Resenha - Maryeva Marinho - SALVATERRA

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Universidade do Estado do Pará

Campus XIX – Salvaterra


Centro de Ciências Sociais e Educação – CCSE
Licenciatura em História
Disciplina: História Medieval
Docente: Renato Gimenes
Discente: Maryeva Lopes Marinho
Data: 21/05/2021

BARROS, José D'Assunção. Heresias na idade média: considerações sobre as


fontes e discussão historiográfica. Revista Brasileira de História das Religiões.
Anpuh, Ano II, n. 6, Fev. 2010.

A igreja católica iniciou a idade média com destaque, pois o antigo império
romano havia se convertido ao cristianismo através do Édiot de Tessalônica de 380
d.C, assinado pelo imperador Teosósio. Por mais que o império romano tenha
declinado em 476 d.C., a igreja se manteve, entrando na nova era.
A igreja passou a adquirir mais poder no século VIII, quando o rei Carolingio
Pepino, o breve concedeu parte do território da Europa Central e do Norte em troca
de apoio na guerra cibtra os lombardos.
A Igreja se tornou a mais poderosa instituição feudal, foi acumulando bens
móveis e imóveis por meio de doações feitas por ricos aristocratas que se
convertiam, por alguns imperadores e também através da cobrança de impostos ou
na “venda da salvação”. Ao longo da idade média surgiram as “heresias” e no artigo
de José D’Assunção Barros fala sobre o que foram as heresias.
O artigo busca fazer uma visão mais ampla sobre as heresias, apresentando
fontes e discussões históricas. O autor inicia fazendo uma discussão sobre o
conceito de "heresias" e como ela se desenvolveu ao longo da idade média
apresentando fontes medievais relacionadas às heresias e sua repressão sob o
amparo da igreja cristã do ocidente.
Segundo Barros (2010), a noção de “heresia” tendeu a se referir em meados
do século XII principalmente a um desvio ou rompimento em relação à Igreja
enquanto instituição concretamente estabelecida, ao seu projeto universal, à sua
legitimidade como único guia da religiosidade na Cristandade Ocidental.
O artigo apresenta, de maneira geral que as heresias foram pensamentos,
opiniões e movimentos fundados por seguidores ou não do cristianismo, que
estavam desgastados e questionavam o que era pregado pela igreja e procuraram
fundar novas doutrinas. Estes movimentos acabaram ocasionando um conflito
indesejado e que tornou conturbada a história daqueles que seguiriam outros
caminhos que não fossem delineados pelos poderes da igreja cristã, como o próprio
autor destaca:

Desde já, será preciso pontuar que – seja no âmbito das heresias do mundo
antigo e da Alta Idade Média, ainda marcadas por serem essencialmente
divergências de nível teológico, seja no âmbito das heresias que surgem na
Idade Média Central e posteriormente na baixa Idade Média, estas últimas por
vezes já prenunciando a Reforma Protestante do século XVI, a verdade é que
em todos estes casos “hereges” e “ortodoxos” – conforme sejam chamados
de acordo com o jogo dos poderes de nomear – sempre acreditaram tanto
uns como outros serem os verdadeiros defensores da verdade da fé

 A Igreja via nos movimentos heréticos grande ameaça, pois parte deles
possuía potencial de causar a desobediência civil contra a hierarquia da época.
Assim, a Igreja optou por instituir, a partir do papa Gregório IX, o Tribunal da Santa
Inquisição, em 1229. A Igreja estendeu essa tarefa de combate às heresias ao braço
secular (que não está sujeito a uma ordem religiosa), permitindo e justificando o uso
da violência contra os hereges. Apesar disso, o primeiro relato de herege morto a
mando da Igreja remonta ao século IV, quando Prisciliano foi decapitado em 385 d.
C.
Martinho Lutero foi um grande questionador das doutrinas da igreja cristã na
idade média, a partir de suas leituras na bíblia, Lutero percebeu que tinha algo
errado com o que a igreja pregava e então escreveu suas 95 teses na tentativa de
conseguir uma reforma nas doutrinas da igreja cristã, que por sua vez começou uma
perseguição a Lutero, esse movimento ficou conhecido como "Reforma Protestante".
O crescimento das heresias, principalmente a partir do século XII, foi uma
demonstração da insatisfação popular com o acúmulo de poder da Igreja e, além
disso, antecipou os movimentos da Reforma Protestante
Barros (2010) ainda cita um texto muito importante de Santo Agostinho, onde
foram elaboradas 88 heresias, transmitindo essa listagem para períodos mais
avançados da idade média. O autor mostra que as heresias podem ter sido o
movimento que fez com que a igreja repensasse e reparasse seus erros. Durante
toda a abordagem sobre as heresias, Barros (2010) mostra como o conceito de
"heresia" foi se modificando durante a idade média, como é afirmado no trecho:

Podemos perceber aqui como mudara a conceituação de “heresia” desde a


Antigüidade, deixando de se referir a desvios relacionados a sutis questões
teológicas, para passar a abarcar simultaneamente tanto aqueles casos das
dissidências doutrinárias que geravam novas práticas e representações
religiosas –entre os quais os cátaros representavam o modelo mais explosivo
– como os casos de pregação proibida ou não autorizada, a exemplo do
modelo valdense (BARROS, 2010, p. 7).

O autor mostra que no interior de uma sociedade largamente permeada pelos


parâmetros cristãos, surge a crítica herética, como denotativa das mutações
ocorridas no interior da igreja, que a transformaram num repositório de poder,
intervindo nas questões seculares e utilizando como justificativa a base de apoio e o
poder espiritual, como é falado no seguinte fragmento:

O outro filão herético seria aquele que realmente questionava os fundamentos


dogmáticos do cristianismo, tal como a Igreja oficial os entendia, e muitas
vezes expressaram novas formas de compreensão da religiosidade que, tal
como foi dito, logo conduziram a novas práticas religiosas que rejeitavam os
sacramentos impostos pela Igreja. Estariam mais próximos do antigo sentido
de heresia com a diferença de que eram na verdade muito mais radicais nas
suas proposições, que não se limitavam a pequenas questões teológicas
como ocorrera com as heresias da Antiguidade e da Alta Idade Média. Estas
eram, portanto, as duas vias heréticas que se apresentavam à cristandade
por volta da passagem do século XII ao século XIII. Embora bem
diferenciados, seria talvez possível identificar entre estes dois filões um traço
em comum: a recusa da idéia de que seriam necessários para a salvação da
alma a Igreja visível e o quadro oficial de sacerdotes da instituição
eclesiástica (BARROS, 2010, p. 8).

Mais à frente o autor faz uma discussão historiográfica e mostra que a obra
de Jacques Le Goff, Heresies et Societes pode ser considerado um dos textos mais
ricos com uma teórica e metodológica que colocou de maneira simultânea a
discussão dos principais conceitos envolvidos e as possibilidades de tratamentos
historiográficos a partir de diversas abordagens.
Pode-se dizer que a heresia não surge em consonância com princípios
mundanos, mas sim com uma busca espiritual. Ao falar das heresias segundo
historiadores e suas fontes, Barros (2010), mostra que houve um fortalecimento da
igreja cristã e diz que a ocorrência de comportamentos heréticos individuais não
exclui a ocorrência, naturalmente, de heresias coletivas, mesmo que sejam raras.
O autor mostra que os meios de produção da heresia eram de um nível de
cultura superior, intelectualizado e erudito. A definição teológica do herético
demandava que ele fosse detentor de cultura para que pudesse para produzir uma
escolha. Dessa forma a heresia ganhava existência com sua condenação e
repressão. Os meios onde a doutrina herética era difundida eram deformadores e
não produtores isso porque esses ambientes eram de "nível cultural" inferior, sujeitos
aos "instintos religiosos" e às "representações simples".
Portanto, o artigo mostra que as heresias foi um movimento muito importante
como deformação de uma doutrina produzida em um ambiente eclesiástico, na
diminuição da perseguição da igreja e na tomada de consciência dos cristãos da
idade média.

REFERÊNCIAS

BARROS, José D'Assunção. Heresias na idade média: considerações sobre as


fontes e discussão historiográfica. Revista Brasileira de História das Religiões.
Anpuh, Ano II, n. 6, Fev. 2010.

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