G12 e As Lutas de Representação

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“G12 E LUTAS DE REPRESENTAÇÃO”: QUERELAS TEOLÓGICAS E DOUTRINÁRIAS ENTRE


NEOPENTECOSTAIS, ASSEMBLEIANOS E BATISTAS.
Caroline Luz e Silva Dias1
[email protected]

Introdução

A história do protestantismo esteve e ainda está inexoravelmente ligada à pluralidade e à diversidade


dessa forma religiosa cristã. Esses protestantismos surgidos no pós-Reforma Religiosa tem raízes
históricas, sociais, políticas e culturais muito distintas, em que pese as peculiaridades espaço-temporal
nos séculos XVI e XVII.
Durante a vigência do século XVII, já existiam algumas linhas de protestantismo, como
Zuinglianos, Luteranos, Calvinistas, Anabatistas e Anglicanos. As distinções não eram apenas
doutrinárias, ou seja, ao que se refere ao conjunto de normas religiosas, havia demandas sociais,
políticas e econômicas que em grande medida atravessavam essas questões doutrinárias. Este é caso
da afinidade de Anglicanos e Luteranos com questões de cunho político, dos Anabatistas com
demandas sociais bem definidas e do calvinismo com uma ética que norteava toda a vida econômica e
moral dos seus fiéis.
As divergências teológicas e doutrinárias acompanharam o protestantismo ao longo da sua
história, desde o contexto reformador de críticas às práticas heréticas da Igreja Católica, porém traziam
profundas divergências doutrinárias e também uma forma diferenciada de leitura das questões sociais
e políticas. O surgimento do pentecostalismo e o neopentecostalismo durante o século XX,
aprofundaram estas divergências doutrinárias entre grupos protestantes. Na década de 1990 surgiu a
estratégia de evangelismo, o G12, na Missão Carismática Internacional na Colômbia, chegando ao
Brasil no final da década de 1990, com a adesão de muitos pastores que pertenciam à denominação
Batista e Assembléia de Deus. A resposta das denominações foi abominar o movimento, divulgando
em seus principais periódicos o “Jornal Batista”, “O Batista Baiano News” e o “Mensageiro da Paz”,
respectivamente, seu posicionamento contrário ao movimento. O universo espacial da pesquisa é Feira
de Santana e a baliza teórica para entender esta disputa pela legitimidade de apropriação do texto
bíblico é a História Cultural e os conceitos de Roger Chartier, representação, apropriação, lutas de
representação e de Pierre Bourdieu o conceito de campo religioso.

Divergências doutrinárias entre grupos protestantes

1
Graduada em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Mestranda pelo Programa de
Pós-Graduação em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Bolsista CAPES
(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).
2

Nas suas origens européias o protestantismo já se apresentava plural. O campo de


determinações sociais exercia uma forte influência nas questões religiosas protestantes nos séculos
XVI e XVII e contribuiu para que a própria trajetória do protestantismo histórico na Europa, Estados
Unidos e dos grupos que chegaram ao Brasil tenha sido marcada pela presença de dissidências e
cismas que buscaram elementos que legitimassem e justificassem o seu rompimento com a corrente
principal, reelaborando o potencial rebelde presente no princípio doutrinário do “livre exame”, ou seja,
na livre interpretação dos textos sagrados. (SILVA, 1996)
Existia uma tendência aos divisionismos e dissidências dentro do protestantismo que tem
raízes históricas consideráveis, qual seja, o caráter de contestação às práticas religiosas hegemônicas
na Europa Medieval e inicial na modernidade, além de doutrinas teológicas próprias que traziam em
seu bojo a extensão da leitura do texto sagrado para leigos, sem a autoridade eclesiástica.
No século XVI, o ex-monge católico Martinho Lutero galgou a posição de um dos mais
importantes reformadores religiosos, contribuindo para formar esse “germe da divisão”, com o princípio
teológico do “sacerdócio universal”, ao fazer a inversão da tradicional hierarquia católica. A sua
proposta de transformar todo leigo em sacerdote, ao dispensar a mediação sacerdotal nas relações
religiosas entre homens, mulheres e a divindade, o ex-monge foi amplamente assessorado pelo
advento da impressão dos textos sagrados, fazendo uma verdadeira revolução teológica e política na
religiosidade de sua época.
Sobre o sacerdócio universal e a individualização das relações com o sagrado, o arguto Karl
Marx (1972) observou:

Sem dúvida que Lutero venceu a servidão por devoção substituindo-lhe a


servidão por convicção. Quebrou a fé na autoridade restaurando a autoridade da
fé. Transformou os clérigos em leigos e os leigos em clérigos. Libertou o homem
da religiosidade exterior fazendo da religiosidade a consciência do homem.
Emancipou o corpo das suas cadeias carregando com elas o coração. (MARX,
1972)

No século XIX, as formas de protestantismos que chegaram ao Brasil, tiveram uma acentuada
característica denominacional. Este tema já foi discutido pela historiadora Marli Geralda Teixeira (1983)
na sua tese de doutoramento onde apresenta as tipologias de Ernest Troeltsch sobre seita, igreja. De
maneira simplista, a seita seria uma organização comunitária, onde as suas práticas religiosas e
políticas seriam de contestação à sociedade circundante, daí alguns estudiosos tratarem os batistas
como seita. Já a igreja seria a instituição centralizada e burocrática da religião da maioria, um exemplo
3

é a Igreja Apostólica Romana. A denominação seria a aparelhagem da instituição burocrática,


preservando a autonomia local das congregações (TEIXEIRA, 1983).
No início do século XX surgiu o pentecostalismo nos Estados Unidos, chegando ao Brasil no
final da primeira década deste século com a Denominação Congregação Cristã do Brasil em 1910,
seguindo-se pela Assembléia de Deus em 1911. Este movimento se expandiu nas décadas
subseqüentes e se afirmou como a expressão religiosa do protestantismo brasileiro que mais cresce no
campo religioso do País e favoreceu o surgimento de inúmeras congregações e denominações de
mesmo perfil.
O movimento neopentecostal surgiu no final da década de 1970, no bojo do antecessor
pentecostalismo, que recebeu este nome por fazer uma analogia à descida do Espírito Santo no
pentecostes bíblico. Combinando práticas tradicionais do pentecostalismo e inovações teológicas e
doutrinárias como a emotividade nos cultos e os dons do Espírito Santo, à teologia do domínio e da
guerra espiritual, a presença de líderes carismáticos e a teologia da prosperidade que foram
reelaborados pelo diálogo entre estas práticas e a cultura da sociedade capitalista de consumo,
construiu algumas mudanças em relação à tradicional ascese protestante pentecostal.
Essas transformações que não estão apenas inseridas no campo das doutrinas e diretrizes
religiosas, mas sobretudo, visível nas práticas e representações cunhadas por estas denominações,
qual sejam, suas características de adaptação de práticas religiosas à sociedade circundante, incluindo
reformas de caráter secularizante, comportamental, estético e teológico, produziu uma série de
dissidências dentro do protestantismo histórico e do próprio pentecostalismo. (MARIANO, 2005)
Esta pluralidade e diversidade das formas de protestantismo visíveis na contemporaneidade,
guardam afinidades doutrinárias características do protestantismo histórico. A Reforma Protestante no
século XVI, até as formas protestantes contemporâneas estão baseadas no sacerdócio universal e no
livre exame da Bíblia, que fazem parte de um mesmo debate teológico que é a acessibilidade de todos
os homens a Deus, tornando desnecessária a mediação sacerdotal entre o religioso e a divindade.
No contexto da expansão pentecostal, através da produção de cismas doutrinários,
pretendemos construir uma análise histórica do perfil neopentecostal das comunidades que aderiram à
metodologia do G12 e sua dissidência M12 em Feira de Santana, Bahia.

As origens (neo)pentecostais do G12

O pentecostalismo foi um movimento religioso mundial que surgiu na matriz protestante no


início do século XX nos Estados Unidos e o seu nome é uma alusão à descida do Espírito Santo no
pentecostes bíblico. Sua origem remonta ao avivamento metodista do século XVIII, no qual Wesley
4

introduziu o conceito de uma segunda obra da graça, distinta da salvação, chamada de perfeição cristã.
Estes foram os primeiros elementos do “batismo no Espírito Santo”, no qual a evidência de tal batismo
seria a glossolalia.(FRESTON, 1994)
Paul Freston (1994) concluiu que as experiências religiosas de Parham e Seymour, foram
distintas porque o primeiro denotou um fato local, ao passo que o segundo em 1906, sendo convidado
para pregar em Los Angeles e devido ao sucesso da glossolalia, Seymour teve que alugar um
armazém na Azuza Street, onde atraiu negros e brancos. Porém a união entre negros e brancos teve
suas vicissitudes históricas, ocasionando divisões raciais já existentes na sociedade americana, que
por sua vez contribuíram por reforçar a tradição de dissidências entre os protestantes.
No Brasil o fenômeno pentecostal chegou ao final da primeira década do século XX. Vale
ressaltar, que a expansão do pentecostalismo ocorreu graças à tradição de dissidências dos grupos
históricos e também dos mais recentes pentecostais. Essas transformações doutrinárias nas diretrizes
teológico-religiosas que se tornam visíveis nas práticas e representações cunhadas por estes
segmentos do protestantismo são características centrais do pentecostalismo, como o êxtase religioso,
a prática de cura, o exorcismo, os aplausos, as danças, etc.
O biblicismo é uma outra característica marcante dos pentecostais, na nossa concepção
contribuiu para fundamentar ainda mais a tradição de dissidências entre os protestantes, tendo raízes
na liberdade de interpretação do texto sagrado, o que deu origem às divergências doutrinárias e
administrativas, resultando em última instância em divisionismos e práticas protestantes plurais.
Esta pluralidade de protestantismos é um fato que têm possibilitado a expansão de diversos
grupos protestantes na contemporaneidade. Cabe o destaque que o G12, como metodologia de
expansão de igrejas protestantes originário da Colômbia, produziu mais uma dissidência entre os
protestantes, fundando o M12, no qual sua liderança maior é o Apóstolo brasileiro Renê Terra Nova .

O mito de origem do G12

As religiões têm sido, historicamente, o lugar da construção de mitos. O mito como uma forma
de explicação e legitimação de uma determinada ordem social, política ou religiosa tem acompanhado
a humanidade desde a sua fase de desenvolvimento da comunicação oral. O desenvolvimento da
escrita e, num período mais recente, das ciências, não fez o mito e a religião perderem a sua
importância.
Nas palavras de Bourdieu (2005), o mito tem uma função de diferenciação social e legitimação
de uma determinada ordem,
5

Estas “funções sociais”(no sentido de Durkheim ou no sentido “estrutural


funcionalista” do termo) tendem sempre a se transformarem em funções políticas
na medida em que a função lógica de ordenação do mundo que o mito preenchia
de maneira socialmente indiferenciada operando uma diacrisis ao mesmo tempo
arbitrária e sistemática no universo das coisas, subordina-se às funções
socialmente diferenciadas de diferenciação social e de legitimação das
diferenças, ou seja, na medida em que as divisões efetuadas pela ideologia
religiosa vêm recobrir (no duplo sentido do termo) as divisões sociais em grupos
ou classes concorrentes ou antagônicas. (BOURDIEU, 2005)

François Houtart (2004) discute a presente relação entre a fase de acumulação capitalista e as
religiões, constatando que o neoliberalismo e as contradições desencadeadas por ele suscitaram o
aparecimento de movimentos organizados em categorias específicas, no caso a religião. Essa
ocorrência de buscar no sobrenatural o sentido de explicação para as relações humanas com a
natureza e com a sociedade, delimitou a atuação dos assuntos religiosos na sociedade. O poder
cultural do neoliberalismo, que impõe como evidencias excludentes os valores individuais, o mercado e
o consumo como cultura, bem como o modelo político de demanda limitada como ideal de
perfeição.(HOUTART, p.116)
Com o advento da globalização, o neoliberalismo, observa-se a intensificação de práticas
religiosas neopentecostais, busca de estratégias de crescimento de igrejas, o uso do marketing e
outras práticas de ampliação de mercado no seio das comunidades protestantes, surgiu a “visão celular
no modelo dos 12”, uma estratégia de evangelismo baseada na Bíblia, concebida mediante uma visão
profética.
No livro “Sonha e Ganharás o Mundo”, César Castellanos (2002) faz uma espécie de auto-
biografia, relatando algumas das suas experiências na sua trajetória de líder religioso. Ele era um
jovem que tinha problemas com drogas e bebidas, até que em 1972 teve um encontro poderoso com
Deus, resultando na sua conversão, nesse encontro, Deus lhe fez promessas de torná-lo um grande e
próspero pastor. Depois disso, ele passou a pastorear algumas pequenas comunidades que chegavam
no máximo a 120 membros. Em 1983, expôs que estava desistindo dessas congregações, por que não
alcançou o sucesso desejado, foi tirar férias na praia, quando afirmou ter recebido em visão a seguinte
profecia, tratada aqui como o mito de origem do G12:

Numa noite das férias de 1983, estando na Costa Atlântica Colombiana, ao lado
de minha família, balançava-me a beira-mar, quando senti a presença de Deus
como nunca antes havia experimentado. Naquele dia sua voz se fez ouvir no
profundo do meu ser, dizendo-me: “Sou o ancião de Dias! Prepara teu coração
em adoração por que eu vou te usar.” Naquele dia entrei num nível de adoração
muito mais intenso, diferente do que estava acostumado. Rendi cada átomo de
minha existência ao Senhor. Logo escutei-O dizer: “Vou mover o teu assento”.
6

Aquietei-me esperando que Ele o fizesse, porém como não acontecesse, eu


mesmo comecei a me mover até que escutei novamente a Sua voz dizendo-me:
“Eu posso mover o teu assento, porém prefiro fazê-lo através de ti. Posso falar
às almas diretamente, porém prefiro fazê-lo através de ti. Coloquei-te como
pastor. Sonha, sonha com uma igreja muito grande por que os sonhos são a
linguagem do Meu Espírito. Por que a igreja que hás de pastorear será tão
numerosa como as estrelas do céu e como a areia do mar; que de multidão não
se poderá contar.” (DOMINGUEZ, 1999, p.21)

Queremos enfatizar com este relato do pastor César Castellanos, três aspectos diferenciados
para uma mesma visão: o primeiro foi a ênfase da sua relação pessoal com a divindade. O pastor diz
ter ouvido a voz de Deus e recebeu a sua profecia, isto é, ser um pastor de milhares de milhares. Essa
relação pessoal com o ser divino lhe deu legitimidade e também o poder sacerdotal, que o distinguiu de
outros pastores e até mesmo dos seus discípulos. O fato de Deus está confiando a ele o privilégio do
saber sagrado, que vai surgindo pouco a pouco, este saber é a metodologia da Visão Celular no
modelo dos 12, conhecida como G12.
Essa relação de primazia do pastor colombiano com sua construção mítica, deu-lhe
legitimidade de monopolizar e manipular os bens sagrados; o outro aspecto do relato, são os grandes
projetos, as grandes metas, o que se constitui numa contradição com alguns segmentos pentecostais
tradicionais que buscam no porvir a felicidade prometida. Essa felicidade no Reino dos Céus
desencadeou um certo conformismo de alguns segmentos pentecostais em relação à sociedade. César
Castellanos e os grupos neopentecostais se apropriaram do texto bíblico de uma forma diferente dos
demais grupos protestantes, essa reelaboração de doutrinas e práticas permitiu um nova forma de
integração entre protestantes e a sociedade circundante. Com isso ele legitimou o seu desejo por
expandir-se; um terceiro aspecto é a legitimação da visão com imagens bíblicas poderosas como a
visão abraâmica para a descendência do povo de Iavé no Antigo Testamento, a apropriação de
imagens veterotestamentárias se tornará uma característica do movimento.
Nesse contexto, vale ressaltar que o G12 se configurou como uma metodologia organizacional
de denominações protestantes de perfil neopentecostal, onde as práticas de sonhos, visões e profecias
são perfeitamente legítimas. Essa estratégia surgiu na Colômbia, fazendo uma reelaboração eficaz do
discurso do comportamento protestante ascético, do ponto de vista da expansão numérica destes
grupos, em relação aos ramos do protestantismo histórico e o de perfil pentecostal tradicional,
apropriando-se de estratégias empresariais já desenvolvidas nos Estados Unidos para a expansão
religiosa.
O G12 foi divulgado e implantado no Brasil em nível nacional pelos líderes Valnice Milhomens
e René Terra Nova. Estes por sua vez foram conhecer o grande avivamento que estava acontecendo
7

na Colômbia, tais notícias circulavam entre muitas lideranças protestantes que tinham ido à Colômbia e
participado de Congressos na Missão Carismática Internacional. No discurso da pastora feirense
Jardelina Silva que visitou Jerusalém, a Colômbia e a (MCI) em 1998, foi constatada a principal
característica da divulgação, a boa impressão do crescimento numérico,

Em 1998, eu tive a oportunidade de ir em Jerusalém, ouvi uma pregação do


pastor René Terra Nova, hoje apóstolo, onde ele falava de uma metodologia
conhecida como Visão do G12 e essa metodologia ele deixou claro que recebeu
da Colômbia através do pastor César Castellanos e sua esposa Cláudia e falou
sobre o G12, mas ainda não tinha assim nada muito claro, mas ele voltou assim
muito impressionado da Colômbia e isso foi outubro de19982

O processo de divulgação e implante do G12 em Feira de Santana ocorreu quase,


concomitantemente, em relação ao País. O apóstolo René Terra Nova foi e continua sendo um
importante e influente pastor na cidade e não apenas em Manaus, onde está localizada a congregação
que pastoreia a nível nacional. A sua adesão ao G12 e a euforia de um grande avivamento transmitida
em seu discurso mobilizou muitas lideranças em todo Brasil, inclusive na comunidade evangélica
feirense, pelo fato de ter liderado a tradicional Igreja Batista Memorial no início da década de 1990.
A divulgação do G12 no Brasil ocorreu através de congressos específicos e o processo de
adesão das congregações, consistiu em “transicionar” lideranças e membrezia de um modelo
tradicional, para a nova proposta. Apresentar o modelo para os pastores não foi suficiente, mas fazê-
los passar por todo o processo de encontros e discipulado, onde se estabeleceu uma hierarquia sobre
os mesmos. Bogotá e Manaus foram as capitais que formavam líderes e pastores do G12, e em
primeira instância Manaus pela proximidade, o lugar onde os pastores iriam passar pelo encontro e
com isso aprender a colocar em prática a estratégia G12. Este elemento está presente no discurso da
pastora Jardelina Silva,

Em 1998 mesmo eu participei de um encontro em Manaus, e vi realmente que o


encontro havia algo muito, muito diferente, uma unção muito especial e Deus,
respaldava aquele povo que estava ali se retirando para buscar realmente o
Senhor. Então a ministração de palavra, da unção de Deus, a ministração corpo
a corpo, pessoa a pessoa foi algo assim muito enriquecedor. Em 2000, estive na
Colômbia e vi um pouco da Visão sendo transmitida para líderes de todo o
mundo, tinham muitos brasileiros lá.3

2
Entrevista concedida em junho de 2005 pela pastora Jardelina Silva que hoje atua em Boa Vista no estado de
Roraima.
3
Entrevista concedida em junho de 2005 pela pastora Jardelina Silva que hoje atua em Boa Vista no estado de
Roraima.
8

A primazia de Manaus na realização de encontros, constatamos também em outros relatos,


como o da pastora feirense Simone de Araújo Moura que possui uma tradição de liderança entre os
batistas. Já foi presidente dos jovens adolescentes de Alagoinhas e vice-presidente dos jovens do
estado da Bahia. Além de ser bacharel em educação religiosa com música pelo seminário batista do
Nordeste em Feira de Santana, pós-graduada em educação religiosa na área de concentração de
administração educacional e formada em psicanálise. Atualmente pastoreia o Ministério Internacional
de Adoração a Deus, uma igreja grande para a realidade de Feira de Santana.

Olha nós conhecemos a Visão Celular no Modelo dos 12 há oito anos atrás, nós
conhecemos o apóstolo Renê de Araújo Terra Nova aqui pregando na Igreja
Batista Memorial, logo em seguida nós fomos a Manaus, participamos de um
encontro com Deus, e lá nós ficamos fascinados pela Visão de Consolidar vidas,
de ganhar vidas.4

As comunidades que aderiram ao G12, iniciando pela liderança que freqüentou os encontros
em Manaus, não vinham especificamente de uma Denominação. Nesse sentido, a adesão religiosa foi
transdenominacional, onde pastores de diversos ramos do protestantismo como batistas,
presbiterianos, quadrangulares e até assembleianos chegaram a implantar o G12 nas suas
congregações.
Uma questão necessária a se colocar é de onde vinham estes pastores que freqüentavam os
congressos de divulgação do G12, quais as denominações que estes líderes estavam vinculados e se
à sua adesão à estratégia colombiana mudou a sua vinculação institucional e se houve divergências
doutrinárias na execução do plano de evangelismo empreendido por César Castellanos.

Tradição e inovação: conflitos doutrinários entre grupos protestantes

Como já foi mencionado anteriormente existem variadas formas de ser protestante no Brasil.
Possuir identidade protestante pode ter variadas facetas, desde o protestantismo histórico, do ponto de
vista doutrinário e cultual, até os mais recentes pentecostais e neopentecostais. O sacerdócio universal
e a liberdade de interpretação do texto bíblico entre os mais variados ramos do protestantismo foi e
continua sendo a grande marca distintiva neste grupo do campo religioso. É a partir destas duas
concepções que analisaremos os conflitos e as lutas de representação advindas da legitimidade da
livre interpretação do texto bíblico sobre doutrinas e práticas reelaborads pelo G12.
Esta análise terá como fonte os periódicos representativos de dois grandes segmentos do
protestantismo brasileiro. “O Jornal Batista”, “Batista Baiano news” o órgão oficial da Convenção Batista
Brasileira representando a opinião doutrinária e teológica dos batistas tradicionais no Brasil e ao

4
Entrevista concedida em junho de 2008 pela senhora Simone de Araújo Moura de 35 anos.
9

mesmo tempo indispensável pelo grande número de adesões ao G12 entre congregações batistas.
Além dos batistas, o outro grupo protestante escolhido foi a Assembléia de Deus, com o periódico
“Mensageiro da Paz” por representar a opinião do maior segmento protestante no Brasil, além de fazer
parte do grupo pentecostal. Batistas e assembleianos tradicionalmente trabalhavam com uma doutrina
ascética de afastamento do mundo e da cultura, característica enfática nos grupos protestantes.
Na leitura dos seus líderes, o G12 foi apenas uma estratégia de crescimento, mas nas próprias
palavras do pastor César Castellanos a estratégia pretende ser prolongada na vida cotidiana dos fiéis
como um modo de vida que atua na sociedade para a transformação, uma metodologia que objetiva
trabalhar em todas as áreas da vida dos discípulos, desde a área familiar, do trabalho, das emoções e
até a psicológica.
No momento em que o G12 deixou de ser estratégia de crescimento para portar doutrinas
próprias, começaram os embates discursivos sobre as doutrinas do G12, desqualificando-as com o
objetivo de deslegitimar suas práticas ou ainda a auto-legitimação das grandes denominações.
Pretendemos abordar as lutas de representação advindas do choque teológico e doutrinário tendo em
vista que o G12 é uma metodologia para ser aplicada nas congregações locais, muitos líderes de
diversas denominações do Brasil, conhecendo a experiência colombiana de crescimento, adotaram
para suas congregações o que fez surgir uma série de debates acerca do G12. Estes conflitos que têm
a sua origem no confronto de mudanças de costumes implementadas pelo G12 e o tradicionalismo dos
grupos históricos.
Estas lutas de representação se engendraram e se construíram nas relações de poder dentro
dessas denominações e sua legitimidade de monopolizar o capital religioso. Vários grupos, entre os
quais, assembleianos e batistas se pronunciaram oficialmente contra as práticas do G12, o que
desencadeou desligamentos de convenções e a formação de grupos dissidentes. A expansão das
adesões entre os batistas desencadeou uma série de críticas ao G12, inclusive foi o objeto na pauta de
discussões na Convenção Batista Brasileira (CBB) e na Ordem dos Pastores Batistas do Brasil (OPBB)
no ano de 2000.
César Castellanos ao longo do livro “Sonha e ganharás o mundo” expõe a sua trajetória
pessoal e ministerial ao discutir suas estratégias para êxito. Entre elas está a quebra de maldições que
podem ser individuais, familiares ou hereditárias e regionais, “e tudo isto ocorre num processo: primeiro
o senhor mostra as maldições na parte individual, na vida familiar e logo nos guia a identificar e quebrar
as prisões da nação.”5 Segundo a sua leitura, é necessário um processo de libertação que começa na
vida do crente que aceita a Jesus e na medida que este for liberto começa a libertação dos seus
familiares. Castellanos entendeu que esta libertação na área espiritual favorece a vida do cristão na
família e nas finanças. Também explicou que os demônios que agem na vida dos familiares podem
influenciar a vida do crente se este não neutralizara sua ação mediante batalha espiritual. Observemos
seu relato:

5
DOMINGUEZ, César Castellanos. Sonha e ganharás o mundo. 3ªed. Palavra da Fé produções: São Paulo,
2002. (p. 97)
10

O Senhor foi nos mostrando, pouco a pouco, todos os principados que impediam
o crescimento e a prosperidade. Não só era o problema do alcoolismo e as
drogas, mas no passado houvera separações, divórcios e muita idolatria.
Compreendemos que os problemas financeiros derivavam de que alguns de
nossos avós não haviam levado vidas retas. À medida que observávamos uma
prisão, nós a quebrávamos. Deus tem sido fiel, e por isso agora vemos nossas
famílias rendidas a Seus pés e entregues a seu serviço. Na área financeira
propusemo-nos a derrubar o gigante da escassez. Atualmente são treze anos
vivendo em prosperidade.6

O jornal “O Batista Baiano News” apresentou a matéria “pastores repudiam as aberrações do


G12” e também “pastores de Salvador também rejeitam o movimento”7, enfatizando as práticas torpes
do G12, além de uma distorção doutrinária extremamente prejudicial à vida dos cristãos. Após o estudo
das fontes os pastores da (OPBB) reconheceram o método de multiplicação das células, porém
consideraram aberração as seguintes doutrinas e práticas:

a) MALDIÇÃO HEREDITÁRIA- estar sob maldição implica estar sob influência e poder
do diabo e em rebeldia contra Deus. Acreditar que uma maldição ultrapasse a
individualidade e seja transmitida a gerações é:
Primeiro: o desconhecimento e completa ignorância acerca da divisão sócio-
política de Israel em seus vários clãs; (Ex.20.5)
Segundo: É mostrar-se incauto e desinformado quanto às possibilidades da
ciência genética sobre isolamento de genes, o que possibilitaria o isolamento e aniquilação
do gene do pecado (ver projeto GNOMA), tornando sem efeito e desnecessária a morte de
Cristo;
Terceiro: É evidenciar despreparo bíblico-teológico acerca da Soterologia (doutrina
da Salvação) e as implicações convergentes (arrependimento/ fé/ conversão/ justificação/
eleição);
Quarto: É fazer de Deus impotente e de sua Palavra mentirosa, por deixar os seus
ainda dependentes do inimigo e afirmar que somos novas criaturas, tendo no sacrifício de
Jesus a expiação por todos os pecados;8

É percetível que o conceito de batalha espiritual não é considerado uma verdade bíblica para
este ramo do protestantismo histórico, com isso a desqualificação da prática de libertação espiritual,
comum nos grupos neopentecostais e nas práticas do G12 constitui uma disputa pela legitimidade da
interpretação do texto bíblico. “O Batista baiano news” diverge também dos neopentecostais em
relação à cura interior:

b) CURA INTERIOR E REGRESSÃO- tanto a cura interior como a regressão em


si são situações aplicáveis, quando nos momentos e locais adequados. Quanto
à sua aplicação nos encontros e nas igrejas, observamos o seguinte: 1) A cura

6
Ibidem. (p.95)
7
Jornal “O Batista Baiano news”: Órgão oficial da Convenção Batista Baiana. Ano LXXI-nº40,
setembro/outubro de 2000, folha 11.
8
Ibidem.
11

de questões espirituais é questão do Espírito Santo. Às questões psicológicas o


próprio Deus dotou de competência os profissionais, podendo no entanto, usar
sua onipotência, conforme a perfeição dos seus propósitos (Ex.31:2,3); 2) A
regressão hipnótica é atribuição exclusiva dos profissionais da psique.
Condenamos expressamente a manipulação da mente humana, sua utilização
coletiva e por pessoa não habilitada, até mesmo porque profissionais habilitados
jamais se dariam a tal prática.9

A CBB se construiu como uma estrutura normatizadora de doutrinas e condutas individuais e


coletivas. Um dos assuntos na pauta de discussões da 77ª Assembléia da Convenção Batista Brasileira
foi a ratificação da não-ordenação de mulheres e não-bacharéis. No entanto entre as práticas
implementadas pelo G12 estava a ordenação feminina e a unção de pastores leigos. Eis mais um ponto
de divergência entre batistas e neopentecostais,

e) ORDENAÇÃO DE MULHERES E NÃO BACHARÉIS- O G12 estende à


esposa do pastor/presidente o mesmo ministério. Trata-se de um ministério
compulsório, tendo como parâmetro e pré-requisito a Certidão de Casamento.
Este ponto encontra-se em total desacordo com os princípios de chamada ao
ministério (“Eu vos darei pastores...” Jr.3:15), além de afrontar a CBB que ainda
não normatizou este assunto.
O pastor do século presente precisa estar preparado(II Tim 2:2) e Deus o sabe.
Assim, condenamos a ordenação sumária, automática, indiscriminada e sem
critérios, aceitando as Normas para Ordenação ao Ministério, votadas por esta
ordem.10

O emocionalismo e as inovações dos grupos neopentecostais também foram interpretado pela


CBB como uma reversão anti-bíblica da liturgia batista e mesmo um confronto de doutrinas, uma luta
pela legitimidade de interpretação do texto bíblico, nesta edição do periódico estava presente a auto-
afirmação de legitimidade da CBB,

c) BATISMO NO ESPÍRITO SANTO- O Movimento G12 defende o batismo no


Espírito Santo como sendo uma experiência de se receber um revestimento de
poder, tendo como evidência inquestionável o falar em línguas (vide Manual do
Encontro MIR e a Verdade sobre o Modelo dos 12- Valnice Milhomens).
Condenamos expressamente tal pensamento, bem como o anexo da unção com
óleo como meio para atingir tal propósito ou qualquer outra graça.
d)SACERDÓCIO UNIVERSAL X AUTORIDADE PASTORAL- No
movimento G12 a Eclesiologia sofre modificações. O crente é instruído a
obedecer sem questionar. O pastor presidente reveste-se de soberania. A igreja
pode votar em assembléia, mas sabendo que “pensar” contra a vontade pastoral

9
Ibidem.
10
Jornal “O Batista Baiano news”: Órgão oficial da Convenção Batista Baiana. Ano LXXI-nº40,
setembro/outubro de 2000, folha 11.
12

constitui rebelião, que é, segundo exegese conveniente de I Sm. 15:23,


comparável ao pecado de feitiçaria. Não aceitamos tal prática e condenamos a
megalomania e o autoritarismo daqueles que não podem manter-se pelo
senhorio do Mestre.
f) O ENCONTRO- Jamais poderemos aceitar a manipulação das
emoções do indivíduo a ponto de condicioná-lo. Jesus nos convida a servir com
a alma, coração e entendimento. O encontro faz a biopsia da razão, lançando
nas igrejas um caldeirão de emoções e rejeitando os que ousam questionar. A
renúncia é pregada nos encontros do G12 como forma de rejeição aos
conceitos, hábitos e costumes da vida cristã que até então se professava. Como
na maioria dos casos, os participantes do encontro são pessoas oriundas das
mais variadas confissões religiosas e denominacionais, daí por que o produto
final desses encontros gere o enfraquecimento das igrejas de ensino sério e
histórico.11

A realização dos encontros como uma etapa para a multiplicação das células, e
consequentemente das congregações foi o alvo de intensas críticas por parte da CBB, o que
desencadeou uma série de cismas religiosos entre pastores e a Convenção Batista Brasileira entre as
congregações que aderiram ao G12 na sua totalidade, transicionando suas igrejas de um modelo
tradicional para a Visão Celular no Modelo dos 12.
O texto lavrado pelo presidente da CBB, o Pr. Luciano Barreto Cardoso em 30 de setembro de
2000, convidou todos os pastores que aderiram ao G12 a se desligarem da CBB. “Não podemos
aceitar nem aplicar a visão, sob pena de uma mudança denominacional. Os postulados do G12 são de
uma igreja neopentecostal e desincompatibilizados com o corpo doutrinário e cúltico das igrejas
batistas da CBB.”12
Além dessa amostra da reação de um tradicional grupo do protestantismo histórico, também
pesquisamos no periódico “Mensageiro da Paz: Órgão Oficial das Assembléias de Deus no Brasil”,
representativo do grupo pentecostal que mais cresce no Brasil, a Assembléia de Deus. Também
encontramos as mesmas refutações com relação à adesão de fiéis e obreiros às doutrinas e práticas
propagadas pelo G12. A mesa diretora da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil
(CGADB), se pronunciou sobre o G12 nas seguintes palavras:

Grupos estranhos de pseudo-evangélicos trabalham em planos cientificamente


preparados, usando forte marketing, tentando dividir e enfraquecer a Igreja de
Deus. No desejo de verem as suas igrejas crescerem, desprezam o mais
eficiente método bíblico aprovado pela palavra de Deus, aceitando e envolvendo
outros nos “encontros”- modelos reprovados pela palavra de Deus. A tais
reuniões secretas do G12, são práticas semelhantes e usadas pelo

11
Idem.
12
Jornal “O Batista Baiano news”: Órgão oficial da Convenção Batista Baiana. Ano LXXI-nº40,
setembro/outubro de 2000, folha 11.
13

espiritismo...vem promovendo mudanças na liturgia das igrejas, permitindo seus


participantes tornarem seus cultos uma verdadeira confusão, onde a decência e
a ordem não mais existem. São novas heresias iguais a outras que tentam
eliminar a eficácia da morte de Jesus no Calvário. O G12 leva seus participantes
a pronunciamentos, confissões e até chegam à petulância de dizer que perdoam
a Deus. Lamentavelmente, alguns irmãos e até obreiros embriagaram-se com o
G12. É de vital importância a vigilância pelos nossos pastores para proteger o
rebanho do Senhor contra os exploradores, cuja visão, a “tremenda,” não é a
espiritual, mas é fatia comercial, com o objetivo de obter o já previsto por tais
aproveitadores. As práticas estranhas da quebra de maldição, cura interior e
regressão, acompanhadas de música indutiva, incentivando as pessoas à
técnica de “liberar” gritos, danças e urros, nunca fizeram parte do nosso culto a
Deus.13

Observemos que a palavra espiritismo no trecho que destacamos com o negrito tem um tom
pejorativo de desqualificação e inferiorização doutrinária. A comparação de um grupo protestante ao
espiritismo denota quão conservadora é a (CBB), e a forma da Convenção expor as práticas do G12
como sectárias radicaliza a sua postura doutrinária.
Muitas são as críticas ao método de evangelismo do G12, desde “movimento herético, ventos
de doutrinas, idéias de sociedade oculta, Seita “grupo dos 12” invade igrejas, técnicas aproximam-se
dos princípios da maçonaria”14, são os termos pejorativos em se tratando de religião que os líderes da
Assembléia de Deus denominaram o G12 no ano de 2000. Vale salientar que toda mística que
envolveu a virada para o segundo milênio, também influenciou a opinião de muitas lideranças
fundamentalistas nas denominações brasileiras. Para a estrutura das convenções a intensificação das
adesões de muitas lideranças locais foi entendida como uma grande onda de falsos avivamentos, um
grande perigo para o corpo de Cristo. “O movimento G12 começa a chamar a atenção das lideranças
por trazer a tona uma realidade preocupante: a facilidade que inúmeras seitas têm encontrado para
penetrar no meio evangélico brasileiro.”15

Considerações finais

Sobre as divergências doutrinárias entre grupos protestantes na contemporaneidade,


percebemos fissuras e um discurso desconexo e desqualificador quando se trata de novidades
doutrinárias que em alguma medida põem em cheque o poder das instituições, pois ao mesmo tempo

13
Pr. José Wellington Bezerra da Costa (presidente). Mensageiro da Paz: Órgão Oficial da Assembléias de Deus
no Brasil. Ano 70, nº1361 de 1 a 15 de maio de 2000. (p.10)
14
Mensageiro da Paz: Órgão oficial das Assembléias de Deus no Brasil. Ano 70, nº1358 de 16 a 31 de março de
2000. (p.4 e 5)
15
Ibidem.
14

em que há uma identificação quanto a ser evangélico no Brasil e um sentimento de fraternidade, por
outro lado, há uma série de disputas pela legitimidade de interpretar o texto bíblico suscitadas pela
Reforma Religiosa com o “sacerdócio universal” que transparecem à olhos observadores como uma
incompatibilidade doutrinária digna de sectarismos, cismas e dissidências religiosas.
A iniciativa de César Castellanos foi colocar no mercado religioso brasileiro mais uma forma de
evangelizar que se concretizou nas práticas religiosas das congregações locais em doutrinas próprias
que quando entraram em choque com os interesses das Convenções produziu dissidências religiosas,
além da multiplicação de templos e formas de ser protestante que não cabem na visão tradicional dos
protestantes históricos muito menos dos pentecostais tradicionais. Estes conflitos de representação, de
legitimidade de monopolizar os bens sagrados constitui a dinâmica do campo religioso brasileiro, além
de uma peculiaridade do cenário protestante brasileiro atual.

6. Referências bibliográficas

ANTONIAZZI, Alberto. Nem anjos nem demônios: interpretações sociológicas do pentecostalismo.


Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Editora perspectiva, 2005.
CHARTIER, Roger. A história Cultural: Entre práticas e Representações. Lisboa: DIFEL, 1990.
HOUTART, François. Mercado e Religião. São Paulo: Cortez Editora, 2002
MARIANO, Ricardo. Neopentecostais: Sociologia do Novo pentecostalismo no Brasil. 2ª ed. Edições
Loyola, São Paulo, 2005.
SILVA, Elizete da. Cidadãos de outra pátria: Anglicanos e Batistas na Bahia. São Paulo, 1998.
TEIXEIRA, Marli Geralda. “...Nós os Batistas” Um estudo de História das Mentalidades. São Paulo,
1983.

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