Progressos Cruciais Da Teologia
Progressos Cruciais Da Teologia
Progressos Cruciais Da Teologia
I. O PERÍODO PATRÍSTICO
i. Esclarecimento do termo.
O termo ―patrístico‖ vem da palavra latina pater, ―pai‖, e tanto designa o período referente
aos pais da igreja quanto as ideias características que se desenvolveram ao longo desse período. O
termo e não inclusivo; ainda não havia surgido na literatura algum termo inclusivo que fosse
aceitável por todos. Os termos a seguir relacionados são encontrados com frequência e devem ser
registrados.
• Período patrístico. Esse termo representa algo definido de forma vaga que frequentemente
é considerado como o período a partir do término dos documentos do Novo Testamento (c. 100) ate
o decisivo Concilio da Calcedônia (451).
• Patrístico. Normalmente, esse termo significa o ramo do estudo teológico que trata do
estudo dos ―pais‖ (patres) da igreja.
• Patrologia. Esse termo já significou literalmente ―o estudo dos pais da igreja‖, mais ou
menos, da mesma forma que ―teologia‖ significava ―o estudo de Deus‖ (theos). Entretanto, em anos
recentes, a palavra sofreu uma alteração em seu significado. Agora, ela se refere a manuais de
literatura patrística.
a. Teólogos Fundamentais
Justino Mártir
Justino talvez seja o maior dos Apologistas — escritores cristãos do século II, que se
dedicavam a defesa do cristianismo diante das intensas críticas de origem pagã. Justino, em sua obra,
Primeira apologia, defendeu que podem ser encontrados sinais da verdade cristã em grandes
escritores pagãos. Seria como afirmar que Deus havia preparado o caminho para sua revelação final
em Cristo por intermédio dos indícios de sua verdade, que estavam presentes na filosofia clássica.
Irineu de Lion
Ireneu e especialmente notável por sua defesa veemente da ortodoxia cristã, em face da
objeção apresentada pelo gnosticismo. Sua obra mais importante, ―Contra as Heresias‖ (adversus
haereses), representa uma defesa importante da compreensão cristã a respeito da salvação e,
especialmente, do papel da tradição em se manter fiel ao testemunho apostólico, diante de
interpretações não-cristas.
Orígenes
Orígenes, um dos mais importantes defensores do cristianismo do século III, forneceu uma
base importante para o desenvolvimento do pensamento cristão oriental. Suas contribuições mais
relevantes para o desenvolvimento da teologia cristã podem ser vistas em duas áreas principais.
Orígenes, no campo da interpretação bíblica, desenvolveu a noção de interpretação alegórica,
argumentando que se deveria fazer uma distinção entre o sentido superficial das escrituras e seu
sentido espiritual mais profundo. No campo da cristologia, Orígenes consolidou a tradição de se
distinguir entre a divindade plena do Pai e uma divindade limitada do Filho. Alguns estudiosos veem
o arianismo como consequência natural dessa abordagem. Orígenes também adotou, com algum
entusiasmo, a ideia de apocatastasis, segundo a qual toda criatura — incluindo tanto o ser humano
quanto Satanás — será salva.
Tertuliano
Ele defendeu a unidade do Antigo e do Novo Testamentos contra Marcião, que argumentava
que ambos se relacionavam a deuses distintos e, não, a um mesmo e único Deus. Ao fazer isso,
Tertuliano lançou as bases para a doutrina da Trindade. Ele se opunha intensamente ao fato de a
teologia ou a apologética cristãs tornar-se dependentes de fontes estranhas as Escrituras. Ele esta
entre os primeiros representantes mais influentes que defenderam o princípio da suficiência das
Escrituras, o qual condenava aqueles que recorriam as filosofias seculares para alcançar um
conhecimento verdadeiro de Deus.
Atanásio
Agostinho de Hipona
Ebionismo
O termo ebionitas deriva de uma palavra hebraica que significa ―pobres‖. Seita de judeus
cristãos, criam na salvação pela obediência à Lei de Moisés, rejeitavam os escritos de Paulo. Para
eles, Jesus era um profeta humano, o novo Moisés; era o filho de José que, ao ser batizado, foi
adotado como Filho de Deus por causa de sua obediência a Lei.
Gnosticismo
O gnosticismo foi uma filosofia religiosa altamente especulativa e sincrética que floresceu
no século II, reunindo elementos mitológicos, helenísticos, cristãos e outros. Na sua base estava um
dualismo radical que colocava em oposição o mundo espiritual e o mundo material. A salvação
consiste na libertação do espírito imortal aprisionado na matéria, para que retorne ao seu mundo
original divino. Para isso é necessário o conhecimento (em grego, gnosis), ou seja, a compreensão da
situação humana.
Docetismo
Docetismo, do verbo grego dókeo, ―parecer‖. Em virtude do seu desprezo pela matéria, os
docetistas negavam que Cristo tivesse um corpo real, dizendo que ele possuía apenas uma aparência
de corpo. Esse ensino, que questionava a encarnação e a morte de Cristo na cruz, é claramente
combatido tanto na literatura joanina do NT quanto nas cartas de Inácio de Antioquia.
Marcionismo
Montanismo
Monarquianismo
Não foi um movimento, mas um entendimento sobre a doutrina cristã de Deus. Contra
Trindade.
c. Progressos Cruciais da Teologia
A ampliação do cânon do Novo testamento.
Desde seu inicio, a teologia cristã reconhecia-se como algo que se fundamentava nas
Escrituras. Contudo, havia alguma incerteza em relação aquilo que o termo ―Escrituras‖, de fato,
designava. O período patrístico assistiu ao processo de decisão, no qual se fixaram os limites do
Novo Testamento — processo normalmente conhecido como ―fixação do cânon‖. A palavra ―cânon‖
necessita explicação. Ela deriva da palavra grega kanon e significa ―uma regra‖ ou ―um ponto fixo
de referencia‖. O ―cânon das Escrituras‖ refere-se a um conjunto restrito e definido de determinados
livros, os quais foram considerados de inspiração divina pela igreja cristã. O termo ―canônico‖ é
usado em relação aos livros aceitos como parte do cânon. Assim, faz-se referência ao evangelho de
Lucas como ―canônico‖, ao passo que se diz que o evangelho de Tomé é ―apócrifo‖ (isto é, não faz
parte do cânon).
Quais critérios foram utilizados na formação do cânon? O princípio básico parece ter sido o
do reconhecimento da autoridade, em vez de imposição da autoridade. Em outras palavras, os
documentos em questão eram reconhecidos como algo que já possuía autoridade, em vez de esta lhes
haver sido imposta de forma arbitraria. Para Ireneu, a igreja não cria o cânon; ela, fundamentado na
autoridade que já lhes é inerente, reconhece, conserva e recebe os escritos canônicos. Alguns dos
cristãos primitivos consideraram a autoria apostólica como um aspecto de importância decisiva;
outros estavam dispostos a aceitar livros que pareciam não ter as credencias apostólicas. Contudo,
embora os detalhes precisos sobre a forma como foi feita essa seleção ainda permaneçam incertos, e
certo que o cânon estava fechado, na igreja ocidental, até o início do século V. Essa questão não
seria mais levantada ate a época da Reforma.
O papel da tradição.
A expressão ―credo‖ vem da palavra latina, que apresenta a mesma grafia e cujo significado
e ―eu creio‖, expressão inicial do credo apostólico - , provavelmente, o mais conhecido de todos os
credos: ―Creio em Deus Pai todo-poderoso...‖. Esta expressão veio a significar uma referencia a
declaração de fé, que sintetiza os principais pontos da fé crista, os quais são compartilhados por
todos os cristãos. Por esse motivo, o termo ―credo‖ jamais é empregado em relação a declarações de
fé que sejam associadas a denominações especificas. Estas são geralmente chamadas de ―confissões‖
(como a Confissão Luterana de Augsburg ou a Confissão da Fé Reformada de Westminster). A
―confissão‖ pertence a uma denominação e inclui dogmas e ênfases especificamente relacionados a
ela; o ―credo‖ pertence a toda a igreja cristã e inclui nada mais, nada menos do que uma declaração
de crenças, as quais todo cristão deveria ser capaz de aceitar e observar. O ―credo‖ veio a ser
considerado como uma declaração concisa, formal, universalmente aceita e autorizada dos principais
pontos da fé cristã.
O período patrístico presenciou o surgimento de dois credos, que alcançaram
paulatinamente autoridade e respeito por toda a igreja. O estimulo para seu desenvolvimento parece
ter sido a necessidade de proporcionar uma síntese adequada da fé cristã, apropriada para ser
utilizada em ocasiões públicas, dentre as quais, talvez, a mais importante fosse o batismo. A igreja
primitiva costumava batizar seus convertidos no dia de Páscoa, usando o período de quaresma como
um tempo de preparação e instrução voltado para esse momento de profissão pública de fé e de
compromisso. Um requisito essencial era que cada convertido, que desejasse se batizar, deveria
declarar publicamente sua fé. Parece que os credos começaram a se sobressair como uma declaração
de fé homogênea, que os convertidos podiam utilizar nessas ocasiões.
O Credo Apostólico é provavelmente a forma de credo mais conhecida pelos cristãos
ocidentais. Ele se divide em três partes principais, que tratam, respectivamente, de Deus, de Jesus
Cristo e do Espirito Santo. Ha também conteúdos relacionados a igreja, ao juízo e a ressurreição.
O Credo Apostólico
O Credo Niceno é a versão mais longa do credo (mais especificamente conhecido como
―Credo Niceno Constantinopolitano‖), que inclui um conteúdo adicional relacionado a pessoa de
Cristo e a obra do Espirito Santo. Em resposta as controvérsias concernentes a divindade de Cristo,
esse credo introduz fortes declarações acerca de sua unidade com Deus, incluindo as expressões
―Deus de Deus‖ e ―consubstanciai ao Pai‖. Como parte integrante de sua polemica contra os arianos,
o Concilio de Niceia (junho/325) formulou uma breve declaração de fé, fundamentada em um credo
batismal, adotado em Jerusalém.
O Credo Niceno
Cremos em um só Deus, Pai onipotente (pantocrator), criador do céu e da terra, de todas as coisas
visíveis e invisíveis. Cremos em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, gerado do Pai
desde toda a eternidade, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado,
não criado, consubstanciai ao Pai (hom oousion to patri); por Ele todas as coisas foram feiras. Por
nós e para nossa salvação, desceu dos céus; encarnou por obra do Espirito Santo, no seio da
Virgem Maria, e fez-se verdadeiro homem. Por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; sofreu a
morte e foi sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras; subiu aos céus, e está
sentado a direita do Pai. De novo há de vir em glória, para julgar os vivos e os mortos; e o seu
reino não terá fim. Cremos no Espirito Santo, Senhor e Vivificador, que procede do Pai e do Filho,
que com o Pai e o Filho conjuntamente é adorado e glorificado, que falou através dos profetas. Crei
na Igreja uma, universal e apostólica, reconheço um só batismo para remissão dos pecados; e
aguardo a ressurreição dos mortos e da vinda do mundo vindouro.