Conteúdo 7 - Síndrome Do Túnel Do Carpo

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CONTEÚDO 7 – SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO

A Síndrome do Túnel do Carpo (STC) é a mais frequente das síndromes compressivas e é


definida como uma neuropatia resultante da compressão do nervo mediano em sua
passagem pelo túnel do carpo, causando distúrbios sensoriais e motores. Provoca dor
noturna, parestesia, fraqueza e, em casos graves, atrofia da musculatura tênar, podendo
causar danos permanentes ao nervo mediano, resultando em perda funcional da mão. As
habilidades que promovem os movimentos de flexão e extensão do punho por tempo
prolongado podem aumentar a dor, levando o paciente a ter dificuldade de realizar atividades
simples do cotidiano como amarrar os sapatos, segurar objetos com força, segurar o volante
do carro, descascar frutas e legumes. Isto ocorre devido à diminuição da mobilidade intra-
articular e amplitude de movimento (ADM) em geral, limitando os movimentos de flexão e
extensão do punho acompanhado de fraqueza muscular diminuindo o desempenho no
trabalho e qualidade de vida.

INCIDÊNCIA

Sua prevalência é estimada entre 4% e 5% da população em geral, e está relacionada a


movimentos manuais inadequados ou repetitivos. Atualmente, é aceita como a neuropatia
mais comum, mais incidente no sexo feminino na faixa etária entre 30 a 60 anos, embora
possa ser bilateral, é mais observada no membro não-dominante.

ETIOLOGIA

Sobre sua etiologia, sabe-se que qualquer condição que diminua a área do túnel do carpo ou
aumente o volume do seu conteúdo pode comprimir o nervo mediano, como proliferação
tenossinovial, anormalidade da articulação do punho, tumor ou anomalia muscular, porém a
causa na maioria dos pacientes é idiopática. Outros fatores podem predispor a ocorrência a
STC como: obesidade, índice de massa corpórea elevado, esforços repetitivos e algumas
patologias sistêmicas e a gravidez.

ANATOMIA

O túnel do carpo é o espaço entre os ossos do carpo, pisiforme, piramidal, semilunar,


escafoide e trapézio, e o retináculo flexor do punho pelo lado palmar do punho, onde o nervo
acompanhado dos nove tendões dos músculos flexores extrínsecos dos dedos, que são
envolvidos por duas bainhas sinoviais separadas, a bainha sinovial ulnar, que envolve os oito
tendões dos flexores superficial e profundo dos dedos, e a bainha sinovial radial que envolve o
tendão do flexor longo do polegar, reduzindo o atrito entre as estruturas.
FISIOPATOLOGIA

Nesta enfermidade, devido à compressão do nervo mediano, ocorre um processo inflamatório


gerando edema e diminuindo o espaço dentro do túnel, aumentando a pressão interna,
gerando atrito entre os diferentes tecidos e compressão nervosa seguidos de bloqueio da
condução, ocasionando acúmulo de produtos metabólicos, contribuindo para a fadiga
muscular, causando dor, parestesia noturna e, dependendo do grau da lesão, gera uma atrofia
tenar interferindo na atividade profissional e atividades de vida diária (AVD`S) do indivíduo.

Do ponto de vista fisiopatológico, uma síndrome compressiva combina fenômenos de


compressão e tensão. Anatomicamente, existem dois locais de compressão do nervo
mediano: um no nível do limite proximal do túnel do carpo, ocasionado pela flexão do punho
por causa da alteração na espessura, na rigidez da fáscia antebraquial e na porção proximal
do RF; e o segundo no nível da porção mais estreita, próximo do hâmulo do hamato.

Compressão e tração nervosa podem criar, de maneira sequencial, problemas na


microcirculação sanguínea intraneural, lesões no nível da bainha de mielina e no nível axonal e
alterações no tecido conjuntivo de suporte.

Anatomoclinicamente a STC pode ser classificada em:

Estágio precoce – Inicial, caracterizado por sintomatologia intermitente unicamente noturna.


Na STC idiopática, múltiplos fatores são a origem do aumento de pressão intratúnel noturna:

- Redistribuição, em posição supina, dos fluidos às membranas superiores;

- Falta de um mecanismo de bomba muscular que contribua para drenagem dos fluidos
intersticiais no túnel do carpo;

- Tendência a posicionar o punho em flexão e aumentar a pressão intratúnel;

- Aumento da pressão arterial na segunda metade da noite.

Se a pressão ultrapassar 40-50 mmHg, irá interferir no retorno venoso da microcirculação


intraneural e causar uma diminuição do aporte de oxigênio intraneural e estase venosa com
problemas de permeabilidade originada de edema endoneural. O aumento da pressão de
30 mmHg durante duas horas leva ao abrandamento progressivo do transporte axonal lento e
rápido. Isso se corrige quando o paciente reposiciona seu punho, faz movimentos dos dedos e
permite a drenagem do edema. Após o alívio da compressão, uma melhoria rápida dos
sintomas ocorre.

Estágio intermediário – Os sintomas são noturnos e diurnos. As anomalias da microcirculação


são permanentes, com edema intersticial epineural e intrafascicular, que causa um aumento
de pressão dos fluidos endoneurais. Esse edema intersticial provoca um afluxo celular e
causa um espessamento do envelope conjuntivo, notadamente do epineuro. Há também uma
destruição da bainha de mielina e dos nodos de Ranvier, na base de condução saltatória de
influxo para superfície de fibras nervosas mielinizadas. Após alívio da compressão, uma
melhoria rápida dos sintomas ocorre por causa do restabelecimento da microcirculação
intraneural. Ao contrário da reparação, a bainha de mielina demanda de semanas a meses e
causa sintomas intermitentes e anomalias eletrofisiológicas persistentes.

Estágio avançado – Há sintomas permanentes e, sobretudo, sinais de déficit sensitivo ou


motor traduzidos pela interrupção de um número de axônios mais ou menos importantes
(axoniotmeses). A degeneração walleriana existe no nível dos axônios interrompidos. Os
envelopes conjuntivos são a sede de um espessamento fibroso reacional. Após a liberação
nervosa, a recuperação depende da regeneração nervosa, demanda vários meses e pode ser
incompleta. A importância da recuperação dependerá do potencial de regeneração axonal do
paciente, principalmente por causa da idade, da existência de uma polineuropatia e da
severidade de uma compressão.

Na realidade, mesmo com a compressão de todas as fibras nervosas no interior de um


mesmo nervo, elas não estarão no mesmo estágio de lesão. Foi demonstrado que as fibras
nervosas periféricas na região do tronco nervoso são afetadas antes que as fibras mais
centrais e, da mesma forma, as mielinizadas em relação às menores e as sensitivas em
relação às motoras.

Na STC crônica, a pioria pode acontecer em meses ou anos.

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico preciso da STC é difícil e deve ser baseado em uma combinação de sinais e
sintomas clínicos, acompanhados pelos testes de Tinel e Phalen positivos e testes de
sensibilidade. Contudo, os testes de Tinel e Phalen podem provocar os sintomas levando a
resultados falsos–positivos e falsos-negativos, não devendo ser considerados isoladamente.
O diagnóstico diferencial e o teste padrão ouro são realizados através do teste
eletroneuromiográfico (ENMG), que demonstra a redução ou bloqueio de condução nervosa.
Também se utilizam exames de radiografia e ultrassonografia para observar se há
anormalidades dentro do túnel do carpo.

TRATAMENTO

O tratamento consiste em clínico ou médico através de antiinflamatórios não esteroides


(AINES), em alguns casos corticoides e injeção de esteroides, vitamina B6, imobilização no
punho e tratamento fisioterapêutico. Nos casos mais graves ou em que o tratamento clínico
foi ineficaz é indicado o procedimento cirúrgico. A atuação da fisioterapia na STC deve ser
direcionada tanto para a prevenção quanto para a intervenção na doença, através de recursos
e técnicas (laser, ultrasson, alongamentos, cinesioterapia, acupuntura, órteses) de acordo com
os meios físicos utilizados, dispondo também da aplicação da ergonomia e ginástica laboral
quando são aplicados exercícios físicos associados a correções ergonômicas nos postos de
trabalho como métodos preventivos. Os objetivos do tratamento fisioterapêutico consistem,
principalmente, em aliviar a dor e restabelecer a mobilidade e, assim, a capacidade funcional.
Quanto mais precoce o diagnóstico da doença e a atuação fisioterapêutica na fase inicial,
constata-se uma melhora no que se refere ao quadro álgico e a diminuição do processo
inflamatório, evitando assim a utilização de fármacos, todavia, não dispensando uma
orientação ergonômica.

Apesar da prevalência de abordagens de tratamento cirúrgico na STC, destaca-se a eficácia


dos recursos conservadores no tratamento dessa afecção, principalmente quando
diagnosticada precocemente, evitando-se uma provável intervenção cirúrgica invasiva e
desgastante.

A fisioterapia e ajustes ergonômicos no local de trabalho desempenham um papel importante


no tratamento eficaz da STC. A implantação de ginástica laboral tem-se mostrado como um
fator indispensável quanto à prevenção de danos causados pela inatividade ou repetitividade

de atividades laborais.

REFERÊNCIAS

DUTTON, M.; Fisioterapia ortopédica. Ed. Artmed, p. 622-623, 2006.

KAROLCZAK, A.P.B.; VAZ, M. A.; FREITAS, C.R.; MERLO, A. R. C. Síndrome do Túnel do Carpo.
Revista Brasileira de Fisioterapia. V. 9, n. 2, p. 117-12, 2005.

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