Uma batata doce e quatro cenouras depois.
Gostava que houvesse uma boa desculpa para a maneira como esta minha cabeça funciona. Esta falta de ordem, esta sopa de letras, esta incapacidade crónica de fazer uma coisa de cada vez.
O bebé adormeceu e eu fui à despensa buscar o aspirador, que este chão desta casa está tão sujo, mas tão sujo, que já passou do ponto da vergonha e tornou-se comédia. Para haver ilustrações nesta casa, outras coisas não acontecem. Ora é a louça por lavar, ora é o chão por aspirar, ora é ir à rua e ver o céu. Hoje vimos o céu, e também haveria um chão aspirado se eu não tivesse chegado à despensa para pegar no aspirador e dado de caras com um saco de batatas doces, e o que é bom na vida é batata doce e cenoura cozidas e salteadas em azeite e muito alho e coentros, então toca a cozinhar a olhar para o chão imundo. Como pode alguém ter tanta fome? Podia dizer que é por dar de mamar, mas é mentira. Eu sou uma comedora emocional e a culpa é do não-desenhar.
Isto para dizer que eu gostava de ser daqueles artistas que não pensam em mais nada do que em desenhar e pintar. Aliás, que não fazem mais nada do que desenhar e pintar, porque pensar penso eu. Passo mais tempo preocupada em desenhar do que a desenhar de facto. Houve um tempo em que eu passava os dias a desenhar, mas mesmo esses dias requeriam de mim um enorme esforço e disciplina. Queria ter tanta vontade de desenhar como tenho de comer. Queria ser tão eficiente no trabalho criativo como sou na cozinha (dêem-me um ovo e chocolate em pó e eu faço um bolo. E como-o).
Uma batata doce e quatro cenouras depois, o chão continua imundo, o bebé acordou e eu nem aspirei, nem desenhei. Enfim.
18 de março de 2014
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