Constipação - Distúrbios
Constipação - Distúrbios
Constipação - Distúrbios
MANUAL MSD
Versão para Profissionais de
Saúde
Constipação
Por Jonathan Gotfried, MD, Lewis Katz School of Medicine at Temple University
Nenhuma função corporal é mais variável e sujeita a influências externas do que a defecação. Os hábitos intestinais variam
consideravelmente de uma pessoa para outra e são afetados pela idade, fisiologia, dieta e influências sociais e culturais. Alguns indivíduos
têm uma preocupação excessiva com seus hábitos intestinais. Na sociedade ocidental, a frequência normal de evacuação varia de 2 a 3 vezes
por dia até 2 a 3 vezes/semana.
Muitas pessoas acreditam incorretamente que evacuações diárias são necessárias e queixam-se de constipação se o ritmo evacuatório
diminui. Outros se preocupam com a aparência (tamanho, forma e cor) ou consistência das fezes. Algumas vezes, a principal queixa é a falta
de satisfação com o ato de defecar ou a sensação de evacuação incompleta após a defecação. A constipação pode ser responsável por várias
outras queixas (dor abdominal, náuseas, fadiga e anorexia) que são de fato sintomas de outro problema subjacente (p. ex., síndrome do
intestino irritável [SII], depressão). Pacientes não devem esperar o desaparecimento desses sintomas por meio de evacuações diárias e
intervenções para auxiliar os hábitos intestinais devem ser utilizadas criteriosamente.
Pacientes obsessivo-compulsivos em geral sentem necessidade de se livrar dos detritos “impuros” diários. Tais pacientes passam tempo
excessivo no banheiro ou tornam-se usuários crônicos de catárticos.
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Etiologia da constipação
Constipação aguda sugere uma causa orgânica, enquanto constipação crônica pode ser orgânica ou funcional ( see table Tratamento da
constipação).
Em muitos pacientes, a constipação está associada a movimentos lentos das fezes pelo colo. Essa lentidão pode ser devida a fármacos,
condições orgânicas ou um distúrbio da função defecatória (isto é, disfunção do assoalho pélvico), ou um distúrbio que resulta de dieta ( see
table Alimentos que costumam influenciara função gastrintestinal). Os pacientes com problemas na defecação não geram forças retais
propulsivas adequadas, não relaxam os músculos puborretais e o esfíncter anal externo durante a defecação ou ambos. Na síndrome do
intestino irritável, os pacientes têm sintomas (p. ex., desconforto abdominal ou hábitos intestinais alterados), mas trânsito pelo colo e funções
anorretais normais. Contudo, podem coexistir problemas na defecação causados pela SII.
Esforço excessivo, talvez secundário em relação à disfunção do assoalho pélvico, pode contribuir para patologia anorretal (p. ex.,
hemorroidas, fissuras anais e prolapso retal) e possivelmente até mesmo para síncope. A impactação fecal, que pode ser a causa ou
consequência da constipação, também é comum nos idosos, particularmente em repouso prolongado ao leito ou com diminuição da
atividade física. É também comum depois da administração de bário pela boca ou por enema.
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TABELA
Tratamento da constipação
Causas Exemplos
Constipação aguda*
Peritonite , doença aguda grave (p. ex., sepse), traumatismo cranioencefálico ou trauma
Íleo paralítico
espinhal, repouso no leito
Constipação crônica*
Doenças do sistema
Doença de Parkinson , esclerose múltipla , apoplexia , lesões medulares
nervoso central
Doenças do sistema
Doença de Hirschsprung , neurofibromatose , neuropatia autonômica
nervoso periférico
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nervoso periférico
Fatores dietéticos Dieta com baixo teor de fibras, dieta com restrição de açúcar, uso abusivo crônico de laxantes
*Existe algum grau de superposição entre as causas agudas e crônicas da constipação. Em particular, fármacos são causas comuns de
constipação crônica.
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TABELA
Álcool
Legumes cozidos
Bananas
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Bananas
Avaliação da constipação
História
A história da doença atual deve determinar ao longo da vida do paciente a frequência de evacuação, consistência das fezes, necessidade de
esforço ou uso de manobras perineais (p. ex., empurrar a parede retovaginal, a região glútea ou o períneo) durante a evacuação e satisfação
após a defecação, incluindo a frequência e duração do uso de enemas ou laxantes. Alguns pacientes negam história de constipação, mas
quando indagados especificamente admitem gastar de 15 a 20 minutos em cada evacuação. A presença, quantidade e duração do
sangramento nas fezes também devem ser questionadas.
A revisão dos sistemas deve buscar sintomas dos distúrbios causadores, incluindo uma mudança no calibre das fezes ou a presença de
sangue (sugerindo câncer) nas fezes. Deve-se procurar também sintomas sistêmicos que sugerem doenças crônicas (p. ex., perda ponderal).
A história clínica deve determinar causas conhecidas, incluindo cirurgia abdominal prévia e sintomas de distúrbios metabólicos (p. ex.,
hipotireoidismo, diabetes mellitus) e neurológicas (p. ex., doença de Parkinson, esclerose múltipla, lesão medular). O uso medicamentos
utilizados, com ou sem prescrição médica, deve ser averiguado, com perguntas específicas a respeito de anticolinérgicos ou opioides.
Exame físico
Realiza-se um exame físico geral procurando por doenças sistêmicas, incluindo febre e caquexia. Massas abdominais devem ser examinadas
pela palpação. Deve-se realizar toque retal procurando não só por fissuras, estreitamentos, sangue ou massas (incluindo impactação fecal),
mas também para avaliar o tônus de repouso do ânus (o puborretal se “eleva” quando o paciente contrai o esfíncter anal), descida perineal
durante simulação de evacuação e sensibilidade retal. Os pacientes com distúrbios na defecação podem apresentar tônus retal de repouso
aumentado (ou anismo), descida perineal reduzida (isto é, < 2 cm) ou aumentada (isto é, > 4 cm) e/ou contração paradoxal do puborretal
durante a simulação de evacuação.
Sinais de alerta
Alguns achados elevam a suspeita de uma etiologia mais séria da constipação crônica:
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Vômitos
Perda ponderal
A constipação crônica com desconforto abdominal leve associada ao uso frequente de laxantes sugere inércia colônica. A constipação aguda
coincidente com o uso de medicamentos constipantes em pacientes sem sinais de alerta sugere que a causa seja o fármaco. A constipação de
início recente que persiste por semanas ou ocorre intermitentemente com aumento de frequência ou gravidade, na ausência de causas
conhecidas, sugere neoplasia colônica ou outras causas de obstrução parcial. O estiramento excessivo ou prolongado ou defecação
insatisfatória, com ou sem digitação anal, sugere um distúrbio defecatório. Os pacientes com impactação fecal podem apresentar cólicas e
evacuar um material mucoide ou fecal líquido em torno da massa impactada, mimetizando diarreia (diarreia abundante).
Os pacientes com síndrome do intestino irritável normalmente apresentam dor abdominal com alteração nos hábitos intestinais. Os
pacientes com constipação crônica que não atendem os critérios de síndrome do intestino irritável podem ter constipação funcional (1).
Exames
O teste é guiado pela apresentação clínica e a história de dieta do paciente.
A constipação com etiologia definida (fármacos, trauma, repouso prolongado no leito) deve ser tratada sintomaticamente sem outros exames.
Pacientes com sintomas de obstrução intestinal exigem radiografias do abdome (em posição ortostática e supino), possivelmente enema com
contraste solúvel em água para avaliar a obstrução colônica e TC ou radiografia contrastada com bário do intestino delgado (ver também
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Diagnóstico da obstrução intestinal). Muitos pacientes sem uma etiologia evidente devem fazer colonoscopia e avaliação laboratorial
(hemograma, hormônio tireoestimulante, glicemia de jejum, eletrólitos e cálcio).
Exames adicionais geralmente são reservados a pacientes com achados anormais nos testes anteriormente mencionados ou que não
responderam a tratamento sintomático. A declaração de posição médica sobre constipação de 2013 da American Gastroenterological
Association sugere a tentativa de uso de fibras e/ou laxantes de venda livre. Se esse teste falhar, fazer manometria anorretal (teste de
expulsão de balão) para identificar distúrbios do assoalho pélvico e defecação dissinérgica (2). Se a manometria for negativa e a queixa
primária for evacuação infrequente, os tempos de trânsito colônico devem ser medidos com marcadores radiopacos (marcadores de Sitz),
cintilografia ou cápsula de motilidade sem fio. Em pacientes com constipação crônica, é importante distinguir entre a constipação de trânsito
lento (estudo radiopaco de marcador de Sitz anormal) e disfunção muscular do assoalho pélvico (marcadores retidos apenas no colo distal).
(Ver também the American College of Gastroenterology's 2021 clinical guidelines for the management of benign anorectal disorders.)
Tratamento da constipação
Possivelmente descontinuação dos fármacos causadores (alguns podem ser necessários)
Ver um resumo na tabela Substâncias utilizadas para tratar a constipação. Os laxativos devem ser utilizados com cautela. Alguns (p. ex.,
fosfato, farelo e celulose) adsorvem fármacos e interferem na absorção. O aumento de trânsito fecal pode levar alguns fármacos para locais
de absorção não ideais. As contraindicações ao uso de laxantes e catárticos são dor abdominal aguda ou de origem indeterminada, doença
inflamatória intestinal, obstrução intestinal, sangramento gastrointestinal e impactação fecal.
A dieta deve conter fibras suficientes (normalmente 15 a 20 g/dia) para assegurar um bolo fecal adequado. Fibras vegetais, praticamente
indigeríveis e inabsorvíveis, aumentam o bolo fecal. Certos componentes das fibras também absorvem líquidos, tornando as fezes mais
macias e facilitando sua passagem. Frutas e vegetais são fontes recomendadas, assim como cereais que contenham farelo. A suplementação
de fibras é particularmente eficaz no tratamento da constipação de trânsito normal, mas não é muito eficaz na inércia colônica ou distúrbios
defecatórios.
Mudanças comportamentais podem ajudar. O paciente deve tentar fazer o intestino funcionar na mesma hora todos os dias, de preferência
15 a 45 minutos após o café-da-manhã, já que a ingestão de alimentos estimula a motilidade colônica. As tentativas iniciais para um
funcionamento intestinal regular e tranquilo podem ser ajudadas por supositórios.
Os pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo precisam tratar esse transtorno. Os médicos devem explicar que a evacuação diária não é
essencial, que é preciso dar uma chance para o intestino funcionar e que o uso frequente de laxantes ou enemas (> 1 vez a cada 3 dias)
impede que o intestino tenha essa chance.
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TABELA
Fibras*
Metilcelulose Até 6–9 g/dia, divididos em doses de 0,45–3 g Menos distensão do que outras fibras
Emolientes
Docusato de sódio 100 mg por via oral 2 a 3 vezes ao dia Sem efeito na constipação grave
Agentes osmóticos
Polietilenoglicol 17 g por via oral uma vez ao dia Incontinência fecal (relacionada à dose)
Estimulantes
72 a 290 mcg por via oral uma vez ao dia pelo Contraindicado para crianças < 6 anos;
Linaclotídeo†
menos 30 minutos antes da primeira refeição evitado nas crianças maiores de 6 anos e
nos adolescentes até os 17 anos
24 mcg por via oral 2 vezes ao dia com Náuseas, particularmente com o estômago
Lubiprostona†‡
alimentos vazio, e cefaleia
Enemas
Retenção de óleo
100–250 mL/dia via retal Incontinência fecal, trauma mecânico
mineral/óleo de oliva
*A dose de suplementos de fibra deve ser aumentada gradualmente ao longo de várias semanas até alcançar a dose recomendada. Os
suplementos de fibras são administrados por via oral.
§ Devido ao risco de hiperfosfatemia, o fosfato não deve ser utilizado nos pacientes com doença renal.
Adaptado de Romero Y, Evans JM, Fleming KC, Phillips SF: Constipation and fecal incontinence in the elderly population. Mayo Clin Proc
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Tipos de laxantes
Agentes formadores de volume (p. ex., psílio, policarbofila cálcica, metilcelulose) agem suave e lentamente e são os mais seguros para
promover a eliminação. Seu uso apropriado é feito pelo aumento progressivo da dose — de preferência 3 vezes ao dia ou 4 vezes ao dia com
muito líquido (p. ex., 500 mL/dia de líquido a mais) no intuito de prevenir a impactação — até a formação de uma massa fecal pastosa. A
distensão abdominal pode ser aliviada escalonando gradualmente a dose da fibra alimentar até a dose recomendada ou trocando por uma
apresentação de fibra sintética, como a metilcelulose.
Agentes osmóticos contêm íons polivalentes pouco absorvidos (p. ex., magnésio, fosfato, sulfato), polímeros (p. ex., polietileno glicol) ou
carboidratos (p. ex., lactulose, sorbitol) que permanecem no intestino, aumentando a pressão osmótica intraluminal e, consequentemente,
escoando água para o intestino. O volume aumentado estimula o peristaltismo. Essas substâncias geralmente agem em cerca de 3 horas.
Em geral, os laxantes osmóticos são razoavelmente seguros, mesmo quando utilizados regularmente. Entretanto, o fosfato de sódio não deve
ser utilizado para limpeza intestinal, porque em casos raros pode causar falência renal, mesmo após um uso único para preparação intestinal.
Estes eventos ocorreram principalmente em idosos, em pacientes com história de doença renal ou nos pacientes em uso de medicamentos
que influenciam a perfusão ou a função renal (como diuréticos, inibidores da enzima conversora da angiotensina e/ou bloqueadores do
receptor da angiotensina II). Além disso, magnésio e fosfato são parcialmente absorvidos e podem ser lesivos em determinadas situações (p.
ex., insuficiência renal). Sódio (em algumas preparações) pode causar insuficiência cardíaca. Em doses aumentadas ou quando utilizados por
longo tempo, podem interferir no equilíbrio hidroeletrolítico. Outra maneira de preparar o colo para os exames diagnósticos ou a cirurgia, ou
algumas vezes para a constipação crônica, é pelo uso de grandes volumes de um agente osmótico balanceado (p. ex., polietilenoglicol com
eletrólitos) administrado por via oral ou por sonda nasogástrica.
Catárticos estimulantes ou secretórios (p. ex., fenolftaleína, bissacodila, antraquinonas, óleo de rícino) atuam irritando a mucosa intestinal
ou estimulando diretamente a submucosa e o plexo mioentérico. Embora a fenolftaleína tenha sido retirada do mercado nos Estados Unidos
após estudos com animais sugerirem que o composto é carcinogênico, não há evidências epidemiológicas de que isso ocorra também em
humanos. O bisacodil é um fármaco de resgate efetivo para a constipação crônica. As antraquinonas sena, cáscara sagrada, Aloe vera e
ruibarbo são constituintes comuns dos laxantes fitoterápicos e de venda livre. Passam sem serem modificados até chegar ao colo, onde o
metabolismo bacteriano os converte às suas formas ativas.
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Os efeitos adversos incluem reações alérgicas, depleção de eletrólitos, Melanosis coli e colo catártico. Melanosis coli é uma pigmentação
colorretal preto-amarronzada de composição desconhecida. Colo catártico se refere a alterações na anatomia do colo observadas no enema
de bário em pacientes em uso crônico de laxativos. O colo catártico pode causar constipação que leva ao uso de mais laxantes e, portanto,
mais constipação, criando um círculo vicioso. Não está claro se o colo catártico, que é atribuído à destruição dos neurônios do plexo
mioentérico pelas antraquinonas, é causado pelos agentes atualmente disponíveis ou outros agentes neurotóxicos (p. ex., podofilina) que não
estão mais disponíveis. Não parece haver aumento no risco de câncer de colo com o uso prolongado de antraquinonas.
Enemas podem ser utilizados, incluindo água da torneira e soluções hipertônicas preparadas comercialmente.
Agentes emolientes (p. ex., docusato, óleo mineral) atuam lentamente para amolecer as fezes, facilitando sua passagem. Entretanto, não são
potentes estimuladores da evacuação. Docusato é um surfactante, que permite à água entrar no meio da massa fecal para amolecê-la e
aumentar o bolo fecal.
Antagonistas de ação periférica do receptor opioide mu (PAMORA; p. ex., metilnaltrexona, naloxegol e naldemmedina) podem ser
utilizados para tratar a constipação induzida por opioides que não resolve com outras medidas. O alvimopan é um antagonista do receptor
opioide mu que está disponível para uso hospitalar em curto prazo nos pacientes cirúrgicos para o tratamento do íleo paralítico pós-
operatório.
Impactação fecal
A impactação fecal é tratada inicialmente com enemas de água de torneira seguidos por enemas menores (100 mL) de soluções hipertônicas
comercialmente preparadas. Se não funcionar, pode ser necessário proceder à fragmentação e desimpactação manual do bolo fecal. Esse
procedimento é doloroso, recomendando-se por isso a aplicação de anestésico local intrarretal e perirretal (p. ex., lidocaína a 5% ou dibucaína
a 1%). Alguns pacientes necessitam de sedação.
Fundamentos de geriatria
A constipação é comum entre idosos por causa de uma alimentação com poucas fibras, pela falta de exercício, pelas comorbidades e pelo uso
de medicamentos anticolinérgicos. Muitos idosos têm uma ideia equivocada sobre o que seriam hábitos intestinais saudáveis e utilizam
laxantes regularmente. Outras alterações que predispõem o idoso à constipação são o aumento da retal e o comprometimento da
sensibilidade no reto (de tal modo que são necessários maiores volumes de fezes no interior do reto para deflagrar a vontade de evacuar).
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Pontos-chave
A constipação farmacológica é comum (p. ex., uso excessivo e regular de laxantes, uso de anticolinérgicos ou opioides).
Se a tentativa de administrar fibras e/ou laxantes falhar, fazer manometria anorretal (teste da expulsão do balão) a fim de
excluir disfunção do assoalho pélvico.
Informações adicionais
Os recursos em inglês a seguir podem ser úteis. Observe que este Manual não é responsável pelo conteúdo desses recursos.
Disquezia
Disquezia (que também pode ser chamada dissinergia, evacuação desordenada, disfunção do assoalho pélvico
ou esfíncteres anais, ou distúrbios funcionais de defecação) é a dificuldade de defecar. Os pacientes sentem a
presença de fezes e a necessidade de evacuar, mas estão incapacitados de fazê-lo. Isso advém da falta de
coordenação dos músculos do assoalho pélvico e dos esfíncteres anais. O diagnóstico se faz por manometria
anorretal. O tratamento é difícil, mas o biofeedback pode ser de algum benefício.
Etiologia da disquezia
Normalmente, quando um indivíduo tenta evacuar, a pressão retal aumenta de forma coordenada com o relaxamento do esfíncter anal
externo. Esse processo pode ser alterado por uma ou mais disfunções (p. ex., dificuldade de contração retal, contração excessiva da parede
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abdominal, contração paradoxal do ânus ou falha do relaxamento anal) de etiologia desconhecida. Distúrbios defecatórios funcionais podem
se manifestar em qualquer idade. Por outro lado, a doença de Hirschsprung, que é decorrente da ausência de reflexo anorretal inibitório, na
maioria das vezes é diagnosticada em lactentes ou crianças. Pessoas com síndrome do intestino irritável (SII) podem ter evacuação irregular,
causando disquezia.
Diagnóstico da disquezia
Manometria anorretal e expulsão retal por balão
Exames retais e pélvicos mostram hipertonia dos músculos do assoalho pélvico e esfíncteres anais. Com a descida das fezes, os pacientes
podem não apresentar o esperado relaxamento e a descida perianal. Com o esforço excessivo, a parede anterior do reto prolapsa na vagina
em pacientes com dificuldades no relaxamento anal; além disso, a retocele geralmente é a causa secundária, e não o distúrbio primário. A
existência de disquezia por longo tempo, com longa inércia fecal, pode causar aparecimento de úlcera retal solitária ou vários graus de
prolapso retal ou descida perineal excessiva ou enterocele.
A manometria anorretal e técnica de expulsão do balão, ocasionalmente suplementados pelo defecograma ou proctografia-ressonância
magnética, são necessários para diagnosticar a condição. (Ver também the American College of Gastroenterology's 2021 clinical guidelines for
the management of benign anorectal disorders.)
Tratamento da disquezia
Biofeedback
Uma vez que o tratamento com laxativos é insatisfatório, é importante avaliar a função anorretal em pacientes com constipação refratária. O
tratamento com biofeedback pode ajudar na coordenação entre a contração abdominal e o relaxamento do assoalho pélvico durante a
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defecação, aliviando assim os sintomas. Contudo, o retreinamento do assoalho pélvico nos distúrbios defecatórios é alta- mente especializado
e disponível apenas em centros específicos. É necessária uma abordagem multidisciplinar (fisioterapeutas, nutricionistas, terapeutas
comportamentais e gastroenterologistas).
Informações adicionais
O recurso em inglês a seguir pode ser útil. Observe que este Manual não é responsável pelo conteúdo deste recurso.
American College of Gastroenterology: Clinical guidelines for the management of benign anorectal disorders (2021)
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