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quarta-feira, 23 de outubro de 2024

BLOGUEANDO POR AÍ

Encontrado na Antologia do Esquecimento:

«Ontem, um amigo mandou-me uma mensagem a dar conta de que sua excelência a Ministra da Cultura foi para o festival literário de Óbidos gabar a rede de bibliotecas. Pois muito bem. Só que a senhora disse que as bibliotecas são centros de actividade onde inclusivamente se podem realizar aulas de tricot, yoga, croché. Hoje, o mesmo amigo envia-me a notícia de que a "Livraria Lello quer médicos a receitar livros e lança petição para que Parlamento o decida". Sic erat scriptum. Quando era livreiro tinha pesadelos com clientes que saíam da livraria com sacos cheios de canecas, lápis, baralhos de cartas, marcadores para os livros, óculos de leitura, sabonetes literários. Levavam tudo menos livros. Eram pesadelos que se tornaram realidade. A ficção não foi superada pela realidade, fundiram-se uma na outra a ponto de hoje nos ser difícil aceitar que o mundo não é um grande manicómio. Sendo este o caminho, deixo algumas sugestões: que os livreiros passem a vender ansiolíticos e que as bibliotecas se transformem em casas de passe e que os hospitais sejam discotecas e que o Parlamento produza pastéis de nata e que os parques e jardins se tornem definitivamente grandes salas de espectáculos a céu aberto e... Ah, espera, os parques públicos já são grandes salas de espectáculos a céu aberto. Enfim, chego sempre tarde ao futuro.»

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

IMPORTÂNCIAS

«O mundo não seria maravilhoso se as bibliotecas fossem mais importantes do que os bancos?»

 Frase de uma das personagens da série de banda desenhada Mafalda da autoria de Sem comentários:

quinta-feira, 30 de maio de 2024

MARCADORES DE LIVROS


Marcador de livros, oferta da Livraria «Pó dos Livros» que, infelizmente, fechou portas há uns anos atrás.

Colaboração de Aida Santos


quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

REVISÃO DE NOTÍCIAS LIDAS


 Hoje, vamos reler uma notícia assinada por Teresa Serafim, publicada no Público de 7 de Dezembro do passado ano.

Guardei o recorte, mas há dias por aqui se falou de um livro publicado pela Ulmeiro,  ressuscito a notícia.

Com o apoio da Junta de Freguesia de Benfica, a livraria Ulmeiro voltará a ter um espaço físico no bairro que a viu nascer em 1969 e após 50 anos na Avenida do Uruguai foi obrigada, em 2019, pela especulação do senhorio que exigiu um estúpido e impossível aumento de renda, a mudar-se para um espaço na Fábrica de Braço de Prata.

Fundada por José Ribeiro, regressará à Avenida do Uruguai, no mesmo lado da antiga livraria, continuando como livraria-alfarrabista, terá uma galeria de arte também actividades culturais, com sessões de leitura. Na reabertura, deverá ter uma exposição sobre os 50 anos da Ulmeiro, que incluirá material de uma antiga exposição e uma série de fotografias novas.

O novo espaço chegará com a Primavera e José Ribeiro gostaria que fosse a 21 de Março para coincidir com o Dia Mundial da Poesia.

«Recomeçamos num espaço mais pequeno e queremos continuar a contribuir para alguma actividade no bairro. A Ulmeiro é um espaço que fazia falta», disse José Ribeiro

Fazia falta não só a Benfica e arredores, aos seus muito dedicados clientes e frequentadores para uma converseta a propósito de tudo e mais alguma coisa, mas especialmente a José Ribeiro.

Estive tentado a titular esta futura vida da Ulmeiro colocando-a num Itinerário do Eduardo. Pela simples razão que, entre tantos livros publicados pela Ulmeiro, tenho especialíssima dedicação ao livrinho de capa vermelha do Eduardo Guerra Carneiro: Isto Anda Tudo Ligado.

No tempo de crise da Ulmeiro, ainda sem saber qual o futuro, recordo uma frase do José Ribeiro:

«No bairro há pessoas que descobriram que a livraria existe e estamos cá há 47 anos, é engraçado.»

terça-feira, 3 de outubro de 2023

QUOTIDIANOS


 O Verão que continua a passear-se pelo Outono lisboeta.

Comprar um livro na Bertrand, comprar também um saco com uma verdade quase eterna.

Colaboração de Aida Santos

sábado, 6 de maio de 2023

O OUTRO LADO DAS CAPAS


Não é bem o Outro Lado das Capas porque a contra capa do livro, excepção feita às palavras FIGURAS/MÚSICA A REGRA DO JOGO, está em branco. Pego antes na 1ª página onde se fica a saber que Corações Futuristas, com o subtítulo  Música Popular Notas Sobre Brasileira, foi comprada na Livraria Opinião e custou-me 280 escudos, ao cambio de hoje,  qualquer coisa como  um euro e 14 cêntimos.

No ano de 1978 ainda era um entusiasta da Música Brasileira, a nova e a antiga.

Mas, essencialmente, comprei o Corações Futuristas causa da capa do João Botelho.

Do autor sabia que James Anhanguera era o pseudónimo do jornalista português Sérgio Fernandes, que escrevia no «Musicalissimo», semanário de música e espectáculos, dirigido pelo José Jorge Letria, que começou a ser publicado antes do 25 de Abril e terminou no ano de 1982.  Lembro-me que por ali colaboraram Fernando Assis Pacheco, Mário Contumélias, José Nunes Martins e tantos outros.

As passagens de leitura que, calmamente, fiz na Opinião, não se mostraram conclusivas, nem entusiasmantes, mas como, já disse, comprei o livro pela capa do João Botelho.

Ainda há dias encontrei na Loja Frenesi Corações Futuristas, «exemplar estimado; miolo limpo» pelo preço de 22,00 euros.

terça-feira, 25 de abril de 2023

EM ABRIL, COM O SR. ALVES E O SR. PINA



 


Todos os anos por Abril, Luís Alves, o dono da Livraria Ler, junto ao Jardim da Parada, em Campo de Ourique, expunha, nas suas montras, livros que foram proibidos pela PIDE, bem como os respectivos autos de apreensão.

Luís Alves tinha 83 anos quando morreu a 23 de Janeiro de 2015.

Durante os consulados ditatoriais de Oliveira Salazar e Marcelo Caetano terão siso proibidos cerca de 4.000 livros de autores portugueses e estrangeiros.

 «Aos serviços de Censura pertence o encargo de corrigir o ambiente político», escrevia em 1932, o Director Geral  da Censura, Major de Artilharia Álvaro Salvação Barreto.

Manuel António Pina:

«Às vezes pergunto-me quem raio seria eu se, em vez de ter lido os livros que li, tivesse antes lido os que não li. Provavelmente cruzar-me-ia comigo na rua e não me reconheceria.

Quando lhe perguntaram um dia quem era, Borges respondeu que era todos os livros que lera. Todas as pessoas que amara, todos os lugares que conhecera.»

segunda-feira, 24 de abril de 2023

LIVRARIA OPINIÃO


 Fernando Assis Pacheco, num velho artigo em O Jornal tem uma crónica-reportagem a que chamou. «Um porta-aviões chamado Opinião».

E adiantava:

«Quem chamou porta-aviões à Opinião foi o Hipólito Clemente, 33 anos, livreiro, poeta de livro publicado, pintor que do gosto em ler entende que ser vendedor de livros é tão ou mais bonito.»

 A livraria «Opinião» encontrava-se nas traseiras do edifício do «República», mais concretamente as janelas e porta da tipografia do jornal davam para a Livraria, e o que por lá acontecia, os amigos e clientes que recebia, a apresentação de livros, exposições, colóquios  era um dos desesperos diários da PIDE. Visitas constantes para «verem» os livros fora do mercado que por lá apareciam sem se saber bem como. No dia 25 de Abril, quando Salgueiro Maia colocou as chaimites e a tropa frente ao Quartel do Carmo, na «Opinião» podia ver-se uma exposição de desenhos de Renato Cruz, então exilado em França.

Oitenta personagens onde pontificavam escritores, jornalistas, pintores, advogados, etc., animados de tudo e mais alguma coisa, excepto cifrões, inventaram a «Opinião» -livraria, discoteca, bar, ponto de reunião.

No Jornalde Crítica de 22 de Outubro de 1971,  sai o primeiro aviso de que brevemente iríamos ter Opinião.


Outras partes do filme:



Os passos que marcam o nascimento da Livraia Opinião estão rodeados de diversas peripécias e dificuldades que foram atrasando a sua abertura. Uma delas regista que o engano nas medidas de algumas das estantes levaram a que essas estantes fossem, a um excelente preço, colocadas à venda. Sei do que falo. Comprei uma dessas estantes por mil escudos, excelente madeira, acabamentos de primor e após 52 anos, apesar do peso dos livros, as prateleiras mantÉm o mesmo nível. 


No dia de 3 Dezembro podia ler-se que finalmente iríamos ter Opinião.


Na  véspera de Natal o Jornal de Crítica colocava o anúncio que a Livraria Opinião, finalmente, abrira as suas portas na Rua Nova da Trindade nº 24. Um bar no topo do edifício era a cereja no topo do bolo.

E a Opinião que conseguira lutar contra a censura pidesca encontrou situações insustentáveis após o 25 de Abril.  O capital era reduzido, as dívidas foram-se acumulando, os livros tornaram-se objectos de luxo.  Houve meses em que o dinheiro não chegava sequer para os salários e eram necessários dois mil contos que não foram possíveis arranjar e a Banca só emprestava dinheiro a quem o tem ou possa oferecer uma garantia,  e Não havia.

Num dos seus bookcionários, Fernando Assis Pacheco resumia a situação:  

Corria o ano de 1980 quando deixámos de ter a Opinião. 

Mais tarde, no mesmo local, imagem no topo do texto, instalou-se a Editorial Cotovia. 

Em Novembro de 2020 a Cotovia fechou portas. 

Hoje, não sei o que está no espaço que foi da Opinião e da Cotovia.

Terei, um destes dias, de dar corda aos sapatos  e depois dar notícias.

domingo, 23 de abril de 2023

DIAS & DIAS


 Segundo o calendário, celebra-se hoje o Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor. 

Acrescentam que a data tem como objetivo reconhecer a importância e a utilidade dos livros, assim como incentivar hábitos de leitura na população e lembram que nesta data, em 1916, morreu Miguel de Cervantes, e em 1899 nasceu Vladimir Nabokov, também o dia em que nasceu e morreu William Shakespeare.

Como por este Cais não se dá importância aos dias, que assinalam pessoas ou o que quer que seja, fico sem saber como aqui assim chego, pois há longos anos e longos, para mim, anos, todos os dias são Dias do Livro.

Como também não sei se há um Dia das Livrarias, mais concretamente um dia das Livrarias Desaparecidas.

O tempo em que entrava mas livrarias como a borboleta é atraída pela luz, quando havia livrarias e, hoje, em Lisboa, uma mão chega e sobra para as contar.

Não sei mesmo se há um Dia das Livrarias, mas conto, amanhã, trazer aqui o que foi a Livraria Opinião, que depois passou a ser a Editora Cotovia que fechou portas no findar do ano 2020, e agora, não sei o que lá está.

quinta-feira, 13 de abril de 2023

CONVERSANDO


 O que é uma cidade sem livrarias?

Só os loucos fazem estas perguntas. O resto não se importa com isso, com o que quer que seja,

Sou do tempo em que a cidade tinha livrarias, que havia livreiros que amavam os livros e disso faziam o seu mundo.

Continuo com saudades do José Duarte.

Tão cedo irei largar os livros que nos deixou.

Hoje, recordo um final de texto do «Jazzé e Outras Histórias». Tem por lá uma frase maravilhosa, única:

«… lia-se mais, lia-se melhor…»

O texto está na página 75:

« Agora já se pode escrever (poder-se-á) que naquela esquina nos anos 50 para os 60 havia livreiros com livrarias resistentes. Sempre que entro na «Barata» as recordo: a própria «Barata» pequenina, a cultura, sim a «Cultura» ali ao pé do Liceu Camões. E o medo à saída com os livros embrulhados debaixo do braço e o medo em casa com eles ainda meio-escondidos… Lia-se mais, lia-se melhor, aprendia-se, estava-se na idade.» 

terça-feira, 7 de junho de 2022

CONHECES? JÁ LESTE?


Não é bem falta de assunto, também não tenho grandes prazeres em falar de António Lobo Antunes, mas no último texto em que abordei Lobo Antunes, penso que ficou qualquer coisa por dizer, se bem que agora não esteja a ver o quê.

Adiante.

Para voltar a dizer que não sei quem é o autor desse crime-de-lesa-pátria que nos impede de ter as crónicas do António Lobo Antunes publicadas em livro.

Acredito na possibilidade única do mau feitio do autor.

Quando começou a fazer parte da Colecção Pléiade., disse aos jornalistas que sonhara com este prémio desde a adolescência, assim como um qualquer jogador de futebol quando entra num dos clubes grandes.

«É o maior reconhecimento que se pode ter enquanto escritor, muito maior do que o Nobel.», acrescentou.

Tirando as crónicas, Lobo Antunes deixou de me interessar.

Mas sei que tem alguns pedaços de prosa bem interessantes, principalmente nos primeiros livros que publicou e que eu balizo até à Exortação dos Crocodilos

Mas recordo o início de Os Cus de Judas, um verdadeiro achado.

«Do que eu gostava mais no Jardim Zoológico era do ringue de patinagem sob as árvores e do professor preto muito direito a deslizar para trás no cimento em elipses vagarosas sem mover um músculo sequer, rodeado de meninas de saias curtas e botas brancas, que, se falassem, possuíam seguramente vozes tão de gaze como as que nos aeroportos anunciam a partida dos aviões, sílabas de algodão que se dissolvem nos ouvidos à maneira de fins de rebuçado na concha da língua.»

No entanto, Lobo Antunes também tem atitudes de clareza e decência e em que realmente se porta como um ser humano, longe dos dias, quase sempre,  em que é rancoroso, arrogante, odioso, ciumento por tão ter alcançado a aura de José Saramago, com quem nada aprendeu.

Pego no 2º volume das suas crónicas e releio a que dedicou ao livreiro e escritor José Antunes Ribeiro. E só pelo José Antunes Ribeiro, pelo que foi, e é, justifica o ter tra

Copio:

«Há pessoas que gostam de livros. Há pessoas que vendem livros. Há pessoas que ditam livros. Conheço uma única pessoa que, por amor deles, os vende, os edita, os coleciona, os lê e, coisa ainda mais incomum, não sendo rico os oferece àqueles que considera partilharem da sua paixão; chama-se José Ribeiro, José Antunes Ribeiro e tem a inocência generosa de um menino por baixo dos caracóis grisalhos, do sorriso largo, dos óculos quase tão transparentes como os olhos, do dedinho minucioso a inventariar lombadas. Fez a Assírio & Alvim, fez a Ulmeiro e tirando os momentos em que surge por acaso à superfície da terra, alegre de uma timidez enternecida, habita uma cavezinha de Benfica, três ou quatro compartimentos pequenos semelhantes a corredores, a copas, a casulos, a nichozitos de abelha onde o seu corpo grande se move numa agilidade insuspeitada entre páginas e páginas impressas, mostrando, procurando, dando

- Tens isto?

- Conheces?

- Já leste»

no orgulho humilde, fraternal, de que a sua amizade limpidamente feita.»

Legenda: Aqui era a editora, o alfarrabista, a Livraria Ulmeiro na Avenida do Uruguai em Benfica.

 

terça-feira, 17 de maio de 2022

OS ITINERÁRIOS DO EDUARDO


Entendi colocar a aquisição deste livro nos Itinerários do Eduardo que tenho vindo a publicar por aqui.

Gosto muito do Eduardo Guerra Carneiro.

Gosto muito do título da Antologia publicada em Maio de 2018: Mil e Outras Noites

Gosto muito, apesar de tudo, de a ter adquirido.

O «apesar de tudo» explico a seguir.

Em Setembro de 2018 li no blogue Antologia do Esquecimento uma referência à publicação da Antologia do Eduardo.

Gostei acima de tudo do que o autor escreveu:

«Mil e Outras Noites, de Eduardo Guerra Carneiro, é dos melhores livros de poesia portuguesa que podíamos desejar.»

Exceptuando os primeiros, «O Perfil da Estátua» e «Corpo Terra», tenho todos os livros do Eduardo Guerra Carneiro

Mas o que escreveu Henrique Manuel Bento Fialho, levou-me a ter de comprar a Antologia do Eduardo que, lamentavelmente, não conheci pessoalmente.

Uma das vezes em que procurei o livro, foi na Avenida de Roma onde, quase lado a lado, estão a Bertrand e qualquer coisa que se chama «Leya/Fnac» e que noutros tempos, tempos negros, diga-se, foi porta aberta da Livraria Barata que forneceu , a toda uma geração,  livros que a  PIDE salazarenta proíbia.

Como se houvesse uma cassette gravada, tanto numa, como na outra livraria, foi-me dito que não vendiam livros de pequenas editoras. O porquê ficou refugiado como algo que vinha de cima e a que não sabiam dar uma resposta.

Em Janeiro deste ano, passei pela Almedina, no Saldanha, perguntei pela Antologia do Eduardo, tiveram o livro mas, ou venderam, ou devolveram. Mas o jovem que me atendeu,  que sobre livros não sabia apenas o que está nos computadores, adiantou que talvez ainda o encontrasse na Letra Livre, na Calçada do Combro.

Por Março lá cheguei à Letra Livre e, prontamente me informaram que ainda deviam existir 1 ou 2 exemplares em armazém que fica para os lados do «Bairro das Colónias», nome antigo.

Fui lá agora buscá-lo.

Um livro lindíssimo, editado em Maio de 2018, do qual se fizeram 300-exemplares-300.

O Manuel António Pina sempre disse que a Poesia está para acabar.

Quatro-anos-quatro em que não se conseguiram vender 300 exemplares, «dos melhores livros de poesia portuguesa que podíamos desejar».

O bocado de estante onde, aqui na casa, estão os livros do Eduardo Guerra Carneiro, ficou ainda mais reluzente.

E se pudessem, poderiam ver a alegria estampada no rosto por estar a escrever  este Itinerário do Eduardo.

Porque, como ele dizia, «isto anda tudo ligado».

 

Legenda:  Capa e contra capa de Mil e Outras Noites, tendo uma pintura de Hieronymus Bosh como fundo.

quarta-feira, 7 de abril de 2021

AINDA AS LIVRARIAS... AINDA OS LIVROS...


Mark Pocan, membro da Câmara dos Representantes nos Estados Unidos, escreveu, há dias, no seu «Twitter» que o facto de a Amazon pagar 15 dólares por hora não faz que aquilo seja um bom emprego, quando os trabalhadores, para cumprirem os horários excessivos de trabalho, são obrigados a mijar em garrafas de plástico para não perderem qualquer tempo na deslocação aos sanitários.

A Amazon argumentou:

Se fosse verdade, ninguém trabalharia para nós.

Aqui deveríamos pensar que estes capitalistas da Amazon - são TODOS assim - são mesmo gente que não respeita a dignidade dos trabalhadores, nem admitem que estejam sindicalizados.

Por estas e por outras, sou um defensor das livrarias. Nem aceito as livrarias dos grandes poderes da editoras como a Leya, ou a Bertrand. Quero livrarias indeoendentes.

Sei que os tempos estão perigosos para as literaturas.

Mas em algum tempo foram fáceis?

As livrarias, aos poucos, têm vindo a desaparecer.

Lembro sempre o arrepio do Jorge Silva Melo quando viu fechar uma livraria em Campo de Ourique.

Numa crónica a que chamou Já Fechou a Livraria, incluída no seu Século Passado, conta que uma pequena livraria abriu um dia em Campo de Ourique mas não chegou a estar aberta um ano.

«Por que não fui interlocutor solidário daquela senhora que efectivamente ousou e foi vencida? Por que hei-de perdoar-me a mim? Não foi isso mesmo o que eu disse àquele pequena livraria? Que não a queria? Que não me servia para nada? Que lhe prefiro a Internet e as fnacs? Se a pequena livraria fechou, fui também eu que a fechei».

Legenda: montra Abrilista da Livraria Ler em Campo de Ourique 

DEMASIADO VAZIO

Ainda não percebi as razões que levaram as autoridades (sanitárias e políticas) deste país, a fecharem as livrarias em tempo de pandemia. Nunca vi excesso de pessoas às portas das livrarias de modo a constituírem perigo de contágio. 

Uma idiotice como outra qualquer, uma ignorância como outra qualquer.

Perguntaram a Joaquim Manuel Magalhães o que lhe sugeria as cidades sem livrarias:

«Mostra-me um demasiado vazio, sobretudo por nesses armazéns apenas se encontrarem livres inúteis que dizem ter um público. Um gosto público que se abastece de nada, nem sequer sabe se gostará de ler. Gosta de ler o que para ali está. Mas em Londres, Paris, Madrid também já não há livrarias ou boas casa para poder comprar discos. Encontrei uma em Berlim, mas também já deve ter desaparecido. Falam em globalização. Mas onde encontrar tanto o antigo como o novo a não ser nas Amazons europeias ou equiparáveis?»

 

terça-feira, 23 de março de 2021

OLHARES


Não fica longe, mas as pernas, destes tempos já não têm aquela facilidade de caminhar de outrora.

Conheci-a no Bairro Alto e estava à mão de semear.

A livraria Ler Devagar abriu portas mo ano de 1999. Depois a especulação imobiliária levou-os para a Lx Factory em Alcantara.

Fui lá algumas vezes mas já há muito que não a visito.

A falta que mais faz

A raiz, o nome, dizem tudo: «Tudo o que é bom é feito devagar ou com vagar».

Uma deliciosa linha de pensamento.

«Espero que os compradores de livros se tenham apercebido de que é melhor comprar livros nas livrarias de bairro ou de rua do que nos centros comerciais», disse José Pinho um dos fundadores da Ler Devagar.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

SALTARAM O MURO


As livrarias fecham, sem dúvida, por motivos vários. Não sou a pessoa indicada para falar do assunto, a diversidade declina, embora nunca como hoje tanta gente publique obras de ficção, de memórias, de poesia, de culinária, etc. Há dias alguém explicava o ocaso das livrarias por este fenómeno: os leitores saltaram o muro, quase todos escrevem.

Francisco Duarte Mangas em A Cidade das Livrarias Mortas                  

quinta-feira, 2 de julho de 2020

ISSO É UM LIVRO?


"O Nariz de Gógol", solicitei. A rapariga era uma virago: "Isso é um livro?" O extravagante diálogo decorreu numa tarde de Abril numa livraria que já teve as suas horas, nesta cidade mesmo de Lisboa."Não vinha aqui procurar sapatos."A empregada, furibunda, avançou para o computador, gritando para uma colega: "Já ouviste falar de um livro chamado O Nariz?" A outra aconselhou a busca no computador. Lá fomos, e ainda ouvimos a voz desta segunda, perguntando: "Isso é recente?" "Sim, saiu uma edição há uns dois anos."
Velho livrariófilo (não é bibliófilo, é viciado em livrarias e estantes), desconfio destas livrarias onde os vendedores se precipitam para as máquinas à procura de stocks, não sabem o que está nas estantes, nem a cor do livro, nem me aconselham outra edição, ou mesmo outra obra ou outra ainda. Embora já o tenha, teria comprado as Almas Mortas tivesse a rapariga dito um "este saiu há menos tempo e é uma tradução do russo". E teria comprado Kafka, se me tivesse dito "são parecidos"; e então se tivesse apontado o que de Gógol há em Rodrigues Miguéis, cá trazia eu para casa mais uma Gente da Terceira Classe.
Depois da lenta consulta — e eu a querer fumar —, lá disse a assertiva jovem (também há jovens imbecis): "Isso não existe." A outra, mais simpática, trouxe-me até à porta e sussurrou: "Vá àquela ali, é melhor, nós não percebemos nada disto. "Lamentei, cá para mim, as misérias da vida que obrigam uma moça alegremente ignorante a trabalhar numa livraria e não numa lojinha de bugigangas, segui o conselho.
Pois não é que a empregada desta outra livraria, a "melhor", empregada mais antiga que fazia crochet, interrompe o passatempo e me olha, aterradora: "Isso é um livro?" pergunta. "É. E saiu há uns dois anos." "Ó Não-sei-Quantas chega aqui, conheces uma editora que se chama O Nariz?" grita para o fundo. "Não é uma editora, é uma novela, a edição é da Assírio & Alvim." "Dessa, temos umas coisas" disse, pousando o crochet e deixando-me com ténue esperança. "Não sei bem o quê, mas temos." E lá atacou o amaldiçoado computador. "Olhe, temos o Fernando Pessoa, esse temos, não quer?"
"Não, queria o Gógol" repeti, e já passara meia hora desde que me dera aquele desejo maldito de comprar uma das mais belas novelas desde sempre e jamais. "Isso é um livro?" repetiu a livreira, e foi a terceira vez que, numa livraria, me fizeram esta pergunta. Lá disse que supunha que, nas livrarias, se vendem livros (embora, para dizer a verdade, durante esta já quase hora, não tenha eu visto nem um cliente nem uma venda).

Jorge Silva Melo em Século Passado

quarta-feira, 20 de maio de 2020

ETECETERA


Marcelo Rebelo de Sousa foi às compras de calções e máscara.

A imprensa espanhola achou piada e o episódio tornou-se naquela detestável frase: «viral nas redes sociais.»

Não havia necessidade e ainda está tão longe a campanha presidencial.

1.

Ana Gomes não gostou que António Costa declarasse o apoio do Partido Socialista a Marcelo Rebelo de Sousa, e num tom apeixeirado afirmou: «O PS não é o partido do Costa!»

Manuel Alegre juntou-se ao coro dos que também não gostaram da cena.

O PS, excepção feita a Mário Soares – e mesmo assim!... – nunca se entendeu com as eleições presidenciais.

Nas últimas, apareceu Maria Belém apenas para chatear António Costa e tirar votos à candidatura de Sampaio da Nóvoa em benefício de Marcelo.

2.

Prescreveram dois casos de alegados abusos denunciados na arquidiocese de Braga.

3.

A Barata, livraria histórica da cidade de Lisboa desde 1957, está em risco de fechar portas.
Os tempos já não corriam de feição, a pandemia do Covid-19 complicou ainda mais a sua situação financeira.

4.

Os salários pagos aos gestores do Novo Banco, cresceram 75%.

A subida verificou-se nos dois últimos exercícios, apesar de nesse período o banco ter tido prejuízos milionários e sucessivas injecções do Estado.

5.

Crise tira 220 milhões de euros aos lucros dos bancos.

6.

O desemprego sofreu em Abril um aumento de 22,1 por cento, por comparação com o mesmo mês de 2019.

quinta-feira, 23 de abril de 2020

DIÁRIO DOS DIAS DIFÍCEIS


Hoje é o Dia Mundial do Livro.

Neste cais,  nunca ligámos aos dias de… seja lá qual for.

Andando à volta da não data, pesca-se aqui e ali alguma coisa, e serve-se a quem nos está a ler.

Uma mão chega – e sobra - para eu contar as livrarias independentes que ainda existem em Lisboa.

Sei que a maior parte dos livros que se publicam em Portugal não justificam perder qualquer ponta de tempo, a espreitá-los.

Sei o que é o McDonald’s, sei qual é a comida que tenho gosto em comer.

Leio cada vez mais devagar e releio mais do que leio. Alguns livros de escritores novos, ou que desconheço, não escreveram livros para mim, ou sou eu que não estou preparado para os receber.

Caramba! parece que foi o Jorge Luís Borges que disse isto.

Marina Tsvetaeva, poetisa russa, uma vida muito difícil, suicidou-se no dia 31 de Agosto de 1941, tinha 48 anos:

«Presos nas livrarias, cinzentos pelo pó e o tempo,
não vistos, não procurados, não abertos e não vendidos,
Os meus poemas serão apreciados como o mais raro dos vinhos-
Quando forem velhos»

A páginas 148 de A Sombra do Vento de Carlos Ruiz Zafón alguém observa «por que se queimam os livros? Por estupidez, por ignorância, por ódio… vá-se lá saber.»

Num livro sobre o julgamento de Nuremberga, alude-se à fogueira que os alemães fizeram da biblioteca de Tolstoi para se aquecerem. Sobre o porquê, um oficial alemão respondeu que «gostava se aquecer no calor da literatura russa.»

Manuel Hermínio Monteiro dizia que gostava de pensar que editava livros como quem trata de uma vinha.

Manuel António Pina disse um dia:

«As 300 pessoas que em Portugal compram livros de poesia são as 300 pessoas que escrevem poesia também – já pensei juntá-las numa almoçarada.

Um poeta é um autor minoritário, quando não confidencial. Há quem diga que escrevem “como se não fossem lidos por ninguém.”

Vive para escrever, mesmo que não viva do que escreve.»

As bibliotecas que temos em casa, dizia o meu pai, para serem dignas de serem uma biblioteca, têm que ter pelo menos uma boa parte de livros ainda não lidos.

Lembro-me que, ao longo da vida, foi comprando uma série de livros, história e filosofia principalmente, para que quando chegasse o tempo da reforma os lesse calmamente. 

Quando esse tempo chegou,  desatou a ver vídeos de velhos filmes e a ler romances policiais da Colecção Vampiro.

Gosto de casas que cheiram a romances policiais… dizia o meu pai.

Tinha lido o livro de enfiada. Passou a ter saudades do tempo em que o estava a ler. Pode pegar no livro, voltar a lê-lo, mas não é a mesma coisa. Disse o filósofo: Nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio... pois na segunda vez o rio já não é o mesmo…nem tão pouco o homem!

Há um filme de que gosto muito, baseado num livro da escritora norte-americana Helene Hanff.

O livro chama-se 84, Charing Cross Road, o filme em português teve o título de A Rua do Adeus, dirigido por David Jones, com Anne Brancroft , Anthony Hoptkins e Judi Dench.

Gira à volta da correspondência que a autora manteve com um livreiro da Charing Cross Road, a quem encomendava livros raros, e, entre os dois, foi crescendo gostos e gestos de amizade. 

Hoje, já quase não existem livrarias na Charing Cross Road. Tudo porque o custo dos arrendamentos, dada a especulação imobiliária, atingiu valores inalcançáveis por uma livraria, mesmo que fosse uma boa livraria.

Os ingleses perderam as suas livrarias, talvez tenham deixado de ler, caminho escancarado para que lhes acontecesse o Brexit.

Por aqui, soubemos que a Livraria da Editora Cotovia fechou portas. Estava situada frente às traseiras do extinto jornal República e onde em tempos antigos esteve a Livraria Opinião.

Hei-de escrever sobre a Livraria Opinião


A música que lhes deixo, é o tema musical do filme A Rua do Adeus da autoria de George Fenton.

Repito: um filme muito bonito.


1.

Um dos seis migrantes ainda desaparecidos do hostel da Rua Morais Soares, em Lisboa, que teve de ser evacuado no domingo por ter sido detectado um caso de Covid-19, foi localizado pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras em Inglaterra.

Como foi possível?

A Inglaterra não fica ali ao virar da esquina.

2.

A Polícia Judiciária localizou e apreendeu “um importante acervo documental, que fará parte do espólio da extinta PIDE/DGS”.


São “documentos relevantes e de um conjunto superior a setecentos negativos de clichés fotográficos, aparentemente de fichas biográficas de indivíduos identificados por aquela antiga Polícia, classificados pelo nome e respectiva alcunha”.


Do material consta ainda “negativos, integrando resenha dactiloscópica”, e “um dossier/inquérito de recolha de informação dactilografado e um livro manuscrito de registos de nomes”.

3.

Em cinco semanas, cerca de 26 milhões de pessoas pediram subsídios de desemprego no país.

4.

Os líderes da União Europeia continuam em reuniões e reuniões, correndo o risco que o que acabarem por concluir aconteça tarde de mais.


Mas parece que hoje houve luz ao fundo do túnel.

Tendo em vista a recuperação da economia europeia face à grave crise, houve uma proposta de fundo de recuperação.

O nosso primeiro-ministro ainda não sabe se será uma bazuca ou uma fisga.

Os detalhes serão conhecidos nos próximos dias.

5.

Os negros números:

Portugal regista 820 óbitos.

Os Estados Unidos continuam a ser o país do mundo a registar o mais elevado número de mortos: 46.583.

Itália: 25.549 mortos
Espanha: 22.157 mortos
França: 21.856 mortos
Grã-Bretanha: 18.738 mortos

Em todo o mundo já morreram 188.437 pessoas

terça-feira, 6 de agosto de 2019

OLHARES

Passou a ser uma pastelaria-a-armar-ao-fino-ao-pingarelho.
Passados uns meses, faliu.
Agora é uma loja de trapos também a armar-ao-fino-ao-pingarelho.
A fotografia tem alguns meses.
Ainda será loja de trapos?
Abençoada especulação imobiliária.
Assim se dá cabo de uma cidade.