Epidemiologia e Saúde Pública

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Epidemiologia e Saú de Pú blica

UNIDADE I
Epidemiologia – Base Histórica

 A Epidemiologia é considerada a ciência básica da saúde coletiva.


 Podemos definir Epidemiologia como a abordagem dos fenômenos da saúde-doença:
a) por meio de quantificação, usando o cálculo matemático e técnicas de
amostragem e de análise;
b) fontes de dados e de informação válidas para o conhecimento sintético e
totalizante das situações de saúde das populações humanas.
 Classificações como Epidemiologia “clínica”, Epidemiologia “social”, Epidemiologia
“crítica” indicam a existência de compreensões diversas em relação à própria
identidade científica desta área.

Evolução da Epidemiologia até o século XIX

Hipócrates

 Médico grego que viveu há cerca de 2.500 anos,


dominou o pensamento médico da sua época e dos
séculos seguintes.
 As doenças para ele eram produto da relação complexa
entre a constituição do indivíduo e o ambiente que o
cerca.
 Hipócrates, o pai da Medicina, é considerado por alguns
o pai da Epidemiologia ou o primeiro epidemiologista.
 Ainda que possa concorrer para ações de caráter
individual, a inferência epidemiológica refere-se
substantivamente a coletivos, a grupos de indivíduos.
 Cada fenômeno epidemiológico tem seu significado.
 Sua caracterização não procede de mecanismos
dedutivos abstratos, mas é configurada a partir de
construídos, isto é, de conhecimentos acumulados.

Consenso atual – importância dos determinantes sociais de saúde:

 condições de vida e trabalho dos indivíduos e de grupos da população, relacionadas


com sua situação de saúde;
 esse consenso foi sendo construído ao longo da história.
Teoria Miasmática

Até a metade do século XIX predominava a teoria miasmática:

 a origem das doenças situava-se na má qualidade do ar, proveniente de


decomposições de animais e plantas;
 os miasmas passariam do doente para os indivíduos suscetíveis, o que explicaria a
origem das epidemias das doenças contagiosas.
 Ainda hoje o sobrenatural e os miasmas são utilizados por leigos como explicações
para as doenças, levando a numerosas práticas místicas em que avultam as danças e o
uso de amuletos para afastar danos à saúde.

John Graunt – Estatística Vital (1620-1674)

 Somente há cerca de três séculos alguns pioneiros iniciaram tal tipo de


abordagem mediante a utilização de dados de mortalidade (John
Graunt é considerado o pai da demografia ou das estatísticas vitais).
 Publicou um tratado sobre as tabelas mortuárias de Londres, no qual
analisou a mortalidade por sexo e região, ele selecionou determinadas
causas, como prematuridade e raquitismo para estimar a proporção de
crianças nascidas vivas e que morriam antes dos seis anos de idade.

Pierre Louis (1787–1872)

 Entre as suas obras encontram-se estudos sobre a tuberculose e sobre


a febre tifoide.
 Sua maior contribuição foi haver introduzido e divulgado o método
estatístico, utilizando-o na investigação clínica das doenças.
 Ao analisar as internações hospitalares em Paris e a letalidade da
pneumonia.
 Associado ao tratamento por sangria, revelou que a conduta era muito
mais perigosa do que benéfica para os pacientes.
Louis Villermé (1782–1863), William Farr (1807–1883), John Snow
(1813–1858)

 Louis Villermé (1782–1863) investigou a pobreza, as condições de trabalho e a


repercussão dessas circunstâncias sobre a saúde da população, realçando as estreitas
relações entre situação socioeconômica e mortalidade.
 William Farr: entre as suas contribuições, destacam-se uma classificação de doenças e
a produção de informações epidemiológicas sistemáticas, usadas para subsidiar o
planejamento das ações de prevenção e controle.
 John Snow: conduziu numerosas investigações para esclarecer a origem das epidemias
de cólera em Londres no período de 1849–1854. Foi assim que conseguiu incriminar o
consumo de água poluída como responsável e traçar os princípios de prevenção e
controle de novos surtos, válidos ainda hoje.

Louis Pasteur (1822–1895) e Robert Koch (1843-1910)

 Considerado o pai da Bacteriologia, foi uma das figuras mais importantes da ciência no
século XIX.
 Foi ele quem registrou as bases biológicas para o estudo das doenças infecciosas.
 Pasteur foi a figura central da microbiologia, pois identificou e isolou numerosas
bactérias, além de fazer trabalhos pioneiros de imunologia.
 Os trabalhos de Pasteur, seguidos pelos de Robert Koch criaram a impressão de que as
doenças poderiam ser explicadas por uma única causa, o agente etiológico, o que
passou para a história como a Teoria dos Germes.
 As pesquisas em Epidemiologia passaram a ter um forte componente laboratorial, pois
parecia evidente que a busca de agentes para explicar as doenças substituía, com
vantagens, a Teoria dos Miasmas.

Ecologia

 O conhecimento sobre a transmissão das doenças fez com que a teoria centrada nos
germes cedesse lugar a estudos sobre agente, hospedeiro e meio ambiente, baseada
na multicausalidade.
 A saúde passa a ser mais compreendida e entendida como uma resposta adaptativa do
homem ao meio ambiente que o circunda, e a doença como um desequilíbrio desta
adaptação, resultante de complexa interação de múltiplos fatores.
Situação atual

Epidemiologia clínica

 É o retorno da Epidemiologia ao ambiente estritamente clínico, de modo a verificar as


circunstâncias que possibilitam o aparecimento da doença. Utiliza-se da Epidemiologia
e Estatística, de modo a trazer maior rigor científico à prática da Medicina.

Epidemiologia social

 Estudo da determinação social da doença. O seu intuito é o de procurar melhor


entender a situação de saúde da população, em especial nas regiões subdesenvolvidas
– ou dos segmentos desfavorecidos da população.

História natural da doença

 É o nome dado ao conjunto de processos interativos, compreendendo as inter-


relações do agente, do suscetível e do meio ambiente que afetam o processo global e
seu desenvolvimento.

História natural de qualquer processo mórbido no homem

Fatores endógenos

 Herança
genética
 Anatomia e
fisiologia do
organismo
humano
 Estilo de vida

Fatores exógenos

 Determinantes
biológicos
 Determinantes
físico-químicos

Ambiente social:

 Determinantes
socioculturais

Variações na ocorrência de doenças no espaço e no tempo


Variações no Espaço

 Comparações entre continentes, entre partes de um continente, entre países, entre


regiões de um mesmo país, entre localidades ou partes de uma localidade podem
apresentar valores diferentes para os coeficientes estudados.

Variações no Tempo

 Comparações entre continentes, entre partes de um continente, entre países, entre


regiões de um mesmo país, entre localidades ou partes de uma localidade podem
apresentar valores diferentes para os coeficientes estudados.

Medidas de frequência de doença

 As medidas de frequência são definidas a partir de dois conceitos epidemiológicos


fundamentais
 denominados de prevalência e incidência.
 Prevalência define um número de casos existentes de uma doença em um dado
momento.

Há dois tipos de prevalência:

 Prevalência ponto – medida em cada pessoa no momento do estudo, embora não


necessariamente no mesmo momento para todas as pessoas na população definida.
 Prevalência período – refere-se aos casos presentes em qualquer momento durante
um período específico de tempo.
 Incidência mostra a frequência com que surgem novos casos de uma doença em um
intervalo de tempo (outras medidas como as de mortalidade, letalidade e sobrevida
podem ser entendidas como variações do conceito de incidência).

Coeficiente de incidência de AIDS segundo sexo, razão de sexo e ano de diagnóstico, estado
de São Paulo, 1980 a 1999

Amostragem
 Dificilmente conseguimos estudar todas as pessoas que têm ou podem desenvolver a
condição de interesse – AMOSTRA (isso traz uma questão: a amostra representa a
população?).

Há dois modos de se obter uma amostra representativa:

Amostragem aleatória simples:

 cada indivíduo da população tem igual probabilidade de ser selecionado.

Amostragem probabilística:

 cada pessoa tem uma probabilidade conhecida, (não necessariamente igual) de ser
selecionada.

Relação entre incidência, prevalência e duração da doença

A relação entre incidência, prevalência e duração da doença, em uma situação estável, isto é,
quando nenhuma das variáveis muda muito ao longo do tempo, é estimada pela expressão:

Prevalência = Incidência X Duração média da doença.

Caso ocorram mudanças nas variáveis:

 Incidência, número de novos eventos ou de casos novos em uma população de


indivíduos em risco durante um determinado período de tempo – IC (incidência
cumulativa), probabilidade de um indivíduo desenvolver a doença durante um período
específico de tempo pode ser chamada de RISCO.
 Como pode ser visto na Figura 1, no dia
1º de janeiro de 1997, cinco pacientes de
uma clínica hipotética (casos 1, 4, 6, 8 e
9) têm a doença X. Portanto, a
prevalência da doença X nessa
população em 1º de janeiro de 1997 é
5/100 = 0,05
 Esta quantidade também pode ser
expressa em percentual, 5% ou em outra
base numérica, como 50 por 1.000, 500
por 10.000 etc. Durante o período de 1º
janeiro a 31 de dezembro de 1997
ocorreram 5 novos casos (casos 2, 3, 5, 7
e 10) nessa clínica.
 Devido ao fato de que entre os 100
pacientes da clínica 5 já haviam
desenvolvido a doença X no início do
estudo (casos 1, 4, 6, 8 e 9), somente 95
estavam em risco de desenvolver a
doença durante 1997. Assim, a
incidência cumulativa da doença X em
1997 nessa clínica deve ser calculada
como sendo 5/95 = 0,053 ou 5,3% por
ano.
Sistemas de informação em saúde

A difusão da tecnologia no Brasil tornou possível:

 Acesso ágil a bases de dados com informações variadas e desagregadas sobre registros
de nascidos vivos, mortalidade, doenças de notificação, internações hospitalares, entre
outras.
 Dados podem ser analisados isoladamente ou relacionados, representam fontes
importantes que podem ser empregadas rotineiramente na pesquisa científica no
campo da saúde pública.

Sistemas de Informações sobre Mortalidade (SIM)

 Na década de 1970, o Ministério da Saúde (MS) promoveu em Brasília reunião com o


objetivo de implantar um Sistema de Vigilância Epidemiológica em nível nacional.
 Foi também aprovado o modelo único de Declaração de Óbito (DO) e definidos fluxo e
periodicidade dos dados a serem computados.
 Em 1999 foi implantado um novo software do SIM, SIM para Windows, o novo sistema
desenvolvido pelo Datasus facilita o processo, minimizando as inconsistências nas
bases de dados.

Indicadores

Entre os indicadores mais difundidos e mais frequentemente elaborados com dados do SIM,
combinados ou não com dados populacionais, destacam-se:

 mortalidade proporcional por causas;


 mortalidade proporcional por faixa etária;
 taxa ou coeficiente de mortalidade geral;
 taxa ou coeficiente de mortalidade por causas e/ou idade específicas;
 taxa ou coeficiente de mortalidade infantil;
 taxa ou coeficiente de mortalidade materna.
Sistema de Informações Sobre Nascidos Vivos – Sinasc

 Em 1989 foi realizado o Seminário Nacional sobre Informações, quando foram


estabelecidas as bases normativas e operacionais para um Sistema de Informações
sobre Nascidos Vivos, tendo em vista a importância dessas informações para a
construção de indicadores epidemiológicos.
 O objetivo do Sinasc é reunir informações epidemiológicas referentes aos nascidos
vivos em todo o território nacional, tendo como população-alvo toda a população
brasileira; sua abrangência geográfica é nacional, com detalhamento no nível estadual
e municipal (BRASIL, 2015).

Indicadores:

Entre os indicadores mais difundidos e mais frequentemente elaborados com dados do Sinasc,
combinados ou não com dados populacionais, destacam-se:

a) taxa bruta de fecundidade;


b) taxa bruta de natalidade;
c) taxa ou coeficiente de mortalidade infantil;
d) taxa ou coeficiente de mortalidade materna;
e) proporção de mães adolescentes;
f) proporção de partos cesáreos

Classificação internacional de doenças

 O uso internacional de uma classificação de doenças para codificar diagnósticos e


construir estatísticas permite que se façam comparações entre áreas diferentes,
inclusive entre vários países.
 A classificação deve ser abrangente para conter todos os diagnósticos possíveis e
satisfazer os locais onde a tecnologia e a atenção médica são bastante desenvolvidas,
como também locais sem essas características e onde os diagnósticos, algumas vezes,
ainda são expressos como sintomas ou sinais.
 Lista CID-10 publicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS)
 Consulta CID-10: são possíveis três formas de consultas à lista CID-10: em formato
Help para Windows, em formato HTML (pelo navegador da internet) e por um
programa de pesquisa por termos – Pesqcid.

Epidemiologia hospitalar

 O objetivo da vigilância epidemiológica hospitalar é detectar e investigar doenças de


notificação compulsória atendidas em hospital.
 A rede proposta na portaria contemplou 190 Núcleos Hospitalares de Epidemiologia
(NHE) em hospitais de referência no Brasil.
Para habilitação e para recebimento de recursos
financeiros do FIVEH, os serviços foram categorizados em
três níveis:

1. Nível I
 Hospital de referência regional com unidade de emergência e UTI.
 Hospital de fronteira internacional com no mínimo 50 leitos.
 Hospital geral ou pediátrico, universitário ou de ensino, com no mínimo 100
leitos.
2. Nível II
 Hospital geral ou pediátrico, universitário ou de ensino, com no mínimo 100
leitos.
 Hospital geral ou pediátrico, universitário ou de ensino, entre 100 e 250 leitos,
com unidade de emergência e UTI.
 Hospital especializado em Doenças Infecciosas com menos de 100 leitos.
3. Nível III
 Hospital especializado em Doenças Infecciosas com mais de 100 leitos.
 Hospital geral com mais de 250 leitos, com unidade de emergência e UTI.

Indicadores de Saúde

 Em geral, o termo “indicador” é utilizado para representar ou medir aspectos não


sujeitos à observação direta.

Os indicadores de saúde:

 medem a saúde;
 apresentam o risco de adoecer;
 apresentam o risco de morrer;
 mostram a gravidade ou fatalidade;
 mostram os grupos mais atingidos.

Expressão dos resultados

 Resultados expressos em frequência absoluta


 A forma mais simples de expressar um resultado é através do número absoluto.
Exemplo: em um determinado local foram detectados cinco casos de tuberculose
durante o ano.
 Mas a apresentação da frequência em números absolutos, por vezes, é suficiente para
causar o impacto desejado.
 Resultados expressos em frequência relativa
 Coeficiente (ou taxa).
 Nos coeficientes, o número de casos é relacionado ao tamanho da população da qual
ele procede.
 Estrutura de um coeficiente:


Em que:

 No numerador: os casos (de doença, incapacidade, óbito, indivíduos com


determinadas características etc).
 No denominador: a população sob risco (de adoecer, de se tornar incapacitada etc.). É
o grupo de onde vieram os casos.

Principais indicadores de saúde

Mortalidade

 O primeiro indicador utilizado em avaliações de saúde coletiva e ainda hoje o mais


empregado.
 A morte é objetivamente definida, ao contrário da doença, e cada óbito tem de ser
registrado.

Dados referentes à mortalidade infantil no ano de 2010, comparando o Brasil com outros
países, podem ser vistos na figura a seguir:

Morbidade

 Permite inferir os riscos de adoecer a que as pessoas estão sujeitas.

Deve-se avaliar:

 Tipo de agravo: há danos à saúde que evoluem com pior prognóstico do que outros.
 Restrição de atividades: muitas avaliações indiretas da gravidade do dano à saúde
baseiam-se na incapacidade funcional gerada pelo processo da doença.
 Taxa de ataque: é utilizada quando se investiga um surto de uma determinada doença
em um local onde há uma população bem definida.

Para calcular esta taxa, utiliza-se a seguinte fórmula:


Indicadores demográficos

 Os indicadores demográficos permitem aos demógrafos trabalhar os dados recolhidos


sobre uma população.
 O uso dos indicadores demográficos nos permite conhecer as características de uma
determinada população e sua evolução ao longo do tempo no território. (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE).
 Indicadores sociais: as condições socioeconômicas estão intimamente relacionadas à
saúde, de modo que são usadas como indicadores sanitários indiretos, como é o caso
da renda per capita, da distribuição da renda, da taxa de analfabetismo e da
proporção de crianças em idade escolar fora da escola.
 Indicadores ambientais: o grande desafio consiste em conciliar a preservação
ambiental com o aumento da demanda por água, energia elétrica e combustíveis.

Definição de Saúde e Qualidade de Vida

 A definição de saúde da Organização Mundial de Saúde – “um estado de completo


bem-estar físico, mental e social, e não meramente ausência de doença”.

Qualidade de vida – conceito é mais abrangente e pressupõe:

 existência de saúde,
 alimentação,
 habitação,
 higiene,
 bem-estar,
 educação etc.

Está relacionada com cada indivíduo, depende de:

 sexo;
 comportamento;
 idade;
 profissão;
 padrões culturais e religiosos.

UNIDADE II
Epidemiologia e Prevenção

Diagnóstico:
 Um teste diagnóstico geralmente é concebido como um exame realizado em
laboratório.
 O clínico também precisa se familiarizar com alguns princípios básicos para a
interpretação dos testes diagnósticos.

Acurácia do resultado do teste:

 Estabelecer um diagnóstico é um processo imperfeito, resultando em probabilidade e


não em certeza de estar correto.
 Na relação entre um teste diagnóstico e a ocorrência de doença, há duas
possibilidades de o resultado do teste ser correto (verdadeiro-positivo e verdadeiro-
negativo), e duas possibilidades de o resultado ser incorreto (falso-positivo e falso-
negativo).

Sensibilidade e Especificidade

 Sensibilidade é definida como a proporção de indivíduos com a doença, que têm um


teste positivo para a doença.
 Especificidade é a proporção dos indivíduos sem a doença, que têm um teste negativo.

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