Políticas de Saúde Pública
Políticas de Saúde Pública
Políticas de Saúde Pública
Brasília-DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO................................................................................................................................... 4
INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 7
UNIDADE ÚNICA
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA................................................................................................................ 9
CAPÍTULO 1
A HISTÓRIA DO NASCIMENTO DA POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE NO MUNDO............................... 9
CAPÍTULO 2
PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL............................................................................................ 18
REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 39
Apresentação
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Praticando
Atenção
5
Saiba mais
Sintetizando
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).
Avaliação Final
6
Introdução
A saúde, sendo uma esfera da vida de homens e mulheres em toda sua diversidade e singularidade, não
permaneceu fora do desenrolar das mudanças da sociedade nesse período. O processo de transformação
da sociedade é também o processo de transformação da saúde e dos problemas sanitários.
Nas últimas décadas, tornou-se mais e mais importante cuidar da vida de modo que se reduzisse
a vulnerabilidade ao adoecer e as chances de que ele seja produtor de incapacidade, de sofrimento
crônico e de morte prematura de indivíduos e população.
No Brasil, pensar outros caminhos para garantir a saúde da população significou pensar a
redemocratização do país e a constituição de um sistema de saúde inclusivo.
O tema abordado neste Caderno é muito amplo e envolve a história da Política de Saúde Pública no
Brasil. Nosso propósito é, portanto, mostrar alguns fatos que ilustram a evolução da Saúde no Brasil
do período imperial até o governo Lula. Um bom estudo para todos.
Objetivos
»» Compreender as políticas públicas de saúde no Brasil.
7
POLÍTICAS DE UNIDADE ÚNICA
SAÚDE PÚBLICA
CAPÍTULO 1
A história do nascimento da política
pública de saúde no mundo
A discussão do conceito de promoção da saúde tem como ponto de partida o próprio conceito de
saúde (CZERESNIA; FREITAS, 2003). Mas o que é um indivíduo saudável? O que é estar com
saúde? Para responder a essas perguntas é necessário ter um conceito de saúde e compreendê-lo
(MOTTA, 2000).
Segundo a Organização Mundial de Saúde, saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental
e social e, não, meramente, a ausência de doença e enfermidade. Essa afirmação também reforça a
ideia de que a saúde é um direito humano fundamental (HPA, 2004).
A VIII Conferência Nacional de Saúde, em 1986, define saúde como resultante das condições de
alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer,
acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde. Assim, antes de tudo, é o resultado das formas
de organização social da produção, as quais podem gerar dificuldades nos níveis de vida (MOTTA,
2000). Esta definição mostra que para se conseguir atingir um ótimo nível de saúde, é necessária a
ação conjunta de vários setores sociais e econômicos juntamente ao setor saúde.
Pode-se observar que a definição de saúde vem se ampliando, incorporando diversas dimensões da
vida humana. Mas, retomando a questão inicial: o que é um indivíduo saudável?
Esta é uma pergunta com resposta complexa, visto que a dificuldade de conceituar saúde é reconhecida
desde a Grécia antiga (COELHO; ALMEIDA FILHO, 2002). Mas qual será a causa dessa dificuldade
na definição de saúde? Fala-se e escreve-se muito sobre este tema nos meios científicos, na mídia e
no cotidiano; basta buscar em um site de buscas na Internet a palavra saúde, que serão encontradas
cerca de 4 milhões de páginas, somente na Língua Portuguesa, abordando o assunto. No entanto,
como pode um assunto tão discutido e estudados ser tão complexo?
9
UNIDADE ÚNICA │ POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA
Existe diversidade nas percepções e nas vivências do processo saúde/doença em cada contexto,
cada sociedade, cada ambiente, além de haver também a fantasia, o medo e o imaginário presente
nesse processo, já que a saúde é uma preocupação existencial humana. Cada sociedade tem um
discurso sobre saúde e doença e sobre o corpo, que corresponde à coerência ou às contradições
de sua visão de mundo e de sua organização social (BORGES, 2002). Assim, nota-se que
saúde, não é algo estático, um estado, mas um processo, algo dinâmico em constante mutação
(MOTTA, 2000).
Se é tão difícil definir saúde como definir, então, promoção da saúde? Procurando no dicionário
Houaiss, promoção pode significar: ato ou efeito de promover; ascensão a cargo, posto ou categoria
superior; diligência do promotor; venda de alguns artigos com preços mais baixos; qualquer atividade
(de propaganda, marketing, divulgação, relações públicas etc.) destinada a tornar mais conhecido e
prestigiado um produto, um serviço, uma marca, uma ideia, uma pessoa ou uma instituição.
Promoção da saúde é um conceito antigo, que vem sendo retomado e discutido nas últimas décadas,
principalmente a partir do Informe Lalonde, no início da década de 1970 (MOURA; GONÇALVES;
CÔRREA, 2002). É importante também lembrar que a ideia de promover saúde antecede o uso
explícito do termo (SOUZA; GRUNDY, 2004).
A Organização Mundial de Saúde define como promoção da saúde o processo que permite às pessoas
aumentar o controle e melhorar a sua saúde. A promoção da saúde representa um processo social e
político, não somente incluindo ações direcionadas ao fortalecimento das capacidades e habilidades
dos indivíduos, mas também ações direcionadas a mudanças das condições sociais, ambientais e
econômicas, para minimizar seu impacto na saúde individual e pública. Entende-se por promoção
da saúde o processo que possibilita às pessoas aumentar seu controle sobre os determinantes da
saúde e melhorar sua saúde, sendo a participação das mesmas essencial para sustentar as ações de
promoção da saúde (HPA, 2004).
As conceituações disponíveis para a promoção da saúde podem ser reunidas em dois grandes
grupos. No primeiro, consiste nas atividades dirigidas à transformação dos comportamentos dos
indivíduos, focando seus estilos de vida e localizando-os no seio das famílias e, no máximo, no
ambiente das culturas da comunidade em que se encontram (BUSS, 2000).
10
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE ÚNICA
1978 – Primeira Conferência Internacional sobre Atenção Primária de Saúde – Declaração de Alma
Ata.
1981 – A Organização Mundial de Saúde unanimemente adota uma estratégia global: “Saúde para
Todos no Ano 2000”.
Após esse breve histórico do campo da promoção da saúde, torna-se necessário descrever as estratégias-
chave da promoção da Saúde da Carta de Otawa, que foi o principal marco de referência da promoção
da saúde em todo o mundo (BECKER, 2001). Segundo Sheiham (2001), estas estratégias podem ser
assim resumidas.
11
UNIDADE ÚNICA │ POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA
Segundo a Health Promotion Agency for Northern Ireland – HPA (2004), os principais modelos e
teorias utilizados na promoção da saúde podem ser resumidos assim.
Outro ponto crucial que deve ser abordado é a necessidade da diferenciação entre os conceitos
de promoção, prevenção e educação em saúde que, muitas vezes, são utilizados simultaneamente
como se fossem sinônimos, ocasionando confusões até mesmo entre os profissionais de saúde
(SOUZA; GRUNDY, 2004). Essa diferenciação é bastante importante, pois, segundo Breilh
(1997), na ciência, uma distorção mil vezes repetida acaba convertendo-se em ingrediente de uma
interpretação da realidade.
A principal diferença encontrada entre prevenção e promoção está no olhar sobre o conceito
de saúde.Na prevenção, a saúde é vista simplesmente como ausência de doenças, enquanto, na
promoção, a saúde é encarada como um conceito positivo e multidimensional, resultando em
um modelo participativo de saúde na promoção em oposição ao modelo médico de intervenção
(FREITAS, 2003). Além disso, como observa Czeresnia (2003), a compreensão adequada do que
diferencia promoção de prevenção é justamente a consciência de que a incerteza do conhecimento
científico não é simples limitação técnica passível de sucessivas superações.
Para que se perceba a diferença entre educação em saúde e promoção da saúde faz-se necessário
o esclarecimento de tais conceitos, mesmo se reconhecendo as dificuldades inerentes a tal
esclarecimento. Pode-se afirmar que se entende por educação em saúde quaisquer combinações
de experiências de aprendizagem delineadas com vistas a facilitar ações voluntárias conducentes à
saúde, enquanto a promoção da saúde é uma combinação de apoios educacionais e ambientais que
visam a atingir ações e condições de vida conducentes à saúde (CANDEIAS, 1997).
Deve-se destacar também que a promoção de saúde adota uma gama de estratégias políticas que
abrange desde posturas conservadoras até perspectivas críticas ditas radicais ou libertárias. Sob a
ótica mais conservadora, seria um meio de direcionar indivíduos a assumirem a responsabilidade por
sua saúde, reduzindo o peso financeiro na assistência de saúde. Noutra via, reformista, a promoção
da saúde atuaria como estratégia para criar mudanças na relação entre os cidadãos e o Estado, pela
ênfase em políticas públicas e ação intersetorial ou, ainda, pode constituir-se numa perspectiva
12
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE ÚNICA
libertária que busca mudanças sociais mais profundas – como são as propostas de educação popular
(CASTIEL, 2004).
É importante que se reflita com cuidado antes de se afirmar que a promoção da saúde é fantástica
e fascinante como declara Saan (2001), pois, ao mesmo tempo em que pode ser, em seus aspectos
ideológicos, um empreendimento de natureza holística que, conectado a dinâmicas de transformação
social, demanda estratégias articuladas às necessidades sentidas, percebidas e desejadas pela
população (MELLO, 2000), pode também ser um instrumento de biopoder como afirma Guilam
(2003), isto é, o grande foco da educação e da promoção à saúde são os riscos relacionados aos
chamados estilos de vida. Indivíduos identificados como de alto risco para uma doença em particular
são encorajados a mudar aspectos de suas vidas e a monitorar seu comportamento. Este projeto é
dirigido no sentido de maximizar a sua própria saúde e minimizar o “peso” que o indivíduo possa
causar à sociedade (GUILAM, 2003).
Apresentamos fatos em saúde pública do Estado brasileiro com registros que datam do século
passado até os nossos dias. Apresentamos aos interessados, em aprofundar os estudos, uma
referência temporal indicando autores e legislações, sem esgotá-los, que podem nortear novos
estudos e novas pesquisas.
Para Polignano (s/d), a lógica do processo evolutivo sempre obedeceu à ótica do avanço do
capitalismo na sociedade brasileira, sofrendo a forte determinação do capitalismo com influência
internacional.
Ainda para o autor, a saúde nunca ocupou lugar central dentro da política do Estado brasileiro,
sendo sempre deixada na periferia do sistema, como uma moldura de um quadro, tanto no que diz
respeito à solução dos grandes problemas de saúde que afligem a população quanto na destinação
de recursos direcionados ao setor saúde.
O autor afirma, ainda, que de um modo geral os problemas de saúde tornam-se foco de atenção
quando se oferecem como epidemias e deixam de ter importância quando os mesmos se transformam
em endemias.
As ações de saúde propostas pelo governo sempre procuram agrupar os problemas de saúde que
atingem grupos sociais importantes de regiões socioeconômicas igualmente importantes dentro da
13
UNIDADE ÚNICA │ POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA
estrutura social vigente e, preferencialmente, tem sido direcionada para grupos organizados e em
detrimento de grupos sociais dispersos e sem uma eficaz organização.
Salles (1971) afirma que a ausência de profissionais médicos no Brasil Colônia e no Brasil Império
era assombrosa. Para se ter uma ideia, no Rio de Janeiro, em 1789, só existiam quatro médicos
exercendo a profissão. Em outros estados brasileiros eram inexistentes.
A ausência de uma assistência médica estruturada fez com que proliferassem pelo país os Boticários
(farmacêuticos).
Salles (1971) esclarece-nos que aos boticários cabiam a manipulação das fórmulas prescritas pelos
médicos, mas a verdade é que eles próprios tomavam a iniciativa de indicá-los, fato comum até hoje
(lembramos que essa prática não é permitida).
Em 1808, Dom João VI fundou, na Bahia, o Colégio Médico – Cirúrgico no Real Hospital Militar da
Cidade de Salvador. No mês de novembro do mesmo ano foi criada a Escola de Cirurgia do Rio de
Janeiro, anexa ao real Hospital Militar.
No período de 1897 até 1930, os assuntos relacionados à saúde, como funções públicas, eram
tratados no Ministério da Justiça e Negócios Interiores, em específico, na Diretoria Geral de
Saúde Pública.
Médice (1994) relata que a assistência à saúde ofertada pelo Estado até a década de 1930 estava
limitada às ações de saneamento e de combate às endemias. É também dessa época o surgimento e
o desenvolvimento do chamado sanitarismo campanhista, fortemente presente até o final da década
de 1940.
Ainda para o autor, tal política visava a dar apoio ao modelo econômico agrário-exportador,
garantindo condições de saúde para os trabalhadores empregados na produção e na exportação.
14
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE ÚNICA
As campanhas visavam ao combate de endemias, tais como a peste, a cólera, a varíola, entre outras.
Progressivamente, o Estado vai acentuando sua intervenção no setor saúde e, após a Segunda Guerra
Mundial, passa a assumir obrigações financeiras no que se refere à assistência à saúde da população.
Quadro sanitário
A falta de um modelo sanitário para o país deixava as cidades brasileiras a mercê das epidemias.
No início do século XX, a cidade do Rio de Janeiro apresentava um quadro sanitário caótico,
caracterizado pela presença de diversas doenças graves que acometiam à população, como a varíola,
a malária, a febre amarela e, posteriormente, a peste, o que acabou gerando sérias consequências
tanto para a saúde coletiva quanto para outros setores, como o do comércio exterior, pois os navios
estrangeiros não mais queriam atracar no porto do Rio de Janeiro, em função da situação sanitária
existente na cidade (ou a falta de uma política sanitária).
Devido a essa recusa dos navios estrangeiros de atracarem no porto do Rio de Janeiro, Rodrigues
Alves, então presidente do Brasil, nomeou Oswaldo Cruz, como Diretor do Departamento Federal de
Saúde Pública, que se propôs a erradicar a epidemia de febre amarela na cidade do Rio de Janeiro.
Foi criado um verdadeiro exército de 1.500 pessoas que passaram a exercer atividades de desinfecção
no combate ao mosquito, vetor da febre amarela. A falta de esclarecimentos e as arbitrariedades
cometidas pelos “guardas sanitários” causaram revolta na população do Rio de Janeiro.
Segundo Polignano (s/d), esse modelo de intervenção ficou conhecido como campanhista e foi
concebido dentro de uma visão militar em que os fins justificam os meios, e no qual o uso da força e
da autoridade eram considerados os instrumentos preferenciais de ação.
O autor afirma que a população, com receio das medidas de desinfecção, trabalho realizado pelo
serviço sanitário municipal, revoltou-se tanto que, certa vez, o próprio presidente Rodrigues Alves
chama Oswaldo Cruz ao Palácio do Catete, pedindo-lhe para, apesar de acreditar no acerto da
estratégia do sanitarista, não continuar queimando os colchões e as roupas dos doentes.
A insatisfação agrava-se com outra medida de Oswaldo Cruz, a Lei Federal no 1.261, de 31 de
outubro de 1904, que instituiu a vacinação antivaríola obrigatória para todo o território nacional.
Passa a existir, então, um grande movimento popular de revolta que ficou conhecido na história como
a revolta da vacina.
Ainda para o autor, apesar das arbitrariedades e dos abusos cometidos, o modelo campanhista obteve
importantes vitórias no controle das doenças epidêmicas, conseguindo inclusive erradicar a febre
amarela da cidade do Rio de Janeiro, o que fortaleceu o modelo proposto e o tornou hegemônico
como proposta de intervenção na área da saúde coletiva durante décadas.
Nessa ocasião, Oswaldo Cruz buscou organizar a Diretoria Geral de Saúde Pública, instituindo
uma seção demográfica, um laboratório bacteriológico, um serviço de engenharia sanitária e de
profilaxia da febre amarela, a inspetoria de isolamento e desinfecção e o instituto soroterápico
federal, posteriormente transformado no Instituto Oswaldo Cruz.
15
UNIDADE ÚNICA │ POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA
Na reforma gerada por Oswaldo Cruz foram congregados como elementos das ações de saúde:
Foram criados órgãos especializados na luta contra a tuberculose, a lepra e as doenças venéreas. A
assistência hospitalar, infantil e a higiene industrial destacaram-se como problemas individualizados.
Expandiram-se as atividades de saneamento para outros estados, além do Rio de Janeiro, e criou-se
a Escola de Enfermagem Anna Nery.
Mendes (1992) afirma que enquanto a sociedade brasileira esteve dominada por uma economia
agroexportadora, assentada na monocultura cafeeira, o que se exigia do sistema de saúde era, sobretudo,
uma política de saneamento destinada aos espaços de circulação das mercadorias exportáveis e a
erradicação ou o controle das doenças que poderiam prejudicar a exportação. Por essa razão, desde o
final do século passado até o início dos anos 1960, predominou o modelo do sanitarismo campanhista.
O autor afirma, ainda, que, gradualmente, com o controle das epidemias nas grandes cidades
brasileiras, o modelo campanhista voltou suas ações para o campo e para o combate das denominadas
endemias rurais, devido ser a agricultura a atividade hegemônica da economia da época. Esse
modelo de atuação foi amplamente utilizado pela Sucam, no combate a diversas endemias (Chagas,
esquistossomose e outras), sendo esta, em seguida, unificada à Fundação Nacional de Saúde.
16
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE ÚNICA
Fonte: Funasa.
17
CAPÍTULO 2
Previdência Social no Brasil
Belinati (1986-1992), apoiado em historiadores, cita que, no período de 1923 a 1933, foram criadas
183 Caixas de Aposentadorias e Pensão. A partir de 1933, surgiram os Institutos de Aposentadorias
e Pensões (IAP), entidades de grande porte, envolvendo os trabalhadores agrupados por ramos de
atividades. Tais institutos foram o IAPTEC (para trabalhadores em transporte e cargas), IAPC (para
comerciários), IAPI (industriários), IAPB (bancários), IAPM (marítimos e portuários) e IPASE
(servidores públicos). O modelo inicial da assistência médica não era universal e baseava-se nos
vínculos trabalhistas. Esses benefícios incluíam direito aos benefícios somente aos trabalhadores
que contribuíam para a Previdência, ou seja, aqueles “com carteira assinada”.
Em 1930, foi criado o Ministério da Educação e Saúde. As atenções predominantes dos governos até
então, estavam voltadas às ações de caráter coletivo. A partir dessa década a ênfase governamental
começa a se deslocar para a assistência médica individual.
Em 1948, durante o mandato do General Eurico Gaspar Dutra, o governo federal formula o Plano
SALTE (Saúde, Alimentação, Transporte e Energia). Em 1953, ainda sob a influência do Plano,
foi criado o Ministério da Saúde (MS), que se dedica às atividades de caráter coletivo, como as
campanhas e a vigilância sanitária. À época e paralelamente, a assistência médica cresce e se
desenvolve no âmbito das instituições previdenciárias. Já se percebia a necessidade de garantir a
manutenção e a reprodução da força de trabalho cada vez mais urbana e fabril, ciclo iniciado em
1930. Donnangelo, apud CORDONI JÚNIOR (1979), caracteriza o desenvolvimento da assistência
médica no seio das instituições previdenciárias como instrumento para amenizar tensões sociais e
controlar a força de trabalho
Em 1966, da fusão dos IAPs originou-se o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) que
uniformizou e centralizou a previdência social. Nessa década, a previdência social firmou-se como
principal órgão de financiamento dos serviços de saúde. Médice (1994) e Mendes (1996) concordam
que aconteceu uma concentração das políticas de saúde com extensão da cobertura assistencial.
18
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE ÚNICA
Para Mendes (1993), a assistência médica individualizada passou a ser dominante e a política
privilegiou a privatização dos serviços e estimulou o desenvolvimento das atividades hospitalares.
O processo de industrialização acelerado observado a partir do Presidente Juscelino Kubitschek de
Oliveira fortaleceu a economia dos centros urbanos e gerou força de trabalho a ser atendida pelo
sistema de saúde.
Cordoni Júnior (1996) afirma que tal fato aprofunda a necessidade de o Estado atuar na saúde do
trabalhador, mantendo e restaurando sua capacidade produtiva. A expansão da medicina hospitalar
é apontada pelo autor. Em 1970, foram internados 2,9% da população brasileira, passando para 9,7%
em 1980.
Em 1974 surge o Plano de Pronta Ação (PPA) e o Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social (FAS)
para enfrentar a crescente demanda curativa. O FAS, fundo de recursos públicos, emprestava
dinheiro a juros subsidiados. Tais recursos eram utilizados predominantemente para a construção
de hospitais privados. Estes garantiam o retorno do capital mediante credenciamento junto ao INPS.
A primeira tentativa de regulamentação do papel dos municípios na política de saúde data de 1975,
com a Lei no 6.229, de 17 de julho de 1975. Tratando da organização do Sistema Nacional de Saúde,
19
UNIDADE ÚNICA │ POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA
O conceito de APS foi, inicialmente, desenvolvido apenas no Nordeste, mas alcançou, anos
mais tarde, abrangência nacional. Em 1977, o governo cria o Sistema Nacional de Previdência e
Assistência Social (SINPAS), por meio da Lei no 6.439/1977. As seguintes instituições compunham
o SINPAS: 1) Instituto Nacional de Previdência Social (INPS); 2) Instituto Nacional de Assistência
Médica da Previdência Social (INAMPS); 3) Fundação Legião Brasileira de Assistência (LBA); 4)
Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM); 5) Empresa de Processamento de Dados
da Previdência Social (DATAPREV); 6) Instituto de Administração Financeira da Previdência e
Assistência Social (IAPAS); e 7) a Central de Medicamentos (CEME).
Já para Mendes (1993), o novo arcabouço sugerido pelo SINPAS, a assistência médica, continuava a
ser prestada notadamente mediante contrato com setor privado com os recursos da previdência. O
conjunto de políticas públicas da década de 1970 levou a um modelo médico-assistencial privatista,
acordado no Estado como grande financiador e, no setor privado nacional, como o maior prestador,
tendo o setor privado internacional como o mais significativo produtor de insumos.
Almeida (1979) afirma que, em 1977, o Ministério da Saúde já reconhecia que o papel principal da
esfera municipal era o de estruturar uma rede de serviços básicos dentro dos princípios da atenção
primária, mas, à época, nenhum passo palpável foi dado por ele nesta direção. O primeiro encontro
municipal do setor saúde, realizado em Campinas em, maio de 1978, concluiu pela atenção primária
à saúde como prioridade dos municípios, deixando os casos mais complexos (atendimentos
secundários e terciários) para a União e para os estados.
20
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE ÚNICA
Ainda segundo o autor, em maio de 1980, na VII Conferência Nacional de Saúde, surgem as ideias
que iriam ganhar forma em um programa racionalizador do INAMPS, batizado PREVSAÚDE,
com o objetivo de generalizar o desempenho obtido com o Programa PIASS voltado à assistência
primária. Esse Programa, segundo Médice, não saiu das gavetas em função da crise econômica da
previdência, que se iniciou em 1981.
O modelo curativo dominante começa a ser abalado. Esse plano atuou sobre a racionalização das
contas com os gastos hospitalares dos serviços contratados com o Sistema de Assistência Médico-
Hospitalar da Previdência Social (SAMHPS), pondo fim à modalidade em uso, denominada
pagamento por unidade de serviço. Assim, o Plano refere-se também ao aproveitamento da
capacidade instalada de serviços ambulatoriais públicos.
Goulart (1996) afirma que, como consequências do Plano do CONASP, visando conseguir uma
maior e melhor utilização da rede pública de serviços básicos, em 1982, foram firmados convênios
trilaterais envolvendo os Ministérios da Previdência Social, Saúde e Secretarias de Estado de Saúde,
os quais posteriormente foram substituídos pelas Ações Integradas de Saúde (AIS), com o objetivo
da universalização da acessibilidade da população aos serviços de saúde. Essa proposta abriu a
possibilidade de participação dos estados e, principalmente, municípios na política nacional de saúde.
Segundo Cordoni Júnior e Cohn e Elias (1986), a implementação das AIS, representou o passo
inicial para o processo de descentralização na saúde. Os autores afirmam que as AIS incorporaram
os serviços estaduais e municipais à rede de serviços pagos pelo INAMPS integrando as esferas de
governo em comissões interinstitucionais de saúde. Os convênios foram um marco na instituição da
gestão colegiada nas diversas esferas de governo e na responsabilização dos municípios como porta
de entrada do sistema. Assim, para Mendes, os recursos da saúde começaram a ser desconcentrados.
Para Santos (1994), os repasses de encargos e dos recursos foram vinculados a compromissos
assumidos perante a União. Essa desconcentração foi caracterizada pela transferência de “recursos
carimbados” aos municípios, eventualmente, até contrários às prioridades locais. Entretanto as AIS,
com a ideia de gestão colegiada e na sequência, o Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde
(SUDS), de 1987, começaram a por em prática os ideais da Reforma Sanitária. Este com restrições:
enquanto as AIS representaram um movimento de estímulo à municipalização, o SUDS representou
uma re-centralização nas mãos das secretarias estaduais de saúde.
O SUDS não causou maiores estragos à descentralização porque foi de curta duração (de 1987
a 1990) e o movimento político pró-municipalização estava bastante fortalecido, como ilustra o
parágrafo seguinte.
21
UNIDADE ÚNICA │ POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA
A Constituição Federal de 1988 deu nova forma à saúde no Brasil, estabelecendo-a como direito
universal. A saúde passou a ser dever constitucional de todas as esferas de governo, sendo que
antes era apenas da União e relativo ao trabalhador segurado. O conceito de saúde foi ampliado e
vinculado às políticas sociais e econômicas. A assistência é concebida de forma integral (preventiva
e curativa). Definiu-se a gestão participativa como importante inovação, assim como comando e
fundos financeiros únicos para cada esfera de governo.
As Leis no 8.080/1990 e a no 8.142/1990 são singularmente relevantes para o novo modelo, uma
espécie de estatuto da saúde no Brasil. A Lei no 8.080/1990 sedimenta as orientações constitucionais
do Sistema Único de Saúde. A Lei no 8.142/1990 trata do envolvimento da comunidade na condução
das questões da saúde, criando as conferências e os conselhos de saúde em cada esfera de governo
como instâncias colegiadas orientadoras e deliberativas, respectivamente. Segundo Brasil SUS
(1990), as conferências, instaladas de quatro em quatro anos, têm a participação de vários segmentos
sociais; nelas são definidas as diretrizes para a formulação da política de saúde nas respectivas
esferas de governo. A Lei no 8.142/1990 também define as transferências de recursos financeiros
diretamente de fundo a fundo sem a necessidade de convênios, como, por exemplo, as transferências
diretas do Fundo Nacional de Saúde para Fundos Estaduais e Municipais.
As normas operacionais editadas pelo MS, em 1991, 1993 e 1996, também devem ser destacadas pela
sua importância na orientação do novo modelo, inclusive nos aspectos do financiamento (BRASIL,
1991, 1993, 1996).
Em 13 de setembro de 2000, foi promulgada a Emenda Constitucional no 29, com o objetivo de definir
a forma de financiamento da política pública de saúde de maneira vinculada à receita tributária.
22
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE ÚNICA
No começo dos anos 1980, a sociedade brasileira, ao mesmo tempo em que vivenciou um processo
de redemocratização política superando o regime ditatorial instaurado em 1964, experimentou
uma densa e demorada crise econômica que persistia em não passar. As decepções com a transição
democrática ocorreram, principalmente, com seu circuito conservador após 1988, não se traduzindo
em ganhos materiais para a massa da população.
Portanto, as principais propostas debatidas por esses sujeitos coletivos foram a universalização
do acesso; a concepção de saúde como direito social e dever do Estado; a reestruturação do setor
através da estratégia do Sistema Unificado de Saúde tendo em vista um profundo reordenamento
setorial com um novo olhar sobre a saúde individual e coletiva; a descentralização do processo
decisório para as esferas estadual e municipal; o financiamento efetivo e a democratização do poder
local por meio de novos mecanismos de gestão – os Conselhos de Saúde.
Bravo (2001) afirma que, o fato marcante e fundamental para a discussão da questão Saúde no
Brasil ocorreu na preparação e na realização da 8a Conferência Nacional de Saúde, realizada em
março de 1986, em Brasília – Distrito Federal. O temário central abordou sobre: I A Saúde como
23
UNIDADE ÚNICA │ POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA
A 8a Conferência, numa articulação bem distinta das anteriores, contou com a participação de
cerca de 4.500 pessoas, entre as quais mil delegados. Representou, inegavelmente, um marco,
pois inseriu no cenário da discussão da saúde a sociedade. Os debates saíram dos seus fóruns
específicos (ABRASCO, CEBES, Medicina Preventiva, Saúde Pública) e assumiram outra dimensão
com a participação das entidades representativas da população: moradores, sindicatos, partidos
políticos, associações de profissionais, parlamento. A questão da saúde ultrapassou a análise
setorial, referindo-se à sociedade como um todo, propondo-se não somente o Sistema Único, mas
a Reforma Sanitária.
A proposta de emenda popular apresentada por Sérgio Arouca, indicado pela plenária de Saúde
para defendê-la no Plenário da Constituinte, foi assinada por mais de 50 mil eleitores, representando
167 entidades.
O texto constitucional, com relação à Saúde, após vários acordos políticos e pressão popular, acolhe
em grande parte às reivindicações do movimento sanitário, prejudica os interesses empresariais do
setor hospitalar e não altera a situação da indústria farmacêutica.
24
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE ÚNICA
O texto constitucional inspira-se nas conjecturas defendidas durante vários anos pelo movimento
sanitário, todavia, não foi possível atender todas as questões quando elas se confrontavam com
interesses empresariais ou de setores do próprio governo. As questões centrais sobre financiamento
do novo sistema permaneceram pouco definidas, não tendo sido colocado um percentual sobre
os orçamentos dos quais se origina. Com relação aos medicamentos, há apenas uma menção à
competência do sistema de saúde para fiscalizar sua produção. A saúde do trabalhador não contemplou
propostas como o direito do trabalhador recusar-se a trabalhar em locais comprovadamente
insalubres, bem como de ter informações sobre toxidade dos produtos manipulados.
A análise da política de saúde na década de 1980 tem como aspectos principais, segundo Teixeira
(1989: 50-53): a politização da questão saúde; a alteração da norma constitucional; a mudança do
arcabouço e das práticas institucionais.
A politização da saúde foi uma das primeiras metas a serem praticadas com o objetivo de aprofundar o
nível da consciência sanitária, alcançar visibilidade necessária para inclusão de suas ações na agenda
governamental e avalizar o apoio político à prática das mudanças necessárias. A 8a Conferência foi
o acontecimento mais importante nesta direção.
Bravo afirma que a alteração do arcabouço e das práticas institucionais foi alcançada por meio
de algumas medidas que apontaram o fortalecimento do setor público e a universalização do
atendimento; a redução do papel do setor privado na prestação de serviços à Saúde; a descentralização
política e administração do processo decisório da política de saúde e a execução dos serviços ao nível
local, que culminou com a criação do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS), em
1987, e em seguida, em 1988, Sistema Único de Saúde (SUS), passo mais avançado na reformulação
administrativa no setor. Estes conceitos tiveram, no entanto, pouco impacto na melhoria das
condições de saúde da população, pois era imperativa a sua operacionalização, não ocorreu. Além dos
limites estruturais que envolvem um processo de tal ordem, as forças progressistas comprometidas
com a Reforma Sanitária passaram, desde 1988, a perder espaços na coalizão governante e, por
consequência, no interior dos aparelhos institucionais. O retrocesso político do governo da transição
democrática repercute na saúde, tanto no aspecto econômico quanto no político.
Portanto, no final da década de 1980, já havia algumas dúvidas e incerteza com relação à implantação
do Projeto de Reforma Sanitária podendo-se destacar: a fragilidade das medidas reformadoras em
curso; a ineficácia do setor público; as tensões com os profissionais de saúde; a redução do apoio
popular em face da ausência de resultados concretos na melhoria da atenção à saúde da população
brasileira; a reorganização dos setores conservadores contrários à reforma que passam a dar a
direção no setor.
25
UNIDADE ÚNICA │ POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA
A burocratização da reforma sanitária, segundo Fleury (1989), afasta a população da cena política,
despolitizando o processo. A concretização da reforma tem dois elementos em tensão: o reformador
– imperativo para transformar instituições e processos, e o revolucionário – questão sanitária, só
superada com a alteração efetiva nas práticas e na qualidade de saúde da população. Considera-se
que a edificação democrática é a única via para se alcançar a Reforma Sanitária e, a mobilização
política, uma de suas táticas, sendo o desafio depositado para os setores progressistas da Saúde que
deveria ser viabilizado na década de 1990.
O nascimento do SUS
Segundo Polignano (s/d), a constituinte de 1988, no capítulo VIII da Ordem Social e na seção
II referente à Saúde, define, no art. 196, que: “A saúde é direito de todos e dever do Estado,
garantindo mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de
outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção
e recuperação”.
O texto constitucional explana claramente que a concepção do SUS está baseada na formulação de
um modelo de saúde voltado para as necessidades da população, procurando resgatar o acordo do
Estado para com o bem-estar social, principalmente no que refere à saúde coletiva, consolidando-o
como um dos direitos da cidadania. Esta narrativa reflete o momento político porque passava a
sociedade brasileira, recém saída de uma ditadura militar onde a cidadania nunca foi um princípio
de governo. Embalada pelo movimento das Diretas Já, a sociedade procurava garantir na nova
constituição os direitos e os valores da democracia e da cidadania.
O autor afirma que a despeito do SUS ter sido definido pela Constituição de 1988, ele somente foi
regulamentado em 19 de setembro de 1990, pelada Lei no 8.080. Esta lei define o modelo operacional
do SUS, propondo a sua forma de organização e de funcionamento Algumas destas concepções
serão expostas a seguir.
26
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE ÚNICA
O Sistema Único de Saúde é idealizado como o conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por
órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da administração direta e indireta e
das fundações mantidas pelo Poder Público.
27
UNIDADE ÚNICA │ POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA
A Lei no 8.080 estabeleceu que os recursos destinados ao SUS fossem provenientes do Orçamento
da Seguridade Social.
A lei, em outro artigo, estabelece a forma de repasse de recursos financeiros a serem transferidos
para estados e municípios, e que deveriam ser baseados nos seguintes critérios: perfil demográfico;
perfil epidemiológico; rede de serviços instalada; desempenho técnico; ressarcimento de serviços
prestados.
Apesar das dificuldades enfrentadas, pode-se afirmar que a atenção primária do SUS apresentou
progressos significativos no setor público, mas enfrenta problemas graves com o setor privado,
que detém a maioria dos serviços de complexidade e referência em níveis secundário e terciário.
Estes setores não se interessam em integrar o modelo atualmente vigente, em virtude da baixa
remuneração paga pelos procedimentos médicos executados, o que vem inviabilizando a proposta
de hierarquização dos serviços.
28
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE ÚNICA
»» baixos valores pagos pelo SUS aos diversos procedimentos médicos hospitalares;
Como analisar e compreender toda esta complexa realidade do setor de saúde no país?
A análise que fazemos do governo Lula é que a política macroeconômica do antigo governo foi
mantida e as políticas sociais estão partidas e subordinadas à lógica econômica. Nessa setorização,
a concepção de seguridade social não foi aquilatada, mantendo a segmentação das três políticas:
saúde, assistência social e previdência social.
Segundo Bravo (2001), com relação à saúde, havia uma expectativa que o governo Lula fortalecesse o
projeto de reforma sanitária que foi questionado nos anos 1990, havendo, no período, a consolidação
do projeto de saúde articulado ao mercado ou privatista.
O governo Lula, apesar de explicitar como desafio a incorporação da agenda ético-política da reforma
sanitária, pelas suas ações manteve a polarização entre os dois projetos. Em algumas proposições,
procurou fortalecer o primeiro projeto e, em outras, mantém o segundo projeto, quando as ações
enfatizam a focalização e o desfinanciamento.
Para tornar mais claras essas afirmações, tentamos explicitar alguns aspectos de inovação e outros
de continuidade do governo Lula que têm relação com os dois projetos em disputa.
29
UNIDADE ÚNICA │ POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA
Segundo Bravo (2001), como aspectos de inovação da política de saúde do governo Lula cabe ressaltar:
o retorno da concepção de Reforma Sanitária que, nos anos 1990, foi totalmente abandonada; a
escolha de profissionais comprometidos com a luta pela Reforma Sanitária, para ocupar o segundo
escalão do Ministério; as alterações na estrutura organizativa do Ministério da Saúde, sendo criadas
quatro secretarias e extintas três; a convocação extraordinária da 12a Conferência Nacional de
Saúde e a sua realização em dezembro de 2003; a participação do ministro da saúde nas reuniões
do Conselho Nacional de Saúde; e a escolha do representante da CUT para assumir a secretaria
executiva do Conselho Nacional de Saúde.
A 12a Conferência Nacional de Saúde (CNS) teve como objetivo definir orientações para o plano
plurianual de saúde do governo e as principais diretrizes a serem incorporadas ao sistema de saúde.
Como tática central da mesma foi ressaltada a necessidade de equacionar os graves problemas do
SUS, com destaque para a área de Recursos Humanos e Qualidade dos Serviços.
Segundo Bravo (2001), tal fato não ocorreu apesar de alguns esforços de membros do Ministério da
Saúde e de algumas entidades2. A inovação fundamental da Conferência poderia ter sido com relação
1 NOB é a abreviatura de Norma Operacional Básica, que trata da edição de normas operacionais para o funcionamento e a
operacionalização do SUS de competência do Ministério da Saúde, tendo sido editadas até hoje: a NOB-SUS 01/91, NOB-SUS
01/93, NOB-SUS 01/96, e que serão mencionadas em outras partes deste texto.
2
No ano de 2003, foram realizados três eventos importantes que tiveram um papel de pré-conferência, a saber: o 5o Congresso
Nacional da Rede Unida, o 7o Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva e o 41o Congresso Brasileiro de Educação Médica. No
mesmo ano também ocorreram as Conferências Nacionais de Medicamentos e Assistência Farmacêutica. Em 2004, foram
realizadas as Conferências Nacionais de Saúde Bucal e Ciência e Tecnologia na Saúde. Em 2005, ocorreram a Conferência de
Saúde do Trabalhador e, em 2006, a Conferência de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde.
30
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE ÚNICA
Esse fato tem sérias consequências como, por exemplo, a falta de debate para a votação das propostas
e, principalmente, a não influência das deliberações da conferência na elaboração das diretrizes a
serem seguidas na política de saúde. A convocação da conferência não conseguiu ser um mecanismo
de democratização da política de saúde.
Referente a política de saúde dos anos 1990, ressaltamos, no governo Lula, a ênfase na focalização,
na precarização, na terceirização dos recursos humanos, no desfinanciamento e a falta de vontade
política para viabilizar a concepção de Seguridade Social, como já foi sinalizado. Como exemplos
de focalização, podemos destacar a centralidade do programa Saúde da Família, sem alterá-lo
significativamente, para que o mesmo se transforme em estratégia de reorganização da atenção
básica, em vez de ser um Programa de expansão da cobertura para as populações carentes. O
Programa precisa ter sua direção modificada, na probabilidade de prover atenção básica em saúde
para toda a população de acordo com os princípios da universalidade. Para garantir a integralidade,
o programa precisa ter como meta a reorganização do sistema na sua totalidade, prevendo a
articulação da atenção básica com os demais níveis de assistência.
Outro aspecto que está relacionado mais diretamente com a precarização e a terceirização dos
recursos humanos referem-se à ampliação da contratação de agentes comunitários de saúde e a
inserção de outras categorias que não são regulamentadas: auxiliar e técnico de saneamento, agente
de vigilância sanitária, agentes de saúde mental.
31
UNIDADE ÚNICA │ POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA
Os autores relatam ainda, com base em Leavell (1976), que, ao mesmo tempo, verifica-se aumento
das desigualdades entre os povos e os grupos sociais, a eclosão de movimentos nacionalistas, a
exacerbação dos conflitos étnicos, a agressão ao meio ambiente, a deterioração do espaço urbano, a
intensificação da violência e o desrespeito aos direitos humanos. No caso da saúde, o debate sobre as
suas relações com o desenvolvimento econômico e social que marcou a década de 1960 amplia-se,
nos anos 1970, para uma discussão sobre a extensão de cobertura dos serviços. O reconhecimento
do direito à saúde e a responsabilidade da sociedade em garantidos cuidados básicos de saúde
possibilitam o estabelecimento do célebre lema “Saúde para Todos no Ano 2000” (SPT-2000)3.
Portanto, Paim e Almeida Filho afirmam que, enquanto a estratégia da atenção primária à saúde
se difunde a partir da Conferência de Alma-Ata, os centros hegemônicos da economia mundial
revalorizam o mercado como organismo privilegiado para a alocação de recursos e questionam a
culpabilidade estatal na provisão de bens e serviços para o atendimento de necessidades sociais,
até mesmo na saúde. A “nova ordem mundial” que se instaura na década de 1980, inspirada
no neoliberalismo, provoca uma acentuada fragilização dos esforços para o enfrentamento coletivo
dos problemas de saúde. Particularmente, nos países de economia capitalista dependente, a opção
pelo estado mínimo e o corte nos gastos públicos como resposta à chamada crise fiscal do Estado em
muito comprometem o âmbito institucional conhecido como saúde pública.
Os autores constataram uma “crise da saúde pública”, percebida de modo diferente pelos distintos
sujeitos atuantes neste campo social. Para a superação dessa crise, vários aportes têm sido propostos,
cada um deles apontando para a necessidade de novos paradigmas no “campo da saúde pública”
(AFIFI, 1994). Neste esforço, pode-se incluir desde as iniciativas da Organização Panamericana da
Saúde (OPS) de reavaliar a “teoria e prática da saúde pública”4, até a proposição de uma Nova Saúde
Pública como parte do movimento de renovação da estratégia “saúde para todos”, e ainda a iniciativa
do Banco Mundial de debater as “prioridades na pesquisa e no desenvolvimento em saúde”.5
3
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Renewing the healthfor- all strategy: elaboration of a policy for equity, solidarity and health.
Geneva, 1995.
4
PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION. The crisis of public health: reflections for the debate. Washington, D.C., 1992.
(Scientific Publication, 540).
5
WORLD BANK. Priorities in health research & development. [Report of Ad-hoc committee, 6th. draft], Cape Town.
6
PAIM, J. S. Collective health and the challenges of practice In: Pan American Health Organization The crisis of public health:
reflections for the debate. Washington, 1992. p. 136.
32
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE ÚNICA
Terris (1992) atualiza a clássica definição de saúde pública elaborada por Winslow, na década de
1920, nos seguintes termos: “a arte e a ciência de prevenir a doença e a incapacidade, prolongar a
vida e promover a saúde física e mental mediante os esforços organizados da comunidade”. Assim, a
partir desse entendimento, o autor prescreve quatro tarefas básicas para a teoria e a prática de uma
“Nova Saúde Pública”: prevenção das doenças não infecciosas, prevenção das doenças infecciosas,
promoção da saúde, melhoria da atenção médica e da reabilitação.
Frenk (1992) considera como campo de aplicação da “Nova Saúde Pública” as condições e as
respostas assentadas nas bases científicas das ciências biológicas, sociais e comportamentais,
tendo como áreas de aplicação populações, problemas e programas. Para melhor abalizar o novo
campo científico, o autor desenvolve uma tipologia da averiguação em saúde, assinalando os
níveis de atuação individual e subindividual, onde se agrupam a pesquisa biomédica e a pesquisa
clínica, em relação à nível populacional que toma como objetos de análise as condições (pesquisa
epidemiológica) e as respostas sociais diante dos problemas de saúde (pesquisa em sistemas de
saúde – políticas de saúde, organização de sistemas de saúde, investigação em serviços e recursos
de saúde).
Testa (1992), ao analisar as respostas sociais no campo da saúde pública, denomina “atenção
primitiva à saúde” aquela adotada nos países que dispõem de serviços diferenciados para distintos
grupos sociais e que estão preocupados, fundamentalmente, em reduzir os gastos em saúde
organizando serviços de segunda categoria para uma população considerada inferior. A partir de
uma ponderação sobre as políticas sociais, e buscando o redimensionamento teórico da saúde como
“campo de força” e de aplicação da ciência, o autor reconhece a saúde pública como uma prática
social, uma construção histórica.
33
UNIDADE ÚNICA │ POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA
Por um lado, a higiene, enquanto conjunto de normatizações e preceitos a serem seguidos e aplicados
em âmbito individual, produz um discurso sobre a boa saúde abertamente circunscrito à esfera moral.
Por outro lado, as propostas de uma política (ou polícia) médica constituem a responsabilidade do
Estado como definidor de políticas, de leis e de regulamentos referentes à saúde no coletivo e como
agente fiscalizador da sua aplicação social, desta forma remetendo os discursos e as práticas de
saúde à instância jurídica-política. (ROSEN, 1980)
Como ponto de partida, pode-se entender a saúde coletiva como campo científico, onde se
produzem saberes e conhecimentos acerca do objeto saúde e onde operam distintas disciplinas que
o contemplam sob vários ângulos; e, como âmbito de práticas, onde se realizam ações em diferentes
8
PAIM, J. S. Saúde, crises, reformas. Salvador, CentroEditorial e Didático da UFBA, 1986. WORLD HEALTH ORGANIZATION.
New public health and WHO’s Ninth General Programme of Work: a discussion paper. Geneva, WHO, 1995.
9
BANCO MUNDIAL. Relatório sobre o desenvolvimento mundial 1993. Investindo em saúde. Indicadores de desenvolvimento
mundial. Rio de Janeiro, Banco Mundial, 1993.
34
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE ÚNICA
organizações e instituições por diversos agentes (especializados ou não) dentro e fora do espaço
convencionalmente reconhecido como “setor saúde”.
Algumas respostas provisórias a estas questões serão apresentadas nesta seção, ainda que um
aprofundamento sobre a temática exija um texto de maior fôlego.
O autor afirma ainda que não obstante a adesão que tais pressupostos possam, ainda hoje, incitar,
cabe lembrar que o desenvolvimento da saúde coletiva, enquanto área do saber e campo de práticas,
nos últimos anos permitem recontextualizar alguns desses pressupostos. Assim, a definição do
“objeto” acima apresentada sugere o entrosamento da saúde coletiva como ciência ou disciplina
científica. Em um momento posterior de discussão desse campo na América Latina, Fleury (1985)
chega a definir saúde coletiva como “área de produção de conhecimentos que tem como objeto as
práticas e os saberes em saúde, referidos ao coletivo enquanto campo estruturado de relações sociais
onde a doença adquire significação”.
35
UNIDADE ÚNICA │ POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA
Segundo Paim e Almeida Filho, a constituição da saúde coletiva, tendo em conta os seus fecundos
diálogos com a saúde pública e com a medicina social, tal como vem se consolidando nas duas
últimas décadas, permite uma delimitação compreensivelmente provisória deste campo científico,
enquanto campo de conhecimento e âmbito de práticas.
Enquanto campo de conhecimento, a saúde coletiva contribui com o estudo do fenômeno saúde/
doença em populações; enquanto processo social, investiga a produção e a distribuição das doenças
na sociedade como processos de produção e reprodução social, analisa as práticas de saúde (processo
de trabalho) na sua articulação com as demais práticas sociais, procura compreender, enfim, as
formas com que a sociedade identifica suas necessidades e seus problemas de saúde, busca sua
explicação e organiza-se para enfrentá-los.
Nessa perspectiva, a saúde coletiva pode ser analisada como um campo de conhecimento de natureza
interdisciplinar cujas disciplinas básicas são a Epidemiologia, o Planejamento/Administração
de Saúde e as Ciências Sociais em Saúde. Este considera o desenvolvimento de atividades de
averiguação sobre o estado sanitário da população, a natureza das políticas de saúde, a relação
entre os processos de trabalho e doenças e agravos, bem como as intervenções de grupos e classes
sociais sobre a questão sanitária (RIBEIRO, 1991). São disciplinas complementares deste campo a
Estatística, a Demografia, a Geografia, a Clínica, a Genética, as Ciências Biomédicas Básicas, entre
outras. Esta área do saber fundamenta um âmbito de práticas transdisciplinar, multiprofissional,
interinstitucional e transetorial.
Enquanto âmbito de práticas, a saúde coletiva envolve determinadas práticas que tomam como
objeto as necessidades sociais de saúde, como instrumentos de trabalhos distintos saberes,
disciplinas, tecnologias materiais e não materiais, e como atividades, intervenções centradas
nos grupos sociais e no ambiente, independentemente do tipo de profissional e do modelo de
institucionalização. Abrange, portanto, um conjunto articulado de práticas técnicas, científicas,
culturais, ideológicas, políticas e econômicas, desenvolvidas no âmbito acadêmico, nas instituições
de saúde, nas organizações da sociedade civil e nos institutos de pesquisa, informadas por distintas
correntes de pensamento resultantes da adesão ou crítica aos diversos projetos de reforma em
saúde. (PAIM, 1992)
Portanto, mais do que definições protocolares, a saúde coletiva requer uma compreensão dos
desafios que se colocam no presente e no futuro que transcendem o campo institucional e o tipo
de profissionais convencionalmente reconhecidos como da saúde pública. A possibilidade de
36
POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE ÚNICA
Paim e Ameida Filho afirmam que podemos concluir que, apesar de não preencher as condições
epistemológicas e pragmáticas para se apresentar, em si mesma, como um novo paradigma científico,
a saúde coletiva consolida-se como campo científico e âmbito de práticas aberto à incorporação de
propostas inovadoras, muito mais do que qualquer outro movimento equivalente na esfera da saúde
pública mundial. A partir destas reflexões, constata se a afirmação de um campo interdisciplinar
dinâmico, renovado e recomposto a partir de uma produção teórica ousada e consistente, ainda
enfrentando diversas interrogações e dilemas. De fato, a conjunção das “crises da saúde” – científica,
econômica, social e política – lança complexos desafios para a saúde coletiva quanto ao que fazer
para efetivamente se articular aos novos paradigmas da saúde.
O passo mais importante será certamente re-configurar o objeto privilegiado saúde. Isto deverá
resultar de uma apreensão pragmática do objeto, não no senso comum do imediatismo, e, sim,
no sentido de que este deve alimentar uma práxis em vez de constituir-se em mera produção
e incorporação de tecnologia. Muito do que em um dado paradigma se pode tomar como um
ESCUELA DE SALUD PUBLICA. Organizacion Panamericana de Salud. Salud Publica. Ciencia, Politica y Accion (Memorias de
10
la I Reunion Andina sobre Desarrollo de la Teoria y la Practica en Salud Publica) Quito, 1993, 160p.
37
UNIDADE ÚNICA │ POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA
aparente paradoxo deve-se ao fato de que não se lida com um objeto obediente às determinações
da predição, aquela das antecipações limitadas e limitantes, rigorosas e precisas. Efetivamente,
o objeto da saúde coletiva é muito mais tolerante a formas aproximadas de antecipação do seu
processo, ressaltando a natureza não linear da sua determinação e a imprecisão (ou borrosidade)
dos seus limites. Então, será plenamente legítimo buscar a superação da prática preventiva
preditiva desta saúde pública que tanto se conhece, tanto no sentido de sua aplicação ao indivíduo
quanto em sua aplicação em geral, em direção a uma saúde coletiva previsional ou, pré-visionária,
quer dizer, uma saúde coletiva capaz de propor visões, formas, figuras e cenários, em vez de
predizer algumas poucas medidas e seus pobres efeitos.
38
Referências
AFIFI, A.; BRESLOW, L. The mature paradigm of public health. Ann. Rev. Public Health, 15:223-
35, 1994.
_____. New concepts and methodologies in public health research. Washington, D. C.,
Pan American Health Organization, 1996.
BOURDIEU, P. O campo científico. In: ORTIZ, R. (Org.) Pierrev Bourdieu. São Paulo: Ática,
1983. Cap. 4. p. 122-55. (Coletânea Grandes Cientistas Sociais, 39)
BRASIL. Decreto no 4.628, de 24 de janeiro de 1923 (Lei Eloy Chaves). Cria, em cada uma das
empresas de estradas de ferro existentes no país, uma Caixa de Aposentadoria.
39
REFERÊNCIAS
_____. Lei no 3.807, de 26 de agosto de 1960. Dispõe sobre a Lei Orgânica da Previdência Social.
_____. Lei no 6.229, de 17 de julho de 1975. Cria o Sistema Nacional de Saúde. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Leis/L6229.htm>.
BREILH, J. La Camisa de fuerza de las categorías empíricas: “Riesgo”, “Carga” y “Daño”. [S.
I.], 1997. Acesso em: 20 out. 2004.
BUSS, P. M. Promoção da saúde e qualidade de vida. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro,
v. 5, n.1, p.163-177, 2000.
_____. Memória histórica da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo: 1918-
1945. Revista de Saúde Pública, São Paulo, 18 (no esp): 2-60, 2004.
40
REFERÊNCIAS
FLEURY, S. As ciências sociais em saúde no Brasil. In: NUNES, E. D. (Org.) As ciências sociais
em saúde na América Latina: tendências e perspectivas. Brasília, Organização Panamericana da Saúde,
1985. p. 87-109.
_____. O dilema da reforma sanitária brasileira. In: BERLINGUER, G.; FLEURY, S.; CAMPOS,
G. W. de S. Reforma sanitária – Itália e Brasil. São Paulo, HUCITEC/CEBES, 1988. p. 195-207.
FOUCAULT, M. Naissance de la clinique: une archeologie du régard médical. Paris, PUF, 1966.
FREITAS, C. M. A Vigilância da Saúde para a Promoção da Saúde. In: CZERESNIA, D.; Freitas C. M.
(Org.). Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2003. p.
141-159.
41
REFERÊNCIAS
MENDES E. V. Distrito sanitário: o processo social de mudança das práticas sanitárias do sistema
de saúde. São Paulo: Hucitec, 1993.
_____. (Org.) A vigilância à saúde no distrito sanitário. Brasília. OPS/OMS, 1993, (Série de
Desenvolvimento de Serviços de Saúde, 10).
_____. O processo tecnológico do trabalho em saúde. Divulg. saúde deb., 4:97-102, 1991.
_____. Seres humanos e práticas de saúde: comentários sobre “razão e planejamento”. In:
GALLO, E. (Org.) Razão e planejamento: reflexões sobre política, estratégia e liberdade. São Paulo,
HUCITEC/ABRASCO. 1995. p. 13-31.
PAIM, J. S.; ALMEIDA FILHO, Naomar de. Saúde coletiva: uma “nova saúde pública” ou campo
aberto a novos paradigmas?. Revista Saúde Pública [online]. 1998, vol.32, n.4, p. 299-316. ISSN
0034-8910.
ROSEN, G. Da polícia médica à medicina social. Rio de Janeiro: Graal, 1980. p. 77-141, 213-42.
SAAN, H. Health promotion is fantastic, fascinating and fun – personal reflections. Health
Promotion International, v. 16, n. 1, p. 7-8, mar. 2001.
SHEIHAM, A. Mudança necessária na política de saúde bucal brasileira: “o pulo do gato”. Jornal
do Site Odonto, n. 45, nov. 2001. Acesso em: 4 fev. 2006.
SOUZA, E. M.; GRUNDY, E. Promoção da saúde, epidemiologia social e capital social: inter-relações
e perspectivas para a saúde pública. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 20, n. 5, p.
1354-1360, set./out. 2004.
42
REFERÊNCIAS
WORLD BANK. Priorities in health research & development. [Report of Ad-hoc committee,
6th. draft], Cape Town.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. New public health and WHO’s Ninth General
Programme of Work: a discussion paper. Geneva, WHO, 1995.
43