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Eu tenho o hábito de culpar minhas mãos por muita coisa errada que faço. Sou estabanado demais da conta! Se deixo cair um copo, de quem é culpa? O choque levado na hora de trocar uma lâmpada simples: quem esbarrou no metal da boquilha? Aquele caldinho que insistiu (e venceu) a boca e foi parar na roupa: quem se responsabiliza?. Na escrita, as falhas de incidência, os erros de ortografia, a falta de concordância: quem vacilou? Se não me ocorre a inspiração, só não bato nelas porque seria uma luta igual e poderia quebrar a ambas.
É isso mesmo. As mãos têm vida própria. Pelo menos as minhas quase nunca estão em sintonia com o pensamento. Abusivamente desobedientes e de uma autonomia de enlouquecer o cérebro. Esse não comanda muito. Costuma ter o coração ainda num posto de hierarquia à frente de si.
Já descobri, por exemplo, que elas pensam diferente quando escrevem à mão (não é redundância, é essa autonomia irritante) e no teclado. Com a caneta não há a preocupação em salvar nada. Ao contrario, só rabiscar e jogar no lixo. Claro que de vez em quando tem que ficar revirando para ver se não fiou algo para trás. Aí é o cérebro que ordena que elas mesmas vão lá buscar no meio daquele monte de papel embolado para selecionar uma frase, uma palavra perdida e que está fazendo falta ao conteúdo do texto. Já no teclado elas costumam se perder. Se fossem daquelas boas de digitação como as que aprenderam nas remotas aulas de datilografia, davam descanso ao cérebro, olhando apenas para o teclado. Mas não, deixam minha cabeça igualzinha à daquele humorista do cara-crachá, tendo que olhar a digitação e o monitor ao mesmo tempo, conferindo.
E nas horas inoportunas? Sabe aquela coceira nos lugares mais inapropriados do corpo no momento mais indevido? Nas filas ou outros aglomerados humanos onde todo mundo censura? É um horror a tentação! Ficar remexendo os quadris para a caceira se resolver sozinha é pior. É coisa de maluco, de quem está passando mal ou é afetado nos modos.
Se tiver que ir a um analista por causa de manias, a primeira coisa que quero dizer é sobre o papel das mãos. A influência que elas exercem sobre nós. Contra a vontade ou favor, não importa. Não há mente equilibrada que controle as suas mãos para que obedeçam a todos os seus comandos. As mãos não têm esse equilíbrio que todos buscamos. Ou são submissas ou são rebeldes. Ou ainda uma mistura das duas coisas.
Aposto que as suas acabam de se virar para os seus olhos!