6.1.1-Pena Coutinho e Pepece-O Que Devo Comer PDF
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Resumo
Este trabalho trata do consumo de alimentos por grvidas, considerando quais as mudanas que
ocorrem neste perodo e os motivos pelos quais elas acontecem. Prticas alimentares so
incorporadas ao modo de vida das pessoas e esto em constante mudana por meio da
incorporao de novos ingredientes, novas formas de preparo dos alimentos j conhecidos,
recomendaes do que se deve ou no se deve comer. H poucos estudos sobre grvidas que
revelam suas preferncias, costumes e como estes afetaro suas decises de compra e consumo
a partir do momento que se descobrem esperando um filho. Por meio de uma pesquisa qualitativa
exploratria, o objetivo deste trabalho foi compreender como os aspectos culturais podem
influenciar o significado do consumo de alimentos por gestantes. Foram realizadas entrevistas
semi-estruturadas com seis gestantes, entre 20 e 36 anos, em diferentes perodos de gestao.
As entrevistas foram analisadas por meio da anlise narrativa. Para complementar a tcnica foi
aplicada Anlise Temtica, conforme proposto por Jovchelovitch e Bauer (2000). As principais
concluses obtidas nesta pesquisa foram de que houve mudanas no comportamento de
consumo de alimentos durante o perodo de gestao; estas mudanas foram influenciadas
principalmente pela famlia e pela comunicao por meio de propagandas. Tambm confirmou-se
a influncia cultural no consumo de alimentos e nos significados atribudos aos mesmos durante o
perodo da gestao. Deste modo, fundamental que este pblico, com caractersticas to
especficas, seja compreendido e seus hbitos explorados para que profissionais de marketing
possam conhec-lo melhor e dessa maneira focar de forma precisa suas estratgias de mercado.
1
Graduada em Marketing pela Faculdade Metropolitana de Maring - UNIFAMMA e atuando como
profissional na rea de Consultoria. [email protected]
2
Aluna do Mestrado em Administrao da Universidade Estadual de Maring - UEM e professora da
Faculdade Metropolitana de Maring UNIFAMMA. [email protected]
3
Doutora em Administrao pela Universidade Federal do Paran-UFPR, professora e pesquisadora da
Universidade Estadual de Maring-UEM. [email protected]
1- Introduo
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particularmente na fase pr-natal. Afinal, no h como negar que na maioria das vezes o
afeto familiar est muito mais presente na mulher, tanto por questes culturais como
biolgicas. Nesse contexto pode-se verificar o poder de compra da mulher e as grandes
chances que tem de se tornar lder de opinio.
2- Comportamento do consumidor
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Segundo Kotler (2000) o comportamento do consumidor est sujeito a influncia de
vrios fatores, como culturais, sociais, pessoais e psicolgicos. O autor afirma que fatores
culturais exercem a maior e mais profunda influncia. O fator cultural essencial no
estudo do comportamento humano visto que atravs da cultura que pessoas
desempenham seu papel na sociedade. Sobre cultura, Cobra (1997, p. 66) coloca que
funcional, social, apreendida, arbitrria e cumulativa e, sobretudo adaptativa. Nesse
sentido, Blackwell et.al. (2008) descrevem cultura como conjunto de valores, artefatos e
outros smbolos significantes que permitem comunicao entre indivduos, bem como
interpretao e avaliao como membros da sociedade.
Segundo Kotler (2000, p. 189) a posio de uma pessoa em cada grupo pode ser
definida em termos de papis e status. O papel consiste nas atividades que a pessoa
deve desempenhar e cada papel carrega status. Desta forma, as pessoas escolhem
produtos que comunicam seus papis e seu status na sociedade (KOTLER, 2000).
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produtos e servios e o gosto para escolh-los tambm est relacionado idade
(KOTLER, 2000). O estgio no ciclo de vida se refere s fases como solteiro(a),
casado(a), entre outros, que uma pessoa passa e que se modificam ao longo do tempo e
desta forma cada fase demanda um tipo de consumo (BLACKWELL et.al., 2008). A
ocupao se refere ao tipo de atividade exercida pelo consumidor, que pode tambm
influenciar no seu comportamento de compra. O padro de consumo de uma pessoa est
diretamente ligado sua profisso e o quanto ela ganha (COBRA, 1997). O estilo de vida,
ou seja, costumes, gostos, pessoas com as quais o consumidor se relaciona, afeta as
preferncias de compra do indivduo (KOTLER, 2000). Tratando da personalidade, Kotler
(2000) descreve que a soma de traos psicolgicos exclusivos de um indivduo que o leva
a ter reaes coerentes e duradouras com o seu ambiente.
A atitude de uma pessoa motivada influenciada pela percepo que ela tem da
situao. Karsaklian (2004) acredita que a percepo o processo pelo qual uma pessoa
atribui significado a matrias brutas, reagindo atravs dos sentidos. Sobre aprendizagem,
Kotler (2000, p. 196) descreve como um processo que [...] envolve mudanas no
comportamento de uma pessoa surgidas da experincia.
3- Cultura e consumo
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entender o consumo como um processo social que produz sentidos e identidades
independentemente da aquisio de um bem.
A natureza simblica dos bens de consumo permite que escolhas sejam feitas de
modo mais harmnico com objetivos mais claros, sensaes e auto-definies do
consumidor (AYROSA et. al., 2008). Ento se pode dizer que a cultura materializada e
representada pelos bens consumidos, visto que Slater (2002) fala que o consumo tornou-
se a forma pela qual a sociedade ocidental passou a assimilar sua prpria cultura.
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4- Significado cultural da alimentao no Brasil
Em um contexto latino Laraia (1986) cita que o ato de comer um verdadeiro rito
social. Segundo o autor a sensao de fome depende dos horrios de alimentao que
so estabelecidos por cada cultura. Na maioria das vezes o brasileiro, por exemplo, est
condicionado a sentir fome ao meio dia, por maior que tenha sido seu desjejum. Ainda
falando sobre hbitos brasileiros, DaMatta (1986) afirma que no Brasil nem tudo que
alimenta bom ou socialmente aceitvel; h uma distino forte entre alimento e comida.
O alimento considerado tudo aquilo que pode ser ingerido para manter algum vivo,
enquanto comida tudo o que se come com prazer (DaMATTA, 1986). Assim, a comida
envolve um mbito bem mais amplo, pois revela um estilo, um jeito de se alimentar, um
costume cultural, alm de auxiliar as pessoas a se identificarem socialmente.
Para desvendar o que est por trs dos desejos de gestantes por certos alimentos,
pode-se citar Gade (1998, p. 206), quando esta afirma que:
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CASOTTI, 2002, p. 52) lembra que a comida uma grande fonte de prazer, um mundo
complexo de satisfao, tanto fisiolgica quanto emocional, que guarda boa parte das
lembranas de nossa infncia. Kotler (2000) completa ao afirmar que a cultura o que
mais determina os desejos de algum. medida que uma criana cresce, adquire
valores, percepes, preferncias e comportamentos de sua famlia e de outras
instituies.
A mulher o melhor pblico para se explorar quando se trata de comida, pois alm
da confirmao de que elas so mais propensas s tentaes gastronmicas, verifica-se
que ela tambm tem grande poder de compra, pois segundo Giglio (2005, p. 103)
adquirindo participao na produo e no oramento domstico, a mulher se viu na
condio de poder modificar o processo de deciso de compra familiar. Richers (2000)
tambm concorda com esta mudana, pois, de acordo com ele, a dona de casa tpica
tradicional desaparece cada vez mais rpido e o seu lugar preenchido pela controladora
do oramento domstico, a mulher que cuida no s das despesas, mas tambm
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responsvel pela maior parte das compras, como alimentos, roupas para os filhos e o
marido, entre outros.
6- Procedimentos Metodolgicos
Quanto aos fins, a pesquisa foi desenvolvida de maneira exploratria. Segundo Gil
(2002), a pesquisa exploratria tem como objetivo aprimorar idias, construir hipteses de
modo que a familiaridade com o problema aumente. A pesquisa buscou descrever o
comportamento de compra de alimentos por mulheres grvidas, relacionando a influncia
da cultura nos significados dos alimentos consumidos por gestantes. O corte da pesquisa
foi seccional, j que o interesse o momento atual no qual os dados so coletados.
A interpretao das entrevistas ocorreu por meio da anlise temtica que est
dentro da entrevista narrativa. Segundo Jovchelovitch e Bauer (2000, p. 93), o produto
final da anlise temtica constitui uma interpretao das entrevistas, juntando estruturas
de relevncia dos informantes com as do entrevistador.
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A entrevistada E (23 anos) conta que no se importava muito em comprar
determinados alimentos, mas depois da gravidez isso mudou: Eu me dou mais
oportunidades de comer coisas diferentes agora e que antes eu deixava passar () agora
quando eu tenho vontade eu compro. A gravidez representa para ela um momento mpar
da vida, em que ela se permite consumir coisas diferentes, que ela sinta vontade. J a
entrevistada B (34 anos) enfatiza mais seu comportamento antes da gestao:
() depois que voc descobre que voc vai ser me, voc no pensa mais
s em voc, engraado voc pensa tanto no nenm que voc pensa em
tudo o que vai por na boca (). Agora eu realmente como algumas coisas
assim por causa do beb mesmo, eu acho que eu no teria mudado a
minha alimentao se no fosse o nenm (Entrevistada E - 23 anos).
() voc o que voc come, e o beb vai ser o que a me come tambm
() (se) voc no tem protenas para o seu corpo, ento voc no vai ter
para o corpo dele tambm. Ento eu acho que (a alimentao)
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fundamental, uma coisa que voc tem que mudar (Entrevistada D - 20
anos).
Neste sentido, percebe-se que alguns fatores psicolgicos (KARSAKLIAN, 2004)
tambm esto relacionados com o consumo de alimentos na fase da gestao.
7.2- Os desejos
(...) vai nascer com cara de batata se no comer batata, ridculo mas s
vezes dependendo do que eu sinto vontade para fazer um charminho n,
eu fao um draminha e peo aquilo porque eu falo que estou com desejo
(). Quando voc est grvida e come alguma coisa que voc estava com
muita vontade, que voc estava com desejo, a satisfao maior e bem
melhor, bem diferente.
Com estes relatos percebe-se que, em geral, as grvidas consomem certos
alimentos muito mais pela satisfao do desejo realizado do que propriamente pelo valor
nutricional ou sabor do alimento.
Dentre os grupos de referncia citados por Kotler (2000), Blackwell, et al. (2008) a
famlia foi o mais presente nas narrativas das gestantes. Este grupo afeta diretamente as
escolhas de produtos, os novos comportamentos, entre outros.
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eu fao pensando nos outros n, e de tera, quinta e sexta sou eu que
cozinho para eles tambm, para o meu pai e minha me, ento eu tenho
que pensar em ns e neles, se vo gostar do que eu vou fazer
(Entrevistada B - 34 anos).
No perodo da gestao tambm cresce o nmero de pessoas que do palpites na
alimentao incluindo amigos e a presena imponente dos mdicos; porm, em muitas
narrativas, eles ficaram como secundrios em detrimento dos conselhos das mes das
gestantes.
Olha no tem um porque s sei que uma coisa que eu sempre gostei
muito, no sei se era o tempero da minha me que me cativava... s sei
que o importante para mim o feijo, eu no gosto de comer sem o feijo.
As histrias que correm na famlia tambm influenciam as opinies das gestantes,
como se observa neste relato:
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Desta maneira, a famlia alm de ser um grupo de referncia que mais influencia no
consumo de alimentos por gestantes, tambm a principal responsvel pela transferncia
dos significados culturais dos alimentos, j que os costumes so passados de me para
filhas.
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mdicos, familiares e amigos mais vigiam a alimentao das grvidas e que elas
prprias mais se preocupam com a sade.
Eu acho legal as pessoas que tem certo cuidado com a alimentao, mas
isso no serve muito pra mim no. () eu como de tudo, adoro
experimentar tudo, (...) eu no sou daquela que diz: ai no vou comer isso
porque tem muita gordura, eu no sou muito rigorosa com isso, agora eu
como com mais gosto (Entrevistada E - 23 anos).
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(...) antigamente eu no tomava leite e precisa tomar leite para ter leite ()
eu tomo umas duas xcaras de leite por dia (Entrevistada E - 23 anos).
(...) arroz e feijo (o prato essencial para uma gestante), () olha acho
que a coisa que mais sustenta a gente no verdade? Pelo menos eu
acho que a coisa que mais me sustenta, enfim, eu no consigo ficar sem
isso, pra mim essencial (Entrevistada E - 23 anos).
Esta fala da entrevistada E (23 anos) s um dos relatos que comprovaram que
o arroz e o feijo so muito tradicionais na culinria brasileira e vistos como essenciais,
como inclusive j era o esperado. A expresso sustenta revela a diferenciao que se
faz entre os alimentos primrios, que no podem faltar na principal refeio do brasileiro
que o almoo, daqueles que se comem apenas como complementos. Ou seja, para
esta grvida o arroz e feijo representa algo que lhe d sustentabilidade, segurana, que
no ir lhe deixar ficar com fome to cedo.
A grvida B (34 anos), que j me de duas filhas, cita sua paixo por
refrigerantes e comprova a educao um pouco contraditria que aplica em sua casa:
(...) s vezes elas me pegam no flagra (...) porque eu tomo (refrigerante) escondido, mas
eu sempre falo: h mame est tomando mas faz mal. No perodo da gestao a vontade
por alimentos proibidos chega a tanto que a grvida comea a achar que eles at
comeam a fazer bem para sade, como conta a entrevistada E (23 anos): (...) eu ia l
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pra comprar uma fruta e via qualquer outra besteira, comprava um chips, coisa que no
me faria bem, agora t me fazendo bem (...). Eu fico at mais disposta.
8- Concluso
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entre as grvidas, como j natural. Assim, sugere-se que as estratgias de marketing
que visem conquistar este pblico devem encontrar um equilbrio entre o saudvel e o
saboroso.
Esta pesquisa foi de carter exploratrio, portanto no foi conclusiva, procurando
ser uma inovao no campo das pesquisas sobre comportamento de consumo de
alimentos por grvidas, gerando, assim, novos questionamentos sobre pblicos mais
especficos, porm relevantes. Com este estudo novos produtos podero ser criados,
alm de contribuir para futuras pesquisas de marketing. Em futuras pesquisas sobre o
tema seria interessante considerar os fatores idade, nvel de instruo das grvidas e se
a primeira ou segunda gestao no intuito de verificar se esses fatores influenciam o
comportamento de consumo de alimentos por gestantes
Referncias Bibliogrficas
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