Profissao Docente o Que e Ser Professor PDF
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Resumo
Ser profissional do ensino, na sociedade contemporânea, não é tarefa fácil visto que existem
muitos fatores que influenciam no exercício profissional docente, desde sua formação até
constituição profissional. O texto revela algumas discussões realizadas a partir da primeira
etapa de uma investigação de mestrado, tal etapa teve como intenção identificar o que é ser
professor e as concepções que os sujeitos pesquisados possuem sobre a profissão docente no
intuito de colaborar para o objetivo geral da dissertação que consistiu em: desvelar o ser e o
manter-se professor. A pesquisa é de abordagem qualitativa e contou com a participação de
professores da rede estadual de ensino do Paraná, os quais fazem parte do Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE) de formação continuada docente. Para a dissertação, os
dados foram coletados em duas fases, a primeira composta por questionário (N=160) e a
segunda por entrevistas semiestruturadas (N=6), entretanto, este artigo aborda os resultados
originados apenas com o questionário representando a primeira fase da pesquisa mencionada.
Como apoio para a análise das informações da pesquisa foram utilizados os softwares EVOC
e SIMI e a metodologia da análise textual discursiva. Como resultados, foram encontradas
três evocações (comprometimento, dedicação e formação) e três categorias representativas do
ser professor para os docentes da pesquisa: I - Professor: profissional da transformação, II -
Professor: profissional do conhecimento e III - Professor: profissional da incerteza.
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Mestre em Educação e doutoranda em Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). E-mail:
[email protected]
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Doutora em Ensino de Ciências e Educação Matemática (UEL). Professora do Departamento de Matemática e
Estatística e do Programa de Pós-Graduação em Educação da UEPG. E-mail: [email protected]
ISSN 2176-1396
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viver na sociedade das mudanças e incertezas, e para ser capaz de enfrentar desafios. Além
disso, ao professor é almejado que ele contribua para uma melhora qualitativa da sociedade, o
que só se faz quando há o “compromisso político-social na docência” para a formação cidadã
dos sujeitos.
Roldão (2007, p.94) aborda que a função docente se caracteriza pela ação de ensinar
sendo que o conceito de ensinar não é definido de modo simples e fácil, pois há diferença
entre “professar um saber” e fazer os outros aprenderem alguma coisa.
De acordo com Marcelo (2009), a profissão docente é uma “profissão do
conhecimento”, sendo que são o conhecimento e o saber que legitimam tal profissão. O
trabalho docente é baseado no “compromisso em transformar esse conhecimento em
aprendizagens relevantes para os alunos” (p.8). Nessa perspectiva, o professor é um
profissional que trabalha com o conhecimento, e, para tanto, necessita ter compromisso com a
aprendizagem discente.
Para Marcelo (2009), nos dias de hoje, ser professor se configura em compreender que
tanto os alunos como o conhecimento transformam-se muito rapidamente, mais do que o que
estávamos habituados, e para continuar respondendo adequadamente ao direito discente de
aprender é preciso que os professores se esforcem também para continuar aprendendo. Dito
de outro modo, não é só a tarefa de ensinar aos alunos, de fazê-los aprender, mas também é
necessário o esforço do professor para continuar aprendendo para poder ensinar.
Ao abordar a intencionalidade do ensino como especificidade da docência, Tozetto
(2010, p.13) enfatiza que o professor necessita desenvolver competências de um intelectual
crítico, pois é indispensável “uma ação docente que contemple o ato de educar em sua
amplitude e complexidade. O profissional crítico faz escolhas subsidiado no conhecimento
científico, constrói seu conhecimento considerando a diversidade social, cultural, econômica,
humana”. Logo, o ato de ensinar é complexo e constituir-se um profissional docente crítico
requer uma formação voltada para tal.
Em Marcelo (2009) há um diferencial entre ser professor e ser professor e ensinar com
eficiência ao longo de sua carreira. Assim, conclui-se que para ser professor não é suficiente
que se tenha o conhecimento, mas é preciso saber ensinar. Este saber ensinar, em nossa
compreensão, só se atinge com um processo permanente de formação de professores
(IMBERNÓN, 2011), o que colabora para o processo de desenvolvimento profissional
docente.
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Com isso, tem-se a ideia de que ser um profissional do ensino não é simples, pois é
necessário considerar a intencionalidade da atividade docente, mas também não podemos
esquecer que ser professor é se relacionar, é estar imerso nas relações interpessoais, e se fazer
delas para efetivar sua função.
No estudo de Carvalho (1999) a docência se define como atividade extremamente
relacional, a autora verificou que o forte envolvimento afetivo dos professores com seus
alunos e a sua preocupação com a aprendizagem dos mesmos é fator de desgaste, mas
também é fator de realização, prazer e gratificação; além de serem sentimentos que colaboram
para a permanência dos professores na profissão constituindo em partes o seu significado
existencial.
No mesmo sentido, Marinho-Araújo e Almeida (2008) concluíram que a profissão
docente caracteriza a dualidade entre saber e afeto, pois o professor está sempre envolvido
com pessoas, vivenciando relações interpessoais complexas e, ao mesmo tempo, possui um
acesso ao saber que tem função estruturante na constituição do sujeito, mas que também não
garante a segurança do seu “todo profissional”. Isto porque ter domínio de conteúdos não é o
suficiente para que o professor possa realizar sua função.
Para Baccon (2011) a docência não é uma atividade que gera produtos imediatos e
materiais. Trata-se de um trabalho que demanda investimento energético afetivo por parte do
professor que, ao ensinar, deixa marcas no aluno e modifica a si mesmo. Desse modo,
refletimos que a profissão docente não pode ser analisada como mecânica e sem sentido,
porque nela estão envolvidos sentimentos, relações, saberes de diferentes ordens, o individual
e ao mesmo tempo o coletivo.
Ens e Donato (2011, p.83) definem que a “atividade de ensinar realiza-se a partir de
conhecimentos específicos e necessários [...] os quais são adquiridos, construídos na formação
inicial e na formação que acontece durante toda a vida profissional”. Portanto, para ensinar é
necessário que se tenha formação específica que considere o processo de ensino e
aprendizagem.
A docência considerada como profissão é sustentada pelo processo de
profissionalização, o qual atinge uma dimensão social e não apenas individual (IMBERNÓN,
2011) e que, a nosso ver, deve ser intrínseca à formação do professor.
Imbernón (2011) conceitua a formação de docentes como um processo que necessita
objetivar o desenvolvimento da capacidade de reflexão em grupo, não somente como
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treinamento para atuação técnica, mas visando à formação para se aprender a conviver com
mudanças e incertezas da sociedade contemporânea.
A noção de formação docente se relaciona intimamente com o conceito de
aprendizagem permanente, considerando sempre os saberes docentes como resultantes de um
processo de formação dentro e fora da escola, ou seja, profissional e pessoal (NÓVOA, 1995;
IMBERNÓN, 2011). Sobre isso, segundo Marcelo (2009), o maior desafio da formação de
docentes consiste em fazer com que o professor continue aprendendo ao longo de sua carreira,
fazendo-o compreender que é preciso engajar na formação.
Uma formação sólida necessita “dotar o professor de instrumentos intelectuais que
sejam úteis ao conhecimento e à interpretação das situações complexas em que se situa” e
também deveria envolver os docentes em atividades de formação comunitária a fim de
conferir à educação escolar dimensão entre a realidade social em que estão inseridos os alunos
e o saber intelectual, mantendo uma estreita relação entre realidade e saber (IMBERNÓN,
2011, p.42).
Nessa perspectiva, formar docentes não é “atualizar” os conteúdos da disciplina que
leciona ou os métodos de ensino, mas está além disso, e é preciso, antes de tudo, que o
professor se envolva com a sua formação compreendendo que é necessário manter uma
relação mútua entre as experiências anteriores e as experiências do processo formativo.
Concordamos com Nóvoa (1995, p.25), quando explica que “estar em formação
implica um investimento pessoal, um trabalho livre e criativo sobre os percursos e os projetos
próprios, com vista à construção de uma identidade, que é também uma identidade
profissional”. Segundo o autor, a formação se constrói por meio de uma reflexividade crítica
sobre as práticas e de construção permanente da identidade pessoal. Assim, estar em formação
implica um envolvimento da pessoa do professor, requer o desejo de formar-se.
É na formação que o docente consolida conhecimentos sobre a prática pedagógica e,
de acordo com Tozetto (2010), a prática pedagógica é aprendida por meio da inseparável
relação entre teoria e prática e não apenas com a teoria. Então, entendemos que o docente se
constitui a partir do momento em que se vivencia a relação dialética do processo de ensino e
de aprendizagem, entre a concretude da sala de aula e os estudos acadêmicos na universidade.
A formação do professor se baseia nas práticas educativas, intervenções e situações
oriundas do processo de ensino e aprendizagem concretizado em sala de aula (IMBERNÓN,
2011). Por esse motivo que é extremamente importante investir na pessoa do professor e
considerar as suas experiências e práticas. Para Nóvoa (1995, p.27), “As práticas de formação
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constroem sua identidade. Então, caso desejemos facilitar o desenvolvimento profissional dos
docentes, como esclarece Marcelo (2009), devemos conhecer como os professores crescem
profissionalmente e as condições que promovem o crescimento. Além de que, vale ressaltar
que esse desenvolvimento está intimamente relacionado à qualidade da aprendizagem
discente.
Diante do exposto, este artigo apresenta a primeira parte dos resultados de uma
dissertação de mestrado em que os esforços foram concentrados em identificar as concepções
da profissão docente que os participantes da investigação possuem corroborando assim para a
compreensão do que é ser professor e das motivações que contribuem para a sua permanência
na profissão.
As evocações
A Tabela 2 revela uma lista com as palavras que foram evocadas pelos professores e a
frequência atingida. Nosso foco de análise está nas três palavras de maior frequência, são elas:
comprometimento (f=90), dedicação (f=76) e formação (f=51); e também nas justificativas
escritas por eles para a palavra que escolheram atribuir o primeiro lugar.
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Os programas EVOC e SIMI são muito utilizados no âmbito das pesquisas que tem como referencial teórico-
metodológico a Teoria das Representações Sociais, entretanto, utilizamos os programas sem fazer o uso do
referencial mencionado.
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Complementando a tabela das evocações (Tabela 2) também foi elaborada, por meio
do software SIMI, a árvore máxima de similitude (Figura 1) que nos proporciona a
compreensão de como se dá a organização das palavras que constituem a concepção dos
docentes sobre a sua profissão considerando-se as coocorrências entre elas.
Figura 1 – Árvore máxima de similitude das evocações sobre a profissão docente
Fonte: As autoras.
É uma profissão onde formamos seres humanos, somos formadores de opinião, daí
a nossa responsabilidade. (P20)
Devido às dificuldades que enfrentamos atualmente no nosso dia a dia eu creio que
a dedicação à nossa profissão faz grande diferença. (P67)
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Categorias: I - “Professor: profissional da transformação” (45,56%), II - “Professor: profissional do
conhecimento” (25,94%) e III - “Professor: profissional da incerteza” (21,51%). Não foi possível enquadrar em
alguma das categorias mencionadas os 6,96% restantes das respostas.
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Averiguamos com esta categoria que os docentes do PDE atribuem muita expectativa
e responsabilidade no professor quando ressaltam que a profissão docente é responsável pela
transformação da sociedade, revelando a compreensão da complexidade que envolve o ser
professor e seu papel nas instituições educativas. Inferimos com isso que estes professores se
envolvem no projeto maior de Educação, destacando assim um desejo de mudança e
depositando-se expectativas altas no papel dos professores.
Observamos que os próprios docentes apresentam um olhar ideal de sua profissão, o
que é imprescindível considerar quando se pensa o ser professor a partir das concepções
apresentadas por eles mesmos, visto que ser docente envolve condições profissionais e
relações de trabalho, assumindo características não generalizáveis e contextuais (FONTANA,
2010).
Ainda inferimos com essa categoria que ser professor está além de uma atividade
profissional, tem um significado existencial, que faz parte da constituição do sujeito e que nos
permitiu interpretar a possibilidade de transformação social como fator que mantém estes
docentes na profissão.
A categoria II “Professor: profissional do conhecimento” destaca que ser professor é
estar envolvido com o processo de ensino e aprendizagem, é trabalhar com o conhecimento
colaborando para a sua construção e é também aprender quando se ensina, é formar-se
enquanto professor. Observamos isso nas seguintes explicações para o que é ser professor:
É alguém que se propõe a ensinar e que também amplia os seus conhecimentos nas
relações que estabelece com seus alunos. (P46)
Estar pronto para enfrentar as várias situações cotidianas, pois trabalhamos com
pessoas de várias idades diferentes, classes sociais e econômicas. (P34)
Hoje é muito amplo ser professor, temos muitas funções na escola, como psicólogo,
médico, mãe, pai etc. (P56)
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Considerações Finais
Observamos ainda que as concepções dos docentes para o que é ser professor
permitiram a constatação de que ser professor é mais do que uma profissão para estes
docentes, assumindo significado especial para cada um. Envolve também a ideia de um
projeto maior que é o de transformar a sociedade por meio do seu trabalho.
Em suma, concluímos que ser professor passa também pelas relações interpessoais, as
quais são importantes que o docente saiba manejar e sustentar como um ponto favorável à sua
função de ensinar. Desse modo, constatamos que ser professor ultrapassa o processo de
ensino e aprendizagem, os docentes têm outras preocupações e necessitam dar conta de
situações que transcendem a sala de aula.
Concordamos com Fontana (2010) quando ela atenta que o ser professor não é
generalizável para todos os docentes, pois para esta definição há que se considerar as
condições profissionais do professor, as suas relações de trabalho e também suas
particularidades sendo dependente das vivências do docente. Pudemos verificar isto nesta
pesquisa, pois realizamos inferências sobre as representações dos professores que
participaram do estudo com base nas informações coletadas com os instrumentos de coleta de
dados e por meio da análise textual discursiva, sendo possível assim produzir um sentido para
aquilo que tínhamos como material empírico.
É importante conhecer o que os professores representam sobre a própria profissão e o
que discursam, pois, a partir disso, somos capazes de pensar a docência de modo que a mesma
volte-se para a realidade. A respeito disso, retomamos Imbernón (2011, p.52) quando ele
destaca: “Não devemos esquecer, porém, que a formação do profissional de educação está
diretamente relacionada ao enfoque ou à perspectiva que se tem sobre suas funções”.
Vivemos no mundo das incertezas e precisamos de uma formação de professores que
foque na realidade, que ensine o professor a trabalhar com essas incertezas, que mostre que é
possível fazer isso.
REFERÊNCIAS
BACCON, A. L. P. Um ensino para chamar de seu: uma questão de estilo. 169f. Tese
(Doutorado em Ensino de Ciências e Educação Matemática) – Universidade Estadual de
Londrina, Londrina, 2011.
MORAES, R.; GALIAZZI, M. do C. Análise textual discursiva. 2. ed. Ijuí: Unijuí, 2011.
SÁ, C. P. de. Sobre o núcleo central das representações sociais. Petrópolis: Vozes, 1996.
TOZETTO, S. S. Trabalho docente e suas relações com o saber. In: ______. Trabalho
docente: saberes e práticas. Curitiba: CRV, 2010. p.21-51.