No "Público" online de hoje, notícia sobre referendo na islândia:
"Islândia: referendo ao reembolso do Icesave chumbado por 93 por cento"
Donde se depreende que, se o referendo foi chumbado por 93 por cento dos islandeses, então eles não quiseram o referendo. Ou seria antes que a notícia deveria ter sido titulada:
"Islândia: reembolso do Icesave chumbado por 93 por cento" ou, menos correctamente, mais ainda de forma aceitável:
"Islândia: referendo chumba reembolso do Icesave por 93 por cento".
A falta de clareza na escrita trai a falta de clareza na mente.
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domingo, março 07, 2010
sexta-feira, dezembro 11, 2009
Presunção de inocência e cultura democrática
Devo dizer que me choca a facilidade com que se julgam pessoas na comunicação social e nos blogues. A mínima suspeita converte-se rapidamente em julgamento público e passam-se anos até que se esclareça a verdade dos factos (quando se esclarece) mas entretanto imagem pública das pessoas é arrasada sem que seja possível redimi-la no caso de se provarem infundadas as suspeitas transformadas em acusações. O caso do "climategate" é um exemplo mas em Portugal, nos últimos anos, este procedimento lamentável tornou-se uma espécie de desporto nacional. Por isso li com grande interesse, esta manhã, o artigo de opinião da Gabriela Bravo Sanestanislao no jornal "El País". O contexto em que discute este problema é distinto mas as analogias são óbvias para quem as quiser entender. Deixo-vos aqui o link para leitura e reflexão.
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quarta-feira, abril 22, 2009
É tarde...
Já aqui abordei, por diversas vezes, quer uma certa tendência para o alarmismo do movimento ambientalista, quer a dificuldade que este tem no seu relacionamento com os media.
A respeito do post de ontem publicado neste blog - "O que os números não dizem" -, um amigo fez-me chegar um link para um artigo publicado no passado dia 12 de Abril, no DN Ciência, e que pode ser lido na íntegra aqui. O seu título "Ave do ano em risco de extinção", é demolidor. É porém justo salientar a prudência do técnico da SPEA, de quem, aliás, sou amigo pessoal, que afirma que "os dados sobre a redução desta espécie não são fidedignos. Isto porque, em Portugal, a monitorização só começou em 2004, o que faz com que os primeiros resultados sobre o picanço-barreteiro, bem como as restantes espécies, só estejam concluídos em 2014". Tarde demais. O título arrasa com qualquer explicação à posteriori.
É o jornalismo que temos, bem sei. Eu diria até mais. É a sociedade que temos e que consome, preferencialmente, tudo o que é bombástico. Tudo o que choca. Mas é o que temos e já vai sendo tempo de aprendermos a lidar com os media. E convenhamos, quando publicamos informação "não fidedigna" (como a contida no gráfico que coloquei no post anterior retirada integralmente do site da SPEA, ver aqui), arriscamos títulos como este.
Gonçalo Rosa
domingo, abril 05, 2009
Quinta Grande
Passei há uns dias pela Quinta Grande, bem perto de Coruche. Foi ali que há mais de vinte anos ocorreu a primeira destruição de ninhos de Cegonha-branca condenada em tribunal (ver senteça aqui). O caso ocorreu na Primavera de 1988, quando existiam na Herdade da Quinta Grande, três pinheiros-mansos com mais de duas dezenas de ninhos ocupados por casais de Cegonha-branca. Em trabalhos de recenseamento, uma equipa da Quercus apercebeu-se que os ditos pinheiros iriam ser cortados dias depois, durante o período de incubação da maioria dos casais. Apesar de informada, a administradora daquela propriedade não hesitou em cortar as grandes árvores. O caso foi denunciado às autoridades e a dita administradora constituída arguida e posteriormente condenada a pagar 130.000$00 de multa e a construir duas estruturas artificiais para suportarem plataformas que pudessem compensar, para as aves, a perda daqueles pinheiros. A notícia correu o país, sendo este caso, ainda hoje, bem conhecido no meio rural.
Este condenação e a sua mediatização, ocorridas numa época em que a Cegonha-branca saía de uma forte e longa regressão, serviu como exemplo preventivo para outras situações análogas. Hoje em dia, a destruição ilegal de ninhos de Cegonha-branca deverá ser a causa de insucesso de apenas 1% a 2% dos casais que nidificam no nosso país.
Gonçalo Rosa
terça-feira, março 03, 2009
Produção nacional
Recebi há pouco um link para um fantástico pequeno filme, publicado no YouTube, feito por um português em Portugal, sem recurso a grandes meios de produção.
É uma bela demonstração do que se pode fazer em prol da divulgação do nosso património natural. Espero pois que, um dia destes, haja oportunidade para que trabalhos como este cheguem ao grande ecrã.
Parabéns, Luís!
Gonçalo Rosa
domingo, dezembro 07, 2008
Dificuldades de comunicação
No último post publicado neste blog - Caça e conservação -, Henrique Pereira dos Santos, abre a janela a uma questão que me tem despertado particular preocupação: a qualidade da informação publicada sobre questões ambientais nos meios de comunicação nacionais.
Nos últimos quase vinte anos, diversas foram as vezes que me relacionei com a comunicação social, quer como sócio activo de duas ONGAs, quer como técnico do então Instituto da Conservação da Natureza, quer ainda a título particular. Creio que em várias ocasiões, a essência da mensagem passou, com o devido rigor, mas sem linguagem tecnocrata e académica/cientifica que pouco têm a ver com comunicação propriamente dita. Todavia, muitas situações houve em que o resultado final (por mim) pretendido ficou bem aquém do esperado. Quase sempre por falta de rigor, que não raramente distorcia de forma considerável o que se pretendia transmitir. Por manifesta falta de preparação ou mesmo por alguma ingenuidade, reconheço alguma responsabilidade pessoal, mas salvo raras e muito honrosas excepções, sentia que, muitas vezes, do outro lado, abundava a falta de rigor e existia uma enorme ausência de preparação profissional para noticiar temas relacionados com questões ambientais.
A formação de uma opinião pública com boa capacidade crítica é essencial, por forma a elevar o nível de exigência da sociedade no que às políticas ambientais diz respeito. Os meios de comunicação social são, por excelência, veículos de informação e formação de opinião, pelo que, a bem da causa ambiental, a boa qualidade e rigor do que publicam deveria ser superior ao que, muitas vezes, se vai produzindo.
Contrariamente a Manuela Ferreira Leite, não quero cair no ridículo de responsabilizar os meios de comunicação social pela mensagem que (não) passa. Acho mesmo que cabe as organizações com responsabilidades nas áreas ambientais, afinal as principais interessadas, um importante papel. A excepção de algumas iniciativas, interessantes mas avulsas, muito pouco se tem feito para alterar o actual estado das coisas, no que, na minha opinião, deveria ser uma verdadeira e efectiva prioridade do movimento ambientalista.
Gonçalo Rosa
sexta-feira, janeiro 04, 2008
Malandros e trafulhas...
... ou a armadilha do justicialismo.
"António Costa esclareceu esta tarde que "as seis exonerações não correspondem a seis casos"."Há pessoas que foram exoneradas às quais nenhuma responsabilidade disciplinar ou criminal foi imputada. Trata-se simplesmente da confiança que é necessária em relação a quem dirige serviços onde ocorreram um conjunto de factos, mas não tem necessariamente que ver com a imputação de responsabilidades individuais às pessoas que foram exoneradas", afirmou."
Leio o Público on line de hoje e não acredito.
Afinal a substituição dos dirigentes do urbanismo da Câmara não tem nada com a sindicância, foi só uma coincidência temporal a substituição política de dirigentes e a divulgação de parte do conteúdo da sindicância.
Como em Portugal (penso que nos resto do mundo) os jornalistas são treinados para um dia desempenharem o papel heróico de denunciar os poderosos, corruptos, criminosos, etc. cairam todos no isco que foi lançado e publicaram o que inegavelmente tem interesse noticioso mas sem ouvir mais ninguém para além da fonte primária.
Nenhum dos jornais, que eu visse, ouviu um único dos acusados (acusados pela coincidência, claro, não pela Câmara).
Há diferenças abissais entre o Estado de Dierito e o justicialismo.
Mas pelos vistos são desconhecidas de muitos jornalistas.
Só isso explica, por exemplo, a permanência da historia da Portucale nos termos em que continua a persistir nas notícias.
Também ontem era noticiado comunicado da QUERCUS em que a QUERCUS, que aparentemente perdeu na providência cautelar que meteu, veio qual PCP dos velhos tempos proclamar a sua vitória.
É que em Junho ou Julho quando a providência cautelar foi metida a empresa clamava que estava a trabalhar num projecto na base zero de abate de sobreiros, estabelecendo um raio de vinte metros de protecção a cada sobreiro ainda existente. A QUERCUS entendeu que era insuficiente e meteu uma providência cautelar para parar todas as obras. Ontem o tribunal admitiu parcialmente a providência: não podem ser abatidos novos sobreiros nem ser intervencionada uma área de cinco metros em redor de cada sobreiro. O que já era um pressuposto da obra que estava a ser executada e se pretendia parar.
Mas como a QUERCUS está por definição no lado dos justos (e eu acho que está embora se esforce denodadamente por sacrificar essa convicção à eficácia mediática imediata) e a Portucale está necessariamente dos lados dos maus (e não faço ideia se está ou não, mas é crível que em muitas ocasiões se tenha esforçado por demonstrar que sim) os jornalistas esquecem o princípio básico do contraditório (ressalva para dizer que o público em papel de hoje tem um último parágrafo em que ouve o Presidente da Câmara a dizer o óbvio, que aparentemente a providência cautelar, tal como foi parcialmente deferida, não impede a continuação do que vinha a ser feito) e vá de zurzir os malandros, corruptos, gananciosos, etc. e tal.
Que os há, há. Que devem ser zurzidos, devem.
Mas que em cada história é sempre preciso ouvir mais que um lado era ideia que me parecia consensual.
A prática jornalística, nomeadamente em matéria ambiental, tem demonstrado que não.
henrique pereira dos santos
"António Costa esclareceu esta tarde que "as seis exonerações não correspondem a seis casos"."Há pessoas que foram exoneradas às quais nenhuma responsabilidade disciplinar ou criminal foi imputada. Trata-se simplesmente da confiança que é necessária em relação a quem dirige serviços onde ocorreram um conjunto de factos, mas não tem necessariamente que ver com a imputação de responsabilidades individuais às pessoas que foram exoneradas", afirmou."
Leio o Público on line de hoje e não acredito.
Afinal a substituição dos dirigentes do urbanismo da Câmara não tem nada com a sindicância, foi só uma coincidência temporal a substituição política de dirigentes e a divulgação de parte do conteúdo da sindicância.
Como em Portugal (penso que nos resto do mundo) os jornalistas são treinados para um dia desempenharem o papel heróico de denunciar os poderosos, corruptos, criminosos, etc. cairam todos no isco que foi lançado e publicaram o que inegavelmente tem interesse noticioso mas sem ouvir mais ninguém para além da fonte primária.
Nenhum dos jornais, que eu visse, ouviu um único dos acusados (acusados pela coincidência, claro, não pela Câmara).
Há diferenças abissais entre o Estado de Dierito e o justicialismo.
Mas pelos vistos são desconhecidas de muitos jornalistas.
Só isso explica, por exemplo, a permanência da historia da Portucale nos termos em que continua a persistir nas notícias.
Também ontem era noticiado comunicado da QUERCUS em que a QUERCUS, que aparentemente perdeu na providência cautelar que meteu, veio qual PCP dos velhos tempos proclamar a sua vitória.
É que em Junho ou Julho quando a providência cautelar foi metida a empresa clamava que estava a trabalhar num projecto na base zero de abate de sobreiros, estabelecendo um raio de vinte metros de protecção a cada sobreiro ainda existente. A QUERCUS entendeu que era insuficiente e meteu uma providência cautelar para parar todas as obras. Ontem o tribunal admitiu parcialmente a providência: não podem ser abatidos novos sobreiros nem ser intervencionada uma área de cinco metros em redor de cada sobreiro. O que já era um pressuposto da obra que estava a ser executada e se pretendia parar.
Mas como a QUERCUS está por definição no lado dos justos (e eu acho que está embora se esforce denodadamente por sacrificar essa convicção à eficácia mediática imediata) e a Portucale está necessariamente dos lados dos maus (e não faço ideia se está ou não, mas é crível que em muitas ocasiões se tenha esforçado por demonstrar que sim) os jornalistas esquecem o princípio básico do contraditório (ressalva para dizer que o público em papel de hoje tem um último parágrafo em que ouve o Presidente da Câmara a dizer o óbvio, que aparentemente a providência cautelar, tal como foi parcialmente deferida, não impede a continuação do que vinha a ser feito) e vá de zurzir os malandros, corruptos, gananciosos, etc. e tal.
Que os há, há. Que devem ser zurzidos, devem.
Mas que em cada história é sempre preciso ouvir mais que um lado era ideia que me parecia consensual.
A prática jornalística, nomeadamente em matéria ambiental, tem demonstrado que não.
henrique pereira dos santos
sábado, abril 07, 2007
Ciência, jornalismo, política e a construção de mitos
Antes de mais uma declaração de interesses: sou um dos autores que contribuíram para um dos capítulos do relatório do IPCC (Grupo de Trabalho II, Capítulo 4). Estou convicto que as alterações globais comportam riscos para a biodiversidade. Riscos que não são devidamente acautelados pelas políticas de conservação actuais. Porém, estou igualmente convicto que o tratamento ligeiro destes assuntos, pela comunicação social, tem efeitos perversos e mina a credibilidade da ciência climática. Infelizmente a comunicação social não está sozinha e mãos invisíveis encarregam-se de ajudar a falsificação de informação científica.
Falsificação jornalística:
O público de ontem, num artigo assinado por Ricardo Garcia (um jornalista cujo trabalho respeito e admiro) diz: “E o cenário não é brilhante. Uma versão preliminar do relatório obtida pelo PÚBLICO diz, por exemplo, que nada menos do que 20 a 30 por cento de todas as espécies da Terra correm o risco de se extinguir, se a temperatura média global subir 1,5ºC a 2,5ºC, em relação a 1990.”
O texto do relatório que o jornalista terá usado será o seguinte: “Approximately 20-30% of plant and animal species assessed so far are likely to be at increased risk of extinction if increases in global average temperature exceed 1.5-2.5 ºC.” (página 11).
Portanto, o que se diz é que 20 a 30% das espécies estudadas apresentam valores elevados de risco. O que é diferente de dizer que 20 a 30% das espécies do planeta estão em risco. Isto é particularmente importante quando a frase do IPCC se baseia num estudo publicado em 2004 na revista Nature onde se inferem impactes climáticos sobre 1,103 espécies, ou seja, 0.02% das mais de 4,000.000 de espécies que se estimam existirem no planeta.
Mãos invisíveis:
O estudo que foi usado para justificar a frase do relatório é o estudo que mais foi criticado na literatura científica, na última década, na área das ciências ambientais. As críticas são sérias e comprometem as conclusões do trabalho [curiosamente essas críticas não se vêm reflectidas no relatório agora divulgado; esperemos pela versão alargada].
No entanto, existe um aspecto que não se prende directamente com a qualidade do estudo mas que também é criticável e que consiste na deturpação voluntária das suas conclusões na hora de as divulgar à comunicação social. Os autores do estudo, através das agências de notícias das suas organizações, difundiram em Janeiro de 2004 um comunicado de imprensa em que extrapolavam os riscos climáticos da sua amostra não aleatória de 0.02% da biodiversidade global para a totalidade da biodiversidade existente no planeta concluindo, assim, que cerca de 1/4 da biodiversidade do planeta estaria em risco. Obviamente que tal disparate não consta do artigo original (o artigo nunca teria sido aceite se tal exptrapolação tivesse sido feita) mas foram estas frases que ressoaram na imprensa e fóruns políticos após a publicação do artigo.
Sobre este assunto fui, na altura, co-autor de um artigo de resposta, publicado na revista Nature, e intitulado “Dangers of crying wolf over risk of extinctions” (texto alargado).
É, assim, com algum pesar, que vejo repetir-se o ciclo de falsificação científica anteriormente denúnciada e criticada, agora, por ocasião da publicação de um importante relatório do IPCC. Este tipo de falsificações gratuítas da informação científica só servem os interesses dos que pretendem minar a credibilidade da ciência climática. Alguns media agradecem. Alguns políticos também. O ambiente? Tenho algumas dúvidas.
PS. Reparei que o erro detectado no artigo do Ricardo Garcia está a ser repetido por muita da comunicação social nacional e internacional. A mensagem errada terá partido do próprio IPCC que na comunicação que fez aos jornalistas no dia 6 de Abril referiu os tais 20-30% de espécies do planeta em risco. A tabela SPM1 do relatório do IPCC também induz a uma interpretação errónea do texto do próprio relatório. Os jornalistas preferiram usar essa frase “off record” do que a frase original do relatório que é mais cautelosa. Afinal de contas dizer que 20-30% de 1,103 espécies podem estar em risco não tem o mesmo peso mediático que dizer que 20-30% das espécies do planeta estão em risco. O problema é que a segunda frase não tem suporte em qualquer estudo científico realizado até à data; é puro “sound byte”.
Falsificação jornalística:
O público de ontem, num artigo assinado por Ricardo Garcia (um jornalista cujo trabalho respeito e admiro) diz: “E o cenário não é brilhante. Uma versão preliminar do relatório obtida pelo PÚBLICO diz, por exemplo, que nada menos do que 20 a 30 por cento de todas as espécies da Terra correm o risco de se extinguir, se a temperatura média global subir 1,5ºC a 2,5ºC, em relação a 1990.”
O texto do relatório que o jornalista terá usado será o seguinte: “Approximately 20-30% of plant and animal species assessed so far are likely to be at increased risk of extinction if increases in global average temperature exceed 1.5-2.5 ºC.” (página 11).
Portanto, o que se diz é que 20 a 30% das espécies estudadas apresentam valores elevados de risco. O que é diferente de dizer que 20 a 30% das espécies do planeta estão em risco. Isto é particularmente importante quando a frase do IPCC se baseia num estudo publicado em 2004 na revista Nature onde se inferem impactes climáticos sobre 1,103 espécies, ou seja, 0.02% das mais de 4,000.000 de espécies que se estimam existirem no planeta.
Mãos invisíveis:
O estudo que foi usado para justificar a frase do relatório é o estudo que mais foi criticado na literatura científica, na última década, na área das ciências ambientais. As críticas são sérias e comprometem as conclusões do trabalho [curiosamente essas críticas não se vêm reflectidas no relatório agora divulgado; esperemos pela versão alargada].
No entanto, existe um aspecto que não se prende directamente com a qualidade do estudo mas que também é criticável e que consiste na deturpação voluntária das suas conclusões na hora de as divulgar à comunicação social. Os autores do estudo, através das agências de notícias das suas organizações, difundiram em Janeiro de 2004 um comunicado de imprensa em que extrapolavam os riscos climáticos da sua amostra não aleatória de 0.02% da biodiversidade global para a totalidade da biodiversidade existente no planeta concluindo, assim, que cerca de 1/4 da biodiversidade do planeta estaria em risco. Obviamente que tal disparate não consta do artigo original (o artigo nunca teria sido aceite se tal exptrapolação tivesse sido feita) mas foram estas frases que ressoaram na imprensa e fóruns políticos após a publicação do artigo.
Sobre este assunto fui, na altura, co-autor de um artigo de resposta, publicado na revista Nature, e intitulado “Dangers of crying wolf over risk of extinctions” (texto alargado).
É, assim, com algum pesar, que vejo repetir-se o ciclo de falsificação científica anteriormente denúnciada e criticada, agora, por ocasião da publicação de um importante relatório do IPCC. Este tipo de falsificações gratuítas da informação científica só servem os interesses dos que pretendem minar a credibilidade da ciência climática. Alguns media agradecem. Alguns políticos também. O ambiente? Tenho algumas dúvidas.
PS. Reparei que o erro detectado no artigo do Ricardo Garcia está a ser repetido por muita da comunicação social nacional e internacional. A mensagem errada terá partido do próprio IPCC que na comunicação que fez aos jornalistas no dia 6 de Abril referiu os tais 20-30% de espécies do planeta em risco. A tabela SPM1 do relatório do IPCC também induz a uma interpretação errónea do texto do próprio relatório. Os jornalistas preferiram usar essa frase “off record” do que a frase original do relatório que é mais cautelosa. Afinal de contas dizer que 20-30% de 1,103 espécies podem estar em risco não tem o mesmo peso mediático que dizer que 20-30% das espécies do planeta estão em risco. O problema é que a segunda frase não tem suporte em qualquer estudo científico realizado até à data; é puro “sound byte”.
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quinta-feira, outubro 05, 2006
O "Público" volta à Ciência
Por razão desconhecida mas muito bem vinda, constata-se que o jornal "O Público" voltou a apresentar uma secção de "Ciência" na sua edição de ontem e de hoje. Esperemos que tenha voltado para ficar. Bem hajam os responsáveis que, depois de pensar melhor, resolveram retomar esta secção diária.
terça-feira, outubro 03, 2006
Jornal “O Público” cada vez mais pobre
Perante o "deserto" informativo Português o jornal "O Público" representa um pequeno oásis. Não que se destaque por um jornalismo de investigação ou de análise, independente, exemplar mas em terra de cegos quem tem olho é rei.
Como leitor habitual deste jornal assisti, há um par de anos, com lástima, ao desaparecimento da secção de "ambiente" que existia neste jornal. A dita secção foi fundida na secção "sociedade" o que representou uma óbvia redução do peso do ambiente nas notícias do jornal Português que melhor currículo tinha e (ainda) tem na área do ambiente.
Agora foi a vez de "O Público" decidir acabar com a secção "ciência", não sendo óbvio se esta decisão representa o fagocitamento da "ciência" na "sociedade” ou se, pura e simplesmente, decidiram não perder tempo e dinheiro com notícias científicas.
Num País que não se caracteriza propriamente pela sua cultura científica mas onde a ciência e tecnologia, por decisão política, se encontra na moda, esta decisão é de difícil compreensão.
Mas a guerra das audiências e dos "clicks" fala mais alto. As televisões e os jornais vendem o que o público quer comprar e o público acaba por comprar o que se lhe vende. E assim se vai nivelando por baixo o que os meios de comunicação social transmitem aos Portugueses.
Resta-nos, pois, a resignação de podermos continuar a receber informação de qualidade, sobre ciência, através dos canais informativos de expressão inglesa.
Triste sina a deste povo.
quarta-feira, setembro 13, 2006
Um bom sinal
Hoje reparo que este blog teve um crescimento significativo de visitas (já ultrapassou as 300). Tive a curiosidade de ver a razão, no Sitemeter, e deve-se ao facto de muita, muita gente chegar aqui através do Google, buscando informação do documentário «Uma Verdade Inconveniente», com apresentação de Al Gore. Por sinal - ou oportunidade -, quando se mete no Google o nome do documenário, a Ambio surge logo à cabeça (vd aqui), devido a um post que coloquei, quando estava nos Estados Unidos, a pretexto da estreia norte-americana no dia 24 de Maio.
Entretanto, aproveito para deixar, como sugestão de leitura, um artigo que elaborei em Junho deste ano para a revista NS sobre Al Gore. Podem ir aqui.
Entretanto, aproveito para deixar, como sugestão de leitura, um artigo que elaborei em Junho deste ano para a revista NS sobre Al Gore. Podem ir aqui.
Isto pode ser apenas um sinal, mas creio - e espero sinceramente - que este documentário poderá ter um impacte positivo nas mentalidades deste país cujos políticos apenas têm arte para «descobrir» medidas folclóricas (como a de sugerir uma redução de 120 para 118 km/h como velocidade nas auto-estradas) para reduzir as emissões de dióxido de carbono. Ou seja, para nada reduzirem.
terça-feira, julho 11, 2006
terça-feira, julho 04, 2006
Para a semana...
quarta-feira, maio 24, 2006
Uma verdade inconveniente
Para informações complementares sobre o percurso de Al Gore, ler aqui.
Estreia hoje, nos Estados Unidos, o documentário «An Inconvenient Truth», um projecto dinamizado por Al Gore - antigo vice-presidente norte-americano e candidato derrotado nas eleições de 2000. No próximo mês será lançado um livro com o mesmo título. Em ambos os casos aborda as consequências das alterações climáticas a nível planetário.
O documentário tem tido críticas nos media muito favoráveis. Por exemplo, ontem e hoje, o New York Times publicou dois artigos sobre ele. E há mesmo uma página de publicidade ao documentário, o que prognostica que o seu impacte nos Estados Unidos pode ser bastante importante. O estilo do documentário - pelo trailler que já vi (pode ser visto aqui, por exemplo) - é bastante cinematográfico (foi realizador por um colaborador do Quentin Tarantino), mas também didático, com Al Gore a servir de «cicerone» (professor) com uma desenvoltura extraordinária.
Cada vez me convenço mais de que o Mundo seria agora bem diferente se Al Gore tivesse vencido as eleições há seis anos. E não era apenas em relação às questões ambientais...
Estreia hoje, nos Estados Unidos, o documentário «An Inconvenient Truth», um projecto dinamizado por Al Gore - antigo vice-presidente norte-americano e candidato derrotado nas eleições de 2000. No próximo mês será lançado um livro com o mesmo título. Em ambos os casos aborda as consequências das alterações climáticas a nível planetário.
O documentário tem tido críticas nos media muito favoráveis. Por exemplo, ontem e hoje, o New York Times publicou dois artigos sobre ele. E há mesmo uma página de publicidade ao documentário, o que prognostica que o seu impacte nos Estados Unidos pode ser bastante importante. O estilo do documentário - pelo trailler que já vi (pode ser visto aqui, por exemplo) - é bastante cinematográfico (foi realizador por um colaborador do Quentin Tarantino), mas também didático, com Al Gore a servir de «cicerone» (professor) com uma desenvoltura extraordinária.
Cada vez me convenço mais de que o Mundo seria agora bem diferente se Al Gore tivesse vencido as eleições há seis anos. E não era apenas em relação às questões ambientais...
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