Uma Sensação de Pertencimento - CAP8
Uma Sensação de Pertencimento - CAP8
Uma Sensação de Pertencimento - CAP8
1. A sociedade da Igreja
O preocupante de tudo isso é que se tais de lideres eram tão razos em sua fé, o que
dizer dos mais simples e limitados de conhecimento como explicar tal envolvimento
fervoroso a reforma sem entendimento do que ela propriamente propôs?
Hoje podemos ver crentes mudando hora ou outra de igreja, e um dos argumentos
favoritos e centrais entre este público são suas experiências de louvor. Isso tanto de em um
sentido estético quanto em um sentido de aparência transcendental, ou na pior das hipóteses
por puro entretenimento destes “crentes”. Podemos citar como exemplos atuais igrejas que se
fundamentam ao redor de experiências e práticas ritualísticas sem sentido. (Ex. “benção de
Toronto e os sustentáculos de Kirk”).
Contudo isso não passa de uma percepção nas diferenças sociais de louvor, que são as
relações dos devotos entre si, no sentimento de lugar e de pertencimento conferido pela
participação em uma congregação; seja em distribuição de cargos ou na distribuição dos
melhores bancos da igreja.
O calvinismo holandês do século XVI teve seu inicio marcado por encontros ao ar
livre com o objetivo de purificar templos católicos, além de apreciarem a idéia de correrem
riscos como experiência religiosa, o que era visto com a desaprovação dos conservadores
locais.
Tanto católicos quanto protestantes tinham o mesmo público como alvo e estes por sua
vez demonstravam um zelo cada qual por sua religião.
Orzechowschi foi e voltou a ser católico várias vezes como lhe era oportuno, sem
alterar quase em nada de suas convicções, desenvolvendo seu trabalho clerical mais na base
da criação de um estilo – retórica ameaçadora- do que a adesão de um teologia radical.
Chegou a ser excomungado definitivamente pela igreja católica em 1550, as ainda era
ortodoxo em suas práticas católicas. Porém podia condenar tantos a nova doutrina luterana
que se embrenhava na Polônia como podia também criticar a corrupção romana, porém por
fim defendeu a adesão a igreja grega.
Orzechowschi não era apenas contraditório em suas idas e vindas em diferentes grupos
religiosos, mas também em questões doutrinárias sendo defensor e sem discriminação de
pontos que diferenciavam todos os principais grupos cristãos envolvidos na reforma polonesa,
como a predestinação e o livre-arbitrio, transubstanciação e consubstanciação a mediação e a
revelação. Tudo isso era secundário, o que lhe interessava eram as questões de poder e
autoridade.
Em sua fase protestante era um liberal na qual o rei era vocacionado por Deus para
servi-lo em seu governo, já em sua fase católica acreditava que o rei era instituído para servir
ao clero.
1
Thomas More orava por hereges “razoáveis” e “pacíficos”, mas constatou que “eles só se deleitavam
com os protestos”
A Polônia mesmo se revelando um campo fértil para o movimento de Contra-
Reforma, tinha em sua estrutura social e religiosa uma harmonia muito grande entre os
diferentes grupos de cristãos daquele país. Por conta de inúmeros conflitos sem fim criou-se
um acordo em bela harmonia o Concors Discordia que durou por dois séculos.
Tal paz e harmonia duraram até o ano de 1724, quando um grupo de jesuítas foi
atacado e um colégio incendiado, fazendo com que as liberdades protestantes fossem
revogadas, logo quando a tolerância religiosa tinha se tornado moda em quase toda a Europa.
A religião não era definida pelo sujeito em si mesmo, mas pelo Estado, o que se tornou
uma norma em toda a Europa, o que pode ser visto ou aferido com alguma confiança que
determinadas pessoas de tais países são católicas ou protestantes. Onde havia alguma
liberdade religiosa tal escolha não era feita baseada na crença, mas sim no tipo de fraternidade
construída ali.
O Primeiro perfil são as igrejas de hierarquia subvertida, que na verdade eram seitas
igualitárias que tinham como base a partilha de bens em comum (uma espécie de comunismo
cristão), baseados no texto de Atos 2. O grupo mais notável deste perfil foram os shakers do
século XVIII que combinavam códigos de conduta puritana com êxtases coletivos.
Movimento iniciado por Madame de Stael que foi considerado por seus adeptos como a
reencarnação de Cristo. Este movimento é fruto de observações dos morávios.
O problema deste perfil é que sempre vão existir Ananias e Safiras para administrar as
contas e bens partilhados dentro do grupo. Contudo a subversão de hierarquia serviu para
emergir varias formas de cristianismo.
A igreja sempre teve por vocação desde seu inicio promover uma sociedade alternativa
para aqueles que eram vistos como párias entre os seus. Na qual, meninos pobres bem
patrocinados e apadrinhados podiam crescer de status por meio de serviços eclesiásticos,
desde que uma vez lá demonstrassem humildade para como mais simples, mas haviam outros
como São Francisco de Assis que preferiu entrar ou criar uma ordem alternativa que prezava a
pobreza.
Hoje, a maioria das igrejas protestantes está sob o governo de uma boa parte de leigos
atavés de seus concílios ou conselhos de ancião o que garante não apenas uma estrutura
inversa de poder dentro da igreja, mas também sobre aqueles que fora do contexto eclesiástico
seriam de uma classe superior. Assim dentro de seus muros a igreja consegue aplicar uma
inversão dos valores mundanos.
Outros ponto de subversão neste perfil está no que diz respeito as mulheres e sua
participação na igreja. A igreja cristã em si sempre soube do papel influenciador das mulheres
quanto a dedicação no exercício religioso, pois em seus lares de maneira piedosa e devota
criavam novos cristãos a partir de suas instruções domésticas.
No entanto tal influencia foi a gênese também para o surgimento de novas heresias
como o Adventismo2 e Ciência Cristã3, com isso as igrejas reformadas logo definiram de
maneira clara e objetivo o papel da mulher em relação a igreja e aos homens.
Já a igreja Católica foi por outro caminho, desenvolvendo escolas e ordens religiosas
de cuidado e assistência social, como uma espécie de braço direito dos padres romanistas.
Com isso a Reforma não é apenas um matiz de determinado movimento religioso, mas
sim o resultado de movimentos típicos da tradição cristã.
O Outro perfil é o de comunidades globulares, nas que são compostas por famílias,
isso tanto igrejas católicas e igrejas protestantes. Aqui os irmãos vão buscar se identificar com
aqueles que possuem os mesmo gostos, educação etc. Fazendo assim em nossos dias uma
proliferação de igrejas com linguagens especificas para cada grupo ou minoria, como se cada
sujeito estivesse diante de um menu a la carte de igrejas.
As igrejas católicas em países não católicos são famosas neste modelo por serem
imunes a homogeneização e por serem esnobes, como no caso da capela de Oxford que pode
receber até mil pessoas, mas só é frequentada por pouquíssimos membros.
Já outros grupos buscam a ideia de grupo familiar ou de família cristã em que a igreja
substitui a família de casa, tendo características de um lar cristão. Como exemplo temos a
Opus Dei e a igreja da Unificação ambas acusadas de tirarem os filhos de seus lares ou os
sandemanianos dos séc. XVIII e XIX, que passavam todos os domingos unidos em orações e
cerimonias e durante a semana ainda se envolviam com trabalhos da igreja.
2
Fundada por Ellen Gould White
3
Fundada por Mary Baker Eddy
“A tendência de certas igrejas e congregações para
atrair os fiéis com ideologias semelhantes e inclinações parecidas apresenta
grandes vantagens práticas: em uma casa com muitas moradas, oferece um
ambiente proveitoso para cristãos de preferências variadas; enriquece a vida de
toda a igreja, na medida em que se acrescentam muitas facetas ao brilho de uma
gema Lapidada” (ARMESTO & WILSON, 1997).
Uma igreja que aspira ser Universal não pode insistir em uniformidade, como no caso
da Inquisição Católica e dos tribunais religiosos protestantes.
A igreja mesmo com sua aspiração de ser Universal, se contrasta muito com seus
métodos e práticas, na qual se favorece o exclusivismo tentador, na qual seus membros se
constituem nos únicos eleitos. Isso fica evidente na confissão dos próprios autores que já
quiseram que suas igrejas fossem limpas de seus membros menos capazes intelectualmente e
espiritualmente.
Na igreja católica tal tentação tem sido administrada pela criação de ordens religiosas
envoltas com inúmeras cerimônias especiais com caráter ritualístico para cada tipo de pessoa.
Para os autores a Reforma não gerou o individualismo, mas com certeza esfacelou
com a igreja como comunidade, gerando uma revolta muito grande entre os tradicionalistas.
Para não perder seus membros várias igrejas atrelaram a suas crenças uma
autenticidade nacional quanto ao surgimento de novas igrejas ao ponto de criarem
propagandas semimísticas quanto a representatividade da coroa em questões de fé.
Assim temos uma leitura da relação fé-cultura na qual são discutidos seus pontos de
fronteiras e contribuição, desde os gregos e romanos se questiona como deve ser feita a
proclamação do Evangelho para cada povo e sua cultura.
Logo podemos dizer que as igreja sobrevivem por conta de sua adaptação cultural
emergente do momento, ou seja, de acordo com zeitgeist de sua época. Como por exemplo os
casos de santos “revolucionários” surgidos na França do século XVIII.
Todo este contato com a cultural revela um problema, como se envolver com a cultura
sem se contaminar com ela?
As pessoas buscam uma comunidade que fale sua língua, que tenha os mesmo
costumes e gestos, mas que ainda lhe garanta uma experiência que transcenda esta realidade
material do mundo moderno.