terça-feira, 31 de janeiro de 2017

O Ginjal sempre presente no imaginário de Romeu


Neste primeiro mês de 2017, procurámos revisitar a infância de Romeu, ainda que com alguma ligeireza. Claro que o seu fascínio pelo Ginjal manteve-se vivo a vida toda, pois foi ali que cresceu. viveu e testemunhou uma série de acontecimentos, que o marcariam para toda a vida.

Talvez seja essa a melhor explicação para que os seus dois últimos romances, "O Tritão" e "Cais do Ginjal", autobiográficos, tenham o Ginjal e o Tejo como principais cenários.

E por isso mesmo, lá vamos nós a mais uma transcrição ("O Tritão", página 11):

[...] «Aquele cais onde morávamos, essa muralha com uma longa correnteza de prédios, dera ensejo a curiosa adivinha que se perguntava ao serão:
- Porque se parece o cais do Ginjal com um colete?
E a resposta provocava risos:
- Porque tem casas só dum lado.» [...]

(Fotografia de Luís Eme)

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Crescer na Companhia do Tejo, o melhor rio do Mundo...


Crescer no Ginjal fez com que Romeu Correia ficasse ligado ao Tejo para todo o sempre.

Foi ali que se habituou a ver a beleza das fragatas e de outros veleiros do rio, sempre de um lado para o outro, que assistiu à dança dos golfinhos, e mais importante ainda, que aprendeu a nadar junto dos outros rapazolas que se aventuravam com as primeiras braçadas, naquela quase piscina natural, protegidos pelo olhar atento dos mais velhos...

No Verão era um corrupio de gente a mergulhar nas águas do rio, como podemos vislumbrar através desta transcrição do "Cais do Ginjal" (página 73):

[...] «De manhã e de tarde o Cais do Ginjal era visitado por bandos de fedelhos que invadiam as muralhas e as praias. Os mais pitorrinhas punham-se em pelo, trazendo os mais espigadotes as ceroulas ou um trapo a ocultar o sexo. Também os trabalhadores dos armazéns e das tanoarias não recusavam, no fim da labuta, o salto para o rio, onde exibiam os mergulhos e as braçadas.» [...]

(Fotografia Luís Eme)

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

A Importância do Avô para o Romeu


José Correia, avô paterno do Romeu, foi a figura masculina mais importante na sua infância e adolescência (já que seu pai primou pela ausência...). Provavelmente foi o vazio que o filho deixou que fez com que ele tivesse um papel fundamental na educação do neto.

Isso explica que o seu falecimento (12 de Janeiro de 1930) após um acidente nos armazéns Teotónio Pereira, de vinho e azeites, onde era encarregado, tenha marcado tanto Romeu Correia.

Recorremos mais uma vez a um dos seus livros autobiográficos ("O Tritão", página 12), para exemplificar a admiração e orgulho de Romeu no avô: 

[...] «O meu avô – José Henrique Correia, de seu nome completo – sabia de tudo um pouco. Sabia de coisas remotas que os velhos livros narram, dedilhava instrumentos de corda, era bom jogador de bilhar e de cartas, entendia de toda a sorte de mistérios da Natureza, tais como os movimentos dos astros, os elipses, a razão do vaivém das marés, as estações do ano que prodigalizam a vinda de certos pássaros, e peixes, e frutos, e flores…» [...]

(Fotografia de autor desconhecido - do carregamento de uma embarcação com pipas de vinho dos armazéns Teotónio Pereira)


quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

A separação dos Pais no fim da meninice...


Em 1927 os pais de Romeu separaram-se... 

A Mãe e a Irmã vão viver para Lisboa, Romeu fica no Ginjal com o Pai, na casa dos avós paternos.

Esta separação acabaria por o marcar durante toda a adolescência, em que sentiu muito a falta de amor...

Transcrevemos do "Cais do Ginjal (página 20):

[...] «Eu teria uns dezassete anos por esse tempo. Era forte, puro e mui carecido de afecto e calor humano. Vivia com a avó Josefina e as duas tias solteiras no Cais do Ginjal, e o nosso viver era de pobres resignados, julgando cumprir um destino adverso. Após o divórcio dos meus pais e a morte do avô paterno, a nossa vida parara de espanto e indecisão.» [...]

(Fotografia de Luís Eme)

domingo, 8 de janeiro de 2017

A entrada de Romeu na Escola Primária


Nos próximos textos que iremos publicar continuaremos a falar da infância de Romeu Correia, passada no Ginjal (muito bem retratada no seu romance autobiográfico, "Cais do Ginjal", cuja primeira e única edição foi publicada em 1989 e que recomendamos a leitura a todos aqueles que querem conhecer o Romeu com maior intimidade).

Numa das páginas deste livro (vinte) Romeu fala da sua entrada na escola primária:

[...] «A escola escolhida pela avó Josefina para me iniciar nas primeiras letras fora a que ficava mais perto do Ginjal. Situava-se no largo de Cacilhas, em frente da Igreja da Senhora do Bom Sucesso. A professora era conhecida por uma alcunha terrível, que se repetia baixinho, e por entre sorrisos. Não sei se diga…? Mas digo: Sete Cus. Nem mais nem menos: Sete Cus. Estas duas palavrinhas obscureciam por completo a sua graça de baptismo: Henriqueta, dona Henriqueta.» [...]

(Postal antigo do Largo de Cacilhas e começo da hoje rua Cândido dos Reis onde se vê a Igreja e em frente o edifício onde funcionava a escola da dona Henriqueta...)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

A mudança para o Ginjal, espaço de tantos sonhos...


Com apenas um ano de idade Romeu e os pais mudaram-se de Cacilhas para o Ginjal, para a casa dos avós paternos, Josefina e José Correia (que tão importantes foram na sua vida...).

É aqui que cresce, deslumbrado com a beleza única do Tejo, com todo aquele movimento diário de operários junto ao cais e também com a miudagem que vagabundeava por ali, desde muito cedo entregues a eles próprios...


Não é  por acaso que o Tejo e o Ginjal são dois espaços com grande destaque na obra literária de Romeu Correia, especialmente nos livros: "Sábado sem Sol" (contos); "Trapo Azul" (romance); "Gandaia" - depois "Os Tanoeiros" - (romance); "Jangada" (teatro); "Um Passo em Frente" (contos); "Tritão" (romance) ou "Cais do Ginjal" (romance).

(Fotografias de Júlio Dinis e Luís Eme - o Ginjal nos anos 1950 e na actualidade. Romeu viveu na casa junto ao guindaste...)

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Foi Aqui que Tudo Começou...



Foi aqui que tudo começou, quando Romeu Henrique Correia nasceu, a 17 de Novembro de 1917, filho de Rogério Henrique Correia e Arminda do Nascimento Pinto e Correia, no 1.º andar, esquerdo, do edifício n.º 50 da Rua Elias Garcia, que foi durante anos e anos conhecida como Calçada da Pedreira, em Cacilhas.


A lápide de homenagem que se encontra nas suas paredes exteriores, rente à entrada, foi colocada pela Junta de Freguesia de Cacilhas a 17 de Novembro de 1987, com a presença de Romeu Correia. 



Já neste século o prédio de três pisos foi recuperado e continua a funcionar como espaço de habitação na Localidade Ribeirinha.

(Fotografias de Luís Eme - antes e depois da recuperação do edifício)

domingo, 1 de janeiro de 2017

A Apresentação de Romeu Correia (quase para principiantes)


Por nós próprios desconhecermos quem foi Romeu Correia até Outubro de 1990, achamos que devemos fazer um muito ligeiro traço biográfico do escritor almadense.

Romeu Correia foi um grande apaixonado pela vida, pelo associativismo, pelo desporto, pelo teatro, pelo cinema, pelos livros e pela terra onde nasceu e sempre viveu.

Romeu teve a virtude de juntar a excelência da oratória à escrita, sendo reconhecido por todos os que tiveram a felicidade de privar com ele como um extraordinário contador de histórias, que não deixava ninguém indiferente. Romeu era capaz de transformar um acontecimento simples numa história apaixonante, graças ao seu enorme talento como comunicador.

Depois de ter alimentado o corpo com sucesso na juventude (foi campeão de atletismo e boxe amador...), sublimou o espírito, com a escrita de  dezenas de peças de teatro, contos, romances, ensaios e crónicas.

Felizmente viu reconhecido o seu talento como escritor ainda em vida (algo não muito normal no nosso país), especialmente como dramaturgo, sendo mesmo um dos autores nacionais mais representados nos palcos portugueses nos anos 1950, 60 e 70.

Ao longo do ano de 2017 iremos dar a conhecer todas estas facetas do Romeu (além de outras curiosidades que irão aparecer naturalmente…) e estamos certos de que todos os visitantes deste blogue ficarão a conhecer com alguma intimidade Romeu Correia, o Grande Escritor de Almada.

                                                                                     (Luís Milheiro)