Dizem as mais rechonchudas estatísticas que quase a metade da população brasileira está obesa ou acima do chamado peso ideal. Diga-se de passagem, essa vida de perde-ganha que levamos quase sempre sem troco de valor, não acontece na lógica desejada com o peso. É muito fácil ganhar (se o que você está ganhando é tecido adiposo, dobra na cintura..., já dinheiro... prepare-se, malhação pura...) Pode não ser sinônimo de saúde boa, mas é muito mais fácil ganhar do que perder peso. Começa no biotipo. Olhemos bem para nossos antepassados e, com uma variação pequenininha, puxando pela família do pai ou da mãe, notaremos (talvez tarde demais) que não seremos muito diferentes de seus tipos físicos. Acho que o problema está em observar tarde demais. Quando crianças é uma alegria ouvirmos dizer que somos a cara do pai ou da mãe. Quando adultos, já não dizem cara e sim “corpo”. Então, melhor tomar cuidado desde cedo se a gente provém de uma família de gente que tem um tipo físico que não queremos copiar.
Nem vou falar na comilança por ansiedade ou mesmo por gula. Isso é coisa para especialistas. Veja bem um exemplo fresquinho: hoje mesmo eu estava na fila do açougue num supermercado, quando o senhor da minha frente gastou exatos 23 reais e uns centavos para levar para casa cerca de 12 quilos de matéria prima para torresmo. E ele insistia com o atendente que o toucinho estava gordo demais. O funcionário fez malabarismos de emagrecer para conseguir umas tantas mantas finas a fim de satisfazer o cliente, parecendo aquelas mantas de cobrir bebês, de tão grandes. A mulher que estava ao seu lado ficou com os olhos brilhando. Não vou dizer aqui que estava literalmente com água na boca senão vou passar por mentiroso. Mas que eu vi um fiozinho lhe escorrendo nos lábios, isso eu vi! Resolvi investigar mais aquele casal. Não com intuito de bisbilhotar a vida alheia, apenas para ver como ia terminar essa crônica que começou a ser escrita lá mesmo.
Passando pelo setor dietético a caminho do caixa pararam para olhar os preços dos produtos de emagrecimento. Dez, vinte vezes mais caros, proporcionalmente ao toucinho que compraram, e ela disse:
- Não, amor, isso é caríssimo e a gente nem gosta, vamos levar apenas refrigerantes diet que já dá para equilibrar.
Saí dali me lembrando de uma coisa. Há pouco tempo estive em São Paulo na Bienal do Livro e lá me encontrei com uma prima que não via há mais de vinte anos, talvez trinta. Foi uma alegria imensurável. Inclusive porque ela estava exatamente como era a minha mãe. Rosto e corpo incrivelmente semelhantes. Na hora que a vi, num primeiro momento tive a sensação de que era a minha mãe que estava lá me dando uma forcinha do além, no nervoso lançamento de meu livro. Contei isso à minha prima. Passados uns dias ela me enviou um e-mail mandando dizer para todos os demais parentes daqui de Minas que quem não a viu gordinha nunca mais teria esta chance, pois acabara de fazer uma cirurgia de redução de estômago. Não sei se foi uma coincidência, se já estava programada a sua cirurgia. Ou será que ela ficou satisfeita com a semelhança apenas de rosto?