O Professor Experiente E A Formação Do Formador: Algumas Considerações

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O PROFESSOR EXPERIENTE E A FORMAÇÃO DO FORMADOR:

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Sueli de Oliveira Souza/UFMT
Simone Albuquerque da Rocha/UFMT
Eixo Temático: Formação continuada e desenvolvimento profissional de
Professores da Educação Básica
Agência Financiadora: OBEDUC /Capes
[email protected]

A presente pesquisa centra-se na formação do professor, tomando como núcleo o


professor Formador. Adotaremos a grafia com a inicial em maiúsculas, para diferenciar de
qualquer outra leitura em que contenha tal palavra, com o fim de enfatizar ser o
Formador, aquele que forma o formador.
As discussões que seguem têm como Formador o professor que atua nas escolas
de educação básica, sendo responsável por organizar e conduzir a formação dos seus
colegas nos momentos de estudos oferecidos semanalmente. Para Mizukami (2006, p.3)
os formadores são “[...] todos os profissionais envolvidos nos processos formativos da
docência de futuros ou daqueles que já estão desenvolvendo atividades docentes [...].”
Assim, temos vivenciado no grupo de pesquisa Investigação do Programa de Pós-
graduação PPGEDU/UFMT cadastrado no CNPq, as angústias, conflitos dos
coordenadores em atender os desafios exigidos pela formação continuada. Então, temos
questionado: onde estes profissionais buscam subsídios para apoiar os colegas? Que
formação tem direcionado as decisões tomadas? Quem forma o formador? Foram estas
inquietações que motivaram a escrita deste texto.
Para tanto, trabalhou-se com abordagem qualitativa adotando-se como
procedimentos de pesquisa as narrativas dos professores, registradas no caderno de
campo da pesquisadora e as narrativas de duas professoras experientes, colhidas nas
reuniões de formação continuada quinzenais, organizadas pelos professores experientes.
É interessante salientar que são seis coordenadores que participam junto a
Universidade Federal de Mato Grosso/ Campus de Rondonópolis em parceria com
OBEDUC/CAPES/INEP/SECADI do projeto: Egressos da Licenciatura em Pedagogia e
os desafios da prática em narrativas: a Universidade e as escolas em um processo
interdisciplinar de inserção do professor iniciante na carreira docente. Tais formadores
tem o papel de auxiliar os professores iniciantes que chegam nas escolas e buscam
auxilio para resolver os impasses que a profissão impõe. No caso, o projeto do OBEDUC,
contexto da pesquisa, insere em sua proposta os professores da escola básica, que

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neste contexto, são aqueles que orientam os novos professores em sua fase inicial da
carreira docente. São formadores do formador professores da escola básica com tempo
de serviço e que atuam como coordenadores pedagógicos, sendo então, potenciais
orientadores e apoiadores das propostas e práticas dos iniciantes na escola. Afirma a
coordenadora do projeto:
O professor experiente de nosso projeto deverá atender as escolas que
tiverem, no mínimo, quatro professores iniciantes, isto porque menor
número significa também, menor cobertura do programa a quem mais
precisa de apoio e orientação. \este profissional que está na escola e
tem muito tempo de experiência, precisa ficar lá em todos os turnos em
que tiver iniciantes, para atender as dificuldades no momento em que
acontecem. É um professor presente. É uma pessoa que o iniciante
recorre na hora da dificuldade. ” (Caderno de Campo- registro da fala da
coordenadora do projeto em reunião com os experientes. Out/2015)

Estamos vendo através dos estudos de Marcelo Garcia (1996), Mariano (2006),
Vailant (2006) Tardif (2002), André (2012), entre outros, que ao ingressar na carreira do
magistério os professores sentem-se inseguros, despreparados, desafiados a mobilizar
saberes e habilidades que na maioria das vezes ainda não foram consolidados e
introjetados na sua prática gerando situações desconfortáveis junto a seus pares.
Para Ribas (2000, p.38) a formação inicial é a primeira etapa para o
desenvolvimento profissional, contudo “ não é uma fase completa na vida do professor,
no entanto se ele se preparar bem [...] transporá os obstáculos do cotidiano escolar e terá
maior segurança nas decisões [...], por isso é de suma importância que o mesmo tenha
acompanhamento de alguém que já conhece mais sobre a profissão.
Nesta perspectiva Vaillant, Marcelo (2009 apud Calil 2012) afirmam que:

[...] o período da formação inicial como um passo importante do


desenvolvimento profissional contínuo. O melhor momento para envolver
o licenciando com o ensino, conscientizá-los sobre o compromisso da
formação continuada, sobre o respeito ao direito que os alunos têm de
aprender. (VAILLANT; MARCELO, 2009 apud CALIL,2012, p.33).

Assim, evidencia a importância da formação continuada que se dá no chão da


escola através do acompanhamento de professor mais experiente que já consegue
mobilizar vários saberes para agir conforme os desafios.
Corroborando com esta ideia Marquesin (2012) afirma que:

[...] todo professor deve ver a escola como um lugar onde ele não
somente ensina, mas também aprende. Percebe-se que atualização e
produção de novas práticas só surgem de uma reflexão partilhada entre
os colegas, o que tem lugar na escola e nasce do esforço de encontrar
respostas para problemas educativos. ( MARQUESIN 2012, p. 51).

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Mesmo sabendo da importância que a formação continuada possui, os estudos
realizados por Mizukami (2006) e Giovanni (2010) apontaram não haver investimentos na
formação do formador, assim, verificamos que a mesma não tem sido o foco das
formações de professores gestadas palas Universidades, Secretarias de Educação
estaduais e municipais responsáveis pela formação dos professores. O maior
investimento tem apontado os professores da educação básica. Vejamos o que fala a
professora experiente sobre as formações:
Nas formações dos experientes, ficava cada dia mais evidente que
minha função maior estava em organizar, pensar no ensino enquanto as
metodologias, pensar na aprendizagem de uma forma mais ampla
(métodos de ensino) para que os professores pudessem adaptar seu
trabalho as discussões propostas, pensar na formação continuada
centrada na escola, pensar ...pensar e pensar em uma totalidade
partindo do princípio de que os professores e professoras já conhecem e
dominam o oficio de ensinar. (Caderno de campo- registro da fala da
Professora Experiente A, out 2015.)

Diante desta fala questionamos como os formadores têm conseguido conduzir os


processos formativos no interior das escolas, onde buscam subsídios para auxiliar suas
práticas, quem forma o formador?
Para Mizukami (2006) são vários os saberes que o formador precisa ter para atuar
com seus pares e afirma que:

Se os professores estão ocupando posição central nas reformas


educacionais[...], os formadores de professores seriam, por decorrência,
os pilares de novas reformas educacionais. Novas tarefas são propostas
e novos desempenhos são exigidos dos formadores. (MIZUKAMI, 2006,
p.7).

Sabemos que pensar a formação do formador não se constitui em tarefa simples


pois são muitas as exigências, tem-se requerido desde o conhecimento especifico à
docência a conhecimentos gerais sobre a problemática educacional. Tais desafios podem
implicar na ausência do formador no centro das propostas de formação que de acordo
com André et.al.(2012) acontece porque

[...] vivemos momentos de crise, de legitimação e de interesses políticos


sobre formação de professores Brasil, os quais perpassam desde o
espaço de formação a compreensão do que é formar, constituir-se
professor, até as implicações ideológicas, legais e politicas existentes no
contexto da escolarização brasileira. (ANDRÉ, et.al. 2012, p. 519).

Desse modo, o professor formador precisa constituir professor ao longo de sua


vida, associando as experiências sociais às formativas formando um conjunto de saberes
que auxiliarão no desenvolvimento profissional dos seus pares. Para a professora
experiente

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As necessidades formativas se revelam quando nos deparamos com os
desafios e as angústias do fazer, enquanto experiente. Nos inquieta
muito o silêncio do iniciante e os seus temores em revelar suas
necessidades e dúvidas peculiares ao fazer pedagógico. Muito
claramente percebemos que tais dúvidas vão desde o gerir a sala de
aula, com todos os desafios que lhe são peculiares, aplicabilidade, até a
elaboração dos pareceres descritivos de avaliação. (Caderno de campo-
registro da fala da Professora Experiente B, out 2015.)

Para Mizukami (2006) há alguns aspectos que precisam ser considerados na


formação do formador. De acordo com autora todo formador precisa apresentar uma
base de conhecimento sólida e flexível que possibilita ao professor aprender a ensinar de
diferentes formas para diferentes contextos e clientelas. É necessário que o formador
conheça diferentes estratégias formativas, pois irá lidar com grupo de professores que
aprende de forma diferenciada. O formador precisa conhecer diferentes metodologias,
saber ouvir, intervir no momento certo para que outro continue desenvolvendo
profissionalmente.
E por último o formador precisa construir comunidade de aprendizagem nas escolas e
universidades, buscando estabelecer diálogos entre elas. Traçando um plano de ação
que prevê estudos e discussões dos conflitos que o grupo possui superando-os e
questionando seus fazeres permanentemente. Esta prática com as comunidades de
aprendizagem vai requerer dos professores que observem, façam registros escritos,
organizem suas ideias, revisem e analisem suas práticas.

Mizukami, (2006, p.12) afirma que “ essas comunidades não são facilmente ou
rapidamente formadas, exigindo tempo para que as pessoas construam, juntas, uma
história, na qual a discussão pública se dê pelos membros ao recontarem as narrativas
constitutivas do grupo. ”

Assim, ser formador é um desafio para os professores experientes que atuam nas
escolas onde o projeto: Egressos da Licenciatura em Pedagogia e os desafios da prática
em narrativas: a Universidade e as escolas em um processo interdisciplinar de inserção
do professor iniciante na carreira docente, tem procurado instaurar uma proposta de
formação para o formador, reconhecendo o mesmo como apoio e auxílio ao professor
iniciante, uma vez que servirá de âncora para atender as necessidades do professor
iniciante.

De acordo com as pesquisas sobre professor iniciante Marcelo Garcia (2006),


André (2012) apontam a necessidade de darmos maior atenção para esta fase da
carreira, pois é nela que define a permanência ou abandono da profissão. De acordo com
este pensamento Calil (2012) afirma que:

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É preciso considerar que o professor iniciante se depara com um cenário
bastante complexo quando chega à uma escola, precisa atingir objetivos,
lidar com uma diversidade de alunos, com sentimentos e emoções, ter
um bom discurso didático, dominar os conteúdos disciplinares e saber
como transformá-los em pedagógicos de modo a atender às
necessidades dos alunos, ter bom manejo de sala de aula, adaptar-se ao
clima e à cultura da escola.( CALIL, 2012, p.32 )

O projeto que acompanho na pesquisa e que apresento dados neste texto,


preocupa-se com a necessidade não só de acolher, mas de acompanhar o professor em
início de carreira. Desenvolve-se em seis escolas públicas com o acompanhamento a 24
professores iniciantes contando com o trabalho de seis professores experientes
entendidos neste texto como Formador. Tais coordenadoras, professores experientes são
sujeitos desta pesquisa, e as nomeamos de experiente A, B e assim sucessivamente.
Tais professores- então denominados como experientes no projeto, exercem a função de
formador do formador e estão em formação para compreenderem melhor o “como fazer”
a assessoria, a orientação que acontece sempre de forma imprevista.

Esta função, geralmente é exercida por um professor com mais tempo de


magistério- na maioria, o coordenador pedagógico da escola, profissional responsável
pelo atendimento ao novo profissional. O que tem acontecido, via de regra, como queixa
dos iniciantes é que: “os coordenadores nos tratam como professores experientes, nos
recebem, indicam a sala em que iremos trabalhar, o ano que cursam os alunos e pronto!
Saímos desnorteadas, sem saber o que fazer! ” Desabafo de uma iniciante da escola do
projeto). Quando tal fato foi passado em reunião para todos os experientes do projeto
(coordenadores de escola pública) estes ficaram chocados e disseram o quanto foi
importante entrar no OBEDUC para terem ciência das condições que chegam os
iniciantes e refletirem sobre a postura de quem os recebem.

Vejamos o que fala uma professora experiente sobre atendimento ao professor


iniciante assim que escola começou a participar do projeto:

Durante uma semana nossas conversas giraram em torno de


professores iniciantes e o “estrago” que deveríamos ter provocado em
nossos iniciantes devido aos nossos não saberes, a cada descoberta
sentíamo-nos envergonhadas de nunca termos nos atentados por coisas
que para nós eram tão obvias como experientes que era parte dos
fazeres do professor como organizar uma sala, planejar aulas,
conteúdos. Passamos a refletir e a listar nossas falhas até então
praticadas com nossos iniciantes e foi ficando extensa, pois nós até
ajudávamos os professores, mas por instinto, obrigações do papel de
coordenador e não por ter conhecimento da especificidade do professor
iniciante de suas dificuldades. ” (Caderno de campo- registro da fala da
Professora Experiente A, out 2015.)
Considerando a ausência de políticas de formação para os formadores tem-se
pensado e desenhado de acordo com autores como Marcelo Garcia (1995), Uchoa

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(2011), Ureta (2009), Celis (2013), Kaechele et.al. (22013), Mizukami; Tancredi e Reali
(2012) o perfil do professor experiente apontando a necessidade de se ter uma proposta
de formação para eles no sentido de ajudá-los no seu desenvolvimento profissional.
Para Kaechele et.al. (2013)
O desenvolvimento profissional refere-se a um olhar multidimensional e
dinâmico que incorpora aspectos pessoais e experiências
biográficas/educacionais, fatores ambientais e contextuais da carreira
exercida e questões amplas, como as fases da aprendizagem ao longo
da vida. (KAECHELE,2013, p.62).

O professor experiente/mentor está sendo entendido neste estudo como o


profissional que conhece a respeito de sua profissão, mobiliza diferentes saberes para
atender as necessidades que surgem no seu dia a dia. Consegue refletir sobre sua
prática e é capaz de problematizar o contexto que atua. Assim, pode-se dizer que está
em pleno desenvolvimento profissional. Observamos o que diz as professoras
experientes a respeito de seus fazeres no interior da escola:

Acredito que estar no programa está sendo muito bom, pois minhas
ações em relação aos professores iniciantes agora estão sempre
prescindidas de perguntas: Será que ela precisa de ajuda? Será que ela
esta compreendendo mesmo? Como essas informações que foram
dadas no grupo chegaram até ela?” .” (Caderno de campo- registro da
fala da Professora Experiente A, out 2015.)
Tarefa árdua que no fazer estamos construindo, com muitos encontros
de estudo no OBEDUC e muitas leituras, ante aos desafios e
necessidades de intervenção com os quais nos deparamos ao ensinar,
acompanhar e motivar o professor iniciante. ” (Caderno de campo-
registro da fala da Professora Experiente B, out 2015.)

De acordo com Marcelo (2006) o professor mentor é aquele que acompanha, que
conhece o professor iniciante pessoal e profissionalmente, capaz de criar um ambiente
aberto de apoio e desafios, gestar e coordenar o programa de acompanhamento da
escola, preparar informações para os professores iniciantes nas seguintes áreas: filosofia
e missão da escola, rotinas, administração e procedimentos, características dos alunos,
recursos, pessoal de apoio, atividades extracurriculares, contatos com os pais. Todas
estas ações precisam ser registradas de modo apresentar a evolução do mesmo. De
acordo com a professora experiente isto não acontecia antes de sua entrada no projeto:

Não poderei deixar de registrar aqui um momento que hoje considero


que foi um “massacre de professores”, ou seja, provoquei é lógico, por
falta de conhecimento o assassinato de profissionais em início de
carreira e totalmente indefesos diante dos conhecimentos da profissão. E
eu, desconhecia tudo isso nas solicitações que fazia eles e nas
atividades que lhes solicitava. (Caderno de campo- registro da fala da
Professora Experiente A, out 2015.)

De acordo com Kaechele et.al. (2013) o professor experiente possui


características extrínsecas e intrínsecas que o define como sujeito motivado, que reflete

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sobre seu processo de desenvolvimento, se reconhece na docência e na educação,
possui perspectiva positiva sobre seu desempenho, apresenta motivação interna para
melhorar seu trabalho, tem flexibilidade para superar as dificuldades.

Conforme Ureta (2009) o professor experiente é um docente experimentado é um


assessor interno e externo com perfil profissional diferente do professor iniciante. Ele
possui competência cognitiva, competência funcional e competência ética que são
mobilizadas constantemente na realização do seu trabalho. Então, é possível dizer que é
capaz de acolher e apoiar o professor iniciante que chega a escola com toda insegurança
que inserção na carreira lhe apresenta.

De acordo com Marcelo (2006), Ureta (2009), Celis (2013) acolher e acompanhar
o professor iniciante é condição essencial para ajudá-lo no seu crescimento profissional.
É um momento de aprendizagem mútua onde o objeto de discussão é a prática
estabelecida em uma situação real, concreta que vai ser teorizada, estudada para
apontamentos de possíveis ações que irá modificá-la.
O trabalho do professor experiente que se coloca como mediador entre a
realidade concreta da escola e o professor iniciante vai permitir que o segundo se
desenvolva profissionalmente, superando os desafios em relação os diversos aspectos
da prática pedagógica, que conforme Avalos (2009) são oriundos da triangulação entre
aspectos pessoais que envolve a formação inicial e expectativas que possui sobre o seu
trabalho, outros relacionados ao contexto micro escolar que refere a cultura interna da
escola, tarefas a serem desenvolvidas, organização do tempo e do espaço e, ainda, os
aspectos referentes ao contexto macro que envolve as relações estabelecidas com as
políticas educacionais amplas, os impactos de suas decisões, relacionamentos com
agentes externos e com as famílias.

Desta forma, o nosso desafio é contribuir para que o professor iniciante,


se fortaleça e permaneça na carreira, e que a partir disso, compreenda
que a formação inicial, após sua inserção profissional, se constitui em
um dos espaços formativos. Assim, as respostas às suas necessidades
no desenvolvimento do seu trabalho, serão construídas na ação docente
e no dia a dia da sala de aula, espaço fértil e propício para a
aprendizagem profissional da docência. (Caderno de campo- registro da
fala da Professora Experiente B, out 2015.)

O trabalho que o professor experiente desenvolve junto ao iniciante, pode ser


considerado como acompanhamento e/ou de mentoria. A esse respeito, alguns grupos de
pesquisadores conceituam o trabalho de acompanhamento como mentoria, como é caso
do grupo de pesquisa de Carlos Marcelo (Sevilha), Ureta (2009), Celis (2013) e Kaechele
et.al.(2013) estes últimos, pesquisadores da Universidade de Santiago de Compostela/
Chile, também concebem o acompanhamento ao professor iniciante como mentoria.

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Buscando a contribuição do pesquisador português Ochoa (2011) tem-se a
mentoria como um processo de:

[..] interação estabelecida entre uma pessoa com mais experiência em


um campo (mentor) e outra com menor ou nenhuma experiência
(mentorizado) com o propósito de favorecer e desenvolver suas
competências e socialização aumentando progressivamente suas
possibilidades de êxito na atividade a desempenhar. (OCHOA, 2011,
p.237).

Já na UFSCAR, pesquisadoras como Mizukami, Reali e Tancredi (2012),


concebem a mentoria como sendo uma forma de ajudar o professor iniciante a se
envolver com seu próprio aprimoramento e a se sentir mais confortável na profissão,
assim, são processos comuns interativos que envolvem partilhas, reflexões e consensos
para tomada de decisões.

Corroborando com a ideia das autoras a pesquisadora Chilena Ureta (2009)


afirma ser a mentoria:

a relação estabelecida entre uma pessoa com maior experiência num


campo (mentor) e outra com menor ou nenhuma experiência com
objetivo de facilitar o desenvolvimento de suas competências,
incrementado assim as possibilidades de êxito no desempenho de suas
atividades.(URETA,2009, p.11).

Assim, na presente pesquisa, mentoria e acompanhamento se assemelham em


um processo mútuo de ensinar e aprender, no qual professores iniciantes se entrelaçam
aos professores experientes no processo aprender a ser professor, aprender a ser
formador do formador, que se dá em múltiplas interações, podendo-se afirmar que o
experiente também aprende e rememora sua fase inicial de carreira ressignificando-a.
Pode-se afirmar, então, que nessa relação, aprendizagens sobre como aprender a ser e a
proceder se imbricam.

Neste contexto verifica-se a necessidade de formação continuada a estes


professores formadores com objetivo de ajuda-los a refletir sobre seu trabalho de
acompanhamento/mentoria ao professor iniciante.

Pensar a formação de professores experientes, ou seja, a formação do formador é


desafiador porque vai requer conhecer sobre o professor experientes e suas
necessidades formativas. As propostas de formação das secretarias de educação, do
MEC têm sofrido muitas críticas porque são pensadas por pessoas que estão fora do
contexto onde serão desenvolvidas.

Quando verificamos as competências e habilidades que o professor


experiente/mentor deverá ter para acolher, apoiar e contribuir com a formação do

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professor iniciante, assessorando-o em seu desenvolvimento profissional percebemos
que suas necessidades formativas vão além das contempladas pelos órgãos oficiais. De
acordo com professora experiente realizar este trabalho “vai requerer formação teórica,
ter atitudes diferentes para conseguir atender o iniciante, precisa haver trocas de
experiências entre as escolas envolvidas no projeto”. (Caderno de campo- registro da fala
da Professora Experiente A, out 2015.)

Conforme Ureta (2009) o professor experiente/mentor deverá oferecer informação


e apoio no período de transição da formação inicial ao trabalho. Servir de alternativa real
e próxima as necessidades dos professores iniciantes. Proporcionar orientações,
assessoramento e apoio centrado no desenvolvimento das competências básicas
profissionais. Ajudar e facilitar o desenvolvimento social e pessoal, contribuindo para
melhorar autoestima. No entanto, na maioria das vezes isso não acontece no interior das
escolas, vejamos o que nos fala uma professora experiente que hoje reconhece a
importância de uma formação especifica para o atendimento ao iniciante.

Mas tenho vindo durante a minha trajetória profissional tentando acertar,


tentando destinar um olhar mais humano para os educadores no início
de sua carreira, mas isso não se dá por conta de uma formação
específica isso é resultado de uma aprendizagem que vem das
experiências e, mais recente das formações oferecidas pelo OBEDUC
que tem me ajudado a repensar o professor em início de carreira.
(Caderno de campo- registro da fala da Professora Experiente A, out
2015.)
Mizukami (2010, p.130) afirma que o professor formador precisa despertar no
outro/ professor iniciante: “[...] o interesse pela formação profissional, em ajuda-lo não só
a perceber-se professor, como também a conscientizar-se de que a docência requer
postura éticas e profissionais, [...]. ”

Percebe-se então que formação para atender a esta demanda precisa ir além dos
saberes das disciplinas, precisará conhecer os fundamentos sociológicos, psicológicos,
filosóficos de sua profissão. É urgente investir em uma formação pensada a partir dos
contextos reais, das necessidades formativas apresentadas pelo grupo de formadores.

Por fim, é urgente pensar uma formação que venha subsidiar o professor
experiente/mentor no seu desenvolvimento profissional para que o mesmo sinta-se
sujeito no processo de construção de suas identidades contribuindo de forma significativa
com a aprendizagem da docência pelo professor iniciante.

Algumas palavras finais

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Os estudos realizados a partir dos autores apontaram aspectos importantes sobre
a formação do formador que ainda se constitui um desafio para Brasil. Percebe- se que
formação do formador não é o foco das políticas de atendimento aos professores. O
atendimento ao professor responsável pela formação dos seus pares se dá em diversas
instituições no mesmo espaço dos demais. As propostas de formação continuada a este
profissional deverão ser pensadas a partir de suas necessidades formativas atendendo
as diferentes dimensões da prática a ser orientada e acompanhada na escola onde atua.

Não há política de valorização para os formadores, uma vez que não há


valorização profissional e salarial à esta importante função. O professor
experiente/mentor precisa ter uma política de formação que subsidie seu trabalho junto
ao professor iniciante, pela importância da atividade que desempenha na
construção/formação do novo profissional do magistério. Sabe-se que há alguns
municípios e estados com propostas de formação ao professor iniciante, mas
desconhecemos que estas mesmas redes de ensino ofereçam tal formação ao formador
dos formadores.

A participação destes Formadores no projeto UFMT/OBEDUC já tem apontando


resultados interessantes, ao provocá-los a refletirem sobre sua atuação junto aos
professores iniciantes que chegam na escola via concurso ou contratos. Depois que
entraram no projeto, tem voltado um olhar mais humano e cuidadoso como expressam as
falas das professoras experientes. Fica o questionamento: nas escolas onde não há os
estudos e a abrangência de um projeto desta natureza, como está ocorrendo o
acolhimento dos professores iniciantes?

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