Aula Ivail Papmem-Julho-2023
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Mas lidar com o dinheiro não é o ponto de partida. O ponto de partida são as
necessidades humanas. Os recursos geralmente são limitados (ou seria limitada a visão
de sociedade?), que demandam escolhas, por vezes desafiadoras, na saga de satisfazer
algumas dessas necessidades.
As escolhas financeiras fazem parte da atividade humana há muito tempo, nas
mais variadas fases da vida das pessoas. Desde que nascemos, mobilizamos nossos
desejos para satisfazer nossas necessidades, tendo consciência ou não delas.
Começamos influenciando as escolhas dos nossos pais ou responsáveis nas
questões básicas de sobrevivência como o que comer, vestir, onde morar e depois
continuamos impactando fortemente o orçamento da família, ao longo da adolescência
e da juventude, sobre questões relacionadas a alimentação, saúde, educação, vestuário,
lazer, entretenimento, moradia dentre outras. Na vida adulta, a brincadeira muda!
Onde estudar, qual curso fazer, o quanto preciso e quero me dedicar aos estudos,
quais línguas aprender, que profissão escolher, para onde viajar, quais roupas tenho
condições de comprar, quais aparelhos e serviços tecnológicos preciso e quero adquirir,
quanto posso gastar em uma festa, o que posso fazer para ajudar na renda da família
diante das necessidades, dentre outras, são perguntas que os jovens se fazem
frequentemente.
Ao escrever um material para adolescentes, tanto do ensino fundamental II quanto
do Ensino Médio, é importante pensar no presente e no futuro.
Parte dessa formação financeira estará relacionada às demandas pessoais da
juventude, ou seja, com as quais estão lidando e vão lidar até o início da vida adulta. Lidar
com demandas de consumo, com projetos de formação cognitiva e de construção de
responsabilidades, com demandas por lazer e relacionamentos, com a prática de
esportes e da música, costumam ser mais frequentes nessa fase da vida.
Porém, uma parte da formação econômica se estende à toda a vida. A relação
entre inflação e poder de compra, o valor do dinheiro no tempo, e visão de planejamento
e orçamento financeiros, os investimentos de curto/médio/longo prazos, são para toda a
vida, e podem ajudar a enfrentar vários desafios econômicos e financeiros ainda mais
amplos.
https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2023-05/pesquisa-mostra-52-milhoes-de-
jovens-entre-14-e-24-anos-sem-emprego. Acesso em 01. Jul 2023.
https://jornal.usp.br/atualidades/cerca-de-43-da-populacao-adulta-do-pais-esta-
endividada/
Para lidar bem com tantas questões econômicas, tomar boas decisões financeiras
requer muitas habilidades, algumas delas mais amplas e complexas do que as necessárias
aos cidadãos até agora. A grande maioria das pessoas precisa lidar com o dinheiro de
forma desafiadora, e pensar nisso o quanto antes pode ajudar a pensar sobre as decisões
financeiras ao longo da vida.
Uma delas é avaliar onde colocar o dinheiro que sobra após pagar as contas.
https://veja.abril.com.br/economia/investidores-no-tesouro-direto-crescem-36-no-primeiro-semestre/.
Objetivos gerais
1. Convidar os estudantes e professores a refletirem sobre situações financeiras e
econômicas relacionadas a aquisição, utilização, distribuição e acumulação do dinheiro,
para satisfação de suas necessidades, por meio da produção de Ambientes de Educação
Financeira Escolar.
2. Convidar os estudantes e professores a refletirem sobre suas atitudes, opções,
escolhas e as possíveis consequências dessas escolhas, em situações de renda, consumo,
crédito, poupança/investimento, risco e proteção, de modo ético e sustentável.
3. Oferecer informações para que sejam aptos a analisar, fazer julgamentos
fundamentados, tomar decisões e ter posições críticas sobre questões financeiras que
envolvam sua vida pessoal, familiar e da sociedade em que vivem.
Essa perspectiva de EFE, visa estimular os estudantes a pensar de forma crítica
(avaliando opções, considerando seus riscos e pensando em possíveis alternativas),
baseia-se em quatro princípios: convite à reflexão, conexão didática, dualidade e lente
multidisciplinar.
O convite à reflexão deixa claro que a EF não deve ser prescritiva ou impositiva, e
sim um convite aos estudantes para refletir sobre situações financeiras que contemplem
diferentes aspectos, para que tomem suas próprias decisões. Investir no ócio e na paz,
podem ser o melhor investimento. O valor do ser deveria ser continuamente repensado
em relação ao valor pós-moderno e líquido do ter.
A conexão didática estabelece a importância do contexto escolar na prática da
educação financeira. Nessa EFE, queremos entender como os alunos pensam
matematicamente ao analisar situações financeiras, e que aspectos não matemáticos
emergem, de modo que essa compreensão gere novos materiais, novas formas de
ensinar, novas práticas docentes e novos processos de avaliação.
A dualidade marca uma posição: a EFE pode e deve ser uma via de mão dupla, e
portando dual, de modo que tanto os conhecimentos matemáticos dos estudantes os
auxiliem na compreensão, análise e tomada de decisão em SEF, como a abordagem da
educação financeira contribua para o desenvolvimento das habilidades matemáticas dos
estudantes. Ou seja, defendemos que o ensino de matemática e a educação financeira
sejam dois lados de uma mesma moeda.
E, finalmente, o princípio da lente multidisciplinar sustenta que é indispensável
oferecer múltiplas leituras da situação financeira, de modo que aspectos financeiros,
econômicos, matemáticos, comportamentais, culturais, sociais, políticos e ecológicos
possam ser utilizados de forma articulada, na leitura de situações de consumo, renda,
endividamento, investimento, planejamento financeiro, sustentabilidade etc. Estudos
envolvendo marketing, neurociência, economia, antropologia e sociologia do consumo
constituem diferentes lentes. E, como lentes, focam alguns aspectos e desfocam outros.
Figura 1 – Os quatro princípios da Educação Financeira Escolar de Muniz.
Explorando a Atividade 1
Um caminho.
Outro caminho.
Ampliando a visão sobre a atividade.
A inflação alta destrói quase que invisivelmente o poder de compra do nosso dinheiro.
Mas como assim “destruição invisível”? Veja como a matemática nos permite ver essa
“invisibilidade”!
Por exemplo, se o salário de uma pessoa aumentou 50% em um período de cinco anos,
mas a inflação foi de 30% nesses mesmos cinco anos, então o poder de compra da família
aumentou aproximadamente 15%.
Opa! Será que a conta está certa?
Não seria 50% - 30% - 20%?
Não! A conta não é 50% - 30% = 20%. O crescimento de 50% descontado de 30% da
inflação gera aproximadamente 15% de ganho real, ou seja, o que a família realmente
ganhou (seu poder de compra) foi apenas 15% em cinco anos. Mas como chegar a esses
15%?
Conclusão!
Uma coisa é a quantidade de dinheiro no bolso
Outra coisa é a quantidade de picanha na geladeira
Explorando a atividade
Atividade 3 (Tomada de decisão, comportamento e meio ambiente)
Ampliando a atividade.
Orçamento familiar X Obsolescência programada
Anualmente, jogamos fora uma grande quantidade de lixo eletrônico, cerca de 50
milhões de toneladas, pelas estimativas da ONU. É o tipo de resíduo que mais cresce no
mundo, em torno de 5% ao ano. Em todo o planeta, somente 20% de todo esse material
é reciclado, em países como o Brasil menos de 2%, o que significa que somente em nosso
país, mais de 1,4 milhões de toneladas de eletrônicos não são reciclados e não recebem
o devido tratamento.
Atividade 4 (Investimento em formação e tomada de decisão)
Aprender uma segunda língua, em especial o inglês, é uma experiência cognitiva
importante, que pode abrir muitas oportunidades de experiências em outros países.
Imagine que você esteja pensando em fazer um curso de inglês. Após conversar
com seus pais e pesquisar entre seus amigos da escola e do bairro, percebeu que os dois
cursos mais populares são o English ONE e o English PLUS. Você e sua família precisam
tomar a decisão diante das seguintes informações.
I. O curso English ONE custa R$ 250,00/mês, tem duração de 5 anos e fica perto de
casa.
II. O curso Englisn PLUS custa R$ 350,00/mês, tem duração de 4 anos e fica perto da
escola.
Anos 1 2 3 4 5
Gasto mensal 250,00 270,00 291,60 314,93 340,12
Gasto anual 3.000,00 3.240,00 3.499,20 3.779,14 4.081,47
Gasto total 17.599,80
Anos 1 2 3 4 5
Gasto mensal 350 378,00 408,24 440,90
Gasto anual 4200 4536 4898,88 5290,79
Gasto total 18.925,67
Diferença 1.325,87
Considerando agora, que o dinheiro cresça a uma taxa 1% ao mês (TMA), como ficaria a
análise, considerando a seguinte estratégia financeira.
Se a família optar pelo curso mais barato, por exemplo, ela poderia reservar a
mensalidade do curso mais e investir a diferença, ganhando juros ao longo desse período.
Ou seja, reserva 350,00, paga 250,00 e investe 100,00. Isso, é claro, no primeiro, pois
depois os valores seriam reajustados, mas a estratégia mensal mantida.
Ampliando ainda mais a atividade
Simulação no Excel.
taxa 1%
Você percebeu que nas duas situações analisadas, usamos aspectos matemáticos e não
matemáticos na análise da situação financeira e na construção de possíveis decisões?
Explorando a atividade
Essa atividade amplia essa discussão sobre poupar,
no âmbito do planejamento e orçamento
financeiros. A situação financeira foi pensada para
gerar uma relação de pertencimento do
adolescente com a situação do jovem Fábio, que
precisa tomar decisões diante de suas necessidades,
desejos e projetos. Busca-se também mostrar que
investimento pode estar relacionado à formação, ao
aprendizado de coisas novas e ao aperfeiçoamento
de algo que se já se sabe um pouco. Investir na
formação é um convite que precisa ser feito no
Ensino Médio.
Ampliando a atividade (Simulação com alternativas de investimento)
Atividade 6 (Conversando sobre o próximo encontro: empréstimos e financiamentos).
Nota: Dedico essa aula ao meu grande Professor, e mentor, Augusto César de Oliveira
Morgado. Além de mestre e amigo, me presenteou, várias vezes, com sábios conselhos e
uma das experiências profissionais mais significativas que tive nesses 25 anos em sala de
aula.