroem o santuário.

Levítico
O nome do livro na LXX132 faz referência aos levitas como sacerdotes descendentes de
Arão, da tribo de Levi. Em hebraico o título é “então chamou”, dando a ideia de uma continui-
dade ao livro de Êx.

127 http://www.centrowhite.org.br/perguntas/perguntas-e-respostas-biblicas/o-bode-emissario-de-levitico-16-e-um-simbolo-de-cristo-ou-de-satanas/

128
John D. Barry, Douglas Mangum, et al., Faithlife Study Bible (Bellingham, WA: Lexham Press, 2012, 2016), Êx 32.7.
129 John D. Barry, Douglas Mangum, et al., Faithlife Study Bible (Bellingham, WA: Lexham Press, 2012, 2016), Êx 32.1.

130 Bíblia de estudo Andrews, p. 118.

131 Bíblia de estudo Andrews, p.122.

132 A tradução ficou conhecida como a Versão dos Setenta (ou Septuaginta, palavra latina que significa setenta, ou ainda LXX), pois setenta e dois rabinos

[1] (seis de cada uma das doze tribos) trabalharam nela e, segundo a tradição, teriam completado a tradução em setenta e dois dias. A Septuaginta,
desde o século I, é a versão clássica da Bíblia hebraica para os cristãos de língua grega e foi usada como base para diversas traduções da Bíblia.

87
Este livro apresenta leis dadas no Sinai por Deus ao povo referente aos rituais do Santu-
ário, sacrifícios e outras. O livro abrange o período de um mês, quando Deus deu diversas leis
para o povo no monte Sinai.
Sacrifícios e animais eram conhecidos desde o Éden, mas nas ordenanças de Lv há uma
revelação mais clara de como todos os sacrifícios apontavam para o Salvador. O uso contínuo
do sangue colocado sobre os chifres do altar, aspergido diante do véu ou ministrado no segundo
compartimento do santuário, diante da arca, tonou conhecida ao povo a íntima relação entre
pecado e sacrifício.
Em todos os preceitos o povo via a obra de reconciliação do pecador com Deus. Levítico
é um pré-evangelho. De acordo com o NT, os sacrifícios de animais praticados pelos israelitas
eram símbolos que apontavam para o sacrifício único e supremo de Jesus, eficaz na luta contra
o pecado, sendo o único meio pelo qual Deus pode estender misericórdia sem comprometer a
justiça.133
Localização do Carne
Referência Oferta Aspecto único Sacrifício de Cristo
sangue no altar para o
Lv 1 Holocausto Lados Senhor Toda a carne era A vida de Cristo consu-
queimada mida
Lv 2 Manjares (sem sangue) (sem carne) Sem morte Cristo provê vida eterna
Lv 3:1-17; Pacífica Lados Sacerdote e O ofertante comia “Comemos” simbolica-
7:11-36 ofertante mente o corpo de Cristo
Lv. 4:1-35; Pecado (purifi- Chifres Sacerdote Elevação do san- Cristo como resgate
6:24-30 cação) gue pela vida
Lv 5:1-19 Culpa (repara- Lados Sacerdote Pagamento pré- Cristo pagou a dívida
ção) vio da reparação pelo pecado.

Evangelho
Levítico é o embrião do evangelho, e a partir dele, o NT pode ser melhor compreendido.
Cristo se apresenta como sacerdote e sumo sacerdote, o cordeiro de Deus, nossa oferta pelo
pecado, o sacrifício imaculado cujo sangue era aspergido em volta do altar, como o pão que
desceu do céu, a luz do mundo, o incenso fragrante.
Nenhum livro do AT anuncia de forma mais clara a redenção que há em Cristo.134

Dramático
Por que tão dramático? Por que eles precisavam matar os animais? Deus odeia o
pecado e conhecendo seus resultados, um dos principais propósitos dos sacrifícios era despertar
em Israel o mesmo sentimento de ódio ao pecado. Ele poderia ter simplesmente aconselhado
Seu povo a não pecar, pois o pecado é mau e deve ser evitado. Porém não haveria uma impres-
são duradoura e forte sobre eles, sem essa demonstração visual do resultado da transgressão que
mostrava o pecado e a morte como causa e efeito.

133 Bíblia de estudo Andrews, p. 132.

134 Frank Holbrook. Setenta Semanas, p. 106.

88
Centro
Levíticos é o centro do Pentateuco. Este livro ocupa um lugar central no Pentateuco,
sendo um pré-evangelho.
Seus capítulos podem ser divididos em 3 partes:
1-15 – justificação – abrange o sistema sacrifical
16 - Dia da Expiação – o ápice das instruções.
Se o cap. 16 é o centro
17-25 – santificação – abrange a maneira como o povo deveria
viver do livro e Lv é o centro
Sendo a justificação tratada de forma intensa na primeira metade, do Pentateuco, então
e, da mesma forma, a santificação na segunda metade, vemos que o Lv 16 é o centro dos es-
livro de Levítico forma um todo harmonioso ao prescrever a vida espi- critos de Moisés.
ritual para o povo de Deus antigamente.

Números
Números, tem seu nome derivado do hebraico Bamidbar, “no deserto”, ou números na LXX
devido ao censo feito no início do livro.
O livro contém narrativa, lei, relatório de censo, benção, oração, correspondência diplo-
mática, narrativa, profecia e itinerário do povo.
Os primeiros 10 capítulos de Números descrevem a organização do acampamento de
Israel durante a jornada para a terra prometida. O livro continua a narrativa iniciada no livro de
Êxodo. Tendo escapado do Egito (Êx 1–15), os israelitas receberam a lei no Sinai (Êx 19–34),
construíram as estruturas e os móveis do tabernáculo (Êx 35–40) e receberam instruções de
Deus sobre seu uso e manutenção ( Lev 1–27). Os israelitas devem organizar o acampamento e
determinar a logística da marcha. Eles também devem fazer preparativos militares para a even-
tual conquista de Canaã. O censo registrado em Num 1-10 ocorreu durante 20 dias (vv. 1; 10:11).
No final deste período, os israelitas iniciaram sua jornada - que terminou 38 anos depois (Deu-
teronômio 2:14).
Nm 1 – Deus manda Moisés levantar um censo em Israel.
Nm 10:11 – a nuvem se levantou – Esta nuvem era um símbolo da presença de Deus. Ela
apareceu no Sinai, baixou no templo e os israelitas só partiram quando esta nuvem se levantou
do santuário e guiou o povo à Canaã.
Nm 13 – Deus manda espias para trazerem um relatório de Canaã. Eles voltam com um
cacho de uvas que dois homens foram necessários para transportar (13:23). Somente dois espias
voltaram animados: Josué e Calebe. Os demais desanimaram o povo.
Nm 14 descreve a revolta do povo e a rebelião para voltar ao Egito. Moisés intercede.
Deus os manda vaguear por 40 anos no deserto para que toda aquela geração morresse. Um
grupo então decide entrar em Canaã e acaba sendo derrotado (14:45).
O povo fica no deserto por 40 anos e finalmente chegam às bordas do rio Jordão. Duas
tribos e meia decidem habitar na região da Transjordânia, i.e., entre o rio Jordão e o deserto.

Deuteronômio
Este livro sign. “A lei repetida” na LXX ou Debarim, “palavras” em heb.
Contém basicamente 3 discursos de Moisés que repete histórias e as leis dadas por Deus.
1:1-4:43 – primeiro discurso contando a história de Israel.

89
4:44-26:19 – segundo discurso contando a história da legislação. Começa com os 10 man-
damentos.
27:1-28:68 – terceiro discurso em favor da obediência.
29:1-34:12 - Fim da vida de Moisés – quarto e último discurso
Ler Dt 30:9-14, 34, Jd 9 e Mc 9:2-4.

Uma síntese da Torah:


Gn Ex Lv Nm Dt
Adão > Noé > Do Egito ao rece- Outras leis no Si- Jornada pelo de- 4 discursos de Moisés
Abraão > Povo de bimento da lei no nai serto do Sinai à e preparo para herdar
Israel Sinai Canaã Canaã

RESUMO
O Pentateuco mostra como surgiu o pecado que manchou a Criação, mas também nos apresenta Deus
tomando a iniciativa e criando um povo que pudesse representá-lo na Terra. As cerimônias deveriam servir como
um lembrete do plano de Redenção e da missão centrípeta (de atração) que Ele desejava que seu povo cumprisse.

90
CAPÍTULO 12

Do deserto à Canaã
Toda a narrativa bíblica do Grande Conflito pode ser dividida em 4 etapas: Criação, Queda, Redenção
e Restauração. Este capítulo detalhará ainda o plano da Redenção e está baseado em Josué e Juízes.
Vimos no capítulo anterior um resumo dos livros de Êx, Lv, Nm e Dt. Uma síntese do
que vimos até agora: Deus libertou os israelitas da escravidão do Egito e deu-lhes sua Lei no
monte Sinai. Peregrinaram por 40 anos pelo deserto até que uma nova geração de israelitas
estava pronta para herdar a terra que Deus havia prometido a Abraão centenas de anos antes.
Moisés morreu sem pisar em Canaã, foi sepultado e ressuscitado por Deus. O povo pranteia
sua morte por 30 dias. Após este período, Josué assume a liderança do povo e lidera a conquista
de Canaã.
Estes livros que formam o Pentateuco mostram o papel e identidade de Israel como povo
de Deus e seu chamado missional entre as nações.
A promessa de Deus a
Povo, terra e bênção
Abraão envolvia o
Devemos nos lembrar que a promessa de Deus a Abraão envolvia
o povo e a terra, para que então fossem uma benção. povo e a terra, para
O livro de Josué descreverá agora como foi a conquista da terra que então fossem uma
de Canaã e o estabelecimento do povo. benção.
Porém o povo, a terra e a benção eram apenas meios intermediá-
rios para realizar o propósito final de Deus que era levar benção a todas as nações. Esse
objeto universal define a identidade e o papel de Israel.

Canaã
Como era a terra que os israelitas estavam prestes a conquistar? Será que havia motivos
para despojar os povos? Não seria uma injustiça? Quem eram esses cananeus?

Origem
Os primeiros habitantes da Palestina não eram semitas, conforme se pode perceber pelos

91
nomes de suas cidades.135 Na divisão das nações em Gn 10, percebemos ali o estabelecimento
dos cananeus como descendentes de Cam.

Civilização
Eram povos com um elevado nível cultural e capacidade inventiva. Povos desenvolvidos
e com habilidades de guerra.
A terra de Canaã era dividida entre vários pequenos reinos e um estado autônomo com
cidades dependentes. A terra era cultivada. Conheciam a escrita conforme prova o nome original
de uma das cidades, Quiriate-sefer (Cidade dos livros). Possuíam cavalos e carros de guerra, mas
a decadência religiosa e moral praticada por eles ao seguirem práticas supersticiosas fez com que
a medida da sua iniquidade atingisse o seu ápice.

Religião dos cananeus


Os conceitos e práticas religiosas dos cananeus eram degradantes, a despeito de seu ele-
vado nível cultural.
No topo do panteão cananeu se encontrava El, chamado de o “pai dos homens”, repre-
sentado por um touro. Eles acreditavam que ele teve três esposas: Astarote, Aserá e Baaltis.
Astarote era chamada de “a grande deusa que concebe, mas não dá luz”. Ela é retratada
como uma mulher nua montada em um cavalo galopante, munida de escudo e lança em suas
mãos. Era a deusa do sexo.
Anate, filha de El, a terceira maior deusa dos cananeus era a mais imoral e sanguinária de
todas as divindades. Em seu nome muitas pessoas eram mortas e sacrificadas. Guerras foram
feitas em seu nome.
Baal, embora não fosse o chefe dos deuses, desempenhava o papel mais importante no
panteão cananeu. Ele era considerado filho de El, o deus chefe, irmão de Anate. Era responsável
pelos relâmpagos, trovões e chuvas, por isso, pensava-se que ele levava fertilidade às terras de
Canaã, que dependia inteiramente das chuvas para produção agrícola. Quando na época de Elias,
Israel começou a adorar Baal, sua impotência foi demonstrada de forma clara pela retenção da
chuva durante três anos. Deus planejava que seu povo aprendesse que a adoração a Baal não
aumentaria a fertilidade da terra, pelo contrário, traria fome.
Lugares altos. A Palestina parecia ter vários santuários a céu aberto, chamados de bamoth
“lugares altos”, na Bíblia. Anos depois os israelitas se sentiriam tão atraídos a estes lugares
altos que os tomariam e os dedicariam a Deus, a despeito da ordem divina explícita que Ele
deveria ser adorado somente em um lugar, onde o santuário estava situado (Dt. 12:5, 11). Vários
profetas denunciaram práticas pagãs de adoração, mas era difícil de afastar o povo delas. Mesmo
alguns dos melhores reis – Amazias, Uzias e Jotão, não destruíram os altos.

Razão para a destruição


Por causa da depravação dos cananeus, Israel recebeu a ordem de destruí-los. A compre-
ensão da religião e da imoralidade ligada a adoração cananeia explica a severidade de Deus em

135 Comentário Bíblico Adventista, vol. 2, p. 19-24.

92
relação ao povo ligado a estas práticas. 136

No centro da Terra
Israel estaria sendo estabelecido no meio das nações pagãs, para brilhar como luz na es-
curidão.
No meio da terra. Ezequiel mais tarde expressaria: “Assim diz o Senhor Deus: Esta é
Jerusalém. Eu a coloquei no meio dos povos, com nações em torno dela” (Ez 5:5). Israel estaria
sendo colocado na encruzilhada das nações e no umbigo do universo, um povo em exposição,
visível para as nações.
“Israel sabia que vivia sob constante observação do mundo à sua volta.” Israel
deveria viver sua história “como algo encenado diante dos olhos dos povos ao seu redor, sempre
ciente de que o que estava em jogo era a glória de Deus”. A mensagem da vida coletiva de Israel
deveria ser: “é nesta direção que a história está indo – venha e junte-se a nós”. 137

Idolatria
Ler Dt 4:5-8. Moisés deu esse discurso antes do povo herdar a terra prometida. É signi-
ficativo que aqui ele explica a identidade e o papel de Israel entre as nações.
A lei deveria governar toda a vida comunitária de Israel. Isso levará ao confronto com os
ídolos das nações vizinhas, um perigo constante para Israel. A idolatria drenará a plenitude e a
abundância de vida, destruindo o que Deus tinha em mente. Por isso, Moisés exorta Israel:
“apenas ficai atentos. Fica muito atentos” (Dt 4:9) e “tenham muito cuidado para que não se
corrompam fazendo para sim um ídolo” (Dt 4:15-16).
A vida de Israel em obediência à Sua Lei deve demonstrar esta Seu primeiro chamado
realidade fundamental às nações. Seus ídolos precisam ser confronta- seria para confrontar
dos; não se devem fazer concessões ao paganismo. O povo de Israel é os outros deuses, mas
advertido de que se falhar nesta questão será disperso entre as nações, não deveriam se es-
porque terá esquecido de sua identidade, abandonado o seu papel na quecer de sua missão
missão de Deus e, portanto, perdido e confiscado o seu chamado. às nações.

Josué
Cristo e os judeus reconhecem três divisões do antigo testamento: lei, profetas e escritos,
ou salmos (Lucas 24:44). Josué é o primeiro livro da segunda divisão pois seu autor também
desempenhou um papel de um profeta.
O livro de Josué pode ser dividido em 4 partes:
Js 1-5 – preparação para a invasão
Josué como líder se preparou espiritualmente, organizou o exército, enviou espias (que
encontraram Raabe), fez uma circuncisão no povo e celebrou a Páscoa. Eles atravessaram o rio
Jordão no ano 1.405 a.C.

136 Comentário Bíblico Adventista, vol. 2, p. 24.

137 Michael Goheen, Igreja missional na Bíblia, p. 73.

93
6-12 – conquista da terra
Jericó era uma cidade murada que bloqueava o acesso à única passagem que levava ao
centro de Canaã.138 Eles marcharam em silêncio ao redor da cidade por 6 dias. No sétimo eles
circundaram a cidade sete vezes, gritaram e os muros caíram. A ordem era expulsar e exterminar
os cananeus, para que não houvesse mistura e contaminação na jovem nação de Israel.

Jericó

Os muros de Jericó:
No alto de um muro
de 3,35 metros, pe-
dras lisas de aproxi-
madamente dez me-
tros de compri-
mento inclinavam-se
em um ângulo de 35
graus para se juntar
aos grandes muros
principais. A cidade
de Jericó era inven-
cível em se tratando
de um ataque direto
por um exército sem
aríetes.

13-21 – divisão da terra


O território foi dividido por sorteio e dois tipos de cidades foram estabelecidas: cidades
de refúgio (ficavam a no máximo um dia de viagem de qualquer israelita onde alguém que havia
cometido algum assassinato ficava até os anciãos decidirem se a morte havia sido intencional ou
acidental) e cidades dos levitas (onde a tribo de Levi morava. Eram cidades dentro do territó-
rio das demais tribos).
22-24 – despedida de Josué
Josué se despede do povo e os apela a servirem ao Senhor: “Escolham hoje a quem irão
servir [...] Eu e minha casa serviremos ao Senhor” (Js 24:15)

Josué faz um tipo de Cristo.


5 razões por que Josué é um tipo de Cristo.139
a. Josué tem o mesmo nome do Messias: “Josué” e “Jesus” são o mesmo nome, tanto no
hebraico, quanto no grego;

138 Larry Richards. Guia fácil para entender a Bíblia, p. 71

139 Bíblia de estudo Andrews, p. 273

94
b. Josué desempenhava exatamente o mesmo trabalho que o Anjo do Senhor, o Cristo pré-
encarnado (Êx 23:23; Nm 27:17, 21; Dt 3:28; 31:3, 23);
c. Josué foi o primeiro homem das Escrituras a ter o nome divino no significado do próprio
nome (seu nome sig. “Yahweh é salvação), em paralelo com o Anjo do Senhor, acerca de
quem Deus afirma: “nele está o meu nome” (Ex 23:21);
d. Josué fez o mesmo trabalho que Moisés, um tipo de Cristo;
e. Isaías 49:8 descreve a obra do Messias vindouro como a de Josué, ou seja, de levar Israel
a herdar a terra prometida. O NT é muito claro em identificar Jesus como o novo Josué
(Hb 4:8,9). A igreja, o corpo de Cristo, também participa do cumprimento tipológico de
Josué.

Tipologia de Josué
Josué do AT Jesus Igreja Fim dos tempos
Liderou Israel à Canaã Subiu à Canaã celestial Chega ao monte Sião ce- Entrada literal na terra
depois de 40 anos (Js 1- depois de 40 dias (At lestial, pela fé (Hb prometida terrena (Ap
5) 1:3, 9-11, Hb 1-2) 12:22-24) 20:9, 21, 2 e 3)
Liderou conquista dos Lidera a conquista dos Batalha espiritual (Ef Conquista final dos ini-
inimigos de Israel (Js 6- inimigos de Israel: prin- 6:10-17) migos de Deus (Ap 20:7-
12) cipados e potestades (Cl 10)
2:15)
Levou Israel ao descanso Traz descanso (Mt 11:28, Descanso espiritual da Descanso eterno na Ca-
(Js 1:13-15, 14:15, Hb 4) graça (Hb 4) naã terrena (Ap 21-22)
21:44, 22:4, 23:1)
Distribuiu a herança (Js Recebe uma herança e a Recebe uma herança es- Herança eterna (Mt
1:6, 13:1-21:42) dá a seus santos (Hb 1:4, piritual (At 20:32, Ef 25:34, Cl 3:24, Ap 21:7)
9:15) 1:11, 14 e 18)

Período dos juízes


O Livro dos juízes recebeu esse nome a partir do título dado às pessoas que governaram
Israel depois da morte de Josué.
Dt 16:18 afirma que “juízes e oficiais constituídos em todas as cidades que o Senhor, teu
Deus, te der”. Os juízes eram a autoridade civil na terra e eram convocados para essa grande
obra por direta determinação divina e atuavam mais como Libertadores da escravidão estran-
geira do que como governadores civis. “Generais” ou “comandantes” provavelmente seria um
título mais acertado porque suas façanhas eram em grande parte militares. Depois que cada juiz
libertava o povo, governava até o final da sua vida.140
Quando Josué morreu, os israelitas entram em um período de administração indepen-
dente e tentam consolidar a pátria recém conquistada. Constantes invasões traziam um conflito
e servidão às tribos hebraicas. Do Nordeste vinham os invasores mesopotâmicos; do Sudeste

140 Comentário Bíblico Adventista, v. 2, p. 307.

95
os moabitas; do Leste midianitas; e do Sudoeste os filisteus.
Deus levantava o libertador ou juiz, que quebrava o jogo da escravidão imposta por outros
povos a Israel e este governava o povo até a sua morte.

Panorama da história
O povo de Deus lutou por sua existência em meio a diversas nações fixadas na Palestina.
Isso se deu sob a liderança dos chefes das tribos, depois dos juízes, e em seguida dos reis que
conseguiram estabelecer um reino respeitável e mantê-lo unido por pouco mais de um século.
Porém o reino se dividiu em dois rivais, ambos fracos demais para resistir às forças que os
pressionavam pelo controle da Palestina, a vital ponte terrestre entre as duas mais importantes
civilizações da antiguidade: Egito e Mesopotâmia. O reino do Norte de Israel foi, por fim, to-
mado pelos assírios e desapareceu por completo da história após a destruição de Samaria, em
722 a.C. O reino do Sul, Judá resistiu por quase um século e meio a mais, porém por fim su-
cumbiu aos babilônios. No entanto, o vigor religioso dos judeus preservou sua unidade nacional
mesmo durante o exílio. Em decorrência disto, Judá emergiu do cativeiro como povo forte e
unido.

RESUMO
A idolatria reinante nos povos de Canaã não deveria ser introduzida no meio do povo, pois a fidelidade
a outros deuses ofuscaria os planos que Deus tinha de, através de Israel, alcançar todas as demais nações.

96
CAPÍTULO 13

Rute, Davi e Salomão


Toda a narrativa bíblica do Grande Conflito pode ser dividida em 4 etapas: Criação, Queda, Redenção
e Restauração. Este capítulo detalhará ainda o plano da Redenção e está baseado em Rute e 1 e 2 Samuel.
Um resumo do que já vimos até aqui e do que virá pela frente em nosso estudo cronoló-
gico das Escrituras:
Eternidade
História da Bíblia – Grande Conflito
Criação Queda Redenção Restauração
AT NT
Patriarcas Moisés Juízes Reis Exílio Jesus Igreja
De Adão até Abraão Início de Is- 12 juí- Saul
rael como zes Davi
nação Salomão
...

É importante enfatizar que Israel teve uma conquista milagrosa por-


Israel teve uma con-
que Deus estava à frente desse povo para que pudessem herdar a terra e
cumprir a missão de Deus para com as demais nações. quista milagrosa por-
que Deus queria que
Declínio eles cumprissem a
As causas do declínio do povo na época dos juízes podem ser resu- missão.
midas em 3:
1) Nesse período os israelitas não seguiram exatamente as ordens de Deus, não expulsa-
ram completamente os cananeus, habitaram entre eles (Jz 1:21, 27, 29-33).
2) Israel logo caiu nos hábitos de ignorância e superstição dos pagãos que os cercavam.
Seis vezes, durante o período dos juízes Deus tentou despertar Seu povo quanto ao erro dos
caminhos que eles escolheram ao permitir que fossem subjugados pelas nações vizinhas. Mas

97
depois de cada livramento, eles voltavam a cair em indiferença e idolatria.141
3) Ler Juízes 2:10 – as novas gerações não conheciam ao Senhor e “cada um fazia o que
achava mais reto” (Jz 21:25)..

Rute
Nesse período dos juízes temos uma história entre parênteses para contar o relato de
Rute.
Rute é um pequeno livro escrito na época dos juízes que mostra de maneira simples o
casamento de Boaz com Rute, formando assim a família de Davi. Boaz > Obede > Jessé >
Davi.
Rute 4:17 – “pai de Davi” – Com estas palavras, o autor chega ao clímax da história,
justificando a razão por que a narrou.142
Se a nação judaica tivesse apreciado devidamente a lição do livro de Rute – de que Deus
não faz acepção de pessoas -, a atitude dos judeus em relação aos gentios teria disso completa-
mente diferente.143

Liderança
Durante a época dos 12 juízes, Israel era uma fusão livre de tribos fracas, sobrevivendo a
duras penas na Terra Prometida. A história de Israel até aqui pode ser resumida em:
Líder Moisés Josué Os 12 juízes Reis
Data 1.445 a 1.405 1.405 a 1.375 1.375 a 1.050 1.050 em diante
Duração 40 anos 30 anos 325 anos 480 anos

Quem foi Samuel?


Foi o último dos juízes de Israel. Foi também um dos maiores profetas e fundador da
escola dos profetas.
Samuel se dedicou a corrigir as tendências erradas do povo ao criar a “escola dos profe-
tas”.144 Fundou uma em Ramá (1 Sm 19:19-24), Gilgal (2Rs 4:38), Betel (2 Re 2:3) e Jericó (2 Re
2:15-22). Neste ambiente, jovens estudavam os princípios da leitura, escrita, música, lei e história
sagrada. Ocupavam-se de outros ofícios para aprender a se sustentar. Dedicavam-se ao serviço
de Deus e alguns deles eram empregados como conselheiros do rei.
Ler 1 Sm 8:1-9
Próximo ao fim de sua vida, Samuel foi chamado para estabelecer a monarquia. Depois
de debater com o povo, escreveu um livro sobre o “direito do reino” e o apresentou ao Senhor
(1 Sm 10:25).

141 Comentário Bíblico Adventista, v. 2, p. 475.

142 Comentário Bíblico Adventista, v. 2, p. 469.

143 Comentário Bíblico Adventista, v. 2, p. 469

144 Este termo não aparece no AT, mas os jovens que estudavam ali eram chamados de “filhos dos profetas”.

98
Alguns afirmam que Saul, o primeiro rei de Israel, era analfabeto e não se valeu da obra.145
A monarquia de Israel não deveria ser como das demais nações, pois era permeada de direitos
e deveres que foram designados para prevenir um estilo opressor de liderança e assegurar uma
monarquia constitucional.146

Saul
Saul então é escolhido como rei e reina por 40 anos. Saul e seu filho conseguiram impor-
tantes vitórias militares sobre os filisteus o que garantiu ao povo de Israel um período pacífico.
Saul combateu Moabe, Edom, Soba e os amalequitas. Mas a constante ameaça dos filisteus, os
desentendimentos entre as tribos e a imaturidade de Saul fadaram seu reinado ao fracasso. Saul
em sua arrogância usurpou funções sacerdotais e violou as leis de Moisés quanto aos aspectos
de guerra.
Dois anos depois de ser coroado ele foi rejeitado por Deus ao oferecer um sacrifício que
não era sua responsabilidade e aos poucos seu caráter instável foi sendo revelado.

Davi
Samuel então unge Davi, um homem segundo o coração de Deus (1Sm 13:14) para ser o
próximo rei de Israel. Isso ocorreu 38 anos antes de Saul morrer.
Durante este período Saul perseguiu Davi motivado por inveja. As orações de Davi pe-
dindo a Deus proteção estão registradas no livro dos Salmos.
Davi foi considerado um “mavioso salmista de Israel” (2Sm 23:1), além de ser poeta,
músico e principal organizador da música no templo.147

Salmos
O livro de Salmos é dividido em 5 partes, duas delas atribuídas a Davi.
a. Livro 1 – Sl 1 a 41 – orações de Davi em sua maioria quando fugia de Saul
b. Livro 2 – Sl 42 a 72
c. Ler Sl 72:20 – o último Salmo atribuído a Davi.
Esses salmos são canções e poesias que Davi escreveu quando estava fugindo de Saul e
em outros momentos importantes de sua vida.
Davi se torna rei após a morte de Saul. Ele subjugou seus inimigos e estendeu os limites
de Israel para o norte até praticamente o Eufrates e ao Sul até o Egito.
É interessante notar que era o propósito de Deus que o reino crescesse para que alcan-
çasse todas as nações. Davi estava cumprindo este ideal.
3 ações de Davi:
• ele derrota os inimigos (removendo a ameaça de idolatria)

145 Comentário Bíblico Adventista, v. 2, p. 473

146 Joyce G. Baldwin, 1 and 2 Samuel: An Introduction and Commentary, vol. 8, Tyndale Old Testament Commentaries (Downers Grove, IL: InterVarsity Press,

1988), 101.
147 Bíblia de estudo Andrews, p. 692.

99
• promove a vida no templo (assegurando que o culto e o sacrifício sustentem a vida dos
israelitas)
• administra e faz vigorar a Torah (para que a vida do seu povo reflita a vontade de Deus
para a vida humana).
“Desse modo, Davi é chamado a mediar o governo de Deus como um mediador da ali-
ança e a manter a identidade e o chamado missionais de Israel a fim de quem possa ser uma
nação diante dos povos.”148
Em sua época, Israel havia crescido em território. Abaixo uma comparação entre o reino
de Saul, Davi e Salomão.

2 Samuel
O primeiro livro de Samuel registra a coroação de Saul, sua rejeição, a escolha de Davi,
os momentos de fuga e a morte de Saul. 2 Sm registra o glorioso reinado de Davi, primeiro em
Hebrom e depois em Jerusalém e conclui com a compra da eira de Araúna, na qual, mais tarde,
o templo seria edificado por Salomão. O livro também narra seus pecados de adultério e assas-
sinato e as consequências terríveis que eles tiveram sobre sua família e nação.
O livro de 1 e 2 Sm eram um só e fazia parte, junto com os dois livros de Reis, do conjunto
chamado “Livro dos Reinos”. A LXX dividiu o livro de Samuel em 2 e Reis em 2.

148 Michael Goheen, Igreja missional na Bílbia, p. 78.

100
Pecado de Davi
2 Sm 11 e 12 registram a história de Davi com Bate-Seba. Após o adultério, mentira e
assassinato, o profeta Natã se encontra com ele e o repreende. Após a confissão, Davi escreve
dois Salmos: 51 e 32 (este último é uma possibilidade devido ao contexto).149 Como consequên-
cia de seu pecado, o filho que teve com Bate-seba morre.150

Salomão
Davi tem outro filho de Bate-seba e lhe chama Salomão, cujo nome sig. “pacífico” (vem
da palavra heb. Shalom, paz).
Ele reina após a morte de Davi, constrói o templo e é reconhecido pela sabedoria. Em
seus primeiros anos como rei, escreve os livros de Provérbios (conselhos de sabedoria) e Can-
tares (poesia do amor). Após sua velhice escreve o livro de Eclesiastes que é uma visão realista
da vida.
Neste tempo Israel desfrutava de paz, prosperidade, riqueza e atraía a atenção de outros
povos.

Missional
O plano missional de Deus para Israel estava sendo cumprido. O plano missional de
Salomão guardou a aliança de Deus, construiu o templo e suas conquistas Deus para Israel estava
políticas e econômicas atraíram a visita de reis e rainhas de outras nações. sendo cumprido.
Israel alcançou o ápice da missão centrípeta de Deus, ou seja, de atrair outros
povos à Jerusalém para que conhecessem e adorassem o verdadeiro Senhor.151
Ler Sl 67152.
Muitos estrangeiros estavam vivendo em Israel, aproximadamente 150 mil (cf. 2 Cr. 2:17),
possivelmente atraídos pelas bênçãos dadas por Deus a Israel.
O Sl 72 é a oração de Davi por Salomão, onde ele diz que “todas as nações seriam aben-
çoadas através de Salomão e o chamariam abençoado” (v. 17) e que os reis distantes trariam
presentes e o serviriam (v. 10-11).
Salomão estabeleceu um relacionamento pessoal e nacional com Deus. Fazendo isso, eles
estavam se empoderando espiritualmente para atrair as nações como Moisés havia prometido
(Dt 4:5-8). 153

Templo de Salomão
O templo foi projetado para atrair não apenas o povo, mas estrangeiros também (2 Cr.
6:32). As asas de ouro dos querubins e 4 mil romãs de bronze (2Cr 3-4) era para chamar a

149 Comentário Bíblico Adventista, v. 2, p. 711.

150 Para entender este episódio, ler PP, cap. 71.

151 https://digitalcommons.andrews.edu/jams/vol4/iss1/4/

152 Este Salmo é conhecido como o salmo missional de Israel.

153 https://digitalcommons.andrews.edu/jams/vol4/iss1/4/

101
atenção à beleza do lugar e a justificativa para isso é que “o Templo que estou construindo será
grande, porque o nosso Deus é maior que todos os demais deuses” (2Cr 2:5).
Até mesmo a oração de dedicação do templo continha os elementos missionários de Is-
rael: Ler 2 Cr. 6:32-33
Quando ele termina a oração, fogo desce do céu e a glória enche o templo. Sua presença
deveria tornar Israel grande e atrair as nações para adorar Yahweh.
O dom da sabedoria trouxe embaixadores de “todos os reinos do Esta era a missão que
mundo” (1Re 4:34). Deus havia projetado
A visita da rainha de Sabá foi o ápice da missão de Israel. Ela viu com para Israel. Eles tra-
seus próprios olhos o que Deus estava fazendo por Israel e por meio deste riam todas as nações
povo. Ela foi atraída pela sabedoria de Salomão, mas ela reconheceu que para que conhecessem
isso era resultado da benção de Yahweh e O adorou. e adorassem ao único
Esta era a missão que Deus havia projetado para Israel. Eles trariam Senhor.
todas as nações para que conhecessem e adorassem ao único Senhor.

RESUMO
Dos juízes aos reis de Israel, vemos o declínio do povo em seguir as instruções de Deus. As iniciativas de
Samuel, a fidelidade de Davi e a visão e obediência de Salomão trouxeram a Missão de Deus ao ápice, atraindo
a atenção dos demais povos e convertendo pagãos em adoradores do verdadeiro Deus.

102
CAPÍTULO 14

Salmos
Toda a narrativa bíblica do Grande Conflito pode ser dividida em 4 etapas: Criação, Queda, Redenção
e Restauração. Este capítulo detalhará ainda o plano da Redenção e está baseado em Salmos.
O livro dos Salmos contém alguns dos assuntos mais inspiradores das Escrituras.154 É
mais frequentemente citado no Novo Testamento do que qualquer outro e é reverenciado pelos
cristãos até o tempo presente. Jó, Provérbios e Eclesiastes focalizam o conceito hebraico de
sabedoria (hokmāh), palavra que indica as tradições morais e intelectuais do antigo Israel. Uma
vez que a sabedoria de Israel pertencia ao contexto mais amplo do antigo Oriente Próximo,
encontramos na literatura bíblica sapiencial algumas semelhanças com os provérbios dos sábios
egípcios e mesopotâmicos.
O livro de Salmos e a literatura sapiencial da Bíblia são obra de vários autores. A coleção
foi provavelmente reunida em sua forma final no tempo de Esdras e de Neemias. Como esses
livros foram escritos em forma poética, o intérprete precisa tomar conhecimento das caracterís-
ticas da poesia hebraica.

O livro dos Salmos


O livro dos Salmos é uma coleção de orações e hinos hebraicos inspirados, setenta e três
dos quais são atribuídos ao rei Davi. Conquanto os Salmos primariamente contenham palavras
faladas para Deus ou acerca de Deus, eles são, ao mesmo tempo, palavras de Deus ao seu povo.
O foco dos textos está no relacionamento entre Deus e seus filhos.
Os Salmos, portanto, contêm hinos de louvor pelos grandes feitos de Deus, lamentos em
que o povo derrama o coração em tempos de angústia e orações pedindo a orientação e o auxílio
divinos na jornada da vida. Refletem a experiência de fé do povo de Deus antes da primeira
vinda de Cristo, mas não estão confinados ao tempo. Todos os salmos foram, e ainda são usados
em devoções privadas e em adoração pública. Desempenharam uma parte importante no ritual
do templo até a sua destruição em 70 d.C.
Sendo que há pouquíssimos vestígios do seu ambiente histórico, eles são, em certo

154 Esta
explicação é uma reprodução do livro Compreendendo as Escrituras, capítulo 10 (Lendo os Salmos e a literatura sapiencial) de Gerhard Pfandl e
Ángel M. Rodriguez.

103
sentido, universais. Falam para situações típicas humanas e, portanto, têm a capacidade de falar
aos seres humanos em qualquer época.
Sendo que os salmos são poemas – poemas musicais –, eles exigem cuidado especial
quando interpretados. Seu caráter poético não é óbvio na tradução, porque, em contraste com
a poesia ocidental, a poesia hebraica não tem rima. A maior parte da linguagem dos salmos é
intencionalmente emotiva; o intérprete, portanto, precisa ser cuidadoso em não buscar signifi-
cados especiais em cada palavra ou frase em que o autor não intentou nenhum. Além disso, por
ser a linguagem dos salmos grandemente metafórica, o intérprete deve procurar o desígnio das
metáforas e não se deter em seu significado literal. Os montes realmente não saltam como car-
neiros (Sl 114:4); nem deve o povo de Deus ser ou agir como ovelhas (Sl 23).

Poesia hebraica
Mais de um terço do Antigo Testamento é poesia. A maior parte dela aparece no livro de
Salmos, na literatura sapiencial (Jó, Provérbios, Eclesiastes), e nos livros proféticos. Isaías é es-
crito quase inteiramente em forma poética. Vários capítulos poéticos são também encontrados
nos livros históricos, por exemplo, Gênesis 49 e Números 23 e 24. Apenas sete livros do Antigo
Testamento não têm absolutamente nenhuma poesia (Levítico, Rute, Esdras, Neemias, Ester,
Ageu e Malaquias). Assim, é importante compreender a poesia hebraica a fim de interpretar
corretamente grandes porções do Antigo Testamento.
O estudo moderno da poesia hebraica se iniciou em 1753 com a publicação do livro do
Bispo Robert Lowth De Sacra Poesi Hebraeorum. Ele acreditava que a poesia hebraica tinha
uma métrica real, mas que era difícil reconhecer porque o conhecimento de como o hebraico
clássico era falado tinha se extinguido. Portanto, ele focalizou a principal característica da poesia
hebraica que rotulou de parallelismus membrorum (paralelismo de membros).

Paralelismo
O Bispo Lowth explicou paralelismo como segue:
“A correlação de um verso ou linha com outra, eu chamo de paralelismo. Quando uma
proposição é emitida, e uma segunda é acrescentada a ela, ou redigida por baixo dela, equiva-
lente, ou contrastada com ela em sentido, ou semelhante a ela na forma de construção gramati-
cal, estas eu chamo de linhas paralelas, e as palavras ou frases, respondendo uma à outra em
linhas cor- relativas, termos paralelos.”
Lowth distinguia entre três tipos básicos de paralelismo: sinônimo, antitético e sintético,
divisão ainda hoje em uso.

Acróstico
Vários salmos são compostos em uma forma acróstica em que a letra inicial de cada verso
ou série de versos segue a ordem do alfabeto hebraico. Desse modo, no Salmo 34 o primeiro
verso começa com a letra hebraica álefe, o segundo com a letra bete, o terceiro com a letra
guímel, etc.
Em Lamentações 3 não uma, mas três linhas são designadas para cada letra, isto é, todos
os primeiros três versos principiam com álefe, todos os próximos três versos começam com
bete, os próximos três com guímel, etc.
No Salmo 119, oito versos sempre têm início com a mesma letra hebraica, e sendo que o
número de letras hebraicas é 22, o salmo tem 176 versos. A forma acróstica pode ter sido um
auxílio para memorização.

104
Figuras de retórica
A poesia hebraica é rica no uso de imagens e figuras de retórica, mas é também muito
elíptica, isto é, larga substantivos e versos em linhas paralelas e raramente usa conjunções (e,
mas), indicadores temporais (quando, então), ou conectores lógicos (assim, portanto).

(1) Figuras de comparação


Símile – Figura de retórica em que duas coisas essencialmente dessemelhantes são com-
paradas pelo uso de um “como” ou “tão”. Salmo 42:1: “Como suspira a corça pelas correntes
das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma.” O símile é a figura de retórica mais
facilmente reconhecível.
Metáfora – Em uma metáfora o escritor descreve uma coisa em função de outra. A com-
paração está meramente subentendida. Salmo 18:2: “O SENHOR é a minha rocha, a minha
cidadela, o meu libertador, o meu Deus, o meu rochedo em que me refugio; o meu escudo, a
força da minha salvação, o meu baluarte.” Deus era para Davi como a força da rocha e a cober-
tura de um escudo que lhe dava proteção contra seus inimigos.
Parábola – Um símile ampliado torna-se uma parábola. É uma história curta que ensina
uma lição por comparação. A parábola de Deus em Isaías 5:1-5 descreve seu desapontamento
com a vinha que produzia apenas uvas bravas. O principal ponto de comparação é reconhecido
no final da narrativa: “Porque a vinha do SENHOR dos Exércitos é a casa de Israel.”
Alegoria – Uma metáfora ampliada torna-se uma alegoria. Na alegoria de Provérbios
5:15-23, o ponto mais importante é fidelidade conjugal. “A comparação que aqui é extraída está
entre a prática de alguém beber água do seu próprio poço e a necessidade de ser fiel nas respon-
sabilidades conjugais e privilégios do matrimônio.”

(2) Figuras de plenitude de expressão


Paronomásia – Paronomásia é um jogo de palavras em que palavras com som seme-
lhante, mas não necessariamente significado similar, são repetidas. Por exemplo, Provérbios
11:18 diz: “O homem perverso faz trabalho ilusório (šāqer), mas o que semeia justiça terá uma
recompensa segura (seker)” [NKJV]. Os sons da palavra “ilusório” e “recompensa” (šāqer e
seker) são semelhantes, mas seu significado não é. Veja também a similaridade das palavras para
“angústia” (sārār) e “pequena” (sar) em Provérbios 24:10. Este efeito literário geralmente é per-
dido na tradução.
Hipérbole – Este é um exagero consciente, por exemplo, Salmo 78:27, “Também fez
chover sobre eles carne como poeira e voláteis como areia dos mares.” Este texto é parte de um
descritivo relato poético do milagre das codornizes. Para enfatizar os chuveiros de bênçãos de
Deus, o número de codornizes é comparado à areia do mar.

(3) Figuras de associação


Metonímia – Nesta figura de retórica uma ideia é evocada ou nomeada por meio de uma
palavra que se refere à mesma noção associada. Salmo 47:8, “Deus reina sobre as nações; Deus
se assenta no seu santo trono.” O trono de Deus está por seu reinado.
Sinédoque – Figura de retórica em que o todo pode ser posto por uma parte ou uma parte
pelo todo. Salmo 26:10, “em cujas mãos há crimes e cuja destra está cheia de subornos.” A
destra ou mão direita como parte do corpo está por toda a pessoa.
Quando lida com figuras de comparação, associação ou plenitude, o intérprete deve ser

105
cuidadoso para não pressioná-las além do que o autor pretendia original- mente. “As figuras de
retórica não são de tal modo exatas em seus significados como é a prosa. Contudo, o que falta
a essas figuras em precisão, é certamente compensado em sua ampliada capacidade de traçar
quadros para nós e dar uma vivacidade que a prosa ordinária não pode.”

Tipos de poesia hebraica


A poesia hebraica teve sua origem na vida das pessoas. Todavia, ela não era recreativa,
mas funcional. Desempenhava um papel importante na vida da nação israelita, principalmente
em seu relacionamento com Deus. Portanto, as mensagens proféticas eram frequentemente da-
das em forma poética. Não somente eram mais facilmente lembradas, mas também eram mais
emotivas e poderosas em sua mensagem.
Cânticos de guerra – Os cânticos de guerra foram uma das mais antigas formas de poesia
(Jz 7:18, 20). Os mais conhecidos são os cânticos de vitória de Moisés (Êx 15:1-18) e Débora
(Jz 5). Geralmente enfatizavam arrebatadoramente o poder de Deus que derrotava o inimigo.
Cânticos de amor – O mais famoso cântico de amor das Escrituras é o livro Cantares
de Salomão. Outra expressão poética do amor humano encontra-se em Rute 1:16-17, em que
Rute profere algumas das mais memoráveis palavras de todas as Escrituras.
Lamentos – O lamento, um clamor angustiado a Deus, é a forma poética mais comum
dos salmos. Mais de sessenta salmos são lamentos individuais (Sl 3) ou lamentos coletivos (Sl
9). Geralmente, um lamento tem vários, ou todos os elementos seguintes: (a) A invocatória a
Deus – Salmo 22:1: “Deus meu, Deus meu.” (b) Uma descrição da angústia – Salmo 57:4:
“Acha-se a minha alma entre leões, ávidos de devorar os filhos dos homens; lanças e flechas são
os seus dentes.” (c) Apelo por livramento – Salmo 3:7: “Levanta-te, SENHOR! Salva-me, Deus
meu.” (d) Uma declaração de confiança em Deus – Salmo 28:7: “O SENHOR é a minha força
e o meu escudo; nele o meu coração confia.” (e) Confissão de pecado – Salmo 51:4: “Pequei
contra ti, contra ti somente, e fiz o que é mal perante os teus olhos.” (f ) Um voto para fazer
certas coisas – Salmo 61:5: “Pois ouviste, ó Deus, os meus votos.” (g) Uma conclusão, que pode
estar na forma de louvor ou ação de graças – Salmo 30:12: “SENHOR, Deus meu, graças te
darei para sempre.”
Hinos – Hinos, ou cânticos de louvor, eram usados no culto divino. Os estudiosos têm
identificado três tipos específicos de hinos em que Deus é louvado como: (a) Criador (Salmos
8, 19, 104, 148), (b) Protetor de Israel (66, 100, 111, 114), e (c) Senhor da História (33, 103, 105-
106, 135).7 Além disso, há hinos de ação de graças que expressam gratidão a Deus por sua
resposta a orações específicas (Salmos 18, 30, 32, 65, 67).
Salmos imprecatórios – São geralmente salmos de lamento em que o desejo de vindica-
ção do escritor, baseado no princípio da retribuição, a lex talionis [lei de talião], são especial-
mente notáveis (Salmos 12, 35, 52, 58-59, 69, 70, 83, 109, 137). Frequentemente, declarações
desses salmos são chocantes aos ouvidos modernos: “Feliz aquele que pegar teus filhos e es-
magá-los contra a pedra” (Sl 137:9). Todavia, é preciso lembrar que o pensamento por trás do
desejo de vingança é bíblico (Dt 32:35: “A mim me pertence a vingança”), mas como isso se
expressa é humano. “Uma parte da linguagem provém das maldições da aliança... Em outros
casos os conceitos e a fraseologia parecem ser tirados de alguma atividade punitiva divina contra
pecadores ao longo da história e apontar para isto.” A linguagem hiperbólica é comum em tais
passagens emocionais.

106
Diretrizes para a interpretação da poesia hebraica
A poesia requer uma abordagem hermenêutica diferente daquela usada em narrativa. A
narrativa traz informação e ensina por ilustração; a poesia dá lugar a uma expressão mais livre
de inspiração. Aqui estão algumas diretrizes básicas para a interpretação da poesia hebraica.
(1) Tome nota da forma do poema ou do hino – O elemento primário da poesia he-
braica é a forma de linhas paralelas conforme já indicadas.
(2) Agrupe as linhas paralelas – Sendo que o poeta está usando linguagem muito emo-
tiva e colorida, o intérprete deve caminhar numa linha frágil entre ler demasiado em linhas in-
dividuais e admitir sinonímia sempre que os pensamentos sejam similares. O contexto deve
indicar se as cláusulas são ou não sinônimas.
(3) Estude a linguagem metafórica – Na poesia hebraica, a linguagem figurativa é pre-
dominante e mais difícil de compreender do que a prosa. Jó 38 e Salmo 19 não visam ensinar
cosmologia hebraica; nem a declaração “Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o
socorro?” (Sl 121:1) significa que Deus vive nos montes. Contudo, o ambiente para tais imagens
adiciona riqueza e profundidade à compreensão destas passagens.
(4) Onde for possível, note o ambiente histórico do texto – No livro de Salmos, os
títulos de catorze salmos (3, 7, 18, 30, 34, 51, 52, 54, 56, 57, 59, 60, 63, 142) proveem algumas
referências históricas. Conquanto os eruditos tenham debatido a autenticidade desses títulos, há
pouco motivo para duvidar da fidedignidade básica dos mesmos, embora não sejam necessari-
amente inspirados. Os comentários e dicionários são úteis na elucidação dos antecedentes des-
ses salmos.
(5) Estude os textos poéticos em função de seu tipo e posição básica – Um salmo
imprecatório precisa ser estudado diferentemente de um salmo de louvor. As declarações acerca
do relacionamento de Deus com seu povo em Provérbios e Eclesiastes diferem de tipo para
tipo (provérbios, frases dialéticas ou experienciais, etc.), e a aplicabilidade às presentes circuns-
tâncias muda de um caso para outro.
(6) Estude as passagens poéticas como um todo antes de tirar conclusões – Depois
de notar a estrutura básica de um poema e estudar os detalhes, o intérprete precisa tomar nota
de toda a passagem antes de explicar o seu significado.
(7) Estude os salmos messiânicos em função do seu significado histórico – Par-
tindo da perspectiva dos escritores do Novo Testamento, muitos salmos foram interpretados
como salmos messiânicos; suas palavras foram citadas com referência específica a Jesus (Salmos
2, 22, 110). Todavia, no antigo Israel, com exceção do Salmo 110, esses salmos não eram vistos
como se referindo diretamente ao Messias; eles tinham um significado histórico no tempo em
que foram escritos. Esses salmos, portanto, devem primeiro ser estudados para determinar o
significado original pretendido pelo autor antes de serem aplicados ao Messias. Contudo, além
do significado histórico, eles “proveem indicadores verbais que identificam a natureza tipológica
desses salmos.” No Salmo 22, por exemplo, muitos aspectos transcendem de longe as reais
experiências de Davi. Eles podem ser compreendidos plenamente apenas no contexto do sofri-
mento de Jesus.
Na interpretação das porções poéticas das Escrituras, a palavra final não deve ser técnica,
mas devocional, apresentando aos ouvintes as maravilhas do trato de Deus com o homem e sua
graça no plano da redenção.

107
Missão
“A adoração dos salmos lembra Israel da perspectiva universal de seu chamado - em favor
de todas as nações. É desse ângulo universal que W. Creighton Marlowe fala dos salmos como
“música de missões” e Mark Boda fala deles como uma “coleção missional”. George Peters
enumera mais de 175 referências universais às nações do mundo. Talvez a mais clara dessas
referências seja o salmo 67[...] O salmo 67 revela que a eleição não significa que Deus tem seus
favoritos, mas simplesmente que ele escolheu um canal de benção para todos. Eleição tem haver
com seus meios de estender a benção a todos.
O Saltério está repleto de imagens que guiam Israel em direção às nações:
• há exortações para cantar sobre os feitos poderosos de Deus entre as nações (Sl 9:11,
18:49, 96:2-3, 105:1)
• os salmistas levam Israel a responder às exortações com um compromisso pessoal de
cantar entre as nações (Sl 18:49, 57:9, 108:3)
• há muitas convocações das nações para louvar a Deus (Sl 47:1, 66:8, 67:3, 96:7-10, 100:1,
117:1)
• e há promessas de um futuro em que as nações se unirão a Israel no louvor do Senhor (Sl
22:27, 66:4, 86:9).”155

RESUMO
A linda poesia dos Salmos nos lembra do relacionamento do povo com Deus, seus deveres como embaixa-
dores e seu papel missional. Os salmistas tornam claro o propósito universal de Deus para o povo de Israel.

155 Michael Goheen, A Igreja missional na Bílbia, p. 81-2.

108
CAPÍTULO 15

Reis e Exílio
Toda a narrativa bíblica do Grande Conflito pode ser dividida em 4 etapas: Criação, Queda, Redenção
e Restauração. Este capítulo detalhará ainda o plano da Redenção e está baseado em Rute e 1 e 2 Samuel.
Vimos no capítulo anterior que Israel alcançou seu ápice quando Salomão construiu o
templo e atraiu muitos povos e nações para Jerusalém. A visita da rainha de Sabá foi o momento
mais importante da missão de Israel diante das nações. Após a visita ela adorou ao Senhor (2 Cr
9:8). O grande objetivo da missão de Israel era levar os demais povos
a adorar o verdadeiro Deus. O grande objetivo da
A nova instituição da monarquia permitiria a Israel a independência missão de Israel era le-
e o espaço necessários para que ele mesmo se moldasse em um povo que var os demais povos a
refletisse a estrutura social desejada por Deus. adorar o verdadeiro
Israel agora tinha a oportunidade de fazer com que a vontade de Deus.
Deus tivesse efeito sobre todas as áreas da vida: social, política, econômica,
legal e religiosa. 156

Motivos da queda de Salomão


Salomão começou sendo um bom rei, humilde diante do Senhor, desejoso de seguir a
vontade de Deus. Posteriormente, porém, se afastou dEle, passou a amar a luxúria e deixou
de exercer controle sobre seus excessos.
Ele demorou 7 anos para terminar a obra do templo do Senhor, mas quase o dobro do
tempo para construir e decorar seu palácio real. Parecia obcecado com a ambição de superar
todos os seres humanos que haviam vivido antes dele.
1Re 11:3 - Ele também demonstrou extravagância na vida pessoal. Ele colecionou cen-
tenas de esposas e concubinas, muitas delas, estrangeiras. Construiu altares para os deuses
que as esposas estrangeiras adoravam.
Na segunda metade do seu reinado, falhou em manter Deus no centro de sua vida. Em
vez disso, confiou no próprio poder e em suas habilidades, por vezes, à custa dos outros.
Para financiar seus custosos projetos de construção, introduziu um sistema nacional de

156 Michael Goheen, Igreja missional na Bíblia, p. 78.

109
impostos, parte dele paga na forma de trabalhos forçados.

Divisão do Reino
Após sua morte houve uma disputa entre o filho Roboão e Jeroboão que acabou divi-
dindo o reino em duas partes.
As 10 tribos do norte mantiveram o nome Israel e sua capital foi Samaria e as 2 tribos do
sul foram chamadas pelo nome da tribo mais influente, Judá e a capital foi Jerusalém.
Abaixo vemos como ficou a divisão do reino:

110
O período dos reis cobre aproximadamente 480 anos de história. Como consequência
dos pecados de Salomão, a nação se dividiu em dois reinos. Cada um dos reinos tinha seus reis
que foram:

Obs.: Os retângulos de cor branca repre-


sentam os reis que foram bons, os de cor
cinza os que foram razoáveis e os de cor
escura que foram ruins. O tamanho dos
retângulos é equivalente ao tempo de
reinado.
Reino dividido
Israel (norte). O primeiro rei de Israel foi Jeroboão, em 930 a.C; e o último Rei foi
Oséias, em 722 a.C.
Os Assírios começaram a conquista de Israel em 722 a.C., conduzindo ao exílio dos isra-
elitas do Reino do Norte, alguns anos depois. Os israelitas ficaram conhecidos como as “tribos
perdidas”.
Judá (sul). No sul, a autonomia durou um pouco mais; o primeiro rei foi Roboão e o
último foi Zedequias, cujo reinado terminou em 586 a.C., com a destruição do Templo e a queda

111
de Jerusalém.

Propósito
Tinha algum propósito de Deus nesta divisão dos reinos? Essa divisão, embora trágica,
serviu para isolar durante algum tempo o reino do sul, Judá, da maré de idolatria que logo inun-
dou o reino do norte, Israel (Os 4:17).157

Dois grandes pecados


Ler 2 Reis 17:7-23. Aqui está descrito o motivo da queda de Israel.
Israel é caracterizado neste período como cometendo os dois piores pecados: idolatria e
injustiça social.
O primeiro pecado foi a adoração a ídolos. Eles começaram a servir aos deuses dos povos
cuja terra haviam desapropriado.
Outro pecado era de tirar vantagens injustas dos compatriotas israelitas. Um exemplo é a
história de Acabe e Jezabel que assassinaram Nabote. A idolatria leva à opressão e à injustiça
social. Desrespeitar os primeiros 4 mandamentos prejudica o relacionamento com o próximo
(últimos 6). Israel se esqueceu disso.

Cativeiro/Exílio
Deus havia advertido o povo de que o cativeiro seria o resultado da desobediência (cf. Dt
4:9, 8:19, 28:1, 2, 14, 18; Jr 18:7-10, 26:2-6, Zc 6:15).158
Israel. Apesar dos corajosos e fervorosos esforços de profetas como Elias, Eliseu, Amós
e Oseias, o reino do norte rapidamente se deteriorou e foi consequentemente levado para o
cativeiro assírio em 722 a.C. Samaria foi habitada por outros povos que não eram judeus e mais
tarde os habitantes sofreriam rejeição por parte dos judeus (história da mulher samaritana).
Judá. Jr 25:8-13 - Se Judá tivesse permanecido fiel a Deus, não teria sido necessário o
cativeiro babilônico (PR, 564). Era desígnio de Deus que a experiência de Israel servisse
de advertência a Judá (Os 1:7, 4:15-17, 11:12, Jr 3:3-12).
Depois de mais de 480 anos de reinado e infidelidade, o povo de Judá também foi ao
cativeiro em 586. Jerusalém foi destruída, o templo ficou em ruínas e todos os moradores das
cidades de Judá foram mortos ou levados para Babilônia. É neste contexto que foi escrito o Sl
137.

RESUMO
Os profetas são incapazes de deter a correnteza da rebelião de Israel, que por fim, leva ao juízo de Deus
e exílio. Parece que nesse ponto há história de Israel o propósito de Deus de levar bênção às nações por meio de
seu povo caiu por terra. Mas, mesmo nessa situação Deus não desiste de Israel: a identidade e o papel missionais
do povo assumem uma nova forma, uma vez que Israel foi despojado de sua soberania nacional e agora precisa
aprender a viver como uma pequena minoria em meio às culturas pagãs.

157 Comentário Bíblico Adventista, v. 4, p. 18.

158 idem

112
CAPÍTULO 16

Profetas
Toda a narrativa bíblica do Grande Conflito pode ser dividida em 4 etapas: Criação, Queda, Redenção
e Restauração. Este capítulo detalhará ainda o plano da Redenção e está baseado em todos os profetas do AT.

Profetas
Em todo o tempo Deus levantou diversos profetas que funcionavam como emissários do
Senhor, enviados do tribunal do Deus da aliança. Eles chamavam o povo de volta para o Senhor.
Por meio dos profetas, Deus dava vitórias a Israel sobre seus inimigos e mostrava que é Senhor
de todas as nações e molda o destino delas.

Qual seria o grande papel dos profetas? Como entender as profecias do AT?
A tarefa inicial dos profetas era relembrar ao povo sobre a aliança e identidade deles. Cada
um dos profetas viveu em um período da história e alertou o povo da sua época.
“A preocupação central dos profetas era comunicar a Israel o que significava ser Israel.”159
“Eles se pronunciavam contra a infidelidade de Israel conforme ela se revela nas diversas
dimensões de sua vida, no culto hipócrita, no desrespeito à observância
do sábado, no culto insensato a ídolos, na afluência em meio à extrema Os profetas exortam
pobreza, na injustiça e opressão para com os pobres e nos maus tratos constantemente o
infligidos aos fracos.”160
povo a voltar ao seu
Jeremias diz que se o povo de Israel voltar para Deus e afastar-se
chamado missional de
da idolatria e viver de maneira honesta, justa e correta, o Senhor trará
ser uma luz para as na-
benção às nações:
ções.
Ler Jr 4:1, 2. Aqui a lógica de toda a frase é notável: “A missão
de Deus para com as nações está sendo impedida por causa do constante
fracasso espiritual e ético de Israel. Que Israel retorne à sua missão (de ser o povo de Yahweh,
adorando-o exclusivamente e vivendo de acordo com suas exigências morais), e Deus poderá

159 Walter Brueggemann, Tradition for Crisis: a study in Hosea, p. 25

160 Michael Gohee, Igreja missional na Bíblia, p. 82

113
voltar à missão dele – abençoar as nações.”161

Entendendo as profecias do AT
Há três importantes categorias de profecias preditivas no Antigo Testamento (fora de
Daniel):
(1) profecias messiânicas;
(2) oráculos contra as nações estrangeiras;
(3) e promessas/profecias do reino centralizadas na aliança dada a Israel como uma enti-
dade geopolítica, inclusive profecias do fim do tempo envolvendo a luta final e mundial entre
Israel e seus inimigos.

Por que Daniel fica de fora?


A diferença entre as profecias preditivas do Antigo Testamento com as de Daniel podem
ser vistas nesta tabela. As de Daniel são chamadas de apocalípticas. As dos demais profetas são
chamadas de clássicas ou gerais. Tanto a profecia clássica quanto a profecia apocalíptica envol-
vem regras hermenêuticas específicas de interpretação que surgem de um exame da evidência
bíblica.
Dois gêneros de profecia preditiva no Antigo Testamento
Profecia geral (clássica) Profecia Apocalíptica
1. Enfoque primário: local/nacional 1. Enfoque primário: extensão universal da história, com
ênfase no fim do tempo
2. Escatologia: dentro da história (nacional, ge- 2. Escatologia: vem de fora da história (final, universal)
opolítica, étnica)
3. Alguns contrastes 3. Notáveis contrastes (dualismo):
• temporais (era presente/era vindoura)
• espaciais (terrestre/celestial)
• éticos (justos/ímpios)
4. Simbolismo limitado com imagens reais 4. Simbolismo profuso, complexo
5. Base: “Palavra do Senhor” (mais algumas vi- 5. Base: visões/sonhos, anjo intérprete
sões)
6. Condicionalidade (dois possíveis cenários 6. Determinismo (o curso real dos eventos humanos, con-
são delineados para a própria geração do pro- forme moldados pela mão divina na história e reconheci-
feta: o caminho da bênção ou da maldição, de- dos pela presciência divina das escolhas humanas é anun-
pendendo da reação do povo ao concerto), em- ciado e selado para ser revelado à geração do tempo do
bora seja certo um cumprimento final das pro- fim), com um resultado final positivo para o povo de Deus
messas do concerto ou aliança para o povo de
Deus

161 C. J. H. Wright, Mission of God, p. 241.

114
7. “Telescopia” profética; frequentemente o 7. Visões apresentam a extensão plena da história, desde o
profeta salta da crise local, contemporânea, tempo do profeta até o fim do tempo, com uma lacuna en-
para o escatológico Dia do Senhor (por exem- tre o cenário local e o fim ou entre os estágios do cumpri-
plo, Joel 2-3) de um pico do cumprimento pre- mento profético.
ditivo último para outro, sem referência ao vale
no meio deles

Profecias messiânicas
Um exame cuidadoso da estrutura literária do Pentateuco e do Antigo Testamento, como
um todo, revela que todo o Antigo Testamento está de fato centralizado no aparecimento e na
obra do Messias nos últimos dias.
Como uma indicação do impulso messiânico de todo o Antigo Testamento, o profeta
(provavelmente Esdras) que, sob inspiração, organizou a ordem hebraica do cânon em três
grandes seções – Torah (Pentateuco), Profetas e Escritos – colocou na introdução e conclusão
de cada uma destas seções uma passagem profética que aponta para a vinda do Messias nos
últimos dias.162 Esta é a ordem dos livros na Bíblia hebraica.

ANTIGO TESTAMENTO
Torah (pentateuco Profetas Escritos
Gn 3:15 Dt 33 Josué Malaquias Salmos 1 e 2 2 Crônicas 36
Primeira profe- 33:8-10, que é apre- os capítulos 3 e 4, que a introdução bi- que prediz a
cia messiânica 13-17 sentado predizem a vinda do partite do Salté- vinda de Ciro,
como um messiânico “Mensa- rio prediz a que é apresen-
tipo do Mes- geiro da Aliança” no vinda do Rei tado como um
sias tempo do grande e ter- messiânico tipo do Messias
rível Dia do SENHOR”

Este modelo de passagens messiânicas escatológicas, colocadas na “costura” ou “sutura”


do cânon hebraico, torna evidente o excessivo impulso messiânico de todo o Antigo Testa-
mento. Jesus sumariou muito bem a mensagem das Escrituras do Antigo Testamento: “Exami-
nais as Escrituras [Antigo Testamento] ... e são elas mesmas que testificam de mim” (Jo 5:39)!

Oráculos contra as nações estrangeiras


Numerosos oráculos concernentes às nações estrangeiras tratam de seus crimes e as san-
ções divinas contra elas (Nm 24:17-24; Is 13–24; Jr 46–51; Ez 25–32; Am 1–2).
Em alguns casos, livros inteiros da Bíblia têm seu enfoque sobre os pecados e a punição
de nações estrangeiras (por exemplo, a Assíria nos livros de Jonas e Naum, e Edom no livro de
Obadias).
Conquanto as nações não-israelitas sejam o “campo missionário” para o qual Israel é cha-
mado a levar a mensagem de salvação, essas nações, principalmente as que mantêm uma atitude

162 Compreendendo as escrituras, p. 189.

115
hostil para com Israel e o Deus de Israel, são consideradas como ímpias e inimigas (Êx 15:9; Sl
9:5 [Hb 6]; 59:5 [6]; 106:41-42).163
As predições concernentes às nações devem ser vistas à luz do princípio geral de condi-
cionalidade. Se eles se arrependessem, Deus não os castigaria. E caso voltassem aos seus erros,
a punição seria certa.
Um exemplo é Nínive. Jonas pregou e a cidade se arrependeu. 100 anos depois o profeta
Naum denuncia os erros da cidade e anuncia a irrevogável sentença de Deus.

Promessas/profecias do reino relativas a Israel


Deus tinha uma mis-
Deus tinha uma missão para Israel e os profetas falam muito acerca
são para Israel e os
disso.
profetas falam muito
Enquanto Israel permanecesse lealmente obediente a Deus na Terra
Prometida, as bênçãos da aliança seriam derramadas sobre ele (Dt 28:1-14; acerca disso.
cf. Lv 26:1-13).
Eles seriam pessoas tão saudáveis (Dt 7:15; cf. Êx 15:26), felizes (Dt 28:2-8), santas (28:9),
sábias (4:6, 7), moralmente iluminadas (4:8) e prósperas (28:6, 7; cf. Lv 26:4, 5, 10), que se tor-
nariam a cabeça e não a cauda (Dt 28:13) acima de todas as nações da Terra “em louvor, renome
e glória” (Dt 26:19). Todas as pessoas de outras nações veriam que eles eram chamados pelo
nome do Senhor (28:10).
Os profetas do Antigo Testamento (mais notavelmente Isaías, o profeta evangélico) in-
tensificaram a visão do vasto programa de Deus para um Israel penitente e fiel depois do exílio
babilônico. É um plano glorioso! Ao reunir-se o povo de Israel e voltar para a Terra Prometida,
Deus os perdoa e os purifica dos seus pecados e dá-lhes um coração novo, põe neles o seu
Espírito, e os faz andar em seus estatutos (Ez 36:24-28; cf. Jr 31:31-34). As cidades em ruína
são reconstruídas e a terra de Israel é renovada como o Éden (Is 44:24-28; Ez 36:33-35), levando
as outras nações a saber que Yahweh fez isto por eles (Ez 36:22, 36). Ao Israel servir lealmente
a Deus e receber as concomitantes bênçãos da aliança, todas as nações vêem sua justiça e glória
e o chamam de bem-aventurado (Is 61:9; Ml 3:12); Jerusalém torna-se um louvor e uma glória
diante de todas as nações (Jr 33:9).
Como resultado, as nações veem à luz (Is 60:3)! Elas estão reunidas, elas fluem, sim, elas
correm para Jerusalém (Is 66:18-20; cf. 2:2) para buscar ao Senhor (Zc 8:20-23) e se congregar
a Ele (Is 56:7-8; Zc 2:11). Nação após nação sobe à casa do Senhor – que é chamada “casa de
oração para todos os povos” (Is 56:7) – para buscar instrução em seus caminhos e servi-lo
“ombro a ombro” (Is 2:3; Mq 4:2). Os portais de Jerusalém estão abertos continuamente para
receber a riqueza de outras nações, contribuindo para produzir a conversão de ainda outras
nações (Is 60:1-11; cf. 45:14; Ag 2:7). Finalmente, “todas as nações” são reunidas em Jerusalém
e chamam-na de “trono do SENHOR” (Jr 3:17). Aqueles estrangeiros de outras nações que “se
chegam ao Senhor”, isto é, prestam obediência a Yahweh e abraçam a sua aliança com Israel
são considerados como sendo plenamente parte da comunidade da aliança de Israel (Is 56:1-8;
Ez 47:22-23).
Assim, Israel, em cooperação com os poderes do Céu, prepara o caminho para a vinda

163 Compreendendo as escrituras, p. 190.

116
do Messias. O Messias vem, e como o Israelita Representativo (Is 42–53), recapitula a história
de Israel em sua própria vida (Mt 1–5), trazendo salvação. Ele é geralmente aceito como o
Messias pelo povo de Israel. Embora Ele seja ainda traído por alguns dos seus supostos amigos
(Zc 13:6) e seja entregue para morrer pelos pecados do mundo (veja, por exemplo, Is 53), a
maioria de Israel, inclusive sua liderança, o aceita; e depois da sua ressurreição (imediatamente
ou eventualmente depois de um intervalo no tempo, Ele volta para o Céu, a regulação do tempo
não está clara), Ele assume o trono de Davi e reina para sempre sobre um reino de Israel reunido
(Ez 37:22-25; Is 9:6-7).
O santuário e a cidade de Jerusalém, agora reconstruídos, também permanecem para sem-
pre (Jr 17:24-25; Ez 37:26). À medida que as nações aceitam o Senhor e o seu Messias, Israel
estende suas fronteiras (Am 9:12), até que seu domínio abrange o mundo (Is 27:6; Zc 9:10).
Dessa forma, a “Terra Prometida” para Israel se expande para além das fronteiras de Canaã,
incluindo a terra inteira.
Segundo o cenário universal e do fim do tempo predito por essas
As profecias eram con-
passagens, remanescentes da oposição de outras nações do mundo
contra Israel e o Deus de Israel lançam um ataque final contra Jerusa- dicionadas à fideli-
lém. Durante o cerco de Jerusalém, os israelitas réprobos são mortos dade de Israel e, por
por seus inimigos (Zc 13:8; 14:2). Então Deus convoca as nações re- falharem em cumprir,
beldes para juízo, e elas são eliminadas pelo Senhor na batalha escato- elas foram transferidas
lógica final (Zc 14; Ez 38–39). Deus ressuscita os justos mortos e aplica à igreja e ao fim dos
o toque final da imortalidade sobre os vivos (Is 25:8; 26:19). Os ímpios tempos.
também são ressuscitados, julgados e (depois de um período de tempo
[o milênio?]: Is 24:27) punidos, terminando em destruição eterna (Is 24:20-23). Deus então re-
cria novos céus e uma nova terra, além de recriar “para Jerusalém alegria e para o seu povo,
regozijo” (Is 65:17-18). O mundo torna-se o Éden restaurado, e o universal e eterno reino do
Senhor é introduzido (Zc 14; Is 24–27; 35; 51:3). “E será que, de uma Festa da Lua Nova à
outra e de um sábado a outro, virá toda a carne a adorar perante mim, diz o SENHOR” (Is
66:17). Pecado e pecadores são totalmente derrotados, e o mal nunca mais se levantará outra
vez (Is 66:24; cf. Na 1:9).164
Obviamente as profecias eram condicionadas à fidelidade de Israel e, por falharem em
cumprir, elas foram transferidas à igreja e ao fim dos tempos.

RESUMO
Havia duas grandes tentações para o povo de Israel: se isolar das demais nações OU se identificar com as
nações vizinhas de tal forma que nada os diferenciava. O exílio mostrou ao povo que eles haviam caído nas duas
tentações ao longo da história e que agora deveriam se voltar para que Deus recomeçasse seu propósito com um
pequeno povo.

164 Compreendendo as escrituras, p. 190.

117
118
CAPÍTULO 17

Daniel
Toda a narrativa bíblica do Grande Conflito pode ser dividida em 4 etapas: Criação, Queda, Redenção
e Restauração. Este capítulo detalhará ainda o plano da Redenção e está baseado em Daniel de 1 a 7.
A opinião tradicional, tanto de judeus como de cristãos, é que o livro de Daniel foi escrito
por volta do ano 600 a.C., período em que Daniel esteve como prisioneiro no grande império
de Babilônia.
Há algumas evidências para acreditarmos que Daniel tenha escrito o livro que leva seu
nome. Primeiro, ele usa a primeira pessoa do singular ao escrever. Segundo, somente alguém
que tenha vivido no VI Século a.C. podia conhecer detalhes como os contidos no livro. Por fim,
se o próprio Cristo afirma que Daniel foi o autor, então, não há razão para duvidar.
Quando Nabucodonosor invadiu pela primeira vez a cidade de Jerusalém em 605 A.C, ele
levou cativos para Babilônia, vários jovens da linhagem real e que pertenciam à nobreza de
Israel. Entre esses estavam Daniel e seus três amigos, Hananias, Misael e Azarias.
NOME SIGNIFICADO
Daniel: “Deus é meu juiz”
Beltessasar: “Bel proteja sua vida (a do rei)”
Hananias: “o Senhor é bondoso comigo”
Sadraque: “inspiração ao deus sol”
Misael: “semelhante a Deus”
Mesaque: “servo da deusa Sheba”
Azarias: “o Senhor é meu ajudador”
Abede-Nego: “o servo de Nebo”

Últimos dias
Dn 2:28; 10:14 - A mensagem de Deus foi clara. Uma parte de seu livro referia-se aos dias
ainda muito distantes, período também mencionado na Bíblia como “últimos dias” (2 Timóteo
3:1; 2 Pedro 3:3). Estas profecias requerem especial atenção, pois se destinam especificamente
ao tempo em que vivemos.

119
Daniel 2
Sonho
Dn 2:1 - De acordo com estudiosos, o segundo ano do reinado de Nabucodonosor foi o
ano 603 a.C. A Bíblia declara que ele ficou profundamente perturbado por um sonho e perdeu
o sono. Mandou chamar todos os sábios e encatadores para interpretarem o sonho, porém eles
não puderam. Os sábios então tiveram que reconhecer: “Não há mortal sobre a terra que possa
revelar o que o rei exige... ninguém há que a possa revelar diante do rei, senão os deuses, e estes
não moram com os homens” (Daniel 2:10, 11).
O rei ordena que todos os sábios deveriam ser mortos, inclusive Daniel, pois o decreto
de morte englobava a “todos os sábios” (Daniel 2:12). “Então foi revelado o mistério a Daniel
numa visão de noite” (Daniel 2:19). Daniel reconheceu, então, que há um Deus que está no
controle da história.

Estátua
O sonho apresentava uma grande e assustadora estátua, cujas partes estavam divididas em
materiais diferentes entre si.

Cabeça de ouro (2:37, 38)


Babilônia 605 a 539 a.C.

Peito e braços de prata (2:39)


Medo Pérsia 539 a 331 a.C.

Ventre e quadris de bronze (2:39)


Grécia 331 a 168 a.C.

Pernas de ferro (2:40)


Roma 168 a.C. a 476 d.C.

Pés de ferro e barro (2:41-43)


Roma Dividida 476 d.C. até hoje (Europa)

Pedra (2:44, 45)


Volta de Jesus

Dn 2:34, 35 - Em seu sonho, Nabucodonosor viu uma grande pedra cortada sem auxílio
de mãos que atingiu os pés da estátua e a destruiu completamente. Em seguida, a pedra trans-
formou-se numa grande montanha que encheu toda a Terra.
2:36-45 - A história secular é a melhor intérprete da profecia bíblica. Daniel disse clara-
mente que Nabucodonosor, representante do império babilônico, era a cabeça de ouro da está-
tua. Babilônia dominou o mundo dos anos 605 a.C. até o ano 539 a.C..

120
Babilônia
O ouro era um simbolismo muito bem apropriado à Babilônia. Heródoto, considerado o
“pai da história”, descreve o resplendor do ouro nos templos sagrados da cidade assim: “Na
parte inferior do templo de Babilônia há outra capela, onde se vê uma grande estátua de ouro
representando Júpiter sentado. Ao lado, uma grande mesa de ouro. O trono e o escabelo são
do mesmo metal... Vê-se também, fora da capela, um altar de ouro... havia naquele templo, no
recinto sagrado, uma estátua de ouro maciço de 12 côvados de altura”. (Heródoto. História, vol.
1, pp. 91, 92). O profeta Jeremias compara Babilônia com uma taça de ouro nas mãos do Senhor
(Jeremias 51:7).

Medo-Pérsia
O reino que sucedeu Babilônia foi a Medo-Pérsia, liderada pelo grande Ciro (Isaías 45:1),
e prefigurada no sonho pelo peito e braços de prata. A história da queda de Babilônia está
registrada no Cilindro de Ciro, de propriedade do Museu Britânico. O cilindro de Ciro é dividido
em vários fragmentos e registra uma declaração em escrita cuneiforme acadiana, em nome do
rei Aquemênida da Pérsia, Ciro, o Grande. Nas linhas 15 a 21 do cilindro aparecem trechos
dando a genealogia de Ciro, o Grande, e relatando a sua captura da Babilônia em 539 a.C.. Revela
a queda de Nabonido, rei da Babilônia, e exalta os esforços de Ciro para repatriar os povos
deslocados e restaurar templos e santuários religiosos pela Mesopotâmia e em outros lugares na
região. A Medo-Pérsia dominou o mundo dos anos 539 a.C. até 331 a.C..

Grécia
O terceiro reino, após a Medo-Pérsia, foi a Grécia de Alexandre, o Grande (331 a.C. a
168 a.C.). Este império está representado na estátua pelo ventre e quadris de bronze. Alexandre
travou três batalhas até vencer Dario III, rei da Medo-Pérsia. A primeira foi a batalha de Grâ-
nico, no ano 334 a.C., a segunda foi a de Issos, no ano 333 a.C. e a última, no ano 331 a.C., foi
a batalha de Arbela ou Gaugamela. Assim o ano 331 a.C. assinala o fim do império Medo-Persa
e o início do domínio de Alexandre, o Grande.

Roma
O quarto reino mundial, representado na estátua pelas pernas de ferro e os pés de ferro e
barro, foi a Roma dos Césares (168 a.C. a 476 d.C.). Jesus nasceu e morreu sob a jurisdição de
Roma. Dez tribos finalmente provocaram a queda do império romano do ocidente em 476 d.C.,
sendo Rômulo Augusto, seu último imperador. O desenvolvimento das tribos bárbaras resultou
nas modernas nações europeias.

Europa
Os pés da estátua eram uma mistura de ferro e barro. Esse simbolismo fala de um reino
dividido. Chegamos então aos dias das modernas nações da Europa que nunca mais foram uni-
ficadas.

O Clímax do sonho
Daniel disse que “nos dias destes reis”, os atuais países da Europa, “o Deus do céu susci-
tará um reino que não será jamais destruído” (Daniel 2:44). Este reino á representado no sonho
por uma PEDRA, que foi cortada sem auxílio de mãos, e destruiu toda a estátua. A pedra re-
presenta Cristo (Isaías 28:16; 1 Coríntios 10:4; Lucas 20:17,18), e encontra seu cumprimento em

121
Sua gloriosa vinda, quando dará fim aos reinos terrestres e estabelecerá Seu reino eterno, que
jamais terá fim (Mateus 24:30; João 14:1-3; Apocalipse 1:7).
Martinho Lutero, o grande reformador do século XVI, também sustentava a visão que de
Roma estava representada na estátua pelas pernas, pés e artelhos. Roma fora dividida nas mo-
dernas nações da Europa e que a pedra representava o reino de Cristo a ser estabelecido em Sua
segunda vinda.

Daniel 3 a 6
O capítulo 3 narra a experiência dos 3 amigos de Daniel ao serem fiéis a Deus e não se
curvarem diante da estátua de ouro que Nabucodonosor havia erigido para ser reconhecido
como um deus. Eles foram livrados da fornalha ardente, pois Deus havia prometido: “Quando
você atravessar as águas, eu estarei com você; e, quando você atravessar os rios, eles não o
encobrirão. Quando você andar através do fogo, você não se queimará; as chamas não o deixa-
rão em brasas.” Is 43:2.
O capítulo 4 conta o que aconteceu a Nabucodonosor e seus 7 anos de loucura vivendo
como um animal, para por fim reconhecer que somente Deus é soberano. O quarto capítulo é
claramente uma confissão de Nabucodonosor escrita na forma de carta, a qual Daniel incorpo-
rou ao seu livro. Através de uma proclamação real ele desejava que todos os homens da terra
soubessem de sua experiência com o Deus de Daniel (Daniel 4:1-2). Este decreto reflete o sen-
timento do rei quando suas faculdades mentais foram completamente restabelecidas depois de
sete anos de insanidade. Ele, que tinha sido um orgulhoso monarca, tornou-se um humilde filho
de Deus.
O capítulo 5 descreve as cenas da queda de Babilônia. Em uma noite, Belsazar promove
uma festa regada a orgias e a bebedeira. Ele ainda mandou que trouxessem os utensílios sagrados
usados no serviço do templo em Jerusalém para que neles bebessem vinho. No mesmo instante
em que Belsazar e seus súditos bebiam nos utensílios sagrados do templo, Deus agiu para punir
esse rei idólatra e displicente. Uma mão misteriosa apareceu no palácio e escreveu algumas pa-
lavras que encheram de temor a todos: MENE TEQUEL PARSIM.
O historiador Flavio Josefo explica cada expressão aramaica com seu significado: Mene,
isto é, "número”, significa que o número que Deus marcara aos anos de seu reinado se comple-
tariam e só lhe restaria pouquíssimo tempo de vida. Tequel, isto é, “peso”, significa que Deus o
havia pesado na Sua justa balança a duração de seu reinado e que ele teria o seu fim. Parsim ou
Peres quer dizer “fragmento” e “divisão”, significa que seu reino seria dividido entre os medos
e os persas.
Na mesma noite do banquete, o exército de Ciro invadiu Babilônia e tomou o reino.
Naquela noite, Belsazar morreu e Dario, o medo, se apoderou do reino (Daniel 5:30, 31). A
arqueologia tem demonstrado que este evento ocorreu na noite de 13 de outubro do ano 539
a.C.
O capítulo 6 evidencia o caráter de Daniel diante de Dario, que naquele momento go-
vernava a Medo-Pérsia. Dario confiava em Daniel e o colocou como principal administrador do
novo império e conselheiro do rei. Nele havia um "espírito excelente" (Daniel 6:3). Porém al-
guns príncipes questionaram a idoneidade de Daniel e buscaram uma brecha para acusa-lo.
Como não havia nenhuma deturpação ética nele, sugeriram a Dario que promulgasse um de-
creto proibindo qualquer pessoa no reino, que no espaço de trinta dias, fizesse petições a qual-
quer deus ou a qualquer homem, se não a Dario. A violação deste decreto resultaria na punição
com a morte da pessoa na cova dos leões. Devido à vida de oração de Daniel, ele foi visto

122
orando a Deus. Os príncipes e presidentes exigiram que o rei cumprisse o decreto, o que Dario
fez contra sua vontade. Jogou Daniel na cova dos leões e no dia seguinte pode ver o livramento
por parte de Deus. Daniel não morreu, pois Deus enviou o Seu anjo para que fechasse a boca
dos leões, tornando o livramento do Seu fiel servo mais marcante.

Daniel 7
No capítulo 7 de Daniel, Deus mostrou ao profeta (Dn 7:1-3) quatro animais, grandes e
diferentes uns dos outros, que subiam do Grande Mar, o qual era agitado pelos quatro ventos
do céu. Aqueles grandes animais representam reis ou reinos. Essa visão de Daniel (Capítulo 7)
está em íntimo paralelo com o sonho de Nabucodonosor (Capítulo 2). Uma visão amplia a
outra. Os mesmos impérios representados pelos metais da estátua são agora apresentados nas
figuras de quatro animais.

Primeiro animal
O primeiro animal que surge do mar é um leão com asas de águia. O leão como rei das
feras e a águia como rainha das aves representavam adequadamente o Império de Babilônia no
apogeu de sua glória (Jeremias 4:6, 7, 13; 50:17). A figura de um leão pode ainda ser vista em
várias peças de arte e na arquitetura da antiga Babilônia. Este império dominou o mundo dos
anos 605 a.C. até 539 a.C., o mesmo período correspondente ao domínio da cabeça de ouro
apresentada na visão de Daniel 2.

Segundo animal
O segundo animal era como um urso e representa o império Medo-Persa. Este animal
levantou-se sobre um dos seus lados, pois quando ocorreu a queda de Babilônia os Medos eram
superiores aos Persas no poder, situação que posteriormente foi invertida.
As três costelas na boca do urso representam as três principais conquistas da Medo-Pérsia
no processo de estabelecer sua hegemonia mundial. São elas: Lídia (547 a. C.), Babilônia (539 a.
C.) e o Egito (525 a. C.). Muitas moedas persas do século IV a. C. foram encontradas e nelas
estão estampadas as vitórias do rei Persa sobre um leão feroz (Babilônia). A Medo-Pérsia domi-
nou o mundo entre os anos 539 a.C. e 331 a.C., período que corresponde exatamente ao peito
e braços de prata na visão de Daniel 2.

Terceiro animal
Olhando com os olhos da história só podemos interpretar o leopardo como sendo o reino
da Grécia. O próprio livro de Daniel confirma este fato. O anjo Gabriel, ao interpretar a visão
do capítulo 8, onde ocorre uma luta mortal entre um carneiro e um bode, diz claramente que
“Aquele carneiro com dois chifres, que viste, são os reis da Média e da Pérsia; mas o bode
peludo é o rei da Grécia” (Daniel 8:20, 21).
O leopardo é um animal feroz e carnívoro, notável por sua velocidade e agilidade de
movimentos (ver Habacuque 1: 8). Historicamente, as quatro asas têm sido interpretadas como
representando a velocidade com que Alexandre, o grande, venceu os exércitos inimigos. As
quatro cabeças representam os quatro generais que dominaram o império grego após a morte
de Alexandre (Cassandro, Lisímaco, Ptolomeu e Seleuco). A Grécia dominou entre 331 e 168 a.
C. e corresponde aos quadris de bronze da estátua de Daniel 2.

Quarto animal

123
A história ensina claramente que Roma é o poder mundial que sucedeu a Grécia. O ano
168 a.C. é a data mais aceita para a ascensão deste império, quando os romanos conquistaram a
Macedônia.
A expressão “o qual tinha grandes dentes de ferro” está em paralelo com as pernas de
ferro da estátua mencionada no capítulo 2 de Daniel e refere-se a forma cruel com que Roma
tratava seus inimigos. O império romano dominou o mundo entre 168 a.C. e 476 d.C.
Diante do cenário assustador da visão, Daniel recebeu de Deus o conforto e a esperança
ao saber que os santos do Altíssimo receberiam a vitória final, pois o Senhor faria justiça ao Seu
povo ao realizar um juízo. Todos os reinos apresentados na visão passariam, mas o reino de
Deus pertencerá para sempre àqueles que forem fiéis ao Senhor. Essa esperança está em paralelo
com a pedra que esmiuçou a estátua nos pés e corresponde ao reino de Deus que “subsistirá
para sempre” (Daniel 2:44).
A visão do capítulo 2 e 7 se complementam:

Leão com asas


Babilônia 605 a 539 a.C.

Urso com um lado maior


Medo Pérsia 539 a 331 a.C.

Leopardo com 4 asas


Grécia 331 a 168 a.C.

Animal terrível e espantoso


Roma 168 a.C.
até hoje

Chifre pequeno
Dos quatro animais vistos no capítulo 7, Daniel teve interesse especial no quarto animal.
Ele era terrível, destruía tudo, tinha dez chifres na cabeça, dos quais três caíram devido ao sur-
gimento de outro chifre pequeno que tinha olhos e uma boca.

10 chifres
Chifres em profecia simbolizam reinos, então esses dez chifres representam os dez reinos
que surgiram do império romano. O férreo império de Roma manteve seu poder até o ano 476
d. C., quando finalmente foi dividido e caiu seu último imperador - Rômulo Augusto. Assim

124
como os pés da estátua (Daniel 2) possuíam dez artelhos, e o quarto animal (Daniel 7) dez
chifres, Roma perdeu seu poder para dez tribos bárbaras que, ao longo de décadas, foram mi-
nando sua autoridade.
A seguir temos uma lista das tribos que se estabeleceram no território de Roma entre os
anos de 351 a 476 d. C., e as nações que estas chegariam a formar:
• 351 a.D. Alamos - Germânia / Alemanha
• 351 a.D. Francos - França
• 406 a.D. Borguinhões - Suíça
• 406 a.D. Suevos - Portugal
• 408 a.D. Visigodos - Espanha
• 409 a.D. Anglo-saxões - Bretanha / Inglaterra
• 453 a.D. Lombardos - Itália
• 406 a.D. Vândalos - Extintos
• 453 a.D. Ostrogodos - Extintos
• 476 a.D. Hérulos - Extintos
Daniel vê surgir do quarto animal um “chifre pequeno” (verso 8). Apesar de ser “pe-
queno”, esse chifre era mais robusto do que todos os outros dez. Daniel sente o desejo de
conhecer mais sobre ele (verso 19).

Chifre pequeno
O chifre pequeno arrancaria a três chifres para se firmar (versos 8, 20 e 24). Possuía “olhos
como de homem” e uma “boca que falava com insolências” (versos 8 e 20). Parecia mais robusto
que seus companheiros (verso 20). Faria guerra contra os santos e prevalecia contra eles (verso
21). Proferiria palavras contra o Altíssimo (verso 25), magoaria os santos do Altíssimo (verso
25), cuidaria em mudar os tempos e a lei (verso 25), os santos lhes serão entregues nas mãos
por um tempo, dois tempos e metade de um tempo (verso 25) e seu domínio seria tirado por
um tribunal e ele seria destruído (verso 26).
Ao analisar este poder (chifre pequeno) na história universal, a conclusão é que o chifre
pequeno representa Roma Papal. Roma papal já operava antes da queda do império em 476 d.
C. (2 Tessalonicenses 2:7, 8). Foi somente depois de ter arrancado os três chifres, que corres-
pondem às três tribos bárbaras arianas (hérulos, vândalos e ostrogodos), que o papado pôde
exercer o seu domínio (Daniel 7:8, 20, 24). A última tribo a ser extinta pelo papado foi os os-
trogodos, em 538 d. C.
Ele seria um poder blasfemo. Blasfêmia na Bíblia (Mt 26:64, 65 e Jo 10:33) é a pretensão
de ser igual a Deus e/ou de perdoar pecados (Mc 2:7). Ambos os casos são praticados pela igreja
romana, ao oferecer perdão aos seus adeptos através do sacerdote (doutrina da confissão auri-
cular) e ao afirmar que o papa “ocupa na terra o lugar do Deus Altíssimo” (Afirmação do Papa
Leão XIII).
O poder representado pelo chifre pequeno também investiria contra os fiéis filhos de
Deus, chamados (de) “santos do Altíssimo” na profecia. Essa perseguição aos santos foi uma
continuidade das crueldades e injustiças que sempre infligiram ao povo de Deus e, segundo a
profecia, deveriam durar “um tempo, dois tempos e metade de um tempo” (verso 25), ou três
anos e meio (tempo = ano Dn 11:13) que em profecia equivale a 1.260 anos (em Ap 11:3, 12:6
e 13:5 fala de 42 meses, que é o mesmo período de tempo).
A consolidação de Roma Papal teve início em 533 quando Justiniano promulgou um edito

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onde confirmava legalmente o bispo de Roma, João II, como “cabeça de todas as igrejas”. Em
538 Virgílio, Bispo de Roma foi o primeiro Papa com jurisdição temporal. A partir deste ano
inicia o período de completo domínio papal que, segundo o próprio Daniel, se estenderia por
1.260 anos, chegando a 1.798 d.C. Em janeiro de 1.798, o general Berthier prendeu o papa Pio
VI. No ano seguinte transportaram-no para Grenobla e afinal para a cidade de Valença, França,
onde morreu no ano seguinte. Terminava assim, em 1.798, a supremacia papal de 1.260 anos.

Mudança da lei
Como predisse a profecia, o papado mudaria a Lei de Deus, os Dez Mandamentos. A
primeira delas foi a exclusão do SEGUNDO MANDAMENTO. Em dois locais na Bíblia po-
demos ler os 10 mandamentos de forma unida (Êx 20:3-17; Dt 5:7-21). O segundo mandamento
diz claramente: “Não farás para ti imagem de escultura... não as adorarás... nem lhes darás culto”
(Êx 20:4, 5; Dt 5:8, 9). No Catecismo, vemos a transcrição dos 10 mandamentos, como aparece
em Êxodo e Deuteronômio, mas na FÓRMULA CATEQUÉTICA, a proibição de adorar ima-
gens de escultura simplesmente não aparece. Este segundo mandamento foi extraído completa-
mente do Catecismo Romano.
Com a exclusão do segundo mandamento, que proíbe adorar imagens, foi necessária uma
manobra, para que a lei não ficasse apenas com nove mandamentos. Então, dividiu-se o 10º
mandamento da lei em dois. Assim lemos no Catecismo Romano:
9º Mandamento: “Não desejar a mulher do próximo”.
10º Mandamento: “Não cobiçar as coisas alheias”.

Quarto Mandamento
Outra mudança arbitrária feita pelo papado envolve o quarto mandamento da lei de Deus.
O sábado é o sétimo dia e deve ser guardado. Não há nada na Bíblia que mencione uma mudança
do dia de adoração por parte de Deus. O primeiro anjo de Apocalipse, que traz o evangelho
eterno para apresentar ao mundo, declara: “... adorai Aquele que fez os céus, a terra, o mar e as
fontes de água” (Ap 14:7). Somente Deus é digno de ser adorado, e para isso abençoou um dia
em especial, o sétimo.
O sábado é um memorial da criação, um dia separado por Deus para que Suas criaturas
O adorem (Is 66:22, 23). É também um sinal da relação de Deus com Seus filhos (Ez 20:12, 20).
O próprio Cristo santificava esse dia (Lc 4:16, 31), e Ele mesmo deixou claro que Sua lei não
poderia ser mudada (Mt 5:17, 18). Após Sua morte os discípulos continuaram a santificar o
sábado (Lc 23:54-56; At 16:13; 17:2; 18:4).
A mudança do quarto mandamento operada pelo papado foi um processo lento e gradual
na história. A igreja romana admite abertamente a responsabilidade de introduzir a adoração no
domingo em lugar do sábado, afirmando que tem o direito de efetuar tal mudança em celebração
à ressurreição de Cristo, ocorreu em um domingo. É verdade que Jesus ressuscitou no domingo,
mas em parte alguma da Bíblia ele menciona que por isso o domingo deveria ser observado
como um dia santo.
O Canon 29, do Concílio de Laodicéia (364 d. C.), decidiu: “Os cristãos não devem judai-
zar e estar ociosos no sábado, mas devem trabalhar nesse dia; porém, o dia do Senhor devem
honrar especialmente, e, sendo cristãos, não deverão, se possível, fazer nenhum trabalho nesse
dia. Se, contudo, forem achados judaizando, serão separados de Cristo”.
Para manter diante de todos os católicos a devoção que se deve ter para com o domingo,
o papa João Paulo II publicou em 31 de maio de 1998 uma carta apostólica chamada Dies

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Domini (Dia do Senhor). Ele escreveu: “os cristãos... assumiram como festivo o primeiro dia
depois do sábado, porque nele se deu a ressurreição do Senhor... Aquilo que Deus realizou na
criação e o que fez pelo seu povo no Êxodo, encontrou na morte e ressurreição de Cristo o seu
cumprimento, embora este tenha a sua expressão definitiva apenas na parusia, com a vinda
gloriosa de Cristo. Nele se realiza plenamente o sentido “espiritual” do sábado... Do “sábado”
passa-se ao “primeiro dia depois do sábado”, do sétimo dia passa-se ao primeiro dia: o dies
Domini torna-se o dies Christi!”. (Papa João Paulo II, Carta Apostólica Dies Domini (São Paulo,
SP: Paulinas, 2002), 20, 21).
Após o período de perseguição e supremacia papal (1260 anos), Daniel viu uma cena de
juízo em que foram postos uns tronos e o Ancião de Dias se assentou. Milhares de milhares o
serviam e assistiam diante dEle. Em seguida, o tribunal se assentou e livros foram abertos. Esse
julgamento iniciou-se após o período de supremacia papal, em 1798 d. C., e corresponde ao
juízo pré-advento de Cristo. Quando terminar esse juízo o poder será tirado do “chifre pe-
queno” e dado aos santos do Altíssimo. Isto culminará com a gloriosa Segunda Vinda de Jesus
(Mt 24:30; Ap 1:7), quando o pecado terá fim e os poderes antagônicos a Deus serão destruídos
(Ap 20:10).

RESUMO
Daniel nos apresenta um quadro mais amplo das profecias e as remonta de seu tempo ao tempo do fim.
Suas profecias nos fazem entender os desígnios de Deus não somente para com Israel, mas também para um povo
que daria continuidade à Missão que Israel havia falhado em cumprir.

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128
CAPÍTULO 18

Daniel 8 e 9
Toda a narrativa bíblica do Grande Conflito pode ser dividida em 4 etapas: Criação, Queda, Redenção
e Restauração. Este capítulo detalhará ainda o plano da Redenção e está baseado em Daniel 8 e 9.

Daniel 8 e 9
Daniel recebeu outra visão, conforme registrada no capítulo 8 de seu livro. Novamente
animais surgem na cena profética e mais uma vez representam nações que lutavam pelo poder.
Dn 8:3, 4 - O verso 3 nos informa que o “chifre mais alto subiu por último”. Reconhe-
cendo que a profecia é uma verdade que se amplia, precisamos destacar o paralelo que existe
entre os capítulos 7 e 8 em nossa interpretação profética. No capítulo 7 temos um animal se-
melhante ao urso que “se levantou sobre um de seus lados” (Daniel 7:5), assim como este chifre
do carneiro. Se no capítulo 7 este urso representa os Medos e os Persas, sendo que os Persas
assumem o poder por último, com Ciro, o mesmo se dá aqui com o carneiro. O anjo Gabriel
foi muito claro em dar essa interpretação a Daniel. Ele disse: “Aquele carneiro com dois chifres,
que viste, são os reis da Média e da Pérsia” (Daniel 8:20).
Dn 8:5 - Continuando nosso paralelo com o capítulo 7, é lógico supor que o bode repre-
senta o reino da Grécia, que venceu a Medo-Pérsia. O fato de o bode não tocar o chão está em
paralelo com as quatro asas do leopardo (Daniel 7:6), significando a velocidade com que os
gregos dominariam o mundo. Quanto ao “chifre notável entre os olhos” só pode ser uma refe-
rência ao líder dos gregos, Alexandre, o Grande, e suas notáveis conquistas. O anjo Gabriel mais
uma vez confirma essa interpretação ao declarar que “o bode peludo é o rei da Grécia; o chifre
grande entre os olhos é o primeiro rei” (Daniel 8:21).
Dn 8:6, 7 - A Medo-Pérsia (representada pelo carneiro), foi vencida pela Grécia de Ale-
xandre (representada pelo bode). Alexandre travou três batalhas até vencer Dario III, rei da
Medo-Pérsia. A primeira foi a batalha de Grânico, no ano 334 a.C.; a segunda foi a de Issos, no
ano 333 a.C. e a última, no ano 331 a.C., foi a batalha de Arbela ou Gaugamela. Assim o ano
331 a. C. assinala o fim do império Medo-Persa e o início do domínio de Alexandre, o Grande.
Após sua morte (quebrou-se lhe o grande chifre), foi sucedido por quatro generais (quatro chi-
fres notáveis), Ptolomeu, Lisímaco, Selêuco e Cassandro.
Dn 8:9-12, 23-25 – É importante observar que a mesma expressão de Daniel 7:8 aparece
aqui no capítulo 8:9: “chifre pequeno”. As pernas de ferro do cap. 2 (Roma Imperial) e os pés
de ferro e barro (Roma Papal) seguem uma sequência. No cap. 7 aparecem os 4 animais, mas
novamente temos 10 chifres e um chifre pequeno, assim, temos Roma, em duas fases, pagã

129
(Roma Imperial) e religiosa (Roma Papal) que atuaria contra Deus e Seu povo. De fato, Roma
Papal é a continuidade da Roma Imperial, o que pode ser atestado no fato de que o bispo de
Roma se senta na cadeira do Imperador e assume seu título (pontifex maximus).
A expressão “de um dos chifres saiu...” (Daniel 8:9), não está bem traduzida em algumas
versões bíblicas. No original hebraico está escrito assim: “De um deles...”, se referindo a um dos
“quatro ventos do céu” (substantivo plural mais próximo - Daniel 8:8), e não de um dos “chi-
fres” (ver Zacarias 6:5, 6).
O texto bíblico informa cinco atividades que o poder do chifre pequeno faria, que podem
ser distinguidas em duas direções: crescimento horizontal (conquistas políticas) e crescimento
vertical (conquistas religiosas).

Crescimento Horizontal (Roma Imperial)


a) Se tornou forte para o sul, para o oriente e para a terra gloriosa. - Roma, uma
pequena república fundada em 753 a. C., começou sua expansão em 334 a. C., crescendo para
o sul, quando conquista toda a península itálica e todas as ilhas do Mar Mediterrâneo. No ano
202 a. C., conquistou Cartago, na África, ao extremo sul do mundo conhecido. No ano 168 a.
C., Roma foi considerada Império ao conquistar a península grega, a Macedônia, Ásia Menor e
Síria, o que representa seu crescimento em direção ao oriente. Faltava agora o crescimento em
direção ao norte, ou “terra gloriosa” (Daniel 8:9). Esta profecia se cumpre quando Roma impe-
rial conquista a Gália, a Britânia e estende seus limites por todo o continente.

Crescimento Vertical (Roma Papal)


b) Cresceu até atingir os “exércitos dos céus” e lançou algumas “estrelas” por
terra. O “exército dos céus” e as “estrelas”, segundo a explicação do próprio anjo a Daniel,
representam “os poderosos e o povo santo” (Daniel 8:24), ou seja, o povo de Deus a quem o
poder papal perseguiria (ver também Daniel 12:1, 3). De acordo com o livro do Apocalipse, foi
o Dragão, Satanás, que enganou a terça parte das estrelas do céu (Apocalipse 12:3, 4) e as lançou
para a terra, que neste contexto representam os “anjos celestes” (Apocalipse 1:20). Entretanto,
o representante terrestre do Dragão, o chifre pequeno, que é o mesmo poder de Apocalipse
13:1-10, recebe do próprio Dragão o seu poder, o trono e grande autoridade (Apocalipse 13:2),
a fim de atacar as legiões terrestres do exército de Deus, Seus santos (Daniel 8:10 e Apocalipse
13:7). Esta guerra entre o bem e o mal começou no céu, mas se estendeu à terra e pode ser
chamada de o “Conflito Cósmico”, porque cada ser humano está intimamente envolvido.
c) Engrandeceu-se até ao príncipe do exército e tirou dele o sacrifício diário e o
lugar do santuário foi deitado abaixo. Quem é este “príncipe do exército”? Esta mesma
expressão aparece em Josué 5:13-15, onde deixa claro que Josué adorou este príncipe e este não
o repreendeu pelo ato. Logo, não pode ser apenas um anjo, pois os anjos de Deus não aceitam
adoração (ver Apocalipse 19:9, 10; 22:8, 9; Mateus 4:10). Não há dúvidas que o título “Príncipe
do Exército” ou “príncipe dos príncipes” (Daniel 8:25), é uma referência ao próprio Jesus
Cristo. O chifre pequeno (Roma Papal) tira do príncipe (Jesus) o “sacrifício diário”, que poderia
ser melhor traduzido como “contínuo”. A expressão hebraica traduzida como “sacrifício diário”
ou “contínuo” em algumas versões da Bíblia é TAMID, que no Antigo Testamento é um termo
cúltico do santuário usado para se referir a todas as cerimônias realizadas no pátio e no lugar
santo do santuário durante o ano (ver Êxodo 30:8; Levítico 24:4, 8; Números 28:3). Todas estas
cerimônias tratavam de perdão dos pecados e salvação do povo. Mas como o sistema papal
ataca essas práticas?
A igreja romana pretende ser o Templo do novo pacto, negando a realidade de um

130
santuário celestial, do qual o terrestre era um tipo (Êxodo 25:8, 40). Seus líderes espirituais são
chamados de sacerdotes, que escutam confissões, e realizam o sacrifício da missa, diminuindo o sacri-
fício único e perfeito de Cristo. Ensina que Cristo não é o único mediador ou Sumo-sacerdote
entre Deus e os homens, mas também a Virgem Maria e os Santos. Resumindo, significa subs-
tituir a obra de Cristo no santuário celestial em favor do pecador (Hebreus 4:16; 8:1; 9:11, 12;
12:2, 3), por uma obra de salvação de feitura humana.
Daniel também afirma que o papado se levantaria contra o “Príncipe dos Príncipes” (Da-
niel 8:25). Este “levantar” indica que ele tentaria ocupar o lugar de Cristo, o que Paulo também
advertiu, quando disse: “O qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus ou é objeto de culto, a
ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus” (2 Tessalonicenses
2:4). As doutrinas romanas da Confissão auricular (perdão dos pecados por meio do sacerdote) e
a doutrina da Infabilidade Papal demonstram bem o cumprimento dessa profecia.
d) Deitou a verdade por terra e o que fez prosperou. Além das mudanças menciona-
das acima, vários outros ensinos, baseados apenas na tradição da igreja, tem suplantado a ver-
dade da Palavra de Deus e mantido as pessoas no cativeiro da ignorância com respeito a vontade
de Deus, como por exemplos: orar por mortos, penitências, indulgências, batismo infantil, dou-
trina da transubstanciação e outros.
Até quando durariam os ataques do chifre pequeno?
Dn 8:13, 14 - Depois de se passarem 2.300 tardes e manhãs o santuário seria purificado.
Como a purificação do santuário terrestre, nos dias do Antigo Testamento, representava um
juízo de vindicação do povo de Deus, o mesmo se dará ao terminar este período e o chifre
pequeno será destruído sem esforço de mãos humanas (Daniel 8:25). Daniel desperta um inte-
resse profundo a respeito desse período de tempo e o anjo explica que essa visão se aplicava
exclusivamente ao tempo do fim, ou aos nossos dias. Quando terminasse esse período de
tempo, o santuário seria purificado e a ação do chifre pequeno seria freada, por isso o interesse
de Daniel em compreender o assunto.

2.300 anos
A profecia das “2.300 tardes e manhãs” é a profecia que cobre o maior período de tempo
na Bíblia. Aqui deve ser aplicado o princípio de interpretação profética dia/ano. Esse princípio
ensina que um dia profético equivale a um ano literal (ver Nm 14:34 e Ez 14:6, 7). Dessa forma,
a purificação do santuário, da qual fala Daniel, só ocorreria depois que passassem os 2.300 anos
literais.
A profecia apontava para uma purificação no fim do período de 2.300 anos, o que excede
a história do santuário terrestre, destruído no ano 70 d. C. De fato, o santuário a ser purificado
no fim das 2.300 tardes e manhãs era o santuário celestial (Hebreus 9:23, 24).
No capítulo 9 vemos Daniel orando em favor de seu povo (9:21-23) e o anjo Gabriel
sendo enviado para explicar a “visão” (Daniel 9:23). Que visão? A visão das 2.300 tardes e
manhãs (Dn 8:14), visão esta que Daniel não havia compreendido (Dn 8:26, 27). Contudo, ao
invés de falar dos 2300 anos proféticos, que alcançariam o tempo do fim e a purificação do
santuário, ele introduz a profecia das 70 semanas. Daniel havia orado por seu povo e pelo san-
tuário terrestre que estava desolado, por isso o anjo se limita a um período menor relacionado
com o povo de Daniel e sua cidade, Jerusalém.
9:24 - A palavra “determinadas” aqui pode ser traduzida literalmente como “cortadas”,
ou seja, as 70 semanas ou 490 anos seriam cortados do período maior de 2.300 anos. Este
período de tempo seria destinado ao povo judeu para: (a) fazer cessar a transgressão, (b) dar fim

131
aos pecados, (c) expiar a iniquidade, (d) trazer a justiça eterna, (e) selar a visão e a profecia e (f)
ungir o santo dos santos (Daniel 9:24). Em outras palavras, o céu esperava arrependimento por
parte do povo de Daniel e, se isso não acontecesse, o povo perderia o privilégio de nação esco-
lhida.
O anjo dividiu a profecia em períodos:
7 semanas + 62 semanas = 69 semanas
Se cada semana possui 7 dias e estamos falando em dias proféticos, ou seja, cada dia
representando um ano, assim temos o seguinte cálculo:
69 semanas X 7 dias = 483 dias proféticos /anos literais
Se partirmos do ano 457 a. C., data do decreto de Artaxerxes, e viajarmos no tempo 483
anos, chegaremos ao ano 27 d. C. Segundo o anjo este seria o ano do aparecimento do “Un-
gido”, o “Príncipe” (Dn 9:25). Este foi o ano do batismo de Cristo quando Ele recebe a unção
do Espírito Santo (Mt 3:16). Jesus estava então com cerca de 30 anos ao iniciar Seu ministério
terrestre (Lc 3:23).
Conforme a profecia Ele faria uma “firme aliança com muitos, por uma semana”, ou sete
anos, alcançando assim o ano 34 d. C. Que acontecimento assinala o fim desse período de
aliança? Estudando o livro de Atos, encontramos o último discurso de Estevão, um dos sete
diáconos da igreja primitiva (At 7:1-53). Após sua pregação ele foi apedrejado até a morte (At
7:54-58). Antes de morrer ele contemplou Jesus em pé à direita do Pai (At 7:55, 56), numa
atitude de reprovação e julgamento à nação judaica. Isso ocorreu no ano 34 e assinala o fim dos
490 anos de oportunidade ao povo judeu como povo escolhido. Após isto Deus levantou Sua
igreja para que através dela o evangelho fosse pregado a todas as nações. Saulo, que estava
presente no apedrejamento de Estevão (At 7:58) tornou-se Paulo, o apóstolo dos gentios, e
pregou o evangelho aos pagãos, gregos e romanos (At 9:1-9; Rm 1:1).

Como Jesus fez “cessar o sacrifício e a oferta de manjares”?


Ele próprio deu fim ao sistema de sacrifícios do Antigo Testamento tornando-se a própria
oferta (João 1:29; 1 Coríntios 5:7). No exato momento de Sua morte, o véu do templo, que
separava o local santo do santíssimo, rasgou de alto a baixo indicando assim o fim daquele
sistema tipológico de salvação (Mt 27:50, 51; Hb 9:11-15 e 28).

132
A ordem para “restaurar e edificar Jerusalém” foi promulgada no ano 457 a. C. Viajando
os 490 anos, dados aos judeus, chegamos ao ano 34 d. C., quando Estevão foi apedrejado. Res-
tam ainda 1810 anos do período maior de 2.300 anos. Basta agora adicionar os 1.810 anos res-
tantes, e a profecia alcança o tempo exato em que se iniciaria a purificação do santuário, ou seja,
1844. O 10º dia do 7º mês do calendário judaico, dia que acontecia a expiação em Israel (Levítico
16:29), com o nosso calendário gregoriano atual, corresponde ao dia 22 de outubro de 1844. O
que aconteceria nessa data?

Na Terra:
No fim do século XVIII e início do século XIX vários acontecimentos geraram uma
grande expectativa em torno das profecias bíblicas, particularmente do livro de Daniel. No dia
1º de novembro de 1755 ocorreu o grande terremoto de Lisboa. Vinte e cinco anos depois, no
dia 19 de maio de 1780, o sol escureceu trazendo temor e expectativa a todos e, na noite imedi-
ata, a lua apareceu no céu vermelha como sangue. No dia 20 de fevereiro de 1798, por ordem
de Napoleão, o papa Pio VI foi preso. Em 13 de novembro de 1833 ocorreu a famosa “queda
das estrelas”. O mundo esperava por algo grandioso. De fato, o tempo do fim havia chegado,
especificamente com as datas de 1798, fim dos 1.260 anos de supremacia papal (538 a 1798) e
1844, fim do período das 2.300 tardes e manhãs.
Milhares de cristãos esperavam que Jesus voltasse em 1.844, justamente como resultado
do estudo de Daniel 8:14. Um dos principais líderes desse período foi um fazendeiro chamado
Guilherme Miller, que deu origem ao movimento milerita. Eles pensavam que a purificação do
santuário fosse a segunda vinda de Cristo. O dia 22 de outubro de 1.844 passou e Jesus não
voltou. Foi uma amarga decepção. Todavia, esta decepção já estava profetizada. Em Apocalipse
10 lemos a respeito de um livrinho que João recebeu ordem de tomar e comer. Na boca seria
doce, mas no estômago, amargo (Apocalipse 10:8-10). Essa profecia descrevia a experiência de
desapontamento que os mileritas enfrentariam. O movimento milerita deu origem a Igreja Ad-
ventista do Sétimo Dia (Apocalipse 12:17; 14:6-12), igreja que surge com a missão de restaurar
a verdade de Deus deitada por terra pelo chifre pequeno (Daniel 7:25 e 8:12).

No Céu
Quando Jesus ascendeu aos céus (Atos 1:9), Ele foi para o santuário celestial e deu início
ao ministério de intercessão, assim como o sacerdote fazia ao longo do ano. Assim como o
santuário terrestre passava por uma purificação anual, o mesmo aconteceria com o celestial.
Essa obra de purificação, segundo Daniel 8:14, ocorreria depois de 2.300 anos, ou seja, no ano
1.844. No dia 22 de outubro deste ano Jesus dá início ao Seu ministério como Sumo sacerdote.
Isso indica que estamos vivendo, desde 1.844, o grande dia profético da expiação. Quando esse
juízo terminar Jesus voltará a terra como “Rei dos reis e Senhor dos senhores” (Apocalipse
19:16), para dar a recompensa a cada um (Mateus 25:31-46) e destruir o chifre pequeno. Final-
mente o reino será dado aos santos do altíssimo e eles reinarão por toda a eternidade (Daniel
7:11, 18 e 27).
Assim como o sumo sacerdote quando terminava a expiação voltava ao pátio para aben-
çoar o povo, quando o Senhor Jesus terminar a Sua maravilhosa obra, Ele voltará a esta Terra,
o pátio onde Seu perfeito sacrifício foi realizado, a fim de dizer ao Seu povo: “Vinde, benditos
de Meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo”
(Mateus 25:34).

Aqui temos uma explicação completa das visões do livro de Daniel. Entender Daniel é de

133
extrema importância para o estudo do livro de Apocalipse e a compreensão dos eventos finais.

RESUMO
Daniel 8 e 9 e as profecias das 2.300 tardes e manhãs nos fornecem um panorama histórico geral e nos
ajudam a entender o limite que Deus deu a Israel, a vinda de Jesus e o surgimento de um povo no tempo do fim
que restauraria as verdades que seriam jogadas por terra.

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CAPÍTULO 19

Período intertestamentário
Toda a narrativa bíblica do Grande Conflito pode ser dividida em 4 etapas: Criação, Queda, Redenção
e Restauração. Este capítulo detalhará ainda o plano da Redenção e está baseado nos profetas do AT.

Plenitude dos tempos


“Quando, porém, chegou a plenitude do tempo, enviou Deus o seu
Filho, nascido de uma mulher, nascido sob a Lei” Gálatas 4:4. Esse texto “Quando, porém, che-
nos ajuda a entender que Cristo viria na plenitude dos tempos (em gr. gou a plenitude do
pleroma “plenitude dos tempos”). Para entender como isso se cumpriria, tempo, enviou Deus o
é necessário compreender o período intertestamentário. É um longo pe- seu Filho.”
ríodo de preparação onde Deus prepara o mundo para a vinda do Messias.
São 400 anos de história onde nada bíblico é escrito, mas há muita riqueza histórica. A
Expressão “400 anos de silêncio”, frequentemente empregada para descrever o período entre
os últimos eventos do AT e o começo dos acontecimentos do NT não é correta nem apropriada.
Embora nenhum profeta inspirado se tivesse erguido em Israel durante aquele período, e o AT
já estivesse completo aos olhos dos judeus, certos acontecimentos ocorreram que deram ao
judaísmo posterior sua ideologia própria e, providencialmente, prepararam o caminho para a
vinda de Cristo e a proclamação do Seu evangelho.

O mundo antes da primeira vinda de Jesus


Supremacia Persa
Por cerca de um século depois da época de Neemias, o império Persa exerceu controle
sobre a Judéia. O período foi relativamente tranquilo, pois os persas permitiam aos judeus o
livre exercício de suas instituições religiosas. A Judéia era dirigida pelo sumo sacerdotes, que
prestavam contas ao governo persa, fato que, ao mesmo tempo, permitiu aos judeus uma boa
medida de autonomia e rebaixou o sacerdócio a uma função política. Inveja, intriga e até mesmo
assassinato tiveram seu papel nas disputas pela honra de ocupar o sumo sacerdócio. Joanã, filho
de Joiada (Ne 12.22), é conhecido por ter assassinado o próprio irmão, Josué, no recinto do
templo.
A Pérsia e o Egito envolveram-se em constantes conflitos durante este período, e a Judéia,
situada entre os dois impérios, não podia escapar ao envolvimento. Durante o reino de Arta-
xerxes III muitos judeus engajaram-se numa rebelião contra a Pérsia. Foram deportados para

135
Babilônia e para as margens do mar Cáspio.

Alexandre, o Grande
Em seguida à derrota dos exércitos persas na Ásia Menor (333 AC), Alexandre que co-
meçou a reinar com 20 anos de idade, marchou para a Síria e Palestina. Depois de ferrenha
resistência, Tiro foi conquistada e Alexandre deslocou-se pra o sul, em direção ao Egito. Diz a
lenda que quando Alexandre se aproximava de Jerusalém o sumo sacerdote Jadua foi ao seu
encontro e lhe mostrou as profecias de Daniel, segundo as quais o exército grego seria vitorioso
(Dn 8). Essa narrativa não é levada a sério pelos historiadores, mas é fato que Alexandre tratou
singularmente bem aos judeus. Ele lhes permitiu observarem suas leis, isentou-os de impostos
durante os anos sabáticos e, quando construiu Alexandria no Egito (331 AC), estimulou os
judeus a se estabelecerem ali e deu-lhes privilégios comparáveis aos seus súditos gregos.
• 331 – batalha de Arbela contra Dario
• Sai em busca de Dario, passando por Babilônia, Susa, queimando Persépolis e chegando
em Ecbátana. Mas Dario não estava lá. Vai mais para o leste onde encontra o cadáver
de Dario a quem dá uma cerimônia fúnebre digna.
• Em 325 ele retorna pela costa até Susã onde celebrações foram realizadas com a funda-
ção de uma nova monarquia mundial projetada para fundir Oriente e Ocidente por meio
da civilização grega (mapa).

A Judéia sob os Ptolomeus


Depois da morte de Alexandre (323 AC), a Judéia, ficou sujeita, por algum tempo a An-
tígono, um dos generais de Alexandre que controlava parte da Ásia Menor. Subsequentemente,
caiu sob o controle de outro general, Ptolomeu I (que havia então dominado o Egito), cogno-
minado Soter, o Libertador, o qual capturou Jerusalém num dia de sábado em 320 AC Ptolomeu

136
foi bondoso para com os judeus. Muitos deles se radicaram em Alexandria, que continuou a
ser um importante centro da cultura e pensamento judaicos por vários séculos. No governo de
Ptolomeu II (Filadelfo) os judeus de Alexandria começaram a traduzir a sua Lei, i.e., o Penta-
teuco, para o grego. Esta tradução seria posteriormente conhecida como a Septuaginta, a partir
da lenda de que seus setenta (mais exatamente 72 – seis de cada tribo) tradutores foram sobre-
naturalmente inspirados para produzir uma tradução infalível. Nos subsequentes todo o Antigo
Testamento foi incluído na Septuaginta.

Septuaginta
A Septuaginta se tornou a Bíblia dos judeus fora da Palestina. Isso seu deu principal-
mente pelo fato de que muitos deles já não falavam mais o hebraico. Posteriormente a Septua-
ginta também se tornou a Bíblia mais usada pela Igreja Primitiva. Embora a Septuaginta tenha
sido produzida por volta de 250 a.C., pode-se dizer que as ações de Alexandre o Grande entre
333 e 323 a.C., quando incentivou os judeus a se mudarem para Alexandria dando-lhes até
mesmo alguns privilégios comuns aos cidadãos gregos, preparam o caminho para que esse pro-
jeto fosse realizado.

Sinagogas
A Fé judaica era tolerada e respeitada. Os judeus podiam, conforme decreto de Alexandre,
observar o shabbath, coletar e administrar seus próprios impostos, possuir poder judiciário para
julgar os de sua própria raça e estavam isentos de culto aos deuses dos lugares onde estivessem.
Ser judeu era obedecer a Lei, reconhecer o Templo como local de adoração, enviar para lá o
imposto anual e, se possível, visitá-lo pelo menos uma vez por ano em uma das grandes fes-
tas.
A distância de onde viviam para a Palestina, e mesmo na Palestina para o Templo, provocou
o desenvolvimento da sinagoga, a reunião religiosa para orações, leitura da Palavra e observân-
cia dos sábados ao longo dos anos em todas as polis onde haviam judeus. O mundo antigo nunca
vira nada parecido: um culto sem imagens, sem sacerdotes, apenas com leitura sagrada, orações
e pregações.

A Judéia sob os Selêucidas


Depois de aproximadamente um século de vida dos judeus sob o domínio dos Ptolomeus,
Antíoco III (o Grande) da Síria conquistou a Síria e a Palestina aos Ptomeus do Egito (198 AC).
Os governantes sírios eram chamados selêucidas porque seu reino, construído sobre os escom-
bros do império de Alexandre, fora fundado por Seleuco I (Nicator).
Durante os primeiros anos de domínio sírio, os selêucidas permitiram que o sumo sacer-
dote continuasse a governar os judeus de acordo com suas leis. Todavia, surgiram conflitos
entre o partido helenista e os judeus ortodoxo.

Antíoco IV Epifânio
Antíoco IV (Epifânio) aliou-se ao partido helenista e indicou para o sacerdócio um ho-
mem que mudara seu nome de Josué para Jasom e que estimulava o culto a Hércules de Tiro.
Jasom, todavia, foi substituído depois de dois anos por uma rebelde chamado Menaém (cujo
nome grego era Menelau). Quando partidários de Jasom entraram em luta com os de Menelau,
Antíoco marcho contra Jerusalém, saqueou o templo e matou muitos judeus (170 AC). As li-
berdades civis e religiosas foram suspensas, os sacrifícios diários forma proibidos e um altar a
Júpiter foi erigido sobre o altar do holocausto. Cópias das Escrituras foram queimadas e os

137
judeus foram forçadas a comer carne de porco, o que era proibido pela Lei. Uma porca foi
oferecida sobre ao altar do holocausto para ofender ainda mais a consciência religiosa dos ju-
deus.
Antíoco entrou em Jerusalém onde foi recebido pelos liberais. Em 168 a.C saqueou o
templo, paralisou a oferta sacrifical da manhã e da tarde, ergueu um altar idólatra diante do
templo para o sacrifício dos porcos, queimou alguns edifícios e destruiu partes da muralha da
cidade. Ordenou que os judeus interrompessem a adoração a Yahweh e adorassem o Zeus
Olímpico e Dionísio, que cessassem a circuncisão, ignorassem o sábado, usassem porco para
alimento e sacrifício e destruíssem a Torah.
Os samaritanos aceitaram isso e fizeram no monte Gerizim um templo a Júpiter Hellenius,
desligando-se assim oficialmente dos judeus.

Os Macabeus
Não demorou muito para que os judeus oprimidos encontrassem um líder para sua causa.
Quando os emissários de Antíoco chegaram à vila de Modina, cerca de 24 quilômetros a oeste
de Jerusalém, esperavam que o velho sacerdote, Matatias, desse bom exemplo perante o seu
povo, oferecendo um sacrifício pagão. Ele, porém, além de recusar-se a fazê-lo, matou um judeu
apóstata junto ao altar e o oficial sírio que presidia a cerimonia. Matatias fugiu para a região
montanhosa da Judéia e, com a ajuda de seus filhos, empreendeu uma luta de guerrilhas
contra os sírios. Embora o velho sacerdote não tenha vivido para ver seu povo liberto do jugo
sírio, deixou a seus filhos o término da tarefa. Judas, cognominado “o Macabeu”, assumiu a
liderança depois da morte do pai. Por volta de 164 AC Judas havia reconquistado Jerusalém,
purificado o templo e reinstituído os sacrifícios diários. Pouco depois das vitórias de Judas,
Antíoco morreu na Pérsia. Entretanto, as lutas entre os Macabeus e os reis selêucidas continu-
aram por quase vinte anos.
Aristóbulo I foi o primeiro dos governantes Macabeus a assumir o título de “Rei dos
Judeus”. Depois de um breve reinado, foi substituído pelo tirânico Alexandre Janeu, que, por
sua vez, deixou o reino para sua mãe, Alexandra. O reinado de Alexandra foi relativamente
pacífico. Com a sua morte, um filho mais novo, Aristóbulo II, desapossou seu irmão mais velho.
A essa altura, Antípater, governador da Iduméia, assumiu o partido de Hircano, e surgiu a ame-
aça de guerra civil. Consequentemente, Roma entrou em cena e Pompeu marchou sobre a Judéia
com as suas legiões, buscando um acerto entre as partes e o melhor interesse de Roma. Aristó-
bulo II tentou defender Jerusalém do ataque de Pompeu, mas os romanos tomaram a cidade e
penetraram até o Santo dos Santos. Pompeu, todavia, não tocou nos tesouros do templo.

Roma
Marco Antônio apoiou a causa de Hircano. Depois do assassinato de Júlio Cesar e da
morte de Antípater (pai de Herodes), que por vinte anos fora o verdadeiro governante da Judéia,
Antígono, o segundo filho de Aristóbulo, tentou apossar-se do trono. Por algum tempo chegou
a reina em Jerusalém, mas Herodes, filho de Antípater, regressou de Roma e tornou-se rei dos
judeus com apoio de Roma. Seu casamento com Mariamne, neta de Hircano, ofereceu um elo
com os governantes Macabeus.
Herodes foi um dos mais cruéis governantes de todos os tempos. Assassinou o venerável
Hircano (31 AC) e mandou matar sua própria esposa Mariamne e seus dois filhos. No seu leito
de morte, ordenou a execução de Antípater, seu filho com outra esposa. Nas Escrituras, Hero-
des é conhecido como o rei que ordenou a morte dos meninos em Belém por temer o Rival que

138
nascera para ser Rei dos Judeus.

Cronologia do período intertestamentário


Abaixo temos uma linha do tempo com os principais acontecimentos que ocorreram no
período entre os Testamentos:
• 333-323 a.C. | Domínio de Alexandre o Grande.
• 323-198 a.C. | Os Ptolomeus dominam a Palestina.
• 320 a.C. | Jerusalém é conquistada por Ptolomeu I Soter.
• 311 a.C. | Início da dinastia Selêucida.
• 226 a.C. | Antíoco III conquista a Terra Santa.
• 223-187 a.C. | Antíoco se torna o governante Selêucida da Síria.
• 198 a.C. | Antíoco derrota o Egito e obtém o controle da Terra Santa.
• 198-166 a.C. | Governo dos Selêucidas sobre a Palestina.
• 175-164 a.C. | Antíoco IV Epífanio governa a Síria e o judaísmo é proibido.
• 167 a.C. | Matatias e seus filhos lideram a rebelião contra Antíoco IV.
• 166-160 a.C. | Judas Macabeu lidera.
• 165 a.C. | Rededicação do Templo.
• 160-143 a.C. | O sumo sacerdócio é exercido por Jônatas, filho de Matatias.
• 142-134 a.C. | Simão, filho de Matatias, se torna sumo sacerdote e começa a dinastia
dos Hasmoneus.
• 134-103 a.C. | O estado independente judeu é expandido com João Hircano.
• 104-103 a.C. | Governo de Aristóbulo.
• 103-76 a.C. | Governo de Alexandre Janeu.
• 76-67 a.C. | Governo de Salomé Alexandra, e Hircano II é o sumo sacerdote.
• 66-63 a.C. | Conflito entre Aristóbulo II e Hircano II.
• 63 a.C. | Começa o domínio romano, com Pompeu invadindo a Terra Santa.
• 63-40 a.C. | Governo de Hircano II sob o controle de Roma.
• 48 a.C. | Júlio César derrota Pompeu.
• 44 a.C. | Assassinato de Júlio Cesár.
• 40-37 a.C. | Antígono governa sob os romanos.
• 37-4 a.C. | Herodes se torna governante da Terra Santa.
• 27 a.C. | César Augusto (Otaviano) governa o Império Romano.
• 19 a.C. | A construção do Templo de Herodes é iniciada.
• 4 a.C. | Herodes morre e Arquelau governa em seu lugar.

Grupos Religiosos dos Judeus


Nesse período entre o Antigo e o Novo Testamento, as grandes mudanças que ocorreram
resultaram na sociedade judaica descrita nos tempos de Jesus. Um dos movimentos mais signi-
ficativos dessa época foi a Diáspora (ou Dispersão). Embora tenha começado no exílio, foi no
período interbíblico que a Diáspora realmente ganhou força, espalhando o povo judeu até
mesmo para as terras mais longínquas.
Esse período também foi marcado pelo surgimento de grupos políticos e religiosos que
foram muito atuantes no primeiro século. Entre esses grupos destacam-se: os saduceus, os es-
sênios e os fariseus.
Quando, seguindo-se à conquista de Alexandre, o helenismo mudou a mentalidade do
Oriente Médio, alguns judeus se apegaram ainda mais tenazmente do que antes à fé de seus pais,

139
ao passo que outros se dispuseram a adaptar seu pensamento às novas ideias que emanavam da
Grécia. Por fim, o choque entre o helenismo e o judaísmo deu origem a diversas seitas judaicas.

Fariseus
Os fariseus eram os descendentes espirituais dos judeus piedosos que haviam lutado con-
tra os helenistas no tempo dos Macabeus. O nome fariseu, “separatista”, foi provavelmente
dado a eles por seus inimigos, para indicar que eram não-conformistas. Pode, todavia, ter sido
usado com escárnio porque sua severidade os separava de seus compatriotas judeus, tanto
quanto de seus vizinhos pagãos. A lealdade à verdade às vezes produz orgulho e ate mesmo
hipocrisia, e foram essas perversões do antigo ideal farisaico que Jesus denunciou. Paulo se
considerava um membro deste grupo ortodoxo do judaísmo de sua época. (Fp 3:5).

Saduceus
O partido dos saduceus, provavelmente denominado assim por causa de Zadoque, o
sumo sacerdote escolhido por Salomão (1Rs 2:35), negava autoridade à tradição e olhava com
suspeita para qualquer revelação posterior à Lei de Moisés. Eles negavam a doutrina da ressur-
reição, e não criam na existência de anjos ou espíritos (At 23:3). Eram, em sua maioria, gente de
posses e posição, e cooperavam de bom grado com os helenistas da época. Ao tempo do N.T.
controlavam o sacerdócio e o ritual do templo. A sinagoga, por outro lado, era a cidadela dos
fariseus.

Essênios
O essenismo foi uma reação ascética ao externalismo dos fariseus e ao mundanismo dos
saduceus. Os essênios se retiravam da sociedade e viviam em ascetismo e celibato. Davam aten-
ção à leitura e estudo das Escrituras, à oração e às lavagens cerimoniais. Suas posses eram co-
muns e eram conhecidos por sua laboriosidade e piedade. Tanto a guerra quanto a escravidão
era contrárias a seus princípios.
O mosteiro em Qumran, próximo às cavernas em que os Manuscrito do Mar Morto foram
encontrados, é considerado por muitos estudiosos como um centro essênio de estudo no de-
serto da Judéia. Os rolos indicam que os membros da comunidade haviam abandonado as in-
fluências corruptas das cidades judaicas para prepararem, no deserto, “o caminho do Senhor”.
Tinham fé no Messias que viria e consideravam-se o verdadeiro Israel para quem Ele viria.

Escribas
Os escribas não eram, estritamente falando, uma seita, mas sim, membros de uma profis-
são. Eram, em primeiro lugar, copista da Lei. Vieram a ser considerados autoridades quanto às
Escrituras, e por isso exerciam uma função de ensino. Sua linha de pensamento era semelhante
à dos fariseus, com os quais aparecem frequentemente associados no N.T.

Herodianos
Os herodianos criam que os melhores interesses do judaísmo estavam na cooperação com
os romanos. Seu nome foi tirado de Herodes, o Grande, que procurou romanizar a Palestina
em sua época. Os herodianos eram mais um partido político que uma seita religiosa.
A opressão política romana, simbolizada por Herodes, e as reações religiosas expressas
nas reações sectárias dentro do judaísmo pré-cristão forneceram o referencial histórico no qual
Jesus veio ao mundo. Frustrações e conflitos prepararam Israel para o advento do Messias de
Deus, que veio na “plenitude do tempo” (Gl 4:4)

140
Os movimentos batistas
No séc. I da nossa era devem ter existido, segundo se pensa, movimentos de “despertar
religioso”. Desenvolveram-se entre o povo simples e assim quase não deixaram vestígios literá-
rios. Parece que se caracterizam pela vontade de propor a todos — e não mais a alguns — a
salvação, mesmo aos pecadores e aos pagãos (cf. Lc 3:7-14). O batismo, imersão na água, feita
uma vez por todas (o que o distingue dos ritos de purificação de outras seitas) é um rito realizado
em vista do perdão dos pecados.
Conhecem-se sobretudo dois grupos batistas: aquele que se reúne em torno de João ape-
lidado o Batista e que durará bastante tempo (cf. At 18:25 e 19:1-5) para que os cristãos sejam
obrigados a polemizar contra ele — e o grupo nascido em torno de Jesus que também batiza
(Jo 3:22; 4:1-2). Esse último grupo será evidentemente todo transfigurado pela pessoa de Jesus.
A lado desses dois grupos organizados, deviam multiplicar-se, no meio do povo, práticas batis-
tas.

A plenitude dos tempos


Uma das perguntas mais feita é – O que Deus estava fazendo no período intertestamen-
tário? A resposta mais sensata e bíblica é que Ele estava preparando o ambiente para vinda do
Messias.

Elementos Judaicos na preparação para a vinda de Cristo:


• Um povo divinamente preparado;
• Um povo escolhido para ser testemunha entre as nações;
• Escrituras proféticas predizendo a vinda do Messias;
• A dispersão dos judeus em todo o mundo conhecido;
• Sinagoga onde se estudava as Escrituras que forneceriam local para a pregação do evan-
gelho;
• Proselitismo que trouxe muitos gentios para o judaísmo;
• Era o povo do Livro, Interessado na prática da religião e na busca da salvação;
• Uma esperança da vinda do Messias foi oferecida pelos judeus a um mundo de religiões
pagãs.
• Também o judaísmo ofereceu, pela parte moral da Lei Judaica, o sistema de ética mais
puro do mundo. Mas o mais importante é que os judeus prepararam o caminho para a
vinda de Cristo pelo fornecimento de um Livro Sagrado, o Velho Testamento.

Elementos Gregos na preparação para a vinda de Cristo:


• A filosofia grega que se aproximava do monoteísmo, tendência para a imortalidade, ênfase
sobre a consciência e dignidade humana e liberalismo de pensamento;
• A língua grega, tradução do A.T., para a pregação do evangelho e a escrita do N.T. junto
com os termos adotados por Paulo e outro pregadores do Novo Testamento para explicar
o evangelho. No primeiro século os romanos cultos conheciam grego e também latim.
O dialeto grego usado no quinto século a. C., na época da glória de Atenas, tornou-se o
dialeto “Koiné” (comum) do primeiro século. O dialeto da literatura clássica de Atenas
foi modificado e enriquecido pelas mudanças que sofreu nas conquistas de Alexandre
Magno no período entre 338 e 146 a .C. . O N.T. foi escrito nesse dialeto vulgar (comum);
• A cultura helenística em geral com seu espírito cosmopolita, transcendendo as barreiras,

141
o judeu helenizado que serviria como ponte entre o judeu e gentio e a busca da salvação
do mundo romano;
• Por um lado, a filosofia grega deu uma contribuição positiva, mostrando o melhor que o
homem pode fazer na busca de Deus pelo intelecto, por outro contribuiu negativamente,
pois, nunca deu uma satisfação aos corações e nunca conduziu o homem a um Deus
pessoal.

Elementos Romanos na preparação para a vinda de Cristo:


• Cristo veio ao mundo na época do Império Romano. Todo o mundo ficou sob um go-
verno único, uma lei universal, era possível obter cidadania romana, ainda que a pessoa
não fosse romana. O império Romano mostrou a tendência de unificar os povos de raças
diferentes numa organização política;
• Havia paz na terra quando Cristo nasceu. Os soldados romanos asseguravam a paz nas
estradas da Ásia, África e Europa;
• Construíram excelentes estradas ligando Roma a todas as partes do Império. As estradas
principais foram construídas de concreto. As estradas romanas e as cidades estratégicas
localizadas nos caminhos eram indispensáveis a evangelização do mundo no primeiro
século.
Jesus veio na plenitude dos tempos!

RESUMO
A história de Israel termina com fracasso em seu chamado, pois não foi luz às nações, mas se deixou ser
vencido pelas trevas. O período intertestamentário foi um “eclipse” na visão missional, mas Deus estava prepa-
rando o mundo para a primeira vinda de Jesus, exatamente na plenitude dos tempos. Ele seria o representante
divino que daria sentido à Missão que começou no céu.

142
CAPÍTULO 20

Evangelhos
Toda a narrativa bíblica do Grande Conflito pode ser dividida em 4 etapas: Criação, Queda, Redenção
e Restauração. Este capítulo detalhará ainda o plano da Redenção e está baseado em Mateus a João.
Não deveria ter uma ruptura entre os testamentos. Deveria ser uma história única e con-
tínua, pois Cristo veio como o Messias prometido por todo o AT. O NT, assim como o AT,
pode ser classificado como:

AT NT Conteúdo
Lei 4 evangelhos Ampliam a explicação sobre a Lei
História Atos História da igreja primitiva
Sabedoria Epístolas Falam de como devemos viver
Profecia Apocalipse Símbolos e imagens que nos lembram o AT

Linha do tempo165
Traçando uma linha do tempo dos eventos registrados no NT, podemos chegar a datas
aproximadas, como se vê na tabela a seguir. É importante notar que o nascimento de Jesus que
divide a história do mundo entre antes de Cristo (a.C.) e depois de Cristo (d.C.), não está com
a data correta. Dionísio Exiguus datou o ano 1 como sendo o ano do nascimento de Jesus,
porém historiadores posteriores corrigiram seus cálculos e afirmaram que Jesus nasceu no ano
4 a.C. Ele chamou o ano do nascimento de Anno Domini (ano do nosso senhor), o que ficaria
conhecido mais tarde como A.D. Até antes de Dionísio o calendário mais utilizado era referente
à data da fundação de Roma (753 a.C.). Jesus Cristo na verdade nasceu entre os anos 6 e 4 a.C.
Chega-se a esta data com base na morte de Herodes, o Grande, que era procurador da Judeia
entre 47 a.C. até morrer em 4 a.C. Foi "tendo Herodes morrido" que José e Maria, com o me-
nino Jesus, receberam as instruções de voltar a Israel do Egito (Mateus 2:19).

165 Baseado na datação da Bíblia de estudo Andrews.

143
Ano Evento/Livro
4 a.C. Nascimento de Jesus
27 Batismo de Jesus
30 Morte de Jesus
34 Morte de Estêvão
45 Hebreus?
45 Tiago?
48 Gálatas
49 Concílio de Jerusalém
50 1 e 2 Tessalonicenses
55 Marcos
55 1 Coríntios
57 2 Coríntios
58 Romanos
58 Mateus
60 Lucas, Efésios, Filemom, Filipenses e 1 Pedro
61 Colossenses
65 2 Pedro e Morte de Pedro
65 Tito, 1 Timóteo e Judas
67 2 Timóteo
67 Morte de Paulo
70-80 João
80-90 1, 2 e 3 João
95 Apocalipse

Evangelhos
“Os 4 evangelhos escritos não têm por objetivo “apresentar uma biografia de Jesus... A
finalidade é compartilhar uma Cristologia, ou seja, uma apresentação da vida e do ministério de
Jesus a partir de uma perspectiva teológica particular e definida: proclamar Jesus como Messias
e Salvador da humanidade.”166
Devemos entende-los não como biografia, mas como materiais teológicos e evangelísticos
para que os destinatários reconhecessem Jesus como o Messias.
São 4 perspectivas, estilos, público-alvo e intenções diferentes, mas com o mesmo obje-
tivo.

166 Bíblia de estudo Andrews, p. 1211.

144
Como foram escritos?
Lc 1:1-3 - Os autores usaram, em sua maioria, documentos previamente escritos para
elaborar seus evangelhos.
“O Espírito Santo não somente dirigiu os autores dos evangelhos às fontes materiais con-
fiáveis, mas também lhes deu conhecimento dos eventos por revelação direta. Assim, os evan-
gelhos, bem como todas as Escrituras, são únicos em comparação com o corpo inteiro da pro-
dução literária humana. Portanto, não é possível tratar a história literária dos evangelhos da
mesma maneira que um crítico analisa os fatores que contribuem para a produção de um traba-
lho que nasce apenas da genialidade humana.”167
O Espírito Santo os revelou e eles registraram com suas próprias palavras.168

Sinóticos
Mateus, Marcos e Lucas são conhecidos como os sinóticos, pois ao coloca-los lado a lado
pode-se traçar uma sinopse, ou seja, um conteúdo visto como um conjunto, como um todo. Estes
três incluem relatos parecidos que podem ser estudados de modo comparativo e paralelo.
Estudá-los assim facilita uma reconstrução da vida de Jesus, explica aparentes contradi-
ções nas histórias e parábolas e destaca as características literárias e teológicas e a ênfase de cada
evangelho.

Mateus
Escrito em torno de 58 a 60 d.C. O principal objetivo era apresentar Jesus como o Messias
prometido. Ele apresenta Jesus como Rei, da linhagem de Davi.

Para quem ele escreveu?


Seu público principal eram os judeus. A pergunta que ele tenta responder aos judeus era:
Quem ele é? Evidências de que Mateus tenha escrito seu evangelho pensando nos judeus:
• Ele se preocupa com o cumprimento do AT, fazendo várias alusões às Escrituras hebrai-
cas e citações.
• Ele faz paralelos entre Jesus e Moisés e Jesus e Davi, para chamar a atenção dos judeus.
• Mateus usa termos como “reino dos céus” ao invés de “reino de Deus” (Lucas utiliza
esta), a fim de aderir ao reverente costume judaico de não usar o nome de Deus.
• Mateus não explica os costumes judaicos, provavelmente por esperar que seu público
leitor já estivesse familiarizado com essas práticas.

Davi
Jesus é apresentado como o judeu abraâmico e rei messiânico prometido da linhagem de
Davi. Em 1:1-17 Mateus divide a genealogia em 3 grupos de 14, pois 14 é o total numérico do
nome de Davi.

167 Comentário Bíblico Adventista, v. 5, p. 165.

168 GC, p. v-vii.

145
Moisés
Jesus é apresentado em paralelo com Moisés quando:
• Um rei tentou matá-lo no seu nascimento (2:1-18)
• Passa um período no Egito (2:13-15)
• 40 dias sendo tentado no deserto (4:1-11)
• profere o sermão do monte (5-7) – paralelo à entrega da Lei no Sinai. Nesse caso Jesus
apresenta uma nova ou mais completa compreensão da lei em um monte.

Divisão
O livro é dividido por estudiosos em 5 seções que começam com histórias e depois um
discurso ou declaração, assim como o Pentateuco169:
• Introdução (1-4:11)
• Seção 1 (4:12-7:29)
o Ministério na Galileia
o Sermão do monte
• Seção 2 (8:1-11:1)
o Relatos de curas
o Chamado dos 12 apóstolos
• Seção 3 (11:2-13:53)
o Ministério na Galileia
o Parábolas do reino celestial
• Seção 4 (13:54-19:1)
o Ministério na Galileia
o A vida no reino
• Seção 5 (19:2-26:1)
o Conflito com os líderes judeus
o Discursos sobre o tempo do fim
• Conclusão
• Morte e Ressurreição
• Epílogo

Reino
Um conceito que aparece muito em Mateus é do reino de Deus. Donald Bridge divide o
livro em 5 categorias sobre o Reino170:
• Prólogo – O Homem nascido para ser Rei (cap 1-2)
o “Onde está aquele que nasceu para ser o rei dos judeus?” 2:2
• Parte 1 – As boas novas do Reino (cap 3-9)
o “Deles é o reino”

169 Bíblia de estudo Andrews, p. 1234.

170 Donald Bridge. Why four Gospels, p. 67-69.

146
• Parte 2 – embaixadores do reino (cap 10-12)
o “Preguem esta mensagem: o reino está próximo.” 10:7
• Parte 3 – Os segredos do Reino (cap 13-16)
o “O conhecimento dos mistérios do reino tem sido dado a vocês.” 13:11
• Parte 4 – O progresso do Rei (cap 17-20)
o Deus dia: “Este é meu filho, a Ele ouvi”. 17:5
• Parte 5 – A paixão do Rei (cap 21-27)
o “Eis aí vem o teu rei”. 21:5
• Epílogo – O Homem com autoridade (cap 28)
o “Toda a autoridade me foi dada... ide e fazei discípulos”. 28:19-20
• Conclusão

Jesus é o rei prometido no AT. O livro de Mateus não é um compêndio de palavras soltas,
mas “elos de ligação do mesmo Deus que atuou na história de Israel e que falou através dos
profetas agora coloca em prática seu plano redentivo na história da humanidade”.171

Marcos
Atribui-se este evangelho a João Marcos que teria escrito por volta de 55 d.C. Ele é men-
cionado em alguns episódios: Mc 14:51-52, At 13:4-5, 13:13, 15:36-41, Cl 4:10, 2 Tm 4:11. Es-
tudiosos dizem que ele escreveu o evangelho a pedido de Pedro que estava pregando a mensa-
gem em Roma por volta do ano 55 a 60.
Marcos é o mais breve dos evangelhos, mas por causa de sua qualidade e profundidade
de seus escritos. Ele fala de poucos eventos, mas explica detalhes que os outros escritores não
explicam.

Para quem ele escreveu?


Seu público principal eram os romanos. Eles eram pragmáticos, práticos. Se alguém de-
sejasse atrair a atenção deles ou conquistar sua lealdade, eles perguntariam: o que esta pessoa
fez? Marcos fala exatamente isso. Ele responde à pergunta: O que Jesus fez?
Outras evidências dos romanos como público alvo, é que Marcos explica costumes judai-
cos (7:24, 15:42) e traduz para o grego expressões aramaicas (3:17, 5:41 etc).
O intenso foco de Marcos no sofrimento de Jesus e em seus ensinos sobre o sofrimento
sugere que os leitores estavam sendo preparados para suportar sofrimento ou o enfrentavam
no momento. Os cristãos estavam prestes a sofrer nas mãos de Nero, que os culpou pelo in-
cêndio de Roma.

Escrita
Jesus é apresentado como um homem de ação. Marcos utiliza frequentemente a palavra
“eutheós”, que significa imediatamente ou logo. O escritor está nos dizendo que o que Jesus tinha

171 R.T. France, Matthew – Evangelist and Teacher, p. 184

147
que fazer, ele fazia pronta e decisivamente.172
Outras expressões gregas que Marcos usa são eis e ek, “dentro” e “fora”. As traduções
não apresentam este uso frequente, pois são redundantes. Seriam traduzidas como “entrou para
dentro” e “saiu para fora”. Só no primeiro capítulo (v.9-39) ele usa uma ou outra 17 vezes. A
impressão que Marcos queria passar é que Jesus estava constantemente intervindo na vida das
pessoas e nunca as deixava paradas quando elas se encontravam com Ele.
Como um jornalista moderno, sua história é cheia de verbos e advérbios escrita num ritmo
acelerado.

Padrão
O livro de Marcos parece seguir o mesmo padrão do sermão de Pedro em Atos 10.
• At 10:36 – “as boas novas da paz através de Jesus”.
o Marcos começa com “as boas novas de Jesus Cristo
• At 10:37 – “começando na Galileia depois que batismo que João pregou”.
o Marcos introduz João Batista, e então o envia para a Galileia.
• At 10:38 – “Como Deus ungiu Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder.”
o Marcos descreve exatamente assim.
• At 10:38 – “E como ele andou por toda a parte fazendo o bem e curando todos que
estavam sob o poder do diabo.”
o Marcos gasta os primeiros 8 capítulos descrevendo uma emocionante série de
curas e exorcismos.
• At 10:39 – “e como nós somos testemunhas de tudo o que ele fez na terra dos judeus e
em Jerusalém.”
o A partir do cap. 9 Marcos termina o ministério na Galileia e mostra a tensão à
medida que Jesus conduz seus discípulos para o Sul através da Judeia para a confron-
tação em Jerusalém.
• At 10:39-40 – “eles o mataram pendurando-o numa cruz, mas Deus o ressuscitou no
terceiro dia”.
o Marcos 15 e 16 falam disto abertamente.

Propósito
Marcos tenta descrever Jesus como um servo, na figura de um boi servidor. Ler Mc 10:45

Lucas
Ler Lucas 1:1-3. Escrito por volta de 60 d.C., o evangelho de Lucas sempre foi visto
como um todo com o livro de Atos. Na verdade, trata-se de apenas um livro, que posterior-
mente foi dividido em 2.
Ele escreveu este evangelho para que Teófilo, cujo nome sig. “aquele que ama a Deus”,
conhecesse sobre a história de Jesus.

172 Donald Bridge. Why four Gospels, p. 45.

148
Autor
At 16:8-10 descreve: “Eles passaram por Mysia e foram para Trôade. Durante a noite
Paulo teve uma visão... Depois da visão, nós estávamos prontos para viajar para a Macedônia.”

Para quem ele escreveu?


Sua preocupação é comunicar a mensagem de quem era Jesus para um público não-judeu,
ou seja, gentio.173
Vemos isto no uso que Lucas faz do sistema de datação romano (2:1, 3:1-2), pelo hábito
de explicar os costumes judaicos e a geografia da região (2:22-24, 22:1, 24:13).
Se alguém quisesse chamar a atenção de um grego ou gentio, deveria responder à per-
gunta: “Como ele é?”

Temas
Sem o Evangelho de Lucas, muitas das parábolas e histórias mais conhecidas da Bíblia
não existiriam, como o filho pródigo, o bom samaritano, a grade festa, o rico e Lázaro, o fazen-
deiro tolo... todas vieram dos lábios de Cristo, mas da pena de Lucas.
Lucas também registra 3 canções de Maria, Zacarias e Simeão.
Lucas mostra Jesus amando a humanidade. Ele se preocupa em mostrar Jesus amando até
mesmo aqueles considerados indignos (pecadores e publicanos) e menos importantes (po-
bres, crianças e mulheres). Jesus instruiu seus seguidores a praticar este amor, chamando cada
um a deixar de lado aquilo que valorizava no passado a fim de seguir seus passos como discípulo.

Quem foi Jesus?


Jesus é apresentado neste livro como o amigo dos pecadores, o pastor que busca, o que
recebe pecadores, o restaurador da dignidade feminina, o homem que quebra barreiras.
Talvez a melhor maneira que Lucas usa para demonstrar quem como ele era, seja na forma
que descreve Jesus como o Homem que come com pecadores e indignos.
Parece que o livro de Lucas está organizado em torno das histórias e parábolas que en-
volvem pessoas em torno de uma mesa:

Ele aceita um convite para comer na casa de um fariseu

A parábola do grande banquete

O filho pródigo (uma festa para recebe-lo)

A ida à casa de Zaqueu

O jantar próximo à Páscoa

E outras histórias.
Os costumes dos fariseus quanto a comer com outras pessoas eram tão restritivos que as
pessoas eram excluídas.
• Leprosos por causa da doença
• cobradores de impostos por causa da profissão
• mulheres por causa do gênero

173 Bíblia de estudo Andrews, p. 1313.

149
• samaritanos por causa da religião
• gentios por causa da raça
• galileus por causa do dialeto
• todos eram marginalizados e excluídos.
Comendo com estes, Jesus mostra que toda a humanidade tem lugar no reino de Deus e
que a salvação está disponível a todos.

João
O evangelho de João, escrito por volta de 70 a 80 d.C., não faz parte dos evangelhos
sinóticos, como visto anteriormente. Ele contém algumas diferenças:
Linguagem: seu estilo é meditativo, elíptico, cheio de conceitos abstratos como luz, vida,
amor, glória, primogênito, vida eterna etc.
Material: ele descreve a história de maneira diferente, como se fosse uma conversa e não
como um livro de história.
Geografia: Joao só menciona dois episódios de Jesus junto ao lago. A maior parte de seu
ministério é desenvolvido na capital.
Tempo: parece que os outros evangelhos descrevem os eventos como acontecendo em
apenas um ano, mas João menciona pelo menos duas Páscoas antes da Páscoa que Jesus morreu.

Quem foi Jesus?


Ele apresenta Jesus como o Filho de Deus. Seu livro se preocupa em falar sobre como
Jesus era como Deus – divindade de Cristo. A pergunta que ele responde é “Por que ele veio?”.
Ele é apresentado como uma águia, um símbolo da divindade.

Padrão
João parece organizar seu relato em torno das festas judaicas:
• Páscoa – 1
• Casamento – 2
• Páscoa – 2:12-3:36
• Pentecostes – 5
• Páscoa – 6
• Tabernáculos – 7-8
• Dedicação – 10-11
• Preparação – 12
• Páscoa – 13-21
Outros sugerem que Jesus é apresentado aqui na ordem dos milagres que ele fez, come-
çando do mais simples (transformar água em vinho) até o mais difícil e improvável (ressuscitar
dos mortos). Na mesma proporção que os milagres vão acontecendo, a rejeição dos judeus
também vai aumentando.
De qualquer forma, João deixa um lindo legado teológico e profundo sobre a vida de
Jesus. Como ele mesmo disse, “nem no mundo inteiro caberiam os livros escritos a respeito do
Cristo, o Filho de Deus.”

150
Os 4 evangelhos
Ler Apocalipse 4:6-7 – Jesus sendo apresentado de formas diferentes. O texto pa-
rece ser um resumo de quem foi Jesus nos 4 evangelhos, pois os símbolos que João usa em Ap
são correspondentes aos símbolos descritos nos evangelhos.

Mateus Marcos Lucas João


Ano de publicação 60 d.C 55 d.C 58 d.C 80 d.C
Público-alvo Judeus Romanos Gentios Igreja
Jesus é Rei Servo Filho de Homem Filho de Deus
Destaque linguístico Expressões judai- Verbos e advér- Linguagem uni- Conceitos teológi-
cas bios versal cos
Pergunta Que é ele? O que ele fez? Como ele é? Por que ele veio?
Personagem do Ap Leão Boi Homem Águia

RESUMO
Os evangelhos nos apresentam Jesus de perspectivas diferentes, mas com uma mesma Missão. O desejo de
Deus de salvar o ser humano estava evidenciado em todos os episódios da vida de Cristo e servem de modelo para
nós hoje.

151
152
CAPÍTULO 21

Jesus
Toda a narrativa bíblica do Grande Conflito pode ser dividida em 4 etapas: Criação, Queda, Redenção
e Restauração. Este capítulo detalhará ainda o plano da Redenção e está baseado no NT.

O que dizem sobre Jesus


O que dizem os judeus. A corrente dominante do judaísmo rejeita a proposta de Jesus
ser Deus, um mediador de Deus, ou parte de uma Trindade. Argumenta que Jesus não é o
Messias por não ter nem realizado as profecias messiânicas do Tanach, nem apresentar as qua-
lificações pessoais do Messias. Jesus não teria cumprido as profecias por não ter construído o
Terceiro Templo (Ezequiel 37:26-28), não ter feito regressar os judeus a Israel (Isaías 43:5-6),
não ter trazido a paz mundial (Isaías 2:4) nem ter unido a humanidade sob o Deus de Israel
(Zacarias 14:9). De acordo com a tradição judaica, não houve qualquer profeta após Malaquias,
que enunciou as profecias no século V a.C. Um grupo denominado judaísmo messiânico con-
sidera Jesus o Messias, embora seja disputado se este grupo corresponde ou não a uma seita do
judaísmo.
O que dizem os muçulmanos. O islão considera Jesus (“Isa”) um mensageiro de Deus
(Alá) e o Messias (‘’al-Masih’’) enviado para guiar as tribos de Israel (bani isra'il) através de novas
escrituras, o Evangelho (‘’Injil’’). Os muçulmanos não reconhecem a autenticidade do Novo
Testamento e acreditam que a mensagem original de Jesus foi perdida, sendo mais tarde reposta
por Maomé. A crença em Jesus, e em todos os outros mensageiros de Deus, faz parte dos
requisitos para ser um muçulmano. O Alcorão menciona o nome de Jesus vinte e cinco vezes,
mais do que o próprio Maomé, e enfatiza que Jesus foi também um ser humano mortal que, tal
como todos os outros profetas, foi escolhido de forma divina para divulgar a mensagem de
Deus. No entanto, o islão considera que Jesus nem é a encarnação nem o filho de Deus. Os
textos islâmicos sublinham a noção estrita de monoteísmo (“tawhid’’) e proíbem a associação
de elementos a Deus, o que seria considerado idolatria. O Alcorão refere que o próprio Jesus
nunca alegou ser divino, e profetiza que durante o julgamento final, Jesus negará ter alguma vez
alegado tal (Alcorão 5:116). Tal como todos os profetas do islão, Jesus é considerado um mu-
çulmano, acreditando-se que tenha pregado que os seus seguidores deveriam prosseguir um
modo de vida correto, conforme ordenado por Deus.

153
Quem foi Jesus?
Nome
Um judeu contemporâneo de Jesus possuía um único nome, por vezes complementado
com o nome do pai ou cidade de origem. Ao longo do Novo Testamento, Jesus é denominado
“Jesus de Nazaré” (Mt 26:71), "Filho de José" (Lc 4:22) ou “Jesus, filho de José de Nazaré” (Jo
1:45). No entanto, em Mc 6:3, em vez de ser chamado “filho de José”, é referido como “o filho
de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão”. O nome “Jesus”, comum em várias
línguas modernas, deriva do latim “Iesus”, uma transliteração do gr. Ἰησοῦς (Iesous).
A forma grega é uma tradução do aramaico ‫( ישוע‬Yeshua), o qual deriva do heb. ‫יהושע‬
(Yehoshua). Aparentemente, o nome Yeshua foi usado na Judeia na época do nascimento de Jesus.
Os textos do historiador Flávio Josefo, escritos durante o século I em grego helenístico, a
mesma língua do Novo Testamento, referem pelo menos vinte pessoas diferentes com o nome
Jesus (i.e. Ἰησοῦς). A etimologia do nome de Jesus no contexto do Novo Testamento é geral-
mente indicada como “Javé é a salvação”.174

Profecias cumpridas do AT
Ver a Timeline profética com as profecias cumpridas por Jesus.
Existem centenas de profecias no AT que falam de um Ungido que Deus enviará para
libertar seu povo. Em hebraico, “ungido” é Messias. Em grego é “Cristo”. Assim, o verdadeiro
significado do nome Jesus Cristo é “Jesus, o Ungido” ou “Jesus, o Messias”.175
Gn 3:15 – o descendente prometido na Queda. “O plano da salvação fora estabelecido
antes da criação da Terra; pois Cristo é “o Cordeiro morto desde a fundação do mundo" (Ap.
13:8); foi, contudo, uma luta, mesmo para o Rei do Universo, entregar Seu Filho para morrer
pela raça culposa. Mas “Deus amou o mundo de tal maneira que deu Seu Filho unigênito, para
que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Jo 3:16. Oh, que mistério
da redenção! o amor de Deus por um mundo que O não amou! Quem pode conhecer as pro-
fundidades daquele amor que “excede todo o entendimento?” Durante séculos eternos, mentes
imortais, procurando entender o mistério daquele amor incompreensível, maravilhar-se-ão e
adorarão. CC, 9 e 10.
Sl 2 - O Sl 2 retrata a revolta dos homens contra Deus (v. 1-3). Ele descreve a resposta
de Deus para a revolta (4-6) e fala sobre o reino futuro de Cristo, o Messias (7-9). Esses últimos
versículos expressam a intenção de Deus de estabelecer seu Messias como o governante de todo
o mundo. Em Sl 2:7, o Senhor chama o Messias de “meu filho”. Eeu hoje te gerei” se refere
não ao nascimento, mas ao dia que o Messias provará ser o Filho de Deus. Em At 13:32-33
Paulo aplica essas palavras ao evento da ressurreição. Hb 1:5 também aplica a Cristo e diz que
ele é maior que os anjos.
Sl 45:6, 7 - Este salmo celebra a reunião final de Deus com os seres humanos, como um
casamento onde o noivo é o Messias e reinará para todo o sempre.

174 https://pt.wikipedia.org/wiki/Jesus

175 Guia fácil para entender a Bíblia, p. 179.

154
Mq 5:2 - Aqui Belém é identificada como o local do nascimento do Messias 700 anos
antes e que mesmo tendo nascido bebê, suas origens estão no passado distante, em tempos
antigos.

Características de Jesus
Nascimento
Nascido por volta do ano 4 a.C na época do império Romano, foi filho de uma adoles-
cente chamada Maria que havia se casado com José. Ambos eram descendentes do rei Davi, de
cuja linhagem, segundo os profetas, viria o Messias.
O casal recebeu 6 visitas de anjos, inclusive do arcanjo Gabriel. Foi dito a eles que deve-
riam dar o nome de Jesus, porque ele salvaria os pecados do povo. A Maria foi anunciado que
ela teria um filho que seria o Messias e também o Filho do Altíssimo.
Na noite em que Jesus nasceu, uma multidão de anjos apareceu aos pastores nos campos
próximos a Belém, anunciando: “Hoje na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador, que é Cristo,
o Senhor”. (Lc 2:11). Um anjo avisou a José para deixar Belém e ir ao Egito (Mt 2:13) e depois
regressar (Mt 2:19-21)

Testemunhas
Simeão, um judeu devoto que recebeu a promessa de ver o Messias antes de morrer (Lc
2:12-38) e Ana, uma profetisa que passou a servir a Deus no templo após a morte do seu marido,
identificaram Jesus como o Messias. Os sábios que vieram da Pérsia (Mt 2:1-12) viram uma
estrela especial que indicava que o “Rei dos judeus” havia nascido.
“Viram os magos uma luz misteriosa nos céus, naquela noite em que a glória de Deus
inundara as colinas de Belém. Ao desvanecer-se a luz, surgiu uma luminosa estrela que perma-
neceu no céu. Não era uma estrela fixa, nem um planeta, e o fenômeno despertou o mais vivo
interesse. Aquela estrela era um longínquo grupo de anjos resplandecentes...” DTN, 60

Humanidade
Na criação176, o homem foi feito à imagem e semelhança divina. Na encarnação, Deus se
fez à imagem e semelhança da humanidade. Esse mistério de poder, amor e graça infinitos es-
conde e revela segredos da Onipotência que só podem ser desvendados à luz das Escrituras.
Diz Ellen White: “A humanidade do Filho de Deus é tudo para nós. É a corrente de ouro que
nos liga a Cristo, e por meio de Cristo a Deus. Isso deve constituir nosso estudo” (Mensagens
Escolhidas, v. 1, p. 244).
Uma dúvida surge neste campo de estudo: Jesus veio com a natureza humana igual a Adão
antes ou depois da queda? Em teologia, o tema da queda é conhecido também como “lapso”.
Assim, ao se estudar sobre a natureza humana de Jesus, questiona-se se ela era pré-lapsariana
(como Adão antes da Queda) ou pós-lapsariana (como Adão depois da Queda).

176 Para um estudo mais aprofundado sobre esse assunto, consultar o artigo usado como base para as considerações a seguir: https://www.revistaad-
ventista.com.br/marcio-tonetti/destaques/nosso-perfeito-salvador/

155
O exame de algumas passagens bíblicas permite compreender que, no aspecto moral, a
natureza humana de Cristo se assemelhava à de Adão antes da queda, ou seja, como o primeiro
homem, Jesus não possuía propensões pecaminosas.
Se Cristo veio com a natureza humana de depois da queda, com todas as propensões,
decadência e tendências de pecado, então ele não pode ser o salvador177 e o ser humano hoje
pode espelhar-se nele e ser perfeito como ele foi. Porém esse ensino não é bíblico, visto que
nenhum ser humano pode ser perfeito como Jesus foi, pois Jesus não pecou. Se Cristo veio com
a natureza de antes da queda, então ele estava em certa vantagem, o que o tornava alvo das
acusações de Satanás. Para entender essa questão, alguns textos nos ajudam a elucidar o tema:
“Foi a natureza humana do filho de Maria trocada pela natureza divina do Filho de Deus?
Não; as duas naturezas foram misteriosamente unidas em uma pessoa – o homem Jesus Cristo”.
Carta 280, 1904 (cf. CBA, v. 5, p. 1113).
“O Senhor Jesus veio ao nosso mundo, não para revelar o que Deus podia fazer, e sim o
que o homem podia realizar, mediante a fé no poder de Deus para ajudar em toda emergên-
cia.”178
Jesus tomou a nossa natureza pecaminosa, mas somente no sentido de uma capacidade
diminuída resultante do princípio da hereditariedade física. Ele era fraco, frágil, debilitado, de-
gradado, degenerado, deteriorado, afligido e contaminado fisicamente, como nós depois da
queda. Ele não tinha nenhuma vantagem em sua natureza humana em relação aos outros seres
humanos. Cristo tomou a natureza do homem depois que a raça humana havia sido enfraque-
cida por 4 mil anos de pecado.179 Ler Hebreus 4:15.
Porém ele não tinha uma tendência à corrupção, não tinha mancha de pecado, propensão
má em sua natureza espiritual sem pecado. Portanto nesse aspecto era como Adão antes da
queda.180 “Cristo tinha uma natureza humana com uma capacidade menor (Ele foi afetado pelo
pecado), contudo uma capacidade que não fora infectada por tendências ou propensões naturais
para o pecado.”181

Identidade e singularidade
Duas palavras são importantes nesse debate: identidade de Cristo (o que ele se identifica
com o homem) e singularidade de Cristo (o que ele tem de diferente do homem). Usar essas
duas expressões é mais adequado do que falar de pré-queda ou pós-queda. Quando se tratava
de Cristo como Aquele totalmente sem pecado, o substituto sacrifical, ela era pré-queda. Mas
ao descrever sobre sua capacidade de resistir em momentos de tentação, sua identidade era pós
queda.182
“Jesus era suficientemente como nós em Sua natureza (uma profunda identidade) para re-
almente ser capaz de se identificar com nossas lutas na tentação e nos dar toda a vitória

177 Woodrow Whidden, Ellen White e a humanidade de Cristo, p. 115.

178 Manuscrito 1, 13/11/1892 (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 136-144).

179 DTN, p. 49.

180 Woodrow Whidden, Ellen White e a humanidade de Cristo, p. 93

181 Idem, p. 42.

182 Idem, p. 100.

156
necessária para nos levar ao reino, e ao mesmo tempo era suficientemente diferente de nós (uma
profunda singularidade) para ser sem pecado o bastante em sua natureza e atuação a fim de ser
nosso substituto plenamente satisfatório e impecável.”183
“Por sobre a Sua natureza sem pecado, Ele tomou a nossa natureza pecaminosa.”184
Resumindo,
Natureza de Cristo
Natureza moral de Jesus ® Foi como a de Adão antes da Queda, pois não tinha propensões, tendên-
cias e mancha do pecado.
Natureza física de Jesus ® Foi como a de Adão depois da Queda, pois tinha a degradação das con-
sequências do pecado.

Tentação
No entanto, se Jesus não tinha propensões pecaminosas, como foi então “tentado em
todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb 4:15)? Estaria esse texto dizendo
que Cristo tinha propensão ao erro como todos nós, mas que, mesmo assim, não cometeu atos
pecaminosos?
Para responder a essas perguntas, é preciso saber o que é, de fato, a tentação. No Éden
(Gn 3) e no deserto (Lc 4), podemos entender melhor esse tema. Antes de possuir propensões
pecaminosas, após a argumentação da serpente, o primeiro casal acreditou que “a árvore era boa
para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento” (Gn 3:6, itálico
acrescentado).
Nessa passagem, é possível perceber três aspectos de toda tentação: (1) fisiologia; (2) vi-
são; (3) orgulho. A vontade de comer o fruto representa todos os desejos de ordem biológica,
como sono e sexualidade; o juízo estético de Adão e Eva em relação ao fruto representa toda a
tendência humana de avaliar as pessoas e as coisas pelo que se vê; a compreensão equivocada
deles de que o fruto poderia lhes dar entendimento foi a tentação de imaginar que pudessem ser
mais sábios do que Deus.
Como o segundo Adão (1Co 15:45; Rm 5:12-21), Cristo foi submetido ao mesmo teste.
De acordo com a sequência de Lucas, o diabo tentou Jesus no deserto assim: (1) “Se és o Filho
de Deus, manda que esta pedra se transforme em pão” (fisiologia); (2) “E, elevando-o, mostrou-
lhe, num momento, todos os reinos do mundo” (visão); (3) “Se és Filho de Deus, atira-te daqui
abaixo” (orgulho). Na última tentação, o diabo queria que Jesus usasse uma estratégia humana
de poder e não a que estava determinada pelo Pai. Ao jogar-se do pináculo do templo para
forçar um salvamento espetacular dos anjos, Jesus “comprovaria” que era o Messias. Contudo,
a vontade de Deus era que as pessoas chegassem a esse entendimento pela fé nas Escrituras.

183 Idem, p. 116.

184 Ellen White, Carta 67, 1902.

157
Esse mesmo padrão tridimensional da tentação também se verifica em relação a todo ser
humano. Ao nos exortar contra a tentação, o apóstolo João disse: “Tudo o que há no mundo,
a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai,
mas procede do mundo” (1Jo 2:16, itálico acrescentado). Nesse texto, vemos os três aspectos
da tentação mais uma vez: (1) fisiologia (“carne”); (2) visual (“olhos”); (3) orgulho (“soberba da
vida”).
Nesse sentido, Jesus “foi tentado em todas as coisas à nossa seme- Jesus “foi tentado em
lhança, mas sem pecado” (Hb 4:15). A expressão “à nossa semelhança” todas as coisas à nossa
(do grego homoiotes) indica que a tentação de Cristo não foi exatamente semelhança, mas sem
igual à nossa, mas parecida. pecado”.
Além disso, a cláusula “sem pecado” indica a principal diferença
entre a nossa tentação e a de Cristo. Enquanto Ele era “sem pecado”, nós enfrentamos a tridi-
mensional tentação com as nossas concupiscências, que são propensões pecaminosas (1Jo 2:16;
ver Tg 1:14). Isso não nos coloca em desvantagem em relação a Cristo; ao contrário, faz dele
nosso perfeito substituto. Com a natureza humana semelhante à de Adão no aspecto moral,
Cristo venceu onde o primeiro homem falhou e, assim, libertou a humanidade das garras do
inimigo (Rm 5:12-21).

Aparência física
Como era a aparência física de Cristo antes da encarnação?185 - A Sua cabeça e ca-
belos eram alvos como branca lã, como a neve; os olhos como chama de fogo; os pés seme-
lhantes ao bronze polido, como refinado numa fornalha; a voz de muitas águas. Tinha na mão
direita sete estrelas e da boca saía-Lhe uma afiada espada de dois gumes. O Seu rosto brilhava
como o sol na sua força (Ap 1:14-16).
O que a Bíblia diz em relação ‘a aparência física de Cristo quando esteve aqui na
Terra? – “Porque foi subindo como renovo perante Ele, e como raiz duma terra seca, não tinha
aparência nem formosura; olhamo-Lo, mas nenhuma beleza havia que nos agradasse.” Isa. 53:2.
“Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois Ele, sub-
sistindo em forma de deus não julgou, como usurpação o ser igual a Deus; antes a Si mesmo se
esvaziou, assumindo, a forma de servo, tornando-Se em semelhança de homens; e, reconhecido
em figura humana.” Fil. 2:5-7.
Mas no meio de vós está quem vós não conheceis, o qual vem após mim, do qual não sou
digno de desatar-Lhe as correias das sandálias. João 1:26 e 27.
Como Ellen White descreveu a aparência física de Jesus? – “As palavras de João não
se podiam aplicar a nenhum outro senão ao longamente prometido. O Messias se achava entre
eles! Sacerdotes e principais olharam em torno, com assombro, na esperança de descobrir
Aquele de quem João falara. Ele, porém, não era distinguível entre a multidão.” DTN p. 120.
“Ao olhar Natanael para Jesus ficou decepcionado. Poderia esse homem que apresentava
os vestígios da labuta e da pobreza, ser o Messias?” DTN p. 124.
“Ele Viajava a pé, ensinando Seus discípulos ‘a medida que seguia. Suas vestes eram em-
poeiradas e manchadas pela viagem. Sua aparência não era atraente; porém as verdades

185 http://www.centrowhite.org.br/pesquisa/artigos/a-humanidade-de-cristo/

158
apontadas de modo simples que caíam de Seus lábios divinos faziam com que os ouvintes se
esquecessem de Sua aparência e se sentissem atraídos, não pelo homem, mas pela doutrina que
Ele ensinava.” 4T p. 373.
“Era assinalado o contraste entre Jesus e o sumo sacerdote, quando juntos falavam…
Perante essa augusta personagem achava-Se a Majestade do Céu, sem adorno ou ostentação.
Tinha nas vestes os vestígios das jornadas; Seu rosto era pálido e exprimia tristeza; todavia, nEle
se estampavam dignidade e benevolência em estranho contraste com o ar orgulhoso, presun-
çoso e irado do sumo sacerdote.” DT p. 568.
“Ele depôs Sua glória e majestade. Era Deus, no entanto, as glórias da forma divina, Ele,
por um pouco, renunciou.” RH, 5 de julho, 1887.

Divindade
Jesus era humano e divino ao mesmo tempo. A isso se chama dualidade, pois Ele era
100% homem e 100% Deus.
Por natureza Deus é: Pessoal, mas presente em toda parte (onipresente) de Seu Universo
criado (Sal. 139:7-12); Conhecedor de todas as coisas (onisciente) (Sal. 139:1-4); Todo-poderoso
(onipotente) (Mat 19:26); Existente “de eternidade a eternidade” (eterno) (Sal. 90:2); Imutável
em Sua natureza e caráter (Mal. 3:6); Totalmente justiça e bondade (bondoso) (Sal. 145:9; 19:7-
9); Um ser de amor (amor perfeito, desinteressado) (1 Jo 4:8). Os mesmos atributos de Deus
podem ser verificados na pessoa de Cristo.
Há diversos texto bíblicos que evidenciam a divindade de Jesus. Alguns exemplos:
Hebreus. O objetivo do livro é mostrar a superioridade de Jesus em relação a Moisés,
anjos e sacerdotes. Ele recebe adoração de anjos, portanto é Deus. Hb 1:8 – “Ó Deus...”. Por
toda a epístola o autor sugere que o Deus YHWH do AT é o Jesus do NT.
Tt 2:13 – Salvador Jesus – nosso grande Deus
2 Pe 1:1, Rm 9:5, Cl 1:19 e 2:9
Fl 2:2-8 – forma, morphe, “todas as características e atributos essenciais de Deus”
Is 43:10-11, Is 9:6, Is 7:14 e Mt 1:23
Cl 1:15 – primogênito – ele tem primazia sobre a criação e v. 16 e 17
Ap 1:8 – Is 44:6
Ap 4 e 5 dizem que o Cordeiro é digno de ser adorado.

João
João é um dos evangelhos que mais destacam a divindade de Jesus.
• 1:1-18 – O Verbo que se fez carne e habitou entre nós (v.14) que João identifica como
sendo Jesus, foi o mesmo Verbo que estava com Deus e “era Deus” (v. 3).
• 3:16 – monogenes, (monos – único e genos – espécie) ou “único de uma espécie”. Não se
refere a Deus o Pai gerando a Jesus como Seu Filho semidivino literal, mas indica a sin-
gularidade de Jesus como Deus encarnado. O Deus Criador tornou-se carne (Jo 1:14).
• 5:17 – nessa declaração Jesus diz que Deus é Seu Pai, fazendo-se igual a Deus.
• 8:58 – ele reclama para si o título pertencente a Deus, o “Eu Sou” de Êx 3:14. Nesse texto
Jesus se identifica com o Deus do AT, YHWH.
• Jo 20:28 - Confissão de Tomé – “Senhor meu e Deus meu”.

159
YHWH
Ele orou: “E agora, ó Pai, glorifica-me comigo mesmo, com a glória que eu tinha contigo
antes que o mundo existisse” (João 17: 5). Mas o Senhor do Antigo Testamento disse: “Não
glorificarei a minha glória a outro” (Isaías 48:12).
Jesus também declarou: “Eu sou o primeiro e o último” (Ap 1:17) - precisamente as pa-
lavras usadas por Yahweh em Isaías 44:6.
Ele disse: “Eu sou o bom pastor” (João 10:11), mas o Antigo Testamento disse: “O Se-
nhor é o meu pastor” (Sl 23: 1).
Além disso, Jesus alegou ser o juiz de todas as pessoas (Mt 25: 31; Jo 5: 27), mas Joel cita
Yahweh dizendo: “pois ali sentarei para julgar todas as nações de todos os lados” (Jl 3:12).
Da mesma forma, Jesus falou de si mesmo como o “noivo” (Mt 25: 1), enquanto o Antigo
Testamento identifica Yahweh dessa maneira (Is 62:5; Os 2:16).
Enquanto o salmista declara: “O SENHOR é a minha luz” (Sl. 27: 1), Jesus disse: “Eu
sou a luz do mundo” (Jo 8:12). 186

Jesus em todos os momentos da história


(Ver timeline profética.)

O grande propósito de Cristo


Is 53.

RESUMO
Jesus, o Verbo de Deus, se fez carne e habitou entre nós para que o caráter de Deus fosse revelado no
Filho, para que a Missão da Divindade fosse concretizada e para que todos pudessem ter salvação.

186 Norman L. Geisler, “Christ, Deity Of,” Baker Encyclopedia of Christian Apologetics, Baker Reference Library (Grand Rapids, MI: Baker Books, 1999), 129.

160
CAPÍTULO 22

Ensinos e morte de Jesus


Toda a narrativa bíblica do Grande Conflito pode ser dividida em 4 etapas: Criação, Queda, Redenção
e Restauração. Este capítulo detalhará ainda o plano da Redenção e está baseado no NT.
Jesus ensinou muitas coisas. Dentre seus ensinos, 3 se destacam: o que Ele disse sobre a
Lei de Deus, sobre o Reino de Deus e sobre o fim dos tempos.

O que Jesus ensinou sobre a Lei


Mateus 5:17-18 - O sermão do monte registrado em Mateus 5 pode ser entendido como
uma nova e mais profunda interpretação da Lei de Deus. Assim como Moisés recebeu a Lei no
monte Sinai, assim também Mateus “desejava retratar Jesus como o novo Moisés, entregando a
nova lei no ‘novo Sinai’.”187 Aqui Jesus aborda seis exemplos do Antigo Testamento (v. 21-48)
que tem sido tradicionalmente chamadas de as seis antíteses, porque todas começam com “ou-
vistes que foi dito”[...], “mas eu vos digo”. Jesus toma um ensino ou interpretação de uma pas-
sagem das Escrituras e lhe atribui uma compreensão mais plena, profunda e espiritual.188
João 15:10 - Cristo guardou e cumpriu a Lei. Pecado é a transgressão da lei (1 João 3:4).
Se Cristo tivesse cometido um único pecado, não poderia ser nosso Salvador (ver Romanos
5:19).
João 14:15, 21 - Jesus ensinou que a obediência aos mandamentos é fruto do amor que
temos por Deus.
Gálatas 3:24; Romanos 3:20; 7:7 – Jesus ensinou que a Lei não foi abolida, mas tem
uma função especial de nos apontar para o Salvador.

Os 10 mandamentos são a base do governo de Deus. Desde a criação do mundo, vemos


a lei de forma implícita. Ainda no Gênesis, primeiro livro da Bíblia, vemos alusões ao primeiro
e segundo mandamentos (35:1-4); ao quarto (2:1-3); ao quinto (18:19); ao sexto (4:1-8); ao sé-
timo (39:7-9; 19:1-10); ao oitavo (4:1-11); ao nono (12:11-13; 20:1-10); e ao décimo (27).

187 Bíblia de estudo Andrews, p. 1239.

188 Idem, p. 1241.

161
O Novo Testamento contém cada um dos mandamentos, ensinando assim que a Lei tem
uma validade eterna.
01. “Não terás outros deuses diante de Mim” (At 15:20; 17:22, 28, 29).
02. “Não farás para ti imagem de escultura” (1Ts 1:9).
03. “Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão” (Mt 5:33-37).
04. “Lembra-te do dia de sábado para o santificar” (At 16:13; Hb 4:4-6).
05. “Honra teu pai e tua mãe” (Ef 6:1).
06. “Não matarás” (Mt 5:21, 22).
07. “Não adulterarás” (Mt 5:27).
08. “Não furtarás” (Rm 13:9).
09. “Não dirás falso testemunho” (Mc 10:19).
10. “Não cobiçarás” (Rm 7:7).

O que ele ensinou sobre o sábado?


O que Jesus disse acerca do quarto mandamento da lei? Marcos 2:27, 28
Jesus alguma vez transgrediu o sábado? Marcos 3:2-5
A Bíblia registra oito episódios de controvérsia, envolvendo o sábado, em que Jesus de-
monstrou o significado desse dia para o ser humano: (a) os discípulos colhendo espigas (Mateus
12:1-8); (b) Jesus cura um homem com a mão ressequida (Mateus 12:9-15); (c) a cura de um
homem com espírito imundo (Marcos 1:21-28); (d) a cura de uma mulher enferma havia 18 anos
(Lucas 13:10-17); (e) cura de um homem hidrópico (Lucas 14:1-6); (f) cura de um enfermo no
tanque de Betesda (Jo 5:1-15), (g) cura de um cego de nascença (Jo 9:1-14); e (h) o problema da
circuncisão (Jo 7:22-24).

Reino de Deus

O reino de Deus189 é um tema importante e uma prioridade significativa nos ensinos de


Jesus. A frase ocorre quase 50 vezes em Mateus, 16 vezes em Marcos, cerca de 40 vezes em
Lucas, e três vezes em João. Onde quer que apareça – seja na oração do Senhor, no Sermão do
Monte ou nos outros ensinos e parábolas de Cristo – o reino de Deus é uma expressão do que
Deus fez pela raça humana na História ao lidar com o problema do pecado e dar uma conclusão
decisiva ao grande conflito com Satanás.
O reino de Deus é diferente de qualquer reino que o mundo já tenha conhecido, e é por
isso que ele não é um reino terreno.
“O reino de Deus não vem com aparência exterior. Vem mediante a suavidade da inspi-
ração de Sua Palavra, pela operação interior de Seu Espírito, a comunhão da alma com Aquele
que é sua vida. A maior manifestação de Seu poder se observa na natureza humana levada à
perfeição do caráter de Cristo” (Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver, p. 36).

189 Estudobaseado na lição da Escola Sabatina de junho de 2015 disponível em https://www.adventistas.org/pt/escolasabatina/2015/06/06/licao-11-


o-reino-de-deus/

162
Características do reino de Deus
Os evangelhos estão repletos de referências ao reino de Deus, sendo que todas elas ates-
tam, cumulativamente, que foi inaugurada uma nova ordem em Jesus e por meio dEle. O que
Jesus ensinou a respeito do Reino de Deus é surpreendente.
De quem é o Reino? Em Lucas 11:2 ele ensina que os discípulos deveriam orar assim:
“venha o teu reino”. Dizer que esse reino é de Deus não é simplesmente dizer o óbvio, mas,
sim, afirmar que o reino de Deus não é uma noção filosófica nem um sistema ético. Não é um evangelho
social que proclama pão e água para os famintos ou igualdade e justiça para os politicamente
oprimidos. Ele transcende toda bondade e ação moral humana, e se centraliza na atividade soberana
de Deus no Filho encarnado, que veio pregar as boas-novas do reino (Lc 4:42-44; Mt 4:23-25).
Quem inaugurou? O reino foi inaugurado por Jesus, o Messias. (Lucas 1:32, 33). A
passagem é de máxima importância por duas razões: primeira, o Messias esperando no Antigo
Testamento não é outro senão Jesus, o “Filho do Altíssimo”; segunda, “Seu reinado não terá
fim”. Isso significa que, pela Sua encarnação, morte e ressurreição, Jesus venceu o desafio de
Satanás à soberania divina e estabeleceu eternamente o reino de Deus. “O reino do mundo se
tornou de nosso Senhor e do Seu Cristo, e Ele reinará pelos séculos dos séculos” (Ap 11:15).
No conflito entre Cristo e Satanás, o inimigo reivindicou vitória após a queda de Adão e Eva.
Mas a missão de Jesus provou a falsidade das reivindicações dele; Cristo o derrotou em todas as
batalhas, e com Sua morte e ressurreição assegurou a todo o universo que o reino de Deus
chegou.
O Reino já. Jesus veio proclamando o reino de Deus. Em Sua primeira proclamação
pública em Nazaré (Lc 4:16-21), Jesus afirmou que, por meio dEle, naquele dia, haviam sido
inaugurados o reino e seu ministério de redenção conforme preditos na profecia messiânica de
Isaías. Lucas registrou outra afirmação que atesta a realidade presente do reino. Indagado pelos
fariseus quanto ao tempo em que viria o reino de Deus, Jesus respondeu: “O reino de Deus
está dentro de vós” (Lc 17:21). Outras traduções sugerem: “O reino de Deus está entre vocês”
(NVI). Quer dizer, com a chegada de Jesus, já chegou o reino com seus componentes, que
incluem:
• cura dos doentes (Lc 9:11), Jesus fez do reino uma realidade
• pregação do evangelho (Lc 4:16-19), presente dentro da pessoa, trans-
• perdão dos pecados (Lc 7:48-50; 19:9, 10) formando-a em alguém seme-
• e subjugação das forças do mal (Lc 11:20). lhante a Ele.
Assim, Jesus fez do reino uma realidade presente den-
tro da pessoa, transformando-a em alguém semelhante a Ele. O reino de Deus também é visto
entre a comunidade de cristãos, como uma revelação de justiça e salvação. Esse aspecto presente
é também conhecido como “o reino da graça de Deus [que] está sendo agora estabelecido, à
medida que corações que têm estado sobrecarregados de pecado e rebelião se rendem à sobe-
rania de Seu amor” (Ellen G. White, O Maior Discurso de Cristo, p. 108).
Como entrar no reino de Deus? Lucas 18:29, 30. A entrada no reino de Deus não
depende do status nem da posição da pessoa, ou do fato de alguém possuir riquezas ou não.
Lucas, juntamente com outros evangelistas, enfatiza que a pessoa deve ir a Jesus com uma ati-
tude de entrega decidida, de dependência absoluta e de confiança infantil; esses são traços da-
queles que entraram no reino de Deus. Eles devem estar dispostos a renunciar a tudo, se neces-
sário; pois alguma coisa à qual não desejassem renunciar seria algo que, em certo sentido, não
só competiria com Jesus mas, na realidade, venceria. Jesus e Seus reclamos sobre nossa vida –
sobre todos os aspectos de nossa vida – têm prioridade máxima. Afinal, é somente por meio

163
dEle que existimos. Portanto, Ele deve ter nossa total lealdade.
Já, mas ainda não. Enquanto o aspecto do “já” estabeleceu o caráter irreversível do
reino, isto é, a derrota do pecado e de Satanás e a vitória de Jesus no grande conflito, o aspecto
do “ainda não” está aguardando o fim do mal e o estabelecimento da Nova Terra: “O completo
estabelecimento do reino de Sua glória, porém, não ocorrerá senão na segunda vinda de Cristo
ao mundo” (Ibid., p. 108). Lucas 21:29-31 afirma que o reino de Deus está próximo. Qual
reino? O reino da glória que virá quando Jesus voltar.
O reino que ainda não chegou. Quando Jesus falou sobre o reino de Deus, mencionou
duas certezas: (1) a atividade de Deus na História, por meio de Cristo, para salvar do pecado a
humanidade, e (2) o fim que Deus dará à História, restaurando os salvos a Seu plano original:
que eles vivam com Ele para sempre na Nova Terra (Ap 21:1-3). A primeira, como já dissemos,
chegou por meio da missão e do ministério de Cristo. Nele, já estamos no reino da graça (Ef
1:4-9). A segunda parte, a reunião dos santos no reino da glória, é a esperança futura aguardada
pelos que estão em Cristo (Ef 1:10; Tt 2:13). Jesus e o restante do Novo Testamento associam
esse momento histórico em que os fiéis herdarão o reino da glória à se-
gunda vinda de Cristo. Aqueles que já experi-
Aqueles que já experimentaram o reino da graça precisam esperar, mentaram o reino da
vigiar e orar pelo reino da glória. Entre um e outro, entre o “já” e o “ainda graça precisam esperar,
não”, os cristãos devem se ocupar com o ministério e a missão, com o vigiar e orar pelo reino
viver e o esperar, com seu crescimento e o testemunho. A espera pela da glória.
segunda vinda de Jesus exige a santificação de nossa vida aqui e agora.

CRENÇA DETECTADA 22. Conduta Cristã - Somos chamados para ser um povo piedoso, que pensa, sente e age de acordo com
os princípios do Céu. Para que o Espírito recrie em nós o caráter de nosso Senhor, só nos envolvemos naquelas coisas que produzirão
em nossa vida, pureza, saúde e alegria semelhantes às de Cristo. (I João 2:6; Efésios 5:1-13; Romanos 12:1 e 2; 1 Coríntios 6:19 e 20;
10:31; 1 Timóteo 2:9 e10; Levíticos 11:1-47; 2 Coríntios 7:1; 1 Pedro 3:1-4; 2 Coríntios 10:5; Filipenses 4:8).

Missão somente aos judeus


Um dos ensinos de Jesus foi a respeito de missão aos judeus, pois o tempo de graça
profetizado por Daniel ainda era válido.
Mateus 10:5-6 – Jesus envia os discípulos para que fossem a diversas cidades e pregassem
as boas novas do Reino, mas que evitassem cidades dos samaritanos e gentios. Ele fez esse
pedido, pois o período de graça que Deus deu aos judeus de 490 anos preditos na profecia de
Daniel ainda não havia terminado. Eles ainda poderiam (e deveriam) ser alcançados com a men-
sagem do Evangelho.

Lamento sobre Jerusalém


Mas os judeus não ouviram nem Jesus nem seus discípulos. Então Jesus faz um lamento
sobre Jerusalém em Mateus 23:37-39. A descrição de pesar de Jesus é notável pelas suas pala-
vras.

Escatologia de Mt 24
O final do cap. 23 conecta o discurso do cap. 24. Ali Jesus passa a falar a respeito dos
sinais dos tempos. Esse discurso relacionado ao fim dos tempos é chamado de escatológico.
Nesse capítulo Jesus alista uma série de eventos que tem sido interpretados como sinais
ou indicadores de que a Segunda Vinda está próxima. Eles incluem tumulto (religioso, político,

164
militar), desastres naturais, hostilidades aos discípulos, apostasia e dissipação, mas também a
proclamação do Evangelho. No entanto, Cristo disse que nada disso era indicativo de que o fim
havia chegado (v. 6). Esses acontecimentos não tem o propósito de apontar o momento espe-
cífico da Segunda Vinda, mas sim de nos lembrar da realidade desse evento.
Dois eventos são considerados sinais mais precisos: a pregação do evangelho em
todo o mundo (v. 14) e a segunda vinda em si (v. 30).
Diante da pergunta “quando?”, Jesus se preocupa em lhes falar sobre o como eles deve-
riam esperar o reino de Deus ao contar as parábolas de Mt 25.

Será pregado o Evangelho


Mt 24:14 - A expressão grega para “e será pregado” tem como raiz kerygma, uma procla-
mação audível e inteligível do evangelho paralelamente a “martyria”, que
evoca um sentido mais pessoal, de testemunho de vida. Esta ação keryg- O Evangelho deve ser
mática aponta para o fato de que o evangelho será pregado de forma proclamado de forma
compreensível. O “mundo” aqui exposto no texto é a tradução de oikou- audível e inteligível e
mene, que significa “mundo habitado”. A ideia textual, portanto, não é seguido de um teste-
geográfica, territorial, mas sim demográfica, onde há pessoas, mostrando munho de vida pessoal
que este evangelho do Reino será pregado kerygmaticamente, inteligivel-
mente, em todo o mundo habitado.
A forma de isso acontecer, segundo o texto, é através do testemunho a todas as nações.
A raiz para “testemunho” aqui é martyria, que nos ensina que esta ação proclamadora, kerygmá-
tica, do evangelho acontecerá através de uma Igreja martírica, que tenha o caráter de Cristo, ou
seja, apenas os salvos pregarão este evangelho do Reino. Finaliza a frase dizendo que o teste-
munho chegará a todas a nações, em que traduzimos o termo ethnesin, de ethnia, para nações, ou
seja, grupos linguística e culturalmente definidos.
Poderíamos parafrasear o verso 14 dizendo que “o evangelho do Reino será proclamado
de forma inteligível e compreensível por todo o mundo habitado, através do testemunho mar-
tírico, de vida, da Igreja, a todas as etnias definidas”. A frase final nos diz que “então virá o fim”
e “fim” aqui (telos) aponta para a volta do Senhor Jesus, ligada comumente à sua parousia, ao seu
retorno.

Daniel
O quadro que Cristo pintou dos acontecimentos futuros para Jerusalém e para seus se-
guidores em todo mundo é similar ao que foi esboçado primeiramente pelo profeta Daniel. O
discurso do monte das Oliveiras foi chamado por alguns como “os comentários ou Midrash190
de Jesus sobre o livro do Daniel”. É amplamente reconhecido que as profecias de longo alcance
de Daniel – com sua predição da apostasia, a perseguição, o juízo e a vindicação final dos fiéis
– deram forma ao discurso escatológico de Cristo. Esta conexão pode ver-se sem dificuldades
da seguinte lista comparativa:191

190 Midrash é um termo cunhado na última época bíblica e que no período rabínico toma o sentido preciso de "interpretação e exposição" do texto
bíblico.
191 Hans K.La Rondelle, As Profecias para o tempo do fim, p. 38.

165
Daniel Jesus
"O que há de ser nos últimos dias" [na LXX: ti dei genésthai metá táuta: "É necessário assim acontecer" [dei genésthai] (Mar.
O que deve suceder no futuro] (Dan. 2:28). 13:7).
"Quando se cumprirão estas maravilhas?" (Dan. 12:6) O anjo respon-
"Dize-nos quando sucederão estas coisas, e que sinal ha-
deu que quando acabe a dispersão do poder do povo santo, "estas coi-
verá́ quando todas elas estiverem para cumprir-se?" [méle
sas todas se cumprirão" [na LXX: suntelesthénai pánta táuta] (Dan.
táuta sunteleísthai pánta] (Mar. 13:4).
12:7).
"Mas o povo dos que conhecem o seu Deus se tornará forte e ativo ...
"Sereis odiados de todos por causa do meu nome;
Alguns dos sábios cairão ... até ao tempo do fim, porque se dará́ ainda
aquele, porém, que perseverar até ao fim, esse será́ salvo"
no tempo determinado. ... mas, naquele tempo, será́ salvo o teu povo"
(Mar. 13:13; Mat. 24:13).
(Dan. 11:32, 35; 12:1).
"Até quando durará a visão do sacrifício diário e da transgressão assola- "Quando, portanto, virdes a abominação da desolação ...
dora, visão na qual é entregue o santuário e o exército, a fim de serem instalada no lugar santo" (Mat. 24:15, BJ).
pisados?" (Dan. 8:13).
"Sobre a asa das abominações virá o assolador" (Dan. 9:27). "Quando virdes a abominação da desolação instalada
onde não deve estar" (Mar. 13:14, BJ).
"tirarão o sacrifício diário, estabelecendo a abominação desoladora"
(Dan. 11:31; cf. 12:11).
"Porque aqueles dias serão de tamanha tribulação como
"E haverá́ tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve na-
nunca houve desde o princípio do mundo" (Mar. 13:19;
ção até aquele tempo" (Dan. 12:1).
Mat. 24:21).
"E eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem "Então, verão o Filho do Homem vir nas nuvens, com
...Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino" (Dan. 7:13,14). grande poder e glória" (Mar. 13:26; cf. Mat. 24:30).

Morte, ressurreição e ascensão


Morte de Jesus – Santuário e Moriá
Jesus foi crucificado no monte do calvário. Ali próximo era onde Abraão foi pedido para
sacrificar Isaque e onde depois foi construído o Templo de Salomão. Nesse mesmo monte o
templo de Herodes estava erigido e próximo dali Jesus foi crucificado.
No momento do sacrifício de Cristo, Mateus 27:51 diz que o véu do Santuário se rasgou
de alto a baixo, finalizando ali a obra do Santuário como uma sombra da realidade.

Lei cravada na cruz


Como entender textos com Cl 2:14 e Ef 2:14-16? 192
A análise de todo capítulo de Efésios revela que Cristo aboliu a inimizade entre judeus
e gentios. Guardar os mandamentos não produz inimizade alguma; a verdade é que, desobede-
cer aos mandamentos é que produz inimizade, e isso se dá em dois aspectos:
• Inimizade entre os seres humanos: se transgredimos os últimos seis mandamentos do
Decálogo (veja Êxodo 20). Se roubarmos, adulterarmos, mentirmos, cobiçarmos, etc, cer-
tamente machucaremos e/ou feriremos outras pessoas.
• Inimizade com Deus: se transgredimos aos quatro primeiros mandamentos do Decá-
logo, feriremos a Deus. “Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso

192 https://leandroquadros.com.br/cravados-na-cruz-efesios-214-15/

166
Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça” (Isaías
59:2).
Então, quais leis ou mandamentos causam inimizade em Efésios 2:14, 15?
Paulo tinha a missão de pregar aos gentios e, sendo que muitas leis judias causavam grande
inimizade e discriminação contra eles (uma delas era a circuncisão), Paulo foi enfático contra a
validade desta prática depois da morte de Cristo. Para ele, o que tem real valor é a circuncisão
“do coração” (Romanos 2:28, 29. Ver também Jeremias 4:4). Em Romanos 2 ele deixa muito
claro que, se alguém desobedece aos mandamentos, de nada vale a circuncisão feita na carne.
Essa e outras ordenanças, sem sentido para os gentios que já viviam numa época em
que Cristo já tinha morrido na cruz, eram uma carga muito grande na hora de evangelizá-los.
Tal sistema pedagógico antigo gerava mais confusão que bons recursos didáticos.
Por outro lado, os mesmos apóstolos, no início, se opunham a levar o evangelho aos
gentios. Isso foi motivo de desavença entre Pedro e Paulo até que Deus, em uma visão dada a
Pedro, o fez entender que todos são merecedores da Salvação (Atos 10, 11). Mais adiante, em
Atos 15, discutindo sobre a circuncisão, o mesmo Pedro disse que esse conceito (salvação não
somente para os judeus, sem a necessidade de se circuncidar para pertencer ao povo de Deus)
era muito difícil de ser aplicado (leia também 1 Coríntios 7:19).
A circuncisão era a parte externa do pacto de Deus com Abraão: de que através de sua
descendência viria o Messias (Gálatas 3). Entretanto, em nenhum momento esse pacto contem-
plou a vigência ou não dos 10 mandamentos, pois o aspecto moral da Lei não depende da
existência ou não de seu aspecto cerimonial.
Nossos pecados nos separam de Deus (Isaías 59:2), e que o único salário que merecemos
por eles é a morte eterna (Romanos 6:23; ver Ezequiel 18:4, 20). Devemos à Lei do Legislador
Divino nossa própria vida. Foi esse débito, “escrito de dívida” mencionado em Colossen-
ses 2:14, que Jesus cancelou na cruz. Seja em seu aspecto moral ou cerimonial, a Lei não
pode mais nos condenar à morte eterna se Jesus for nosso substituto e advogado (João 3:36; 1
João 2:1,2). No calvário, Cristo pagou o “escrito de dívida” ou “nota promissória” porque jamais
poderíamos pagar. A morte de Jesus em nosso lugar saldou essa dívida que tínhamos para com
Deus e Sua santa Lei (João 3:16. Leia também 2 Coríntios 5:21, 1 Pedro 2:24 e Efésios 5:2) e
agora podemos viver em paz através da fé em Cristo, nosso justificador (Romanos 5:1).
A Lei exige que a dívida seja paga, caso contrário a consequência será a morte. O
que Cristo cancelou na cruz foi a dívida que tínhamos com Deus, não a imutável Lei.
Paulo, em sua carta magistral aos Romanos, deixa isso bem claro nos capítulos 7 e 8: o
pecado nos escraviza e nos leva à morte. Para exemplificar isso, Paulo usou a expressão “corpo
de morte”, que para seus interlocutores possuía um significado latente: na época, uma forma de
punição era amarrar um cadáver nas costas de um condenado, e este deveria carregá-lo até que
a infecção do cadáver viesse a matá-lo. O pecado é nossa sentença de morte, lenta e dolorosa,
e somente Cristo pode retirar este peso de nós (Romanos 8). Porém, a boa notícia é que, em 2
Coríntios 5:17, Paulo diz que ao aceitar a Cristo somos “novas criaturas. Desse modo, o “corpo
morto pendurado” em nossas costas foi tirado de nós e carregado por Jesus!
As últimas palavras de Cristo na cruz são traduzidas em algumas versões da Bíblia como
“está consumado”. A palavra grega é tetelestai (“está consumado”) também significa “está pago”.
Logo, o que texto está ensinado é que Cristo saldou por completo nossa dívida na Cruz.

167
Portanto, o que Cristo saldou e aboliu na cruz foi a nossa dívida para com a Lei de
Deus, não a Lei em si. Graças à morte substitutiva de Jesus, essa dívida
foi cravada na cruz. Por seu sacrifício, Ele abriu a porta da salvação para Por seu sacrifício Jesus
todos os que quiserem (Apocalipse 22:17) entrar, sejam brancos, negros, abriu a porta da salva-
homossexuais, heterossexuais, pobres e ricos (João 3:16). ção para todos os que
Pela fé, vá até a cruz, olhe para Cristo (Hebreus 12:1, 2) e veja seus quiserem.
pecados cravados nela. Louve a Deus por Sua bondade e permita que o
Espírito implante o caráter obediente de Jesus em você (Hebreus 8:10; Romanos 8:29).
Um resumo:
Exigências da Lei > Homem > Pecado > Dívida > Morte
Exigências da Lei > Jesus > Morte > Cancela a dívida.

CRENÇA DETECTADA 9. Vida, Morte e Ressurreição de Cristo - Na vida de Cristo, de perfeita obediência à vontade de Deus, e em
Seu sofrimento, morte e ressurreição, Deus proveu o único meio de expiação do pecado humano, de modo que os que aceitam essa
expiação, pela fé, possam ter vida eterna, e toda a Criação compreenda melhor o infinito e santo amor do Criador. (João 3:16; Isaías
53; 2 Coríntios 5:14, 15 e 19-21; Romanos 1:4; 3:25; 4:25; 8:3 e 4; Filipenses 2:6-11; 1 João 2:2; 4:10; Colossenses 2:15).

Por que a ressurreição de Jesus é tão importante?


At 2:24
1 Co 15:17-19
“O salário do pecado é a morte” (Rm 6:23). Mas a morte não podia reter o Senhor (At
2:24): porque Ele possuía em Si mesmo a vida divina (Jo 5:26; 10:17, 18; DTN, 530), porque o
Pai O chamou (Mt 28:2-4; DTN, 780, 785) e porque, uma vez que Ele próprio era sem pecado
(lPe 2:22), a morte não podia reivindicá-Lo. A vitória de Cristo, Aquele que é sem pecado, sobre
a morte foi tão completa e eficiente que Sua ressurreição se tornou o tema da igreja apostólica.
E sem a ressurreição de Jesus, o Espírito não seria enviado em sua plenitude à Terra.

RESUMO
Os ensinos de Jesus mostram a essência de tudo aquilo que Deus desejava para nós. Sua ênfase no Reino
de Deus, no verdadeiro discipulado, na Lei, no amor e na Missão são um lembrete constante daquilo que devemos
crer e colocar em prática hoje.

168
CAPÍTULO 23

Missão e a Igreja Primitiva


Toda a narrativa bíblica do Grande Conflito pode ser dividida em 4 etapas: Criação, Queda, Redenção
e Restauração. Este capítulo detalhará ainda o plano da Redenção e está baseado no NT.
A ressurreição de Jesus marcou profundamente a Igreja primitiva, se tornando o tema da
pregação dos apóstolos e dos discípulos como um todo. Entender esse início da igreja é desco-
brir as chaves que abrem as portas dos séculos seguintes, pois grande parte da história ocidental
foi moldada pela Cristianismo primitivo.
Para compreender esse início, neste capítulo estudaremos sobre os 40 dias que Jesus pas-
sou na terra após a ressurreição, como iniciou a igreja cristã, como ela se organizou, o rompi-
mento com o judaísmo, a vida de Paulo, a expansão da igreja e o fim dos apóstolos.

40 dias
Durante os quarenta dias que se seguiram à ressurreição, Cristo esteve acessível aos dis-
cípulos, encontrando-Se ocasionalmente com eles.
• Maria, que O saudou no jardim, na manhã da ressurreição, não recebeu permissão para
tocá-Lo até que Ele tivesse ascendido ao Pai.
• Pouco mais tarde, depois de ter ido ao Céu e voltado, Cristo aceitou a aproximação reve-
rente das mulheres (Jo 20:16, 17; Mt 28:9; DTN, 789-793).
• Ele também encontrou-Se com Pedro (1Co 15:5).
• Próximo ao final do dia, caminhou com dois discípulos no caminho de Emaús.
• Uma semana mais tarde, Cristo Se revelou novamente, e Tomé, que não estivera presente
na aparição anterior, ficou convencido de que seu Senhor havia ressuscitado (Jo 20:24-
29).
• Então os discípulos tiveram um tempo de espera. Voltaram para a Galileia, e Pedro disse,
de maneira muito prática: “Vou pescar” (Jo 21:3). Seis dos discípulos se uniram a ele.
Pescaram a noite toda sem resultado. Pela manhã, um estranho na praia lhes ordenou que
lançassem a rede do lado direito dos barcos, e eles apanharam tantos peixes que não con-
seguiam recolhê-los. João reconheceu o Senhor, e Pedro foi andando pela água rasa até à
praia para adorá-Lo.
• Novamente Jesus apareceu aos onze na Galileia (Mt 28:16, 17).
• Encontrou-Se com um grupo de mais de quinhentos crentes (ICo 15:6).
• Revelou-Se a Tiago (v. 7).

169
A Grande Comissão
Em Jerusalém, Cristo deu aos onze a comissão evangélica:
1 . Ir a todo o mundo e fazei discípulos - A falha do povo escolhido, os hebreus, em
ser uma nação de sacerdotes, ministrando a verdade de Deus ao mundo (Êx 19:6; PP, 369-373),
devia ser corrigida pela igreja (1Pe 2:9).
2. Ensinar- A obra da igreja era uma missão de ensino. O conteúdo do ensino devia ser
aquilo que Jesus havia ensinado (Mt 28:20), sendo que sua base seria, da mesma forma que a do
ensino dEle, a revelação de Deus no AT (Lc 24:27, 44).
3. Batizar - O batismo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, o rito de iniciação
para os conversos, devia ilustrar e tornar funcionais os motivos que Jesus tinha ao ser, Ele
próprio, batizado por imersão, a fim de expressar o significado da morte para a velha vida e da
ressurreição para a nova vida.
CRENÇA DETECTADA 15. O Batismo - Pelo batismo confessamos nossa fé na morte e na ressurreição de Jesus Cristo e atestamos
nossa morte para o pecado e nosso propósito de andar em novidade de vida, sendo aceitos como membros por Sua Igreja. O batismo
deve acontecer por imersão na água e seguir as instrução nas Escrituras Sagradas (Mateus 3:13-16; 28:19 e 20; Atos 2:38; 16:30-33;
22:16; Romanos 6:1-6; Gálatas 3:27; 1 Coríntios 12:13; Colossenses 2:12 e 13; 1 Pedro 3:21).

4. “Eis que estou com vocês todos os dias.” - Depois Cristo, prestes a deixar os dis-
cípulos, lhes prometeu Seu contínuo companheirismo. Sempre estaria com eles, desde aquele
momento até o fim dos séculos.

Envio
Em João 20:21 vemos outra declaração de Jesus a respeito do envio dos discípulos: “No-
vamente Jesus disse: “Paz seja com vocês! Assim como o Pai me enviou, eu os envio”. Jo 20.21.
Temos aqui um paradigma sendo quebrado por Jesus, pois até este mo-
mento em nenhuma parte das Escrituras vemos a igreja sendo enviada Jesus inverte o fluxo
às nações. Como dito anteriormente, o chamado de Deus era para que missionário e não mais
as nações viessem para Jerusalém (Mq 7:12 – “as nações virão a ti”, Is chama as nações a Je-
60:3 – “as nações virão”). Agora Jesus inverte o fluxo missionário e não
rusalém, mas envia a
mais chama as nações a Jerusalém, mas envia a igreja às nações.
No capítulo a respeito do chamado de Abraão e do povo judeu, a igreja às nações.
missão era centrípeta, onde as partes distantes se convergiam ao centro.
Agora ela se torna centrífuga, partindo do centro em direção a todas as partes. Jesus já tinha
indicado essa mudança de direção em seus ensinos (Mt 13:38, 22:1-14, 24:14 etc). E nesse verso
de Jo 20:21 e Mt 28:18-20 ele explicita mais ainda essa verdade. “O povo de Deus agora é
enviado a todas as nações (Mt 28:19, Lc 24:27) [...] Agora chegou o tempo de a salvação de
Deus ir às nações.”193

Encarnacional
Um ponto que merece atenção é o modo de envio. Jesus diz que “assim como o Pai me
enviou, eu os envio”. Esse texto esclarece que do mesmo modo que Jesus veio a essa terra, se
encarnando, vivendo entre os seres humanos, servindo, amando, sofrendo e, se necessário for,
morrendo. Leslie Newbegin comenta: “Isso deve determinar a maneira como pensamos sobre

193 Michael Goheen. Igreja missional na Bílbia, p. 145.

170
missão e a realizamos; ela deve ser fundamentada sobre a missão dele e moldada conforme a
missão dele. Não temos autorização para cumpri-la de nenhuma outra maneira.”194
Um padrão que pode ser seguido é o dos Evangelhos. Como que Jesus é apresentado nos
Evangelhos? “Jesus formou uma comunidade para que esta participasse da sua própria missão
do reino e a encarnasse; Ele anunciou as boas novas e convidou pessoas a entrar nessa comu-
nidade por meio de arrependimento e fé e a receber as bênçãos e as exigências do reino; Ele
demonstrou o poder e o caráter do reino com o atos de poder e compaixão; Sua vida ilustrou
vividamente a vida no Reino: um relacionamento Aba com o pai; uma vida dotada de poder
pelo espírito; uma rica e profunda vida de oração com um clamor pelo
reino em seu cerne; uma obediência completa ao Pai; um clamor exi- Os Evangelhos forne-
gente por justiça, retidão, alegria, amor e perdão; uma identificação com
os pobres e marginalizados, e uma prontidão para desafiar com amor cem a base de uma
sacrificial os ídolos e poderes da cultura. Isso fornece um retrato amplo vida missional e encar-
e profundo da vida missional [e encarnacional] para qual a igreja é cha- nacional
mada.”195

Promessa do Espírito
O Senhor lhes disse: “Eis que envio sobre vós a promessa de Meu Pai; permanecei, pois,
na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder” (Lc 24:49). Não deviam tentar empreender
uma tarefa tão formidável quanto à evangelização do mundo em sua insuficiência e fraqueza.
Deveriam ir quando o poder viesse, mas não antes.
Depois de prometer o poder do Espírito, Jesus dirigiu Seus seguidores ao monte das Oli-
veiras, de onde foi elevado ao Céu. “Esse Jesus”, disseram os anjos, “virá do modo como O
vistes subir” (At 1:11). Os discípulos podiam construir, e de fato construíram, uma esperança
para o futuro com base nessa promessa segura, que era tripla: (1) Ele voltaria; (2) voltaria como
o mesmo Jesus, Aquele a quem tinham conhecido e amado na Terra; (3) Ele viria do modo
como O tinham visto ir: visível a todos, não de maneira secreta ou incerta.

Missão
A estrutura literária do Evangelho de Lucas196 encontra paralelos literários no livro de
Atos (que inicialmente eram um livro só). Assim, Lucas mostra que a missão de Jesus nos pri-
meiros capítulos de seu livro são paralelas à missão da Igreja primitiva nos capítulos iniciais de
Atos.
Tanto a missão de Jesus (em Lucas) como a missão de seu povo (em Atos) se iniciam com
oração (Lc 3:22, At 1:14) e uma resposta a essa oração na vinda do Espírito (Lc 3:22, At 2:1-
13). A vinda do Espírito é seguida de um discurso inaugural conectando o Espírito à missão,
que é confirmada com uma citação das Escrituras (Lc 4:16-21, At 2:14-39). Os dois discursos
inaugurais proclamam “libertação” (Lc 4:18, At 2:38); segue-se imediatamente uma cura (Lc
5:17-20, At 3:1-10), o que leva à oposição por parte dos líderes religiosos judeus (Lc 5:21, At
4:1-22). O objetivo teológico desse padrão literário em Atos é destacar como a missão de Jesus

194 Leslie Newbegin. Mission in Christ’s way, p. 1.

195 Michael Goheen. Igreja missional na Bíblia, p. 148.

196 Michael Goheen. Igreja missional na Bíblia, p. 153

171
continua por meio de seu povo.

Método de Cristo
Ellen G. White resume o que Jesus fazia para alcançar as pessoas e conduzi-las à salvação.
(Ver também Mt 9:35, 36.) “Unicamente os métodos de Cristo trarão verdadeiro êxito ao nos
aproximarmos do povo. O Salvador Se misturava com os homens como uma pessoa que lhes
desejava o bem. Manifestava compaixão por eles, ministrava-lhes às necessidades e conquistava-
lhes a confiança. Ordenava então: ‘Segue-Me’” (Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver, p.
143).
1. Jesus Se misturava com as pessoas como Alguém que lhes desejava o bem (Ele estabe-
lecia relacionamentos em uma abordagem encarnacional).
2. Jesus tinha compaixão pelas pessoas (Ele criava vínculos).
3. Jesus ministrava-lhes às necessidades.
4. Quando Ele combinava o primeiro, o segundo e o terceiro elementos, ganhava a con-
fiança das pessoas.
5. “Ordenava então: ‘Segue-Me’” (para que se tornassem Seus discípulos).
O que vemos aqui é um modelo integral (holístico) do evangelho. Esse método de minis-
tério nos guiará ao proclamarmos o evangelho de maneira mais plena. Jesus não separava os
aspectos sociais (itens 1 a 4) do convite para segui-Lo (item 5).

Inauguração do Santuário Celestial


Após sua ressurreição e ascensão, Jesus chega no céu e inaugura uma nova fase no San-
tuário celestial. Ao chegar, é recepcionado pelos anjos como diz no Salmo 24.
CRENÇA DETECTADA 24. O Ministério de Cristo no Santuário Celestial - Há um santuário no Céu. Nele Cristo ministra em nosso
favor, tornando acessíveis aos crentes os benefícios do Seu sacrifício expiatório oferecido uma vez por todas, na cruz. Ele foi empossado
como nosso grande Sumo Sacerdote e começou Seu ministério intercessório por ocasião da Sua ascensão. Em 1844, no fim do período
profético dos 2.300 dias, Ele iniciou a segunda e última etapa de Seu ministério expiatório. O juízo investigativo revela aos seres celes-
tiais quem dentre os mortos será digno de ter parte na primeira ressurreição. Também torna manifesto quem, dentre os vivos, está
preparado para a trasladação ao Seu reino eterno. A terminação do ministério de Cristo assinalará o fim do tempo da graça para os seres
humanos, antes do Segundo advento. (Hebreus 1:3; 8:1-5; 9:11-28; Daniel 7:9-27; 8:13 e 14; 9:24-27; Números 14:34; Ezequiel
4:6; Malaquias 3:1; Levíticos 16; Apocalipse 14:12; 20:12; 22:12).

Cristo, o autor da salvação, havia feito Seu sacrifício e alcançado vitória completa. Havia
demonstrado Suas qualificações para ser sumo sacerdote no santuário celestial, por haver der-
rotado o pecado e alcançado a vitória sobre a morte. O Capitão de nossa salvação havia sido
aperfeiçoado “por meio de sofrimentos” (Hb 2:10). Aquele que era a oferta pelo pecado (Hb
9:11-14) havia Se tornado o ofertante sacerdotal de Seu próprio sangue em favor do pecador
(Hb 8:1, 2; 9:23-28) à destra do Pai (At 7:56; Hb 10:11, 12). Ele ministra a graça expiatória em
favor dos pecadores (Hb 10:19-22; ver também Hb 12:1, 2; DTN, 819). Estando Cristo como
sacerdote no santuário celestial, seria impossível que qualquer ser humano fosse sacerdote na
Terra, por mais sincero que pudesse ser seu propósito ou suas pretensões.
Enquanto isso, na terra, os discípulos estavam reunidos, esperando a aprovação de Cristo
e o envio do Espírito Santo.
“Os discípulos sentiram sua necessidade espiritual, e suplicaram do Senhor a santa unção
que os devia capacitar para o trabalho de salvar almas. (...) A ascensão de Cristo ao Céu foi, para
Seus seguidores, um sinal de que estavam para receber a bênção prometida. Por ela deviam
esperar antes de iniciarem a obra que lhes fora ordenada. Ao transpor as portas celestiais, foi
Jesus entronizado em meio à adoração dos anjos. Tão logo foi esta cerimônia concluída, o

172
Espírito Santo desceu em ricas torrentes sobre os discípulos (...) O derramamento pentecostal
foi uma comunicação do Céu de que a confirmação do Redentor havia sido feita. De conformi-
dade com Sua promessa, Jesus enviara do Céu o Espírito Santo sobre Seus seguidores, em sinal
de que Ele, como Sacerdote e Rei, recebera todo o poder no Céu e na Terra, tornando-Se o
Ungido sobre Seu povo.” AA 40
Ap 4:5 fala da figura de 7 espíritos ao redor do trono de Deus. Esses 7 espíritos podem
ser entendidos como o Espírito Santo em sua plenitude. Ele desempenha diversas funções, al-
gumas das quais o AT destaca197:
1. Espírito pairando (Criação e Recriação): Gn 1:2; cf. Dt 32:11.
2. Espírito de Convicção/ Motivação/ Julgamento (antes do Dilúvio): Gn 6: 3 e Êx 15:8.
3. Espírito que habita/ transforma (José, Josué): Gn 41:38; Nm 27:18.
4. Espírito que enche/ equipa/ ilumina (Bezalel e Ooliabe, o óleo do candelabro): Êx
31: 3; 35:31; Lv 24: 1-4.
5. Espírito que delega, nomeia (os Setenta Anciãos): Nm 11:17, 25, 26, 29.
6. Espírito Inspirador/ Revelador (Balaão e os setenta anciãos, e o fogo e o dedo de Deus
no Sinai): Nm 24: 2; cf. Num 11:25, 26.
7. Espírito de Comissionamento/ Consagração (impondo as mãos para Josué e derra-
mamento do óleo da unção para os sacerdotes): Nm 27:18; Dt 34: 9; Êxodo 29: 7,21; Lv
8:12, 30.
Os dados em Êxodo 19 indicam que 50 dias após a primeira Páscoa encontra o povo de
Israel no Sinai: a experiência do Sinai ocorre no tempo de Pentecostes. Os paralelos entre o
primeiro Pentecostes no Sinai e a experiência no Cenáculo de Atos 2 são fenomenais. Assim
como no Sinai, na Antiga Aliança no primeiro Pentecostes houve terremoto, fogo, vento forte
e o dedo de Deus escrevendo a lei (Êxodo 19-20; 32: 15-16), assim no Pentecostes da Nova
Aliança a casa estremeceu, houve o som de vento impetuoso e línguas de fogo desceram sobre
os discípulos que esperavam (Atos 2: 1-4), e o Espírito Santo (o “Dedo de Deus”, cf. Mt 12.28
com Lc 11:20) escreveu Sua lei em seus corações e mentes (cf. Hb 10:16; 2 Cor 3: 3).
Quando Jesus foi recebido no céu, seu sacrifício foi aceito e ele derramou o Espírito Santo
aos discípulos que o receberam em Sua plenitude.

O Surgimento da Igreja
Dez dias de espera onde os discípulos tiveram íntima comunhão uns com os outros e
com o Senhor, em oração. No dia de Pentecostes, cinquenta dias após o dia da ressurreição,
quando Cristo Se apresentara como as primícias (ver Lv 23:15, 16), o Espírito de Deus foi der-
ramado, e a igreja foi inaugurada. Os discípulos, todos os 120, reunidos, viram, repousando uns
sobre os outros, a aparência de fogo. O Espírito encheu a casa e cada um dos discípulos (At
2:2-4).

197 Richard M. Davidson. https://digitalcommons.andrews.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1863&context=pubs

173
No dia de Pentecostes, receberam um dom muito necessário para testemunhar naquele
dia de festa, quando tantos dialetos diferentes estavam sendo falados na cidade. Receberam o
dom de línguas. O discurso de Pedro foi o mais notável. No final do dia, foram batizadas três
mil pessoas que buscavam a salvação.

CRENÇA DETECTADA 12. A Igreja - A Igreja é a comunidade de crentes que confessam a Jesus Cristo como Senhor e Salvador.
Unimo-nos para prestar culto, para juntos nos instruirmos na Palavra, para celebrarmos a Ceia do Senhor, para realizarmos a proclama-
ção mundial do Evangelho. A Igreja é a Família de Deus. A Igreja é o corpo de Cristo. (Gênesis 12:3; Atos 7:38; Mateus 21:43; 16:13-
20; João 20:21 e 22; Atos 1:8; Romanos 8:15-17; 1 Coríntios 12:13-27; Efésios 1:15 e 23; 2:12; 3:8-11 e 15; 4:11-15).

Igreja global
Jesus Cristo é o fundador da igreja como um todo:
Primeiramente, no sentido de que ela constitui a assembleia global da família de Deus,
desde Adão até a segunda vinda de Cristo;
E segundo, no sentido particular da igreja desde Sua encarnação.
Como fundador de um movimento, Jesus disse pouco sobre Sua
igreja, mas Ele fundou uma igreja. Os evangelhos citam as falas de A palavra “Igreja” signi-
Cristo sobre a igreja, utilizando a palavra ekklêsia, traduzida como fica literalmente “cha-
“igreja”, que, literalmente, significa “chamados para fora”, e cujo sen- mados para fora”.
tido é “chamados para fora e congregados”. Cristo disse que fundaria
Sua igreja e que ela seria edificada por meio de pessoas que teriam fé sincera nEle como o Filho
de Deus, gente que confessaria Seu nome (Mt 16:15-19).
Seria correto dizer que a igreja surgiu no Novo Testamento? Não, pois a “igreja” enten-
dida como uma reunião de crentes com o objetivo de cumprir a missão de Deus, já existia desde
os tempos do AT.
CRENÇA DETECTADA 14. Unidade no Corpo de Cristo - A Igreja é um corpo com muitos membros, chamados de toda nação,
tribo, língua e povo. Todos somos iguais em Cristo. Mediante a revelação de Jesus Cristo nas Escrituras, partilhamos a mesma fé e
esperança e estendemos um só testemunho para todos. Essa unidade encontra sua fonte na unidade do Deus triúno, que nos adotou
como Seus filhos. (Salmos 133:1; 1 Coríntios 12:12-14; Atos 17:26 e 27; 2 Coríntios 5:16 e 17; Gálatas 3:27-29; Colossenses 3:10-
15; Efésios 4:1-6; João 17:20-23; Tiago 2:2-9; 1 João 5:1).

Os eventos desse dia constituíram uma parte vital da história da igreja. A base estava
lançada. A igreja recém-nascida estava equipada espiritual e psicologicamente para suas tarefas.
O que veio a seguir foi a organização e a extensão da obra a partir de um início nobre e eficiente.

Relação com os judeus


Os discípulos não se separaram da igreja judaica. Consideravam-se um elemento refor-
mador que renovaria e revitalizaria a corporação mais antiga, que estava decadente. Portanto,
era algo normal que Pedro e João fossem ao templo na hora do sacrifício e da oração da tarde,
como haviam feito sempre que estiveram em Jerusalém.

O fundo comum
Havia um tesouro comum, para o qual contribuíam todos os que desejassem, com qual-
quer quantia. A comunhão entre esses Cristãos era espiritual, teológica, fraternal e econômica.
Ela funcionava em todas as relações mútuas entre eles.
Essa capacidade da igreja de encontrar, sob a direção de Deus, seu próprio meio de ma-
nutenção, colocava os seguidores de Cristo em posição de não mais dependerem da religiosidade
judaica. A igreja se tornou autossuficiente.

174
A Organização Inicial da Igreja
O apostolado
Os apóstolos eram os homens que Jesus havia aceitado para serem Seus alunos, dentre as
centenas que O seguiam de tempos em tempos. Eles eram Seus “apóstolos” (do gr. apostellõ, “eu
despacho”, e apóstolos, “alguém despachado”) ou “missionários” (do latim mitto, “eu envio”, e
missus, “alguém enviado”).

O diaconato
Várias dificuldades acompanharam a organização comunitária da igreja. O relato do Pen-
tecostes indica que muitos judeus não palestinos, chamados helenistas ou “gregos”, se uniram
à igreja. Entre estes estavam viúvas, que logo se queixaram de que não estavam recebendo do
fundo comum uma quantia adequada para sua subsistência. A queixa se tornou insistente e
distraiu os apóstolos de sua obra em favor do bem espiritual e do avanço da igreja. Foi feita e
adotada uma proposta de que fossem selecionados sete homens de boa reputação para admi-
nistrar o aspecto material dos assuntos eclesiásticos. Os nomes dos sete eram: Estêvão, Filipe,
Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nícolau (At 6:5).

Os possuidores de dons
A eleição dos sete administradores foi um aspecto importante do desenvolvimento da
organização da igreja. Até então a igreja havia funcionado sob o comando de pessoas distintas
por possuir os dons do Espírito, definidos como “apóstolos”, “profetas”, “evangelistas”, “pas-
tores” e “mestres” (Ef 4:11). Esses guias da igreja, que atuavam para a edificação espiritual desta
(v. 12-15), não eram nomeados pelos membros da igreja, mas pelo Espírito Santo, que conferia
os dons.

O ancionato
Devia haver em cada congregação uma pluralidade de anciãos, isto é deixado claro pelo
exemplo da primeira nomeação de oficiais em Jerusalém (At 6), bem como pelo fato de Paulo
ter recomendado que fossem constituídos, em cada congregação, “presbíteros”, e não um pres-
bítero apenas (At 14:23; Tt 1:5). O NT o grego tem duas palavras para descrever o cargo de
ancião. Uma é presbyteros, “[homem] mais velho”, o que implica uma posição de dignidade e
respeito, correspondente a “presbítero” ou “ancião”, que, tanto originalmente quanto nos tem-
pos atuais, refere-se a um oficial escolhido dentre os leigos. O outro título é episkopos, que signi-
fica “supervisor” ou “superintendente”, e que é traduzido como “bispo” em português.

O Rompimento entre Cristianismo e Judaísmo


O apedrejamento de Estêvão
Estêvão se ocupou em evangelizar as sinagogas dos judeus helenistas em Jerusalém (At
6:8-10). Ele argumentava de maneira eficiente e convincente e fez muitos conversos. Mas le-
vantou-se feroz oposição, e Estêvão deixou os judeus tão enraivecidos que foi sentenciado à
morte pelo Sinédrio. Foi apedrejado, enquanto Saulo de Tarso guardava as vestes daqueles que
atiraram as pedras fatais. Os romanos foram subornados para não investigar o assunto (AA,
101).

175
O final de uma era
A morte de Estêvão chocou a igreja e solidificou a oposição dos judeus ao cristianismo.
Foi um evento decisivo. Os judeus haviam matado Jesus, e então ficou evidente que não haviam
mudado sua atitude com relação às verdades reveladas pelo ministério de Jesus. A oportunidade
adicional dada a eles pelos apóstolos foi recusada, e o apedrejamento de Estêvão significou a
rejeição final do verdadeiro Messias e de Sua mensagem de salvação por parte da nação.

A perseguição
O apedrejamento de Estêvão deu início a uma onda de perseguições por parte dos líderes
judeus de Jerusalém contra a igreja. Os apóstolos que permaneceram em Jerusalém não parecem
ter sido perseguidos, mas houve grande dispersão da igreja por toda a Judeia e Samaria.

Saulo de Tarso
Saulo em hebraico significa “aquele que foi pedido”. Paulo, em latim, sig. “pequeno”.
Este jovem inteligente e sábio havia estudado com Gamaliel I para se tornar um fariseu. Os
líderes judeus esperavam muito de Saulo. Ele se mostrava feroz contra os seguidores de Jesus
(At 22:4, 5; 26:9-12).
Com uma carta do Sinédrio, perseguiu os cristãos. Porém teve a visão de Jesus no cami-
nho para Damasco onde se converteu. O apóstolo pregou por “muitos dias” em Damasco e
depois passou três anos em estudo e meditação no deserto da Arábia (G1 1:17). Por fim, retor-
nou a Damasco, mas por pouco que escapou com vida, sendo baixado, numa noite, pela muralha
da cidade em um cesto. Ele foi até Jerusalém, onde Barnabé, um judeu cipriota convertido,
persuadiu os apóstolos a recebê-lo. Paulo trabalhou ali com persistente coragem e vigor entre
os judeus, em nome de Cristo, mas quando foi divulgado que os judeus helenistas estavam
determinados a matá-lo, os discípulos o enviaram a Cesareia. Dali ele prosseguiu para sua cidade
natal, Tarso, na Cilícia. Paulo fez suas 3 viagens missionárias e escreveu 13 epístolas.
O teólogo alemão A. Deissmann, sugeriu a distinção entre cartas e epístolas. Basicamente
essa distinção diz que as cartas são escritos mais pessoais, com trechos não-literários e que não
possuem a intenção de ter seu uso perpetuado. Por outro lado, segundo essa lógica, as epístolas
são escritos mais impessoais, literários e com propósito de servir a um publico geral de forma
permanente.

A Expansão da Igreja
O evangelho aos gentios
Ao mesmo tempo, o Espírito Santo estava fazendo com que algo diferente acontecesse
em Antioquia da Síria. Durante a perseguição que havia surgido em ligação com a morte de
Estêvão, alguns dos crentes tinham chegado até a Fenícia e Antioquia da Síria, e mesmo até à
ilha de Chipre, mas haviam proclamado o evangelho apenas aos judeus. Contudo, quando alguns
dos conversos de Chipre e Cirene foram a Antioquia, não se restringiram aos judeus, mas pre-
garam o evangelho também aos gregos. Eles foram muito abençoados nisso; e um grande nú-
mero de pessoas creu (At 11:19-21).

176
Sinagogas
As sinagogas desempenharam uma função religiosa muito importante para os primeiros
cristãos, pois elas substituíam o templo, mas sem altar e sacrifício. Havia leitura e exposição das
Escrituras (Mt 13:54; Mc 1:21-22; Lc 4:16-22; Jo 6:58-59; At 13:14-42; 15:21), orações, nela se
ensinava a escola rabínica e também funcionava como uma espécie de centro comunitário. O
templo exigia uma frequência diária, já nas sinagogas eram encontros semanais (sábados).
Os crentes apostólicos iam diariamente no templo: “Diariamente perseveravam unânimes
no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de
coração” (At 2:46). No início eles respeitavam algumas leis cerimoniais (At 15:1-5; 21:20; Gl
2:3-5; 5:1-5), festas judaicas (At 2:1; 20:16; 1 Co 16:8) e sacrifícios (At 3:1; 21:17-26; Hb 5:11-
14), porém também agiam diariamente de casa em casa (At 2:46).
As sinagogas, que exigiam ter pelo menos 10 pessoas como quórum mínimo, poderiam
ser em casas particulares (Mc 2:1-12), salas adjacentes (At 18:4-7) ou edifícios próprios (Lc 7:5).

Igrejas-do-lar
As igrejas do lar, do gr. ekklēsia kat’oikon (Rm 16:5; 1 Co 16:19; Cl 4:15; Fm 1:2) serviram
como alternativas aos primeiros cristãos que já não eram bem-vindos nos lugares típicos do
judaísmo. At. 2:46 - “Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em
casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração.”
As igrejas nas casas eram usadas para basicamente três atividades: Comunhão, ou festas
de Fraternidade (agape): Jd 12; 2 Pd 2:13, partir do pão (Santa Ceia) e orações.

Santa Ceia
A Santa Ceia era feita em substituição à Páscoa (Lc 22:13-20). Inicialmente era uma cele-
bração doméstica/familiar (Ex 12:1-28; Mt 26:17-19; Lc 22:11-15). Depois passou a ser feita
após uma refeição comum (At 2:42, 46; 1 Co 11:17-34). Ela era uma demonstração de fé na
breve volta de Jesus. Lc 22:15-18 - “Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa,
antes do meu sofrimento. Pois vos digo que nunca mais a comerei, até que ela se cumpra no
reino de Deus. E, tomando um cálice, havendo dado graças, disse: Recebei e reparti entre vós;
pois vos digo que, de agora em diante, não mais beberei do fruto da videira, até que venha o
reino de Deus.”
1 Co 11:26 - “Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais
a morte do Senhor até que ele venha.”198
CRENÇA DETECTADA 16. A Ceia do Senhor - A Ceia do Senhor é uma participação nos emblemas do corpo e do sangue
de Jesus, como expressão de fé nEle, nosso Senhor e Salvador. A preparação envolve o exame de consciência, o arrepen-
dimento e a confissão. O Mestre instituiu a Cerimônia do lava-pés para representar renovada purificação, para expressar a
disposição de servir um ao outro em humildade semelhante a de Cristo, e para unir nossos corações em amor. (Mateus
26:17-30; 1 Coríntios 11:23-30; 10:16 e 17; João 6:48-63; Apocalipse 3:20; João 13:1-17).

198 Apresentação de Wilson Paroschi a respeito da Igreja Primitiva.

177
Os apóstolos
A Bíblia registra quase nada a respeito de como os apóstolos morreram. Porém a tradição
afirma que:
André, o irmão de Pedro, pregou o evangelho na Cítia e na Trácia, ao norte da Grécia, e
que foi crucificado na Grécia numa cruz em forma de X, o que deu a esta o nome de cruz de
Santo André.
Judas, o autor da epístola, pregou na Palestina, na Síria e na Arábia.
Matias, escolhido segundo o relato de Atos 1 para preencher a vaga deixada por Judas,
foi um dos setenta que Jesus enviou para pregar (Lc 10:1). Ele teria pregado na Capadócia, ao
norte da província natal de Paulo, a Cilícia, e que foi martirizado, talvez na Judeia.
Segundo Josefo, Tiago, o irmão de Jesus Cristo, foi morto por apedrejamento nos
átrios do templo.
É forte a tradição de que Marcos, o autor do evangelho que traz seu nome, pregou no
Egito. Supõe-se que ele tenha fundado a igreja em Alexandria e que tenha sido seu presbítero-
chefe (ancião presidente). Diz-se que ele foi martirizado ali durante a perseguição de Nero.
Crê-se que Natanael, ou Bartolomeu, pregou na Arábia e talvez nos países adjacentes
ao que é conhecido como a Etiópia. Contudo, a tradição afirma que ele foi crucificado de cabeça
para baixo em uma das províncias da Armênia.
Diz-se que Simão, o zelote, pregou no norte da África, e que foi martirizado na Palestina
sob o reinado de Domiciano, o imperador que enviou João para a ilha de Patmos.
A tradição atribui a Tomé o trabalho na Pártia e na Pérsia, e, em seus últimos anos, em
Edessa, onde se diz que ele foi martirizado. Contudo, há também uma tradição de que Tomé
tenha pregado o evangelho na Índia e há na Índia hoje um grupo de cristãos nativos que se
chamam “Cristãos de Tomé”. A probabilidade é que as atividades de Tomé não tenham chegado
tão longe assim.
João possivelmente tenha morrido de causas naturais por volta do ano 100 d.C.

RESUMO
A Missão da Igreja primitiva segue o mesmo padrão da missão de Jesus nos Evangelhos. Isso mostra que
o que Ele fez foi continuado pelos seus discípulos. O propósito era o mesmo, o Espírito era o mesmo e na sua
simplicidade a Igreja deveria fazer discípulos e expandir o Reino de Deus na Terra.

178
CAPÍTULO 24

Do ano 100 a 300 d.C


Toda a narrativa bíblica do Grande Conflito pode ser dividida em 4 etapas: Criação, Queda, Redenção
e Restauração. Este capítulo detalhará ainda o plano da Redenção e está baseado no NT.
Vimos no capítulo anterior sobre os primeiros 100 anos da igreja primitiva, de Jesus até a
morte dos apóstolos. Uma palavra pode resumir a igreja desde sua fundação: SIMPLES.
O que conhecemos hoje como Igreja Católica Apostólica Ro-
mana, tem suas raízes na continuação da história da igreja primitiva. Uma palavra pode re-
Veremos hoje como algumas doutrinas e práticas erradas surgiram de- sumir a igreja desde
vido ao enfraquecimento da perspectiva bíblica, da liderança da igreja e sua fundação:
do fortalecimento da igreja como instituição apegada à tradição. SIMPLES.

Igreja Católica
No início, o Cristianismo difundiu-se por todo o Império Romano e provavelmente pelo
leste até a Índia. Os cristãos perceberam que eram parte de um movimento em rápida expansão
e o chamaram de católico, termo que sugere que o cristianismo desse período é um movimento
universal.199
O termo católico não aparece na Bíblia. Inácio, bispo de Antioquia no início do segundo
século parece ter sido o primeiro a utilizar essa palavra. Ele falou sobre a “Igreja Católica”
quando afirmou: “onde estiver Jesus Cristo, aí está a igreja católica.” Ao final do segundo século,
o termo católico era amplamente utilizado para se referir à Igreja no sentido de que a Igreja
católica era universal – em oposição a congregações locais – e ortodoxa – em oposição a grupos
heréticos.200

Sucessão apostólica
A igreja católica advoga o fato de que Pedro foi o primeiro papa e que todos os bispos
que vieram depois dele até hoje são os escolhidos de Deus para sucedê-lo. De onde vem esta

199 Bruce L. Shelley. História do Cristianismo, p. 41.

200 Idem, p. 44.

179
teoria?201. Na igreja primitiva havia funções administrativas e outras espirituais:
Administrativas: anciãos e diáconos.
Espirituais: apóstolos, profetas, mestres, pastores e evangelistas (Em Atos 13:1 e 2 é
revelado que a liderança inicial da igreja de Antioquia consistia de pessoas que possuíam os dons
espirituais, ou seja, dos pneumatikoi.)

Para quem os apóstolos transmitiram sua liderança?


A tese de Irineu202, escrita antes de 200 d.C. era de que os apóstolos transmitiram o ver-
dadeiro ensino cristão aos bispos, que supostamente deveriam sucedê-los. Ele afirma que os
bispos de igrejas fundadas pelos apóstolos foram os guardiões da tradição sagrada. Nessa tese,
encontra-se o início da teoria da sucessão apostólica.
No início os anciãos ou presbíteros foram os sucessores dos apóstolos, mas logo se tor-
naram figuras mais do que importantes devido a:
O bispo da cidade – alguns anciãos presidiam várias pequenas congregações, algumas
em casa ou prédios alugados. Quanto maior a cidade, mais honrada sua posição.
Escrituras – eram eles os guardiões das Escrituras e detentores das maiores e melhores
porções da Bíblia.
Ortodoxia – eles eram vistos como intérpretes da verdade e protegiam a igreja das inter-
ferências dos hereges.
Finanças – eram eles que recebiam e administravam as finanças. Justino Mártir registrou:
“O que foi recolhido é entregue ao presidente, que socorre os órfãos e as viúvas, bem como
aqueles que, por doença ou qualquer outra causa, estão necessitados, e os que estão nas prisões,
e os forasteiros de passagem; numa palavra, ele cuida de todos os necessitados” (Primeira Apo-
logia, 67; Ante-Nicene Fathers, vol. I, p. 186).
“Quarenta e seis presbíteros, sete diáconos, sete subdiáconos, quarenta e dois acólitos
[ajudantes], cinquenta e dois exorcistas, leitores e hostiários, assim como mais de mil e quinhen-
tas viúvas e necessitados, todos os quais são alimentados pela graça e o amor do Senhor" (Eu-
sébio, História Eclesiástica, vi.43.1; edição de Loeb, vol. 2, p. 119).
Perseguição – orientavam, aconselhavam, davam força e coragem em meio às persegui-
ções.
O declínio dos pnemumatikóis – os que desempenhavam as funções espirituais esta-
vam em declínio da eficácia e da influência. Os abusos entre seus representantes fizeram au-
mentar o poder e influência dos presbíteros-chefe ou presidente.
Essa função de supervisor estava se tornando tão destacada que o bispo acabou se trans-
formando numa classe diferente de oficial eclesiástico. Com a diminuição da importância dos
dons espirituais e a transferência de toda a autoridade na igreja para os oficiais regulares, ocorreu
um declínio no poder espiritual e na pureza doutrinária da igreja.

201 Grande parte dessa aula está baseada no Comentário Bíblico Adventista, v. 6, Introdução.

202 Irineu, líder da igreja na Gália, elaborou uma teoria bem definida do episcopado, que ele apresentou no livro III de seu tratado Contra Heresias.

180
Ordenanças e sacramentos
Batismo
No início o batismo era algo simples e sem rituais elaborados. Pessoas comuns batizaram,
como Pedro, Cornélio e Felipe. Sempre se davam instruções antes do batismo. Era um sinal de
aceitação da salvação. A pessoa deveria entender, aceitar e se batizar. Porém com o tempo al-
gumas modificações foram feitas:
No ano 150 d.C se falava em batizar somente em água corrente. Se não houvesse, deveria
ser em água parada e então ser derramado água na cabeça.
Tertuliano, em cerca de 225 d.C., defendia a tripla imersão em sua época como um “com-
promisso mais amplo” do voto batismal e adicionou a essa afirmação a descrição de uma ceri-
mônia batismal elaboradíssima (De Corona, 3; Ante-Nicene Fathers, vol. 3, p. 94).
Entenderam posteriormente que o batismo salva as crianças do pecado original de Adão,
portanto desta maneira começaram a batizar as crianças. Assim o batismo passou de evidência da
salvação para requisito de salvação.
Somente o ancião ou presbítero poderia realizar a cerimônia, pois entendia-se que ele
tinha uma autoridade sobrenatural que outros cristãos não possuíam. Da mesma forma que se
via a Ceia do Senhor como sendo uma atribuição somente do presbítero.
O bispo se tornou um agente necessário para a salvação dos pecadores; sem sua ministra-
ção não poderia haver salvação. Isso significou o restabelecimento de um sacerdócio na igreja
cristã, apesar do fato de esta instituição [o sacerdócio] ter-se tornado desnecessária com o a
ascensão de Jesus Cristo como sumo sacerdote no santuário celestial.
Três erros apareceram no terceiro século:
(1) a falsa doutrina da herança de uma culpa original;
(2) a perversão do batismo pela mudança do rito de uma única imersão de um adulto para
um triplo derramamento de água sobre a cabeça de um recém-nascido;
(3) a atribuição de um significado sacramental ao batismo e a transformação do bispo
num sacerdote sacramental - uma distorção do plano da salvação, uma substituição do sacerdó-
cio de Cristo e uma apostasia do verdadeiro caminho cristão.

Santa Ceia
A Ceia do Senhor era uma refeição simples que judeus e pagãos faziam com frequência.
Os anos se passaram e o conceito e prática mudaram. Na igreja de Corinto se fazia a festa ágape,
ou festa do amor, onde comiam muito e bebiam vinho. Paulo a condenou.
Inácio chamou de eucaristia, ou “ação de graças”, para se referir à Ceia do Senhor. A Di-
daquê203 chamava de “sacrifício”. Assim, cresceu a convicção de que a eucaristia envolvia uma
repetição do sacrifício de Cristo. Antes a Ceia era um ato de quem já tinha recebido o dom da
salvação. Agora se tornou um meio de salvação, como um sacrifício que se repetia ao Senhor.
Tanto a ceia quanto o batismo requeriam um intercessor para administrá-la. Assim os

203Do grego Didache kyriou dia ton dodeka apostolon ethesin ou Doutrina dos Doze Apóstolos é um escrito do século I que trata do catecismo cristão. É
constituído de dezesseis capítulos, e apesar de ser uma obra pequena, é de grande valor histórico e teológico.

181
presbíteros assumiram a função dos antigos sacerdotes. A Santa Ceia, de um culto de ação de
graças se tornou uma apostasia. O modelo de Santa Ceia que a Igreja Adventista do Sétimo Dia
segue hoje é baseado nos ensinos de Jesus e não na eucaristia.
Com o enfraquecimento das funções espirituais na igreja primitiva, a falta de pureza dou-
trinária e a ministração do batismo e Ceia do Senhor por parte dos bispos, eles assumiram uma
responsabilidade sacerdotal e “sobrenatural”, se tornado assim mediadores entre Deus e os ho-
mens, algo que foi abolido por Jesus na cruz.

Sábado
O sábado sempre foi guardado pela igreja cristã, até 150 d.C. Mas como o dia de guarda
e adoração mudou para o domingo?
Para se comemorar a Páscoa e não estar associados aos judeus, o líder da igreja em
Roma na época, que ocupava, em simplicidade, um cargo que foi se modificando até se trans-
formar posteriormente no papado, insistiu que a igreja cristã devia comemorar anualmente, não
a crucifixão, mas a ressurreição de Cristo, e que esta comemoração anual precisava cair sempre
no primeiro dia da semana, porque esse havia sido o dia da ressurreição. Daí nasceu a prática de
se ter uma festa anual na primavera em honra à ressurreição, chamada Páscoa.
No final do 2o século, Vítor, o líder da igreja em Roma, insistiu que todas as igrejas pre-
cisavam se alinhar com a prática da igreja de Roma, não mais comemorando a crucifixão, mas
a ressurreição. Deviam também evitar se reunir no mesmo dia em que os judeus se reuniam e
fazer com que a comemoração dos cristãos na primavera caísse no primeiro dia da semana, o
domingo. Quem não fizesse isso estaria excluído da igreja.
Justino Mártir chamou o domingo de “o dia que se chama do sol”. Aí se começa a usar
os nomes dos deuses pagãos romanos nos dias da semana.
No 2º século guardar o domingo já era comum para muitos cristãos, especialmente os de
Roma e as partes que foram evangelizadas pelos romanos.

Seitas e heresias
Diversas seitas e heresias surgiram na história do Cristianismo nesses primeiros anos.
Muitas dessas heresias acabariam se fundindo às crenças cristãs. Outras estariam ameaçando a
unidade da fé não apenas naquele tempo, mas até hoje. Alguns exemplos de seitas e heresias:
Montanistas – pregavam um reavivamento e uma reforma, pedindo à igreja para colocar
de lado o mundanismo. Condenavam um segundo casamento, insistiam que todos os que eram
culpados de crimes fossem expulsos da igreja. Impunham rígidos jejuns, advogavam o celibato,
elogiavam os mártires e até encorajavam a experiência.
Ebionitas – eram em sua maioria de fariseus e judaizantes, que exigiam que os cristãos
voltassem às práticas judaicas.
Nazarenos – parecidos com os ebionitas, mas aceitavam Jesus como Messias.
Gnósticos – tinham uma visão divergente da Bíblia sobre a origem do mundo, da matéria
e de Jesus.
Docetistas – afirmavam que Jesus veio somente em aparência, não era real.
Nicolaítas – movimento que possivelmente se iniciou com Nicolau que tinha um exage-
rado ciúme de sua mulher e para vencer este mau sentimento foi levado a defender a promis-
cuidade. Talvez este problema já existia na época do concílio de Jerusalém.

182
Relação com o Estado
Os judeus viviam em paz com Roma, mas quando os cristãos chegaram, causaram um
alvoroço no império. O cristianismo afirmava ser a única religião verdadeira, declarava que tinha
uma mensagem mundial, convidava a se unirem a ele todos os que satisfizessem as condições
de fé e retidão, insistia que seu escopo era universal, não admitia rivais, não tolerava outros
cultos, possuíam apenas um Senhor, Jesus Cristo, e não aplicariam o termo “Senhor” ao César
romano, ensinavam que o Senhor Jesus Cristo voltaria como Rei dos reis e Senhor dos senhores
e conquistaria o universo. A vida dos cristãos era uma constante censura aos romanos.
Os judeus não gostavam dos cristãos por várias razões: temiam que os cristãos despertas-
sem a ira dos romanos sobre os próprios judeus; odiavam o Cristo dos cristãos como sendo um
rival do Messias que esperavam; detestavam os cristãos porque tinham comunhão com os gen-
tios.

Evangelho ao mundo
Como os primeiros cristãos pregaram tão rapidamente o Evangelho ao mundo?
Em linhas gerais, a ordem de Cristo de Mat. 28:18-20 era seguida
Os primeiros cristãos
da promessa de Sua presença e do poder do Espírito Santo. Assim, os
cristãos sempre insistiram que Deus operou nesse movimento. Porém, eram movidos por uma
“Deus costuma trabalhar por meio de corações e mãos humanas”204. Vá- convicção ardente.
205
rios fatores parecem ter contribuído para essa expansão:
Os primeiros cristãos eram movidos por uma convicção ardente. Eles testemunha-
ram a primeira vinda de Jesus e não queriam manter essa boa notícia somente para si.
O evangelho deparou-se com uma necessidade generalizada dos corações. A ex-
pressão prática do amor cristão provavelmente estava entre as causas mais poderosas do êxito
do cristianismo. Eles cuidavam dos pobres, viúvas e órfãos, visitavam as prisões ou quem tinha
sido condenado a viver nas minas, expressavam o amor em atos de compaixão durante períodos
de terremotos, guerras e fome e providenciar um funeral digno a quem não podia. Lactânio,
erudito norte-africano (c. 240-320) escreveu: “Não permitiremos que a imagem e a criação de
Deus sejam lançadas às feras e às aves como presa; ela deve ser devolvida à terra, de onde foi
tirada.”
A perseguição, em muitos casos, ajudou a divulgar a fé cristã. O termo mártir significava
“testemunha”, e é precisamente dar testemunho o que muitos cristãos realizavam no momento
da morte.

Perseguições
Dentre as causas de perseguições aos cristãos, destacam-se:
Roma era tolerante com todas as religiões do império, mas exigiam a adoração a César e
a queima de incenso ao Imperador. Porém os judeus estavam livres dessa obrigação. Como os

204 Shelley, p. 50.

205 Idem, p. 51.

183
cristãos incialmente eram vistos como uma seita judaica, estavam isentos da prática, mas à me-
dida que os judeus deixaram claro que não tinham nada a ver com o movimento, Roma começou
a perseguir os cristãos.
Outra causa foi o estilo de vida diferente. A palavra do NT hagios traduzida como “santo”,
provém da raiz que significa “diferentes”. Por seguirem os ensinamentos de Jesus, os cristãos
condenavam de forma velada o modo de viver pagão.
Os cristãos haviam se tornado populares e aumentado bastante em número. Esse au-
mento continuou nos anos de relativa paz que se seguiram à perseguição de Valeriano, uma paz
que foi interrompida pela severa perseguição de Diocleciano e Galério, que começou no ano
303 d.C. e se prolongou por dez anos. Essa perseguição marcou outra mudança de política, no
sentido de que representou uma tentativa de completo extermínio; foi um caso de guerra entre
grandes inimigos. Contudo, o império pagão perdeu essa guerra.

A política da tolerância
Constantino se tornou imperador, e em 312 d.C. emergiu como um amigo do cristia-
nismo. No ano seguinte, quando emitiu seu famoso edito de tolerância, o cristianismo não ape-
nas se viu livre para se propagar, mas logo se tornou a religião exclusiva do império. Constantino
inaugurou a extraordinária nova política de união entre igreja e estado, cujos efeitos, embora
materialmente benéficos à igreja, foram espiritualmente mais adversos do que qualquer perse-
guição que ela já havia sofrido.
Portanto, mesmo quando sua religião era ilegal, os cristãos procuravam viver como bons
cidadãos num ambiente hostil, aplicando, na vida diária, a ética ensinada por Jesus e contida no
exemplo e ensino dos apóstolos. Obtiveram uma reputação de pureza de vida e de bondade
para com o próximo. Embora o governo odiasse o cristianismo e até tenha passado a temê-lo
cada vez mais, a população em geral passou a apreciar mais e mais o tipo de vida que o cristia-
nismo representava.
Quando arrastados aos tribunais, em resposta ao interrogatório dos juízes, os cristãos com
frequência respondiam simplesmente: “Eu sou um cristão”, e iam para a morte, com sorrisos
em meio ao sofrimento, admoestando seus companheiros cristãos a serem fiéis, e apelando aos
expectadores pagãos para que os acompanhassem e seguissem o Mestre e Senhor Jesus Cristo.
Os cristãos que testemunhavam a morte de tais mártires permaneciam fiéis, e Tertuliano pôde
dizer: “O sangue dos mártires é semente” (Apologia, 50; Ante-Nicene Fathers, vol. 3, p. 55).

Um novo legalismo e ascetismo


Com o desenvolvimento do antijudaísmo na igreja, surgiu uma onda de antilegalismo,
parcialmente proveniente de uma compreensão equivocada de certas declarações de Paulo (cf.
2Pe 3:15, 16). Isso tornou a igreja, particularmente no Ocidente, disposta a colocar de lado o
sábado e a tomar uma atitude liberalizante - com relação a outras exigências das Escrituras. Essa
tendência só se fez sentir na igreja por tempo suficiente para prejudicá-la. Seguiu-se um tipo de
neolegalismo, que levou a igreja de volta a uma observância de festas que tomaram o lugar dos
sábados anuais do AT e a uma observância do domingo, o primeiro dia da semana, como um
memorial da ressurreição de Cristo. Detalhes rituais foram acrescentados às cerimônias desen-
volvidas na igreja, como se vê nos escritos de Tertuliano anteriormente citados, em parte pela
pressão das coisas assimiladas do paganismo.
A partir de uma compreensão errônea do que Paulo disse em 1 Coríntios 7, a igreja veio
a considerar o celibato como uma experiência de devoção, e várias práticas ascéticas deram um

184
novo padrão de zelo para os cristãos zelosos. O jejum se tornou uma necessidade para a salva-
ção. Fanáticos e insatisfeitos com as igrejas acabavam fugindo para o deserto e se tornavam
eremitas, praticando o celibato e outras formas de ascetismo. Vieram a se tornar tão numerosos
que foi necessário organizá-los em comunidades. Assim, o monasticismo, com os males dele
resultantes, se tornou uma instituição da igreja.
Sob a pressão do antijudaísmo, o sábado perdeu gradualmente a importância; e, mais rá-
pido ainda, a distinção entre alimentos limpos e imundos foi abandonada. Com a adição de
detalhes ao ritual, com a transformação dos presbíteros em sacerdotes e com uma assimilação
generalizada e maciça de práticas do paganismo, o cristianismo perdeu tanto de sua natureza e
caráter originais que, se os apóstolos tivessem voltado à vida, dificilmente teriam reconhecido o
sistema que haviam ajudado a fundar.
O cristianismo em sua natureza geral e estrutura oficial se tornara, por volta de 400 d.C.,
pouco mais que um culto de mistério pagão. A igreja remanescente pode encontrar lições de
advertência nas experiências da igreja com o Estado e com a sociedade.

RESUMO
A Igreja que Jesus havia instituído foi sendo aos poucos transformada em outra religião que misturou
diversos elementos culturais e religiosos dos romanos. O que Deus havia designado para ser a continuidade da
Sua Missão, perde-se com as modificações feitas posteriormente. Mas Deus havia preservado um povo remanes-
cente que, mesmo em meio à deturpação da fé, manteve a pureza doutrinária. A Missão de Deus não iria parar.

185
186
CAPÍTULO 25

Apocalipse
Toda a narrativa bíblica do Grande Conflito pode ser dividida em 4 etapas: Criação, Queda, Redenção
e Restauração. Este capítulo detalhará ainda o plano da Redenção e está baseado em Apocalipse.
O livro de Apocalipse, cujo título significa Revelação, foi escrito
por João, o apóstolo, na ilha de Patmos. Por que estudar o livro de Apo- Estudar o Apocalipse
calipse? Ellen White diz que uma melhor compreensão do Apocalipse conduzirá o estudante
inevitavelmente conduzirá o estudante a uma experiência religiosa com- a uma experiência reli-
pletamente diferente. giosa completamente
diferente.
Propósitos
1. Apresentar Jesus.206
2. Ajudar os cristãos do primeiro século que vivam nas províncias romanas da Ásia
menor em seus problemas. Eles estavam enfrentando problemas com os judeus, perseguição
dos romanos e influências de pessoas que insistiam em comer carnes sacrificadas aos ídolos em
festivais pagãos e em libertinagem sexual também relacionada ao culto pagão.207
3. O livro também provê uma apresentação simbólica do futuro no curso da história
da humanidade, dos tempos apostólicos ao fim dos tempos. Assim, as profecias preditivas
estão em processo de cumprimento. A presença do elemento divino no livro, a despeito da
autoria humana, indica que o significado último do livro vai além do que o autor possa ter
entendido. Como disse Pedro, “nenhuma profecia foi dada por vontade humana, mas homens
movidos pelo Espírito Santo falaram de Deus” (2 Pe 1:21).
Resumindo, o livro cobre a história da igreja e do mundo da cruz à Segunda Vinda com
um foco no tempo do fim. As profecias bíblicas não foram dadas para satisfazer a curiosidade
do futuro, mas para mostrar que a igreja de Apocalipse tem seu lugar e papel definidos no
mundo.

Como entender o Apocalipse?


Existem diversos métodos de interpretação, mas o histórico-gramatical se demonstra ser

206 Grande parte deste estudo está baseado no livro Revelation of Jesus Christ, de Ranko Stefanovic.

207 Ranko Stefanovic, Revelation of Jesus Christ, p. 8.

187
o mais confiável.
Para entender é necessário fazer uma exegese. Exegese é o processo de entender o sig-
nificado do texto bíblico fazendo uma ponte entre o mundo bíblico à época do autor e o leitor
de hoje. Seu propósito é deixar o texto falar por si mesmo, ao invés de impor na passagem um
significado que o leitor deseja. Envolve o estudo das unidades e passagens, não de versos isola-
dos. Dá atenção também ao significado das palavras, a relação das palavras umas com as outras
nas sentenças, a estrutura organizacional da passagem e o contexto imediato. Depois de unir
todos os elementos, forma-se um corpo unido e coerente de temas bíblicos.
Dois passos fundamentais: Primeiro é determinar o que o texto significa para o tempo
que foi escrito e isso é feito ao explorar os contextos linguísticos, literários, históricos, geográ-
ficos, religiosos, filosóficos e culturais. Segundo, analisar o que o texto significa para o leitor
atual.

Do que o Apocalipse fala?


Em Ap 1:19 diz que o Apocalipse foi feito baseado: “nas coisas que são” e “nas coisas
que acontecerão depois destas”.
Em Ap 4:1 João é convidado em visão a ver “coisas que depois destas devem acontecer”,
ou seja, depois da mensagem às 7 igrejas (1:9-3:22). Muitos comentaristas reconhecem que a
frase “as coisas que são” em 1:19 se referem às mensagens às 7 igrejas da Ásia menor e que “as
coisas que depois destas devem acontecer se referem aos capítulos 4 a 22:5.

Ligação com o AT
Entender a relação com o AT é fundamental para compreender o que João quis dizer.
Alguns exemplos:
• A visão dos cap 4-5 foram construídas com base na coroação dos reis israelitas (cf. Dt
17:18-20; 2 Re 11:12)
• As maldições da aliança do AT (Lv 26:21-26) formam o contexto da visão dos 7 selos.
• Os 144 mil estando vitoriosos no mar de vidro e cantando a canção de Moisés é uma clara
alusão a Ex 15.
• A cena de Ap 16:12-18:24 é baseada na captura da Babilônia histórica por Ciro (cf. Isa.
44:26-45:7; Jer. 50-51).
• Trombetas, gafanhotos do abismo, Sodoma e Egito, Monte Sião, Babilônia, Eufrates e a
batalha do Armagedom todos foram tiradas da história de Israel.208

Estrutura
Existem diversas formas de se estruturar o Apocalipse, mas uma em particular merece
atenção, pois se trata das cenas introdutórias do Santuário que parecem formar o esqueleto do
livro. Elas indicam que o santuário celestial é visto como o centro de todas as atividades divinas.

208 Idem, p. 19

188
Prólogo (1:1-8)
1. Cena introdutória do santuário (1:9-20)
As mensagens às 7 igrejas (caps 2-3)
2. Cena introdutória do santuário (caps 4-5)
A abertura dos 7 selos (6-8:1)
3. Cena introdutória do santuário (8:2-5)
O tocar das 7 trombetas (8:6-11:18)
4. Cena introdutória do santuário (11:19)
A ira das nações (12-15:4)
5. Cena introdutória do santuário (15:5-8)
As 7 últimas pragas (caps 16-18)
6. Cena introdutória do santuário (19:1-10)
A consumação escatológica (19:11-21:1)
7. Cena introdutória do santuário (21:2-8)
A nova Jerusalém (21:9-22:5)
Epílogo (22:6-21)

Outro ponto merece atenção em forma de quiasmo organizado em torno do Santuário


celestial:

A. 1:12-20 Terra .
B. 4-5 Inauguração
C. 8:3-5 Intercessão
D. 11:19 Julgamento Céu
C’. 15:5-8 Cessação
B’. 19:1-10 Ausência
A’. 21-22:5 Terra .

As sete cartas às sete igrejas


Como estão organizadas
Uma pessoa que visitasse estas igrejas deveria seguir um caminho único para que todas as
cartas fossem entregues. “Parece que a ordem das igrejas também refletia a posição das lâmpadas
do candelabro. Cada lâmpada de um lado corresponde a uma paralela do outro lado.”209

209 Ranko Stefanovic, Revelation of Jesus Christ, p. 76.

189
A primeira e última mensagem, a Éfeso e Laodiceia, são claramente um paralelo. Ambas
as igrejas estão em perigo de falta de amor e legalismo.
A segunda e a sexta cartas, à Esmirna e Filadélfia, apelam par a fidelidade. Elas não rece-
bem repreensão e ambas são opostas aos que “são chamadas judeus” (2:9, 3:9).
A terceira e a quinta carta, a Pérgamo e Sardes, são paralelos em apostasia; tem pouca
coisa boa a falar sobre elas.
A quarta mensagem, no meio da série de cartas, Tiatira, é claramente diferente. É uma
igreja dividida e sua mensagem é a mais longa delas.

Padrão
As cartas seguem um padrão, que envolve210
• Começa com um “assim diz”, uma clara referência ao “assim diz o Senhor” do AT.
Quando Cristo fala, a igreja deve ouvir e obedecer.
• Cristo faz uma avaliação de cada igreja e diz “eu conheço” as tuas obras, sua aflição etc.
• Por fim Ele faz uma análise espiritual de cada igreja, pois Ele “anda no meio” delas (cf.
2:1).
• Seguindo, ele fornece conselhos a cada uma
• Ele chama para que cada uma ouça o “que o Espírito diz às igrejas”.
• Ele conclui com uma promessa a cada uma.

210 Ranko Stefanovic, Revelation of Jesus Christ, p. 77-79.

190
Como entender as cartas?
“O Apocalipse foi dado para guiar, consolar e fortalecer a igreja,
não só daquela época, mas ao longo de toda a era cristã, até o fim dos “O Apocalipse foi dado
tempos. (AA, 581, 585). A história da igreja foi predita para benefício para guiar, consolar e
dos cristãos do período apostólico, das eras futuras e para aqueles que fortalecer a igreja”.
211
viveriam nos últimos dias da história da terra.”
Portanto, as cartas de Ap às sete igrejas podem ser entendidas como sendo representações
da história do cristianismo.
Vamos analisar cada carta e entender os períodos que elas representam:
Éfeso Esmirna Pérgamo Tiatira Sardes Filadélfia Laodiceia
31-100 100-313 313-538 538-1517 1517-1798 1798-1844 1844-?
Vitoriosa Perseguida Popular Apostatada Reformada Reavivada Autossuficiente

Éfeso
Possuía212 um grande porto que funcionava como porta de entrada da província romana
da Ásia menor. Tinha muitos templos e era sede do culto à deusa Diana (At 19:27). Paulo visitou
esta igreja várias vezes e provavelmente Timóteo era pastor dela. A presença destes líderes aju-
dou na manutenção de uma doutrina pura e zelo missionário. Foi um período de grande cresci-
mento do evangelho.
Período profético (31-100 d.C) – representa o período da Igreja Cristã de 31, ano da
morte de Cristo, até 100, data aprox. da morte de João. Foi uma época de grandes avanços
evangelísticos. Contudo a profecia já falava de um “abandono do primeiro amor” e da necessi-
dade de arrependimento.

Esmirna
Esta igreja sofreu diversas perseguições e muitos cristãos foram aprisionados e mortos,
mas outros surgiam para ocupar seus lugares. Onde menos se esperava, muitos perseguidores
eram convertidos e alistavam-se no exército de Cristo.
Período profético (100-313 d.C) - Representa o período da morte de João até 313. Fo-
ram intensos anos de perseguição por parte de vários imperadores romanos aos cristãos. Os 10
dias da profecia podem ser entendidos como os 10 anos de forte perseguição pelo imperador
Diocleciano, até 313, quando Constantino, agora imperador, assina o Edito de Tolerância de
Milão, dando liberdade de culto aos cristãos e restituindo os bens antes confiscados.
In hoc signo vinces é a tradução latina da frase grega "ἐν τούτῳ νίκα" (en touto nika) e
significa "Por este sinal conquistarás ". Segundo a lenda, Constantino I adotou essa frase grega
"εν τούτῳ νίκα" (in hoc signo vinces) como lema. O historiador Eusébio de Cesareia, diz que

211 Comentário Bíblico Adventista, v.6, p. 800.

212 Estas informações foram retiradas do guia de estudo Bíblia Fácil Apocalipse e validadas pelo comentário bíblico Adventista e o livro Revelation of Jesus Christ

de Ranko Stefanovic.

191
Constantino, ao olhar o sol, viu uma cruz luminosa acima deste, e com ela as letras gregas (X)
Chi e (P) Rho, as duas primeiras letras do nome de Cristo, pouco antes da batalha da Ponte
Mílvia contra Magêncio, em 28 de outubro de 312.

Pérgamo
Pérgamo recebeu sacerdotes da Babilônia que haviam fugido da invasão persa e lá conti-
nuaram a promover os ritos de sua religião politeísta. Diz-se desta cidade que era lá que estava
o “trono de Satanás” (2:13). Posteriormente os elementos deste culto místico foram transferidos
para Roma. Foi assim que quase imperceptivelmente os costumes pagãos ingressaram na Igreja
Cristã. Enquanto a igreja foi perseguida (período de Esmirna), não houve conformidade com o
paganismo. Mas quando entramos no período de Pérgamo, o cristianismo entrou nas cortes e
palácio reais, perdeu a simplicidade dos ensinos de Cristo e dos apóstolos em troca de pompa e
orgulho dos sacerdotes e governadores pagãos.
Período profético (313-538) – A transigência entre o paganismo e o cristianismo neste
período resultou no desenvolvimento do “homem do pecado” (2Te 2:3), opondo-se a Deus e
exaltando-se sobre Ele.
Em 533, Justiniano, imperador de Roma Oriental, já havia declarado ser o papa “cabeça
de todas as igrejas”. Em fevereiro de 538, após a expulsão de Roma última tribo antagônica ao
papado, os Ostrogodos, deu-se início ao período de supremacia papal, que, segundo a profecia,
deveria durar 1.260 anos (Dn 7:25, Ap 12:6, 13:5)

Tiatira
Tiatira, que sig. “sacrifício de contrição”, foi construída por Seleuco, um dos 4 generais
de Alexandre da Grécia em 280 a.C. Era famosa por fabricar tecidos.
Período profético (538-1517) – Tiatira representa o período mais longo da igreja, que vai
de 538, com o início da supremacia papal, até 1517. Fica no meio das 7 igrejas, sendo por isso
uma figura apropriada da Idade Média.
O significado do nome representa adequadamente o período da história da igreja em que
a fé simples foi mudada por meio da apostasia, ou sacrificada, sendo substituída por obras e
penitências. Foi um período difícil para a igreja, pois lentamente foi se afastando da pura dou-
trina de Cristo e assimilando os dogmas e tradições do paganismo.
Houve também uma forte perseguição, pois no século 12 o papado criou o pior de seus
estratagemas, o Tribunal do Santo ofício (Santa Inquisição) e milhares de pessoas foram mortas.
O papa João Paulo II, em 15/06/04, em uma carta dirigida ao cardeal Roger Etchegaray, lida
em uma conferência cujo tema era “A Inquisição”, pediu perdão pela tortura e assassinatos
praticados durante aquele período.

Sardes
Sardes sign. “cântico de alegria”, e também pode sign. “a que pertence”. De fato, havia
pouca fé verdadeira após séculos de apostasia e perseguição. Os membros desta igreja viviam
das glórias do passado. O que haviam recebido e ouvido não era lembrado e conservado. Aquela
que fora a capital da Lídia, cobiçada e vendica por Ciro, o Grande, estava agora morta.
Período profético 1517-1798 – Os longos séculos de trevas morais e espirituais do perí-
odo de Tiatira, deveriam dar lugar a um grande movimento de reforma, e isso aconteceu com a
chegada do período simbolizado por Sardes. Homens como Lutero, Knox, Calvino, Zuínglio e

192
outros, trouxeram o povo de volta à Palavra de Deus. O marco deste retorno pode ser datado
em 31 de outubro de 1517, quando Martinho Lutero afixou na porta do castelo de Winttenberg
as 95 teses contra as vendas de indulgências, marcando assim o início da Reforma Protestante.

Filadélfia
A palavra Filadélfia sign. “amor fraternal”. A cidade foi fundada em 150 a.C. a intenção
de seu fundador era torná-la centro da civilização Greco-asiática e um meio de espalhar a língua
e os costumes gregos nas partes ocidentais da Lídia e da Frígia. Por isso alguns a chamam de
“cidade missionária”.
Período profético (1798-1844) – A igreja de Filadélfia representa o período que vai de
1798, fim dos 1.260 anos de supremacia papal (Ap 12:6, 13:5) até 1844, fim do período profético
das 2.300 tardes e manhãs de Dn 8:14.
Este foi um período de notável atividade na obra das missões cristãs e na distribuição da
Bíblia. A Sociedade Bíblica Britânica começou a funcionar em 1804 e a Americana em 1816.
Mas foi também um momento de grande interesse no cumprimento da profecia bíblica e do
breve retorno de Cristo.
O cumprimento dos sinais dados por Jesus (Mt 24:29), o escurecimento do sol e da lua
vermelha como sangue (19/05/1780) e a queda das estrelas (13/11/1833), indicava a proximi-
dade do fim. Assim, o fim do século 18 testemunhou a inauguração de um dos mais poderosos
movimentos para a evangelização do mundo.
O período de Filadélfia culminou com o grande movimento do Segundo Advento do
século 19. Através do estudo das profecias de Daniel e Apocalipse, a cristandade chegou a uma
profunda convicção de que a Volta de Cristo estava próxima. Este reavivamento culminou
numa grande decepção, como veremos quando estudarmos Ap 10.

Laodiceia
Laodiceia foi construída por Antíoco II e chamada Laodiceia em homenagem a sua esposa
Laodice. Esta igreja é mencionada na carta de Paulo aos Colossenses. Parece que ele escreveu
uma carta a esta igreja também, mas esta se perdeu.
Período profético (1844-?) – é a última das sete igrejas. Ela cobre o período da história
da igreja em que nosso Sumo Sacerdote celestial, Jesus, leva a cabo seu ministério de juízo logo
antes de Sua volta em glória. Jesus iniciou seu ministério como sacerdote logo após a sua ascen-
são. De acordo com a profecia das 2.300 tardes e manhãs, no ano de 1844, Ele começou a
oficiar também como Sumo Sacerdote.
Embora Jesus esteja no Santuário Celestial intercedendo e julgando Seus filhos, o estado
espiritual dos membros da igreja de Laodiceia é de profunda letargia. O Apocalipse os descreve
como mornos e, a menos que mude de atitude, atendendo ao conselho da Testemunha Fiel e
verdadeira (3:18), serão rejeitados, ou seja, “vomitados” (3:16).

Resumo: O livro do Apocalipse pode ser dividido em duas partes: o período histórico
(eventos desde a primeira vinda de Cristo e que já aconteceram ou estão acontecendo) e o perí-
odo profético/escatológico (eventos que acontecerão próximo ao tempo do fim até a vinda de
Jesus).

193
Organização do Apocalipse em forma de espelho
As sete igre- Os sete As sete O grande As sete últimas A queda de O milênio A nova
jas selos trombetas conflito pragas Babilônia Jerusalém
1:10-3:22 4:1-8:1 8:2-11:18 11:9-14:20 15:1-16:21 17:1-19:10 19:11-21:8 21:9-22:9
Cristo acon- Cristo Juízos seve- As prova- Juízos extre- A queda da Cristo entro- O reinado
selha sua protege ros que ad- ções da mamente seve- falsa mãe e niza seu povo eterno de
igreja espa- seu vertem o mãe genu- ros que punem de suas filhas restaurado e Deus e do Cor-
lhada por vá- povo mundo ína e seus o mundo Satanás é der- deiro com
rias partes. afligido filhos no rotado seus santos
deserto.
O Grande conflito em andamento O Grande conflito consumado
Parte histórica Parte profética/escatológica

Após os eventos descritos em Apocalipse 1-9, o capítulo 10 descreve o que aconteceria


no início do tempo do fim quando o livro de Daniel fosse aberto. A experiência seria doce,
depois amarga. Após este desapontamento, deveria ser pregado e profetizado mais intensamente
às nações. Pregar o que? As 3 mensagens angélicas do cap. 14. É o que veremos a seguir.

RESUMO
O Apocalipse apresenta uma sucessão de eventos que culminam no surgimento do movimento adventista
e no desenvolvimento da Missão que Deus designou a esse povo remanescente e fiel.

194
CAPÍTULO 26

Tempo do Fim
Toda a narrativa bíblica do Grande Conflito pode ser dividida em 4 etapas: Criação, Queda, Redenção
e Restauração. Este capítulo detalhará ainda o plano da Redenção e está baseado em Apocalipse.
Vimos no último capítulo a respeito das 7 cartas às 7 igrejas do Apocalipse. Agora vere-
mos sobre a continuação do livro e os selos descritos por João. O Apocalipse contém diversos
símbolos de 7: Sete igrejas, sete selos, sete trombetas, sete taças etc. Isso será importante para o
presente estudo.

Trono de Deus
Depois de João endereçar às igrejas as 7 cartas, ele agora descreve a cena do trono de
Deus no céu. O que João viu?
Ap 4:1-3 – João vê um ser glorioso que está assentado no trono. Pode ser tanto o Pai
como o Filho.
4:4 – 24 anciãos cantando e louvando a Deus, que podem ser os mortos que ressuscitaram
com Cristo em Mt 27:50-53.213
5:1 – ele vê um livro todo selado que ninguém era digno de abrir. O cap. 6 descreverá este
conteúdo como sendo o desenrolar da história do mundo.
Ansioso por saber o conteúdo, João chora (5:4), mas um dos 24 anciãos dá a boa notícia
de que o Leão da tribo de Judá estava apto para abri-lo. Quando João vê, no trono estava um
cordeiro como tendo sido morto. Is 53 compara o Messias a um cordeiro.

O livro selado
Quando o cordeiro abre o livro, os 24 anciãos se prostram e o adoram. Qual o conteúdo
do livro?
Na abertura de cada selo, vê-se um paralelismo com os eventos já descritos nas sete cartas.
São aspectos de um grande conflito envolvendo as forças do bem e do mal, vistos de outro
ângulo. Enquanto o conteúdo das 7 cartas trata da situação interna das igrejas, os sete selos

213 Guia de estudo Bíblia Fácil Apocalipse, p. 15.

195
destacam aspectos externos da Igreja Cristã, seus triunfos e fracassos.214

Sete selos215
Primeiro selo (6:1-2)
Cavalo branco e seu cavaleiro com um arco e coroa para vencer - Este selo é um símbolo
das vitórias do evangelho no primeiro século.
Estima-se que havia 5 milhões de cristãos apenas dentro do Império Romano no primeiro
século. Mas o progresso do cristianismo ultrapassou as fronteiras de Roma e alcançou o mundo
(Cl 1:5, 6, 23). Podemos comparar a abertura deste selo com a igreja de Éfeso, de 31 a 100 d.C.

Segundo selo (6:3-4)


Cavalo vermelho - A cor vermelha na Bíblia está associada a guerras e mortandade (2Re
3:22, Na 2:3). Este cavaleiro pode representar o Império Romano, na pessoa de seus imperado-
res, durante as terríveis perseguições que foram movidas contra os cristãos, representado tam-
bém pela igreja de Esmirna, de 100 a 313, quando cessam as perseguições com o Edito de Milão.

Terceiro selo (6:5-6)


Cavalo preto - Se o branco do primeiro cavalo simboliza a pureza, o preto seria o contrá-
rio. Enquanto a igreja em Éfeso representa um período de pureza, este cavalo representa a união
da religião e o poder civil quando Constantino em 313 oficializou o cristianismo como religião
do Estado. O espírito de comercialização e materialismo junto com várias doutrinas pagãs pe-
netram na igreja cristã. Foi um período de trevas morais, apostasia e erros doutrinários.
A balança representa um julgamento (cf. Jó 31:6 e Dn 5:27). As medidas de compra de
alimentos podem representar a escassez do verdadeiro alimento espiritual. Encontra-se um pa-
ralelo entre este cavalo e a igreja de Pérgamo.

Quarto selo (6:7-8)


Cor pálida, ou verde (em grego, chloros) - Este cavaleiro se chama morte e o inferno e a
sepultura o seguem. Simboliza a obra nefasta realizada contra os fieis filhos de Deus na Idade
Média, representado pela igreja de Tiatira. Neste período o bispo de Roma chegaria ao poder e
haveria um domínio papal de 1260 anos (Dn 7:25, Ap 12:6, 14, 13:5), de 538 a 1798 com a prisão
do papa Pio VI. Muitos cristãos fieis e leais à Bíblia foram mortos pela espada, como os Val-
denses, Albingenses, Hugenotes e outros.
A reforma protestante de Martinho Lutero em 1517 arrefeceu as perseguições e promo-
veu um retorno à Bíblia como única autoridade de fé e prática para o cristão.

Quinto selo (6:9-11)


João vê almas debaixo do altar. Estas almas podem ser entendidas como sendo os mártires

214 Guia de estudo Bíblia Fácil Apocalipse, p.17.

215 Baseado Guia de estudo Bíblia Fácil Apocalipse, p.17-20.

196
da fé que reclamam a Deus a justiça (6:11).
Pode simbolizar o período da igreja de Sardes. Mesmo a reforma protestante não conse-
guiu frear completamente as perseguições, pois o período papal se estenderia até 1798
O massacre de São Bartolomeu, promovido pelos reis franceses que eram católicos, em
1572,12 foi um exemplo de que o catolicismo ainda perseguia quem o desafiava. Embora não o
único, "foi o pior dos massacres religiosos do século".216 Por toda a Europa, "imprimiu nas
mentes protestantes a indelével convicção que o catolicismo era uma religião sanguinária e trai-
çoeira."217

Sexto selo (6:12-17)


Aqui a linguagem começa a ficar literal. Quando o selo é aberto, 4 eventos ocorrem:
Grande Terremoto – Lisboa, 1/11/1755 – foi um terremoto de quase 9 graus na escala
Richter, um tsunami de 6 a 10 metros e incêndios de 5 dias de duração de grandes proporções
que dizimaram a vida de pelo menos 10 mil pessoas no dia de todos os santos, quando as igrejas
e ruas estavam lotadas devido ao catolicismo ser forte em Portugal. 85% das construções da
cidade foi completamente destruído.
O sol se tornou negro como saco de crina – Nova Inglaterra, EUA, 19/05/1780
A lua se torna como sangue – mesma data acima
Estrelas do céu caíram pela terra – Costa leste dos EUA, 13/11/1833

Sétimo selo
O sétimo selo acontecerá na Volta de Jesus. Estamos vivendo justamente entre o verso
13 e 14 de Ap 6.
O verso 17 pergunta quem sobreviverá à ira de Deus. O capítulo 7 diz que são os 144 mil,
um número que simboliza a totalidade de Israel como povo de Deus e não o número dos salvos,
pois estes são incontáveis (7:9).
Eles foram selados. O selo não é um sinal visível, mas um compromisso em guardar os
mandamentos de Deus e a fé em Jesus (14:12).
Recapitulando: as sete cartas e os sete selos funcionam como uma recapitulação em para-
lelo da história do cristianismo. Após estes períodos, acontecerá o que veremos no cap. 10.
O capítulo 10 está entre a sexta (9:13) e a sétima trombetas (11:15), funcionando
como um intervalo da mensagem das trombetas.218

Igrejas Éfeso Esmirna Pérgamo Tiatira Sardes Filadélfia Laodiceia


Selos Primeiro Segundo Terceiro Quarto Quinto Sexto selo Sétimo
Selo selo selo selo selo selo
Período 31-100 100-313 313-538 538- 1517- 1798-? Ap 10 1844 Volta de
1517 1798 Jesus

216 Chadwick, H. & Evans, G. R. (1987), Atlas of the Christian Church, Macmillian, London, ISBN 0-333-44157-5 hardback, p. 113

217 Fisher, H.A.L. (1969, ninth ed.), A History of Europe: Volume One, Fontana Press, London, p. 581

218 George Knight. A visão apocalíptica e a neutralização do adventismo, p. 29.

197
O livrinho
Ler Ap 10. O tema central do capítulo é um livrinho aberto na mão de um “poderoso
anjo” que veio do céu (v. 1 e 2). O tempo verbal utilizado no grego significa que o rolo tinha
sido fechado e foi novamente aberto.

Que livrinho é esse?


Dn 12:4-9 diz que a profecia dos 1.260 anos (ou 42 meses, ou um tempo, dois tempos e
metade de um tempo), estaria encerrada até o tempo do fim. Em Dn 12:4 diz: “Tu, porém,
Daniel, encerra as palavras e sela o livro, até o tempo do fim; muitos o esquadrinharão e o saber
se multiplicará.”
Dn 8:26 diz que a visão dos 2.300 anos se “refere a dias ainda mui distantes.”

Por que as profecias estavam seladas somente para o tempo do fim?


Joyce Baldwin diz que: “A razão pela qual Daniel deveria manter suas duas últimas visões
seladas era porque ainda não tinham relevância (8:26, 12:9), pelo menos não em todos os deta-
lhes.219
Recapitulando: Depois dos 6 selos abertos (identificados como os períodos da história) e
antes da volta de Jesus (sétimo selo), o conteúdo do livro de Daniel seria estudado e exposto,
especialmente as profecias de tempo.
Em Dn 12:4 diz o conhecimento se multiplicaria. De que forma? É dito que no tempo
do fim os olhos dos homens seriam dirigidos ao livro de Daniel, e o conhecimento sobre o livro
aumentaria conforme o livro fosse aberto.
Portanto, assim que o livrinho é aberto, encontramos uma explosão virtual de ma-
terial vindo de Daniel.220
Imediatamente após Ap 10, a profecia dos 1.260 anos passa a ser o tema central. Até
então o Ap não havia mencionado este período de tempo.
Os textos de Ap 11:2, 11:3, 12:6, 12:14 e 13:5 citam os 1.260 anos, ou 42 meses ou um
tempo, dois tempos e metade de um tempo que são a mesma coisa.
Quando analisamos a profecia de Daniel, podemos ver como ela se desdobra em Apoca-
lipse. Cada uma das partes de Dn 7:25 forma uma parte de Ap 11-14:221

219 Joyce Baldwin, Daniel, Tyndale Old Testament Commentary, p. 206.

220 George Knight. A visão apocalíptica e a neutralização do adventismo, p. 65.

221 Idem, p. 66.

198
Daniel 7:25 Apocalipse
“proferirá palavras contra o Ap 13:5 – “Foi-lhe dada uma boca que proferia arrogâncias e blasfêmias”
Altíssimo” por 42 meses.
“magoará os santos do Al- Ap 13:7 – “Foi-lhe dado também que pelejasse contra os santos e os ven-
tíssimo” cesse.”
“cuidará em mudar os tem- A tentativa de mudar os tempos e a lei obtém resposta em Ap 12:17, 14:7
pos e a lei” e 12, em que Deus prediz a restauração dos mandamentos, incluindo
aquele relacionado ao tempo, no fim da história.
“os santos lhes serão entre- Ap 11:2, 11:3, 12:6, 12:14 e 13:5 citam os 1.260 anos, ou 42 meses ou
gues nas mãos por um um tempo, dois tempos e metade de um tempo.
tempo, dois tempos e me-
tade de um tempo”

De fato, as profecias de Daniel apontavam para dias ainda muito distantes” (Dn 8:26).
Quando as pessoas naquela época entenderam que estavam no fim do período mencionado por
Daniel, aliaram este conhecimento ao que já havia presenciado:
O terremoto de Lisboa em 1755, o escurecimento do sol e a lua em sangue em 1780 e a
queda das estrelas em 1833 provocou um despertamento religioso que levou muitas pessoas a
estudar as profecias bíblicas, especialmente Daniel.
A violência da Revolução Francesa, seus aspectos anticristãos, sua subversão à moralidade
e todos os seus extremos levaram os cristãos ao redor do mundo a considerar o evento como
semelhante aos sinais bíblicos da angústia dos últimos dias.
Essa compreensão literalmente levou o povo às profecias de Daniel e Apocalipse. Os 50
anos seguintes presenciaram o surgimento de livros sobre as profecias apocalípticas como em
nenhum momento da história.
Os olhos dos homens realmente foram postos no livro de Daniel e o conhecimento de
suas profecias aumentou cada vez mais.222
Assim, quando as pessoas relacionaram Dn com o livrinho aberto de Ap e os eventos que
estavam acontecendo, entenderam que algo estaria para acontecer. Aliado a isso, Ap 10 mos-
trava mais detalhes:
Houve um juramento no v.6: “já não haverá demora”. Esta pouca demora seria o tempo
entre o fim dos 1.260 anos e o fim dos 2.300 anos, ou seja, de 1798 a 1844.
V. 8 diz que o livro estava aberto na mão do anjo que estava em pé sobre o mar e a terra.
Representa a abrangência da mensagem deste livrinho. Representa também o surgimento de um
movimento mundial de pregação das verdades contidas no livro de Daniel em conexão com as
de Apocalipse.
V. 9 diz que João pegou e comeu. Muitas pessoas que viviam nesta época, entenderam
que o fim estava próximo.

222 Idem, p. 33.

199
Guilherme Miller
Um dos estudantes destas profecias foi Guilherme Miller.223 Ao estudar as profecias de
Daniel ele chegou às mesmas conclusões que pelo menos outros oitenta intérpretes do texto
bíblico haviam chegado, ou seja, que a profecia dos 2.300 anos que estava selada até o tempo
do fim, teria seu cumprimento entre 1843 e 1847. Os 1.260 anos já tinham se cumprido. O foco
agora era sobre os 2.300 anos.
Estudou o texto que diz: “até 2.300 tarde e manhãs e o santuário será purificado.” Enten-
deu que o santuário seria a terra e o fogo purificaria. Quando? À luz de 2Pe 3:11-13 entendeu
que seria quando Cristo voltasse.
Com isso, em 1818, Miller se convenceu que Jesus voltaria dentro de 25 anos: “Não
posso expressar a alegria que encheu meu coração!”224 Esta mensagem foi “doce ao pala-
dar”.
Dedicou vários anos ao estudo e em 1832 ainda não se sentia preparado
para falar ao público. “Vá e conte ao
Um dia, veio à sua mente uma voz: “Vá e conte ao mundo.” “Não posso mundo.”
ir, Senhor”, ele respondeu. “Por que não?”- parecia continuar a voz. Depois
de considerar suas desculpas e entender que não havia razão para negar o pedido de Deus, fez
um pacto com Deus, que se Ele abrisse o caminho, Miller cumpriria seu dever.
“O que você quer dizer com abrir o caminho?” “Se eu tiver um convite para falar publi-
camente em qualquer lugar, irei e contarei o que descobri na Bíblia sobre a vinda do Senhor.”
Ele já estava com 50 anos e nunca havia recebido um convite para pregar. Mas em meia
hora, um menino bateu à sua porta depois de caminhar 26 quilômetros. Trouxe uma mensagem
de seu pai que precisava de ajuda. “Para que?” O menino respondeu que não havia pregador
para o dia seguinte na igreja e o pai queria que Miller fosse pregar sobre a volta de Jesus. Depois
de relutar, aceitou, e assim, começou um dos ministérios mais frutíferos em meados do século
19.
Jesus voltaria por volta de 1843, pelos seus cálculos. Miller havia feito uma anotação anos
antes: “Apocalipse 10. Abertura do livrinho. Quarenta e cinco anos para o fim.”
Mas ele era cauteloso para não fixar uma data para a volta de Jesus por entender que
“ninguém sabe o dia nem a hora” (Mt 24:36). Mas seus seguidores queriam algo mais específico.
Então com a ajuda de Samuel Snow, corrigiram a data para 22 de Outubro de 1844, o dia da
Expiação no calendário judaico.
Estavam muito ansiosos para este dia. Esperavam com alegria o breve retorno de Jesus.
A abertura do livrinho realmente tinha sido doce ao paladar. Jesus deveria voltar em duas
semanas.

223 Esta história está relatada no livro A visão apocalíptica e a neutralização do adventismo, p. 32 em diante e The Prophetic Faith o four Fathers: The Historical

Development of Prophetic Interpretation, v. 3, de LeRoy Edwin Froom. Para conhecer melhor a vida de Guilherme Miller, ver Gerorge Knight, Millenial
Fever and the End of the World.
224 William Miller, Apology and Defence, p. 12.

200
Desapontamento
Chegou o grande dia e Ele não voltou. Dia 24, Josias Litch, enviou uma carta a Miller:
“Este é um dia nebuloso e escuro – as ovelhas estão dispersas – e o Senhor ainda não voltou.”
Foi muito amargo ao estômago, tal como predita em Ap 10.
“O Sol ergueu-se no oriente, como um noivo que sai de seus aposentos. Mas o Noivo
não apareceu. Permaneceu no meridiano, quente e comunicador de vida, "trazendo salvação nas
suas asas". Mas o Sol da Justiça não apareceu. Escondeu-se no ocidente, flamejante, cruel, “ter-
rível como um exército com bandeiras”. Aquele que Se assenta sobre o cavalo branco não re-
tornou como o Líder das hostes celestiais. As sombras do ocaso estendiam-se serena e friamente
por sobre a terra. As horas da noite passavam vagarosamente. Em desconsolados lares de mile-
ritas, os relógios assinalaram doze horas da meia-noite. Vinte e dois de Outubro havia termi-
nado. Jesus não viera. Ele não voltou!” – História do Adventismo, pág. 34.
Tiago White relatou: “O desapontamento com o passar da data foi muito amargo. Ver-
dadeiros crente deixaram tudo por Cristo e buscaram a presença de Deus como nunca. O amor
de Jesus enchia cada coração, brilhava em cada rosto e, com inexprimíveis desejos, oravam:
‘Vem, Senhor Jesus, vem depressa!’ Mas ele não veio. Eu chorei como uma criança.”225
O desapontamento de outubro quebrou o movimento milerita. Não
era esse, contudo, o fim profetizado em Ap 10. Depois da experiência doce A profecia diz que
e amarga dos versos 8 a 10, vem o verso 11: “Então me disseram: é neces- outro movimento
sário que ainda profetizes a respeito de muitos povos, nações, línguas e reis.” surgiria e que al-
A profecia diz que outro movimento surgiria e que alcançaria os confins da cançaria os confins
Terra. da Terra.

Movimentos pós 1844


Surgiram 3 movimentos. Um deles afirmou que Jesus havia voltado e que eles deveriam
receber o reino como crianças. Assim, engatinhavam e comiam com as mãos. Alguns rejeitaram
o trabalho entendendo que estavam num ano profético. Outros remarcaram várias outras datas
para a volta de Jesus.
Mas houve um terceiro grupo muito dedicado ao estudo da Bíblia que concluiu que a
profecia realmente havia se cumprido em 1844, mas que o evento estava errado.
Em 1845 alguns adventistas relacionaram o início da segunda fase do ministério de Cristo
no santuário com 1844.

José Bates
José Bates foi um dos que aceitaram essa ideia. Ele leu Ap 11:9 – João vê o Santuário e a
arca da aliança. Por que a arca estava exposta nesse período da história? Ele sabia o que a arca
continha.
Foi para o cap. 12. Aqui temos um resumo histórico da igreja desde o tempo de Cristo
até o fim dos tempos, culminando com o conteúdo do v. 17: “Irou-se o dragão contra a mulher
e foi pelejar com os restantes da sua descendência, os que guardam os mandamentos de Deus.”

225 James White, Life incidents, p. 182.

201
Bates entendeu que próximo ao fim dos tempos, ocasião em que o segundo comparti-
mento do santuário seria aberto, os mandamentos de Deus se tornariam um ponto de conflito,
e o Senhor teria um povo que os guardaria.

Sábado
Como ele sabia sobre o sábado? Bates começou a pregar sobre o sábado que ele havia
aprendido com os batistas do sétimo dia. Eles não pregavam para outros sobre o sábado,
somente para eles. Mas uma mulher chamada Rachel Oakes pregou a repeito do quarto manda-
mento para uma congregação adventista em New Hampshire. Um pastor chamado Thomas
Preble aceitou e publicou um panfleto sobre o assunto. Bates se encontrou com alguns guarda-
dores do sábado em 1845 e leu o material de Preble.
Na volta para casa se encontrou com James Monroe numa ponte em Massachusetts.
Monroe perguntou “quais são as novas, capitão Bates?”. Não sabemos quanto tempo eles fica-
ram ali, mas ao terminar a conversa Monroe era um guardador do sábado. Em gratidão, Monroe
colocou o nome de José Bates em seu filho.

Grande conflito
Bates e outros estudaram Apocalipse e entenderam que os mandamentos teriam
uma importância crucial no tempo do fim e que surgiria um conflito relacionado à ob-
servância dos mandamentos.
Bates entendeu que o movimento de Ap 10:11 deveria pregar as mensagens de 14:6.
O v. 7 diz sobre adoração, uma referência a Êx 20:8-11. Bates percebeu que o ponto de
conflito nos últimos dias não seria somente a guarda dos mandamentos, mas o quarto manda-
mento, enfatizado na primeira mensagem angélica.
Adoração é a palavra ou conceito chave de Ap 13 e 14.
O v. 7 diz que os verdadeiros adoradores adorarão o Deus criador do sábado, enquanto
o verso 9 aponta outros que adorarão a besta e a sua imagem.
Depois de ler Ap 14:7, Bates leu a segunda mensagem angélica sobre a queda da Babilônia.
Os versos 13 oferece uma recapitulação do cap. 13 e a descrição do conflito final entre aqueles
que se submetem ao poder da besta. Finalmente os versos 14 a 20 falam da Volta de Jesus nas
nuvens do céu.
Em janeiro de 1847 Bates reconheceu claramente que, nos últimos dias, Deus teria
um povo que pregaria as três mensagens angélicas.

Crescimento
Assim, em 1848, os que se tornaram adventistas guardadores do sábado aceitavam a men-
sagem e se inspiravam a pregar a todos. Dessa forma surge um povo.
No fim de 1848 havia 100 membros. Em 5 anos já eram 2.500.
A seguinte frase do livro Beneficência Social ajuda a entender o pensamento do movi-
mento adventista desde o início: “A igreja de Cristo na Terra foi organizada para fins missioná-
rios, e o Senhor deseja ver a igreja toda idealizando meios e planos pelos quais grandes e peque-
nos, ricos e pobres, possam ouvir a mensagem da verdade.” (p. 105)

202
Graça
Como pregavam numa cultura amplamente cristã, viam pouca necessi-
dade de falar sobre graça para os batistas ou oração para os metodistas. Os mandamentos
Enfatizavam o sábado, estados dos mortos e santuário, doutrinas dis- são importantes,
tintivas que os demais cristãos não acreditavam. Mas essa abordagem deixou mas sem Cristo
um legado ruim. Então, 40 anos depois, em 1888, houve uma reforma de não são nada.
aproximação do adventismo à cristandade.
Eles se debruçaram em Ap 14:12 que fala dos santos dos últimos dias que guardam os
mandamentos e a fé de[em] Jesus. A dúvida era se o texto afirmava “fé DE Jesus”, implicando
em uma perfeição de conduta a ponto de ter a mesma fé que Jesus tinha, ou “fé EM Jesus”, que
mostrava o papel da fé na graça de Cristo como sendo suficientes para nos aperfeiçoar, e não
nossos próprios méritos ou obras. A. T. Jones e Waggoner defenderam que a última parte do
verso sig. “fé em Jesus”. Assim, a igreja passou a entender que os mandamentos são importan-
tes, mas sem Cristo não são nada.
Dessa forma, Ellen White disse que agora tinham a mensagem do alto clamor a pregar
para a terra. Assim, temos o surgimento do movimento adventista que pregaria as mensagens
angélicas ao mundo.

CRENÇA DETECTADA 11. Crescimento em Cristo - Por sua morte na cruz, Jesus triunfou sobre as forças do mal. Ele que subjugou
os espíritos demoníacos durante Seu ministério terrestre, quebrantou o poder deles e garantiu Sua condenação final. A vitória de Jesus
nos dá a vitória sobre as forças do mal que ainda buscam controlar-nos, enquanto caminhamos com Cristo em paz, gozo e na segurança
do Seu amor. Agora o Espírito Santo mora em nosso interior e nos dá poder. Continuamente consagrados a Jesus como nosso Salvador
e Senhor, somos libertos do fardo de nossas ações passadas. Não mais vivemos nas trevas, sob o temor dos poderes do mal, da igno-
rância e a insensatez de nossa antiga maneira de viver. Nesta nova liberdade em Jesus, somos chamados a crescer à semelhança de
Seu caráter, mantendo uma comunhão diária com Ele por meio da oração, alimentando-nos de Sua Palavra, meditando nela e na
providência divina, cantando em Seu louvor, reunindo-nos para adorá-Lo e participando na missão da Igreja. Ao entregar-nos ao Seu
amorável serviço por aqueles que nos rodeiam e ao testemunharmos de sua salvação, a presença constante do Senhor em nós, por
meio do Espírito, transforma cada momento e cada tarefa em uma experiência espiritual. (Salmos 1:1,2; 23:4; 77:11,12; Colossenses
1:13, 14; 2:6, 14,15; Lucas 10:17-20; Efésios 5:19, 20; 6:12-18; 1 Tessalonicenses 5:23; 2 Pedro 2:9; 3:18; 2 Coríntios 3:17,18;
Filipenses 3:7-14; 1 Tessalonicenses 5:16-18; Mateus 20:25-28; João 20:21; Gálatas 5:22-25; Romanos 8:38,39; 1 João 4:4; He-
breus 10:25).

RESUMO
Os primeiros capítulos de Apocalipse “preparam o terreno” para o surgimento do movimento adventista
e mostram as ênfases que o movimento deveria dar ao pregar a mensagem do advento a todo o mundo.

203
204
CAPÍTULO 27

Dom profético
Toda a narrativa bíblica do Grande Conflito pode ser dividida em 4 etapas: Criação, Queda, Redenção
e Restauração. Este capítulo detalhará ainda o plano da Redenção e está baseado em Apocalipse.
Vimos nos capítulos anteriores sobre o início profético e a mensagem profética do movi-
mento adventista, especialmente no livro de Apocalipse. Agora veremos a respeito da manifes-
tação profética dentro do movimento adventista.
Apocalipse 12:17 se refere ao “testemunho de Jesus” como uma das principais caracte-
rísticas da igreja remanescente do tempo do fim.
Esse “testemunho” é definido em Apocalipse 19:10 como “o espírito da profecia”. Por-
tanto, o movimento que surgiu do desapontamento de Ap 10 teria uma mensagem profética a
pregar ao mundo e um dom profético que o acompanharia.

CRENÇA DETECTADA 18. O Dom de Profecia - Um dos dons do Espírito Santo é a profecia. Esse dom é uma característica da Igreja
remanescente e foi manifestado no ministério de Ellen G. White. Como a mensageira do Senhor, seus escritos são uma contínua e
autorizada fonte de verdade e proporcionam conforto, orientação, instrução e correção à Igreja. (Joel 2:28 e 29; Atos 2:14-21; Hebreus
1:1-3; Apocalipse 12-17; 19:10).

Base bíblica
Mas qual é a base bíblica para a aceitação da manifestação profética nos tempos moder-
nos?
Um dos argumentos tem por base Amós 3:7, que afirma: “Certamente o Senhor, o Sobe-
rano, não faz coisa alguma sem revelar o Seu plano aos Seus servos, os profetas” (NVI). Essas
palavras expõem um padrão interessante do relacionamento de Deus com os seres humanos.
Em alguns dos momentos mais cruciais da história, quando a verdade e o erro estavam em
conflito, e a verdade precisava ser restaurada, essa restauração ocorreu sob uma assistência pro-
fética especial.226
A Bíblia diz que (1) antes de o mundo ser destruído pelo Dilúvio, Deus chamou Noé
como Seu mensageiro especial (Gn 6–8; 2Pe 2:5); (2) quando o Senhor libertou os israelitas do
Egito, Ele escolheu Moisés como líder e profeta para Seu povo (Êx 3–4; Os 12:13); (3) quando

226 http://deptos.adventistas.org.s3.amazonaws.com/associacaoministerial/revistas/ministerio-Jul_Ago-2018.pdf, p. 12.

205
Judá se afastou Dele, envolvendo-se com idolatria Ele enviou vários profetas para alertar a na-
ção (2Cr 36:15, 16); (4) quando Deus estava tentando manter Seu povo distante da influência
paganizadora de Babilônia, Ele enviou outros profetas (Jr 25:1-14; 29:1–30:24; Ez 1:1; Dn 9); e
(5) quando chegou o momento de Jesus iniciar Seu ministério terreno, Deus enviou João Batista
para preparar o caminho para a vinda de Cristo (Mt 3).

Três argumentos adicionais:


O primeiro é que o dom de profecia é mencionado em todas as listas importantes
de dons espirituais do Novo Testamento (Rm 12:6; 1Co 12:10, 28; Ef 4:11). Esses dons
foram distribuídos pelo Espírito Santo “para a edificação do corpo de Cristo, até que todos
cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade,
à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4:12, 13). Isso significa que, enquanto a igreja
não atingir o ideal de Deus, a possibilidade de que esses dons (incluindo o dom de profecia)
sejam dados à comunidade cristã ainda permanece.
CRENÇA DETECTADA 17. Dons e Ministérios Espirituais - Deus concede a todos os membros de Sua Igreja, em todas as épocas,
dons espirituais. Estes são outorgados pela atuação do Espírito Santo, o Qual distribui a cada membro como Lhe apraz, os dons provêm
de todas as aptidões e ministérios de que a Igreja necessita para cumprir suas funções divinamente ordenadas. Alguns membros são
chamados por Deus e dotados pelo Espírito para funções reconhecidas pela Igreja em ministérios pastorais, evangelísticos, apostólicos
e de ensino. (Romanos 12:4-8; 1 Coríntios 12:9-11, 27 e 28; Efésios 4:8 e 11-16; 2 Coríntios 5:14-21; Atos 6:1-7; 1 Timóteo 2:1-3; 1
Pedro 4:10 e 11; Col. 2:19; Mateus 25:31-36).

Outro argumento é a advertência bíblica de que os crentes não devem rejeitar al-
guma manifestação específica do dom profético sem uma razão convincente para isso
(1Ts 5:19-21). Se o genuíno dom de profecia não fosse dado depois da era apostólica, por que
tal recomendação seria necessária? Além disso, o apóstolo João adverte seus leitores dizendo:
“Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus,
porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora” (1Jo 4:1). Por que deveríamos “tes-
tar” os profetas se nenhum profeta verdadeiro aparecesse depois da era apostólica?
Um terceiro argumento favorável à orientação profética moderna se fundamenta naquelas
passagens escatológicas que falam de uma genuína manifestação do dom de profecia
antes da segunda vinda de Cristo. Por exemplo, Joel 2:28 a 31 diz que “antes que venha o
grande e terrível Dia do Senhor”, muitas pessoas realmente “profetizarão”, “sonharão” e “terão
visões”. Embora essa profecia tenha se cumprido parcialmente no Pentecostes (At 2:16-21), seu
cumprimento também está relacionado aos sinais escatológicos do Sol e da Lua descritos em
Mateus 24:29 a 31 e Lucas 21:25 a 28.
Os adventistas acreditam que este dom de profecia foi manifestado na vida de Ellen
White. Quem foi ela?227

Os primeiros anos
Em 26 de novembro de 1827 nasceram duas meninas gêmeas, Ellen e Elisabete, na casa
de Roberto e Eunice Harmon em Portland, Maine, no nordeste dos Estados Unidos.
Durante a infância, a ativa e alegre Ellen ajudava no trabalho de casa e auxiliava o pai na

227 Baseado na biografia escrita por Arthur White. Disponível em http://www.centrowhite.org.br/ellen-g-white/biografia-de-ellen-g-white-1827-1915/

206
manufatura de chapéus. Com nove anos de idade, uma tarde ao voltar da escola para casa, foi
ferida por uma pedra que a colega de classe lhe atirou. Esse acidente quase lhe custou a vida.
Ficou inconsciente durante três semanas, e nos anos seguintes sofreu grandemente como resul-
tado do sério ferimento no nariz. Ellen era incapaz de continuar os trabalhos escolares, e parecia
a todos que a menina antigamente promissora não poderia viver por muito tempo.
No ano de 1840 Ellen, com 12 anos, assistiu, com os pais, à reunião campal metodista e
entregou o coração a Deus. Foi batizada no Oceano Atlântico, que banhava as praias de Por-
tland, e nesse mesmo dia foi recebida como membro da igreja metodista.

A mensagem do Advento
Com outros membros da família, Ellen assistiu às reuniões adventistas em Portland em
1840 e 1842, aceitando plenamente os pontos de vista apresentados por Guilherme Miller e seus
companheiros, e confiantemente aguardou a volta do Salvador em 1843, e depois em 1844.
Apesar do desapontamento, ela buscou fervorosamente a Deus por luz e direção nos dias de
perplexidade que se seguiram.

A primeira visão
No tempo crítico, quando muitos estavam vacilando ou abandonando sua experiência
adventista, juntou-se Ellen Harmon a quatro outras irmãs no culto familiar enquanto estava na
casa de um companheiro de fé, no sul de Portland, numa manhã do fim de dezembro. O Céu
parecia escuro perto do grupo em oração, e ao repousar o poder de Deus sobre Ellen, perdeu
ela a noção do ambiente terreno, e numa revelação figurada testemunhou as viagens do
povo do advento para a cidade de Deus. (Primeiros Escritos, pp. 13-20).
Quando a jovem de dezessete anos relatou, tremendo e relutantemente, essa visão aos
crentes em Portland, foi ela aceita como luz de Deus. Atendendo à direção do Senhor, Ellen
viajou com amigos e parentes de um lugar para outro, conforme a oportunidade, relatando aos
grupos esparsos de adventistas o que lhe fora revelado, tanto na primeira visão, como nas que
se sucederam. Aqueles dias não eram fáceis para os adventistas desapontados.

Casamento de Tiago e Ellen White e sábado


Numa viagem a Orrington, Maine, Ellen encontrou um jovem pregador adventista, Tiago
White, com 24 anos de idade. Depois de se terem certificado de que o Senhor os estava guiando,
casaram-se em agosto de 1846.
Logo depois do casamento, eles leram um material de 46 páginas de José Bates intitulado
“The Seventh-day Sabbath” (O Sábado do Sétimo Dia), e que apresentava evidências das Es-
crituras quanto à santidade do sétimo dia e aceitaram. Cerca de seis meses mais tarde, em 7 de
abril de 1847, em visão foi-lhe mostrada a lei de Deus no santuário celestial com auréola de luz
ao redor do quarto mandamento. Essa visão trouxe mais clara compreensão da importância da
verdade do sábado, e confirmou a confiança dos adventistas nela. (Primeiros Escritos, pp. 32-
35).
Os primeiros dias da experiência de casados de Tiago e Ellen White foram repletos de
pobreza e às vezes de angústia. Tiago White dividia-se entre trabalhar e pregar, e ganhar a vida
na floresta, na estrada de ferro ou no campo de feno.

207
Começando a publicar
Estando em Rocky Hill, Connecticut, no verão de 1849, começou Tiago White a publica-
ção de nosso primeiro jornal: The Present Truth, um bimensário de oito páginas, com grande
lapso na sua publicação, sendo o volume completado em 11 publicações, em quinze meses. Os
números posteriores traziam artigos da pena de Ellen G. White, que representavam visões pro-
féticas sobre o futuro da igreja, e ecoavam notas de advertência e conselho. O ano de 1951
marcou o aparecimento do primeiro livro da Sra. White, um trabalho com capa de papel de 64
páginas intitulado A Sketch of the Christian Experience and Views of Ellen G. White. A este
seguiu-se um “suplemento” em 1854. Esses dois documentos mais antigos encontram-se agora
nas páginas 11-127 do livro Early Writings. Os dias do começo da Review and Herald, em 1850,
e da Youth’s Instructor, em 1852, a aquisição de um prelo manual, e depois a publicação das
revistas em Rochester, New York, durante os anos de 1852-1855, foram realmente bem pro-
bantes. A casa dos White e a pequena tipografia tornaram-se a sede da obra. O dinheiro era
escasso e a doença e as privações fizeram sua parte em trazer aflições e desânimo. Mas havia
dias brilhantes pela frente e, quando em 1855, os irmãos de Michigan convidaram o irmão e a
irmã White para Battle Creek prometendo uma pequena casa para impressão, pareceu que a
maré havia virado.

A visão do Grande Conflito


Foi em Ohio, num funeral realizado numa tarde de domingo, em março de 1858, na escola
pública de Lovett’s Grove (agora Bowling Green), que foi dada à Sra. White a visão do grande
conflito entre Cristo e seus anjos e Satanás e seus anjos, desde seu início até ao fim. Dois dias
mais tarde o grande adversário tentou tirar-lhe a vida, para que ela não pudesse apresentar aos
outros o que lhe fora revelado. Mantida, contudo por Deus, na realização da obra que lhe fora
confiada, descreveu as cenas que lhe haviam sido apresentadas, sendo publicadas no verão de
1858 o livro de 209 páginas Spiritual Gifts, v. 1, The Great Controversy Between Christ and His
Angels, and Satan and His Angels. O volume foi bem recebido e grandemente apreciado devido
à sua clara descrição das forças contendoras no grande conflito, tocando em pontos árduos da
luta, mas tratando mais completamente das cenas finais da história da Terra. (Primeiros Escritos,
pp. 133-295).

O lar em Battle Creek


O diário de Ellen White, da última parte da década dos cinquenta, revela que nem todo o
seu tempo foi dedicado a escrever e à obra pública, pois os deveres caseiros, os contatos ami-
gáveis com os vizinhos, especialmente os que estavam em necessidade, exigiam-lhe atenção, e
às vezes ajudava a dobrar e a costurar jornais e folhetos, quando havia acúmulo de trabalho no
escritório da Review. No outono de 1860, a família White compunha-se de seis pessoas, com
quatro meninos ativos, que iam de poucas semanas a treze anos de idade. Contudo a criança
mais nova, Herbert, viveu apenas poucos meses, trazendo sua morte a primeira separação no
círculo familiar. Os esforços culminados para estabelecer a igreja e as organizações de Associa-
ção, com as exigências de mais escritos e viagens e trabalho pessoal, ocuparam os primeiros
anos da década dos sessenta. Alcançou-se o clímax na organização da Associação Geral em meio
de 1863.

208
A visão da reforma de saúde
Poucas semanas depois disto, são encontrados Tiago e Ellen White visitando Otsego,
Michigan, no fim de semana, para animar os obreiros evangélicos locais. Enquanto o grupo de
obreiros se ajoelhava em oração, no começo do sábado, foi dada a Ellen
White uma visão bem abarcante da relação da saúde física com a espirituali- Ellen White teve
dade, da importância de seguir princípios corretos no regime e no cuidado uma visão bem
do corpo, e dos benefícios dos remédios da natureza – ar puro, luz do sol,
abarcante da rela-
exercício e o uso racional da água. Antes dessa visão, pouca atenção ou
ção da saúde física
tempo tinham-se dado a questões de saúde, e vários dos sobrecarregados
ministros haviam sido obrigados a parar, durante alguns períodos de tempo, com a espirituali-
devido à enfermidade. Embora naquela época houvesse, neste e noutros pa- dade.
íses, indivíduos que lideravam reformas no modo de vida, os adventistas do
sétimo dia, com suas mensagens do sábado e do advento, pouco interesse tinham em questões
de saúde. Essa revelação a Ellen White a 06 de junho de 1863, impressionou os chefes da igreja
recém-organizada com a importância da reforma de saúde. Nos meses que se seguiram, visto
ser a mensagem de saúde considerada parte da mensagem dos adventistas do sétimo dia, inau-
gurou-se um programa educativo sobre a saúde. Iniciando essa campanha, foram publicados
seis folhetos de sessenta e quatro paginas cada um, e intitulados: Health, or How to Live, com-
pilados por Tiago e Ellen White, e em cada um deles aparecia um artigo de autoria dela. Muitís-
simo impressionados ficaram os primeiros líderes da obra com a importância da reforma da
saúde, devido à morte prematura de Henrique White com dezesseis anos, à grave enfermidade
do Pastor Tiago White, que por três anos se afastou do trabalho e aos sofrimentos de vários
outros ministros.
No princípio de 1866, atendendo à instrução dada a Ellen White no dia de Natal de 1865
(Testemunhos para a Igreja, vol. 1, p. 489), de que os adventistas do sétimo dia deveriam esta-
belecer uma instituição de saúde para cuidar dos doentes e comunicar instruções sobre saúde,
delinearam-se planos para o Health Reform Institute, que abriu em setembro de 1866. Enquanto
a família White estava em Battle Creek ou de lá saíam, de 1865 a 1868, as condições físicas do
Pastor White levaram-nos a se retirar para uma pequena fazenda, perto de Greenville, Michigan.
Longe dos prementes deveres da sede da nossa obra, teve Ellen White oportunidade de escrever;
e fez a apresentação da história do conflito, conforme lhe fora repetidamente mostrado de ma-
neira mais completa em muitas revelações. Em 1870, foi publicado The Spirit of Prophecy, vol.
I, trazendo a história desde a queda de Lúcifer até o tempo de Salomão. O trabalho dessa série
foi interrompido, e somente sete anos mais tarde foi publicado o volume seguinte. Ao voltarem
gradualmente as forças físicas ao Pastor White, também ele teve a oportunidade de recapitular
o avanço da obra e de estudar planos para sua extensão.

Escrevendo e viajando
Durante os poucos anos seguintes, muito do tempo da Sra. White foi ocupado em escre-
ver parte da história do conflito que trata da vida de Cristo e o trabalho dos apóstolos. Apareceu
nos volumes 2 e 3 de The Spirit of Prophecy em 1877 e 1878. O Pastor Tiago White estava
laboriosamente empenhado em iniciar a Pacific Press em Oakland, planejar e levantar fundos
para aumentar o Sanatório de Battle Creek e construir o Tabernáculo de Batlle Creek. Quando
a instituição de saúde, recém-estabelecida perto de Sta. Helena, Califórnia, foi visitada no prin-
cípio de 1878, foi Ellen White levada a exclamar que vira esses edifícios e seus arredores, numa
visão que lhe fora dada sobre a ampliação da obra na costa ocidental. Foi esse o terceiro

209
empreendimento da costa do Pacífico que ela viu na visão de 1874, sendo os outros The Signs
of the Times e a Pacific Press.
Durante as sessões das reuniões campais da última parte da década dos setenta, falou
Ellen White a muitos auditórios grandes, sendo o maior deles a congregação reunida na tarde
de domingo em Greeveland, Massachussets, no fim de agosto de 1877, tempo em que quinze
mil pessoas ouviram-na falar sobre temperança cristão em seus aspectos mais amplos. O rela-
tório de suas viagens e labores durante esse período leva-nos para leste e para oeste, e para
noroeste do Pacífico. Encontramo-la escrevendo incessantemente, assistindo às sessões da As-
sociação Geral, cumprindo compromissos nas praças da cidade e na prisão do Estado. A falta
de saúde do Pastor Tiago White levou-o a fazer uma viagem para Texas no inverno de 1878 a
1879. Foi aí que Artur Daniells, que em anos posteriores foi presidente da Associação Geral e
sua esposa, Maria, uniram-se à família White, o jovem Artur como companheiro e enfermeiro
do Pastor White e Maria como cozinheira e empregada doméstica.

O Conflito dos Séculos e Patriarcas e Profetas


Ao ser o volume 4 de The Spirit of Prophecy, recentemente publicado, exigido nas línguas
européias, sentiu Ellen White que devia escrever de maneira mais completa o que lhe fora apre-
sentado nas cenas do conflito, e assim empreendeu a obra de ampliar, resultando no livro co-
nhecido hoje como O Conflito dos Séculos, que pela primeira vez foi publicado no ano de
1888.
De novo nos Estados Unidos, Ellen White estabeleceu seu lar em Healdsburg, Califórnia,
mas assistiu à reunião da Associação Geral, em Minneapolis, Minnesota, em 1888, e que por
tanto tempo seria lembrada, e nos meses seguintes viajou, pregou e trabalhou em Patriarcas e
Profetas, que apareceu no ano de 1890.

Anos finais
Estabelecendo seu lar em “Elmshaven”, a poucos quilômetros da cidade campesina de
Sta. Helena, ao noroeste da Califórnia, a Sra. White gastou os quinze anos de vida restantes no
preparo de livros, escrevendo, fazendo trabalho pessoal e viajando. Nem bem se havia estabe-
lecido devidamente em Sta. Helena e já recebia um convite para assistir em Battle Creek, Michi-
gan, à sessão da Associação Geral de 1901. Nessa importante reunião deu sem hesitar seu tes-
temunho, apelando para a reorganização da obra da Associação Geral dos Adventistas do Sé-
timo Dia, a fim de que fossem providos completamente meios para atender aos crescentes in-
teresses da causa. Efetuou-se a reorganização, abrindo caminho para ampla distribuição das
crescentes responsabilidades que, até aquele tempo, tinham sido levadas por bem poucos ho-
mens. O plano de que as organizações uniões-associações ficassem entre a Associação Geral e
as associações locais foram organizadas e efeitvadas, e foram organizados departamentos da
Associação Geral. Esses passos abriram o caminho para a grande expansão e desenvolvimento
de nossa obra denominacional.
Dois anos mais tarde a obra da Review and Herald Publishing Association mudou-se de
Battle Creek para a costa oriental e, em harmonia com o conselho direto do Senhor, estabeleceu-
se em Takoma Park. Durante quase um ano levou avante o trabalho ali e seus documentos
traziam cabeçalho de Takoma Park. A presença da Sra. White na sede denominacional, recém
escolhida, ajudou a firmar o crédito da mudança que se fizera.
Poucos meses depois de sua volta a Sta. Helena, na última parte de 1905, saiu do prelo o
livro A Ciência do Bom Viver, dedicado ao interesse da cura do corpo e da alma. Educação

210
fora publicado em 1903, e dois volumes dos Testimonies, o sétimo e o oitavo, foram publicados
em 1902 e em 1904, respectivamente. Antes de deixar Washington, animaram-se os obreiros do
sul da Califórnia a conseguir a propriedade do sanatório de Loma Linda, fazendo-se apelos para
o início da obra educativa médico-missionária na costa do Pacífico. A obra apertada de livros
da Sra. White foi frequentemente interrompida, durante os poucos anos seguintes, pelas viagens
a Loma Linda para animar os obreiros locais, e ao sanatório Paradise Valley, perto de San Diego,
que ela pessoalmente ajudara a iniciar em 1903.
Reconhecendo que poucos dias lhe restavam, com todo o ardor empenhou-se Ellen
White na rápida produção de certo número de livros que apresentavam instruções essenciais à
igreja, Testimonies for the Church, vol. IX, foi publicado em 1909. Em 1911 apareceu Os
Atos dos Apóstolos. Em 1913 foi publicado Conselhos aos Professores, Pais e Estudantes,
e em 1914 foi terminado e enviado para o prelo o manuscrito de Obreiros Evangélicos. Os
meses finais ativos da vida da Sra. White foram dedicados ao livro Profetas e Reis.
Na manhã do sábado, 13 de fevereiro de 1915, ao entrar Ellen White em seu confortável
gabinete de estudos, tropeçou e caiu, e viu que não podia levantar-se. Foram buscar auxílio e
logo se verificou que o acidente era sério. O exame de raios X revelou uma fratura no quadril,
e a Sra. White ficou durante cinco meses confinada à cama ou na cadeira de rodas.
Suas palavras a amigos e parentes durante as últimas semanas de vida indicam um senti-
mento de alegria, e o senso de ter realizado fielmente a obra que o Senhor lhe confiara, confiança
de que a obra de Deus avançaria até seu triunfo final, mas a preocupação de que os membros
individuais da igreja, especialmente nossos jovens, reconhecessem o tempo em que estávamos
e o sério preparo necessário para encontrar o Senhor em Sua vinda.
Os trabalhos da vida de Ellen White terminaram a 16 de julho de 1915, na idade madura
de oitenta e sete anos bem passados, e foi posta a descansar ao lado do esposo no cemitério de
Oak Hill, em Batlle Creek, Michigan. Embora a voz esteja silente e a pena infatigável descan-
sando, contudo, as preciosas palavras de instrução, conselho, admoestação e encorajamento
sobrevivem, para guiar a igreja remanescente até o fim do conflito e o dia da vitória final.

Missão Urbana e Centros de Influência


O movimento adventista, baseado em Apocalipse 10, se via como um movimento profé-
tico de alcance mundial que tinha uma mensagem específica antes do retorno de Jesus. Ellen
White falava repetidas vezes a respeito da obra que devia ser feita nas cidades. Para ela, a per-
gunta em sua época não era se a igreja deveria fazer a obra nas cidades, mas como a obra seria
feita. Essa aparente ambivalência vinha de dois conceitos: por um lado, as famílias deviam evitar
a corrupção, maldade e os problemas de saúde próprios das cidades e viver em áreas rurais. Por
outro lado, ela sentia o fardo de que a igreja havia negligenciado o trabalho do evangelho nas
cidades.
Corrigir essa negligência seria o ponto focal de seu ministério entre 1901 e 1910. Mas
desde que teve a compreensão de que a mensagem adventista deveria ser mundial, ela advertiu
constantemente a igreja de que a obra fosse feita enquanto o tempo fosse propício e que era
necessário pensar no mundo todo, como afirmou em 1 de abril de 1874:
“Um Ser de dignidade e autoridade — presente a todas as nossas reuniões de comissões
— escutava com o mais profundo interesse todas as palavras. Falou deliberadamente, e com
perfeita segurança: “O mundo todo”, disse, “é a grande vinha de Deus. As cidades e vilas cons-
tituem parte dessa vinha. Elas têm que ser atingidas.” (Testemunhos Seletos, v. 3, p. 88)

211
Para ela, as cidades deveriam ser trabalhadas como Deus desejava, pois quando isso acon-
tecesse, “o resultado será o pôr-se em operação um poderoso movimento nunca
antes testemunhado.”228 Em um de seus muitos apelos, ela enfatizou a neces- Devemos estabe-
sidade de a igreja criar instalações com um propósito específico: lecer em todas as
“Devemos fazer mais do que temos feito para alcançar as pessoas de nossas cidades
nossas cidades. Não devemos erigir grandes edifícios nas cidades, mas repetidas
vezes, foi-me esclarecido que devemos estabelecer em todas as nossas cidades centros de influên-
pequenas instalações que se tornem centros de influência.”229 cia

Legado
Durante toda a sua vida ela escreveu mais de 5.000 artigos e 49 livros; mas hoje, incluindo
compilações de seus manuscritos, mais de 100 livros estão disponíveis em inglês, e cerca de 70
em português. Ellen G. White é a escritora mais traduzida em toda a história da literatura. Seus
escritos abrangem uma ampla variedade de tópicos, incluindo religião, educação, saúde, relações
sociais, evangelismo, profecias, trabalho de publicações, nutrição e administração. Sua obra-
prima sobre o viver cristão feliz, Caminho à Cristo, já foi publicada em cerca de 150 idiomas.
Os adventistas do sétimo dia creem que a Sra. White era mais que uma escritora talentosa, ela
foi apontada por Deus para ser uma mensageira especial a fim de atrair a atenção de todos para
as Santas Escrituras, e para ajudá-los a se prepararem para a segunda vinda de Cristo.
Desde os 17 anos de idade até o seu falecimento, aos 87 anos, Deus lhe deu cerca de 2000
sonhos e visões. As visões variavam em duração, podendo ser de menos de um minuto até cerca
de quatro horas. O conhecimento e conselhos recebidos através dessas revelações foram por
ela escritos a fim de serem compartilhados com outros. Assim, seus escritos são aceitos como
inspirados pelos adventistas do sétimo dia, e a qualidade excepcional dessas obras são reconhe-
cidas mesmo pelos leitores ocasionais. Como nos é declarado no livro Nisto Cremos “Os escri-
tos de Ellen White não constituem um substitutivo para a Bíblia. Não podem ser colocados no
mesmo nível. As Escrituras Sagradas ocupam posição única, pois são o único padrão pelo qual
os seus escritos, ou quaisquer outros, devem ser julgados e ao qual devem estar subordina-
dos.”230
Contudo, conforme escreveu Ellen White, “O fato de que Deus revelou Sua vontade aos
homens por meio de Sua Palavra, não tornou desnecessária a contínua presença e direção do
Espírito Santo. Ao contrário, o Espírito foi prometido por nosso Salvador para aclarar a Palavra
a Seus servos, para iluminar e aplicar os seus ensinos.” (O Grande Conflito, p. 9).

RESUMO
O Dom profético serve para guiar a igreja no momento mais crucial da história do mundo, pois estamos
vivendo muito próximos da Volta de Jesus. 1Cr 20:20 - Creia no Senhor vosso Deus e estareis seguros; creia
nos seus profetas e prosperareis.”

228 Ministério médico-urbano, p. 304.

229 Conselhos Sobre Saúde, p. 481.

230 Nisto Cremos, Associação Ministerial, Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1989, p. 305).

212
CAPÍTULO 28

Eventos escatológicos
Toda a narrativa bíblica do Grande Conflito pode ser dividida em 4 etapas: Criação, Queda, Redenção
e Restauração. Este capítulo detalhará ainda o plano da Redenção e está baseado em Apocalipse.
Nos últimos capítulos estudamos a respeito do movimento profético que surgiu em Ap
10. Este movimento adventista que pregava a respeito da Volta de Jesus deveria enfatizar alguns
aspectos esquecidos pelo cristianismo.

Um resumo
Ap 10 – surgimento de um movimento de pregação mundial depois do desapontamento
de 1844.
Ap 11 – a arca da aliança foi vista no Santuário celestial (11:19) – Para José Bates, Deus
estava querendo enfatizar a importância dos mandamentos contidos dentro da arca.
Ap 12 – descreve o povo de Deus e um remanescente que seria preservado. O remanes-
cente é descrito como aqueles que “guardam os mandamentos de Deus e tem o testemunho de
Jesus” (12:17). O testemunho de Jesus é o Espírito da Profecia (19:10), ou o dom profético
manifestado no movimento adventista. Portanto, este movimento de abrangência mundial en-
fatizaria os 10 mandamentos, especialmente o sábado e teria o dom de profecia.
Ap 13 – José Bates entendeu que o tema aqui se refere à adoração, especialmente relacio-
nados ao sábado bíblico. Vamos entender melhor a besta do cap. 13.

Ap 13
João descreverá um poder religioso que tem um íntimo paralelo com o animal terrível e
espantoso de Dn 7 e o chifre pequeno de Dn 8.
Ap. 13:1 e 2 –As sete cabeças é a soma das cabeças de todos os animais de Dn 7. Esta
besta é semelhante aos animais de Dn 7:4-6. Roma, em suas duas fases, pagã e papal, copiaria
elementos dos impérios que vieram antes dela:
• Da Babilônia – copiou o orgulho e a pretensão (Is 14:10-14, Dn 4:30, Jr 50:29), o pecado
e a transgressão à Lei de Deus (Is 13:11, 14:13-14)
• Da Medo-Pérsia – copiou o culto de adoração no dia do Sol, o domingo. O antigo culto
persa, mitraísmo, dedicava o primeiro dia da semana a adoração do deu Mitra, o deus Sol.
• Da Grécia – copiou o sistema de imagens e invocação de santos. Os gregos davam formas
humanas às suas divindades.

213
Ap 13 descreve assim a besta que surge do mar. Este poder religioso dominaria por mais
de 2160 anos e perseguiria o povo de Deus. Esta besta busca para si uma adoração (v.8) que é
devida apenas ao Criador.
O v. 8 diz que “todos” adorarão a besta, i.e, todos os que não estão escritos no livro da
Vida. Este poder será mundialmente adorado, e para isso, um dia será dedicado de forma espe-
cial. Ap 13:16 fala de uma marca que será aplicada sobre a mão direita ou sobre a fronte. Esta
marca tem a ver com o falso dia de adoração que será imposto aos habitantes da terra.

A segunda besta de Ap 13
A partir do v. 11, surge uma outra besta que estaria aliada à primeira.
Ela surge da terra, tem dois chifres, aparência de cordeiro e fala como dragão. Que nação
é esta?
Dois chifres – O texto mostra que se trata de uma nação cristã que teria liberdade civil e
religiosa.
Emergiu da terra – Ela surgiria da terra depois da primeira besta emergir do mar.
Quando ocorreu a ferida mortal da primeira besta, em 1798, os EUA surgiram depois da colo-
nização dos britânicos.
Falava como dragão – a besta que parecia um cordeiro, agora começa a falar como um
dragão. Um governo fala por meio de suas leis e em breve se formularão leis que perseguirão e
matarão os verdadeiros adoradores (13:15).
Marca da besta – a marca (13:16, 17) possui algumas características:
• É concreta e reconhecível;
• É imposta aos habitantes do mundo;
• Os indivíduos podem rapidamente identificar e aceitar ou rejeitar;
• A atitude diante dessa imposição implica em vida ou morte;
Fazendo um contraponto com o sinal, ou marca, de Deus em Ez 20:12, 20, a besta pro-
mulgará uma contrafação à Lei de Deus e exaltará o domingo como dia sagrado.
666 – o número 666 representa um sistema e não um indivíduo. Na Babilônia (Dn 3), os
deuses eram classificados por números. O menor recebia o número 6 e o maior o 60. Quando
se desejava referir-se a todos os deuses, usava-se o 600. 666 representa todo um sistema de
adoração que está em oposição a Deus e busca ocupar o seu lugar.

Ap 14
O movimento adventista foi chamado para um fim especial. Eles deve-
O movimento ad-
riam pregar o Evangelho eterno e as 3 mensagens angélicas:
ventista foi cha-
14:6-7 – Primeira mensagem:
mado para pregar
• evangelho eterno – o evangelho da graça de Jesus
as 3 mensagens
• juízo – começou em 1844
angélicas de Ap 14
• adoração àquele que fez os céus, mar etc – a linguagem empregada
aqui é semelhante ao quarto mandamento, o único que diz que devemos
adorar ao Criador.
14:8 - Segunda mensagem:
Anúncio da queda da Babilônia, que sig. confusão. Este termo é muito abrangente e re-
presenta o papado em aliança política e religiosa com os reis da terra. Representa todas as

214
corporações e movimento religiosos que tem se desviado da verdade, desafiando a autoridade
divina e seduzindo as pessoas com o vinho da sua prostituição (17:5). A grande Babilônia des-
crita neste verso designa, em sentido especial, as religiões apóstatas unidas no fim do tempo: 1)
papado, 2) protestantismo apostatado e 3) espiritismo.
14:9-11 - Terceira mensagem
Vimos que a besta que surge da terra é a nação americana e que em breve irá render um
ato de homenagem ao papado, ao buscar levar os cristãos a santificarem o domingo em lugar
do sábado. Todos os que aceitarem esta imposição terão recebido a marca ou selo da besta.

CRENÇA DETECTADA 13. O Remanescente e sua Missão - A Igreja universal compõe-se de todos os que verdadeiramente creem
em Cristo; mas, nos últimos dias, um remanescente tem sido chamado para fora, a fim de guardar os mandamentos de Deus e a fé de
Jesus. Esse remanescente anuncia a chegada da hora do Juízo, proclama a salvação por meio de Cristo e prediz a aproximação de Seu
segundo advento. (Marcos 16:15; Mateus 28:18-20; 24:14; 2 Coríntios 5:10; Apocalipse 12:17; 14:6-12; 18:1-4; Efésios 5:22-27;
Apocalipse 21:1-14).

Povo selado - Como resultado das mensagens angélicas, um povo será selado. Eles guar-
dam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus.

Fim da história
A composição literária do Ap mostra que as pragas (caps. 15 e 16) ocorrerão após o último
chamado ao arrependimento (as 3 mensagens) e depois do selamento dos santos.
O povo de Deus do tempo do fim é chamado a separar-se de Babilônia e unir-se a Cristo,
um paralelo com as 10 pragas do Egito. Deus os protegerá.
Ap 17 fala do julgamento da grande prostituta.
Ap 20 fala do milênio como um evento que ocorre depois da Volta de Jesus.
Ap 21 e 22 falam da descida da cidade Santa e dos novos céus e nova terra.
Para ficar bem claro, o Ap descreve que:
• Jesus volta, ressuscita e transforma os mortos fieis e junto com os vivos transformados e
fieis os arrebata para o céu.
• Todos os outros morrerão por ocasião da volta de Cristo.
• Após este período, Satanás será preso em correntes circunstanciais, pois não terá ninguém
a quem tentar.
• Após 1000 anos em que os santos estarão comprovando o julgamento de Deus no céu,
Satanás será solto e haverá a terceira ressurreição.
• O diabo os reunirá para uma guerra contra Deus e Seu povo que estão na cidade santa e
esta está descendo do céu.
• Deus destruirá Satanás, seus anjos e os pecadores que estiverem.
• E então Deus habitará com eles, eles serão povos de Deus e Deus mesmo estará com
eles.

O que falta para Jesus voltar?


Uma sequência de eventos é descrita na Bíblia e nos livros de Ellen White. Eles antecedem
a Volta de Jesus. Segue uma ordem sugestiva:
1. Movimento de Reavivamento e Reforma entre o povo de Deus - “Um reaviva-
mento da verdadeira piedade entre nós, eis a maior e a mais urgente de todas as nossas necessi-
dades. Buscá-lo, deve ser nossa primeira ocupação.” ME1 - Pag. 121 “Antes de Deus finalmente
trazer seus juízos, haverá, em meio ao povo do Senhor, um reavivamento de uma autêntica

215
piedade como nunca se viu.” OR, 236.
2. Selamento - O selamento “não é qualquer selo ou marca que possa ser vista, mas uma
permanência na verdade, tanto intelectualmente quanto espiritualmente, não podendo depois
ser demovidos” (Ellen G. White, SDABC, vol. 4 p. 1161).
3. Derramamento da chuva serôdia - “Essa promessa é para nós hoje, não somente
para o futuro, mas temos que estar preparados para recebê-la. Isso significa que precisamos
remover todo pecado e procurar o Senhor em humildade” (Testimonies for the Church, vol. 6, p. 50).
4. Alto Clamor - “A mensagem da queda de Babilônia, como dada pelo segundo anjo
(Ap 14:8), é repetida na mensagem do anjo em Ap 18:1-4. A obra deste anjo se une com a grande
obra final da terceira mensagem angélica” (Primeiros Escritos, p. 277).
5. Sacudidura - “Muitos Adventistas deixarão a igreja porque não estão plenamente con-
vertidos”. (Testemunhos Para a Igreja, v. 4, p. 89)
6. Pequeno tempo de angústia - “E ao início do tempo de angústia fomos cheios do
Espírito Santo ao sairmos para proclamar o sábado mais amplamente” (Primeiros Escritos, p. 33).
“O ‘início do tempo de angústia’ ali mencionado, não se refere ao tempo em que as pragas
começarão a ser derramadas, mas a um breve período, pouco antes, enquanto Cristo está no
santuário. Nesse tempo, enquanto a obra de salvação está se encerrando, tribulações virão sobre
a Terra, e as nações ficarão iradas, embora contidas para não impedir a obra do terceiro anjo”
(GC, p. 85).
7. Imagem da besta - “A América protestante terá então formado uma imagem [com]
(a besta), e haverá apostasia nacional que terá como seu fim a ruína nacional” (Signs of the Times,
22 de março de 1910).
8. Decreto de morte - “Quando se fizer da morte a penalidade da violação do nosso
sábado, então muitos dos que agora estão nas fileiras dos observadores dos mandamentos pas-
sarão para o outro lado” (Testemunhos para Ministros, p. 473).
9. Marca da besta - “Identificada como a fidelidade para com Roma” (GC, p. 449).
10. Fim do tempo da graça - “O fim do ministério de Cristo no Céu” (GC, p. 428).
11. Tempo de angústia - “Referido em Jr 30:7, na realidade começa com o decreto de
morte” (GC, p. 428). “Seus pecados foram examinados e extinguidos no juízo; não os podem
trazer lembrança” (GC, p. 620). “Satanás mergulhará então os habitantes da Terra em uma
grande angústia final” (Ibid, p. 614).
12. Armagedom - “Na hora de maior perigo [da batalha final, Apocalipse 16:12-16] no
entanto, Jesus aparece nas nuvens do céu para resgatar Seu povo.” (Primeiros Escritos, p. 284).
13. Volta de Jesus – “Surge logo no Oriente uma pequena nuvem negra, aproximada-
mente da metade do tamanho da mão de um homem. É a nuvem que rodeia o Salvador, e que,
a distância, parece estar envolta em trevas. O povo de Deus sabe ser esse o sinal do Filho do
homem. Em solene silêncio fitam-na enquanto se aproxima da Terra, mais e mais brilhante e
gloriosa, até se tornar grande nuvem branca, mostrando na base uma glória semelhante ao fogo
consumidor e encimada pelo arco-íris do concerto. Jesus, na nuvem, avança como poderoso
vencedor. ...
Com antífonas de melodia celestial, os santos anjos, em vasta e inumerável multidão,
acompanham-nO em Seu avanço. O firmamento parece repleto de formas radiantes - milhares
de milhares, milhões de milhões. Nenhuma pena humana pode descrever esta cena, mente al-
guma mortal é apta para conceber seu esplendor. ...

216
“O Rei dos reis desce sobre a nuvem, envolto em fogo chamejante. Os céus enrolam-se
como um pergaminho, e a Terra treme diante dEle, e todas as montanhas e ilhas se movem de
seu lugar.”231

CRENÇA DETECTADA 25. A Segunda Vinda de Cristo - A segunda vinda de Cristo é a bendita esperança da Igreja. A vinda do
Salvador será literal, pessoal, visível e universal. (Tito 2:13; João 14:1-3; Atos 1:9-11; 1 Tessalonicenses 4:16 e 17; 1 Coríntios 15:51-
54; 2 Tessalonicenses 2:8; Mateus 24; Marcos 13; Lucas 21; 2 Timóteo 3:1-5; Joel 3:9-16; Hebreus 9:28).

“As nuvens começam a enrolar-se como um pergaminho e eis ali o brilhante e claro sinal
do Filho do homem. Os filhos de Deus sabem o que essa nuvem significa. Ouvem-se sons
musicais, e, à medida que se aproximam, abrem-se as sepulturas e os mortos são ressuscitados.232
“Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmu-
los ouvirão a Sua voz e sairão." João 5:28 e 29. Essa voz ressoará em breve por todas as hostes
dos mortos, e todo santo que dorme em Jesus despertará e deixará sua prisão.”233
“Os preciosos mortos, desde Adão aos últimos santos que morrerem, hão de ouvir a voz
do Filho de Deus, e sairão dos sepulcros para a vida imortal.”234
“Os justos vivos são transformados "num momento, num abrir e fechar de olhos". À voz
de Deus foram eles glorificados; agora tornam-se imortais, e os santos ressuscitados, são arre-
batados para encontrar com seu Senhor nos ares. Os anjos "ajuntarão os Seus escolhidos desde
os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus". Criancinhas são levadas pelos santos
anjos aos braços de suas mães. Amigos há muito separados pela morte, reúnem-se, para nunca
mais se separarem, e com cânticos de alegria ascendem juntamente para a cidade de Deus.”235

Milênio
O efeito glorioso da vinda de Cristo sobre os ímpios será completamente aniquilador (2Ts
1:7, 8). A propósito, somente no dia da vinda de Cristo o ser humano remido receberá o dom
da imortalidade (1Co 15:50-55). “Até aquele dia, a morte é um estado inconsciente para todas
as pessoas” (Jó 19:25-27; Sl 146:3, 4; Ec 9:5, 6, 10; Dn 12:2, 13; Is 25:8; Jo 5:28, 29; 11:11-14;
Rm 6:23; 1Co 15:51-54; Cl 3:4; 1Ts 4:13-17; 1Tm 6:15). O reinado milenar de Cristo, com Seus
santos no Céu, será entre a primeira e a segunda grande ressurreição. A primeira é a dos salvos.
A segunda, a dos perdidos (Ap 20:5).
CRENÇA DETECTADA 26. Morte e Ressurreição - O salário do pecado é a morte. Mas Deus, o único que é imortal, concederá vida
eterna a Seus remidos. Até aquele dia, a morte é um estado inconsciente para todas as pessoas. (1 Timóteo 6:15 e 16; Romanos 6:23; 1
Coríntios 15:51-54; Eclesiastes 9:5 e 6; Salmos 146:4; 1 Tessalonicenses 4:13-17; Romanos 8:35-39; João 5:28 e 29; Apocalipse 20:1-
10; João 5:24).

Os adventistas do sétimo dia também creem que o período dos mil anos é literal, pois o
apóstolo João usou tempos simbólicos apenas para o tempo da graça, que terminará antes do
retorno de Cristo (Ap 15:8; 21:11-12). Por seis vezes, o apóstolo descreveu de modo natural os
mil anos (20:2-7), enquanto anteriormente, em outras seis vezes, usou construções anormais

231 O Grande Conflito, págs. 640-642.

232 Manuscript Releases, vol. 9, págs. 251 e 252.

233 Manuscrito 137, 1897.

234 O Desejado de Todas as Nações, pág. 606.

235 O Grande Conflito, pág. 645.

217
para descrever tempos simbólicos (11:2, 3, 11; 12:6, 14; 13:5).
No início do milênio haverá duas classes de seres humanos: os salvos vivos e ressuscitados
levados para o Céu, e os ímpios mortos, pois a terra ficará mil anos como um “abismo”, “sem
forma e vazia” (Ap 20:1, 2; Jr 4:23-26; Gn 1:2), onde Satanás nela circunscrito, e preso pela
cadeia de circunstâncias, a ninguém poderá enganar e ferir até os ímpios ressuscitarem no final
dos mil anos (Ap 20:1, 2, 5).
CRENÇA DETECTADA 27. O Milênio e o Fim do Pecado - O milênio é o reinado de mil anos de Cristo com Seus santos, no Céu,
entre a primeira e a segunda ressurreição. Durante esse tempo serão julgados os ímpios mortos. No fim desse período, Cristo com Seus
Santos e a Cidade Santa descerão do Céu à Terra. Os ímpios mortos serão então ressuscitados e, com Satanás e seus anjos, cercarão a
cidade; mas o fogo de Deus os consumirá e purificará a Terra. O Universo ficará assim eternamente livre do pecado e dos pecadores.
(Apocalipse 20; Zacarias 14:1-4; Malaquias 4:1; Jeremias 4:23-26; 1 Coríntios 6; 2 Pedro 2:4; Ezequiel 28:18; 2 Tessalonicenses 1:7-
9; Apocalipse 19:17, 18 e 21).

Novos céus e nova terra


“O grande conflito terminou. Pecado e pecadores já não existem. O universo inteiro está
purificado. Um único pulso de harmonia e júbilo ecoa pela vasta criação. Daquele que criou
todas as coisas, fluem luz, vida e felicidade através do espaço ilimitado. Desde o menor dos
átomos, até o maior dos mundos, todas as coisas, animadas e inanimadas, em sua beleza imacu-
lada e alegria perfeita, declaram que Deus é amor.” GC, p. 678.

CRENÇA DETECTADA 28. A Nova Terra - Na Nova Terra, em que habita justiça, Deus proverá um lar eterno para os remidos e um
ambiente perfeito para vida, amor, alegria e aprendizado eternos em Sua presença. (2 Pedro 3:13; Gênesis 17:1-8; Isaías 35; 65:17-
25; Mateus 5:5; Apocalipse 21:1-7; 22:1-5; 11:15).

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Conclusão
Chegamos ao fim de uma longa e prazerosa jornada de descobrimento da Bíblia. Ao invés
de estudarmos os temas e doutrinas, percorremos a história bíblica de Gênesis a Apocalipse e
fomos descobrindo como a Teologia foi sendo fundamentada ao longo de muitos anos.
Certamente você percebeu que toda a Bíblia é fruto de um Deus missionário que não se
cansa de correr atrás do ser humano. Antes mesmo da Queda, Deus já havia providenciado um
meio de salvação. Após a Queda, Ele mesmo tomou a iniciativa de procurar o homem e lhe
oferecer um escape da morte eterna. A partir de então, tudo o que a Bíblia apresenta é fruto das
histórias dos escolhidos por Ele para continuar uma missão que já iniciou a muito tempo atrás.
Você não precisa criar uma missão nova, basta olhar para aquilo que Deus já está fazendo
no mundo. Nossa missão deve ser a mesma da Divindade, nos espelhando no exemplo de Jesus
e sendo uma igreja missional e encarnacional.
Imagine uma corrida de revezamento, onde Deus entregou o primeiro bastão aos pionei-
ros e sucessivos bastões foram sendo passados de geração a geração ao longo de milênios. Ele
agora está em suas mãos. O bastão é o privilégio de participar da Missão de Deus de levar todos
os habitantes desse mundo a adorá-lo como Ele merece.

Deus > Patriarcas > Israel > Igreja > Nós


Resumo
Um resumo de toda a Bíblia? Deus criou todas as coisas como evidência do Seu amor. O
pecado estragou tudo e nos afastou dEle. Ele mesmo iniciou um plano de redenção e convida
a todos para participar dessa Missão. As Escrituras mostram como as pessoas do passado foram
fieis ou negligentes em cumprir esse plano. O grande objetivo dEle na Volta de Jesus é Restaurar
todas as coisas como eram no início, porém com o detalhe: as marcas dos pregos cravados em
Jesus permanecerão para sempre como um antídoto de que o pecado não se levantará outra vez.
Continue estudando a Bíblia e transmita esse conhecimento e a experiência de salvação
aos outros. Nunca se canse de aprender, pois:
“O tema da redenção ocupará a mente e língua dos remidos das eras eternas. O reflexo
da glória de Deus brilhará para todo o sempre da face do Salvador.”236 “Levará toda a eternidade
para compreender a ciência da redenção, para captar alguma coisa do que significa o Filho do
Deus infinito ter dado Sua vida pela vida do homem.”237
Fim.
Ou apenas o começo?

236 Comentário Bíblico Adventista, vol. 6, p. 1115

237 Signs of the Times, 16 de janeiro, 1893

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1ª edição MAIO DE 2021
impressão GRÁFICA PRINTI
Papel de miolo OFFSET 90G
Tipografia GARAMOND E MINION PRO

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