O Professor Experiente E A Formação Do Formador: Algumas Considerações
O Professor Experiente E A Formação Do Formador: Algumas Considerações
O Professor Experiente E A Formação Do Formador: Algumas Considerações
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Sueli de Oliveira Souza/UFMT
Simone Albuquerque da Rocha/UFMT
Eixo Temático: Formação continuada e desenvolvimento profissional de
Professores da Educação Básica
Agência Financiadora: OBEDUC /Capes
[email protected]
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neste contexto, são aqueles que orientam os novos professores em sua fase inicial da
carreira docente. São formadores do formador professores da escola básica com tempo
de serviço e que atuam como coordenadores pedagógicos, sendo então, potenciais
orientadores e apoiadores das propostas e práticas dos iniciantes na escola. Afirma a
coordenadora do projeto:
O professor experiente de nosso projeto deverá atender as escolas que
tiverem, no mínimo, quatro professores iniciantes, isto porque menor
número significa também, menor cobertura do programa a quem mais
precisa de apoio e orientação. \este profissional que está na escola e
tem muito tempo de experiência, precisa ficar lá em todos os turnos em
que tiver iniciantes, para atender as dificuldades no momento em que
acontecem. É um professor presente. É uma pessoa que o iniciante
recorre na hora da dificuldade. ” (Caderno de Campo- registro da fala da
coordenadora do projeto em reunião com os experientes. Out/2015)
Estamos vendo através dos estudos de Marcelo Garcia (1996), Mariano (2006),
Vailant (2006) Tardif (2002), André (2012), entre outros, que ao ingressar na carreira do
magistério os professores sentem-se inseguros, despreparados, desafiados a mobilizar
saberes e habilidades que na maioria das vezes ainda não foram consolidados e
introjetados na sua prática gerando situações desconfortáveis junto a seus pares.
Para Ribas (2000, p.38) a formação inicial é a primeira etapa para o
desenvolvimento profissional, contudo “ não é uma fase completa na vida do professor,
no entanto se ele se preparar bem [...] transporá os obstáculos do cotidiano escolar e terá
maior segurança nas decisões [...], por isso é de suma importância que o mesmo tenha
acompanhamento de alguém que já conhece mais sobre a profissão.
Nesta perspectiva Vaillant, Marcelo (2009 apud Calil 2012) afirmam que:
[...] todo professor deve ver a escola como um lugar onde ele não
somente ensina, mas também aprende. Percebe-se que atualização e
produção de novas práticas só surgem de uma reflexão partilhada entre
os colegas, o que tem lugar na escola e nasce do esforço de encontrar
respostas para problemas educativos. ( MARQUESIN 2012, p. 51).
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Mesmo sabendo da importância que a formação continuada possui, os estudos
realizados por Mizukami (2006) e Giovanni (2010) apontaram não haver investimentos na
formação do formador, assim, verificamos que a mesma não tem sido o foco das
formações de professores gestadas palas Universidades, Secretarias de Educação
estaduais e municipais responsáveis pela formação dos professores. O maior
investimento tem apontado os professores da educação básica. Vejamos o que fala a
professora experiente sobre as formações:
Nas formações dos experientes, ficava cada dia mais evidente que
minha função maior estava em organizar, pensar no ensino enquanto as
metodologias, pensar na aprendizagem de uma forma mais ampla
(métodos de ensino) para que os professores pudessem adaptar seu
trabalho as discussões propostas, pensar na formação continuada
centrada na escola, pensar ...pensar e pensar em uma totalidade
partindo do princípio de que os professores e professoras já conhecem e
dominam o oficio de ensinar. (Caderno de campo- registro da fala da
Professora Experiente A, out 2015.)
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As necessidades formativas se revelam quando nos deparamos com os
desafios e as angústias do fazer, enquanto experiente. Nos inquieta
muito o silêncio do iniciante e os seus temores em revelar suas
necessidades e dúvidas peculiares ao fazer pedagógico. Muito
claramente percebemos que tais dúvidas vão desde o gerir a sala de
aula, com todos os desafios que lhe são peculiares, aplicabilidade, até a
elaboração dos pareceres descritivos de avaliação. (Caderno de campo-
registro da fala da Professora Experiente B, out 2015.)
Mizukami, (2006, p.12) afirma que “ essas comunidades não são facilmente ou
rapidamente formadas, exigindo tempo para que as pessoas construam, juntas, uma
história, na qual a discussão pública se dê pelos membros ao recontarem as narrativas
constitutivas do grupo. ”
Assim, ser formador é um desafio para os professores experientes que atuam nas
escolas onde o projeto: Egressos da Licenciatura em Pedagogia e os desafios da prática
em narrativas: a Universidade e as escolas em um processo interdisciplinar de inserção
do professor iniciante na carreira docente, tem procurado instaurar uma proposta de
formação para o formador, reconhecendo o mesmo como apoio e auxílio ao professor
iniciante, uma vez que servirá de âncora para atender as necessidades do professor
iniciante.
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É preciso considerar que o professor iniciante se depara com um cenário
bastante complexo quando chega à uma escola, precisa atingir objetivos,
lidar com uma diversidade de alunos, com sentimentos e emoções, ter
um bom discurso didático, dominar os conteúdos disciplinares e saber
como transformá-los em pedagógicos de modo a atender às
necessidades dos alunos, ter bom manejo de sala de aula, adaptar-se ao
clima e à cultura da escola.( CALIL, 2012, p.32 )
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(2011), Ureta (2009), Celis (2013), Kaechele et.al. (22013), Mizukami; Tancredi e Reali
(2012) o perfil do professor experiente apontando a necessidade de se ter uma proposta
de formação para eles no sentido de ajudá-los no seu desenvolvimento profissional.
Para Kaechele et.al. (2013)
O desenvolvimento profissional refere-se a um olhar multidimensional e
dinâmico que incorpora aspectos pessoais e experiências
biográficas/educacionais, fatores ambientais e contextuais da carreira
exercida e questões amplas, como as fases da aprendizagem ao longo
da vida. (KAECHELE,2013, p.62).
Acredito que estar no programa está sendo muito bom, pois minhas
ações em relação aos professores iniciantes agora estão sempre
prescindidas de perguntas: Será que ela precisa de ajuda? Será que ela
esta compreendendo mesmo? Como essas informações que foram
dadas no grupo chegaram até ela?” .” (Caderno de campo- registro da
fala da Professora Experiente A, out 2015.)
Tarefa árdua que no fazer estamos construindo, com muitos encontros
de estudo no OBEDUC e muitas leituras, ante aos desafios e
necessidades de intervenção com os quais nos deparamos ao ensinar,
acompanhar e motivar o professor iniciante. ” (Caderno de campo-
registro da fala da Professora Experiente B, out 2015.)
De acordo com Marcelo (2006) o professor mentor é aquele que acompanha, que
conhece o professor iniciante pessoal e profissionalmente, capaz de criar um ambiente
aberto de apoio e desafios, gestar e coordenar o programa de acompanhamento da
escola, preparar informações para os professores iniciantes nas seguintes áreas: filosofia
e missão da escola, rotinas, administração e procedimentos, características dos alunos,
recursos, pessoal de apoio, atividades extracurriculares, contatos com os pais. Todas
estas ações precisam ser registradas de modo apresentar a evolução do mesmo. De
acordo com a professora experiente isto não acontecia antes de sua entrada no projeto:
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sobre seu processo de desenvolvimento, se reconhece na docência e na educação,
possui perspectiva positiva sobre seu desempenho, apresenta motivação interna para
melhorar seu trabalho, tem flexibilidade para superar as dificuldades.
De acordo com Marcelo (2006), Ureta (2009), Celis (2013) acolher e acompanhar
o professor iniciante é condição essencial para ajudá-lo no seu crescimento profissional.
É um momento de aprendizagem mútua onde o objeto de discussão é a prática
estabelecida em uma situação real, concreta que vai ser teorizada, estudada para
apontamentos de possíveis ações que irá modificá-la.
O trabalho do professor experiente que se coloca como mediador entre a
realidade concreta da escola e o professor iniciante vai permitir que o segundo se
desenvolva profissionalmente, superando os desafios em relação os diversos aspectos
da prática pedagógica, que conforme Avalos (2009) são oriundos da triangulação entre
aspectos pessoais que envolve a formação inicial e expectativas que possui sobre o seu
trabalho, outros relacionados ao contexto micro escolar que refere a cultura interna da
escola, tarefas a serem desenvolvidas, organização do tempo e do espaço e, ainda, os
aspectos referentes ao contexto macro que envolve as relações estabelecidas com as
políticas educacionais amplas, os impactos de suas decisões, relacionamentos com
agentes externos e com as famílias.
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Buscando a contribuição do pesquisador português Ochoa (2011) tem-se a
mentoria como um processo de:
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professor iniciante, assessorando-o em seu desenvolvimento profissional percebemos
que suas necessidades formativas vão além das contempladas pelos órgãos oficiais. De
acordo com professora experiente realizar este trabalho “vai requerer formação teórica,
ter atitudes diferentes para conseguir atender o iniciante, precisa haver trocas de
experiências entre as escolas envolvidas no projeto”. (Caderno de campo- registro da fala
da Professora Experiente A, out 2015.)
Percebe-se então que formação para atender a esta demanda precisa ir além dos
saberes das disciplinas, precisará conhecer os fundamentos sociológicos, psicológicos,
filosóficos de sua profissão. É urgente investir em uma formação pensada a partir dos
contextos reais, das necessidades formativas apresentadas pelo grupo de formadores.
Por fim, é urgente pensar uma formação que venha subsidiar o professor
experiente/mentor no seu desenvolvimento profissional para que o mesmo sinta-se
sujeito no processo de construção de suas identidades contribuindo de forma significativa
com a aprendizagem da docência pelo professor iniciante.
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Os estudos realizados a partir dos autores apontaram aspectos importantes sobre
a formação do formador que ainda se constitui um desafio para Brasil. Percebe- se que
formação do formador não é o foco das políticas de atendimento aos professores. O
atendimento ao professor responsável pela formação dos seus pares se dá em diversas
instituições no mesmo espaço dos demais. As propostas de formação continuada a este
profissional deverão ser pensadas a partir de suas necessidades formativas atendendo
as diferentes dimensões da prática a ser orientada e acompanhada na escola onde atua.
Referencias
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formador no contexto atual das reformas e das mudanças no mundo
contemporâneo. Rev. Bras. Est. Pedagógicos, Brasília, v. 91, n. 227, jan-abr.2010.
p.122-143.
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professor formador e as relações com seus saberes profissionais. Rev. Dialogo
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GIOVANNI, Luciana Maria. A produção da pesquisa sobre professores formadores
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KAECHELE, Mónica. et.al. características personales y profesionales del mentor
em la configuración de um acompañamiento eficiente. REDU- Rev. de docência
Universitária, Santiago de Compostela/Chile, v.11. n.2, maio- agosto 2013. p.61-
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MARCELO, C. Formação de professores para uma mudança educativa. Porto:
PortoEditora, 1999.
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