Ontologia Na Modernidade
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RELIGIÃO
Introdução
As revoluções promovidas pelo advento do Renascimento e da filosofia ocidental
moderna abalaram as questões filosóficas sobre Deus, ao suscitarem novas
abordagens e critérios investigativos. No mundo pós-renascentista, novos para-
digmas alheios a supostas autoridades institucionais, incluindo as eclesiásticas,
passaram a suspeitar da subjetividade humana e a promover abordagens cada
vez mais racionalistas.
Na modernidade, os fundamentos da cristandade passaram então a ser con-
frontados pelo racionalismo, em sua metodologia cartesiana. A defesa da razão
à luz da virada antropológica do humanismo favorece, assim, uma atitude crítica
em relação à religião, desvinculada de tradições institucionais.
2 Deus e religião nos sistemas de pensamento modernos
O Renascimento e a Reforma
A Europa dos séculos XV e XVI passou por um intenso movimento de revisão e
renovação dos seus marcos epistemológicos. Foram significativas mudanças
que atingiram profundamente seu processo histórico, todas as dimensões
daquela sociedade e, por consequência, grande parte do mundo que estava
ligado à hegemonia europeia no Ocidente. Isso desencadeou uma generalizada
inquietação intelectual e questionamentos aos padrões da cultura medieval
definidos pela Igreja Católica.
Chamado de Renascimento dada a redescoberta e revalorização das
referências culturais da Antiguidade Clássica, esse movimento, além de
influenciar o mundo artístico, cultural e científico, mexeu no cenário ge-
opolítico e repropôs a compreensão religiosa, até então monopolizada
pela cristandade. O antropocentrismo entrou em rota de colisão com o
teocentrismo, à medida que a Igreja Católica ia perdendo também seu
alcance filosófico, diante das novas propostas reflexivas.
Adotando novos caminhos para a construção de uma ciência com base
na experimentação e observação da natureza, os pensadores e escritores
do Renascimento desenvolveram uma mentalidade criticamente propositiva
diante da passividade do medievalismo. Entre as características que devem
ser ressaltadas, destaca-se a questão da filosofia racionalista, “Descartes
pretende estabelecer um método universal, inspirado no rigor da matemática e
no encadeamento racional. Para ele o método é sempre matemático [...] conhe-
cimento completo e inteiramente dominado pela razão” (JAPIASSU, 2012, p. 105).
O racionalismo defende e propõe a explicação lógica das coisas e dos fenô-
menos a partir de postulados e axiomas para operar sobre eles dedutivamente,
dinamizando notavelmente a ciência. Com o advento da Idade Moderna, esse
modelo de Descartes (cartesiano) servirá às filosofias desenvolvidas como
instrumento de quantificação do mundo, mediação e fundamentação da certeza
de um método dedutivo, distinguindo-se do sistema transcendente de Platão
— em que conhecimento é uma reminiscência da contemplação de ideias — e
também da postura teológica de Santo Agostinho — iluminação divina.
Deus e religião nos sistemas de pensamento modernos 3
Não temerei dizer que penso ter tido muita felicidade de me haver encontrado,
desde a juventude, em certos caminhos, que me conduziram a considerações e
máximas, de que formei um método, pelo qual me parece que eu tenha meio de
aumentar gradualmente meu conhecimento, e de alçá-lo, pouco a pouco, ao mais
alto ponto, a que a mediocridade de meu espírito e a curta duração de minha vida
lhe permitam atingir (DESCARTES, 1973 p. 42).
Referências
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Leituras recomendadas
BITTENCOURT, J. A. Descartes e a morte de Deus. São Paulo: Paulus, 2015.
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