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quinta-feira, 20 de setembro de 2012

RIR É O MELHOR REMÉDIO

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Hospitais: mais vale um preenchimento do que um procedimento

Ontem fui a um hospital, - no pronto socorro - para um atendimento, que se não tinha tanta urgência, também não era para tanta displicência. A atendente fez minha ficha. Dalí fui para o “acolhimento”. Muito simpática a senhora. Ela só estava com pressa porque tinha que fumar um cigarro (disse-me que estava precisando dar uma “vitamina para seu coração”). Eu fiquei imaginando qual vitamina iam dar ao meu, afinal, fui lá ver se estava tudo bem com ele. Aí, depois dela, num quase sim, fui para a triagem. O rapaz, muito solícito (mas louco de pressa para atender o próximo) fez outra ficha minha. Então pensei. Isso tudo vai lá para dentro e assim que o médico me chamar ela já terá uma anamnese completa de minha vida pregressa e atual. 

Depois de três horas, finalmente o médico me chamou, junto com mais seis pessoas e fomos para uma nova sala de espera. Ele foi “limpando a área”, liberando cada um que entrava em sua sala em menos de cinco minutos. Competente o cara – pensei eu. Isso foi até eu entrar lá, pois ele me perguntou tudo novamente, desde a primeira pergunta da primeira atendente, depois as da mulher do acolhimento e depois, as do rapaz da triagem e mais as dele como médico. (Engraçado é que ele conversava comigo sem sequer olhar na minha cara uma única vez, mas tudo bem - pensei, ele não deve ir com a cara de muita gente que entra em seu consultório).  A lógica é que eu saísse de lá tinindo de novo, afinal, tanta investigação costuma dar em bons diagnósticos e ótimas prescrições. De cara, já me mandou tomar um ansiolítico (rivotril). 

- Doutor, mas pra que rivotril? Eu durmo bem, sou calmo!
- É só pra “quebrar a ansiedade”, umas gotinhas apenas. E você fica lá na observação enquanto vou pedir ao pessoal para lhe fazer uns exames. Sua pressão está um pouco alta. 

Chego lá no “ponto dos aflitos”, que é o local onde ficam as pessoas em observação (umas 60 ao todo que eu contei), descobri a verdadeira causa da prescrição do rivotril. Era para eu dormir um tempo (apenas o necessário para ele atender a mais e mais pessoas que aguardavam lá fora).
Foi assim que descobri que minha saúde tava boa, meu coração tá ótimo , pois a situação era para me enfartar de raiva, fome e sede (depois de eu ter ficado lá na observação mesmo sem ser muito notado por alguém) durante mais de 12 horas e ter ido embora desistindo arrependido de ter saído de casa.

Não pensem que isso tudo foi atendimento do mal falado SUS. Foi particular.





quinta-feira, 26 de julho de 2012

DEUS E A MEGA SENA

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A chance de uma pessoa acertar as seis dezenas da mega-sena num jogo simples é uma em 50 milhões. Considerando-se que somos já 200 milhões de pessoas no Brasil e nem todos jogam, as chances aumentam consideravelmente. Coisa de 1 para 40 milhões mais ou menos quando ela está acumulada. Muita gente nem se dá conta disso e outras pessoas dão, pois leram atrás do cartão a explicação matematicamente certinha. Mas um e outro mesmo assim costumam apelar para Deus. 

Outro dia eu estava numa fila da loteria (adivinhem para que?) e comecei a prestar a atenção nos papos de fila. O valor acumulado era de mais de 30 milhões de reais e a previsão de que o próximo sorteio ia bater nos 40. Coisa para atiçar os devaneios e intensificar a fé. Até mesmo de criar uma fé súbita
.
- Se Deus me ajudar a ganhar eu prometo ajudar toda a minha família e os meus amigos, disse uma senhora.

- Ah, minha filha, se Deus me der uma forcinha eu repagino a minha matéria plástica no Pitanguy e vou conhecer o mundo todo, disse outra.

“Se Ele ajudar somente a um ou dois eu protesto.” Pensei baixinho e não disse nada para não cometer heresia aos olhos de quem se imagina na fila de Deus sem contrapartida. Ia dizer que Ele é bairrista, discriminador e desnaturado. Onde já se viu com tantos filhos dar preferência a um ou outro, ainda mais em jogo de azar? Voltei pra casa pensando em alguns preceitos bíblicos: “faça a tua parte e eu te ajudarei”. A minha parte não poderia ser apenas um joguinho de mega sena. Senão onde ficaria aquele outro ensinamento “ganharás o teu pão com o suor de teu rosto”? Apesar de todo o calor que estava fazendo naquela fila, mesmo assim seria muita injustiça com quem rala muitas horas por dia atrás do sustento (por muito menos do que uma bolada daquelas). 

Transferir o fardo pesado que temos que carregar em vida é uma constante em muitos de nós. Até me lembrei do refrão de uma música sacra que diz assim: “segura na mão de Deus e vai.” Tem gente entregando na mão de Deus e ficando sentado esperando ele carregar sozinho.





AMIGOS, SEMANA QUE VEM EU VOLTO E AGRADEÇO AS VISITAS. PAZ E BEM



terça-feira, 10 de julho de 2012

TERAPIA III


“No meio do caminho tinha uma pedra.”*  o poeta repete isso à exaustão. Para mim essa insistência era com a existência e não com um simples caminhar. Diferença entre existir e viver. A aparência de ingenuidade do poema revela profundezas do sentimento de mundo num outro verso sintomático: “nunca esquecerei desse acontecimento no meio de minhas retinas tão fatigadas.”

Tinha uma pedra no meio do caminho da civilização. Um rompimento com o que poderia ter dado certo. Eu acho que foi esta pedra o que em muita gente matou ou feriu a afetividade para com o outro. Alguns até consigo mesmos. Em algum momento ou ao longo da história a afetividade foi se distanciando ou reduzindo-se a pequenos grupos e deixando de ser universal. Ou esta interrupção afetiva foi fruto amargoso do próprio processo civilizatório? “Não sei, só sei que foi assim”, como diria um personagem do Suassuna**.

Lembro-me do tempo em que eu bebia. Bebia compulsivamente. Fazia tudo o que era obrigação mas para agüentar o peso da vida e a inquietação fervilhante eu tinha que aplacar a minha loucura. Minha bengala para prosseguir leve era a bebida. Chutando umas pedras com um pé e dando um teco em outras com a ponta da bengala. Onde começou a compulsão? Também não sei, só sei que nisso perdi muita oportunidade de exercer minha a afetividade. Já não bastava a vida de competição para tomá-la de mim? Já não bastava a correria para uma sobrevivência digna, para uma carreira de sucesso, para a construção de um lar? A gente tem que sair tirando muito obstáculo do caminho. Comigo foi assim durante muitos anos. Em estado alterado eu achava que me soltava mais, sentia-me mais sensível. Tanto para o afeto como para criar desafetos, eis um problema. O tal obstáculo muitas vezes eram pessoas.

E com os outros? Cada um não tem sua forma de buscar a justificativa de sua existência através do slogan universal que atende pelo substantivo imponente “felicidade”? E cada um não trava uma luta interior de alguma forma? Droga! Drogar-se é o mais comum. Eu vou generalizar o que considero uma droga: enfurnar-se no trabalho, fugir dele, tomar medicamentos, beber, fumar, dopar-se de cosméticos, roupas e acessórios em demasia, comprar coisas compulsivamente, usar drogas consideradas ilícitas, comer demasiadamente para aplacar uma ansiedade que não se explica. Poucas, pouquíssimas pessoas conseguem levar uma vida de cabo a rabo isentas de uma drogada. Há espíritos mais e espíritos menos inquietos com  o peso de sua existência. O que cada um faz para carregar a sua mala é que nos torna mais ou menos complexos, tanto para dentro de nós mesmos ou para as pessoas em nossa volta ou para o mundo. E essa droga para mim é a substituta da afetividade coletiva que se perdeu no meio do processo civilizatório, no meio da ilha que se formou em torno de cada um ou de cada grupinho. A droga como camuflagem, a droga como alteridade, a droga como fuga.

A indústria de medicamentos negará minha afirmação. A de bebidas negará, a indústria de tabaco negará. A indústria da beleza negará. A indústria da dieta negará. O traficante me condenará à execução, mas a afetividade coletiva é o anti drogas mais eficaz que pode existir. A vida quando partilhada é mais fácil ser suportada, menos provocadora de doenças inexplicáveis mesmo que tratáveis a custo alto e sucesso incerto. Estar de bem consigo mesmo requer que tudo a sua volta esteja bem, ou pelo menos não haja muito obstáculo. E os obstáculos ao bem estar são oriundos de pouco afeto humano. Não é preciso sair por ai como aquele antigo beijoqueiro, abraçando e beijando todos que cruzarem o nosso caminho (se bem que ele tinha alvos específicos a quem dedicar seu afeto, estava mais para caçador de fama do que disseminador de afeto. Porém seu gesto era uma bandeira levantada em favor de aproximação humana carinhosa). A tolerância, a generosidade, a educação nos modos, o respeito ao diferente, a aceitação, a tolerância, a não indiferença, a não discriminação, a diminuição do egoísmo, já são atos de afeto universal. Em qualquer lugar do planeta que se for esses gestos são edificantes. Um edifício humano onde a taxa condominial para a conservação seja a distribuição eqüitativa de afeto. Estamos infestados de amor. Ligue e tv, novela, filme, programa de auditório, vá ao cinema, leia poesia, romance, assista a uma peça teatral, ouça uma música e preste atenção na letra. Vá a um concerto ao ar livre, a um evento de multidões. Verá que a catarse coletiva é expressa de forma a buscar reconhecimento e afeto. Pode não ser dito, mas se vê nos olhos, se fala, se buscam movimentos uníssonos, de igualdade ainda que momentânea. Isso é desrepresamento de afeto que não é estendido para os demais dias da vida de cada indivíduo. O ser humano no mais fundo de sua essência está em busca de amor.


 
* No Meio do Caminho Tinha Uma Pedra - Drummond
* *O Auto da Compadecida – Ariano Suassuna





domingo, 17 de junho de 2012

ELAS NÃO VIRÃO PARA O NATAL


Eu não sei o que será da cadeia alimentar daqui a uns anos. Suspeito que se tornará um caso de cadeia, sem trocadilhos, por favor. Ficar sem um bichinho de estimação hoje em dia está virando coisa de desalmado. Quem não gosta de cães e gatos está dando um jeitinho e se apegando a hamsters, coelhos, cobras e lagartos. E até porquinhos estão entrando na lista dos animais domésticos, desde que os desacostumemos de chafurdar na lama, afinal não dá para entrar dentro de casa respingando aquele sujeirada toda. Isso não é tanto problema nas cidades, cuja lama asfáltica, entulhada de lixo das enchentes não é do agrado dos suínos. Se bem que para quem quiser um mas mora em apartamento terá o consolo dele estar sempre limpinho; eu já vi vários casos no Animal Planet.

Arquivo pessoal
Soube através de uma pesquisa do International Porcaria Institute que os suínos são até cinco vezes mais inteligentes do que os cães. Segundo explicaram, por exemplo, você adquire um porquinho,  batiza-o e da segunda vez que lhe chama pelo nome, ele já sabe que trata-se dele mesmo. O mesmo não aconteceria com os cachorros, que demoram mais a aprender o seu nome de batismo. Eu quase pude comprovar isso outro dia. Minha sobrinha arranjou um filhote de labrador e colocou-lhe o singelo nome de James Boris. Não sei se foi por causa do nome duplo e as pessoas a cada hora o chamavam apenas por um deles ou se é mesmo a confirmação da pesquisa dos suinólogos. O fato é que o bichinho não atendia  a James nem a Boris, a não ser se o chamado viesse acompanhado de alguma coisa para ele comer.
Arquivo pessoal

No sítio as meninas foram fotografar Genoveva, a porca que meu irmão está criando para o natal e quando elas souberam disso, já avisaram que não vão de jeito nenhum. (elas gostam de carne de porco mas acredito que não sabiam que tinha-se que matar o bicho para comer , sei lá). Acho que se ela fosse menorzinha, uma delas iria querer levar para casa como bicho de estimação.

Eu sou chegado num lombo e num pernil, mas cá pra nós: não é uma gracinha?

segunda-feira, 28 de maio de 2012

ELEGENDO CULPADOS


Esta crônica é para as pessoas que ainda conservam algum tipo de idealismo.

Gilberto Dantas* fez uma ótima avaliação do estado de coisas no presente, de uma forma que é inevitável não termos angústias e inquietações com o comportamento humano numa civilização que, se fosse pra valer mesmo, a gente nunca seria saudosista. Então ele resolveu inverter a lógica e já pensar naquilo que sempre desejou, chamando isso de saudades do futuro. É como se você dormisse, tivesse um sonho maravilhoso com coisas muito boas que iam lhe acontecer ainda e, de repente acordasse. Nervoso,  ficaria então pedindo para voltar para aquele lugar distante e ainda não visitado, ou seja, o longínquo “futuro”.

 Já o Adhemar**, outro grande cronista e poeta  fez um artigo para falar de projetos de vida, uma provocação aos amigos numa mesa de discussão acerca das perspectivas de consciência , de desejos e de respostas para o estado de coisas nada agradáveis que aí estão e de nossas ações diante delas. Por exemplo, ele cita o fato de usarmos o álcool combustível, muito mais interessados no preço que é menor do que o da gasolina, do que com o efeito estufa que causa o consumo de petróleo e nem aí para a devastação assombrosa que a produção de álcool da cana  provoca na natureza. Tudo é uma questão de facilitação da vida da gente e dane-se o resto. Ou seja vivemos em busca de recompensas. Se não materiais (na maioria esmagadora das vezes) pelo menos de reconhecimento através do grupo social em que estamos inseridos irremediavelmente. No fundo, no fundo, é isso mesmo.

Então eu venho aqui sugerir a ambos que fundemos uma agremiação. Não, não demos o nome de partido, por favor, pois além de não conseguirmos adeptos muito bem intencionados (e a agremiação não vai ter lugar para oportunistas) em quem poremos as culpas? Eu quero eleger um culpado! Ou transferir as minhas culpas. Não temos mais condição de fazer o que vivemos fazendo: individualizamos problemas que são coletivos, coletivizamos as misérias e as desgraças humanas e socializamos apenas sorrisos e murmúrios raivosos.

Ouvi uma frase certa vez que todo pessimista é burro ou rico. Acho que ela foi elaborada por um pessimista. Eu me enquadro no meio. Não da riqueza ou da burrice, mas entre o pessimismo e o otimismo.



* Texto do G Dantas aqui
**Texto do Adhemar aqui

segunda-feira, 7 de maio de 2012

DE ONDE SOU MESMO?


Nos últimos tempos  quando me perguntavam de onde sou eu costumava responder que nasci em Itabira, mas me considerava de lá, de BH e de Mariana, as cidades onde morei praticamente um terço de minha vida em cada uma. Ultimamente estou em Itabira, para onde voltei faz um tempinho e me sinto um completo estranho. Tive e oportunidade de ir a Mariana há pouco tempo e me senti um estranho. Em BH eu nem preciso dizer isso, pois acho cidade muito grande, lugar de alheamentos, impessoalidades e indiferenças. São tão comuns que soa estranho quando há amabilidades. A desconfiança vem acompanhada daquele ditado, “quando a esmola é muita, até o santo desconfia.” Fui comentar esse estranhamento com uma amiga e ela me disse que as cidades cresceram muito, que as coisas mudaram, que o mundo está evoluindo. Quando ouvi esta última palavra fui acometido pela chatice que me ataca quando me falam de evolução. Mas não briguei com ela, para não reforçar a minha chatice.  

Entretanto, nos prós e contras inevitáveis que a gente vai contabilizando com as mudanças vivas, continuo achando o interior um melhor lugar para se viver. Aqui ainda há gentilezas no trânsito, muito embora ele não seja tão amistoso e nem tão selvagem como na cidade grande. Aqui a gente ainda abre o portão de casa com menos medo. Aqui a gente ainda costuma ser tratado com muita reverência no comércio. Outro dia mesmo eu entrei numa farmácia e descobri que aquela velha história do fio do bigode está em franca atividade. A moça me perguntou depois que eu comprei uns medicamentos se era para anotar na caderneta. Nunca havíamos nos visto. 

Aqui, assim, do nada, lhe dão bom dia, boa tarde, boa noite aonde quer que se encontrem pessoas. Outro dia também, saí para fazer quatro coisas na cidade em quatro lugares diferentes. Fiz tudo e quando chego em casa, descobri que havia gastado apenas quarenta minutos para fazer as quatro coisas. Fui correndo até a casa de minha irmã, abismado, comentar com ela. Normalmente em BH esse tempo era o que eu gastava apenas me deslocando até o primeiro lugar onde tivesse que ir. Ah, e já me policiei também, minha falta de educação estava exagerada no trânsito. Aqui, nos locais de maior fluxo, os carros costumam parar quando alguém pisa na faixa de pedestres e esperam a pessoa atravessar a rua. Fiquei cheio das culpas ao lembrar se naqueles 40 minutos anteriores eu não tinha deixado alguém de cara amarrada comigo por não tê-lo esperado atravessar a rua.

Então, eu vou reforçando a ideia de que eu sou de onde me sinto melhor, tiro o melhor para mim e dou o melhor de mim, pois é isso que faz a gente amar um lugar e, portanto, criar uma identidade através da memória afetiva com esse lugar. Idealista que ainda sou e com esse propósito no coração dá vontade de um dia poder dizer verdadeiramente: Sou cidadão do mundo.



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