Eleição presidencial no Brasil em 1969
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Eleição presidencial no Brasil em 1969 | ||||
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25 de outubro (eleição indireta) | ||||
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Candidato | Emílio Garrastazu Médici
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Partido | ARENA
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Natural de | Bagé, Rio Grande do Sul
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Vice | Augusto Rademaker (ARENA) | |||
Votos | 293 | |||
Porcentagem | 100% | |||
Emílio Garrastazu Médici: 293 votos 76 abstenções
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Titular Eleito | ||||
A eleição presidencial brasileira de 1969 foi a vigésima eleição presidencial do país e a terceira do regime militar. Ocorreu de forma indireta, através de votação no Congresso Nacional.
Contexto histórico
[editar | editar código-fonte]Artur Costa e Silva, assumiu a presidência no dia 15 de março de 1967, após vencer a eleição indireta que foi disputada em 1966 e do qual ele foi o único candidato. A vitória de Costa e Silva para assumir a presidência foi resultado de uma campanha no interior do próprio Exército de um grupo (chamado de Linha Dura) para que o aparato de repressão do Regime aumentasse. Na juventude Artur participou do movimento tenentista, momento em que foi preso. Ademais, participou também da Revolução Constitucionalista de 1932, em São Paulo.
O governo de seu antecessor, Castelo Branco, é erroneamente enxergado como um momento de pouca repressão, mas, na verdade, estudos recentes mostram que se tratou de um período de transição no qual o aparato repressivo era estabelecido de uma maneira que não causasse ruptura do regime com a sociedade civil. Ainda assim, Castelo Branco se viu pressionado pelas Forças Armadas a deixar o poder, e a transição foi realizada com a indicação de Costa e Silva. Durante o processo de transição em que Costa e Silva era apontado como sucessor de Castelo Branco, o discurso proferido por Costa e Silva afirmava a necessidade de restabelecer a democracia no Brasil, por isso o marechal foi visto por muitos grupos da sociedade como uma esperança de liberalização/democratização do regime.
Apesar do discurso, o governo Costa e Silva consolidou a transição do Regime para uma Ditadura, ampliando o aparato repressor do movimento, perseguindo movimentos estudantis e operários. Como resistência ao regime militar surgiam diversos grupos de militantes de esquerda que atuavam clandestinamente. Esses grupos promoviam atividades de guerrilha no interior do país e mesmo nas cidades. Em 26 de junho de 1968, ocorreu em São Paulo, uma ação da Vanguarda Popular Revolucionária que lançou um carro-bomba contra um quartel general, em São Paulo. Também assassinou em 26 de junho de 1968 o soldado Mário Kozel Filho, em um atentado ao Quartel General do II Exército, em São Paulo.[1] Nesse mesmo ano, as manifestações de rua ampliaram-se. Em 28 de março de 1968, o estudante Edson Luís foi morto em confronto com a polícia na Passeata dos Cem Mil, no Rio de Janeiro. A oposição ao regime tornou-se evidente. Assim, Costa e Silva convocou o Conselho de Segurança Nacional, em dezembro de 1968, e promulgou o Ato Institucional n° 5 que previa o fechamento do Parlamento e a cassação de mandatos políticos.
Embora tenham assumido um caráter de resistência ao regime, os grupos mais proeminentes que integraram a luta armada não tinham como objetivo o retorno à ordem democrática anterior ao golpe militar, mas sim a realização de uma revolução socialista no Brasil, inspirando-se na Revolução Chinesa e na Revolução Cubana. Apesar de algumas ações realizadas entre 1965 e 1967, o confrontamento aprofundou-se após a proclamação do Ato Institucional nº 5 (AI-5) em 1968 e, com o acirramento do autoritarismo do regime militar, diversas organizações se convenceram de que somente o recurso às armas poderia derrubar a ditadura militar.
Em resposta, o governo militar estabeleceu forças de repressão pelo DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna) e da Operação Bandeirante, que recebia financiamento de empresas privadas para a prisão, tortura e a morte daqueles que ameaçassem a Ditadura Militar.
No campo político, uma das demonstrações mais consideráveis de oposição ao regime deu-se com o rompimento daqueles que haviam defendido o Golpe de 1964 e, consequentemente, a ditadura. Um nome de destaque nesse sentido foi o de Carlos Lacerda, grande conservador brasileiro e ardoroso defensor do golpe.
Carlos Lacerda rompeu com a ditadura em decorrência da suspensão da eleição presidencial de 1965 e da cassação de seus direitos políticos em 1966. Com isso, ele criou a Frente Ampla, grupo de oposição que defendia a continuidade do desenvolvimento econômico do país e o retorno da democracia ao Brasil. A Frente Ampla também contou com o apoio dos ex-presidentes Juscelino Kubitschek e João Goulart, mas o governo proibiu, em 1968, sua atuação.
Outro movimento de oposição que atuou de maneira consistente durante um certo período do governo de Artur Costa e Silva foi o movimento operário. O congelamento salarial implementado a partir de 1964 teve forte impacto sobre a renda dos trabalhadores. A continuidade dessa situação levou a duas importantes greves no país: uma em Minas Gerais e outra em São Paulo. A greve em Minas começou em abril de 1968, em uma siderúrgica instalada em Contagem (região metropolitana de BH). O movimento pegou o governo de surpresa e mobilizou cerca de 16 mil trabalhadores. O governo foi obrigado a negociar e aceitou reajustar os salários em 10%, mas ainda assim houve repressão, com prisão de trabalhadores e ocupação da cidade de Contagem. Três meses depois, outra greve estourou em Osasco, no estado de São Paulo, e foi iniciada com 10 mil trabalhadores cruzando os braços. Dessa vez, o governo não negociou e a repressão foi duríssima: a cidade foi ocupada, com centenas de trabalhadores presos, e as lideranças sindicais precisaram desaparecer na clandestinidade. A repressão do governo fez com que o movimento operário adormecesse durante uma década.
O Congresso Nacional, transformado em Assembleia Nacional Constituinte mas com os parlamentares eleitos pelo povo e que faziam oposição a situação política afastados (devido a cassações de mandatos e perseguições políticas), elaborou, sob pressão dos militares, uma nova Constituição, de caráter semi-outorgada, que buscou legalizar e institucionalizar o regime militar de 1964, abandonando sua fachada democrática e formalizando uma ditadura militar.
Após isso o Congresso Nacional foi fechado devido a edição do Ato Institucional 5 (AI-5), em 13 de dezembro de 1968. Isso resultou na perda de mandatos de parlamentares contrários aos militares, intervenções ordenadas pelo presidente nos municípios e estados e também na suspensão de quaisquer garantias constitucionais que eventualmente resultaram na institucionalização da tortura, comumente usada como instrumento pelo Estado.[2]. Evidentemente, o decreto veio na esteira de ações e declarações de um grupo, conhecido dentro dos militares como linha-dura, que não queria devolver o poder aos civis. Em outras palavras, era mais um pretexto para implementar medidas recomendadas por este grupo desde julho de 1968. Ele foi o instrumento que faltava para a Ditadura, focada na figura do presidente, acabar com os direitos políticos de dissidentes e intervir nos municípios e estados. Sua primeira medida foi o fechamento do Congresso Nacional até 21 de outubro de 1969.[3]
Com o AI-5 foram fechados o Congresso Nacional, as assembleias legislativas e as câmaras municipais. Além disso, houve a cassação dos mandatos legislativos, executivos, federais, estaduais e municipais. Diversos tipos de torturas foram realizados aos militares e civis que estivessem contra o governo.
A política econômica praticada durante o governo Costa e Silva rompeu, em certa medida, com a que havia sido praticada pelo governo Castelo Branco. A austeridade foi substituída por um projeto desenvolvimentista alinhado a outros interesses ideológicos. A política desenvolvimentista de Costa e Silva visava a estabilizar o crescimento industrial a longo prazo, assim como planejava estimular o consumo e o investimento público.
Essa política econômica deu origem ao que ficou convencionado como “milagre econômico”, ocorrido no período de 1968 a 1973. O “milagre econômico” caracterizou-se por um período de rápido aquecimento da economia e de crescimento econômico. A média de crescimento da economia durante esse período foi de 11%.
Durante os anos do governo de Costa e Silva, os resultados logo se fizeram perceber, e, em 1968, o PIB brasileiro cresceu 11,2%, enquanto que, em 1969, o crescimento havia sido de 10%. Apesar do desenvolvimento expressivo da economia, o milagre econômico também foi marcado pelo crescimento da desigualdade social e pela disparada da dívida externa brasileira.
Sofrendo de um quadro grave de trombose cerebral e posterior afastamento da presidência da república, presidente Costa e Silva veio a falecer em 17 de dezembro de 1969, devido às consequências do Acidente Vascular Cerebral que sofreu em 31 de agosto. Seu sucessor deveria ter sido o vice-presidente da República, o jurista civil Pedro Aleixo, este foi impedido de forma inconstitucional a assumir o cargo por uma junta militar presidida por Augusto Rademaker. ministro da Marinha; a Câmara dos Deputados e o Senado Federal foram reabertos para eleger os novos presidente e vice-presidente da República, sob a égide do AI-16.
Todas as eleições durante o regime militar elegeram candidatos militares do partido da Aliança Renovadora Nacional (ARENA), porém durante as eleições de candidatos militares da linha-dura (1966 e 1969) não houve outros candidaturas, sendo uma "eleição" de chapa única.
Votação
[editar | editar código-fonte]Definida a preferência nos meios militares pelo General Emílio Garrastazú Médici e do vice Augusto Rademaker (que, na prática, era o presidente interino, uma vez que era o líder da junta militar), os nomes foram homologados na convenção nacional da ARENA em 16 de outubro.[4] A votação ocorreu às 15 horas de 25 de outubro de 1969 no Congresso Nacional, sob a presidência de Gilberto Marinho, que foi iniciada pelos membros do Senado. Houve breves discursos dos senadores Oscar Passos do MDB, Filinto Muller da ARENA e do deputado Paulo Brossard do MDB.[5]
Posse
[editar | editar código-fonte]Os eleitos foram empossados cinco dias depois, em 30 de outubro, às 10 horas, em sessão conjunta do Congresso Nacional. Na transmissão do cargo ocorrida em seguida no Palácio do Planalto, o próprio almirante Rademaker foi quem entregou a faixa presidencial ao presidente, por ser o líder da junta militar e por integrar a força militar mais antiga.[6]
Eleição para presidente do Brasil em 1969 | |||||
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Candidato a presidente | Candidato vice-presidente | Partido | Câmara | Senado | Total |
Emílio Garrastazu Médici | Augusto Rademaker | ARENA | 251 | 42 | 293 |
Abstenções | 62 | 14 | 76 |
Referências
- ↑ Laque, João Roberto. Ava Editorial, ed. Pedro e os Lobos. [S.l.: s.n.] pp. pg.185
- ↑ Codato, Adriano Nervo (2004). «O golpe de 1964 e o regime de 1968: aspectos conjunturais e variáveis históricas». História: Questões & Debates. 40 (1). ISSN 0100-6932. doi:10.5380/his.v40i0.2735
- ↑ Barbosa, Leonardo Martins (22 de maio de 2018). «Os conceitos de desenvolvimento e nacionalismo na crítica ao regime militar». Cadernos do Desenvolvimento. 6 (9): 173–197. ISSN 2447-7532
- ↑ Jornal do Brasil, edição de 17 de outubro de 1969
- ↑ Folha de S.Paulo, edição de 26 de outubro de 1969
- ↑ Folha de S.Paulo, edição de 31 de outubro de 1969