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sábado, 12 de julho de 2008

Os Rastos da República

Há meses anunciada, põe-se finalmente em marcha a iniciativa de complementar os laivos de historicidade de que as comemorações da Implantação da República, daqui a dois anos, possam vir a revestir-se. Como o comemorativismo de vitórias de parte da Comunidade sobre outra não costuma ser bom conselheiro para desenterrar dos arquivos toda a Verdade, tentaremos lembrar factos e lutas esquecidos, que a conveniência, a candura e o psitacismo coligados possam fazer por não recordar. É a intenção deste site, servido igualmente por um blogue, para manter vivo o debate.
Com a publicação de fotografia de Machado Santos, símbolo incontestado do início do regime, das ilusões e frustrações que o fizeram e dele resultaram, como das lutas entre os que nele acreditaram e contra os que nunca se convenceram, mais ainda, da autofagia compulsiva desse momento genealógico em que se querem filiar Poderes de hoje, agradeço a toda a Equipa ter-se do meu nome lembrado para, não direi ajudar à festa, mas sim engrossar com umas gotas o caudal da Realidade omitida.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

A Paráfrase Que Facilita

O cadáver do rei deposto volta agora, por nossas mãos, à Pátria comum. Quem nos diz que este facto que da nossa parte, da parte do governo, não tem intuitos reservados, não sarará aquela ferida e não promoverá uma união mais íntima de todos os portugueses, fechando, definitivamente, o ciclo das convulsões em benefício da Pátria?
Salazar
A 2 de Julho de 1932 faleceu no exílio o último (por enquanto) Rei de Portugal. Acabadinho de chegar à liderança formal, o genial Chefe da Situação honrá-Lo-ia, dessa forma Se honrando e ao regime, Na própria nota em que assumia a realização das exéquias, as justificava pelo desejo do Monarca de descansar para sempre em solo luso e pelo Patriotismo que, na Guerra e na Paz, sempre evidenciara, nessa Inglaterra que o acolheu.
D. Manuel caiu vítima do regresso em força do multipartidismo, com seis presidentes de Ministério em dois anos, como doutra forma caíra Seu Real Pai, por não ter prescindido de um partido para apoiar uma ditadura, ao contrário do que tanto desejava, propunha e peparava o enorme Mousinho. Os partidos, um ou muitos, sempre o mesmo mal!
Não pode um miguelista desencantado há muito com os rumos que a sua Terra tomou deixar de se inclinar perante o Rei Constitucional, aqui significativamente retratado no uniforme de Generalíssimo talhado no do Seu Progenitor e Antecessor. Nem perante o Dirigente dum Poder Republicano que não hesitou no preito que unisse. Para que na Restauração que forçosamente há-de vir se possa gerar a união de que só se vejam excluídos os entusiastas das fracturas enquanto nessa infantil mas assassina disposição permanecerem.
António Lopes Ribeiro na Ericeira escreveu:

NA MORTE DE D. MANUEL II DE PORTUGAL

Daquela praia exígua se embarcou
o Rei de Portugal, naquele dia
em que a nossa inquietude renegou
as velhas tradições da Monarquia.

Partiu para Inglaterra - e não voltou
senão contido numa urna fria,
derradeiro sinal de simpatia
daquele reino em que tão mal reinou.

Morreu no exílio, o último Bragança.
E viveu exilado da esperança
de regressar à Pátria e ao Poder.

Mas nós os fortes, os que o exilámos
sem saber bem porquê - nunca olvidámos
o Rei moreno que sabia ler.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Estatura de Estadista

Volta a imprensa gratuita de hoje à carga com o tamanho exagerado dos saltos que Sarkozy usa para emparceirar bem com a Carla, referidos também nesta peça jornalística. Deixemos as desconfianças de despeito, é evidente apequenamento de um político reduzir os terrenos que pisa aos centímetros dos respectivos tacões. Mas tentemos arranjar qualquer confrontação útil para trazer a este candente tema. E, bem procurado, vê-se, pelo famoso retrato de Luís XIV por Rigaud que não se trata de coisa a que os Franceses não estejam habituados na chefia do seu Estado, mesmo em melhores dias. Como olhando para os artefactos que Bogart usou em «Casablanca», para ter uma medida ideal ao contracenar com Bergman, esta característica não é de molde a prejudicar a imagem pública...

domingo, 13 de abril de 2008

Águas Fortes

O Espírito das Águas de Ernst JosephsonNunca alcançarei o fundamento de certos acessos de escrúpulo. A recusa de uma instituição de auxílio a crianças Cambodjanas de aproveitar a receita da venda da fotografia do nu da Bruni causa-me perplexidade profunda. Tudo o que é actriz e modelo se despe para beneficiar a protecção aos animais e outras boas causas e ninguém abre a boca em protesto. Porquê, então esta reacção desproporcionada?
Só pode ser, penso, por não se querer aproveitar a exposição da pele dela por Carla andar a branquear uma forma de Estado iníqua, como é a República de que acedeu ser Primeira Dama. Este temor sofre, porém de dois contras que grandemente o prejudicam:
1- Quando a foto foi tirada, a retratada não era consorte presidencial, era modelo, de quem se espera (merecendo-o), justamente, esta despojada postura.
2- República, Res Publica, Coisa Pública, deveria, em intrujice não sendo, obrigar a que até a representação do corpo das participantes no Poder, desde que não imortalizado contra a vontade delas, fosse património de todos. É evidente que na maior parte dos casos conhecidos se impõe, por razões de sanidade e fuga a masoquismos pouco compensadores, prescindir do exercício desse direito. Mas, desde que as medidas sejam propícias, não vejo volta a dar-lhe. Claro que o efeito preverso seria infundir no espírito dos mais distraídos a absurda crença de que o sistema republicano tinha ao menos uma justificação...
Temos assim de concluir que afinal tudo se compagina. Até a canalização da verba da venda da chapa para a dessalinização de águas nos países mais necessitados do líquido essencial à vida. É que há obras caridosas mais iguais do que outras. E como demonstra a conexa imagem publicada, nem toda a nudez será castigada.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Memórias do Matadouro

Na duvidosa efeméride de tanto sangue inutilmente vertido, dois livros esclarecedores. Um, anárquico, repleto de lugares comuns nos fundamentos, mas importante na transmissão do que observou, o de Ferreira do Amaral. Na torrente de ideias e palavras atiradas aos olhos de quem lê falhará na identificação do que estudos científicos insuspeitos e actuais demonstraram, a utilização sem escrúpulos pelos Democráticos de Afonso Costa e Evolucionistas arrastados da entrada na Guerra Europeia como forma de legitimação que conduzisse à aceitação do regime. Mas, para além de um psicologismo pouco consequente, o de atribuir essa obsessão a uma tesura, ou conversa de valentões que nada arriscam do que lhes é próprio, põe a nu um outro aspecto, o da tentativa de justificação de um governo saído de uma revolução contra Pimenta de Castro e carecido de outro título de legitimidade.
Essa diplomacia sem escrúpulos, que fingia defender a preservação do Ultramar enquanto mandava para as trincheiras francesas tropas essenciais à sua defesa, era A Grande Mentira. E prossegue, condenando o Sidonismo, por apenas ter parado o envio de carne para canhão, sem coragem para retirar as tropas insubordinadas por faltas de toda a ordem.
Embarque do Gado, é como é chamado o sinistro envio dos nossos militares...


A outra obra, de um comandante no terreno, Gomes da Costa, é mais documental, embora menos indignada apenas no tom. Nela encontramos os pedidos de material, quadros e rotações que, não correspondidos, tornaram praticamente permeáveis as defesas consignadas aos Militares lusos. A derrocada explica-se por essas fraquezas, pura culpa do governo, como pelo moral enfraquecido que gerou a incompetente leitura das informações de concentração de efectivos inimigos, de identificação do bombardeamento preparatório, da garantia das comunicações e da própria capacidade de perceber a penetração da vanguarda alemã, a qual cortou o arame farpado e conseguiu chegar às nossas posições sem que alguém desse por ela. Daí a debandada, com os muitos nichos de bravura à moda de enclaves. Uma única Arma funcionou como bloco e eficazmente, a Artilharia, o que é uma pálida consolação para mim, por ser onde servia o meu Avô.
Ao primeiro ataque sério, o C.E.P. teve a sua débâcle. As culpas cabem inteirinhas à tríade Costa, Chagas e Norton, que pouco se importaram com a previsível carnificina, desde que se promovessem...

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Influências

Depois das «Memórias...», leitura deste diário do Grande Clínico e Patriota que foi o Conde de Mafra. Bons retratos dos influentes daqueles conturbados tempos, que ele conheceu bem, fala-nos da cobardia das gentes, apavoradas pelo terror dos Republicanos, sem ousarem sequer assistir a missas por alma de D. Carlos e D. Luís Filipe. E traz-nos um retrato de Soveral, com qualidades e defeitos: a persistência da sua presença na Política Britânica, após a morte do seu Real Amigo, sem fortuna e já cargo oficial; o seu dedo na confecção da declaração desgraçada do exilado Rei D. Manuel II contra a abrangência dos legitimistas pelo Movimento de Couceiro, fazendo-o assim alinhar com o interesse britânico de pacificar, mesmo que à custa da aceitação do triste fruto revolucionário
(...)Como sei que posso absolutamente contar com a dedicação de muitos, a estes me dirijo, para lhes declarar que reprovo completamente o carácter "neutral" do movimento e que repudio igualmente qualquer espécie de acordo com o partido miguelista, com o qual nunca tive entendimento algum.
E no entanto... no mesmo local somos postos a par do papel que o grande Diplomata desempenhou em libertar o Rei da aceitação acrítica dos conselhos femininos que, não querendo verter mais sangue, O tinham feito concordar com a transigência da Acalmação:
O Marquez de Soveral teve o grande mérito de tirar o Rei D. Manuel debaixo das saias da Rainha D. Amélia, da Condessa de Figueiró e da D. Izabel Ponte.
Dizem que entre o regicídio de 1 de Fevereiro de 1908 e a proclamação da república em 5 de Outubro de 1910, as ordens no Paço Real foram dadas superiormente por estas três Senhoras.

Somos assim levados para a posição muito mais nacional que culminou nos acordos de sucessão ao Trono que extinguiram a Questão Dinástica em Portugal. Tudo somado, a prova de que a aprendizagem e experiência de um Rei também devem a quem momentaneamente errou.

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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Recusa da Compaixão

O parAlamento português viu a sua maioria recusar um voto de pesar por um assassínio político. A República, pela sua instituição mais poderosa, imaginando uma bondade indivisável, por via da ideia que faz da beleza do seu ideário, ligou-se indissoluvelmente ao assassinato como arma. O Deputado Alberto Martins não me deixa mentir. A quem goste dessa companhia desejarei, não que seja o próximo a abater - porque não sou igual -, mas muito bom proveito.

Memória e enjoo

Lisboa é uma terra tão extraordinária que, depois, mais tarde, quando veio a República, apareceram várias pessoas gabando-se de que tinham entrado no regicídio.
Raul Brandão

Que um governo escolha a neutralidade entre a homenagem e o crime, proibindo a força armada de prestar honras a um Chefe de Estado assassinado, define-o, como definidos estão os governantes da Acalmação, quando proibiram o desfile diante dos corpos do Rei e do Príncipe Real e contemporizaram com as romagens aos túmulos dos regicidas. As desculpas são fáceis de arranjar, mas são dos que pagam pouco e mal: "prevenir ofensas ao cadáver, evitar excitação que derramasse sangue...". Num caso e noutro, medo de usar a polícia para o que, afinal, deve servir.
Que naquele tempo houvesse demasiados admiradores dos criminosos e hoje apenas uma vintena mal contada, nada diz de emenda das gentes, apenas dá conta do ensimesmamento delas.
D. Carlos foi vítima de ter acreditado poder regenerar os partidos fazendo-os rodar, ao abrigo de uma leitura interventiva do Poder Moderador. Como Soberano, apesar de Lhe reconhecer a obra diplomática, não me é especialmente simpático, tanto pela minha fé Legitimista, como pelo anti-clericalismo que também abraçou. Nunca O serviria, mas jamais me alegraria com a morte Dele, como fizeram, arrastados na voragem do tempo, alguns outros.
O Filho foi, nos seus poucos anos, o símbolo da própria fidelidade: em 1907 ficou representando a Coroa e, numa récita no teatro D. Amélia, aos inimigos paternos que O aclamaram como D. Luís II, terá chorado e dito:
- Como me julgam capaz de por uns vivas atraiçoar meu pai? Que Deus lhe dê muita vida!
É tempo de acabar. Com o colchão do Arsenal da Marinha em que depositaram os restos moribundos da Vítima, fica a imagem da prostração de Portugal, só momentaneamente resgatada por um Génio que, posteriormente, passou. Hoje, sem Trono, cada vez vejo menos governo, salvo se por isso se entender a delegacia de poderes supra-nacionais. Que condiz perfeitamente com a receptação dos proventos das balas do Terreiro do Paço.


quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Um 31 dos Antigos

A 31 de Janeiro de 1891, no Porto, sucumbia definitivamente a primeira tentativa Republicana séria, após o partido ter ganho audiência, com o Ultimato. A propaganda, que só encontrara até então orelhas moucas, passou a germinar junto das classes citadinas que, por lerem jornais, se consideravam letradas e portadoras da Salvação da Pátria. O grande estandarte haveria de ser a colonização como as dos outros, atacando a política Monárquica de alianças com as chefias indígenas como fraqueza e nem considerando hipóteses de integração como a posteriormente tentada pelo Estado Novo. A incapacidade associada a opção diversa da exploração pura e dura estaria doravante em todos os discursos.
O golpe, propriamente dito, escapando à hierarquia pelas mãos da baixa oficialidade e pela agitação dos sargentos, foi teatral de uma ponta à outra, desde o empolamento do discurso de Alves da Veiga à ideia de desfile armado que brindou a Guarda Municipal, a fiel de todos os governos, com um alvo facilitado.
Mas estava criada uma mitologia mobilizadora, fornecendo a preceito heróis e símbolos. A própria bandeira verde-rubra foi buscar a sua génese à dos revolucionários de então, trazida de um misto de Maçonaria e Positivismo que era o Centro Democrático Federal.
Apresenta-se assim mais uma lição da História: a falta de jeito do momento pode, desde que aplicada nalgum fragor de mudança, vir a ser semente que frutifique. Um exemplo a tomar pela Causa que valha a pena, ou seja, a inversa do acontecimento lembrado.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Consumo Público

Hã, hã, será que foi mesmo isto que o Presidente Francês anunciou? Se assim foi, está-se a recuperar outro hábito do Trono de S. Luís, em que a consumação dos casamentos régios era até testemnhada, para que dúvidas não restassem. A página 14 nada diz, é inteiramente composta por anúncios. Pensando melhor... diz muitíssimo, está tudo ligado.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

A Vertigem da Bala

Um Dezembro O trouxe, outro O levou. Nada sobraria da República Nova, porque o Presidente só foi também Rei no génio do Poeta. Morto, não havia sucessor legal para pôr.
Hoje há tipologistas da Política que o dizem protofascista. Não foi coisa que se parecesse. Onde Mussolini fundou um movimento, mais tarde um partido, para conquistar o Estado, Sidónio recebeu-o das mãos de uma oficialidade jovem, romantizada nos Cadetes que formava, cansada de ser instrumento de conúbios satânicos entre Democráticos e Evolucionistas, copistas descarados até na designação da União Sagrada da França governamental-revanchista. Paes não era expansionista, nem vanguardista, apesar de favorável a reformas sociais opostas à repressão costista não assentava num sindicalismo alinhado previamente. Procurou o apoio das foças políticas do Regime que se opunham ao sistema jacobino: os Unionistas donde ele próprio provinha, os amigos de Machado Santos, desgostosos com o que a obra dera. Uns logo o traíram, os outros não contavam suficientemente. Voltou-se para os Monárquicos, os quais, com o sacrifício de ideais por amor ao País que sempre os entorpecerá, aceitaram colaborar, numa lealdade recíproca.
O único traço que se poderia apontar de paralelo com o que triunfaria em Itália na década seguinte era o apoio dos Combatentes. Mas de diferente natureza. Enquanto que nos veteranos transalpinos sobressaía a amargura de um esforço nacional expresso no seu sangue e insuficientemente recompensado, por cá grassava o sentimento de revolta por se verem atirados, sem preparação nem enquadramento, para as sangrentas trincheiras de um morticínio que não visava o interesse de todos, antes procurava proporcionar boa figura aos tiranetes que nem a fraternidade maçónica evitava que fossem troçados por essa Europa fora. Os Desgraçados, privados, por incompetência e indisponibilidades, da prevista e necessária rotação das unidades, bem cantavam:
Ó Grande Sidónio Paes,
Director da Revolução,
Não nos deixes sofrer mais.
Rende a nossa guarnição

Idolatrado pelas Mulheres como só D. Miguel o fora antes, tombou no Rossio num 14 de Dezembro, vítima das balas de um assassino que seria subvencionado pela Maçonaria, através do próprio Grão-Mestre, Magalhães Lima. Nada que espantasse. Já tinha havido o Regicídio e anos de crimes sem conta. Dizem que só à primeira vez é que custa. Aos facínoras nem essa, suponho. Diante do corpo, no velório, o Ministro Norte-americano acreditado em Lisboa proferiria o que tantos mais tarde diriam de Salazar:
Era um Homem demasiado grande para o país
Verdade, mas para aquele em que nos tornámos, no Passado foi diferente.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

O Lodaçal Que Afogou

Que me faz 6 de Dezembro lembrar? O fim de um regime, a I República, que vigorou em Portugal, a mais falsa moeda política que conhecemos, feita tombar por um caso gigantesco de fiduciária falsidade o qual quintuplicou as notas de 500$00 em circulação. Este foi o dia em que foi preso Alves Reis e, com ele atingido o que as arbitrariedades persecutórias partidário-policiais não tinham precipitado: o fim do detestável ciclo político. Os Portugueses destes tempos não se importavam grandemente com a perseguição dos vizinhos, mas não gostavam que lhes fossem à bolsa. Hoje andam tão anestesiados que estão por tudo.
Em dois sentidos maiores foi a facilidade com que este crime floresceu que catapultou Salazar. É que no caso ficaram abalados os dois maiores factores de permanência de uma anarquia em que os governos não mandavam nem duravam, salvo para encomendar a grupos sinistros serviços mais sujos ainda do que as respectivas mãos. O primeiro foi a ruína do colonialismo exemplar em nome do qual o Republicanismo agitara, caluniara, matara, crescera e se instalara. Concessionando a emissão de moeda ultramarina a interesses particulares e administradores sem garantias, com o desfecho fraudulento que se constatou, caíam por terra a "exemplaridade" da administração colonial e o mito do rigor financeiro. Eliminando Inocêncio Camacho, Governador do Banco de Portugal sobrevivente de uma infinidade de gabinetes, não pelo envolvimento que o criminoso tentou, mas pela responsabilidade técnica que o permitira, obrigar-se-ia a Ditadura Militar do ano seguinte a achar um técnico financeiro fora do Arco do antigo PRP. Há males que vêm por bem.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

O Grande Barrete... Frígio

Se as posições políticas de Fernando Pessoa ainda são referidas ao de leve, graças à simpatia maçónica e resultante zanga com Salazar, as de Almada Negreiros costumam ser prudentemente omitidas de toda a reportagem televisiva que aborde a obra do Artista. Eis como, no «Papagaio Real», pôs a República a falar com Bernardino Machado, perguntando-lhe pelos sentimentos do Zé Povinho quanto a ela e obtendo o relato das saudades da Monarquia de que Aquele enfermaria.
A República de Terceira de hoje será menos sanguinária, porém, em boçalidade, tal mãe, tal filha. Com a agravante de as cartolas dos eleitos actuais serem usadas à maneira dos ilusionistas, para enganar a audiência, não já para as chapeladas do Cordial B. M.
O título da caricatura encontra-se mais justificado do que nunca.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Sangue Na Noite

A morte de António Granjo, vista por Stuart

19 de Outubro leva-nos ao de 1921 em que a República levou a autofagia a extremos de carnificina desconhecidos no nosso País, fora do período das Guerras Civis. Noite Sangrenta lhe chamaram e o sangue juntou-se à saliva com que tentaram espalhar a mentira da responsabilidade monárquica pelos assassínios. Não colou porque, apesar de unanimemente reconhecidos como burros, os Monárquicos não o eram tanto que se acreditasse, caso usassem os métodos da Formiga Branca, que se voltassem contra conciliadores dentro da sua intransigência de princípios, como Granjo, ou contra os Sidonistas com quem tinham colaborado. Sobretudo não pegou porque se esqueceram de instruir convenientemente na coerência aldrabona os baixos executores: a marinhagem que urrava o desforço que tirava dos superiores e o Dente de Ouro que, anos depois, dizia furibundamente "não ser Talassa", uns e o outro rodeados de "calem-se" e "cala-te" de elementos de ligação presentes.
Noite Sangrenta lhe chamaram, assim poderiam ter chamado a toda a I República dominada pelos Jacobinos.
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sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Nessa Não Embarco!

No equivalente dia de 1910 a Revolução em Lisboa ganhava porque, apesar de tudo, se mostrou a menos incompetente das partes em conflito. Disse eu partes,? Gralha imperdoável, parte só havia uma, pois toda a tropa e mais gente disposta a combater não encontrou correspondente vontade e capacidade num Chefe que fosse, salvo uma bateria de Artilharia da Rutunda, com um Couceiro prenunciador.
Faltava afastar o Rei. Um simulacro Dele, pobre Rapaz recentemente investido num Papel para que não fora preparado e sem ter decorrido o tempo que promove as superações em casos similares. Numa actualização do Portugal é Lisboa e o resto é paisagem a arrogância da Burguesia Republicana da Capital tinha, pela voz de João Chagas rosnado
tenhamos a vitória em Lisboa e o resto faz-se por telégrafo. Lembra bem Rocha Martins o esquecimento de outra frase do mesmo, eu, se visse um rei ao pé sentiria tremer as pernas e as convicções. À cautela, porque uma Real Presença, mesmo marionetada pelos políticos dos partidos, pode lembrar a alguns fracos - mas não falsos - juramentos prestados, urgia pôr o Soberano ao largo. Foi o que fizeram, literalmente, na Ericeira, enganando-o com o engodo do transporte da Realeza para o Porto, evitando uma qualquer veleidade agigantadora de resistência na Província. Uma vez apanhado a bordo veio a segunda etapa do engano, rumo à desistência: a da apresentação do triunfo republicano como facto consumado, o que não custou, num país em que as atitudes tidas por "mais dignas", como a do Comandante da Guarnição Portuense, se ficavam pela recusa de içar a bandeira antes de confirmada a vitória dos revoltosos. A dignidade identificada com a adesão aos ganhantes, factor duradouro nos influentes de um país que, se reduzido ao número e tempo deles, bem mereceria a falta de sorte que fez embarcar o Ocupante do seu Trono para outras costas e a Nação para o afundamento.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Contento das Mónicas

Se há coisa que não percebo é o espavento que por aí grassa acerca do facto de a jornalista Mônica Veloso, peça central de um escândalo envolvendo o Presidente do Senado Federal Brasileiro, ter posado para a «Playboy».
Afinal, sabe-se como os meios públicos do País-Irmão prestam grande atenção ao que nos EUA se faz. Tendo havido por lá uma escandaleira com uma Monica, a Lewinsky, embora os contornos sejam diversos, é natural que se quisesse, nos Trópicos, eliminar o vestido, como todos lembramos incriminatória prova por via da mancha de recordação...
E que Diabo, a função de uma Mulher da Imprensa, não é, como a dos homens, pôr tudo a nu?

Vendo os resultados caio é numa certa melancolia. Sem desprimor para as Jovens, esperar-se-ia que Personagens tão altamente colocados elegessem as Belezas mais indiscutíveis. Detesto a actuação política de John F. Kennedy, cúmplice da Mafia, inimigo do Portugal Ultramarino, nepotista em grau extremo, iniciador de aventuras vietnamitas sem futuro. Mas que tinha olho para as muitas Beldades que conheceu, biblicamente falando, isso é inegável.
Agora, se me garantem que a legenda da capa da revista está correcta, pensando no que se relembra de hoje para amanhã, desde 1910, faço já o voto de que se importe esta celebridade e que ela faça com o regime português o que fez com a sua saga fotográfica: insatisfeita com o ensaio, aqui mostrado em grande, terá caprichado na segunda tomada...

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

O Que É Doce Nunca Amargou?

Que há dias para tudo é facto indesmentível. Hoje, ao abrir a TV, num daqueles programas familiares, o da manhã da TVI, fui informado de que se celebra o Dia do Pão de Ló. Muito justo, que a Idade do Desperdício que atravessamos, sobretudo no que se refira à Classe Política, só suporta a descritiva comparação de mais valer sustentar (outros) burros a pedaços da obra de pastelaria mencionada. Mas tempos houve, não demasiado recuados, em que, fazendo jus à sua significação originária, a de tela pura e rara, se usava como auxiliar de comemorações, um pouco como o Champagne da primeira globalização, ou o nosso Vinho do Porto, tradicionalmente adstrito a momentos dignos de memória. Por isso também o invoco, visando celebrar o regresso da T, enquanto não nos dá notícia das leituras estivais. Nessa onda de festejo, a travessia do Canal da Mancha por Baptista Pereira foi comemorada pelo respectivo agregado com o famoso Pão de Ló de Alfeizerão, o tal que só tinha afamados rivais no de Margaride, perseguida terra que sob a designação de Felgueiras saltou recentemente para a ribalta por piores e criminais motivos, como no de Ovar, que, entretanto, tinha de suportar a concorrência de outras obras de doçaria.
Altura que considero conveniente para convocar uma entrevista de 1949 do Mestre Confeiteiro Severino Mateus, no seu tempo tido como recordista da produção de broas, bolo de coco e... pão de ló, os quais opunha aos cremosos produtos em ascensão entre a mocidade gulosa da altura. Confessava nem sequer os provar, circunstância que confere reforço de razoabilidade a quem advoga deverem os barmen ser abstémios.
E, para cúmulo, conta o episódio de uma encomenda para repasto solene a que compareceriam ministros e outros figurões do regime implantado em 1910. Em concorrência com duas casas rivais, lembrou-se de fazer em doce o busto da República. Diz que ficou muito bem, até que, à primeira facada, veio tudo abaixo, o que durante dias foi tido como sinal de uma tentativa de restauração Monárquica coeva que, segundo ele, fez a coisa estar "por um triz".
Caso para dizer que a previsão vai com noventa e tal anos de atraso. E ainda querem que goste de açucarices?

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Sobrou-lhe um "I"zinho Assim...

Na véspera do jogo contra a Arménia a argúcia de Scolari fez com que alertasse o público português contra os perigos que à representação do País o Estádio Republicano, bem visto como "tapete remendado", acarreta. Tivesse o Seleccionador suprimido o "i" da primeira palavra da perigosa entidade e, como ensina a outra do anúncio, sobre isso nada haveria a dizer.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

As Máscaras do Perdão

A Árvore do Perdão de Edward Burne-Jones
Nicolas Sarkozy recusou-se a participar nas tragicomédias dos perdões e amnistias anuais habitualmente cometidos a 14 de Julho e muitíssimo bem. Desde logo, por ser de louvar não mais cair na tentação de branqueamento de um horror histórico com um acto de generosidade. Mas a razão aduzida também tem o seu valor específico. Dizer que não se deve banalizar matéria tão grave como a renúncia à punição por se entender que não é correcto recorrer a esse meio para aliviar sobrecarga prisional francesa está muitíssimo bem e gostaria de ter visto paralelo argumento, na nossa Terra, interditar descriminalizações de drogas e abortos em nome também da gestão dos cárceres do Estado.
Mas há muito mais. O perdão não pode ser dado por poderes eleitos, ou surgirão sempre as suspeitas de favorecimento, se não de clientelas, ao menos de sintonias axiológicas, como no caso de grapças colectiva em função da medida de pena aplicada. Um Rei poderia fazê-lo, vinculando a Comunidade, por não ter sido levado ao cargo por uma parte dela. Um presidente, nunca. Nos EUA deram ao Chefe de Estado uma latitude quase discricionária na concessão do perdão, para que não ficasse num plano inferior aos Soberanos Ingleses de Setecentos. O resultado está à vista: ainda hoje surgem notícias de legisladores importantes pedindo explicações a Bush do indulto ou comutação do Sr. Libby.
É que a grandeza de perdoar é incompatível com a atribuição de cumplicidades.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Os Sentidos Duma Entrega

Bartholdi no seu estúdio

Neste dia do mês, de 1885, era entregue em Nova Iorque, como oferta da França para as comemorações da independência americana, a escultura de Bartholdi «A Liberdade Iluminando o Mundo». Pouco importa neste momento lembrar que foi uma terceira escolha de estátua colossal, pelo escultor, após terem sido recusados um projecto para farol celebrativo do Canal de Suez e a representação de Vercingetorix, em Clermont-Ferrand. Também não interessa dissecar os motivos pelos quais se virou para a América, intoxicado pela ingénua e fanática admiração do seu grande amigo Laboulaye, historiador/adorador dos EUA, antes mesmo de ter ido lá verificar a bondade do que cantava. Este teria, aliás, como co-redactor do texto inscrito numa medalha enviada para o Novo Mundo, após o assassínio de Lincoln, sido responsável pela primeira idealização, sob forma alegórica é certo, de uma petrificação do motivo: Dedicada pela democracia Francesa a Lincoln... o honesto Lincoln que aboliu a escravatura, reestabeleceu a União e salvou a República, sem velar a estátua da liberdade.
O que se impõe hoje é salientar a cegueira da França de Luís XV, que enviou voluntários, apoio e quadros militares, para irritar o rival inglês, lançando o fermento da destituição da sua própria dinastia. Ao pé disto o comboio congeminado pelo Império Alemão que levou Lenine para a Rússia dos Czares é brincadeira de crianças. Custou muito sangue, mas a infecção já foi neutralizada, enquanto que a gangrena liberal-republicana continua a obrar. Nada admira que a III República francesa haja enviado o artista numa pomposa delegação presidida por um Rochambeau neto do combatente de Setecentos, toda babada com a asneirada do seu Rei.