Cap+3 Revisado
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APRESENTAÇÃO
As pessoas idosas constituem uma parte da população considerada vulnerável, tendo em vista o
processo de envelhecimento e adoecimento, principalmente pelo acometimento por doenças crônicas não
transmissíveis, configurando um importante problema de saúde pública (FIGUEIREDO; CECCON;
CUNHA, 2021).
No Brasil, o envelhecimento da população ocorre de forma progressiva, culminando na inversão
da pirâmide populacional, o que traz repercussões significativas no sistema de saúde público e privado.
Este cenário imprime a necessidade de (re)organização e otimização dos serviços assistenciais, com
rearranjo da forma de cuidado integral e de maior resolutividade frente às demandas apresentadas
(ESCORSIM, 2021).
As falhas relacionadas à assistência segura às pessoas idosas têm enormes custos globais para o
sistema de saúde. Em 2013, estimou-se que danos no cuidado de saúde eram a 14ª causa de
morbimortalidade no mundo, sendo que dois terços dos eventos adversos ocorriam em países em
desenvolvimento; dentre os principais eventos adversos identificados estavam tromboembolismo venoso,
quedas intra-hospitalares e úlceras de pressão (JHA et al., 2013). Nos países em desenvolvimento, é
possível que até 83% de todos os eventos adversos poderiam ter sido prevenidos caso medidas de
segurança tivessem sido adequadamente tomadas (SLAWOMIRSKI; AURAAEN; KLAZINGA, 2017).
Especificamente no Brasil, a distribuição anual por faixa etária de incidentes envolvendo a
segurança dos pacientes relatada pelo Sistema de Notificação em Vigilância Sanitária (NOTIVISA) do
ano de 2022, destaca que a maior parte dos incidentes notificados nacionalmente ocorre na faixa etária de
66 a 75 anos. O NOTIVISA é o sistema informatizado nacional para o registro de problemas relacionados
ao uso de tecnologias e de processos assistenciais, através do monitoramento da ocorrência de queixas
técnicas, incidentes e eventos adversos (BRASIL, 2022).
Com o passar dos anos, o sistema nacional de saúde brasileiro vem desenvolvendo e aprimorando
seus processos de trabalho de forma constante e progressiva, tendo em vista a necessidade de melhoria
contínua da qualidade de vida da população. Neste sentido, foi criado o Programa Nacional de Segurança
do Paciente (PNSP) por meio da Portaria MS/GM nº 529, de 1° de abril de 2013, que objetiva contribuir
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segurança no contexto da saúde da pessoa idosa institucionalizada
na qualificação do cuidado em todo o sistema de saúde do país (BRASIL, 2014). O PNSP surge como
estratégia importante na criação e implementação de iniciativas voltadas para a segurança da pessoa
idosa, pois fomenta a promoção e o apoio à implementação de iniciativas voltadas à segurança do
paciente em diferentes eixos, além de ampliar o acesso da população às informações sobre a temática, a
inserção do paciente como protagonista do seu cuidado e da família nas ações de segurança do paciente
(BRASIL, 2013).
Dentre os conceitos e definições que contemplam o PNSP, destacam-se:
I - Segurança do Paciente: redução, a um mínimo aceitável, do risco de dano desnecessário
associado ao cuidado de saúde;
II - Dano: comprometimento da estrutura ou função do corpo e/ou qualquer efeito dele oriundo,
incluindo-se doenças, lesão, sofrimento, morte, incapacidade ou disfunção, podendo, assim, ser físico,
social ou psicológico;
III - Incidente: evento ou circunstância que poderia ter resultado, ou resultou, em dano
desnecessário ao paciente;
IV - Evento adverso: incidente que resulta em dano ao paciente;
V - Cultura de Segurança: configura-se a partir de cinco características operacionalizadas pela
gestão de segurança da organização;
VI - Gestão de risco: aplicação sistêmica e contínua de iniciativas, procedimentos, condutas e
recursos na avaliação e controle de riscos e eventos adversos que afetam a segurança, a saúde humana, a
integridade profissional, o meio ambiente e a imagem institucional.
O PNSP, desde sua constituição e implantação, está inserido e segue as metas internacionais de
segurança do paciente, propostas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (BRASIL, 2014). Essas
metas promovem melhorias contínuas e específicas na segurança do paciente, principalmente da pessoa
idosa, através de aspectos problemáticos na atenção à saúde, propondo soluções calcadas em evidências
científicas. Seis são as metas dispostas:
1) Identificar corretamente o paciente;
2) Melhorar a segurança dos medicamentos de alta vigilância;
3) Higienizar as mãos com frequência para evitar infecções;
4) Reduzir o risco de quedas e lesões por pressão;
5) Assegurar cirurgia em local de intervenção, procedimento e paciente corretos;
6) Melhorar a comunicação entre profissionais de Saúde.
Essas metas foram priorizadas tendo em vista o pequeno investimento necessário para a sua
implantação e o impacto dos erros e eventos adversos decorrentes da falta deles. Porém, apesar dos
avanços dos últimos 10 anos, há necessidade de garantir ações promotoras do cuidado seguro nos serviços
de saúde e a fortalecer a cultura de segurança nos profissionais, pacientes e suas famílias.
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segurança no contexto da saúde da pessoa idosa institucionalizada
Nesta perspectiva, faz-se necessário contextualizar a implementação das metas de segurança do
paciente por meio do PNSP em articulação com as políticas públicas nacionais e internacionais no
contexto de saúde da pessoa idosa, a fim de discutir os principais desafios na promoção da segurança no
processo de envelhecimento.
Em 2020, o Centro Colaborador para a Qualidade do Cuidado e a Segurança do Paciente
(Proqualis), liderado pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde
(ICICT), da Fiocruz, realizou a tradução do relatório publicado originalmente em inglês (Patient safety
incident reporting and learning systems: technical report and guidance) pela Organização Mundial da
Saúde (OMS) para o português, intitulado “Sistemas de notificação e aprendizagem a partir de incidentes
de segurança do paciente: relatório técnico e orientações”. Neste trabalho foi apresentada a definição do
termo “Segurança do Paciente”, que evoluiu ao longo dos anos como um quadro de atividades
organizadas criando culturas, processos e procedimentos, comportamentos, tecnologias e ambientes no
cuidado de saúde, e que, de forma consistente e sustentável, é capaz de: reduzir os riscos, diminuir a
ocorrência de danos evitáveis, reduzir a probabilidade de erros e reduzir o seu impacto quando ocorre
(PROQUALIS/ICICT/FIOCRUZ, 2022). Importante destacar que em 2023, o Proqualis foi inserido na
Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), no Departamento de Administração e Planejamento em Saúde
(DAPS).
As políticas públicas são caracterizadas como atos governamentais constituídos para ampliar a
qualidade de vida da população e garantir os direitos essenciais assegurados na Constituição Federal.
Como marco inicial das políticas voltadas para a pessoa idosa, temos a primeira Assembleia
Mundial sobre o Envelhecimento, convocada pelas Nações Unidas em 1982, que culminou no Plano de
Ação Internacional de Viena sobre o Envelhecimento e passou a embasar as políticas públicas do
segmento a nível internacional. Além disso, estimulou a agenda de reuniões e assembleias nos anos
seguintes voltados para a saúde da pessoa idosa que impactaram na visão sobre esta população,
principalmente, na década de 1990, passando de sujeito passivo e vulnerável para uma figura ativa e
independente. Já em 2002, aconteceu, em Madri, a Segunda Assembleia Mundial das Nações Unidas
sobre o Envelhecimento tendo como principal objetivo desenvolver uma política internacional para o
envelhecimento no século XXI (VERAS; OLIVEIRA, 2018).
No que se refere à proteção à pessoa idosa, o Estado Brasileiro estabelece algumas políticas, como
por exemplo, o Estatuto da Pessoa Idosa, a Política Nacional do Idoso e a Política Nacional de Saúde da
Pessoa Idosa, as quais objetivam o envelhecimento saudável e a proteção às pessoas idosas mais
dependentes de cuidados (MINAYO et al., 2021).
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Em seu artigo 15, o Estatuto da Pessoa Idosa assegura a atenção integral à saúde do idoso, por
intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS), garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, incluindo a
atenção especial às doenças que afetam preferencialmente à população idosa (BRASIL, 2013).
A Política Nacional do Idoso, no que tange a área da saúde, prevê entre outros, a garantia da
assistência à saúde, nos diversos níveis de atendimento do SUS; adotar e aplicar normas de
funcionamento às instituições geriátricas e similares; e buscar serviços alternativos de saúde à pessoa
idosa (BRASIL, 1994). Por meio dela, foram identificadas como diretrizes a promoção do
envelhecimento saudável, a manutenção e reabilitação da capacidade funcional e a assistência às
necessidades de saúde (BRASIL, 2006).
As Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) recebem pessoas com mais de 60 anos
que necessitam de moradia transitória ou definitiva, com ou sem apoio de familiares nos seus cuidados.
São pessoas idosas que oscilam sobre sua dependência de cuidados ao longo da sua estadia e que
necessitam de pessoas preparadas para os seus cuidados básicos e de saúde (BRASIL, 2021).
A RDC nº 502, de 27 de maio de 2021, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA),
dispõe sobre o funcionamento de Instituições de Longa Permanência para Idosos de caráter residencial e
tem em sua subseção 2 os aspectos obrigatórios relacionados à saúde, entre elas a elaboração bianual de
um Plano de Atenção à Saúde, o qual prevê a atenção integral à saúde da pessoa idosa, abordando os
aspectos de promoção, proteção e prevenção. Já em residências geriátricas, que se enquadram como
serviço de saúde, deverão seguir outras legislações específicas, como a RDC nº 36 de 25 de julho de
2013, que prevê sobre a segurança do paciente em serviços de saúde (BRASIL, 2021; 2013).
Acrescenta-se a necessidade de incluir em todas as etapas de organização a garantia do acesso, do
acolhimento e do cuidado humanizados da população idosa nos serviços de saúde do SUS, ou seja, não só
exercitar a escuta, mas propiciar que esta se traduza em responsabilização e resolutividade, o que leva ao
acionamento de redes internas, externas e multidisciplinares. O cuidado deve ser orientado a partir da
funcionalidade global da pessoa idosa, considerando o risco de fragilidade existente e o seu grau de
dependência, buscando a autonomia (capacidade de decisão) sempre que possível (BRASIL, 2014).
Com o envelhecimento da população brasileira, outras demandas requerem respostas das políticas
sociais envolvendo o Estado e a sociedade, implicando novas formas de cuidado, em especial aos
cuidados prolongados e a atenção domiciliar. Em 2002, a OMS publicou orientações sobre o
envelhecimento ativo como diretriz para a política de saúde baseada em três pilares básicos: saúde,
participação e segurança. O envelhecimento ativo consiste em aumentar a expectativa de uma vida
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saudável para todas as pessoas que estão passando por esse processo, inclusive as que são frágeis,
fisicamente incapacitadas e que requerem cuidados (BRASIL, 2014).
Por outro lado, observa-se um cenário nacional distinto ao preconizado pela OMS, o que pode ser
evidenciado em estudo de série temporal realizado entre 2000 a 2019, em que os autores identificaram
uma tendência crescente nas taxas de mortalidade por queda entre as pessoas idosas no Brasil. Esses
achados sugerem a importância da definição de uma linha de cuidado para esse segmento etário, tendo
como foco a promoção da saúde na pessoa idosa e a prevenção dos riscos de quedas, visando a uma
redução no número de óbitos por essa causa e favorecendo a qualidade de vida dessas pessoas
(GONÇALVES et al., 2022).
Uma meta de segurança que requer atenção especial é a higienização correta das mãos realizada
pelos profissionais e cuidadores formais ou informais de pessoas idosas, na prevenção das Infecções
Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS). Silva e Cardoso (2021) destacam que um ambiente com
elevada circulação de pessoas, muitas com a imunidade natural suprimida, a exemplo dos residentes das
ILPIs, a vigilância deve existir com a finalidade de garantir o cumprimento adequado de tal prática, a fim
de assegurar uma assistência à saúde da pessoa idosa de qualidade.
A prevenção de quedas é outra meta de grande relevância acerca da segurança da pessoa idosa,
visto que esse grupo etário apresenta maior incidência desse evento com complicações graves.
Corroborando com essa afirmação, estudo de análise temporal de dados sobre a mortalidade em pessoas
idosas que foram vítimas de queda no Brasil, em série histórica de 2000 a 2019, evidenciou 135.209
óbitos motivados pela queda (GONÇALVES et al., 2022).
Nesta perspectiva, a longevidade ocasionada pela redução da mortalidade por doenças infecciosas
trouxe consigo outro fator preocupante à população idosa. As alterações fisiológicas causadas pelo
envelhecimento e o estilo de vida sedentário adotado, devido a facilidade urbana, podem desencadear o
aparecimento de doenças crônicas adquiridas ao longo da vida e alteração patológica, caracterizando e a
transição epidemiológica, e levando as pessoas idosas a serem o público que apresenta maior incidência
de polipatologias, e que mais necessitam de assistência à saúde, em especial relacionadas ao uso de
medicações (NARDE; LOURES, 2022).
Esses mesmos autores salientam que, em pessoas idosas, os riscos são maiores devido às suas
condições somáticas como alterações nos receptores de fármacos e menor eficiência dos mecanismos
homeostáticos do organismo que podem aumentar a sensibilidade a determinados fármacos aumentando
efeitos adversos e interações medicamentosas.
Ante essa preocupação, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) está liderando a proposta
do Envelhecimento Saudável 2021-2030, declarada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em
dezembro de 2020. Ela se baseia em orientações anteriores, tais como a Estratégia Global sobre
Envelhecimento e Saúde da OMS, o Plano de Ação Internacional sobre Envelhecimento da ONU Madrid
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(2002) e as Metas de Desenvolvimento Sustentável da Agenda da ONU para 2030. As pessoas idosas
estão no centro do plano, que reúne os esforços de governos, sociedade civil, agências internacionais,
profissionais, mídia e setor privado para melhorar a vida das pessoas idosas, de suas famílias e
comunidades (OPAS, 2020). Esta proposta propõe quatro áreas de ação, conforme quadro 1.
Quadro 1. As quatro áreas de ação da década: "Envelhecimento Saudável 2021-2030”, OPAS, 2020.
ÁREAS OBJETIVOS
I- Mudar a forma como pensamos, Garantir: a independência e a autonomia das pessoas idosas; o
sentimos e agimos com relação à idade consentimento informado em relação à saúde; o reconhecimento
e ao envelhecimento igualitário da lei; a seguridade social, a acessibilidade e a mobilidade
pessoal; muitos outros direitos humanos fundamentais.
III- Entregar serviços de cuidados Prestar uma assistência de saúde de boa qualidade às pessoas idosas,
integrados e de atenção primária à integrada entre prestadores e serviços, com ênfase na prestação
saúde centrados na pessoa e adequados sustentável de cuidados de longo prazo. Integrar os setores saúde e social
à pessoa idosa em uma abordagem centrada na pessoa e implementar serviços orientados
à manutenção e melhoria da capacidade funcional essencial para alcançar
o envelhecimento saudável.
IV- Propiciar o acesso a cuidados de Promover o acesso da pessoa idosa a um atendimento de longo prazo de
longo prazo às pessoas idosas que boa qualidade, a fim de manter a capacidade funcional, desfrutar dos
necessitem direitos humanos básicos e viver com dignidade. Apoiar os cuidadores,
para que eles possam prestar cuidados adequados e também cuidar de sua
própria saúde.
A partir das recomendações das metas internacionais da OMS e de outras iniciativas, como a
proposta das quatro áreas de ação da década "Envelhecimento Saudável 2021-2030” da OPAS, é possível
desenvolver planos de cuidados mais participativos, com o envolvimento ativo da pessoa idosa/cuidador,
sempre que possível, em ações e atividades capazes de prevenir eventos adversos relacionados à
assistência à saúde e ainda, que mantenham a capacidade funcional e promovam melhor qualidade de
vida.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
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BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária- ANVISA. Resolução - RDC nº 502, de 27 de maio
de 2021. Dispõe sobre o funcionamento de Instituição de Longa Permanência para Idosos, de caráter
residencial.Diário Oficial da União, Brasília, DF, 31 maio. 2021. Seção 1, p. 110. Disponível em:
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