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sábado, 12 de julho de 2008

Palavras Para Quê?

Silêncio de Chassériau Théodore

Acordo doente e passo os olhos por livro que tinha como mais adiável. Colho, porém, um texto que me deixa em incómodo maior - o que me diz da existência, em Paris, na viragem do Século XIX para o XX, de um clube, fundado e presidido por um voluntário da guerra contra índios americanos a quem estes tinham cortado a língua, o qual só aceitava como outros associados surdos-mudos e proibia os criados de articularem palavra, sendo a comunicação com eles feita por um aparelho electrónico e entre os membros assegurada por gestos.
Que terrível revolta não evidencia, cercando-se de aflitos de desgraça maior e impondo-se como único vigilante possível das infracções à regra dos empregados! Não será uma ilusão, ter perdido um dom não será mais terrível do que não tê-lo conhecido? Ao estabelecer uma ordem e linguagem substitutivas esterilizou também o absurdo concebível como a mais radical das recusas. Porque, como Camus ensinou, a única atitude coerente fundada na não-significação é o silêncio, se esse silêncio, por seu turno, não significa. E este fá-lo. E fala.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Pirilampo Trágico

Os Portadores de Lâmpadas de Maxfield Parrish

Dei em matutar o quanto me irrita a história do Cínico de lanterna na mão à procura de um homem. Nem tanto por ele só ter enveredado pelo desafio e pelos andrajos depois de falido como banqueiro, em Sinope. Mas porque Diógenes empunhando a luz não fazia mais do que nos nossos dias aqueles populares espertalhaços que se acotovelam para responderem ao reporter televisivo que inquire a multidão. Com efeito, não precisava dela em pleno dia; e acreditar que o que fosse digno do nome que dizia buscar não brilharia por si, antes precisaria de foco luminoso para se destacar, era pálido como idealização. Tanta prosápia na demanda, partindo do princípio da superioridade de ser o único a sentir-lhe a necessidade, confessava não ter encontrado o que pretendia quando se mirava no espelho, ou no que as vezes lhe fizesse. E talvez fosse essa a medida maior do seu drama, reduzindo o sarcasmo iluminado à grosseria de saltimbanco.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

O Arrivismo Esquecido

Que coisa é o pedantismo? Quanto a mim, uma forma de iliteracia que perde o direito à solidariedade por se querer promover à custa da relegação do Próximo. Tenta exibir um conceito que não assimilou, embora julgue o contrário, para ascender a um meio que lhe vedara a entrada por outras vias. Dela faz parte o que Montaigne identificou, bagagens cheias de conhecimentos que não se sabe usar, como o consegue a Sabedoria; a ostentação dessa abundância, muitas vezes recente. E o emprego para se promover, excluindo outros, sem qualquer preocupação de propor um posicionamento em ordem Verdade ou Validade, apenas visando um peditório de consideração para o autor.
É, por isso, incompatível com a ironia e desperta rejeição consensual, porque o que quer mais do que tudo é ser levada a sério. Trata-se, portanto uma incompetência que se volta contra si própria, do que não estaria até livre este postal, caso visasse fazer algo pela imagem irrecuperável do autor.

Por isso Hiérocles de Alexandria entendeu plasmar uma octologia do pedantismo, com os seguintes exemplos,
o que, tendo-se quase afogado na primeira entrada no mar, jurou alto e bom som que não voltaria para dentro de água sem ter aprendido a nadar.
O que queria vender a casa e para tanto trazia com ele uma pedra, para servir de amostra.
Aquele, preocupado em saber o aspecto que tinha a dormir, que se postou frente ao espelho, de olhos fechados.
Um outro que, perguntado por um médico por que se escondia dele, respondeu não estar doente havia tanto tempo que se sentia envergonhado em aparecer-lhe.
Aquele que, surpreendido ao ver um conhecido, disse ter sido informado de que esse tinha morrido; e perante o desmentido vivo que ele fez, ripostou que o informador era pessoa de todo o crédito...
O objecto da revelação de que as gralhas viviam 200 anos, que comprou uma para se certificar.
O passageiro de um navio prestes a naufragar que, vendo os restantes agarrados a tábuas, abraçou uma âncora, porque maior, para não submergir.
O viajante em conjunto com um calvo e um barbeiro, a quem este, durante o sono, rapou a cabeça e que, por ele acordado para fazer o turno de vigia, achou, ao passar a mão pelo crânio, que o companheiro se tinha enganado e acordado o calvo.

Nesse sentido, gravar uma tatuagem como a da figura não quadrará no conceito? É que não é bem isto que se pretende quando se diz que a distinção entre presença e ausência de pedantismo é algo que está na pele de cada um...

domingo, 8 de junho de 2008

Os Ócios do Ofício

De entre os muitos exemplares de ex-libris que me têm vindo parar às mãos, marcando os alfarrábios adquiridos, ao meu ofício de leitor é particulatmente caro este. Nem tanto por fundir com os livros uma figura feminina, embora esse factor também conte. Mas pela divisa. Ócio Com Dignidade; é suplantar a cobiça voraz do materialismo do negócio, o qual firma negação onde a leitura apenas faz negaças, desmentindo a condição quando nela se aplica, ou furtando-se à apetência nas vezes em que o não consegue. A disponibilidade que já os Antigos Gregos davam como imprescindível ao Pensamento pode aproveitar-se ou não. Na letargia é indigna, na problematização e incremento de sabedoria, como no intercâmbio espiritual que umas linhas d´outrem facultam, pode ser via para elevar-se, para aproximação a Deus, inclusivamente.
Como escreveu Ralph Hodgson,
God loves an idle rainbow,
No less than labourig seas.

O que é muito justo. Desde que se não caia no engano de considerar um arco-íris todo o ocioso, em simples função desse estatuto.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Tormentos da Escrita

A Árvore Livro de DaliNão concordo com o que Mário Cláudio diz, ou seja, que Quem escreve mal pensa mal. Escrever é uma técnica, mesmo nos casos em que, como dizem de Dostoievski, a inquirição das lutas interiores leva a melhor sobre a relativa imperfeição formal. Conheço muito boa gente capaz de um pensar profundo, sem capacidade de articulá-lo, por escrito. Já a inversa me parece menos problemática, pois pensar mal já implica escrever mal, na medida que uma produção bonitinha a que falte uma base de exercício psíquico que conte não despertará interesse de maior por entre os gostos mais treinados.
Já a imagem da Senhora que escreve por ociosidade ou inclinação exclusivamente pessoal e tranquila me parece falhada para ilustrar a escrita desaconselhável. Não é por um mundo ser visto ou sentido com lentes cor de rosa que é artisticamente mau, tudo dependerá do condimento espiritual e espirituoso de que venha a ser impregnado. E tanto pode ser uma nulidade redigida o produto de uma Mulher feliz como o de uma atormentada, tal o relato contentinho de um homem que se admira, ou a veraz conta dos turbilhões mentais de um rapaz que pense ser o simples facto de se descobrir sentindo uma recomendação para publicar. Plath e Espanca não foram grandes poetisas por infelicidades revolventes, vieram a sê-lo pela força artística em que conseguiram expressar-se. E nos casos menos revoltos há um pormenor que torna ainda mais despropositada a figura de estilo do Escritor Portuense: as Mulheres, com talento ou não, possuem uma certa tendência para procurar agradar, ou, ao menos, a melancolia de o não conseguirem; nos homens, ausente este tempero, nota-se mais a arrogância, que, se perdoável e até estimada nos casos de génio, é fatal nas manifestações mais chãs.
Senhora Escrevendo de Vermeer

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Fogo & Frigideira, SA

O Prof. Eduardo Lourenço, por quem tenho tanta consideração intelectual, como de que nutro divergências de posição, diz que o PSD e o PS são alternativas à mesma coisa. A expressão, a princípio, pareceu-me infeliz, pois o que aparentava querer dizer é que não se constituíam, reciprocamente, em alternativa. Depois pensei, o que por estas bandas ocorre sempre com dificuldade. E percebi a razão, claro que ambos são alternativa a uma via sensata e coerente do exercício do Poder. Não estranhamos nós, os que nos situamos de fora do regime, que os seus expoentes sejam duas faces da mesma moeda. Mas quando a melhor cabeça pensante do Sistema vem reconhecer que a moeda está viciada, nem sequer concedendo a possibilidade de um cara ou coroa honesto, o alardeado ponto forte desta opção conbtitucional, a alternância, fica reduzido a cisco. Nunca tendo reconhecido bondade de semelhante proposta, não tenho o que lamentar. Mas é sempre esclarecedor ver explicitado, de facto, o carácter fraudulento do conteúdo ideológico com que tentam enganar o Povo.

Nihilismo à Vol D´Oiseau

Almas Gémeas de James Everett StanleyQuerida Charlotte, é honra, quase tão grande como a alegria, haver a minha alma sido geminada com a Sua, em resultado do inqueritozito. Tenho como certeza absoluta que se trata de uma semelhança do jaez da documentada na imagem de cima, a do esforço artificioso (meu) de quem tem em mente o Exemplo (Seu) de um bater de asas grácil, facílimo e natural.
Quanto à inquietante presença do nihilismo - ou niilismo, se preferirem -, já me coloquei em campo para encontrar ginásio onde queimar essa superfluidade gordurosa. Se bem que, interrogando-me acerca da natureza do "nosso", tenha obtido a resposta seu palerma, nihilismos há muitos. O que me levou a acreditar que se trate daquele grãozinho de sal que nos impeça de cair numa totalidade apolínea que afaste ou canse as Pessoas que nos rodeiam...
Mas a panaceia contra a "negatividade da Negação" encontrei-a no Chesterton que, Deus seja louvado, anda a ler. No conto do Padre Brown «A Forma Errada» um guru oriental responde ao inofensivo sacerdote, por três vezes, que nada queria, inquirido sobre o que pretendia. E o detective improvisado daí retira:
Quando disse pela primeira vez «Não desejo nada», isso só significava que ele era impenetrável e que a Aria não se rende. Depois voltou a dizer «Não desejo nada», e eu percebi que ele queria dizer que era auto-suficiente, como um cosmo, que não precisava de nenhum deus, nem admitia quaisquer pecados. E quando ele pela terceira vez disse «Não desejo nada», disse-o com um olhar inflamado. E eu sabia que o que ele queria dizer era literalmente o que disse, que nada era o seu desejo e a sua casa; que não sentia a falta de nada, nem de vinho, senão do aniquilamento, a destruição de tudo ou de qualquer coisa...».
E já antes tinha concluído:
O cristão é mais modesto, quer alguma coisa.
Homem Pensando no Background do Nihilismo de Heather Elizabeth Pielke

sábado, 24 de maio de 2008

Justiça à Minha Senda

Como o Jansenista foi dado como motivado pelo Existencialismo, coisa de que sempre suspeitei, resolvi fazer este quiz, para saber o que achavam que me faz correr. Deu a Justiça. Não sei se o conseguirei, mas é coisa que me agrada imaginar.
À Vossa Superior Consideração.
A Justiça, por Rafael, de que guardo uma reprodução pendurada na parede



What philosophy do you follow? (v1.03)
created with QuizFarm.com
You scored as Justice (Fairness)

Your life is guided by the concept of Fair Justice: Everyone, yourself included, should be rewarded and punished according to the help or harm they cause.

"He who does not punish evil commands it to be done."
--Leonardo da Vinci

?Though force can protect in emergency, only justice, fairness, consideration and cooperation can finally lead men to the dawn of eternal peace.?
--Dwight D. Eisenhower

More info at Arocoun's Wikipedia User Page...


Justice (Fairness)


85%

Existentialism


75%

Divine Command


75%

Kantianism


60%

Utilitarianism


55%

Hedonism


35%

Nihilism


20%

Strong Egoism


10%

Apathy


0%


sábado, 3 de maio de 2008

O Tecto de um Mundo

Pintura Negra de Cecil BrownUm absoluto bem-estar no mundo que rodeia é incompatível com muitas criatividades, pois o instinto que faz procurar a fuga elevada é o que aguça a matéria sensível, mais do que o próprio engenho. A aceitação celebrativa traz com ela os perigos de estiolar o talento, fazendo do conchego exagerado dos contemporâneos a réplica da tumba que estabelece entre o Poeta e as Estrelas uma divisória abafadora.
Pode, no entanto, a sobrevivência da obra estabelecer as suas fundações no conceito dos vindouros. Mas aí o abrigo estará inapelavelmente direccionado para um derivado espiritual autonomizado, confirmatório de que o Autor já cumpriu a sua missão, sentenciado por fim ao descanso que corta cerce a contunuidade produtiva.
De J. Sauerhoff, traduzido por Fernando Venâncio,

SEM-ABRIGO

Só nos meus poemas encontro morada
Abrigo dif´rente não me foi cedido;
Ao próprio lar nunca me vi atraído,
E a tenda plo vento brutal foi levada.

Só nos meus poemas encontro morada.
E, se tal refúgio consigo nos matos,
Em estepes, cidades, ou sítios ingratos,
Miséria nenhuma me afectará nada.

Ainda demora, mas há-de chegar
O tempo em que a força me abandonará
E em vão doces ditos irá requerer
Com que eu construía, e em que o chão irá
Guardar-me e eu me inclino para esse lugar
Onde há uma cova no escuro a romper.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Inteligência de Facto

Leitura de um esforçado ensaio de Fidelino de Figueiredo, «Memorialismo e Voluntarismo», em que tenta imputar os males pátrios à alegada incapacidade de formular uma ideia mobilizadora da acção, por o espírito nacional ser pretensamente atreito a atentar simplesmente no já acontecido:
Saber é lembrar-se, como recordar é viver, no provérbio mais aliteratado. O bom conversador - tipo muito nacional - é o homem que conta bem, que recorda, que descobre antecedentes e se deleita no anedótico e no episódico.
E remetendo para texto de João Chagas, em nota reproduzido:
A inteligência dos portugueses, de resto, não se traduz em ideias. Quando pretendem exprimir uma ideia, contam um facto.
A tese parece ser uma alusão mais à deficitária especulação filosófica lusa. Mas será isto um mal? Nietzsche disse nalgum lugar que as convicções serão mais nocivas para a Verdade do que as mentiras. E parece indiscutível que a deformação da preconcebida visão que procure na observação e no estudo a mera reiteração do pendor em que se mergulhou é bastante mais perigosa do que o vício apontado.

Se não me hipoteco, ponto por ponto, à visão agregadora que Oakeshott deu, a partir de uma leitura de Burke, de todo um Pensamento Conservador, com a aproximação de teorias difíceis de conciliar, estou, todavia, plenamente de acordo com o alerta que dele se extrai para os perigos das ideias gerais programáticas na informação das acções governativas, ao arrepio da Experiência e Adquirido dos Povos.
Mas o que poderia ser uma salvaguarda nacional contra essa ameaça, caso a presunção de Fidelino seja correcta, é completamente neutralizado pela sede de imitação que sempre tem marcado a nossa Vida Política e Intelectual. Em vez de formular os grandes quadros mentais sistemáticos que abalam as vidas noutras Nações, importamo-las inteirinhas, pelo prestígio de as crermos novas e, se calhar, pior ainda, pelo estigma de não nos supormos capazes de (melhores) ideias. É a abstenção de joeirar que prescinde da peneira que separe o que não presta, para se rodear das peneiras de fazer como nos locais civilizados. Ontem o que era chic, hoje o que está in, só mudou a língua dominante.

Por uma coincidência que reputo significativa, faz hoje anos que Jean-Jacques Rousseau abjurou o Protestantismo, em 1728. Abandonou assim a intransigência do Calvinismo da Sua Genebra, onde a Predestinação fazia de cada indivíduo um suspeito de perdição, teorizando em seu lugar a bondade natural de um homem que nunca alguém viu. Do hiperjulgamento condenatório que torna a vida insuportável, na minha óptica, passou à absolvição apriorística que transforma a existência num regabofe ético que repugnará a qualquer mentalidade exigente. Mas por que caiu ele nisto? Por não apenas prescindir dos factos, como expressamente enuncia em «O Contrato Social», mas por ter igualmente afastado a consequência das ideias, porém as gerais, as duas grandes enformadoras que se ofereciam para o recolher, se não heterodoxamente entrado na nova Religião - as de Bem e Mal como possibilidades de cada indivíduo e a irresponsabilidade do juízo sobre a Humanidade como entidade colectiva, fora da acção de cada um dos seus membros.
E assim, percorridos os riscos que a abstracção e o concreto, isolados um do outro, representam para qualquer norteação afirmativa, podemos encontrar um sentido útil para a crítica do nosso Autor: um dos traços mais incontestáveis dos nossos patrícios é a cedência que essas grandes ideações morais protagonizam em muitos casos, perante a atenção aos acontecimentozinhos que os rodeiam: vendo como os que fazem trinta por uma linha se safam muita bem, cada desiludido pensa que deve deixar de ser tanso, pôr de parte as lérias em que tinha acreditado e fazer outro tanto.
E nesta capitulação ganha plena acuidade o título do livro de onde se colheu a reflexão que originou este postal.

domingo, 20 de abril de 2008

Maurras e o Tempo Dele

Mais um ano passado sobre o dia do nascimento de Maurras, a quem haverá sobretudo a reprovar o não ter sabido ser suficientemente maurrasiano. Desde logo por não ter conseguido manter a sua aversão ao conceito Romântico da Nação. Havendo doutrinado tantos jovens sobre a necessidade de fazer recuar o Nacionalismo às origens, a Bodin, com a significação profunda da aliança entre Rei e Povo - a primeira Frente Popular, lhe chamou -, contra os interesses particularistas e de facção, deixou-se cair na armadilha anti-dreyfusard de ver na condenação um julgamento nacional, expressando um sentir colectivo que era o sentimentalismo de apenas uma metade da França. Foi precisamente a persistência de querer ter diante dos olhos o significado genérico, antes do julgamento individual com a aplicação prevista das audiências e recursos, que traiu o mecanismo de segurança tradicional que sempre havia exemplarmente defendido. Assim como, invocando o valor aglutinador do Rei e o civilizador da Igreja contra os partidos e facções, se deixou escorregar para o conflito com o Herdeiro da Coroa, ou para a luta pela condenação da irritante Democracia Cristã de Sangnier, transformando-se em chefe partidário e no alvo de todos os ódios clericais que conduziram a uma marginalização descoroçoante e terrível para o seu combate.
Como, no fim, partindo da justa posição da solidez do Seu País na solidão num conflito mundial em que já não contava como força de primeira grandeza, deixando-se cair no que esse Pétain a que sempre continuou fidelíssimo evitou totalmente: transigir em que a aversão aos Britânicos se equiparasse à animadversão alimentada para com a Alemanha, ao ponto de o próprio interesse e posição da sua Pátria passarem para um plano de atrofia.
No fundo, algumas das suas qualidades, a fidelidade à outrance a amizades e aversões foram a grande limitação que o condicionou, na medida em que impediram a coerência da acção com os fundamentos teóricos de um pensamento poderosíssimo, o qual sempre tivera como fim a promoção da paz e coesão interiores e o poderio afirmativo (embora não-expansionista) na Política Externa.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Peito ou Perna?

Não, não tenciono servir-Vos frango. Quero apenas, contra a Era do Silicone que dá como inevitáveis prescrições gelatinosas implicando cortes, propor o tratamento conservador que evite que Vos passem a perna: para Gente que considere o esforço, a disciplina do exercício continuado; para os entusiastas dos resultados rápidos, as pílulas que têm o condão de desmentir Kipling - Ocidente e Oriente podem bem encontrar-se, nem que seja num ideal peitudo!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Ao Colo de Sócrates

Percebe-se por que profunda causa a Menina falou em lagartas, sempre associadas a comboios, no dia em que se inauguraram os túneis subterrâneos de mais uns tantos. E escuso de lembrar que a combinação de composições e buracos onde se introduzem é um símbolo fálico...
Dr. Fraude

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Homem Prevenido

Para ilustrar a Escolha de CharlotteO Pessimista não é tanto quem espera o pior, nas mais das vezes é aquele que teme não saber o que fazer com o bem que espera.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

A Persistência do Dia

Iluminura de FouquetDia de Santo André. O facto que ainda hoje mais celebrado é na memória das gentes, o da cruz do Seu martírio, em X, bem poderia contribuir para uma popularidade maior, na época em que esse sinal é impingido como realização das esperanças, seja em votos, testes, inquéritos ou totolotos. É evidente, aliás, que muito do prestígio que ainda resta ao sufrágio advém da renovada confiança que as cruzinhas da Santa Casa povoam nas nossas mentes receptivas. Isto apesar de na sabedoria enraizada se dar conta da inquietação associada à diminuta durabilidade da luz: Pelo Santo André todo o dia noite é.
Pena que se haja perdido o rasto ao Apóstolo. Na fabulosa oferta pictórica da Grande Espanha estalou uma polémica sobre o bem fundado das representações do Mártir, a de Zurbaran, em sereníssima Leitura, contraposta à de Ribera, com a sombria agonia da crucifixão.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX Esmiuçadamente apreciado o episódio sagrado, ambas, porém, encontrariam o seu fundamento, pois O Primeiro Chamado teria tido durante o suplício um período de permanência em vida longo, durante o qual, pregado, pregou à multidão, sem esmorecer.
O que faz com que a ligeireza bloguística que gostaria de pensar como agilidade me leve a lamentar que não haja sido tão resistente um dos belos arcos que Lisboa tinha, o de Santo André, precisamente, atestado de que o Exemplo do Patrono da Escócia e da Ucrânia não entrou nas cabeças nem nos corações dos responsáveis da Cidade...

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Vida de Gato

A Apoteose da Câmara das Maravilhas de Kircher no Museu do Colégio dos Jesuítas de RomaNo dia desse estranhíssimo e obcecado erudito que foi Athanasius Kircher, gostaria de mencioná-lo brevemente como exemplo de quanto a abstractização, a demanda do conhecimento sem inserção na esfera sentimental e o espírito de ajuntador podem tornar monstruoso um homem cultivado. O mal deste Reverendo Padre foi ter esquecido o Amor da Mensagem inscrita no nome da Companhia e a recomendabilidade do esforço de agradar essenciais à convivência sã com o Próximo. Aqueles que o dão como émulo de Leonardo caem precisamente no mesmo erro, ao prescindirem de um requisito que lhe faltava, o da criatividade expressa na realização plástica que cativa. Prisioneiro originário do estudo das Matemáticas, delas deu o salto para a dissecação linguística e a análise musical, duas aplicações práticas delas, com a esterilidade de quem abdica do aspecto encantatório de ambas. Dois outros refúgios que procurou transmitem a mesma nota de desumanização: o esoterismo das correspondências herméticas dos obeliscos e a acumulação no extraordinário Museu que fundou. A ambas faltava o objectivo de serviço afectivo. A invenção da Lanterna Mágica, ancestral invocada do Cinema, facto pelo qual é mais conhecido, enferma da mesma pecha - a da duplicação da imagem do que é Único, desprovida da Arte que lhe desse alma.
Estava desbravado o terreno para a escorregadela maligna. Não se coibiu de arquitectar, para distracção dum ocioso, este pianogato, feito à base de agulhas que picavam as caudas dos pobres inocentes, quando se premiam as teclas respectivas. Parece que houve quem apreciasse os miados aflitos e doridos dos bichos...
Para que se veja bem como a obsessão pela compilação de saber pode piorar um homem, afastando-o, irremediavelmente, da Sabedoria.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Os Malefícios dos Intelectuais

Tanta vez a ânsia de acrescentar resulta desastrosa para o que custou antes a fazer, sob o olhar hostil dos fiéis a outros escritos e a sonolenta indiferença de parte do público potencial...
Às Bibliófilas Que me leiam, começando pelas Participantes neste debate.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Tigres de Papel

De tanto mamar e comer para vestir a pele de tigre, pode acontecer ao gatito o que sucede a muita gente:
acabar por ver-se como tal...
Mas não é grave, Confúcio e os Discípulos encontraram certa vez, numa remota e selvagem região, uma Mulher esfomeada, a quem um tigre tinha devorado o Marido, outro tanto já tendo sucedido ao Pai e ao Irmão. Inquirida pela razão de continuar a habitar tão perigosas paragens, respondeu que ali o governo não chegava, não podendo oprimi-los. Ao que o Mestre sentenciou: Oiçam e recordem: Nem os tigres metem tanto medo como os maus governos. Está provada a actualidade da escola, com o papel temível - este, sim - a ser o da burocracia que os serve.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

O Que é a Saudade?

Leio, compungido, a notícia do fecho da Tendinha do Rossio. Quanta vez, no meu tempo de estdante, lá não fui matar o bicho que convém, com a sande de queijo fresco, ou o croquete? Nela fui iniciado pelo meu Pai, Que, ao menos, foi poupado a este desgosto. Já estou cheio dessas nostalgias que nos colam como logotipo da Raça, mas nos fazem seres reais.
VELHA TENDINHA
Letra: José Galhardo
Música: Raul Ferrão

Junto ao Arco do Bandeira
Há uma loja, a Tendinha
De aspecto rasca e banal
Na história da bebedeira
Aquela casa velhinha
É um padrão imortal.

Refrão

Velha taberna
Nesta Lisboa moderna
É a tasca humilde e eterna
Que mantém a tradição
Velha Tendinha
És o templo da ginjinha
Dos dois brancos de gimbrinha
Da boémia e do pifão

Noutros tempos os artistas
Vinham já grossos das hortas
Pró seu balcão caturrar
E os fidalgos e os fadistas
Iam p´rá ´li horas mortas
Ouvir o fado e cantar


terça-feira, 13 de novembro de 2007

Cinismo e Paixão

Quando se prova à saciedade que Sócrates não está com nada, é o grande Cínico Diógenes que emerge. Como ele, também esta mocinha anda de lanterna na mão à procura de um Homem. E como o Antigo, se virar o foco para si, poucos a acreditarão. Mas por motivos diferentes...
Como vê, estimada Amiga, acompanho-A como uma sombra na crença na mensagem de ressurreição da Fénix: permita-me que Lhe apresente a modelar Sul-Africana Tanit Phoenix.